Rio, 31.1.2013 Ernane Galvêas O PAPEL CHAVE DOS INVESTIMENTOS O “bolo” da Renda Nacional se reparte em três direções principais: do Governo, mediante a arrecadação de tributos, dos trabalhadores, que ganham salários, e dos empresários, que recebem lucros, juros, alugueis e outros rendimentos do capital. Os Governos Lula e Dilma fizeram uma ousada experiência para estimular o crescimento econômico, via incentivos e subsídios ao consumo. Agora, é a vez dos investimentos. EQUÍVOCOS DA POLÍTICA ECONÔMICA Na dinâmica do processo econômico, são os investimentos que asseguram a continuidade da geração da renda, sejam eles feitos pelo Governo ou pelos empresários privados. Falharam totalmente todos os prognósticos do Governo, em relação às contas públicas em 2012. As despesas continuaram crescendo mais do que as receitas, a divida bruta aumentou R$ 340 bilhões, aproximando-se de 60% do PIB. Em 2012 foram pagos juros de R$ 213,9 bilhões, pouco menos do que em 2011 (R$ 236,7 bilhões). O déficit fiscal foi praticamente o mesmo (R$ 108,9 bilhões). A programação para realizar um superávit primário de 3,1% do PIB perdeu-se no meio do caminho, mas o Ministério da Fazenda se aferrou à ideia de que essa parte do tripé era essencial e procura justificar todo o malabarismo fiscal que foi feito para chegar a esse número. Daí a necessidade de dar um tratamento cordial ao empresário privado, para que se sinta estimulado e confiante na realização de seus empreendimentos. Além do mais, os investimentos geram um crucial efeito multiplicador, na medida em que utilizam capital fixo, geram emprego e renda, alimentam o consumo, pagam impostos e dão ao Governo elementos para construir a infraestrutura responsável pelas “economias externas” ao setor privado. Na conjuntura atual, o ritmo dos investimentos vem declinando, de um lado porque o Governo não tem recursos, de outro porque os empresários não têm confiança e estímulo. A partir daí, foram realizados truques inadmissíveis e injustificáveis, no pressuposto de que seria fácil tapear a opinião pública. Tudo começou em 2010, na administração do Presidente Lula que autorizou a capitalização da Petrobras, via BNDES, mediante a entrega fictícia de cinco bilhões de barris de Petróleo de PRÉ-SAL, ainda não produzidos. A “saída” do Governo foi manipular as contas, abatendo do déficit R$ 38 bilhões incluídos no PAC, R$ 12,4 bilhões sacados do Fundo Soberano e R$ 7 bilhões antecipados em dividendos do BNDES e da Caixa Econômica. Por falta de investimentos, inclusive para manutenção e conservação, setores essenciais como petróleo, energia elétrica, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos estão perdendo eficiência e comprometendo a competitividade da indústria nacional. A administração pública politizada corre o risco de resvalar para o bolivarismo inconsequente que está arrasando a Venezuela. -1- absurdamente, como as contribuições para o INCRA, o salário-educação, o seguro de acidentes de trabalho, a contribuição do SEBRAE, essa, sim, que deveria ser transferida para o faturamento. A maquiagem na contabilidade do Governo chegou a R$ 200 bilhões em 2012. No apagar das luzes promoveu-se um aumento de capital R$ 5,4 bilhões da Caixa Econômica, mediante transferência de ações do BNDES. O Governo faz uma enorme ginástica para aumentar os empréstimos do BNDES e da Caixa Econômica, enquanto o Banco Central retém R$ 350 bilhões dos bancos, em recolhimentos compulsórios. Em declaração recente, o Ministro da Fazenda considerou legítimos todos esses artifícios. Há um pesado criticismo nos meios acadêmicos contra o malabarismo contábil do Governo, especialmente de alguns setores do Ministério da Fazenda, no afã de manipular as estatísticas e esconder os resultados negativos da inflação, das contas públicas e da balança comercial. Quer baixar os impostos? Porque não promover a extinção gradual do PIS e da COFINS? Uma medida dessa ordem seria a consagração do Governo da Presidente Dilma. TAXA DE CÂMBIO As manobras do Governo não escondem nada, apenas