A ABERTURA COMERCIAL BRASILEIRA:ANÁLISE DE IMPACTOS NOS AGRONEGÓCIOS DA SOJA. DANIELA ALESSANDRA RUFATO NATALINO HENRIQUE MEDEIROS RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar os efeitos que a abertura comercial trouxe para o complexo da soja brasileira, comparando o desempenho do complexo no mercado internacional, antes e depois da abertura comercial no período de 1985 a 2002. Para a consecução do objetivo delineado, utilizou-se a análise de grau de abertura e o indicador de competitividade. Os resultados mostraram expressivos ganhos de competitividade para a soja em grão, os demais setores do complexo da soja não apresentaram ganhos. No entanto, esses ganhos foram alcançados através de grande esforço exportador. A análise de grau de abertura mostrou que houve um aumento na produção interna no complexo da soja e principalmente no setor de soja em grãos, mas mesmo com este aumento, o complexo da soja ainda continua fechado, tendo somente o setor de farelo de soja apresentado coeficiente de grau de abertura alto. Palavras-chave: abertura comercial, complexo da soja, grau de abertura. 1.INTRODUÇÃO O sistema econômico hoje se destaca pela nova configuração do processo de produção e das relações comerciais. Produção com retornos crescentes de escala ao lado de maciços investimentos em capacitação tecnológica direcionam os rumos do comércio nacional e internacional. No entanto, a economia mundial contemporânea, nada mais é que um resultado do processo de globalização que assume cada vez mais um caráter de integração produtiva, que leva os países a procurarem formas de ampliar sua inserção internacional, movidos pela crença de que a liberalização do comércio internacional é uma tendência universal e irreversível. Assim, a economia mundial vem se tornando cada vez mais globalizada. O cenário que hoje prevalece no comércio mundial como um todo, exerce pressões no sentido de ampliação da integração global, ou seja, controlar os países em desenvolvimento. Aqueles países que buscam aumentar o comércio, independentemente do seu sistema econômico, e atrair investimento vão experimentar pressões para abrir suas economias e alinhar suas práticas às dos países desenvolvidos. Dentro desse “espírito”, o Neoliberalismo surge nos anos 80 a partir do governo conservador de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e do governo republicano de Reagan, nos Estados Unidos, dando início a construção da hegemonia dessa doutrina em ritmo avassalador. A proposta deste novo modelo econômico é um ajuste que passa pela desregulamentação, pela descentralização e pela privatização das economias. O Brasil a partir dos anos 90 vem se inserindo nesse processo globalizante apregoado pelo discurso neoliberal. Dada esta mudança, o país vem sofrendo profundas transformações econômicas, pois de um processo de substituição de importações pós Segunda Guerra Mundial, passou para um sistema de liberalização econômica e comercial. Para que o Brasil pudesse inserir-se neste novo sistema econômico, precisou adotar os preceitos neoliberais e seguir a cartilha do Consenso de Washington. Foi então, a partir de 1990, no governo de Fernando Collor de Mello que se intensificou o processo de abertura econômica e comercial brasileiro. Foram implementadas políticas de desregulação com uma 2 gradual eliminação de barreiras não-tarifarias e redução acentuada nas alíquotas de importação, e o país passou a expor sua produção doméstica ao abrir a economia à concorrência internacional. Os fatos econômicos dos últimos dez anos tiveram impactos no setor industrial, notadamente após o conjunto de medidas adotadas na implementação do Plano Collor e no decorrer de sua execução Neste contexto, vale lembrar que o setor industrial está ligado ao setor agroindustrial e este ligado ao setor agrícola. A questão relevante é saber se o setor agroindustrial, a agricultura e mais especificamente o complexo da soja também sofreram mudanças estruturais e conjunturais a exemplo do setor industrial. A partir dessas considerações, o presente artigo se justifica por se tratar de um setor importante e muito expressivo nas relações comerciais com o exterior. Assim, o principal objetivo a ser alcançado é o de comparar o desempenho do complexo da soja brasileira no mercado externo antes e depois da abertura comercial. Este artigo está organizado em seis seções, a saber: 1. Introdução. 2. Liberalismo e protecionismo comercial: uma breve revisão teórica. 3. Metodologia. 4. O complexo da soja: um panorama estrutural e conjuntural. 5. Avaliação da abertura comercial no complexo da soja : um estudo empírico. 6. Considerações finais. 2.LIBERALISMO E PROTECIONISMO COMERCIAL: Marco Teórico Nesta seção, busca-se estabelecer uma breve revisão teórica ao se resgatar o princípio do pensamento protecionista e do pensamento liberal. Entende-se que se faz necessário este retrocesso para mostrar que o neoliberalismo implantado nos anos 80 na Europa esteve de alguma forma sustentado pelo liberalismo proposto por Adam Smith no século XVIII, que mais tarde fora criticado por David Ricardo. De fato, na história do pensamento econômico sempre existiu um impasse entre aqueles que defendem o princípio liberal do livre comércio e aqueles que argumentam em favor da adoção de medidas protecionistas. Se acompanharmos o pensamento histórico, desde o final do século XVII, podemos perceber a diferença do protecionismo que conhecemos hoje e do protecionismo divulgado pelo mercantilismo. Os escritos mercantilistas foram os primeiros a defender as práticas protecionistas, tendo como objetivo a obtenção de excedente na balança comercial, para que uma nação fosse próspera. Para a doutrina mercantilista o objetivo da imposição de barreiras era conter a saída de metais preciosos do país, o que poderia levá-lo ao empobrecimento.(BLANCHFIELD e OSER, 1983, p.19-20). Na segunda metade do século XVIII uma nova corrente do pensamento econômico se impõem, denominada de liberalismo econômico. O pensamento econômico e social então foi tomado pela filosofia liberal clássica, promovendo o liberalismo e consequentemente a ampliação dos mercados, até mesmo do comércio internacional. Como uma reação à política “mercantilista”, Adam Smith, o precursor da Escola Clássica, marca a história da “Política Econômica”, ao colocar o trabalho como a única fonte de riqueza, reagindo contra a concepção materialista dos mercantilistas. Adam Smith distinguia a riqueza em valor de uso e em valor de troca das mercadorias. A riqueza para ele era constituída pelo valor de uso, sendo que a riqueza de uma nação era expressa pelo seu produto “per capita”, o que é comumente aceito até hoje. Um aspecto importante, no entanto, que Smith ressalta é o fato de que a utilidade de uma mercadoria, isto é, sua capacidade de satisfazer necessidades humanas, não é o fundamento do seu valor de troca, da quantidade de outras mercadorias que em troca dela podem ser obtidas, o valor de troca reflete o trabalho gasto na produção da mercadoria. Deste modo, baseando-se na teoria do valor-trabalho, Smith mostra que o crescimento da riqueza de uma nação depende essencialmente da produtividade do trabalho, que é uma função do grau de especialização atingida pela divisão do trabalho. Esta por sua vez, na 3 medida em que pode ser introduzida gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. Smith mostra claramente este efeito no “clássico” exemplo da fábrica de alfinetes. (SMITH, 1983, p.41-42). A partir desses princípios, a análise de Smith prossegue com uma lógica rigorosa; a divisão do trabalho depende da expansão do mercado. Refutando, dessa maneira, a tese mercantilista de que, no comércio internacional, o que um país ganha o outro perde. Na verdade, a medida que o comércio expande a divisão do trabalho, todos