/"',/',1 ;/ •((il{(.:·r; "-,.,.,,~. f;l1 LlC otl C«f;,/!Yr; áJ!'&. Universidade Estadual de Campinas .,.., Instituto de Economia IJIIICAMIO' FERNÃO VALENTE ORTIZ DE CAMARGO CEDOC- IE- UNICAMP A DINÂMICA DOS FLUXOS DE CAPITAL: O DEBATE SOBRE SEUS DETERMINANTES PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO ANTES E DEPOIS DA CRISE FINANCEIRA DE 2008 Campinas 20 I O TCC/UNICAMP C140d 1290005317/IE 1 FERNÃO VALENTE ORTIZ DE CAMARGO A DINÂMICA DOS FLUXOS DE CAPITAL: O DEBATE SOBRE SEUS DETERMINANTES PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO ANTES E DEPOIS DA CRISE FINANCEIRA DE 2008 Monografia apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas como requisito à disciplina de Monografia. Orientador: Pro f. Dr. André Martins Biancareli 8J~co'-<t<vlth, j\;,Jc( &llmt<YJ 0 f ~1~- Campinas 201 O 2 ' SUMARIO INTRODUÇAO.......................................................................................................... 4 CAPÍTULO 1: O debate em tomo dos determinantes dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento ..................................................................................... 7 Introdução............................................................................................................ 7 1.1 Fatores internos de determinação dos fluxos de capital ................................. 8 1.2 Fatores externos de determinação dos fluxos de capital ..................................... 11 1.3 A entrada de capital na América Latina nos anos 90 .......................................... 14 1.4 Considerações finais ............................................................................................ 19 CAPÍTULO 11: O novo ciclo de liquidez e a crise financeira .............................. 21 lntrodução ........................................................... n .............................................. 21 2.1 A expansão econômica dos anos de 2002 até 2007 ...................................... 22 2.1.1 A expansão do produto e do comércio................................................ 22 2.1.2 A liquidez internacional e os fluxos de capital. .................................... 23 2.2 A crise financeira, o contágio da economia real e sua recuperação ............... 28 2.3 Considerações finais ..................................................................................... 34 CAPÍTULO IH: Os países latino-americanos e os fluxos de capital. ................................................................................................................... 35 Introdução........................................................................................................... 35 3.1 Os fluxos de capital durante e após a crise financeira nos países latinoamericanos............................................................................................................ 36 3.2 Os fatores internos dos países latino-americanos......................................... 43 3.3 Considerações finais ..................................................................................... 53 CONCLUSÃO FINAL ........................................................................................ 55 3 Introdução Os fluxos de capital são um fator de suma importância para todos os países, principalmente após a globalização financeira e a conseqüente abertura dos mercados mundiais. Foram fundamentais para o crescimento de muitos países, ao mesmo tempo em que representam uma grande fonte de instabilidade e dependência. O debate em torno de seus detenninantes e dinâmica, principalmente no que se refere a países periféricos (em desenvolvimento ou emergentes) que já existe há bastante tempo, ganhou ainda mais intensidade após a recente crise financeira mundiaL A crise gerou pânico nos mercados e mobilizou uma imensa massa de capitais para ativos sem risco, como títulos norte-americanos. Conseqüentemente, a liquidez internacional e o crédito quase desapareceram, e corno era de se esperar, a intensidade da saída de capitais foi maior nos países em desenvolvimento, tidos corno de maior risco pelos investidores internacionais. Porém, a surpreendente volta deste capital durante o segundo semestre de 2009 para alguns países em desenvolvimento, de maneira rápida e intensa, novamente pôs em discussão a questão dos motivos pelos quais os capitais retomaram, debate polarizado pela visão heterodoxa e ortodoxa. Esta costwna defender a preponderância de fatores endógenos aos países receptores, enquanto aquela enfatiza a importância de fatores exógenos, característicos das economias centrais (desenvolvidas ou avançadas). É em torno desta discussão, tão pertinente e atual, que será feito o estudo dos fluxos de capital no presente trabalho, que analisa um conjunto de países emergentes ~ Brasil, Chile, Venezuela e Argentina- no período entre 2007 e 2009, período este que engloba o início da crise financeira, seguida pela estabilização dos mercados e o retorno dos capitais para algumas economias. Busca~se comparar as bases macroeconômicas e políticas de cada país para entender o porquê das diferenças de comportamento dos recursos internacionais entre as nações no período de grande turbulência e aversão ao risco, assim corno no momento da volta dos fluxos. Argentina e Brasil foram escolhidos devido a sua importância e força econômica na região. Já Chile e Venezuela estão na amostra devido as suas peculiaridades. O primeiros é tido corno um país liberal que segue os princípios da economia ortodoxa, enquanto o segundo é visto como um país de instabilidade política, com um governo de intervenção econômica muito grande contrária a política liberal. 4 Os anos entre 2007 e 2009 foram marcados por três momentos bem distintos. Em 2007, quando a economia global ainda acumulava boas taxas de crescimento nos anos anteriores, houve um aumento de 4,9% do PIB mundial (FMI, 2008). De maneira geral, países em desenvolvimento experimentavam taxas mais elevadas que os países centrais, mas a melhora foi geral, não sendo restrita somente a algumas regiões. Vale ressaltar também que as taxas de juros nos países centrais, principalmente a dos Estados Unidos, estavam baixas. Esta conjlll1tura proporcionou um grande aumento nos fluxos de capital entre os países, devido ao crescente nível de liquidez internacional relacionada à prosperidade da economia, registrando o maior nível da década (FMI, 2009). O segLmdo momento é caracterizado pela crise financeira, que teve seu auge no último trimestre de 2008, tida como a maior desde a quebra da bolsa americana em 1929, que levou verdadeiro pânico aos mercados globais. A grande aversão ao risco e a conseqüente falta de liquidez internacional (antes abundante) logo contagiou a economia real, derrubando os PIBs de todos os países. A crise, inicialmente financeira atingindo bancos de investimentos, passa a ser uma crise de liquidez, em parte por causa da desconfiança geral dos agentes com relação a "saúde" do sistema financeiro como um todo. Esta fase foi pautada pelo quase desaparecimento do crédito e queda na produção e no consumo. Como urna de suas conseqüências, o retorno dos investimentos (principalmente os de carteira), aos títulos sem risco da dívida norte americana "esvaziou" os mercados de risco localizados nos países em desenvolvimento, tornando seu fluxo extremamente negativo (FMI, 2009). Por fim, o terceiro momento, já no ano de 2009, representou a maior surpresa para muitos economistas: o rápido e intenso retorno dos fluxos de capital para alguns países em desenvolvimento (IIF, 2010), principalmente aqueles conhecidos como BRIC's (Brasil, Rússia, Índia e China), além de outros na própria América Latina. Este inesperado retorno às economias tidas corno de maior risco, em um período de extrema volatilidade e incertezas nos mercados globais, remete ao questionamento das causas deste retorno, suscitando novamente o debate sobre os determinantes dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento. Uma das visões, neste debate, acredita que os fundamentos internos de uma economia são os principais fatores que determinam a entrada de capitais no país. A idéia é a de que uma economia aberta para o comércio e para o mercado financeiro, que apresente bons fundamentos macroeconômicos corno crescimento do PIB, dívida 5 pública controlada e política econômica que favoreça os investimentos privados, geraria confiança no investidor, atraindo assim os fluxos de capital (Prates, 1999). Por outro lado, existe a visão que defende a preponderância dos fatores externos à economia do país que recebe os capitais são os principais motivos pela entrada dos fluxos. Fatores como o ritmo de crescimento das principais economias mundiais, o nível de liquidez internacional e a aversão ao risco, assim como a remuneração dada pelos juros nos países centrais são alguns exemplos destes fatores (Biancareli, 2007). No capítulo I será mostrado o debate em torno destas duas visões, tendo corno ilustração o episódio da década de 1990, quando os fluxos voluntários de capital retornaram à América Latina. Em seguida, o capítulo 2 tratará resumidamente do período anterior e posterior à crise financeira, ocorrida entre os anos de 2007 e 2009, evidenciando a fuga e o retomo dos capitais da América Latina. Já o terceiro capítulo trará urna análise mais específica de quatro países, Argentina, Brasil, Chile e Venezuela. O objetivo é verificar as condições internas de cada país e relacioná-las aos fluxos de capitaL 6 Capítulo 1: O debate em torno dos determinantes dos fluxos de capital para os países em desenvolvimento Introdução O debate em tomo dos detenninantes dos fluxos de capital ganhou grande importância no início dos anos 1990, quando parte destes recursos foi direcionada a regiões pouco desenvolvidas, como a América Latina. Este fato encerrou um período de longos anos de escassez de financiamentos para a região durante a década de oitenta, quando alguns países, dentre os quais o Brasil, decretaram moratória. A entrada voluntária deste capital foi foco de muitos estudos e gerou uma grande literatura a respeito, principalmente em tomo das diferentes visões dos fatores internos ou externos à economia do país que discutem o que determina o movimento e a direção dos recursos internacionais. Entender a dinâmica e os fundamentos que regem os fluxos de capital são de suma importância para a estabilidade da economia global, assim corno para o crescimento de qualquer país, seja ele desenvolvido, seja não. O melhor conhecimento de sua natureza proporcionaria melhores previsões, evitando possíveis surpresas de escassez ou ablUldancia de recursos, e suas desestabilizadoras conseqüências. Poder-seia evitar grandes choques, gerados por movimentos bruscos de entrada e saída de capitais de um país, ou turbulências que refletissem no nível de liquidez como um todo. Além disso, a depender das razões pelos quais os investimentos se movem, políticas econômicas poderiam ser aplicadas com o intuito compensar possíveis distorções geradas por entradas ou saídas, ou até mesmo melhor direcionar os recursos para o desenvolvimento do país receptor. Tais possibilidades seriam mais plausíveis, se supusermos que os fatores econômicos internos são os que prevalecem na determinação do movimento do capital, já que caberia somente ao governo e aos agentes econômicos do país estabelecer ações para atrair ou expulsar os recursos, reduzindo as distorções. Na visão dos fatores externos, as políticas econômicas do país receptor pouco surtiriam o efeito desejado, reduzindo, assim, as chances de se evitar grandes distorções geradas pela movimentação do capital. Neste caso, seria prudente o país evitar uma demasiada 7 exposição aos fluxos de capital, evitando uma abertura financeira acentuada, impondo também controles de entrada e saída dos recursos estrangeiros. Neste capítulo, de forma sucinta, serão apresentados os fatores econômicos internos e externos, descrevendo seus principais conceitos e argumentos. Para ilustrar o debate, em wna segunda parte será mostrado o episódio da volta voluntária dos capitais para a América Latina no início dos anos 1990, enquadrando este fato histórico sob a ótica de cada uma das explicações mostradas no mesmo capítulo. 