DIVERSIDADE E PAPEL FUNCIONAL DA MACROFAUNA DO SOLO NA INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA Edson Roberto Silveira, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Eng. Agrônomo, Professor, Dr., [email protected] Adelino Pelissari, Universidade Federal do Paraná, Eng. Agrônomo, Professor, Dr., [email protected] Anibal de Moraes, Universidade Federal do Paraná, Eng. Agrônomo, Professor, Dr, [email protected]. Jorge Jamhour, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Eng. Agrônomo, Professor, Doutorando, [email protected]. DIVERSIDADE E PAPEL FUNCIONAL DA MACROFAUNA DO SOLO NA INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA 1. INTRODUÇÃO A integração entre agricultura e pecuária prioriza um sistema de produção de grãos e carne com qualidade, baseando-se nos princípios da sustentabilidade, utilização de recursos naturais e de instrumentos adequados de monitoramento e controle dos procedimentos de todo o processo, tornando-o tecnicamente apropriado, economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Com as modificações impostas por esse sistema, a fauna e os micro-organismos do solo são afetados. Isto se deve, por exemplo, às modificações nas propriedades e cobertura do solo e ao tráfego de animais e máquinas, consequentemente por outras características como porosidade, circulação de água e de ar, pela qualidade e quantidade da matéria orgânica. O sistema aparenta condições mais favoráveis para os organismos do solo do que a agricultura convencional, trazendo provavelmente um aumento nesta biodiversidade. A evolução recente dos princípios de sustentabilidade, que valorizam os recursos naturais e o impacto ambiental das práticas agrícolas, determinou mudanças nas estratégias convencionais de manejo de pragas. O conhecimento da diversidade e a população de artrópodos das espécies de maior importância são básicos para o manejo, pois algumas espécies podem causar danos, porém organismos úteis na decomposição de material orgânico, na abertura de galerias e no Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 1 de 16 controle biológico natural de pragas, desenvolvem-se e contribuem significativamente para a reciclagem de nutrientes e o equilíbrio de populações de insetos. A macrofauna do solo inclui os organismos como as minhocas, insetos, miriápodes e aracnídeos e seus benefícios resultam, principalmente, da movimentação mecânica do solo, aumentando a aeração e a redistribuição dos nutrientes, além de incrementar o teor de matéria orgânica no perfil do solo. Diversos trabalhos de pesquisa têm sido feito no agroecossistema da integração lavoura-pecuária, retratando principalmente a influência da adubação nitrogenada (ASSMANN, 2002), características químicas (LUSTOSA, 1998) e físicas do solo (SPERA et al., 2004), pastagens (MARTINICHEM, 2006) e o rendimento das lavouras de milho (ASSMANN, 2001), feijão (BONA FILHO, 2002), soja (VIEIRA, 2004) e trigo (BORTOLINI, 2004), contemplando muito pouco os componentes biológicos, como as pragas, doenças e plantas daninhas, com escassas referências sobre o que acontece com a população de artrópodos influenciados pela sucessão pastagem-lavoura (SILVEIRA, 2007), como os insetos, quer sejam favoráveis ou prejudiciais, como agentes mantenedores do sistema ou como fator problemático. Livros publicados recentemente retratam a tecnologia da integração lavoura-pecuária (KLUTHCOUSKI et al., 2003; MELLO & ASSMANN, 2002; ZAMBOLIM et al., 2004), mas carecem na falta de informações sobre a parte biológica, havendo pouca literatura disponível sobre o assunto. Alguns autores citam como um dos benefícios advindos da adoção do sistema integração lavoura-pecuária a redução de problemas com insetos-praga. Entretanto essas afirmações, na maioria das vezes não têm embasamento em dados de pesquisa (PICANÇO et al., 2004) Escassas são as referências a respeito do manejo de insetos num sistema de integração lavoura-pecuária, em uma área onde há pouca informação disponível em pesquisa propriamente dita, além de hipóteses e observações. O presente trabalho reúne informações levantadas na literatura e obtidas com a experiência acumulada pelos autores sobre a dinâmica da macrofauna do solo em sistema de integração lavoura pecuária. 