os participantes ganham porque se beneficiam do aumento da produtividade do trabalho. Para ele a livre concorrência é o caminho para a melhor eficiência do desenvolvimento. Mais tarde, Ricardo no final do século XVIII, lança-se contra os ideais do livre comércio proposto por Adam Smith. Desse modo, é possível perceber em Ricardo uma sensível mudança na concepção econômica em relação a Adam Smith. Partidário da teoria de valor-trabalho, Ricardo procurou depurá-la das da formulação de Adam Smith, apontando a necessidade de distinguir entre o custo do trabalho, que era os salários, e o valor produzido pelo trabalho. Ricardo levanta um problema que não foi explorado por Smith, o valor de cada mercadoria se compõem não apenas do trabalho direto utilizado para sua produção, mas também do trabalho incorporado aos meios de produção. Portanto, o excedente que é o lucro, nem sempre será proporcional ao volume de capital imobilizado para a produção de cada uma. Partindo do pressuposto de que a taxa de lucro tende a ser a mesma nos diversos ramos, apesar de que a proporção de capital e trabalho em cada um possa ser bastante diverso, Ricardo desvenda uma contradição entre o valor de troca determinado pelo trabalho e o preço relativo das mercadorias, neste ponto ele começa a perceber que a riqueza advinda da divisão do trabalho não contribui para o enriquecimento de toda a sociedade, mais apenas de uma parcela latifundiária que obtém os lucros. (RICARDO, 1982, p. 262). Deste modo, Ricardo centra sua atenção sobre a repartição do produto entre trabalhadores, capitalistas e proprietários. E parte do pressuposto de que a população tende sempre a crescer até o limite dos meios de subsistência. Os salários tendem a se manter em níveis baixo, necessário apenas para assegurar a reprodução da força de trabalho. Ao mesmo tempo, o aumento da população força a expansão do cultivo, que cada vez mais precisa ser incorporado em terras menos produtiva ou com localidades impróprias para um melhor fluxo comercial. Isso leva a renda diferencial da terra, sendo que para Ricardo, a renda da terra decorre das diferenças de fertilidade e localização entre as explorações agrícolas que fazem com que a mesma quantidade de produtos possa chegar às mãos do consumidor com gastos diversos de trabalho. Ricardo também previa que com o aumento do cultivo de terras menos fértil, precisaria de mais trabalho e consequentemente, aumentaria os salários e a renda da terra em detrimento do lucro. Como somente dos lucros saem os recursos para a acumulação do capital, ele acreditava que a economia se encaminharia a um “estado estacionário” em que cessariam tanto a acumulação do capital como o crescimento da população. Desta forma, Ricardo considerava dois fatores cruciais para o retardamento deste “estado estacionário”: O primeiro seria o progresso técnico, pois com ele poderia se produzir mais com menos trabalho, reduzindo o custo e consequentemente o valor do produto final. O segundo fator e mais apregoado por Ricardo era com respeito ao comércio internacional onde ele desenvolveu a famosa “teoria das vantagem comparativas”, um programa liberal, análogo ao de Smith. (SINGER, 1982,p.17). A teoria das vantagens comparativas, tem como princípio a especialização, onde cada país se especializa nos ramos em que tem maiores vantagens, isto é, em que seus custos de produção sejam menores dos que os de seus parceiros. Com isto haveria um aumento da disponibilidade dos bens nos países especializados e consequentemente um crescimento da 4 satisfação da população dos países. Ricardo enfatiza que, em um país onde a agricultura se estendeu a terras de baixa fertilidade e/ou má localização, a solução é importar cereais dos países em que seu valor é reduzido, assim, o país em dificuldades pode ser estabilizar e recuperar sua taxa de lucro que antes não obtinha e com este processo o país pode retardar o “estado estacionário” e voltar a crescer. Vale ressaltar que Ricardo argumentava a favor da liberdade de comércio entre as nações e contra qualquer protecionismo. Contudo, segundo Singer (1982, p.19), ele não levou em conta as diferenças dos níveis de desenvolvimento das forças produtivas dos diversos países. Ou seja, os países mais desenvolvidos exportam produtos mais sofisticados, assegurando sua demanda no exterior, ao mesmo tempo, os países menos desenvolvidos ou nada industrializados se vêm obrigados a aumentar sua produção dos exportáveis, que são em geral alimentos e matérias-primas para suprir a demanda externa. Assim, os pressupostos da “teoria das vantagens comparativas” só se realizam quando o comércio se dá entre países de grau comparável de desenvolvimento. De acordo com este impasse nas relações de troca, no início do século XIX, surgiram novas idéias, chamadas de protecionistas. Nestes termos, em 1819, Sismondi publica uma obra com enfoque antiliberal e com idéias convictas a respeito do livre comércio.(SISMONDI, 1971, p.2). Uma das idéias inovadoras de Sismondi, se refere a intervenção do governo para regularizar a questão da miséria confrontando com a riqueza e assim evitando a desigualdade de renda. Ele apela para a intervenção do poder social para regular o progresso da riqueza, em lugar de reduzir a Economia Política à máxima tão simples, e em aparência tão liberal, “de laissez faire et laissez passer.”(SISMONDI, 1971, p.2). Sismondi condena o capitalismo, enfatizando que a miséria, a desigualdade social e os problemas econômicos são advindos dele. John Stuart Mill em 1848, também demostrou seus argumentos em defesa do protecionismo, dando enfoque a indústria nascente1, argumentando que é a única proteção perfeitamente justificável. Ele admitiu com bastante reserva duas pequenas exceções a regra do livre comércio. A primeira seria imposta pelos motivos de segurança nacional, que justificava o protecionismo à indústria naval inglesa. A segunda, baseada em princípios de política econômica, era a indústria infante, no qual a imposição de um imposto protecionista temporário seria justificável, certamente para uma nação jovem e em desenvolvimento, quando um país estivesse procurando implementar uma nova indústria específica na qual um outro possuísse vantagens comparativas.(HOLLANDA, 1998, p.39). 3. - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E BASE DE DADOS Os países desenvolvidos vem cada vez mais protegendo o seu setor agrícola, assim os países em desenvolvimento com forte potencial agrícola se vem prejudicados com este comportamento protecionista pois são afetados diretamente, por serem fortes setores exportadores. O Brasil é um forte concorrente internacional em produtos agrícolas, em particular, o complexo da soja se destaca por se tratar de um produto exportável e com altos preços internacionais. O complexo da soja é o maior complexo agroindustrial gerador de divisas do país, daí a razão da escolha deste para a análise do estudo. A organização metodológica deste artigo dar-se-á mediante a duas etapas fundamentais. Na primeira, buscar-se-á medir o grau de abertura comercial do complexo da soja, com o objetivo de mostrar se após a abertura comercial iniciada em 1990 no Brasil, o complexo da soja se tornou mais integrado ao resto do mundo. O instrumental utilizado para medir o grau de abertura do Brasil será: a razão entre 1 A aceitação do argumento da indústria nascente pelos neoclássicos é tratada dentro do conceito de falhas de mercado geradas no âmbito do sistema de comércio internacional. 