1.1 Fatores internos de determinação dos fluxos de capital Assim como dito na introdução deste capítulo, a visão de preponderância dos fatores internos baseia-se na percepção de que os fluxos de capital são guiados por fLmdamentos endógenos de wna economia, cabendo a ela gerir e empregar políticas que atraiam e não afugentem os recursos estrangeiros. Aqui o país é wn agente ativo e autônomo, capaz de empregar sua política econômica de maneira a não depender da situação externa para manter investimentos e financiamentos externos, evitando assim fases de falta de liquidez, ou mesmo saídas abruptas de capital. Os capitais entram em um país a partir do momento em que a relação risco/retorno se mostra atrativa e aceitável ao investidor, principalmente no que diz respeito ao investimento privado de portfolio, que possui grande volatilidade. De maneira geral, recursos direcionados ao mercado de capitais são mais sensíveis do que outras formas de investimento (como o IDE), reagindo de maneira mais rápida e mais brusca a mudanças de rumo na condução da política econômica. Para construir a perspectiva favorável ao investimento, são considerados diversos aspectos da economia do país receptor, dentre as quais se sobressaem o clima econômico e a solvabilidade do país (Fernandez-Arias and Montiel (1995)). O clima econômico doméstico é caracterizado pelos autores de forma ampla, atingindo políticas macroeconômicas. Segundo eles, os fatores domésticos que poderiam melhorar o clima econômico e atrair os capitais são: 1- Prática de políticas fiscais austeras, mantendo assim uma política de gastos responsável e zelando por uma estabilidade de preços, controlando a inflação em patamares aceitáveis, com pouca variação. Tais políticas devem ser acompanhadas por um forte compromisso de perpetuidade, de forma que os investidores estrangeiros adquirissem a confiança necessária de que a política não seria alterada no curto prazo. 8 Uma vez tomadas, as providencias acima citadas proporcionariam um aumento na taxa de retomo esperada pelos agentes. Outro efeito seria a redução da percepção de risco que o país infere. 2- Política monetária ortodoxa, não deixando a economia com um nível de liquidez excessiva e mantendo taxas de retomo positivas para investimentos financeiros. Isto, na prática, significa manter taxas de juros adequadas que garantam a remuneração das aplicações financeiras, ou seja, urna taxa real positiva de juros (descontada a taxa de inflação). 3- Políticas liberais devem ser aplicadas ao mercado financeiro interno do país, eliminando restrições de acesso e saída ao mercado financeiro doméstico, retirando controles e taxas. O investimento direto estrangeiro também deve ser liberalizado. Deve haver transparência do governo com relação a políticas de intervenção, que devem ser evitadas ao máximo, de maneira a tranqüilizar os investidores. 4- Manter de maneira sustentável as estruturas e políticas implementadas. Expectativas de mudança na estrutura econômica, fiscal ou monetária podem angariar ceticismo nos investidores, além de abalar a credibilidade da equipe econômica do governo. Mesmo a instauração e revogação de tarifas podem gerar distorções e especulações, uma vez que gera incerteza e altera a percepção de relatividade dos preços dos agentes. A outra importante variável considerada pelos investidores, a solvabilidade (creditworthiness), depende do nível de recursos disponíveis pelo país e sua relação com o seu passivo externo, em outras palavras, é a capacidade de pagamento de seus credores, suas dívidas externas. O parâmetro de solvabilidade inclui dentre os seus principais determinantes: 1- Relação dívida!PIB, encargos sobre serviços da dívida (juros pagos) e acordos de reestruturação (ex: plano Brady para a América Latina). 2- Políticas estruturais e de estabilização econômica que afetem a eficiência de alocação de recursos. Alguns exemplos seriam as tentativas de estabilização de preços durante os anos 1980 no Brasil, com práticas heterodoxas de congelamento de preços entre outros. Tais políticas, na visão do investidor, claramente desestabilizam o equilíbrio do mercado e trazem ineficiência na alocação dos recursos, contribuindo assim negativamente para o retorno do investimento. 3- Na política comercial, devem ser evitados grandes choques nos termos e acordos internacionais, não instaurando novas barreiras. 9 4- Políticas que afetem o nível de absorção doméstica da renda. Resumidamente, políticas de austeridade fiscal, assim como um mercado financeiro aberto e transparente são determinantes para a entrada dos capitais. Assim como citado no início deste tópico, o cerne da questão gira em torno da percepção de risco e retorno dos investidores. Reformas estruturais liberalizantes que possibilitem a melhor avaliação de retorno e risco dos investimentos, a mobilidade que proporcionaria uma rápida e melhor alocação dos recursos, gerando maior eficiência, além da capacidade de diversificação são essenciais para atrair os capitais. A reversão na tendência de entrada dos fluxos de capital só ocorreria se tais políticas não fossem realizadas, ou caso políticas de fora da cartilha do consenso de Washington (diretrizes de políticas econômicas liberais aconselhadas por Washington para que os países atingissem o desenvolvimento) tidas como "imprudentes" fizessem parte da estrutura econômica doméstica (Prates, 1999). Outros fundamentos internos não citados anteriormente também são de extrema importância para os determinantes do capital estrangeiro, dentre eles estão a taxa e crescimento do produto e o nível de segurança jurídica presente no país. Na avaliação do crescimento interno do produto (PIB), é importante ressaltar que taxas globais de crescimento, também devem ser consideradas, pois supondo que o investidor tenha grande mobilidade e livre acesso aos diversos mercados, a relação de retorno e custo do capital deve ser positiva ao investidor. Desta maneira, será pouco atrativo para os capitalistas internacionais investir em países onde o crescimento do PIB seja baixo, ou próximo à da região de origem do capital (países desenvolvidos). No entanto, quando ocorrem situações em que o dinamismo do país supera bastante o crescimento do restante do mundo, os fluxos de capital vão se alocar naturalmente em resposta a esta possibilidade de retornos maiores no curto e longo prazo. A influência dos diferenciais de crescimento e de taxas de juros sobre a dinâmica dos capitais é consenso entre os que acreditam em fatores internos ou externos, mas vale a observação do grau de importância que cada uma das visões associa a estes fatores. Para a visão de preponderância dos fatores internos, o crescimento e os diferenciais de juros são fUndamentos que influenciam, mas não são por si só os principais determinantes da entrada dos fluxos de capital, que dependem sim de outras variáveis explicitadas no início deste tópico (Calvo, 1994). Supondo um cenário de aumento nas taxas de juros internacionais, principalmente a de países centrais da economia, fluxos de capital para países em 10 desenvolvimento se retrairiam como um todo, pois além do maior custo de captação de capital, o ganho com o diferencial nas taxas de juros entre centro e periferia é menor. No entanto, os países receptores dos fluxos que mantiverem as políticas econômicas adequadas não sofreriam reversões abruptas nos fluxos, mesmo quando a situação internacional sofre algum tipo de choque ou mudanças de expectativas (Fernandez- Arias and Montiel, 1995), Por f1rn, muitos autores destacam a influência do nível de segurança jurídica corno um dos fundamentos que determinam os investimentos em geral, dentre eles o estrangeiro, foco deste trabalho. A segurança jurídica incide diretamente na percepção de risco e nos custos dos investimentos, fundamentos essenciais para a formulação do estimulo dos agentes privados em remeter seus recursos à economia locaL Existem muitos tipos de insegurança jurídica, dentre as quais se destacam a msegurança contratual e administrativa (Freitas, 2007). A primeira, como o próprio nome diz, consiste no risco de não cumprimento dos contratos acordados previamente, gerando extrema insegurança e riscos ao capital investido. Temos dois bons exemplos de países em desenvolvimento que possuem esta insegurança. Pode-se usar como exemplos China e Venezuela, no primeiro caso diversos países reclamam à falta de compromisso com relação aos contratos comerciais, quando empresas chinesas não atuam como previamente estabelecido. Já na Venezuela, o constante aumento de estatizações de empresas privadas tanto nacionais como internacionais, mostram o elevado risco de se investir no país, gerando uma grande barreira à entrada voluntária de capitais estrangeiros. Por sua vez, a insegurança administrativa é a falta de previsibilidade de quando a decisão será tomada, causando incerteza e custos. O aumento das incertezas futuras contribui para urna maior instabilidade nos negócios, pois dá margens a atuação de especuladores com visão de curto prazo (Oliveira, 2009). Isto, consequentemente, dificulta a atuação de investidores com visão de longo prazo, assim como aumenta a percepção de risco do país. 1.2 Fatores externos de determinação dos fluxos de capital A linha de pensamento que contrasta com aquela anteriormente vista tem como foco fatores externos à economia doméstica, ou seja, os determinantes dos fluxos de capital não estariam relacionadas com políticas econômicas internas, mas sim com 11 fatores econômicos ligados aos países centrais. A visão dos fatores externos se diferencia bastante da outra, principalmente por caracterizar a dependência das economias em desenvolvimento aos países centrais, já que a entrada dos capitais, essenciais para o financiamento do crescimento e evolução de qualquer país, é determinada por fatores que fogem do alcance do Estado receptor, tornando-o vulnerável as políticas traçadas por países que comandam a economia global. Dentre os fatores externos de determinação dos capitais para países em desenvolvimento estão a taxa de crescimento das principais economias mundiais, o nível de aversão ao risco dos investidores e sua preferência pela liquidez, além das taxas de juros das economias centrais, principalmente a dos Estados Unidos, que possuem o sistema financeiro tido como "Porto Seguro" dos investimentos, já que são a maior economia do mundo e possuem a moeda (dólar) que é utilizada como reserva de valor por todos os países do mundo, baseados em seus títulos de dívida pública de risco zero. Os deslocamentos destas variáveis contribuem para a formação de ciclos de liquidez para as economias periféricas (Biancareli, 2007). Entender a natureza destes ciclos é entender de que forma os fundamentos econômicos externos são mais influentes que as políticas econômicas domésticas na determinação dos fluxos de entrada e saída dos investimentos estrangeiros em um país. A natureza dos investimentos estrangeiros ganhou nova forma a partir dos anos 1990, pois começou a ter grande participação dos chamados investimentos de portfólio, que são basicamente ações e títulos privados de empresas negociadas nas bolsas de valores. Para os países em desenvolvimento, este de fluxo de capital mostra certa padronização em seu comportamento de entrada e saída, caracterizando a formação de ciclos que alternam fases de grande entrada de capitais ("fase de cheia") seguidas por momentos de grande fuga ("fase de seca"), ligadas principalmente à percepção de risco e retorno dos agentes investidores (Biancareli, 2007). Aqui nota-se certa semelhança com os fatores externos, mas a percepção de risco e retorno não estão ligados aos fatores internos da economia, mas sim aquelas variáveis ligadas as economias centrais já citadas anteriormente. A idéia é a de que em momentos de estabilidade econômica nos países centrais, ocorre uma diminuição na aversão ao risco que todos os investidores possuem. Este maior "apetite" por risco também pode ser referido como uma queda na preferência