2. A INTEGRAÇÃO LAVOURA – PECUÁRIA As propriedades agrícolas necessitam de alternativas de rotação que possam intensificar o uso da terra, aumentar a sustentabilidade dos sistemas de produção e melhorar a renda e que, segundo Moraes et al. (2002), pode ser obtida pela integração de cultivos anuais com pastagens. A integração lavoura-pecuária é uma forma de manejo que busque ter a propriedade voltada para a produção de grãos e carne simultaneamente e de forma programada, em que uma atividade beneficia a outra e ambas beneficiam o solo e o proprietário (BROCH et al., 2000). Dessa forma, a área estará sempre produzindo grãos e Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 2 de 16 carne ou leite inclusive. A inclusão de forrageiras sob pastejo dentro de um sistema agrícola proporciona uma série de benefícios que, de acordo com Humphreys (1997) e Mckenzie et al. (1999), ambos citados por Bona Filho (2002) se traduzem pela manutenção das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, uso mais eficiente dos recursos ambientais, racionalização na aplicação de adubos e defensivos, melhor controle de erosão, de poluição, de plantas daninhas, pragas e doenças, maior produtividade de grãos e animal por unidade de área e maior rentabilidade e estabilidade para a propriedade. Trata-se, portanto de um sistema multi-cultivo envolvendo pastagens e animais com culturas de grãos na mesma área, permitindo melhor utilização do solo e dos fatores ambientais de produção (FRANCIS, 1989), minimização dos riscos, dada pela diversificação da produção, e aumento da renda na propriedade rural (BONA FILHO, 2002). A exploração de áreas de inverno para a produção de carne ou leite pode aumentar a renda líquida da propriedade otimizando, desta forma, os custos de implantação de lavouras (ASSMANN, 2001). A integração lavoura-pecuária está sendo utilizada em várias regiões do país, mas numa adesão aquém do esperado. Isso se deve ao fato de a maioria dos pecuaristas praticarem uma pecuária extensiva, extrativista e de baixo investimento, e do receio dos agricultores em utilizar animais em pisoteio em suas nobres áreas de lavoura. Os resultados das pesquisas, contudo, demonstram não haver evidências de que o pisoteio tenha interferido negativamente nos atributos físicos (CARVALHO et al., 2003), exceto por um ligeiro aumento na densidade do solo na camada superficial do sistema lavoura-pecuária (SPERA et al., 2004). A integração lavoura - pecuária apresenta uma grande complexidade, envolvendo a relação solo-planta-animal (BONA FILHO, 2002), mas aparece como uma das estratégias mais promissoras para desenvolver sistemas de produção menos intensivo no uso de insumos, e por sua vez mais sustentáveis no tempo. 3. OS INSETOS E A ADUBAÇÃO NITROGENADA A condição básica para o crescimento, desenvolvimento e reprodução dos insetos são os nutrientes essenciais (aminoácidos, vitaminas e sais minerais) e os não essenciais (carboidratos, lipídeos e esteróis), os quais devem ser adequadamente balanceados, especialmente na relação proteínas (aminoácidos): carboidratos (PARRA, 1991). A proliferação e a intensidade do ataque de pragas estão relacionadas com o estado nutricional das plantas. Segundo Darolt (2003), a suscetibilidade da planta as pragas pode uma questão de nutrição ou de intoxicação. A planta fica suscetível ao ataque de pragas quando tiver na sua seiva, exatamente o alimento que precisam, ou seja, principalmente aminoácidos e açúcares solúveis. Uma planta bem alimentada e saudável apresenta uma Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 3 de 16 composição equilibrada, formando uma estrutura compacta, que dificilmente será atacada por pragas e doenças. Para melhor entender a resposta de insetos quanto à adição de nitrogênio em pastagens, Haddad et al. (2000) avaliaram a diversidade e abundância de insetos em uma área mantida por 14 anos com gradientes de adição de nitrogênio. O estudo demonstra que o uso deste elemento em grandes quantidades por um longo período afeta tanto a comunidade de plantas quanto a de insetos presentes. Assim como o uso excessivo de nitrogênio por longo tempo em pastagens reduz a riqueza das espécies e aumenta a biomassa das plantas, foi evidenciado também o aumento na abundância de insetos, mas com a redução da riqueza de espécies de insetos. A diversidade de espécies de insetos, como as espécies herbívoras e predadoras foram negativamente relacionadas com a quantidade de adição de nitrogênio. Já a quantidade de insetos presentes, principalmente os herbívoros e detritívoros foram positivamente relacionadas com a taxa de adição de nitrogênio. Haddad et al. (2000) conclui ainda que como resposta à interação entre predador e presa, poderemos também ter aumento das espécies de insetos predadores. Tem-se verificado que um dos grandes benefícios advindos da integração agricultura-pecuária é o aumento do teor de nutrientes nos solos. Até o momento não há estudos abordando a influência dos teores de nutrientes nos solos sobre insetos-praga onde se executa a integração agricultura-pecuária (PICANÇO et al., 2004), mas de modo geral, tem-se verificado que, com o aumento do teor de nutrientes nas plantas, aumentam as populações de insetos-praga nas plantas. Contudo, também com o aumento do teor de nutrientes nas plantas, estas toleram maiores intensidades de ataque de insetos-praga, os quais, mesmo presentes em maiores densidades, não causam danos econômicos às culturas (BASTOS et al., 2003). Também promove, de forma especial, a macrofauna benéfica, cuja atividade modifica as propriedades físicas, químicas e biológicas edáficas, favorecendo a fertilidade do solo e o crescimento das plantas (BROWN et al., 2003). 