Uma espuma do mar diferente – Microalgas

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Uma espuma do mar diferente–Microalgas
Leonor Cabeçadas
LABORATÓRIO DE REFERÊNCIA DO AMBIENTE, LRA
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
No dia 30 de Dezembro de 2010 ocorreu um bloom excepcional de microalgas na praia
do Tamariz/Monte Estoril, (Estoril). Este bloom foi visível sob a forma de espessa espuma
ao longo da linha de costa, apresentando diversas formas e tamanhos, empurrado pelo
vento de sudeste na direcção do mar para terra.
Sequência dos acontecimentos
•
Dia 29 de Dezembro de 2010,
vento forte durante a tarde.
Chuvadas fortes.
•
Não foi observada espuma branca na
linha
de
costa
(Praia
do
Tamariz/Monte Estoril).
•
Dia 30 de Dezembro de 2010
10.00 h , ondulação 2,5 - 3,5 m,
preia-mar 10.06 h (2,94 m), baixamar
16.28
h
(1,22
m),
temperatura da água do mar
15°C. Concentrações de clorofila a
< 1 mg m-3. Chuvadas fortes,
temperatura do ar 9 - 12°C, vento
fraco a moderado (10 a 30 km h-1)
de sudeste.
•
Ocorrência de espuma branca na
linha de costa (Praia do Tamariz,
Estoril/Monte Estoril) em grande
quantidade, empurrada do mar para
terra fragmentada em diversas
formas e tamanhos.
•
Dia 31, abrandamento da chuva e
do vento.
•
Dissipação
branca.
completa
da
espuma
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
Leonor Cabeçadas
Espuma espessa, persistente
Praia do Tamariz/Monte Estoril, dia 30 de Dezembro 2010.
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
Alguns aspectos das condições da superfície do oceano e climáticas observados
no dia 30 de Dezembro de 2010
Rectângulo representa a zona
onde ocorreu o episódio descrito.
Clorofila a, ( mg/m3 )
SST - Temperatura da
superfície do mar, ( °C )
Imagens de satélite MODIS (Aqua)
http://oceancolor.gsfc.nasa.gov/
Cores verdadeiras
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
É provável que a espécie de fitoplâncton responsável pela ocorrência deste bloom seja
Phaeocystis globosa Scherffeld (Prymnesiophyceae), espécie identificada noutras
ocasiões na costa portuguesa. Contudo nas amostras observadas, relativas ao episódio
descrito, dado a fase do ciclo de vida da espécie (fase colonial) não é possível ter a
certeza.
A espécie tem um ciclo de vida complexo, composto
por uma fase colonial na qual células não-móveis
estão embebidas numa matriz gelatinosa de
polissacarídeos. A colónia pode atingir vários
milímetros de diâmetro desde que exista luz e
nutrientes (principalmente nitratos e fosfatos)
disponíveis na coluna de água.
Leonor Cabeçadas
Colónias gelatinosas, provavelmente
de Phaeocystis, com clorofila activa.
Leonor Cabeçadas
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
Divisão
Aumento da
colónia
Diferenciação da colónia
Lise das
células da
colónia
Processo de
decomposição
Formação
da colónia
Célula vegetativa
móvel
Célula vegetativa não móvel
Sedimentação
Ciclo de vida (parcial) de Phaeocystis globosa - Ciclo de vida complexo, com alternância de fase entre
diferentes tipos de células livres de 3-9 µm de diâmetro e colónias gelatinosas que podem atingir
vários centímetros de diâmetro.
Adaptado : V. Rousseau , D. Vaulot, R. Casotti, V. Cariou, J. Lenz, J. Gunkel, M.
Baumann, 1994. J. of Mar. Syst. 5 , 23-39
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
A origem da acumulação de espuma
observada na linha de costa, atribui-se à
degradação da matriz gelatinosa da
colónia (fase de fim de bloom da
microalga), potenciada por factores físicos
tais como a turbulência e o vento
(orientação e velocidade).
Leonor Cabeçadas
Espuma acumulada nas rochas
Leonor Cabeçadas
Leonor Cabeçadas
Colónia gelatinosa em fase de degradação
Flocos de espuma na areia
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
Distribuição biogeográfica de Phaeocystis
O género Phaeocystis pertence ao fitoplâncton marinho e tem uma larga
distribuição ao nível do globo. São conhecidas 3 espécies pertencentes a este
género que formam colónias: P. globosa associada a águas temperadas e 2
espécies de águas frias, P. pouchetii no Árctico e P. antarctica no Oceano
Antártico.
Localização da ocorrência dos blooms mais frequentes de P. pouchetii (circulos
azuis), P. globosa (circulos vermelhos) e P. antarctica (circulos amarelos).
Fonte: http://www.phaeocystis.org/pubs.html
Uma espuma do mar diferente – Microalgas
CLIMA
albedo
nuvens
albedo
DMS
CO2
Chuva ácida
As prymnesiophyceae, classe de microalgas
às quais pertence o género Phaeocystis,
desempenham um papel importante nos
ciclos globais do carbono e do enxofre no
oceano.
DMS
temperatura
nutrientes
Phaeocystis
Phaeocystis
CO2
carbono
orgânico
respiração
sedimentos
Os blooms de Phaeocystis podem ter
um grande impacto no ambiente , visto
constituírem importantes fontes de DMS Dimetilsulfureto, composto orgânico volátil
de enxofre que pode ter um papel
importante na formação de chuvas ácidas e
nas alterações climáticas.
Desde os anos 70 tem sido registado um
aumento de blooms de Phaeocystis no
meio marinho no Atlântico Norte e no
mar do Norte com os visíveis e nocivos
efeitos de acumulação de grandes
quantidades de espuma ao longo das
praias. Estes blooms têm sido relacionados
com o problema da eutrofização nas
respectivas áreas costeiras.
A alga fitoplanctónica encontra-se referida
em Moestrup, Ø, (Ed) 2011, Haptophyta,
IOC-UNESCO Taxonomic Reference List of
Harmful
Micro
Algae
http://www.marinespecies.org/HAB.
Leonor Cabeçadas
devido à poluição visual e efeitos negativos
no turismo costeiro.
Praia do Tamariz/Monte Estoril 30 de Dezembro de 2010
Em Portugal este tipo de ocorrências tem registado um aumento nos
últimos anos.
Glossário
Bloom – crescimento acentuado de fitoplâncton num curto período de tempo.
DMS - Dimetilsulfureto, composto orgânico volátil de enxofre . Principal gás natural de enxofre
emitido para a atmosfera que desempenha um papel importante na formação de chuvas
ácidas e nas alterações climáticas.
Eutrofização – processo de enriquecimento de nutrientes dos ecossistemas aquáticos podendo
originar crescimento excessivo de fitoplâncton .
Lise – processo de ruptura e dissolução da membrana plasmática das células. Morte das células.
Polissacarídeos - longas cadeias de moléculas de açucar usadas na construção dos tecidos,
matrizes.
Prymnesophyceae - Classe de algas unicelulares . Na maioria das algas desta classe uma fase de
vida não-móvel (colonial) alterna com uma fase móvel.
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