por liquidez, levando os agentes a abrir mão de seus recursos por certo período de tempo para aplicar em ativos que gerem um bom retomo, e aqui entram os mercados financeiros dos países em 12 desenvolvimento, tidos como arriscados, mas com grande potencial de proporcionar aos investidores ganhos acima da média em prazos pequenos (Biancareli, 2007). A determinação e a intensidade dos fluxos de capital regidos pelas variáveis externas ao país receptor se comportam da seguinte maneira: "Fase de cheia": Na ocasião em que ocorre um grande influxo de capital em uma economia em desenvolvimento, nota-se um grande volume de capitais à disposição dos investidores, causados por baixas taxas de juros nas economias centrais, que tornam o crédito acessível e barato aos tomadores de recursos. Ao mesmo tempo, baixas taxas de juros caracterizam baixos retornos de papeis como títulos de divida pública, o que toma menos interessante sua procura e incita a busca de maiores remunerações por parte dos investidores. Outra variável de grande influência, a taxa de crescimento do PIB, também pode ser um fator a mais para incentivar a saída de capitais para economias em desenvolvimento, quando se toma baixa, estagnada ou mesmo negativas nos países centrais, não gerando expectativas de bons retornos. "Fase de seca": A situação de falta de financiamento em países periféricos, causada pela baixa entrada de capital, é causada por mudanças nas perspectivas futuras dos agentes, gerando uma maior aversão ao risco. Neste momento, os capitais partirão de locais onde os riscos são maiores, ou seja, dos países em desenvolvimento. Em casos nos quais as saídas de recursos estrangeiros ocorrem de forma abrupta em direção ao '·porto seguro" dos investimentos (títulos americanos), dá-se o nome de "fuga para a qualidade". Desta fonna, percebe-se que os ciclos de liquidez para países em desenvolvimento dependem muito da política monetária dos países centrais. A regulação da taxa de juros americana por parte do Federal Reserve é um fator de suma importância para determinar o volume de capital que estará à disposição para ser investido (Calvo, 1994). A teoria dos ciclos, intrinsecamente ligada à visão de preponderância dos fatores externos, mostra que fundamentos relacionados à economia do país receptor não se sobressaem aos outros fatores de determinação. Sendo assim, supondo que ocorra uma mudança negativa na expectativa dos investidores, os capitais deixariam os países em desenvolvimento, mesmo que estes mantenham políticas que sigam a cartilha de Washington. Isto, é claro, vai de encontro ao que foi mostrado na visão dos fatores internos. Existe outra circunstancia que alimenta grandes fugas de capital durante períodos de turbulência internacional, que é a não conversibilidade da moeda de países 13 periféricos. Esta teoria mostra que países com pouca relevância internacional, no que diz respeito ao comércio ou mesmo ao sistema financeiro, não possuem uma moeda doméstica que gerem segurança aos investidores, pms não são aceitas internacionalmente. Por este mesmo motivo, o país fica impossibilitado de emitir títulos de dívida externa em sua própria moeda. Em outras palavras, as moedas domésticas de países em desenvolvimento corno o real, o peso argentino, os bolívares venezuelanos entre outros não se encontram em um mesmo patamar que moedas como o euro e o dólar, gerando um maior risco a quem possui investimentos denominados naquelas moedas. Aqui mais urna vez, percebe-se a falta de autonomia dos países periféricos, uma vez que não pode alterar esta condição de subordinação ligada a natureza do sistema financeiro global (Carneiro, 2007). No próximo tópico, como urna forma de ilustrar o debate sobre os fatores internos e externos, será mostrado de maneira sucinta em exemplo histórico de entrada de capital em países em desenvolvimento, mais precisamente na América Latina, durante parte da década de 1990. 1.3 A entrada de capital na América Latina nos anos 90 O início dos anos 90 representou uma grande mudança para a região da América Latina. Após anos esquecida pelos investidores internacionais, a região voltou a ser alvo dos ±luxos voluntários de capital, superando assim a falta de financiamento externo que assolou os países durante a crise da dívida ocorrida na década de 1980. A "nova" onda de capital se tomou bem nítida a partir de 1992, como podemos ver no Gráfico 1.1 a segmr: 14 Gráfico 1.1: Fluxos privados de capital para a América Latina e Caribe 70 57,7 60 1/) O) ... ~ •O "O O) 50 40 28,9 "O 1/) O) 22,8 tO .r: ·-al 10 o 1978-81 * 1982-89* 1990 1991 1992 1993 Anos • Média do pcriodo Font~· Fcrnande7-Arias and Mon11cl ( 1995) Flaboração própria. O ciclo dos anos 90 também representou uma mudança com relação ao ciclo anterior quanto ao tipo de investimento, como se pode observar no Gráfico 1.2. Nota-se que o investimento em carteira se torna muito mais relevante, tanto em números absolutos como relativamente aos outros tipos, como o IDE. Este fenômeno ocorreu não só na América Latina, mas na economia internacional como um todo. Podemos notar também a crescente participação do capital privado em detrimento do investimento público. 15 Gráfico 1.2: Tipos de flux os para América Latina .sc: (I) E ~ f/) (I) > .E (I) "C o c. i= 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% ~ 90% 80% 70% 60% t 50% 40% 30% j 20% ~ J 1978-81* 1982-89* 1990 1991 1992 10% 0% 1993 Anos l - 10~ Fonte: Títulos de Dívida Femandc;r-J\ria~ c:::u Portfolio c:=::J Outros ~ Priva do -+- Oficiai s and Mon uel ( 1995). [laboração próprin Após a constatação deste fenômeno na América Latina, cada uma das visões de tàtores internos e externos deu sua versão para explicar à volta dos capitais privados à região antes esquecida, os argumentos se enquadram em suas teorias anteriormente descritas. Para os que defendem os fatores internos de determinação dos fluxos de capital, a volta dos capitais para os países em desenvolvimento CO!Tespondeu a combinação de dois fenômenos. O primeiro seria as baixas taxas de juros nos Estados Unidos (ver Gráfico 1.3), proporcionando liquidez aos agentes que partiram em busca de maximizar seus recursos. O segundo motivo foi o que também determinou a direção destes investimentos, as reformas econômicas que alguns países promoveram, ajustando as distorções internas que perturbavam a perspectiva dos investidores. As reformas melhorariam as variáveis de clima econômico e de solvabilidade. uma vez que seguem a cartilha de Washington. 16 Gráfico 1.3: US Federal Funds 10 8 6 4 2 o Fonte l'cdcral Reserve. Elaboração própna Na América Latina estes ajustes se deram principalmente com o plano Brady a partir do ano de 1989. que foi um plano que reestruturou a dívida externa dos países com dificuldade de pagamento do serviço da dívida, através da emissão de novos bônus conhecidos como .. Bradies''. O plano também promoveu políticas de cunho liberal em seus mercados financeiro e comercial. Assim o capital voltou naturalmente à região da América Latina. pois teve seu problema da dívida externa parcialmente resolvido, sinalizou aos agentes o comprometimento com políticas liberais e diminuiu o risco do investimento. que agora se encontravam diluídos no mercado financeiro com os bônus "Bradies". Para os investidores, os países da América Latina caminhavam em direção a estabilidade, com taxas de inflação controladas, gerando bons retornos para seus investimentos (El-Erian, 1992). Já a visão crítica sobre a volta dos capitais a América Latina mostra que o influxo de capital na região ocorre por fatores ligados às economias centrais, ignorando os fatores internos e a peculiaridade de cada um dos diferentes países em desenvolvimento. Em suma, os capitais voltaram devido às baixas taxas de juros nos países centrais, combinados com uma queda na aversão ao risco dos investidores, que partiram para novos mercados em busca de maiores ganhos (Biancareli, 2007). O gráfico 1.4 abaixo mostra o nível aversão ao risco dos agentes, medido pelo índice VJX, 17 que varia de acordo com a volatilidade dos contratos de opções futuras na bolsa americana. Quanto maior a volatilidade. maior será a percepção de risco dos agentes. Gráfico 1.4: VIX index 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 l·ontl!. \1arkel\\3tch.com. l:.laboração rrópna. É nítida a relação inversa entre o índice e os Jluxos de capital, o período de maior iniluxo na América Latina é também aquele em que o índice VIX registra a menor cotação na década de noventa, nos anos entre 1991-93. Outra importante crítica da visão dos fatores externos se baseia nos fundamentos econômicos internos de alguns dos países receptores dos capitais durante a década de 1990. A análise de algumas variáveis macroeconômicas mostra que não havia um cenário que poderia ser considerado bom para se investir. segundo a própria teoria mostrada anteriormente (visão dos fatores internos). Um exemplo emblemático é o Brasil. No início dos anos 1990, quando os primeiros recursos extemos sinalizavam uma entrada mais expressiva, o país se encontrava com elevadíssimas taxas de inflação, que não foram controladas mesmo após inúmeros pacotes econômicos que acabaram fracassados. além de uma estagnação com relação ao crescimento do PlB que o acompanhava desde a década de oitenta. O Brasil ainda sofria com a grande dívida extema, que só teve sua renegociação (plano Brady) finalizada no ano de 1994, após 18 1999 urna entrada rnms relevante de capitaL No âmbito político, também não existia estabilidade, quando escândalos de corrupção "derrubavam" o então presidente Fernando Collor. 1.4 Considerações finais Após explicitar as diferentes visões sobre os determinantes dos fluxos de capital, pode-se afirmar que existem semelhanças entre as teorias. Ambas reconhecem a importância da situação das economias centrais corno a dos Estados Unidos, que influenciaria diretamente os fluxos com as oscilações de suas taxas de juros e o retomo dado por seus títulos de dívida. (Calvo, 1994). Também há em comum a percepção das duas visões que o nível de aversão ao risco é essencial para a tornada de decisão, e pode também determinar a intensidade do investimento empreendido. As diferenças, por sua vez, já vezes mostradas anteriormente, expõem o debate em tomo do qual este trabalho se baseia. De um lado, os fatores internos proporcionariam autonomia para o país promover sua política econômica de acordo com seus interesses, e não estaria à mercê da política monetária dos paises centrais. Por outro lado, a visão de preponderância dos fatores externos sempre traria para os países em desenvolvimento a posição de "policy takers". Desta maneira, estariam sempre correndo riscos de mudanças na direção dos fluxos de capital, conseqüência de políticas que estariam fora de sua margem de manobra. O episódio da década de 1990, quando os capitais retomam a América Latina após anos de ausência, ilustra a discussão. Para a visão dos fatores internos as reformas liberalizantes e a renegociação da dívida externa foram os principais motivos para o retomo dos investidores privados, enquanto que a visão crítica afirma que a situação interna de algW1s países que receberam os capitais não era favorável, devido à instabilidade macroeconômica. Neste caso, sobrepõe-se o fato de que não houve diferenciação por parte dos agentes no momento do investimento, mesmo estes países possuindo diferentes contextos e situações econômicas. Nos capítulos seguintes será abordado o mesmo debate, sob o contexto de um novo ciclo de investimento para a América Latina, seguido de uma grande crise financeira. A primeira impressão é a de que os determinantes dos fluxos para a América Latina ainda depende de fatores externos as economias dos mesmos, mas que desta vez houve uma diferenciação entre os países da região, principalmente após a crise. 