5 importação e exportação e o valor bruto da produção. No entanto, consideraremos apenas do complexo da soja, a soja em grãos, o óleo refinado e bruto e o farelo de soja. E + Mi *100 GAi = i VBP i Onde: GAi = grau de abertura comercial do complexo da soja Ei = exportações do complexo da soja Mi = importações do complexo da soja VBPi = Valor Bruto da Produção do complexo da soja Propondo realizar uma maior investigação neste artigo, vamos utilizar como parâmetro de análise um intervalo de eficiência de grau de abertura. Onde se {0 ≤ GA ≤ 30} será considerado como “baixo grau de abertura”, o intervalo de {30<GA<60} será considerado “transitório” e o intervalo de {60 ≤ GA ≤ 100) como “alto grau de abertura”.2 Os dados para realização desta análise, foram obtidos e organizados de acordo com a classificação da ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, conforme Quadro 1, Quadro 1 - Classificação da Soja I 1 2 3 4 Fonte: ABIOVE COMPLEXO SOJA Soja em grãos Óleo de soja bruto Óleo de soja refinado Farelo de soja Os dados referentes a importação e exportação de soja do Brasil foram obtidos junto a ABIOVE e Secretaria de comércio exterior -SECEX – Brasília DF, referente aos três principais setores do complexo soja, no período de 1985 a 2002, a preços US$ FOB. A produção de soja e seus derivados, foram definidos como representativos do valor bruto da produção do complexo da soja. Com estes dados obtivemos o valor bruto da produção do complexo soja, em dólar. A partir do valor do fluxo comercial em toneladas (exportação + importação) e do valor da produção de cada setor do complexo soja, de 1985 a 2002, foi possível calcular o “grau de abertura” do complexo da soja. Os dados de exportação e importação do complexo da soja internacional foram obtidos através da página “site” da United States Department of Agriculture (USDA).(www.usda.gov). A segunda etapa consiste em analisar a competitividade do complexo da soja no mercado mundial, com o intuito de mostrar se o processo de abertura comercial brasileiro aumentou a nossa competitividade no mercado externo. Para esta análise foram utilizados dois indicadores, propostos por VOLLRATH (1989): a) vantagem relativa na exportação (VRE) e b) competitividade revelada (CR). O indicador VRE permite analisar o desempenho de um país, ou grupo deles, nas exportações de determinado produto de um conjunto de produtos. Conforme apresentado, a VRE é calculada através da seguinte expressão: X /X VREki = ln ki kr X mi / X mr onde, X corresponde à exportação, o subscrito k refere-se ao produto e i, ao país. O subscrito m refere-se ao agregado dos produtos, exclusive k, e r ao agregado de todos os países, exclusive i. 2 Os intervalos foram definidos pelos autores. 6 Se VREki =0, significa que a participação das exportações do produto k no total das exportações do país i é idêntica à participação média observada nos demais países, caracterizando uma situação neutra, onde, o país não revela vantagem nem desvantagem no comércio do produto k. Se VREki >0, significa que o país i revela vantagem na exportação de k e, se VREki <0, o país estaria em desvantagem. Por sua vez o indicador de competitividade revelada (CR) é um indicador mais abrangente porque engloba todo o comércio, e não somente as exportações. Este indicador se constitui numa medida útil para análise agregadas quando produtos do setor são exportados e importados pelo país. Os resultados são obtidos pelo emprego da seguinte expressão algébrica: X /X M / M kr CRki = ln ki kr / ki X mi / X mr M mi / M mr onde, M indica o valor das importações. A interpretação do resultado do cálculo de CR segue a mesma lógica de VRE. Quando CRki >0, significa que o país revela vantagem comparativa no comércio de k e, quando CRki <0,significa que o país estaria em desvantagem. Os dados sobre exportação (X) foram os mesmos utilizados para a análise do grau de abertura, já os dados sobre importação (M) foram adquiridos na página “site” da United States Department of Agriculture (USDA). A hipótese básica em que se orienta o presente artigo, é que o processo de abertura comercial ao ampliar e inserir a economia de um país no mercado mundial, propicia maiores ganhos de bem estar e maior eficiência alocativa, criando melhores condições de um país se desenvolver. De acordo com estes argumentos, a hipótese se fundamenta no sentido de que a abertura comercial ao ampliar o fluxo de comercio internacional, altera a estrutura de mercado e abre opurtunidades para o setores (agroindustrial e agrícola) ampliarem sua capacidade de oferta interna e melhorar o nível de produção, influenciando a performance do setor e o crescimento econômico. As hipóteses auxiliares presente neste artigo fundamentam-se em dois pontos principais: O maior grau de abertura estimula o setor a atuar em níveis de eficiência semelhantes aos verificados nas economias mais competitivas, melhorando o grau de competitividade; com uma maior inserção econômica no mercado mundial, há uma melhora no desempenho das exportações, o que influência de forma positiva o nível de crescimento do produto. 4. O COMPLEXO DA SOJA: UM PANORAMA ESTRUTURAL E CONJUNTURAL Um conjunto expressivo de fatores estão ligados ao desenvolvimento e modernização da cultura da soja no Brasil. Além do estímulo do mercado internacional, há, naturalmente, algumas importantes condições internas que favoreceram a lavoura da soja no país. Entre elas ressaltam-se: a) existência de um parque de máquinas que apesar de originalmente destinado a outras produções como trigo ou arroz, pôde ser aproveitado na produção de soja; b) o aproveitamento, pela lavoura da soja, da mesma área plantada em sucessão ao trigo, assim como dos resíduos dos fertilizantes, das máquinas, equipamentos, armazém e mão-de-obra; c) as políticas de estímulo com base no crédito para produção e para investimentos; d) a possibilidade de total mecanização na produção; e) a expansão da agroindústria nacional; f) o aumento da demanda de óleos vegetais comestíveis com o crescimento do fenômeno da urbanização no Brasil, para substituir a gordura animal mais intensamente utilizada entre as populações rurais; g) o papel intensivo das cooperativas nos processos de produção, comercialização e industrialização do produto; h) a crescente utilização da soja via alimentação de suínos, aves e bovinos. (BONATO e BONATO, 1987). No entanto, as oportunidades criadas pelo mercado externo e a política agrícola, baseada no crédito subsidiado, transformaram rapidamente o Brasil, durante os anos 80, em um grande 7 produtor mundial de soja. A tabela 1 sintetiza as principais informações sobre a evolução da lavoura de soja no Brasil. A produção brasileira de soja atualmente vem surpreendendo com os números apresentados, alcançou 41,9 milhões de toneladas na safra de 2001/2002, ocupando uma área de 16,3 milhões de hectares com uma produtividade de 2.867 Kg/ha, (CONAB, 2002). Historicamente a produção de soja no Brasil tem mostrado um desempenho crescente. Tabela 1 - BRASIL. Soja: produção, área plantada e produtividade - 1970 a 2001 Safra 80/81 81/82 82/83 83/84 84/85 85/86 86/87 87/88 88/89 89/90 90/91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 Área 1000 ha 8.500 8.203 8.137 9.420 10.152 9.185 9.131 10.516 12.176 11.548 9.743 9.582 10.717 11.502 11.679 10.663 11.381 13.158 12.995 13.508 13.970 16.324 Prod. 1000 t 15.007 12.837 14.581 15.550 18.278 13.335 16.978 18.060 23.248 20.097 15.395 19.419 23.042 25.059 25.934 23.190 26.160 31.370 30.765 32.345 38.432 41.907 Produtividade (t/ha) 1,77 1,56 1,79 1,65 1,80 1,45 1,86 1,72 1,91 1,74 1,58 2,08 2,15 2,17 2,22 2,17 2,29 2,38 2,36 2,39 2,75 2,86 Fonte: CONAB/DIPLA (2002). Na década de 80, o crescimento foi de 3% ao ano, tanto de área como de produção, mantendo praticamente a mesma produtividade. Os fatores que contribuíram para este desempenho foram; políticas de ajustamento macroeconômico na primeira metade da década de 80 que levou a uma limitação no volume de crédito da economia, e afetou o principal pilar da política agrícola de modernização do setor, o crédito rural farto e subsidiado. A