levam o descrédito às autoridades, principalmente ao Ministério da Fazenda. Se a inflação não chegou ao centro da meta não adianta manipular os preços do petróleo e segurar as tarifas dos ônibus. O que é preciso segurar é a expansão do crédito e o descontrole dos gastos públicos, que priorizam as medidas de estímulos ao consumo, mediante utilização de recursos fiscais que deveriam necessariamente ser dirigidos aos projetos de investimentos na infraestrutura dos transportes. A variabilidade da taxa de câmbio no Brasil, nos últimos 12 meses, serve bem para mostrar como funciona o mercado cambial, quando o Governo se propõe a usar a taxa de câmbio como instrumento da política monetária. A taxa de câmbio no Brasil chegou a cerca de 1,50 R$ por dólar, em julho/11, quando o Governo percebeu que isso era uma burrice, que estava arrasando a indústria nacional. A partir de julho/12, a taxa mais livre chegou a um pouco mais de R$ 2,00/US$. Tudo parecia ir bem, até que o Banco Central cismou, novamente, que precisa usar o câmbio para refrear a inflação. O Governo fica brincando de reforma tributária e se esquece de que o grande problema é o peso insuportável da carga tributária que esta asfixiando a indústria. A propalada desoneração da folha de salários é uma enganação, transferindo a contribuição social da empresa das folhas de pagamentos para o faturamento. Do ponto de vista tributário não desonera nada. obra? A taxa de câmbio, assim como a taxa de juros, deve ser administrada de maneira a permanecer o mais estável possível, a fim de dar ao mercado um grau de confiança capaz de estimular os negócios e os investimentos e reduzir a especulação. Não é isso que vem acontecendo. Quer baixar o custo da mão de ATIVIDADES ECONÔMICAS As estimativas indicam que o crescimento do PIB em 2012 não Basta retirar da folha de salários vários penduricalhos que lá estão, 2 alumínio foi reduzida em 0,3%. A expedição de caixas e de chapas de papelão ondulado aumentou 2,8% (ABPO). O cenário interno é bastante positivo para papel e celulose, como se pode ver pela alta nas ações das Indústrias Klabin. As vendas de materiais de construção fecharam em baixa de 1,4%, com queda de 11,2% em dezembro sobre novembro. O setor de máquinas para construção teve queda de 18%. Estima-se que o faturamento anual do setor têxtil tenha caído 15,4%. Em compensação, a produção de minério de ferro teve aumento de 10,8%. Em São Paulo, segundo a FIESP, a indústria de transformação teve queda de 4,1% em 2012 e demitiu 52 mil trabalhadores. passou de 0,8%, puxado para baixo por uma redução de 2,6% na produção industrial e de 0,2% na agropecuária. As expectativas para 2013, porém, são de alta generalizada, com base nos elevados investimentos esperados, segundo anúncios do Governo. O BNDES projeta para 2013 crescimento entre 5% e 6% nos investimentos. É enorme a quantidade de projetos em perspectivas, desde o setor petrolífero e da infraestrutura dos transportes até os programas da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Segundo a CNI, a incerteza econômica ainda será a principal ameaça à realização dos planos. O Governo espera uma expansão do PIB de 3,5% e o mercado de 3,2%, incluindo a recuperação industrial e a enorme contribuição da agricultura, com uma safra recorde (+6%). Entretanto, se o endividamento reduzir o consumo das famílias a 2% e a indústria crescer apenas 1,5%, o crescimento do PIB poderá ficar abaixo de 2%. Durante o terceiro trimestre do ano passado, o custo industrial subiu 8,1% (!). O percentual de empresas com intenção de investir caiu de 88,7% em 2011 para 85,4% em 2013, mas subiu 5 pontos de percentagem em relação aos investimentos realizados em 2012. Na virada de dezembro para janeiro, os reservatórios das hidrelétricas atingiram o ponto mais baixo dos últimos dez anos, mas as chuvas recentes estão recompondo o armazenamento. Indústria Depois de cair 2,6% em 2012, a indústria nacional inicia o ano em clima otimista, com previsão de crescer 2,8%, a julgar, entre outros indicadores, pela