19 Capítulo 11: 20 O novo ciclo de liquidez e a crise financeira Introdução Após as crises financeiras ocorridas em meados dos anos 1990, como a crise asiática e a crise russa, o início da década de 2000 representou a recuperação do crescimento e da estabilidade da economia mundial, evidenciados entre os anos de 2002 e 2007. O período se caracterizou pela alta liquidez internacional, grandes taxas de crescimento real do Produto Interno Bruto mundial e grande euforia nos mercados financeiros. Nos países centrais, baixas taxas de juros estimulavam a expansão desta liquidez global, que rapidamente atingiu os países periféricos, promovendo o aquecimento daquelas economias. O comércio internacional também cresceu no período, o maior consumo dos países centrais e o "efeito China" promoveu a produção dos demais países, principalmente aqueles produtores de matérias primas, corno os países emergentes da América Latina. A inflação de preços das commodities foi uma das conseqüências do boom econômico rnlllldial durante estes seis anos. No entanto, corno freqüentemente ocorre na economia de mercado capitalista, urna crise se seguiu após os anos de expansão, finalizando o período de prosperidade iniciado no ano de 2002. A peculiaridade desta vez foi sua intensidade, comparável apenas à crise de 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque. Hoje se sabe que a crise financeira teve início no ano de 2007, quando a economia americana já demonstrava sinais de desaceleração. Apesar disso, a proporção e as conseqüências da crise foram sentidas de maneira mais forte apenas no final de 2008, com a quebra de um grande banco de investimento, desencadeando pânico nos mercados financeiros. Por fim, outro inesperado movimento ocorreu após a reviravolta negativa nos mercados mlllldiais, que foi a rápida volta dos fluxos de capital para alguns países em desenvolvimento, mesmo em um cenário econômico pautado pela incerteza e desconfiança no sistema financeiro mundial. Este capítulo tratará deste novo ciclo de liquidez ocorrido durante a década de 2000. Será mostrada de maneira sucinta a situação de estabilidade e crescimento econômico mundial ocorrido entre 2002 e 2007, assim corno seu encerramento com a crise financeira e o contágio da economia real. O último tópico abordará a retomada de certa estabilidade e do crescimento econômico de algumas regiões logo após a crise. Os 21 movimentos dos fluxos de capital estarão na pauta de todas as etapas que serão expostas. 2.1 A expansão econômica dos anos de 2002 até 2007 2.1.1 A expansão do produto e do comércio Os anos que compreendem 2002 até 2007 representaram prosperidade para a economia mundial. As taxas de crescimento mund iais foram elevadas, comparáveis até com os chamados ..Anos dourados" do capitali smo, ocorrido após a segunda grande guerra. Pode-se destacar dentro deste novo período de prosperidade o ano de 2007, que chegou próximo a 5%. Devem-se ressaltar as diferenças nas taxas de países avançados e emergentes, estes com taxas muito mais significantes (ver gráfico 2.1 ). Também houve uma forte expansão do comércio internacional (ver gráfico 2.2), com conseqüências diversas para as econom ias, principal mente aquelas cujas commodities fazem parte de sua pauta de exportação, em sua maioria países emergentes, já que houve grandes aumentos de preços nestes produtos. Gráfico 2.1 -Variação do PIB, preços constantes 9,0% 8,0% • 7,0% 6,0% ; 5,0% -l 4,0% 3,0% 2,0% 1,0% 0,0% +------..,.------ -- - - 2002 - 2003 Mundo 2004 - 2005 Economiasavançadas 2006 - 2007 2008 Economiascmergcntcs Fonte: FMI, WEO abril 2010. Elaboração própna. 22 Gráfico 2.2- Variação do volume do comércio internacional 16,0% l i 14,0% 12,0% 10,0% J 8,0% .. 6,0% 1 4,0% 1 2,0% .. --r-- 0,0% 2003 2002 - 2004 Exportações mund1as 2005 - 2006 2007 2008 Exportações de paises emergentes Fonte: FMI, WEO abril 2010. Elaboração propna Os dados de 2008 já trazem o efeito da crise financeira que se sucedeu. com quedas do PIB e do vo lume de comércio. As variáveis se agravam em 2009, como tratado mais adiante. 2.1.2 - A liquid ez internacional e os fluxos de capital Na análise dos anos entre 2002 a 2007, nota-se que o período também se caracterizou pela formação de um novo ciclo de liq uidez internacionaL com elevada disponibilidade de recursos estrangeiros para financiamento, gerando grande fluxo de capital para países em desenvolvimento. Trata-se de uma ..onda'· consideravelmente mais intensa do que aquela que a precedeu, durante os anos 1990 (ver gráfico 2.3) (Biancareli, A. M. (2007)). A estabilidade financeira internacional em conjunto com o bom desempenho econômico mundial mostrado no grático 2.1 explica em parte este momento. Assim como no primeiro ciclo, a baixa aversão ao risco somada as baixas taxas de juros nos países centrais (pelo menos nos primeiros anos do ciclo) também contribuem para explicar a nova onda de liquidez. Gráfico 2.3- Fluxos privados de capital para países emergentes, porcentagem do PIB 23 199o 91 92 93 9~ <>s 96 97 9S 99 2000 0 1 02 o3 04 os o.; o; 2oos Fonte: IIF, Capita l Flows to Emerging Market countries. Elaboração própria. A avaliação do índice VIX. índice que mede a aversão ao risco dos investidores (ver gráfico 2.4), comprova o período de "calmaria" nos mercados financeiros até o ano de 2007. Em 2008. nota-se o pico no gráfico ocorrido devido ao pânico gerado pela crise financeira. mas após isso. percebe-se que novamente o índice converge para patamares baixos. em níveis pré-crise. O chamado 1\1oney chasing yield (denominação criada por Minsky) sena estimulado também por uma política expansionista dos bancos centrais dos países desenvolvidos. como baixas taxas de juros e compras de títulos públicos em poder dos agentes privados. Analisando somente este cenário internacional com as diferentes visões, constata-se um momento perfeito (na visão dos fàtores externos) para que os capitais sigam para regiões como a América Latina. Já na visão dos fàtores internos. a principal determinação ainda estaria relacionada com o melhor desempenho dos países emergentes em relação aos desenvolvidos, além é claro da conciliação deste bom desempenho econômico com políticas austeras c liberais, mantendo a int1ação sob controle e diminuindo os déficits públicos (será mostrado com maiores detalhes cada um destes dados no terceiro capítulo, com a abordagem de alguns países). Gráfico 2.4- Índice VIX 24 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 70,00 10,00 0,00 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 l ontc· Market\\ ateh com Elaboração própria Existem outras semelhanças entre este ciclo e aquele que o antecede, que estão essencialmente em sua composição. Apesar de ainda não ser o tipo de capital de maior preponderância entre os influxos. o capital de portfólio, assim como nos anos 1990, também é um dos que crescem dentre todos, passando a ter uma maior importância na conta financeira dos países receptores. Segundo dados do fMI, em 2002 este investimento representava aproximadamente I 0% do total das emissões brutas dos países emergentes, com o valor de 17,2 bilhões. Já em 2007, antes de crise financei ra, este valor chega a 229.2 bilhões de dólares. representando cerca de 30% do total das emissões. Pode-se ter noção da grandeza desta mudança quando analisamos o índice MSCI, cujo valor é dado pela variação das bolsas de países em desenvolvimento. ou seja. é um índice idealizado que leva em consideração o desempenho dos mercados de valores de uma região. No gráfico 2.5, fica evidente o descolamento das bolsas de países emergentes se compararmos com países desenvolvidos, a região da América Latina se sobrepõe até mesmo em relação a outras regiões emergentes do mundo. Notase também a queda ocorrida após a eclosão da crise financeira e o início da recuperação. a partir do segundo semestre de 2009. Gráfico 2.5 - Índice MSCI 25 ouu 450 400 350 300 250 200 150 100 50 -- 2004 2005 G-7 lndex Emerging Europe 2006 -- 2007 Emerging Asia Latin America 2008 - 2009 o Ali EMEs E:-.rraJdo de. I ht: evolulion o f capilal llo"s lo emerging-marker 20 I O O fenômeno demonstrado, que se encontra no cerne do debate dos 1luxos de capital, possui diversas explicações de ambas as posições. tanto para os fatores internos quanto para externos. Dentre elas podemos citar o rápido aumento dos preços de c:ommodities (Bioomberg). gerado através de forte demanda por parte de países como a China, mas também através de especulações. Isto contribuiu em muito para que os balanços de pagamentos destes países melhorassem de forma consideráveL fàvorcccndo assim a entrada de capitais (1àtores internos). Outro motivo que se pode citar é a expectativa de apreciação das moedas locais em relação ao dólar, pelas mesmas razões anteriormente mostradas (aumento de preços das commodities e melhora no balanço de pagamentos). Esta expectativa é um grande incentivo, para investidores que pensam no curto-prazo, para entrar nos mercados financeiros destes países e ganharem com os ativos. tanto na posterior conversão da moeda quanto no título ou ação investida (fàtores externos). Uma análise mais detalhada dos tipos de fluxos de capital para a região da América Latina mostra a mesma tendência já citada anteriom1ente para os países emergentes em geral. O gráfico 2.6 demonstra que durante o pcriodo em questão o saldo total dos fluxos privados sempre permaneceu positivo, mesmo durante os difíceis anos para a economia mundial em 2008 e 2009. A projeção do FMI para 2010 e 2011 chega a 26 patamares pré-crise, ou seja, a América Latina tem a perspectiva de permanecer com um pólo de forte atração dos investimentos estrangeiros, principalmente sob a forma de IDE e de portfó lio. Gráfico 2.6- Saldo dos fluxos de capital para a América latina 120.000 100 000 80.000 60.000 40.000 20 000 -20.000 -40.000 -60.000 -80.000 lnvesttmento Dtreto - Outros Fluxos Privados Fluxos Privados de Portfoho - . - Fluxos Privados -.+- Fluxos Of1c1ats *Projeções a partir de 20 IO ~ont~ Dado~ c\lraídos do si te do FMI A categoria dos ''Outros tluxos privados" também chama bastante atenção, devido principalmente ao seu forte saldo negativo no ano de 2009. Isto se deve ao fato de muitos agentes terem contraído empréstimos bancário no exterior. Na América Latina, o aprofundamento da abertura linanceira de alguns de seus principais países, como Brasil, pode explicar a maior incidência do inlluxo de capital para a região. Esta maior integração com o sistema financeiro internacionaL certamente ajudou estes países a crescer, auxi liando a expansão do créd ito nas economias. No entanto, historicamente países que experimentaram um grande nível de liquidei. através desta abertura tiveram problemas quando os fluxos voltam para sua 27 ongem, sofrendo na maiOna das vezes quedas abruptas do produto interno, desvalorização repentina de sua moeda e dificuldades para manter suas contas equilibradas. Por causa desta situação de possível reversão da economia, muitos economistas associam o aumento da abertura financeira com o agravamento da vulnerabilidade externa de um país (Prates, 2009). Existem algumas alternativas que diminuem essa fragilidade externa. Alguns países tentam evitar uma demasiada apreciação cambial através da compra do excesso de capital estrangeiro nos mercados avista, atuando assim como "contrapeso" na outra ponta, agindo de maneira oposta ao mercado. Desta forma, os bancos centrais aumentam suas reservas cambias, podendo utilizáwlas em uma eventual fuga de capital, evitando uma possível violenta desvalorização de sua moeda. A maior disponibilidade de recursos estrangeiros em poder do Estado é urna importante ferramenta que age como um desincentivo a agentes a tentar qualquer movimento especulativo contra a moeda nacional~ uma vez que demonstra alta capacidade de fazer frente a possíveis demandas (Suchanek e Vasishtha (2010)). 