aceleração do processo inflacionário contribuiu ainda mais para o racionamento de recursos do sistema de crédito agrícola. Essa nova situação colocou em crise o padrão anterior de financiamento da agricultura e elevou sistematicamente, ao longo da década de 80, as taxas de juros para a produção agrícola, cuja conseqüência para a cultura da soja foi a deterioração das condições de financiamento da produção. ( GASQUES et alli, 1998, p.104). Na primeira metade da década de 80, a produção manteve-se praticamente estagnada. A deterioração da rentabilidade da lavoura de soja e o aumento dos preços dos insumos agrícolas no período afetaram a produtividade da soja. O crescimento global foi sustentado pelo constante aumento da produção, produtividade e área da cultura no cerrado.3 Os anos de 1988 a 1990 merecem destaque. Neste período constatou-se um crescimento da produção nacional, cujo principal fator propulsor foi o bom desempenho que teve a produção na região do “cerrado”. Na safra de 1990/1991, o desempenho favorável da produção de grãos de soja foi interrompido pela política econômica do governo Collor que restringiu fortemente o crédito a todos os setores da economia. Sem a assistência financeira à colheita e comercialização, a produção de grãos de soja declinou de 23 milhões de toneladas em 88/89 para 20 milhões de toneladas em 89/90 e 15 milhões de toneladas em 90/91. 3 Ver: Medeiros (2002). 8 (SILVA e TARGINO, 2002). A década de 90, marcou-se pelo crescimento da produtividade, pois o acréscimo de área plantada situou-se na faixa dos 2,9% ao ano, enquanto a produção apresentou taxa de 9,2%, em função de um aumento de 5,1% ao ano na produtividade média. De acordo com Silva e Targino (2002), na década de 90, apenas a safra de 90/91 apresentou grande redução se comparado a média dos anos 80. Esta grande redução da produção fez com que o governo federal implantasse um pacote agrícola emergencial no último trimestre daquele ano, na tentativa da retomada do crescimento da safra. Como pode ser observado na tabela 1, essas medidas parecem terem realmente surtido efeito, pois na safra seguinte a produção foi 19% superior. De acordo com Silva et alli (2002), a sojicultura brasileira na década de 90 desenvolveu bastante, e o crescimento da produção foi acompanhado pelo aumento do consumo per capita interno e externo e pela crescente importância do produto no mercado internacional. Esse aumento de produtividade pode ser explicado por dois movimentos diversos. A eliminação dos produtores menos modernizados tecnologicamente e/ou de escalas desfavoráveis, e o deslocamento da cultura da soja da região Sul para o Centro-Oeste, em busca de condições naturais que garantissem maior produtividade. 4.1- Dinâmica das Exportações do Complexo da Soja no Brasil O Brasil detém, atualmente, o título de segundo maior produtor mundial de soja, perdendo apenas para os Estados Unidos. Na década de 90, a cultura da soja no Brasil ocupou, aproximadamente, 12 milhões de hectares, com produção média de 27 milhões de toneladas por safra, sendo a segunda maior lavoura do país, perdendo apenas para a cultura do milho.(CONAB, 2002). O complexo soja, composto pela soja em grão, pelo farelo e pelo óleo, apesar da queda das cotações desses produtos no mercado internacional, obteve, em 2002, 29 milhões de toneladas, com uma importância de 5,19 bilhões de dólares em exportações, sendo a soja em grão responsável por 15.500 milhões de toneladas significando 2,71 bilhões de dólares, o farelo 12.200 milhões de toneladas e 2,06 bilhões de dólares e o óleo 1.900 milhões de toneladas e 0,41 bilhões de dólares constituindo o maior setor exportador nacional, conforme será demonstrado na tabela 2 a seguir. (Ministério da Agricultura e ABIOVE, 2003). Dessa forma, o complexo soja é um segmento que gera importantes fluxos de divisas para o Brasil. O grão, o farelo e o óleo, segundo Mafioletti (2001), representaram, na última década, 9% do valor das exportações totais brasileiras e 30% das exportações agrícolas. Esse desempenho do complexo soja, principalmente no que tange o setor externo, é fruto das alterações que todo o agronegócio sofreu; das políticas públicas de incentivos dirigidas ao complexo soja; do significativo aumento real do preço internacional dos produtos primários a partir dos anos 70; da adaptação e desenvolvimento de cultivares para a região dos cerrados; do crescimento da avicultura brasileira no final da década de 60 início de 70 e da política de desvalorização cambial nas décadas de 70 e 80. De acordo com Silva e Targino (2002), o desempenho das exportações de grãos de soja e de seus derivados apresenta uma forte correlação positiva com os rumos da sojicultura nacional. Todavia, os fatores externos relacionados ao crescimento da demanda mundial por soja e ao comportamento da produção de grãos de soja nos países concorrentes do Brasil no mercado internacional também foram significativos à evolução das exportações brasileiras de soja. Para uma análise mais detalhada, a tabela 2 a seguir mostra os efeitos de políticas realizadas que desempenharam mudanças nas exportações de soja no Brasil. 9 A política de desvalorização cambial instituída pelo Plano Bresser em 1987 objetivava promover o crescimento das exportações e evitar possíveis desequilíbrios externos. A desvalorização da taxa de câmbio real efetiva parece ter impulsionado o crescimento das exportações totais e, em específico, o crescimento das exportações de soja em grão que em 1988 cresceu mais de 200% se comparado ao ano anterior, como pode ser observado na tabela 2. Na safra de 1990/91, a produção de grãos de soja nos Estados Unidos e na Argentina evidenciavam uma recuperação, o que elevou os estoques mundiais e diminui o preço da soja no mercado internacional. A valorização da taxa de câmbio real efetiva reforçou a queda das exportações no Brasil neste período, proporcionado assim uma queda nas exportações de soja em grão em 1991. (CARVALHO et alli, 2002). Tabela 2 - Exportação do complexo soja – 1985/2003 (1000 toneladas) Anos 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003** Grão 1.580 3.456 1.200 3.024 2.611 4.618 1.900 3.740 3.900 5.367 3.520 3.633 8.326 9.324 8.912 11.778 15.676 15.500 18.100 Farelo 8.523 6.906 8.039 8.375 9.748 8.892 7.347 8.178 9.286 11.538 10.795 9.420 9.754 10.780 9.977 9.861 11.271 12.200 13.800 Óleo* 924 439 968 688 920 883 403 703 761 1.684 1.337 1.050 1.064 1444 1.460 1.148 1.639 1.900 2.250 Total 11.027 10.801 10.207 12.087 13.279 14.393 9.650 12.621 13.947 18.589 15.652 14.103 19.144 21.548 20.349 22.787 28.586 29.600 34.150 *óleo bruto e refinado ; **Previsão FONTE: ABIOVE A partir de 1992, a situação da sojicultura é revertida. As boas colheitas propiciaram uma considerável recuperação da produção e produtividade no cultivo da soja. No mercado externo, a tendência crescente das importações mundiais de soja em grão sinalizava o momento favorável predominante no mercado internacional de soja. Entre 1992 e 1994, o crescimento no preço de exportação da soja em grãos refletia adequadamente a expansão da demanda mundial deste produto e de seus derivados. Com a recuperação da produção dos Estados Unidos no ano de 1995, o volume exportado de grãos de soja reduziu-se em relação ao período de 1992/94. (SILVA e TARGINO, 2002). A partir de 1994, houve uma reestruturação das exportações durante o início do Plano Real. A economia mundial voltou a crescer sob a liderança da economia americana, valorizando os preços das principais commodities de exportações do complexo agroindustrial brasileiro. A melhoria dos preços externos e os juros elevados, constantes nos contratos de adiantamentos de câmbio, mantiveram as exportações atrativas. Assim, os mercados internos e externos aqueceram-se simultaneamente, elevando