substancial redução dos estoques no final do ano passado. Entretanto, segundo a CNI, a produção em dezembro foi a pior dos últimos dois anos e meio, apesar dos incentivos do Governo. Comércio Todas as indicações e previsões indicam que as vendas do comércio varejista devem continuar expandindose a ritmo chinês, em 2013. A CNC estima para este ano uma expansão de 7,4%. Em novembro/12, o comércio varejista apresentou alta de 0,3% em volume, após ter caído 0,8% em outubro. O varejo ampliado teve queda de 0,7% na média de setembro a novembro, mas acumulou, no ano, alta de 8,9%, segundo o IBGE e 9,1% segundo a CNC. As vendas reais dos supermercados subiram 5,3% em 2012. Em 2012, o consumo da energia elétrica subiu 3,5%, com destaque para o comércio (+9,2%) e residências (+5%). No setor industrial houve queda de -3,2%. A produção de aço bruto caiu 1,5% em 2012 (34,7 milhões de tons.), embora as vendas tenham crescido 0,7%, segundo o IABr. A produção de 3 No Rio de Janeiro, as aumentaram 8,3% (CDL-Rio). petróleo e dos fretes afeta direta e pesadamente a safra de grãos. vendas Segundo a CNC, o endividamento das famílias alcançou 60,2% em janeiro/13, com um percentual de 21,2% de famílias inadimplentes e de 6,6% de consumidores sem condições de pagar suas dívidas (7% em dez/12). A intenção de consumo das famílias (ICF) recuou 2,1%. O percentual de cheques devolvidos, em 2012, chegou a 2,0%, a inadimplência das empresas caiu 1,7% em novembro e a dos consumidores 0,2% (Serasa). O comércio eletrônico movimentou R$ 24,12 bilhões, em 2012, crescimento anual de 29%. Mercado de Trabalho A taxa de desemprego no Brasil permanece surpreendentemente baixa, tendo encerrado o ano de 2012 em 4,6% do PEA. A massa de rendimentos cresceu 6,5%. É impressionante a volatilidade do mercado de trabalho: em 2012, foram criados 1,301 milhão de novos empregos formais, resultado líquido de 21,6 milhões de contratações e 20,3 milhões de desligamentos, com destaque para o setor de serviços (666,1 mil), comércio (372,3 mil) e construção civil (149,2 mil). O resultado geral representa queda de 35% sobre 2011. A demanda por voos aéreos domésticos aumentou 6,8% em 2012, contra uma alta de oferta de 2,7% (Anac). Segundo o DIEESE, nas sete regiões metropolitanas pesquisadas, a taxa de desemprego subiu de 10,4% em 2011 para 10,5% em 2012, praticamente estável. O ano 2012 deixou sem explicação a grande disparidade entre o crescimento do comércio e a queda da indústria. Até agora, a explicação mais convincente está na desova dos estoques, que cresceram 4,5% no 1º semestre do ano passado. Setor Financeiro A base monetária em 2012 subiu 8,9%, contra 3,6% em 2011, sendo mais 15,2% de papel-moeda emitido (+7,7% em 2011). Os meios de pagamento M1 subiram 13,7% e M4 15,5%. O saldo dos recolhimentos compulsórios dos bancos, no Banco Central, caiu de R$ 448,5 bilhões, em dezembro/11, para R$ 348,5 bilhões no final de 2012, uma liberação de R$ 100 bilhões. Agricultura A agricultura brasileira está na expectativa de registrar o melhor resultado de sua história, com a produção de 180 milhões de toneladas de grãos (+6,0%), segundo a Conab. As operações de crédito do sistema financeiro subiram 16,2%, sendo 27,2% nas instituições estatais e 7% nas instituições privadas, os desembolsos do BNDES chegaram a R$ 156 bilhões, com alta anual de 5,4%. Os elevados índices de inadimplência levaram os bancos a constituir provisões de R$ 113 bilhões (+16,4%) para fazer frente às perdas possíveis. A indústria sucroalcooleira não atravessa boa fase e enfrenta problema sério de baixa produtividade, com o preço do açúcar abaixo do custo de produção e baixo consumo de etanol. Vislumbra-se, entretanto, uma recuperação para a safra em curso (Datagro). As chuvas de janeiro melhoraram as condições da agricultura e a situação dos reservatórios das hidrelétricas. Mas a alta dos preços do 4 prejudicial ao setor, que trabalha com uma ampla capacidade ociosa (Nuci de 75,6%) e sofreu queda de 3% no faturamento de 2012. A indústria se sente ameaçada diante