2.2 -A crise financeira, contágio da economia real e sua recuperação Em 15 de setembro de 2008 o banco de investimentos Lehman Brothers entra com um pedido de concordata nos Estados Unidos, provocando pânico e uma crise global que não via se desde a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. Esta data foi uma espécie de divisor de águas para a economia, encerrando definitivamente o ciclo de prosperidade tratado de forma resumida no tópico anterior deste trabalho. Mesmo alguns anos após o auge do pânico ocorrido nos mercados mundiais, ainda não se sabe muito sobre a crise, devido primeiro ao grau de complexidade financeira com a qual instituições de investimento e bancárias atuam, sempre com o objetivo de burlar as regras do acordo de Basiléia, segundo e talvez mais importante, devido à falta de regulação do sistema internacional e suas transações, proporcionando Imensa desconfiança em todos, já que ninguém, nem mesmo os bancos centrais, sabia quem estava realmente falido com a chegada da crise (Farhi e Cintra, 2009). Hoje é sabido que urna das origens de todo o problema ocorreu nos ativos financeiros ligados às hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. Grandes bancos e instituições financeiras desenvolveram, através de técnicas com alto grau de complexidade, maneiras de retirar de seu balanço operações de risco de crédito, dando- 28 lhes mais margem para urna alavancagem ainda maior com outras operações de risco (Farhi e Cintra, 2009). Também através de inovações financeiras, os bancos conseguiram terceirizar o risco inerente as concessões de crédito hipotecário, o que fez com que o rigor e a exigência do emprestador diminuíssem bastante. Desta maneira, quebra-se o vínculo direto entre tomador e emprestador (Feitas, 2009). Como conseqüência, nota-se um aumento vertiginoso do número e volume de empréstimos ligados a hipotecas para pessoas com alto risco de proporcionar calotes. Obviamente, somente estas informações, carentes de detalhes, não explicam por si só a crise nem justificam sua intensidade. Portanto, para simplificar e não aprofundar a discussão, pode-se dizer que a crise foi em grande parte causada pela exposição de instituições bancárias a um elevado risco, através de inovações e engenharias financeiras que proporcionaram a possibilidade dos agentes operarem de forma extremamente alavancada. A alta liquidez destes ativos ligados as hipotecas de alto risco, com interligações entre diversos agentes envolvidos nestes negócios, potencializou também o risco sistêmico (Freitas, 2009). A situação internacional começou a se modificar quando os Estados Unidos deu iniciou em maio de 2004 a uma trajetória de alta nas taxas de juros, com vistas a segurar as forças inflacionárias, causadas pela expansão econômica que o mundo experimentava, como já descrito anteriormente. A taxa de juros saiu de um patamar de 1% a.a para 5,25% a.a em julho de 2006, se mantendo até julho de 2007. Após isto, inicia-se urna nova trajetória de queda bastante intensa, fruto direto da desaceleração econômica americana e posteriormente da crise (ver gráfico 2.7). Gráfico 2.7- Taxa referencial de juros americana 29 US Federal Funds 7 6 5 4 3 2 1 o +---~---r---r--~--~--~--~~--r---~--~--~~~ Font~:. Federal Reserve rlaboraçào própria O aumento da taxa de l% para 5,25% a. a foi determinante para a eclosão da crise financeira, uma vez que muitos contratos de empréstimos hipotecários foram feitos com taxas variáveis de juros, levando diversos devedores a não honrarem suas dívidas. A inadimplência fez com que o valor dos imóveis se retraísse bastante, em muitos casos este valor ficou abaixo da própria dívida do proprietário. Em meio a esta situação, muitas famílias perderam suas casas, muitos bancos não conseguiram reaver o que foi emprestado, e investidores e agentes portadores de fundos e ativos ligados as hipotecas viram seu patrimônio desmoronar. Por fim, agentes que venderam proteção de risco de crédito também ficaran1 em dificuldades. Todos os agentes saíram perdendo, tanto famílias, como bancos, investidores e seguradoras (Freitas, 2009). Neste cenário, não é difícil entender como a crise financeira contagiou a economia real em todo o mundo. A falta de infonnação do tamanho das perdas e, principalmente. quais instituições estavam ligadas aos ativos "podres" teve dois efeitos quase que imediatos. Primeiro o congelamento do crédito interbancário. simbolizado pela disparada das taxas de juros interbancárias americanas, e em segundo a con·ida por parte dos investidores para ativos seguros, como os títulos do tesouro americano, com conseqüente queda de liquidez (ver gráfico 2.3 de fluxos para países emergentes). Estes movimentos, por sua vez, ajudaram no aprofundamento da crise. Pode-se ligar a corrida aos títulos americanos à chamada.flight to quality, que é característico em situações de grande aversão ao risco (ver gráfico 2.4 ). A visão de preponderância dos fatores externos frisa bastante o ponto da fragilidade financeira e da 30 falta de capacidade do país em segurar estes capitais, quando ocorre este tipo de reviravolta na economia internacional. Nesta crise, isto ficou extremamente nítido. Fluxos de capital foram direcionados novamente para os Estados Unidos, com recursos de todas as partes do mundo sendo direcionados para os títulos da dívida pública americana em busca de proteção. Como era de se esperar, o capital de portfólio foi o mais afetado. Segundo dados do IIF, mesmo com um grande fluxo positivo de capital até setembro, o ano de 2008 fechou com um valor negativo nos investimentos de portfólio nos países emergentes, em cerca de 93 bilhões de dólares. O gráfico 2.5 mostra a queda das bolsas ocorrida no final de 2008, se recuperando apenas em algumas regiões a partir de 2009. Outro fato inerente a esta fuga de capitais foi a desvalorização das moedas dos países emergentes, em contraposição às moedas tidas corno mais seguras, corno euro e principalmente o dólar. Já a contração de crédito talvez tenha sido o principal catalisador da crise na economia real. Dados mostram que no último semestre de 2008, o PIB dos países avançados se "reduziu em uma ciffa sem precedentes de 7,5%"; já economias emergentes caíram algo em torno de 4% (WEO 2009, FMI). Pode-se ter urna idéia da queda ao observarmos o gráfico 2.2 no tópico anterior. Outras conseqüências diretas disso foram a quedas dos preços das commodities, queda da intlação na maioria dos países, aumento do desemprego entre outros. Na tentativa de estabilizar os mercados financeiros, os governos através de seus bancos centrais, passaram a injetar liquidez no mercado para evitar uma paralisia total no sistema financeiro internacional. Com diversas intervenções e às vezes através de ações em conjunto, bilhões foram oferecidos aos agentes tanto pelo FED quanto pelo banco central europeu. A política monetária também foi usada através das reduções das taxas de básicas de juros. Os governos também atuaram com políticas fiscais na tentativa de reativar a economia em verdadeiro estado de queda livre, com reduções tributárias, aumento dos gastos com infra-instrutora entre outros. Após todos estes esforços e gastos para estabilizar o mercado financeiro e aquecer novamente a economia, países desenvolvidos passam a mostrar grandes aumentos nos déficits públicos, superando até mesmo os paises em desenvolvimento. Os dados a seguir constatam esta afirmativa: Gráfico 2.8- Déficit Público, porcentagem do PIB 31 Chart 9 G ross Public Debt percent of GDP (both scales) 50 Mature Economies / 45 40 Emerging Economies 35 / 30 Fonte: li F, Capital Flows to Emerging Market countries. Ainda assim, no final de 2009 os países avançados fecharam com queda do PIB de -3,2%. Já os países emergentes, menos afetados pela crise, fecharam o mesmo ano com uma variação positiva de 2,4% (WEO 201 O, FMI). Este fato por si só já seria uma exceção na recente história econômica, haja vista que países em desenvolvimento na maioria das vezes sofrem mais com efeitos de crises financeiras, mesmo quando elas não têm origem em suas regiões. Outro fato de suma importância foi a rápida volta dos fluxos de capital para os países emergentes, principalmente para a América latina (ver gráfico 2.6), até mesmo de investimentos que exigem uma tolerância maior ao risco, como é o caso de investimentos em ações. De 2008 para 2009, a região reverteu um saldo negativo de -2,9 bilhões para 46,5 bilhões somente em investimento de portfólio (IIF, 2010). A volta dos capitais não foi homogênea para todos os países, alguns se destacaram mais do que outros, um exemplo disto foi o Brasil. Aqui novamente tem-se a questão dos fatores de determinação dos fluxos de capital para países em desenvolvimento. Neste mesmo capítulo são mostrados alguns dados interessantes que poderiam ser relevantes para o fenômeno, corroborando com ambas as visões. Sabe-se que devido às ações dos bancos centrais dos países avançados, baixando os juros e injetando uma imensa massa de dinheiro na economia, houve um considerável aumento na liquidez internacional a um baixo custo, além do diferencial 32 das taxas de juros terem crescido (entre centro e periferia). Dados do Global Financiai Stability Repor! do FMI de abril de 2010, comprovam que durante o período em que se inicia a recessão norte americana e ocorre à crise em 2008, o diferencial das taxas de juros entre países desenvolvidos e emergentes se agrava ainda mais. Percebe-se inclusive que a média das taxas básicas nos países emergentes sobe em meados de 2008. quando havia uma forte pressão inflacionária dos preços das commodities. Gráfico 2.9 -Variação das méd ias das taxas básicas de juros, em % Figure 4.2. Change of Central Bank Policy Rates (In percentage points; September 1, 2007 = O) os Average change o f recelvlng countrles' po/Jcy rates 1 o - -0.5 - -1.0 - - 1.5 --2.0 Average change of G-4 po/lcy rates ' --2.5 --3.0 - -3.5 Fonte· Global Financ1al Stal11ht} Repor on April2010t. ~MI Estas medidas estão no cerne da visão de dominância dos fatores externos e poderiam ser os principais motivos para a retomada dos Jluxos para a América Latina. Por outro lado, é notório que o cenário econômico dos países emergentes está muito melhor do que os países avançados, com crescimento econômico acelerado e até mesmo com uma inversão de papéis com relação aos déficits públicos (ver gráfico 2.8), que vem diminuindo nestes países. Estes fatos poderiam também ser os principais motivos da volta dos capitais. segundo a teoria de dominância dos fatores internos. 2.3 Considerações finais 33 Os dados que compõem este capítulo dois têm como objetivo principal explicitar o início e o final de um ciclo de liquidez, com as fases de cheia e de seca. Este ciclo foi caracterizado pela intensificação de suas etapas, se comparado ao ciclo anterior dos anos 1990, brevemente mostrado no primeiro capítulo. Sua fase de cheia teve início em 2002 e atingiu o auge em 2007, quando urna crise financeira sem precedentes passou a influenciar a economia até atingi-la violentamente em setembro de 2008, com a quebra de instituições ligadas aos ativos hipotecários de alto risco dos Estados Unidos. A instabilidade levou pânico aos mercados e o nível de aversão ao risco chegou a patamares recordes. A situação foi atenuada por ações integradas de bancos centrais, que através de políticas heterodoxas expansionistas salvaram o sistema financeiro de um verdadeiro caos. Políticas de estímulo econômico se seguiram e o mundo começou a crescer novamente, principalmente os países emergentes. A inesperada volta dos fluxos de capital, foco deste trabalho, chega a níveis précrise em alguns países da América Latina, entrando até mesmo por canais que exigem certa exposição ao risco, como o mercado de capitais. Desta maneira, a despeito das incertezas sobre a "saúde" do sistema financeiro, países como Brasil conseguem novamente obter o financiamento externo. Alguns países como o Chile também experiinentam certa recuperação, enquanto outros como a Venezuela, não apresentam sinais de melhora, continuam sem os fluxos de capital e tem urna situação econômica cada vez mais problemática. No próximo capítulo, serão abordados de qual maneira estes diferentes países reagiram durante e após a crise. Será feita urna breve análise de como estes países se integram com a economia global, e uma tentativa de associá-las às diferentes questões dos fatores de determinação dos fluxos de capital também será feita. Capítulo 111: 34 Os países latino-americanos e os fluxos de capital Introdução Como já citado anteriormente, a volta dos capitais para a América latina após a crise financeira se deu de forma rápida e intensa, e de fonna desigual entre os países da região. O capítulo II tratou de demonstrar a volta dos capitais para a região corno um todo, discutindo e apresentando dados relevantes da economia internacional e dos principais países desenvolvidos, explicitando que apesar do choque da crise, a situação continuou favorável a entrada de capitais na América latina, uma vez que a política monetária expansionista se intensificou e a aversão ao risco caiu, gerando um alto nível de liquidez global entre outras conseqüências. Estes dados compuseram os fatores econômicos externos. Para dar seqüência à análise, este capítulo se dedicará a apresentar dados mais específicos de alguns dos países que formam o bloco dos "em desenvolvimento". Primeiramente, serão abordados os dados da conta financeira dos principais países da América latina, com a posterior identificação dos mais relevantes fluxos de capital estrangeiro. O objetivo é constatar o fenômeno foco do trabalho e que vêm sendo tratado desde então. Para a segunda abordagem, serão mostrados os principais dados internos das diversas economias, dados estes que constituem o grande filtor de decisão para a determinação da incidência dos investimentos estrangeiros segWldo a visão dos fatores internos. A tentativa de se relacionar os dois tipos de dados, fluxos de capital e a situação econômica de cada país, é imprescindível para que se possa ter uma idéia de corno os capitais reagem ao desempenho das economias emergentes. Após uma análise prévia dos destes países da América Latina, que levou em consideração a importância e o histórico econômico recente, serão trabalhados quatro grandes países da região, sendo eles Brasil, Argentina, Venezuela e Chile. 