a capacidade de produção e exportação. (STALDER, 1997 apud. SEREIA et alli, 2002). A recessão que se instalou no Brasil a partir de 1995, combinada com a sobre valorização cambial, direcionaram a demanda interna para produtos estrangeiros, enquanto as exportações sofreu queda, como mostrou a tabela 2. Neste período de análise, o comércio mundial estava em expansão e mostrou-se receptivo, enquanto internamente a situação era de incerteza por estar em processo de ajustes macroeconômicos (planos Collor e Real), mesmo 10 assim, as condições permitiram o desenvolvimento de formas capazes de ofertar produtos agroindustriais com competitividade ao comércio internacional. Outra conduta importante deriva-se do fato de as indústrias poderem comercializar tanto óleo e farelo quanto soja em grão. Isto abre alternativas de estratégia de exportação que, dependendo dos preços externos e internos, ora podem privilegiar a exportação dos derivados ora do produto in natura. Foi o que ocorreu a partir de 1997, as exportações de grãos se tornaram mais vantajosa que a de produtos processados devido a redução do ICMS sobre exportações de produto in natura ( Lei Kandir ), além do fato de ter tarifa 0% para ingresso na União Européia e Japão, enquanto farelo e óleo são taxados. (CARVALHO et alli, 2002). A partir de 1999, a economia brasileira sofreu uma mudança no câmbio, a taxa de câmbio é um fator importante para o estímulo às exportações das commodities, sendo fundamental para a competitividade do complexo da soja, como pode ser observado na tabela 2, as exportações do complexo da soja aumentaram mais de 50% em 2000 se comparado ao ano de 1997. Segundo Camargo et alli (2002), os efeitos de uma mudança na taxa de câmbio real efetiva sobre as exportações apresenta sinal positivo, indicando que, quando a moeda doméstica sofre uma desvalorização real com relação às moedas dos principais parceiros comerciais brasileiros, as exportações dos produtos agropecuários analisados são estimulados. Este fato analisado por Camargo et alli (2002), está acontecendo até os dias de hoje, como mostrou a tabela 2, as exportações do complexo da soja em 2001 aumentaram 27% em relação a 2000, e a previsão para 2003 é que aumente mais de 50% em relação a 2000. Atualmente as exportações estão em alta, mas este fato não é resultado de uma política de exportação eficiente, mais sim por uma desvalorização da moeda nacional. 5. AVALIAÇÃO DA ABERTURA COMERCIAL NO COMPLEXO DA SOJA : UM ESTUDO EMPÍRICO 5.1 - Grau de Abertura Econômica Com a finalidade de dimensionar formalmente a importância da relação comercial com o exterior, iniciaremos nossa investigação medindo o grau de abertura da economia brasileira a partir de 1985, quando a economia brasileira ainda era considerada fechada ao comércio exterior. O objetivo central da análise dos dados é verificar se o processo de abertura comercial implica em um maior fluxo de comércio internacional, abrindo oportunidades para os setores da soja ampliarem sua capacidade de oferta interna e externa, melhorando seu nível de produção com maior acesso a novas tecnologias. O instrumental utilizado para medir o grau de abertura do Brasil é razão entre a soma de exportações e importações e o valor bruto da produção do complexo da soja multiplicado por 100, conforme exposto na seção 2. A tabela 3 tráz o grau de abertura do complexo da soja. Tabela 3 - Grau de abertura do complexo da soja valor (US$ 1 /tonelada) período: 1985 à 2002 Anos 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Grão % 14,7 22,4 9,1 13,1 12,5 19,6 22,0 15,3 20,1 22,2 16,8 17,5 20,9 Farelo % Óleo % 79,9 72,0 74,6 78,2 77,6 70,2 60,7 79,7 80,2 78,8 78,7 63,7 60,3 37,5 25,8 39,2 29,1 34,2 29,5 15,4 31,8 30,8 57,0 53,9 37,4 33,0 Complexo da soja % 44,0 40,1 41,0 40,1 41,4 39,8 32,7 42,3 43,7 52,7 49,8 39,5 38,1 11 1998 1999 2000 2001 2002 35,8 29,6 30,5 30,3 41,9 68,1 63,7 60 58,5 62,2 34,2 39,3 38,6 42,5 39,0 46,0 44,2 43,0 43,8 47,7 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do ABIOVE//SECEX. 1 Valor em dólares americanos (FOB) Com relação a soja em grão, numa primeira observação geral acerca do desempenho brasileiro no comércio exterior, podemos dizer que a abertura comercial teve impactos muito mais nítidos sobre as exportações que sobre as importações brasileiras de soja em grão. As importações apresentaram variabilidade bastante elevada ao longo do período analisado, passando por um máximo de 5,7% do PIB em 1997 e um mínimo de 0,04% em 1990, chegando em 2002 com 2,2% do PIB. As exportações, ao contrário, de 11,8% do PIB em 1985, mostraram tendência crescente4 até 2002, quando atingiram o máximo de 39,7% do PIB, como mostra a seguir o gráfico 1. Gráfico 1 R elação entre C om ércio E xterior e Produção Interna da Soja em G rão - 19 85 a 2 00 2 40,0 35,0 Porcentagem 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 M /PIB Anos E /PIB 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0,0 GA Quando analisamos o grau de abertura da economia para o setor de soja em grão, constatamos que os números parecem indicar que a economia brasileira vem realmente expandindo seu comércio com o exterior. A tabela 3, apresenta os dados estimados, e mostra que o mínimo grau de abertura (9,1% do PIB) se deu em 1987, último ano marcado pelas altas taxas de proteção na economia. Entre 1988 a 1990 esteve entre 13 e 19% do PIB cujo período esteve marcado pela transição tarifária. Após este período até 1997 esteve entre 20% do PIB. Somente após 1998, pode-se verificar que o setor de soja em grãos apresentou um aumento do grau de abertura para o exterior. Este aumento é creditado a uma elevação das exportações. O aumento nas exportações a partir de 1998 foi ocasionada pela desvalorização do real ocorrido neste período, onde houve um aumento nas exportações de mais de 40% se analisados em dólar, pois quando analisado em toneladas o aumento nas exportação foi mais de 80%, isto se deu a grande queda nos preços do soja no mercado externo. Outro fator importante foi o processo de redução de ICMS sobre as exportações de produtos in natura ( Lei Kandir)5, as exportações cresceram e assim elevando o grau de abertura da economia. Observando de modo geral a evolução do grau de abertura ao longo dos anos de 1985 a 2002, notamos que o setor de soja em grão apresentou um aumento de mais de 180% do grau de abertura em 2002, em relação a 1985. Mesmo com este ótimo desempenho este setor não conseguiu se classificar no intervalo de alto grau de abertura, o seu maior coeficiente foi de 4 Houve algumas quedas durante o período que devem ser analisadas, na safra 1991/92, a produção de grãos de soja nos Estados Unidos e na Argentina evidenciavam uma recuperação, o que elevou os estoques mundiais e diminui o preço da soja no mercado internacional. A valorização da taxa de câmbio real efetiva reforçou a queda das exportações no Brasil neste período, proporcionado assim uma queda nas exportações de soja em grão em 1991. 5 A partir de 1997, as exportações de grãos se tornaram mais vantajosa que a de produtos processados devido a redução do ICMS sobre exportações de produto in natura ( Lei Kandir ), além do fato de ter tarifa 0% para ingresso na União Européia e Japão, enquanto farelo e óleo são taxados. (CARVALHO et alli, 2002). 