Resultados Figura 25. Células CHO transfectadas com o vetor pEGFP-condroitinase AC secretam a enzima com baixa atividade. A atividade enzimática da condroitinase AC foi medida pela quantificação do condroitim sulfato secretado para o meio condicionado por células CHO-K1 transfectadas com o plasmídeo pEGFP-N1 (CHO/pEGFP) ou a construção pEGFP-condroitinase AC (CHO/pEGFP-cAC). A atividade enzimática foi determinada 1 dia após transfecção. Os glicosaminoglicanos foram metabolicamente marcados com [35S]sulfato de sódio (5,55MBq, por 6 horas), e analisados por eletroforese em gel de agarose e o condroitim sulfato presente no meio foi quantificado (*p=0,056). CHO: células ovarianas de hamster chinês; CS: condroitim sulfato. O ensaio foi realizado uma vez, em duplicata. Posteriormente, passamos a verificar se a condroitinase AC poderia se rastreada, pois, em teoria, estaria sendo secretada em forma de quimera com a proteína GFP. Células CHO-K1 foram transfectadas com o plasmídeo pEGFP-N1 ou a construção pEGFPcondroitinase AC, e analisadas ao microscópio invertido de varredura Confocal a laser 1 dia, 2 dias e 1 semana após a transfecção (Figura 26). Na Figura 26, podemos observar que 1 dia após a transfecção, cerca de 20% das células transfectadas com o plasmídeo vazio expressam GFP. Uma semana após a transfecção, as células transfectadas com pEGFP-N1 continuam expressando GFP, enquanto as poucas células transfectadas com a construção pEGFP-condroitinase AC que eram GFP+, deixam de ser. Ou seja, infelizmente, com a inserção do gene da condroitinase AC no plasmídeo pEGFP-N1, ocorre uma diminuição de sua expressão. Devido a isso, decidimos utilizar somente o vetor pcDNA3.1(+)condroitinase AC nos experimentos in vivo. 64 Resultados Figura 26. A expressão da quimera condroitinase AC-GFP diminui com o tempo. Células CHO-K1 foram transfectadas com os vetores pEGFP-N1 (pEGFP) ou pEGFPcondroitinase AC (pEGFP-cAC) (1,5µg de DNA) e a expressão das proteínas fluorescentes (GFP e condroitinase AC-GFP) foi analisada por microscopia de fluorescência em células vivas 1 dia, 2 dias e 1 semana após transfecção. Barra de escala: 20μm em pEGFP 1 dia e 10μm nas demais condições. 65 Resultados 4.7 Secreção de condroitinase AC ativa em lesão no SNC murino Após a verificação, in vitro, de que células de mamífero transfectadas com o vetor pcDNA3.1(+)-condroitinase AC expressam e secretam a enzima recombinante ativa partimos para o transplante dessas células em lesões no córtex motor de camundongos. Nos ensaios in vivo, as células mononucleadas foram obtidas da medula óssea de camundongos GFP+, pois todas as células destes animais expressam GFP e, portanto, podem ser localizados posteriormente em cortes do tecido. Investigamos se células mononucleadas transfectadas com a construção pcDNA3.1(+)-condroitinase AC secretam condroitinase AC ativa em modelos de lesão aguda e crônica, conforme descrito em Material e Métodos (item 3.17). No modelo de lesão aguda, células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+) ou com a construção pcDNA3.1(+)-condroitinase AC foram transplantadas imediatamente após a cirurgia estereotáxica para realização da lesão, no mesmo local onde esta foi realizada. Em ensaios de imunofluorescência, condroitim sulfato degradado foi localizado na matriz extracelular circundando células mononucleadas derivadas da medula óssea que foram transfectadas com o plasmídeo recombinante pcDNA3.1(+)-condroitinase AC, mas não próximo a células da medula óssea não transfectadas ou transfectadas com o vetor vazio (Figura 27). 66 Resultados Figura 27. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressam condroitinase AC ativa quando transfectadas com o vetor pcDNA3.1(+)-condroitinase AC. Células mononucleadas derivadas da medula óssea de camundongos GFP+ nãotransfectadas (MO), transfectadas com pcDNA3.1(+) (MO/pcDNA) ou com pcDNA3.1(+)condroitinase AC (MO/pcDNA-cAC) foram injetadas em uma lesão no córtex motor murino. Condroitim sulfato degradado foi localizado pelo anticorpo anti-Δ-Di6S (verde) e células GFP+ foram localizadas pelo anticorpo anti-GFP (vermelho). Os núcleos foram corados com DAPI (azul). Barra de escala: 20μm. 67 Resultados A seguir, foi analisada a secreção de condroitinase AC ativa in vivo em um modelo de lesão crônica. Células derivadas da medula óssea de camundongos GFP+ foram transfectadas com pcDNA3.1(+) ou pcDNA3.1(+)-condroitinase AC e transplantadas 4 semanas após a realização dos procedimentos para causar a lesão ao córtex motor, utilizando as mesmas coordenadas estereotáxicas utilizadas para a realização da lesão. Os animais foram sacrificados uma ou duas semanas depois de transplantar as células. Imunofluorescência foi realizado em cortes dos cérebros para observar a localização das células e expressão da condroitinase AC. Observamos que as células transplantadas migram em massa para longe da lesão, em direção a regiões mais internas, independentemente da transfecção realizada (Figura 28). As células transplantadas apresentaram migração por distâncias mais longas nos animais que foram sacrificados após duas semanas em comparação com os sacrificados após uma semana, indicando que as células transplantadas não se fixam no local do transplante. Nestes cortes, houve migração das células derivadas da medula óssea para regiões adjacentes à lesão e também para regiões mais internas em direção ao ventrículo lateral no hemisfério ipsilateral. Algumas células GFP+ foram encontradas em locais bem distantes do local de transplante, como exemplifica a Figura 29 que mostra células GFP+ na substância branca do cerebelo. Um resultado interessante é que, embora tenhamos encontrado algumas poucas células no cerebelo, a grande maioria migra em conjunto, como pode ser observado nas Figuras 28 e 30. 