3.1 Os fluxos de capital durante e após a crise financeira nos países latinoamericanos 35 Primeiramente, a conta corrente dos países da América latina escolhidos mostrada no gráfico 3.1, dá noção da situação em que eles se encontram com relação às transferências de capitais ligadas principalmente ao comércio de bens c serviços e pagamentos internacionais. Gráfico 3.1- Variação do saldo da Conta corrente, em% do PIB 16,0% 14,0% 12,0% 10,0% 8,0% 6,0% 4,0% 2,0% 0,0% ·2,0% -4,0% ~ 2006 -+-Argcntma 2007 -o-Brazil 2008 ....... chilc 2009 - venezuela Fonte: lntcmational Financ1al StatJ\lJcs. FMI !:.laboração própria. Os dados revelam uma queda dos saldos em conta con·ente de todos os países da amostra no período em questão. A Venezuela se destaca com um resultado positivo bem acima dos outros, isto se deve principalmente ao grande volume de exportação de petróleo, cuja receita tàvorece fortemente o saldo da balança comercial, que é um dos componentes da conta corrente. A Argentina se mantém estável e com um saldo positivo. Já o Chile oscila bastante durante o período, principalmente devido à variação do preço do cobre, um dos itens mais relevantes em suas exportações. O Brasil é o único que teve resultado negativo em 2008 e 2009, com aproximadamente -2% do PIB. A forte queda dos preços das commodities ajuda a explicar a queda. 36 A conta fi nanceira líquida contém não só fluxos estrangeiros de capital. Ao se analisar somente estes tluxos líquidos, notam-se algumas diferenças de saldos e evolução. O gráfico mostra que a Argentina não teve saldos negati vos de 2007 a 2009 nos fluxos estrangeiros, mas fica claro que não houve a recuperação dos resultados após a crise. já que o volume positivo de 2009 está consideravelmente abaixo do que aquele registrado em 2007. O Chile se mantém estável. enquanto Brasil c Venezuela interrompem a queda no crescimento ocorrido entre 2007 e 2008, mostrando um retomo dos capitais em 2009 (ver gráfico 3.3). Gráfico 3.3- Fluxos de capital estrangeiro líquido, em milhões de dólares 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 J§~~!Ç:~~~~::::;::::!:::::!::;á~c:::::~~~~"$* 20.000 + .. · 20.000 1999 2000 2001 .....-Argentma 2002 2003 2004 -o-Brazll 2005 2006 -a- Ch1le 2007 - 2008 2009 venezuela Fonte lntemahonal fmanc1al Sta11st1cs. F:-.11. Elaboração própna Estes dados reforçam a afirmação de um retorno mais seletivo dos capitais estrangeiros para a América Latina. já que houve uma diferenciação entre os países onde alguns voltaram a receber os fluxos perdidos com a crise. e outros não. Antes de demonstrar a situação interna de cada um, através da análise das principais variáveis macroeconômicas de cada país, os dados a seguir mostram o desempenho por tipo de 11uxo de capital registrado: Gráfico 3.4 - Fluxos de capital estrangeiro por tipo - em milhões de dólares: 38 Brasil Chile 30.000 140000 120.000 100.000 80000 60000 40000 20000 ·20.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 2006 2007 • IDE • Carteira 2008 2009 ·5.000 Outros 2006 2007 2008 • IDE • Carteira 2009 Outros Argentina Venezuela ISOOO 20000 10000 15000 5000 10.000 5.000 ·5000 ·5.000 ·10000 ·10.000 • IDE • Carteira Outros l·onte: lntcrnational I· i•wnc1al S tatisti c~. FMI Elaboração • IDE • Carteira Outros própria. O detalhamento da conta financeira brasileira mostra que o país obteve de forma rápida o retorno dos capitais no ano de 2009 nos três tipos de fluxo. Os outros investimentos (basicamente empréstimos) se mantiveram positivos em todo o período, em um contexto em que o Brasil já havia pagado sua dívida externa com o FMI. O destaque. sem dúvida. é o desempenho dos fluxos de investimento em carteira que. após uma considerável alta de 2006 para 2007, atingiu em 2009 um saldo positivo de 46 bilhões de dólares. O investimento direto estrangeiro (IDE) manteve-se positivo em todo o período, até mesmo durante o ano de 2008, quando na verdade obteve o maior \Olume liquido da série representada. sofrendo uma queda de 50% apenas em 2009. Além da crise, pode-se atribuir a este declínio a alta base do ano anterior, com cerca de 50 bilhões de saldo positivo. devido ao crescimento econômico e o forte mercado interno brasileiro. que atraiu muitos investimentos de empresas transnacionais. O Chile manteve seus saldos líquidos positivos em todos os investimentos durante o período, com a exceção da ..carteira" em 2007. Nota-se que o saldo deste fluxo flutua perto da estabi lidade. Já o IDE tem um saldo positivo bem forte durante todos os anos. com certa semelhança com o Brasil entre 2007 c 2009. quando teve seu 39 ápice em 2008 e queda em 2009. Os outros investimentos também se mantiveram estáveis e positivos. A crise financeira parece não ter afetado o Chile sob o aspecto dos capitais estrangeiros. A Venezuela apresenta uma grande irregularidade em todos os tipos de fluxos de capital, tanto no sinal do saldo como na intensidade do mesmo. A oscilação se estende também para todos os anos e é difícil estabelecer uma tendência. Como destaques, a rápida recomposição do saldo do investimento em carteira, que sofreu uma queda em 2008 devido à crise financeira, mas assim como o Brasil, recuperou o saldo préRcrise em 2009. Além disso, houve uma forte queda do IDE em 2009, com saldo negativo de quase quatro bilhões de dólares. Por fim, a Argentina não conseguiu ter o mesmo desempenho que teve em 2007 depois da crise, 2009 ainda está longe de representar uma recuperação. O IDE fechou com um baixo saldo positivo, em um nível comparável aos anos de crise no país, e o investimento em carteira continuou negativo. Os outros investimentos, que passou a ser positivo em 2007 após o pagamento de empréstimos ao FMI, também obteve um fraco saldo depois da crise. A Argentina é o único dos países desta análise que ficou bem próximo do campo negativo em 2009, quando são somados os três tipos de fluxos da capital. O fraco resultado é parecido com os anos que se seguiram a moratória declarada em 2001, período de forte turbulência e desconfiança da economia local. A dificil tarefa de encontrar semelhanças na evolução dos saldos dos fluxos de capital entre os países é um exemplo emblemático da desigualdade com que os capitais retornaram à região da América Latina, fato este da maior importância. Sem dúvida, países corno Brasil e Chile receberam mais recursos estrangeiros do que Argentina e Venezuela, o que ajudou no melhor desempenho das duas nações no resultado da conta financeira. No entanto, quando os países são analisados sob a ótica dos diferentes tipos de capital, algumas semelhanças ocorrem, principalmente com relação ao IDE. O investimento estrangeiro direto tem saldos positivos em quase todo o período para todos os países, com exceção de alguns anos da Venezuela. Este tipo de fluxo é o que menos oscila entre saldos positivos e negativos, e apresentou certa resistência a crise de 2008 em três dos quatro países apresentados. A primeira impressão é a de que o IDE é sim sensível as mudanças de liquidez internacional, mas reage com certo atraso. Os dados internos a economia de cada país deve influenciar também, como analisaremos mais adiante. 40 O investimento em carteira, que possui urna oscilação bem maior que o IDE, tem aparentemente uma maior correlação com o nível de liquidez internacional do que com os fundamentos internos da economia. A relação é mais clara nos anos de 2007 a 2009. De modo geral, o investimento em carteira seguiu o trajeto do nível de liquidez internacional, quando teve um excelente saldo positivo em 2007, queda em 2008 e recuperação em 2009. Este desempenho segue as variações de liquidez e do risco (ver gráfico 2.3). Na amostra dos países selecionados, a exceção é o Chile, que teve saldo negativo em 2007 e positivo em 2008. Já Brasil e Venezuela são excelentes exemplos, com desempenhos que reforçam a correlação entre fatores externos e os investimentos de carteira, urna vez que nos anos de 2007 e 2009 quando a aversão ao risco era baixa e o nível de liquidez alto, houve um forte fluxo de entrada de investimento em carteira. Em contrapartida, o ano de 2008 foi de saldo negativo para este tipo de capital, mas a aversão ao risco era alta devido à crise, e o nível de liquidez era baixo. Vale lembrar que este investimento é dividido entre ações e títulos públicos, ativos que certamente reagem de maneira diferente às mudanças da economia em geral. Em seu relatório Global Financia! Stability Report de abril, o FMI afirma que existe uma correlação positiva entre o nível de liquidez internacional e o preço das ações nos países emergentes durante o período de 2003 a 2009. Esta afirmação pode ser ilustrada pelo índice MSCI (ver gráfico 2.5) que mostra claramente a recuperação da América Latina após a crise financeira. No entanto, a análise país a país mostra que o retomo foi desigual também para este tipo de investimento (ver gráficos 3.5). Gráfico 3.5- Saldo líquido do Investimento em carteira- em milhões de dólares: 41 Argentina 10000 8000 3.000 35.000 2.000 6.000 4 000 2.000 1.000 -2000 -4 000 -1.000 -6.000 -2 .000 Brasil 40000 30 000 25.000 20.000 15000 -8000 10000 5000 -3.000 -10000 -12000 -5.000 -4.000 - Títulos - Ações Chile 2SOO -10000 2 000 noo 1000 500 - Titulos Venezuela 6.000 5.000 4.000 3.000 2000 1 000 Ações - 800 600 400 200 +-_,~~:::::~~~(ti!.~;::-::t:....::~~-~ -200 -1.000 -2.000 -3.000 -4 .000 -5.000 •I 000 -1500 - Ações - Títulos -400 -600 -800 - ntulos - Ações h mh.: lntt:rnallonal Financtal Statistics. I·MI. Elaboração própria. A Argentina não segue o bloco latino-americano na velocidade da recuperação da entrada dos fluxos estrangeiros nos títulos e nas ações. Ambos os ativos apresentam tímida volta em 2009, ficando longe de seus saldos em 2007. O Brasil segue a mesma trajetória do bloco. corroborando com a afirmação do FM I exposta anteri ormente. O investimento nos títulos de renda fixa também se recupera, mas de maneira menos brusca. O Chile. diferentemente da maioria dos países, teve um saldo positivo no ano de 2008 no investimento em ações. Em 2009, inverteu o resultado e caiu, mas manteve o saldo positivo. Por fim. a Venezuela apresenta sinais de recuperação do saldo em ações em 2009, superando o nível de 2007. Os títulos apresentam grande oscilação c melhoram seu também melhoram seu saldo no último ano em questão. É importante ressaltar que no caso dos títulos, a remuneração dada a eles através do nível de juros do país também influencia bastante o desempenho desta conta, assim como as taxas exercidas nas principais economias do mundo. Até aqui. foi exposto o debate em torno dos determinantes dos fluxos de capital para países em desenvolvimento e a análise da situação econômica internacional, que se encontra favorável a entrada dos capitais nos países da América Latina. i\ comparação com a teoria de predominância dos fatores externos esteve presente em quase todos os 42 momentos. No próximo tópico, a situação econômica interna de cada um dos países e a visão dos fatores internos serão abordadas. 