12 41,9% do PIB e o parâmetro utilizado para alto grau de abertura é acima de 60% do PIB. Para o setor de farelo de soja, a abertura comercial ocorrida no Brasil a partir de 1988 teve impacto pouco relevante sobre as exportações e as importações brasileiras. As exportações já apresentavam bom desempenho com o mercado externo desde 1985, passando por um máximo de 80,2% do PIB em 1993 e um mínimo de 57,9% em 2001, em média 70% da produção interna de farelo de soja no Brasil é exportada, (gráfico 2). Em 1991, o desempenho exportador do farelo de soja sofreu uma queda, devido a recuperação da produção dos Estados Unidos e da Argentina, que elevaram os estoques de farelo no mercado mundial, a implementação do Plano Collor com uma valorização cambial real efetiva também ocasionou perdas nas exportações, o que refletiu no setor exportador de farelo de soja, reduzindo o grau de abertura. Gráfico 2 Relação ent re Com ércio Ext erior e P rodução Int erna do Farelo de Soja 1985 a 2002 80 Porcentagem 70 60 50 40 30 20 10 0 M/P IB AnosE/P IB GA A partir de 1992 até 1995, o farelo de soja recuperou seu mercado mundial, ocasionado pelas boas safras e a ótima produtividade no cultivo da soja. Neste período ocorreu uma redução dos estoques mundiais de grãos, propiciando queda na produção de farelo. A ação conjunta do crescimento na produção interna de soja e da expansão da demanda mundial resultou num desempenho significativamente positivo da sojicultura brasileira voltada ao mercado externo, cujos resultados também foram observados por Carvalho (1995). Entre 1997 e 2002 o comportamento foi de queda no grau de abertura ocasionando pela queda nas exportações. Este comportamento se deu após a implementação da Lei Kandir em 1997, onde o farelo de soja sofreu alta nas tarifas. Com relação as importações, a análise fica incompleta para o setor, por falta de dados no início da série até 1996. A partir de 1997, as importações de farelo de soja são bem discretas, assim, o gráfico 2 não possibilita uma melhor análise. O grau de abertura para o setor de farelo de soja não apresentou crescimento, porque como já foi dito anteriormente até 1996 não se importava farelo, ocasionando alteração no resultado do grau de abertura. Vale ressaltar que o setor de farelo de soja, foi o setor que apresentou no período da análise o maior grau de abertura econômica do complexo soja em 2002 (62,2), o que caracteriza um “alto grau de abertura” econômica. Fazendo uma análise das exportações, importações e nível de produção, verifica-se que este setor está bem integrado com o comércio internacional, onde, mais da metade da produção interna é exportada. Podemos dizer que o desempenho no comércio exterior do setor de óleo de soja brasileiro, apresentou-se com modestos impactos sobre as importações e as exportações. As importações, apresentaram no período analisado um comportamento estável, passando por um máximo de 8,5% do PIB em 1994 e um mínimo de 0,3% em 1990, em média as importações situaram em 3,7% do PIB, como mostra o gráfico 3. As exportações, ao contrário, apresentaram um comportamento instável durante o 13 período de análise, de 35,8% do PIB em 1985 mostraram tendência decrescente até 1991, quando atingiram o mínimo de 13,8% do PIB. Daí em diante cresceram em participação no PIB até 48,5% em 1994 e 37,2% em 2002. Esta instabilidade ocasionada no período de análise do óleo de soja, está relacionado com as políticas agrícolas ocorridas entre 1990 e 1992 e com o comportamento do mercado externo, que em momentos de queda nas exportações de óleo de soja o mercado externo estava com elevados estoques deste produto. (CARVALHO et alli, 2002). A partir de 1994 de acordo com Stalder (1997, apud. SEREIA et alli, 2002), houve uma reestruturação das exportações durante o início do Plano Real. A economia mundial voltou a crescer sob a liderança da economia americana, valorizando os preços das commodities de exportação do complexo da soja, e o óleo de soja estava enquadrado neste comportamento de expansão. Gráfico 3 Relação entre Comércio Exterior e Produção Interna do Óleo de Soja - 1985 a 2002 60,0 Porcentagem 50,0 40,0 30,0 20,0 M/PIB Anos E/PIB 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0,0 1985 10,0 GA Por outro lado, se avaliarmos o grau de abertura pela relação entre o comércio total, os números parecem indicar que a economia brasileira ficou apenas um pouca mais aberta em relação ao mercado externo. O grau de abertura em 1985 era de 37,5% do PIB e em 2002 este chegou a 39% do PIB um crescimento de 4% no período analisado. (tabela 3). No entanto, podemos sintetizar que o setor de óleo de soja apresentou no período de 1985 a 2002, taxas discretas de crescimento do grau de abertura, com quedas abruptas no intervalo do período, o ano de 1991 apresentou uma queda relevante, em razão da queda nas exportações deste ano De acordo com as análises realizadas, podemos perceber que entre os setores do complexo da soja, o que apresentou maior crescimento no grau de abertura foi o setor de soja em grãos. De uma maneira geral, se avaliarmos o grau de abertura do complexo da soja como um todo (tabela 3), podemos perceber que houve um aumento do grau de abertura em alguns períodos analisados. Em 1985 o grau de abertura era de 44,0%, no decorrer dos anos até 1993, este apresentou queda devido a cortes em incentivos a agricultura. Após a implementação do Plano Real em 1994, o grau de abertura do complexo da soja apresentou um ótimo desempenho chegando a 52,7%, este comportamento se deu principalmente a alta nas exportações de óleo de soja, que neste período tiveram incentivos a exportação pois o estoque mundial de soja estava em baixa. A partir de 1996 o grau de abertura apresentou quedas chegando em 1997 com 38,1%. Somente após a implementação da Lei Kandir em 1997 é que o grau de abertura voltou a crescer, ocasionado pelas altas de exportação de soja em grão, chegando em 2002 com 47,7% de grau de abertura. O aumento verificado nas exportações da soja em grão foi expressivo, desde meados da década de 90, onde a composição das exportações brasileiras do complexo da soja ( grão, 14 farelo e óleo) vem apresentando alterações no sentido de aumento do grão em detrimento do farelo e óleo. A soja em grão, que em 1995 respondia por 13,5%, em 2002 passou a representar 39,7% do valor total das exportações desse complexo. No mesmo período, a participação do farelo decresceu de 78,6% para 61%. A demanda por óleo de soja é caracterizada pelo suprimento do mercado interno, ao contrário do farelo que tem nas exportações o seu principal destino. Ainda assim, a parcela do óleo na pauta de exportações desses produtos foi reduzida de 47,7% para 37,5% no mesmo período de 1995 a 2002. Este fato está relacionado com a atual estrutura tributária brasileira, pautada na isenção de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) à exportação simultaneamente à incidência de imposto na movimentação interna da safra, o que cria vantagem adicional para a exportação do grão, em detrimento dos seus derivados. Este mesmo aspecto também foi analisado por Freitas et alli (2000, p. 30-41). Finalmente podemos comparar o desempenho do grau de abertura do complexo da soja antes e depois da abertura comercial. A soja em grão apresentou em média 0,141 de grau de abertura antes da abertura comercial e 0,243 depois da abertura. O óleo de soja também apresentou mudanças, antes da abertura situou em um patamar médio de 0,328 de grau de abertura, após a abertura comercial ficou em 0,366. De acordo com as análises, a hipótese de que a abertura comercial aumenta o fluxo de comércio internacional, apresentando um crescimento de oferta interna e externa do produto melhorando o nível de produtividade e qualidade dos produtos, se confirmou para dois setores do complexo da soja, a soja em grão e o óleo de soja. Um ponto que deve ser enfatizado é que é preciso consolidar uma política de abertura comercial que reduza a dependência de produtos agrícolas (soja em grão), de baixo valor adicionado. Se o país mantiver a ampla liberalização comercial do presente, enquanto os outros países sustentam políticas protecionistas, a tendência é a crescente deterioração nas relações de troca previstas por Prebisch, até porque, o protecionismo dos países ricos são mais exacerbados exatamente no setor que o Brasil tem maiores vantagens comparativas. Outro ponto importante que deve ser enfatizado, é que diversos autores6 em seus trabalhos destacaram com ênfase que a abertura comercial eliminou as firmas excedentes nos setores em que a maior eficiência microeconômica dependa fortemente do melhor aproveitamento de economias de escalas. Este comportamento também se verificou nas indústrias processadoras de soja, onde a utilização de plantas industriais com maior capacidade produtiva em detrimento das plantas menores, aumentaria os ganhos de escala7. Mas estas mudanças ocorridas após a abertura comercial não trouxeram aumento no fluxo comercial dos produtos processados do complexo da soja (farelo e óleo), como pode ser observado na análise de grau de abertura, estes dois setores não aumentaram seu grau de abertura após a abertura comercial iniciada em 1990. 