da taxa de câmbio desgovernada. Pelo visto, a expansão de crédito é um dos fatores mais relevantes como fonte de pressão inflacionária. Por isso mesmo, não faz sentido autorizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica a tomarem empréstimo no exterior, para expandir o crédito interno. Não há lógica, também, do ponto de vista cambial, no momento em que o País tem US$ 380 bilhões de reservas ociosas. A primeira prévia do IPCA-15 aponta para uma inflação de 0,88% em janeiro. Em reunião de 16 de janeiro, o BC manteve a taxa Selic em 7,25%. Setor Fiscal O mercado de seguros, com exceção do ramo saúde, faturou R$ 127,2 bilhões, em 2012, com alta anual de 22,3%. A Receita total do Governo Central (União, Estados, Municípios, INSS e Banco Central) atingiu R$ 1.062 bilhões em 2012, alta de 7,2%. As transferências do Tesouro Nacional subiram 5,2%. A Despesa Primária somou R$ 804,7 bilhões (+11,1%). As Despesas do Tesouro Nacional com custeio e capital atingiram R$ 295,9 bilhões (+14,8%) e as despesas com pessoal e encargos sociais R$ 186,1 bilhões (+3,8%). Inflação O Governo está amedrontado com o curso da inflação, basicamente por não ter uma definição se se trata de uma inflação de demanda ou de oferta, diagnóstico indispensável para saber qual instrumento usar: de um lado, a taxa de juros, o depósito compulsório e a taxa de câmbio, visando limitar a expansão de crédito, e do outro lado, a contenção dos gastos públicos, inclusive incentivos fiscais. A perplexidade é a contradição resultante do estímulo do Governo para expandir o crédito da Caixa Econômica e do BNDES. Como vimos na seção anterior, o crédito das instituições públicas está se expandindo a uma taxa anual de 27%. Isto é absolutamente incompatível com qualquer política anti-inflacionária. Como vimos antes, o Governo reservou R$ 104,9 bilhões de “superávit primário” (+2,38% do PIB) para pagar R$ 213,9 bilhões de juros, em 2012, daí resultando um déficit fiscal de R$ 108,9 bilhões (2,47%) do PIB. A dívida bruta do Governo fechou o ano em R$ 2.583,9 bilhões (58,6% do PIB), superior ao saldo de dezembro/11 em R$ 340,3 bilhões. A dívida mobiliária de R$ 1.916,7 bilhões representou um acréscimo anual de R$ 133,6 bilhões. O Governo promete uma redução nas tarifas de energia elétrica da ordem de 18% e de 32% mas, ao mesmo tempo, não tem como escapar do aumento da gasolina e do diesel (+6,6% e +5,4%). Recorrer ao rebaixamento da taxa de câmbio, para conter a alta dos preços – venda de dólar com recompra – serve apenas para confundir o mercado. O Governo decidiu incluir as obras de infraestrutura no Programa de Sustentação de Investimento (PSI), amparado por financiamentos do BNDES, com prazo de 20 anos, 3 anos de carência e juros de 3% ao ano. Serão R$ 15 bilhões do PSI em projetos de logística, compreendendo 7,5 mil km de rodovias e 10 mil km de ferrovias. Segundo a Abimaq, a taxa de câmbio abaixo de R$ 2,00 ou R$ 2,10 é 5 Para garantir a redução das tarifas de eletricidade, o Governo gastará R$ 8,46 bilhões, com recursos de diversas origens, inclusive R$ 4,1 bilhões de antecipação do resgate da dívida de Itaipu, em triangulação com o BNDES (?). Setor Externo Em meio às dificuldades da Europa em reequilibrar suas contas e recuperar o crescimento, surgiu a ideia perturbadora do Primeiro Ministro Cameron de excluir a Inglaterra do Mercado Comum Europeu, em 2017. Lamentável. O cenário internacional não é alvissareiro, segundo o FMI e o BIRD, que estimam um crescimento de 2,5% no comércio internacional e de 3% de expansão média do PIB, sendo cerca de 2% nos Estados Unidos e 8% na China. Em 2012, o saldo da balança comercial do Brasil de US$ 19,4 bilhões foi “engolido” pela conta negativa dos serviços (US$ 41,1 bilhões) e rendas (US$ 35,4 bilhões), do que resultou o déficit de US$ 54,2 bilhões em Transações Correntes. Como houve ingresso de recursos estrangeiros de US$ 72,8 bilhões, as reservas internacionais cresceram US$ 18,9 bilhões, alcançando US$ 378,6 bilhões, contra US$ 316,8 bilhões da dívida externa. 6