3.2 Os fatores internos dos países latino-americanos No capítulo 1 foram expostos qurus fatores econômicos internos são considerados pelos investidores para sua tomada de decisão. Dentre os indicadores da política monetária, são consideradas as taxas de juros e o índice de inflação. Na política fiscal, o nível de endividamento dos países é um dos componentes avaliados. Além disso, o crescimento do PIB é essencial para se analisar a evolução da riqueza e certamente é um fator importante. Cada país teve reações diferentes à chegada da crise, isto será abordado mais adiante. Outro indicador que será analisado tem o objetivo de quantificar a estrutura econômica de cada país com relação ao nível de liberdade e mobilidade. O índice é calculado pela Heritage Foundation e considera as seguintes variáveis: 1- Liberdade nos negócios 2- Liberdade comercial 3- Liberdade fiscal 4- Gasto governamental 5- Liberdade monetária 6- Liberdade de investimento 7- Liberdade financeira 8- Direito de propriedade 9- Corrupção 10- Liberdade de trabalho O índice geral é composto por todos os itens avaliados. Cada item varia de O a 100 pontos, sendo que quanto mais próximo de 100, mais próximo da liberdade total. Ou seja, considerando a visão liberal, o país estará bem avaliado se estiver perto de 100. É necessário dizer que este indicador será usado apenas para se ter uma noção de como às estruturas dos países latino-americanos são vistos por uma instituição ortodoxa. Argentina 43 A Argentina iniciou a década de manei ra muito turbulenta, em 200 I decretou a moratória c suspendeu o pagamento da dívida externa. Os tluxos de capital, a exceção do IDE, tiveram saldos negativos desta data até o ano de 2006. Os dados abaixo mostram às variáveis macroeconômicas do país no período: Gráfico 3.6- Evolução macroeconômica argentina Inflação-% 15,0 Taxa de Juros-% a.a 50 13.4 41 40 10,0 30 20 5,0 10 9 10 10 2007 2008 2009 o 0,0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2002 Crescimento do PIB- % 2003 2004 2005 2006 Dívida Pública Bruta/PIB 15,0 200% 10,0 150% 5,0 100% 0.0 2003 -5.0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0% 10,0 · 15,0 50% -10,9 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 fonte World Lconom1c Outlook. FMI l::laburaçào própna A inf1ação argentina no período mel hora com o passar dos anos, mas ainda é considerada alta em relação ao padrão das economias desenvo lvidas. Os juros despencaram de 2002 para 2003. mantendo-se baixos até 2006 quando iniciou uma alta mais acentuada. Mesmo durante a crise e após ela. os juros se mantiveram acima de 10% a. a, enquanto a grande maioria dos países reduzia suas taxas. O PTB se recuperou ao longo do período de 2003 a 2008, após a forte queda em 2002. Já em 2009 cedeu, caindo para 0.9%. mas se manteve positivo. Por fim. a dívida pública em relação ao PrB é sem dúvida o destaque dos dados. com queda vertiginosa desde o inicio do período. O nível registrado em 2009 de 59% ainda é alto, mas a me lhora é evidente. Com relação ao índice de liberdade econômica, a Argentina que ocupava em 2009 a posição 135 de um total de 179 países, com uma pontuação de 51.2 (ver tabela 44 I). está longe de ser um país que zele pela liberdade econômica. A teoria dos fatores internos identifica políticas liberais como um dos principais fatores dos determinantes dos 1luxos de capita l, juntamente com o desempenho macroeconômico, entre outros. Tabela 1 -Índice de liberdade econômica da Argentina 2003 2006 2009 Liberdade nos negócios Liberdade comercial Liberdade fiscal Gasto governamental Liberdade monetária Liberdade de investimento 70,0 54,0 72,2 76,8 88,5 50,0 62,9 67,4 71,5 81,5 71,5 50,0 62,1 69,5 69,5 75,6 61,2 45,0 Liberdade financeira 2003 2006 2009 Direito de Corrupção propriedade Liberdade de trabalho · - r- Pontuação geral 30,0 30,0 35,0 - 30,0 30,0 25,0 44,4 53,4 30,0 20,0 29,0 50,1 51,2 56,3 ---- l·on1e lhe hentage Foundatum Llabornçào proprra. O que chama mais a atenção é a grande queda de pontuação da liberdade monetária. Isto ocorreu devido a controle de preços imposto pelo governo em vários setores em que está presente. Além disso, a perspectiva inflacionaria do país só aumenta. A projeção para 201 Ojá chega a 10,6% segundo o FMI. Outro dado de grande imporiância para os fluxos de capital é a liberdade fina nceira, que permaneceu baixa ao longo do período. A principa l justificativa são os controles de capital e a dcsconliança no sistema financeiro argentino, que permanecem fortes desde a crise de 200 I (Heritage Foundation. 2009). De modo geraL a Argentina apresentou neste período um forte crescimento econômico e forte queda de sua dívida pública. Por outro lado. permanece com altas de inflação e seu índice de liberdade econômica vem ca indo. É possível que estes últimos tàtos tenham pesado contra o país, que não teve o retorno dos investimentos de portfó li o e outros. além de grande queda do saldo do IDE em 2009 (ver gráfico 3.4). Nem mesmo 45 o grande diferencial de juros entre a Argentina c os países centrais nos naquele ano mudou este cenário. Brasil O Brasil passou por momentos turbulentos antes de entrar em um período de crescimento. Em 1999, alterou o regime cambial fixo para o regime flutuante. em meio à forte pressão de desvalorização. Em meados de 200 I, com a eleição do presidente Lula e a desconfiança sobre os rumos de seu governo, houve uma nova corrida dos capitais para fora do país, pressionando novamente o real. Apesar dos prob lemas, a economia brasileira apresentou um avanço significativo, aliando crescimento econômico com estabilidade monetária. tendo como alicerce principal seu mercado consumidor interno. Gráfico 3.7- Evolução macroeconômica brasileira Taxa de Juros- % a.a Inflação-% 35 30 25 20 15 10 5 20,0 • 15,0 14,7 10,0 5,0 30 23 16 2003 12 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2002 Crescimento do PIB - % 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Dívida Pública Bruta/PIB 6,1 7,0 100% 6,0 5,0 4,0 ·1,0 15 o 0,0 3,0 2,0 1,0 0,0 19 80% 60% 40% 20% -1--......--......--......--......--......--.....--......-1........ 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 I nntc. World Lconomic Outlnol... FMI. Elahoraçilo própria. O PIB brasileiro cresceu de forma irregular, mas obteve resultados fortes durante o período. Isto ocorreu sem que houvesse aumento das taxas de inflação e juros. as duas 46 taxas reduziram bastante e se estabilizaram. No entanto, a taxa de juros permanece em patamares recordes com relação ao resto do mundo, gerando um dos maiores diferencias de taxas de juros quando comparado aos países desenvolvidos. Já a dívida brasileira não caiu de forma significativa e continua alta. A perspectiva é a de que o país retome o forte crescimento, após queda ocorrida na crise em 2009. As previsões variam de 7% a 8% para 20 10, com uma taxa de inflação em tomo de 5%, segundo o FMI. O índice de liberdade do Brasil apresentou queda de 2003 a 2009. Está avaliado em 55,6 pontos na posição 11 3 (ver tabela 2). Segundo a classificação da Heritage roundation. esta pontuação ret1ete a situação de baixa liberdade econômica. Não seria um dos melhores lugares a se investir, se for levado em conta somente este indicador. No entanto, o investimento em cru1eira apresenta um bom saldo em 2007 e 2009. Tabela 2 - Índice de liberdade econômica do Brasil 2003 2006 2009 2006 2009 ~ nntc .. Liberdade liberdade de monetária investimento Liberdade comercial 70,0 59,0 90,2 82,7 78,6 50,0 53,5 69,0 83,8 71,7 76,3 50,0 54,5 69,2 68,4 50,3 75,8 45,0 Liberdade financeira 2003 Liberdade Gasto governamental fiscal Liberdade nos negócios Direito de Corrupção propriedade liberdade de traba lho - Pontuação geral 50,0 50,0 40,0 50,0 50,0 39,0 66,1 60,9 '-----l 50,0 50,0 35,0 57,5 55,6 63,4 lhe herllage Foundatum I labor,açâo propna Os índices que mais contribuíram para a queda de pontuação brasileira lorrun o gasto governamental, li berdade nos negóci os e a li berdade fiscal. A dívida pública brasileira, como mostrado no gráfico 3. 7, não melhorou durante o período c conti nua 47 com foco em pensões, salários e burocracia. Não houve progresso na qualidade do gasto, um exemplo é o baixo volume de recursos destinado a investimentos em infraestrutura. A liberdade nos negócios também foi mal pontuada, urna vez que a burocracia continua sendo o principal obstáculo, não houve progresso nesta área. Por fim, a queda da liberdade fiscal foi gerada pelo aumento da carga tributária no país ao longo do período. A relação entre tributos e PIB continua elevada, chegando a 36% em 2009, mesmo com estímulos fiscais dados pelo governo através de redução de impostos para diversos setores no mesmo ano. O destaque positivo é a liberdade monetária A redução das taxas de inflação e o comprometimento do país em controlá~la são os motivos para a boa pontuação. Esta só não é melhor porque o Brasil ainda mantém preços regulados em vários setores, como o setor de energia segundo dados da Heritage Foundation. Em um contexto geral, pode-se afirmar que o Brasil melhorou bastante sua situação econômica, com melhora de quase todas as variáveis macroeconômicas analisadas. Isto se refletiu na volta dos capitais para o país, que está tendo dificuldade em conter a nova "onda" que traz alguns maleficios como a apreciação acentuada do real. O IDE se manteve com saldos positivos durante o período, apresentando queda apenas em 2009, ano em que seu PIB despencou de uma média de 7% para ~0,2%. Já o saldo do investimento em carteira não foi positivo em todos os anos do período, mesmo naqueles em que a economia se manteve em crescimento. Chile A história recente do Chile talvez seja um exemplo ideal para os defensores do neoliberalismo, além de poder ser também referência para os que acreditam na visão de preponderância dos fatores internos, já que é um forte receptor de capitais estrangeiros. O país foi um dos primeiros da América latina a aplicar as diretrizes da política econômica neoliberal, política esta que dita seus caminhos até hoje. O Chile ao longo dos anos ampliou a liberdade financeira, fiscal e comercial. O maior exemplo disto é sua política de importações, que busca derrubar barreiras tarifárias e comerciais no país. Como resultado destas medidas, o crescimento econômico está presente nos dados chilenos a pelo menos três décadas seguidas, em nosso período de destaque não foi diferente, como mostrado no gráfico 3.8: 48 Gráfico 3.8- Evolução macroeconômica chilena Inflação-% Taxa de Juros- % a.a 10,0 8 8,7 8,0 7 6 4 6,0 5 5 2006 2007 3 4 4,0 2 2,0 o 0,0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2002 2009 Crescimento do PIB - % 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 2003 2004 2005 2008 2009 Dívida Pública Bruta/PIB 20% 6,0 15% 10% 5% o.o +--...,.....;IJ-,....,...---.-- -.---.----.---.----. 