5.2- Análise de Competitividade Pretende-se verificar com a análise de Vantagem Relativa na Exportação (VRE) e a Competitividade Revelada (CR) o desempenho do complexo da soja antes e depois da abertura comercial, verificando se o complexo ficou mais competitivo após a abertura. Conforme exposto na seção 2, utilizar-se-á dos instrumentos denominados de: Vantagem Relativa na Exportação (VRE) e Competitividade Revelada (CR). A VRE permite analisar o desempenho de um país, ou grupo deles, nas exportações de determinado produto de um conjunto de produtos. A tabela 4 apresenta a evolução do comércio brasileiro e mundial do complexo da soja no período de 1985 a 2000, por decorrência de não existir informações a nível mundial para os anos de 2001 e 2002. Destaque-se, inicialmente que nossas exportações totais cresceram ao 6 7 Nassif (2000) e Stallenges & Peres (2000). Medeiros & Fraga (2002) 15 longo de todo o período de análise, em rítmo mais acelerado que o comércio mundial. A exceção foi o triênio 1991-1993, onde as exportações sofreram uma queda, ocasionado por políticas agrícolas no início do Plano Collor, que reduziu drasticamente os subsídios para agricultura. Quanto às importações, durante o período analisado apresentou um pequeno crescimento, com valores irrelevantes se comparados as importações do complexo da soja no mundo. Tabela 4 - Exportação e importação do complexo da soja no Brasil e no mundo (1000 t) Importação do Complexo da Soja8 Exportação do Complexo da Soja Brasil Período Soja em 1985 1986 1987 1988 1999 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 1.580 3.456 1.200 3.024 2.611 4.618 4.139 1.900 3.900 5.367 3.520 3.633 8326 9324 8912 11778 Mundo Farelo Óleo Soja em 8.523 6.906 8.039 8.375 9.748 8.892 7.347 8.178 9.286 11.538 10.795 9.420 9754 10780 9977 9861 924 439 968 688 920 883 403 703 761 1.684 1.337 1.050 1064 1444 1460 1148 21.200 21.900 22.500 24.800 27.100 26.600 25.360 28.460 29.590 28.060 32.189 32.051 36.886 40.976 39.356 41.821 Grão Brasil Farelo Óleo 16.900 17.500 16.200 19.500 18.900 18.700 19.800 19.400 19.600 21.100 20.600 24.100 23.500 24.100 25.100 22.700 1.850 2.200 2.450 2.200 3.250 2.900 3.600 3.500 3.400 4.500 3.900 3.900 4.100 4.200 3.900 4.100 Soja em Grão Mundo Farelo Óleo Soja em 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 108 308 135 75 46 159 59 61 20 9 46 80 93 270 218 185 200 154 190 133 27.450 26.000 31.000 29.800 30.200 30.500 29.800 30.200 30.600 32.800 31.800 34.600 36.200 37400 42600 46200 Grão Farelo Óleo 25.000 24.000 25.600 26.900 27.200 27.200 28.300 27.600 29.900 31.100 31.500 34.500 36.000 35400 36500 35600 2.800 2.950 3.500 3.250 3.850 3.700 4.000 4.100 4.700 6.100 5.300 5.000 5.200 5300 5600 5550 Grão 378 339 441 62 63 10 350 507 10 890 791 1044 1362 1453 355 615 Fonte: ABIOVE (2003) e USDA (2003). De acordo com os dados obtidos na tabela 4, faz-se necessário medir o grau de competitividade do complexo da soja mediante o mercado mundial. O gráfico 4 traz o desempenho da competitividade da soja em grão no período de 1985 a 2000. Gráfico 4 Competitividade da Soja em Grão, Brasil - 1990-2000 0,69 0,80 0,26 0,30 0,15 0,11 0,05 0,10 0,05 0,22 0,30 0,06 0,04 0,17 0,20 0,06 0,03 0,29 0,29 0,11 0,02 0,10 0,19 0,20 0,15 0,30 0,37 0,38 0,34 0,42 0,40 0,02 indicadores 0,50 0,57 0,53 0,49 0,60 0,53 0,58 0,70 VRE Grão anosCR Grão 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0,00 Linear (VRE Grão) A análise permite inferir que em 1992 a competitividade da soja em grão brasileira apresentou o mesmo comportamento de 1985. A partir de 1992 houve reversão no 8 Entende-se que a importação do complexo da soja brasileiro seja decorrente da necessidade de se adequar as condições de oferta e demanda, contudo, não há informações nos órgãos representativos que possam confirmar esse entendimento. 16 desempenho e o produto soja em grão recuperou competitividade no mercado mundial, a despeito da valorização da moeda entre 1994 e 19989. Essa recuperação pode ser observada pelos indicadores de vantagem relativa na exportação (VRE) e competitividade revelada (CR) para a soja em grão comercializadas pelo país. Esses indicadores atingiram ponto mínimo em 1985 e 1987 e após a abertura comercial o ponto mínimo foi atingido em 199210. VRE é um indicador que relaciona a participação relativa da soja em grão nas exportações brasileiras e mundiais. Em 1985 encontrava-se em torno de 0,15, indicando uma discreta vantagem relativa do Brasil nas exportações do produto11. Em 1992, o indicador sofreu um queda, atingindo o mínimo de 0,17 patamar em que se manteve por 5 anos consecutivos. De 1997 em diante o setor mostrou recuperação da competitividade até 2000, ocasião em que o indicador apresentou 0,69 nível jamais observado após a abertura comercial. Um conjunto de fatores contribuíram para o aumento da quantidade exportada de soja em grão após 1997, mas o fator preponderante, foi a redução do ICMS sobre as exportações de produto in natura (Lei Kandir), tornando as exportações de soja em grão mais vantajosa que a de produtos processados (óleo e farelo). A CR é um indicador agregado mais abrangente, na medida que relaciona a participação brasileira nas exportações e importações de soja em grão as correspondentes participações no comércio mundial. Esse indicador permite observar as mesmas mudanças de tendência no comércio internacional do produto soja em grão. O aumento expressivo de competitividade em 1999 de correu do efeito conjugado da contração das importações internacionais de soja em grão. Na média, a soja em grão mostrou VRE iguala 0,23 no período que antecedeu a abertura comercial brasileira. Na etapa seguinte, ou seja após a abertura comercial, apresentou VRE igual a 0,42. Isso significa que a soja em grão brasileira aumentou sua competitividade após a abertura comercial. Já a competitividade do setor de farelo de soja no Brasil, mostrou-se em queda, como mostra o gráfico 5. Gráfico 5 1,66 1,54 2000 1,88 1998 1999 1,81 2,00 1997 3,00 2,53 3,35 2,37 2,55 3,12 3,00 2,44 indicadores 4,00 3,89 4,43 4,64 5,00 5,18 5,71 Competitividade do Farelo de soja, Brasil - 1990-200 6,00 1,00 VER Farelo 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0,00 anos Linear (VER Farelo) A VRE em 1985 foi de 4,64, indicando uma ótima vantagem relativa do Brasil nas exportações do farelo de soja, em 1990 este mesmo indicador apresentou-se em 2,55 e em 2000 atingiu o seu mínimo 1,54. O fator mais preponderante da queda da competitividade do 9 Um dos pilares do Plano Real era a política cambial que foi administrada com o propósito de inibir o retorno do processo inflacionário. Isso implicou valorização da moeda até janeiro de 1999, ocasião em que a taxa de câmbio passou a flutuar. 10 Os indicadores calculados encontram-se no ANEXO II. 11 Lembrar que se VRE<0 o país apresenta desvantagem nas exportações do produto em questão. Embora 0,15 implique competitividade, a agricultura em geral situava-se em 1,5 em 1985 (CARVALHO, 2001). 