68 Resultados Figura 28. Células mononucleadas derivadas da medula óssea transplantadas no local da lesão migram para regiões internas do córtex cerebral. Células mononucleadas derivadas da medula óssea de camundongos GFP+ (vermelho) transfectadas com a construção pcDNA3.1(+)-condroitinase AC foram transplantadas em uma lesão no córtex motor murino, 4 semanas após a realização da lesão. Animais foram sacrificados uma ou duas semanas depois e cortes sagitais do cérebro foram obtidos (A e B, respectivamente) e marcados para condroitim sulfato degradado (verde). Barra de escala: 100μm. Figura 29. Células mononucleadas derivadas da medula óssea podem migrar para longe do local de transplante. O corte mostra a presença de duas células GFP+ (vermelho, setas) na substância branca do cerebelo. DAPI (azul), GFAP (verde). Barra de escala 20μm. 69 Resultados 4.8 Efeitos da secreção de condroitinase AC sobre a distribuição de glia reativa na região próxima à lesão Uma vez que observamos que células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+)-condroitinase AC secretam a enzima recombinante ativa e que migram da lesão para outras regiões do cérebro, passamos a investigar se o transplante poderia, eventualmente, ter algum efeito sobre a distribuição de glia reativa na região próxima à lesão. Como foi apresentado na Introdução, células da glia ao redor de ou atraídas para uma lesão do SNC, sofrem hipertrofia tornando-se glia reativa, que passa a constituir a cicatriz glial. Utilizando um marcador para glia reativa, GFAP (glial fibrillary acidic protein), a distribuição de glia reativa na região da lesão foi analisada. Nas Figuras 30 e 31, podemos observar uma quantidade maior de células da glia circundando as células mononucleadas derivadas da medula óssea que expressam condroitinase AC quando comparamos com células transfectadas com o vetor vazio. Mesmo quatro semanas após o transplante das células, continuamos a observar uma quantidade maior de células da glia circundando as células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com o gene da condroitinase AC (Figura 32). Esse resultado provavelmente é devido à expressão de uma enzima bacteriana, que estaria exacerbando a reação glial. 70 Resultados Figura 30. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC promovem aumento da glia reativa em torno da lesão. Células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+) (A) ou a construção pcDNA3.1(+)-condroitinase AC (B) foram transplantadas em uma lesão no córtex motor murino, 4 semanas após a realização da lesão. Animais foram sacrificados 1 semana depois. Cortes sagitais do cérebro foram submetidos à imunoistoquímica para localização de glia reativa utilizando o anticorpo anti-GFAP (verde). Barra de escala: 100μm. Os insertos em A e B mostram áreas delimitadas pelos quadrados em maior aumento. Os núcleos foram corados com DAPI (azul) e as células transplantadas foram localizadas por anti-GFP (vermelho). Barra de escala: 50μm. 71 Resultados Figura 31. A resposta inflamatória a células derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC persiste duas semanas após transplante. Células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+) (A) ou a construção pcDNA3.1(+)-condroitinase AC (B) foram transplantadas em uma lesão no córtex motor murino, 4 semanas após a realização da lesão. Animais foram sacrificados 2 semanas depois. Cortes sagitais do cérebro foram submetidos à imunoistoquímica para localização de glia reativa utilizando o anticorpo anti-GFAP (verde) e de células transplantadas utilizando o anticorpo anti-GFP (vermelho). Barra de escala: 100μm. 72 Resultados Figura 32. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC mantêm o aumento da glia reativa em torno da lesão após 4 semanas. Células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com plasmídeo vazio (B) ou plasmídeo contendo o gene da condroitinase AC (C) foram transplantadas em uma lesão no córtex motor murino, 4 semanas após a realização da lesão. Como controle, um grupo de animais recebeu uma injeção de veículo (A). Animais foram sacrificados 4 semanas pós-transplante e cortes coronais do cérebro foram submetidos à imunoistoquímica para localização de glia reativa utilizando o anticorpo anti-GFAP (verde) e as células transplantadas foram localizadas por anti-GFP (vermelho). Barra de escala: 100μm. 73