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte· World l::conomic Outlool.., Fl\11 Llaboração própria O PTB chileno cresceu a taxas próximas a 5% desde 2005 e conseguiu crescer 3, 7% em um ano de forte queda do PIB mundial, 2009. Esta expansão do produto veio acompanhada de um avanço inflacionário, que saiu de 1,1% em 2004 para 8,7% em 2008, que é considerado alto principalmente para os padrões chilenos. O período inflacionário gerou a reação do banco central do país. que subiu as taxas de juros, chegando a 7% em 2008. No cntantoo em 2009 as duas principais variáveis monetárias retomaram a patamares baixos. próximos a 2% a.a. A dívida pública, que já era considerada baixa no início do período, caiu ainda mais, para cerca de 7% do PTB nacional. O índice de liberdade econômica do Chi le é o maior da região latino-americana, com 77.2 pontos, o país ocupa a décima colocação do ranking mundial do Heritage F'oundation. Tabela 3 - Índice de liberdade econômica do Chile 49 200! Liberdade nos negócios Liberdade comercial Liberdade fiscal Gasto governamental Liberdade monetária Liberdade de investimento 70,0 69,0 75,0 81,8 83,0 70,0 68,1 77,6 78,6 87,5 86,9 70,0 64,8 88,0 77,5 89,6 73,0 80,0 2003 2006 2009 Liberdade financeira 2003 2006 2009 Direito de Corrupção propriedade Liberdade de trabalho - Pontuação geral 70,0 90,0 75,0 76,0 70,0 90,0 74,0 77,5 78,0 70,0 85,0 69,0 75,4 77,2 Fonte: The henlage Founda11on. Elaboração própna. O índice é reflexo direto das políticas liberais adotadas pelo Chile e que não foram abandonadas na última década. A pontuação pouco oscila e melhorou de 2003 a 2009. O destaque é o gasto governamental, já que o governo reduziu sua dívida pública (ver gráfico 3.8). O destaque negativo foi a ascensão da taxa de inflação. o que causou a queda de pontuação do país no tópico de liberdade monetária segundo a Herilage Foundation. Segundo projeções do FMI, o Chile terá um crescimento do PIB de 5% em 201 O, mantendo sua taxa de inflação sob controle, com aumento de apenas 1,7% para o mesmo ano. A situação de estabilidade monetária e crescimento econômico se refletiram em sua conta financeira, que é a mais estável da amostra de países escolhidos para análise. Em nenhum dos anos estudados, nem mesmo nos anos de crise de 2008 e 2009 o país registrou saldos negativos nos fluxos estrangeiros de capital. Tanto IDE, como carteira e outros foram positivos. Mas é de se destacar que o IDE tem um saldo muito mais expressivo que o investimento em carteira em todos os anos. Venezuela CCüOC/IE 50 A Venezuela, por sua vez. está seguindo em caminhos bem diferentes que os chilenos. e já considerado um país sob uma ditadura de esquerda por muitas pessoas. O principal propulsor da economia é o setor de petró leo, já que o país pouco consome e é detentor de uma das grandes reservas do mundo. Sua receita depende muito do preço internacional da commodity, além da demanda dos grandes países consumidores. Outros setores também são importantes. como a construção civil e transportes, mas são essencialmente ligados ao consumo interno. A economia tem apresentado oscilações muito grandes. em conseqüência da nutuação do preço do petróleo. No período em questão, chegou a registrar quedas de quase 10% e crescimentos de 18%, como apresentado no gráfico 3.9. Gráfico 3.9- Evolução macroeconômica venezuelana Inflação-% 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 I 10,0 l: Taxa de Juros - % a.a 31,4 31,1 16,0 35 30 25 20 15 10 13,7 29 13 5 o o 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2002 Crescimento do PIB - % 18,3 20,0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Dívida Pública Bruta/PIB 60% 15,0 50% 10,0 40% 5,0 30% 0,0 20% ·5,0 10% 0% 10,0 15,0 2003 2002 ·8,9 2003 2004 2005 2006 2007 2008 I nnte World [conomic Outloolo.. r:MI. Flaboração própna. Os fortes crescimentos registrados no período ocorreram. em grande parte, devido às fortes quedas que o antecederam. A Ycnc/ucla enfrentou diversas crises, uma delas foi a greve geral que paralisou o seror energético do país. A inflação se manteve sempre em altas taxas que chegam a 30%. As taxas de juros osci laram bastante, entrando em uma fase de a lta desde 2003, chegando a I 0% a.a em 2009, taxa bastante 51 2009 elevada. A dívida pública não é alta, a exportação de petróleo garante que o país não tenha que se endividar de forma descontrolada. Por fim. o índ ice de liberdade econô mica venezuelano põe o país na 174 posição no ranking, com 37. 1 pontos, um dos piores do mundo segundo a Heritage Foundation. O país vem piorando sua nota desde o iníc io da década. Tabela 4 - Índice de liberdade econômica da Venezuela 2003 2006 2009 Liberdade nos negócios Liberdade comercial Liberdade fiscal Gasto governamental Liberdade monetária Liberdade de investimento 55,0 58,2 75,0 86,3 61,0 50,0 55,0 62,4 75,8 80,2 51,9 10,0 50,3 57,2 74,0 61,8 47,7 5,0 Liberdade financeira 2003 2006 2009 Direito de Corrupção propriedade Liberdade de trabalho - Pontuação geral 50,0 30,0 28,0 30,0 30,0 24,0 35,0 --~5,2 · - 0,0 19,0 36,2 37,1 20,0 - 54,8 - rontc lhe heri/Of:C' l·oundat/Ofl Uaboraçao própna O país recebe baixas notas em quase todos os itens avaliados. entre os de menor liberdade está o direito de propriedade, j á que o judiciário venezuelano é mani pulado pelo executivo. dando plenos poderes para que o presidente tome para o Estado ativos de diversos tipos. A liberdade fi nanceira também é muito baixa, pois o sistema financeiro e bancários venezuelanos são extremamente concentrados em poucas instituições. algumas delas estatais. Além disso. existe forte manipulação do governo na concessão de créditos e há pouca independência do banco central nacional. Já a liberdade de investimentos sofre com restrições em diversos setores. a burocracia é muito grande, o sistema é lento e fraudulento. O capital tem dific uldades na hora de sair 52 do país também, algumas remessas de lucro, por exemplo, necessitam de autorização prévia do governo. Para os próximos anos, é esperado que o PIB venezuelano se retraia em -1 ,3%, com uma inflação de 29,2% para 2010, segundo projeções do FMI. O preço do petróleo, essencial para detenninar os rumos da economia do país, não retomou ainda a níveis pré-crise. Além disso, o país enfrenta uma séria desvalorização de capital e impôs restrições de importação para diversas companhias estrangeiras que se encontram no país. A situação do país é pouco propícia receber para o investimento, se depender apenas de sua situação interna O comportamento dos fluxos de capital parece não obedecer a nenhum padrão na Venezuela (ver gráfico 3.4). Os saldos dos três tipos de fluxos oscilam durante todo o período. Em 2009, sob um contexto de alta liquidez internacional e a deterioração da economia venezuelana, houve o retomo dos investimentos em carteira e em outros, já o IDE amargou um saldo negativo de cerca de quatro bilhões de dólares. 3.3 Considerações finais Neste capítulo, foi constatado que os fluxos de capital não retornaram para todos os países da América latina de fonna semelhante. Através da análise de quatro países da região, foi mostrado que tanto o investimento direto, o de carteira e os outros investimentos reagiram de fonna diferente à chegada da crise e ao novo contexto econômico que se formou após ela. Os países também reagiram de forma diferente uns dos outros, alguns conseguindo se proteger dos efeitos da crise, como o Brasil, enquanto outros ainda não se recuperaram economicamente, como a Venezuela. Dentro do investimento de carteira, a análise mais detalhada dos fluxos para ações e dos fluxos para títulos de dívida, mostrou que estes também não convergem para a mesma direção, pelo menos foi o que se pode notar nos países que compõem a amostra escolhida neste capítulo. Vale lembrar que para o FMI, existe uma relação positiva entre a liquidez internacional e o preço das ações nos países em desenvolvimento entre os anos de 2003 e 2009. Dentre os países analisados, Brasil e Venezuela corroboram esta afinnação. Foi possível ainda verificar que a matona dos principais países da América Latina está longe de ser um exemplo de práticas de políticas liberais. Da amostra escolhida, à exceção do Chile, todos tiveram índices de liberdade econômica baixa e 53 apresentam itens com sérias restrições a livre mobilidade de recursos, sejam eles financeiros, burocráticos ou mesmo intangíveis. Conclusão Final 54 O debate exposto ao longo deste trabalho certamente não será resolvido nos próximos anos e talvez nunca seja consenso entre os economistas. Os fluxos de capital ditam o rumo das diversas economias, influenciando seu comércio externo através do cambio, além de ser fonte de financiamento que os países necessitam para crescer. Sem dúvida, tanto fatores internos quanto fatores externos à economia de cada país têm grande peso na determinação dos diversos fluxos de capitaL Como visto, em linhas gerais, a política monetária expansionista dos países desenvolvidos e a baixa aversão ao risco propiciam a vinda dos capitais estrangeiros em suas diversas formas para outras nações. Também é de se ressaltar que países estruturalmente bem economicamente, praticantes de políticas liberais e austeras, com crescimento econômico e estabilidade monetária atraem fortemente todos os fluxos de capital. Através somente deste trabalho, não é possível chegar a conclusões com relação a qual dos fatores, internos ou externos, é a mais predominante. Para se chegar perto de uma conclusão, dever-se-ia estudar mais profundamente os dados econômicos dos países e da situação de liquidez internacional. Certamente, dados como reservas internacionais, regimes cambiais, estrutura política e fiscal, políticas comerciais a abertura financeira entre diversos outros poderiam fazer parte de uma análise mais abrangente. Dito isto, considerando todos os limites de dados, pode-se dizer que aparentemente no segundo ciclo de liquidez e após a crise financeira, os fluxos de capital tiveram seu comportamento alterado com relação ao primeiro ciclo de liquidez nos anos 1990. No primeiro ciclo de liquidez, o determinante principal dos fluxos de capital era a situação econômica internacional, através da política monetária dos países desenvolvidos e o nível de aversão ao risco. Na ocasião, muitos países em desenvolvimento que estavam em completa desordem econômica receberam grandes volumes de capital estrangeiro, dentre eles o Brasil, como mostrado no tópico 1.3 no capítulo 1. Já no segundo ciclo de liquidez e após a crise financeira nos anos entre 2002 e 2010, os fatores econômicos internos dos países receptores de capital passam a ter uma importância maior do que anteriormente. Para ser mais exata, a leitura dos dados abordados indicam que o investimento direto estrangeiro tem uma maior relação com os fundamentos internos do país, 55 enquanto que o investimento em carteira se relaciona mais com fatores externos. Ou seja, países em desenvolvimento que adotam políticas liberais e unem crescimento econômico com estabilidade monetária tendem a receber investimento estrangeiro direto, mesmo em urna situação econômica internacional que não esteja com abundante liquidez. Isto pôde ser observado nos saldos positivos do IDE na América Latina mesmo nos anos de crise de 2008 e 2009 (ver gráfico 2.6). Em nossa amostra, Brasil e Chile, que estão em boas condições econômicas, também tiveram saldos positivos de IDE nos anos de crise internacional, enquanto a Venezuela, país que sofreu bastante com a crise e é considerado não liberal teve saldo negativo no IDE. Já o investimento em carteira responde muito mais a mudanças na liquidez internacional que o IDE, deixando a região da América Latina em 2008, ano de pouca liquidez, mas retomando de maneira desigual em 2009, ano de maior nível de liquidez internacional (ver gráfico 2.6). Na amostra analisada, Brasil, Chile e Venezuela são os maiores exemplos disto, haja vista que os investimentos de portfólio seguiram os rumos do nível de liquidez nestes países. É de se ressaltar que mesmo na Venezuela, país que não se encontra bem em seus ftmdamentos econômicos, este tipo de investimento retornou em 2009 (ver gráfico 3.4). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 56 Biancareli, A. M. (2007) Integração, ciclos e finanças domésticas: O Brasil na globalização financeira. Campinas: IE/Unicamp, (tese de doutorado). Biancareli, A. M. (2008). A globalização financeira e os países em desenvolvimento: em busca de uma visão crítica. Campinas: IE/Unicamp Biancareli, A. M. (2009). Developing countries and intemational liquidity cycles in the financiai globalization era. Campinas: IE/Unicamp Calvo, Guillermo, Leonardo Leiderman, and Carmen Reinhart. (1994). Capital lnflows to Latin América: The 1970s and 1990s Carneiro, R (2007). Globalização e inconversibilidade monetária. 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