17 farelo de soja no final da década de 90, foi a implementação da Lei Kandir e o aumento da taxação deste produto na União Européia e Japão12. A análise permite inferir que até 1990 houve ganho de competitividade do farelo de soja brasileiro. A partir desta data houve uma reversão no desempenho deste produto, perdendo competitividade no mercado mundial. Dois determinantes contribuíram para a perda de competitividade no período analisado; o primeiro se deve ao fato do farelo de soja manter o mesmo desempenho exportador em todo período, enquanto que as exportações mundiais expandiam-se, o segundo determinante, foi que as exportações brasileiras de soja em grão aumentaram substancialmente e as exportações de farelo de soja não acompanhou este mesmo desempenho. Em média, o farelo de soja mostro VRE igual a 4,07 antes da abertura comercial brasileira e após apresentou 2,70 .Deste modo, conclui-se que o setor de farelo de soja perdeu competitividade após a abertura comercial. O gráfico 6 traz o desempenho da competitividade brasileira de óleo de soja no período de 1985 a 2000. De acordo com os indicadores obtidos através da VRE e CR podemos concluir que até 1990 houve perda de competitividade do óleo de soja brasileiro. Neste período o volume das exportações brasileiras sofriam quedas abruptas, enquanto as exportações no mundo apresentavam um comportamento crescente e linear. No período de 1991 até 1998 houve uma reversão no desempenho e o setor voltou a apresentar competitividade, a partir de 1998 a competitividade volta a cair. Este salto ocorrido em 1998 também está relacionado com a implementação da Lei Kandir. A análise da VRE mostra que em 1985 o indicador alcançou seu maior nível de competitividade 1,88 indicando vantagem relativa do brasil nas exportações de óleo de soja. Em 1991 o indicador atingiu o seu mínimo de 0,44, de 1992 em diante o setor mostrou recuperação da competitividade. Um conjunto de fatores contribuiu para o instável comportamento da quantidade exportada de óleo de soja no Brasil. A queda do VRE em 1991 se deu devido a baixa nas exportações brasileiras enquanto as exportações do mundo aumentavam, o mesmo ocorreu em 2000. Gráfico 6 1,65 1,88 Competitividade do Óleo de Soja, Brasil -1990-2000 2,00 1,80 0,29 0,83 1,28 1,11 0,93 0,23 0,47 0,38 0,46 0,87 1,16 1,26 1,09 0,34 0,83 0,45 0,44 0,07 0,22 0,20 0,07 0,10 0,40 0,43 0,95 1,02 1,22 0,60 0,23 0,80 0,76 1,00 0,76 1,20 0,83 indicadores 1,40 1,05 1,60 VRE Óleo CRanos Óleo 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0,00 Linear (VRE Óleo) O CR permite observar a mesma mudança de comportamento no comércio internacional de óleo de soja, a única diferença é que em 2000 o indicador sofreu um aumento se comparado com 1999, devido a uma ligeira queda de importações no mercado mundial. No período que antecedeu a abertura comercial o VRE obteve uma média de 1,31, após a abertura comercial ficou em 0,98. Isto significa que o óleo de soja brasileiro perdeu competitividade após a abertura comercial. 12 A análise do indicador de CR não foi realizado por os dados não serem relevantes. 18 Finalmente, o conjunto de resultados obtidos no complexo da soja, tanto nas análises de VRE quanto na de CR, mostraram que somente soja em grão aumento sua competitividade após a abertura comercial, farelo e óleo de soja sofreram perda de competitividade no mercado mundial. Deste modo, a hipótese de que o aumento do fluxo comercial, dado a abertura comercial, melhora o nível de competitividade, não se verifica em todos os setores do complexo da soja. De acordo com a análise podemos concluir que os fatores que contribuíram para este desempenho do complexo da soja foi, políticas agrícolas e políticas protecionistas praticadas nos países importadores de óleo e farelo de soja. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A nova ordem econômica mundial, resultado do agressivo processo de globalização da economia, que assume cada vez mais um caráter expansionista, vem reascender uma antiga e interminável discussão, entre os defensores do protecionismo e os defensores do liberalismo. O argumento mais contundente do protecionismo é com relação à indústria nascente e setores prioritários, que segundo os defensores necessitam de determinada proteção para estarem em condições de igualdade com os concorrentes externos. Para os defensores do liberalismo, o mercado livre é o caminho para a modernização e inserção competitiva na economia mundial. Os argumentos do liberalismo põem em dúvida a validade das restrições ao comércio e a proteção à indústria nacional e acaba induzindo países antes considerados fechados a se inserirem no processo de abertura econômica, diante da constatação de que os países são cada vez mais interdependentes. Nesse sentido, uma das poucas realizações positivas que pode ser creditada ao governo de Fernando Collor de Mello, foi de perceber os rumos que a economia mundial seguia e tentar situar o Brasil neste caminho. Para tanto, promoveu uma série de modificações, entre elas, a política de abertura econômica. Assim, a dinâmica existente no processo de desenvolvimento da economia brasileira motivou-nos a realizar o presente artigo, onde se analisou o comportamento do complexo da soja antes e depois da abertura comercial. Entende-se que a contribuição deste artigo reside justamente no propósito de demonstrar empiricamente o desempenho do complexo da soja na economia brasileira neste processo de inserção internacional, iniciando com maior vigor no governo Collor. O que se pode constatar é que o complexo da soja no Brasil ainda continua fechado, tendo somente o setor de farelo de soja apresentado coeficientes de grau de abertura alto, (GA) alto, em média no período de análise foi de 74,5%. Apesar da grande evolução nas exportações de soja em grãos durante o período analisado, este ainda não conseguiu atingir um “alto” grau de abertura. De maneira complementar, a análise de grau de abertura confirmou a hipótese formulada, que, de 1985 a 2002 o complexo da soja, aumentou sua produção devido ao aumento do grau de abertura. Isto ocorreu porque o setor teve que buscar maior eficiência para concorrer no mercado internacional, reduzindo assim, os preços e aumentando a participação no mercado interno e externo, obtendo ganhos de escala. Cabe destacar que no período de 1985 a 2002, verificou-se um discreto aumento nas importações, ao passo que as exportações tiveram um ótimo desempenho. O motivo da grande elevação das exportações, está no avanço da reforma tarifária e nas políticas cambiais, notadamente a partir de 1997. A análise de competitividade confirmou a hipótese de que um maior fluxo comercial aumenta a competitividade do setor em relação à soja em grãos. Nesse caso, a soja em grãos se tornou mais competitiva após a abertura comercial. Os fatores que contribuíram para este desempenho foram, políticas agrícolas mais eficientes e preços competitivos via desvalorização cambial. 19 Finalmente, a economia brasileira e, especificamente o complexo da soja, tem apresentado nos últimos anos um bom desempenho em seu processo de integração comercial, o que propiciou uma crescente eliminação da mentalidade protecionista, fazendo com que se siga o caminho da abertura gradual e constante da economia. Cabe agora a capacidade de competitividade dos produtos brasileiros em relação aos congêneres, e isto inclui uma política agrícola mais eficiente para produtos semi industrializados e industrializados do complexo da soja, uma maior eficiência alocativa para obter ganhos de escala. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS – ABIOVE. Disponível em <http:/www.abiove.com.br>. Acesso em 28 nov. 2002. 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