4. A MACROFAUNA DO SOLO O solo é um recurso crítico não renovável, cuja condição é vital para a produção de alimentos e também para o balanço global e funcionamento dos ecossistemas. É um sistema no qual a maioria de suas propriedades físicas e químicas e os processos que ocorrem são mediados pelos organismos que o habitam (DORAN et al., 1996). Os diversos organismos estão organizados em várias e intricadas comunidades que coletivamente contribuem com um amplo raio de serviços essenciais para o funcionamento sustentável dos ecossistemas: intervém no ciclo de nutrientes, regulam a dinâmica da matéria orgânica e atuam sobre o regime da água e estrutura física do solo. Em consequência melhoram a Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 4 de 16 eficiência na absorção de nutrientes por parte das plantas e seu estado sanitário (ANDERSON, 1994; PANKHURST, 1997). A cadeia trófica do solo está organizada em diferentes níveis de acordo com o tamanho dos indivíduos e se baseia fundamentalmente nas relações entre os micro-organismos e os invertebrados. A microflora (bactérias, fungos e algas) ocupa o primeiro nível e é o principal agente da atividade bioquímica; está envolvida diretamente em todos os processos biológicos e afeta os processos físicos e químicos. De sua parte a fauna intervém nos processos edáficos de duas maneiras, diretamente pela modificação física dos resíduos e do solo propriamente dito e indiretamente por meio das interações com a comunidade microbiana (GONZALEZ et al., 2001). A fauna do solo compreende uma grande variedade de organismos com tamanhos e estratégias adaptativas muito diferentes, especialmente quanto à mobilidade e modo de alimentação, o que determina a maneira que pode influir nos processos do solo (LINDEN et al., 1994). Centenas de espécies de insetos e ácaros podem ser encontradas vivendo e se reproduzindo nas pastagens e lavouras, porém poucas são as que provocam danos econômicos, sendo a maioria benéfica para a estabilidade do agroecossistema. As atividades humanas por meio das tecnologias aplicadas e de distintas práticas de manejo exercem importantes efeitos sobre a biota do solo, o que afeta a composição das comunidades e seu nível de atividade (LAVELLE, 2002). Ao nível local, a composição e distribuição das comunidades são afetadas por fatores tais como a disponibilidade de recursos, as condições microclimáticas, a fertilidade e a estrutura do solo (CORREIA, 2002). A macrofauna do solo constituem um grupo que está integrado pelos animais que tem comprimento do corpo superior a 2 mm (LINDEN et al., 1994) e que pertencem a distintos filos: Arthropoda (Classes Arachnida, Insecta, Crustácea e Myriapoda), Annelida, Nematoda e Mollusca. Operam em escalas de tempo e espaço mais amplas que os indivíduos menores. A maioria se caracteriza por ter ciclo biológico longo (até um ano ou mais), baixa taxa reprodutiva, movimentos lentos e pouca capacidade de dispersão (GASSEN & GASSEN, 1996). Por meio de suas atividades físicas e metabólicas participam em muitos processos. Como resultado da diversidade destes organismos e intensidade de suas atividades, ao fragmentar as partículas, produzir pelotas fecais e estimular a atividade microbiana, intervém no ciclo da matéria orgânica e de nutrientes, modificam a aeração e infiltração de água (CURRY, 1987; LINDEN et al., 1994). Para facilitar a complexidade da cadeia trófica do solo, têm sido propostas distintas classificações de grupos funcionais. Uma delas, quem sabe a mais útil, é a que divide a macrofauna do solo de acordo com o comportamento alimentício em herbívoros, detritívoros e predadores (BROWN et al., 2001). Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 5 de 16 Os herbívoros (fitófagos) se alimentam das partes vivas das plantas, os predadores de animais vivos e os detritívoros ou saprófagos se alimentam da matéria orgânica não viva de origem animal e vegetal (MOORE et al., 2004). As interações bióticas entre estes grupos funcionais são de grande complexidade (PRICE, 1988), como consequência da herbivoria realizada pelos invertebrados são afetados a quantidade e qualidade dos indivíduos predadores e detritívoros (WARDLE & BARDGETT, 2004). 4.1 Herbívoros ou Fitófagos Os herbívoros que habitam o solo em sua maioria são insetos e as ordens mais importantes são Coleoptera, Hymenoptera e Orthoptera (MASTERS, 2004). As espécies fitófagas da Ordem Coleóptera pertencem as Famílias Elateridae, Melolonthidae, Curculionidae e Chrysomelidae. Adultos e larvas são componentes das comunidades. Uma quantidade de indivíduos vive na superfície e com vegetação baixa, enquanto outros vivem em escavações no solo durante todo ou parte de seu ciclo de vida (CURRY, 1987). A abundância destes insetos é muito variável de um ambiente a outro e de um ciclo anual ao seguinte, o que dificulta uma análise qualitativa. Na Ordem Hymenoptera a Família Formicidae são consideradas os herbívoros mais importantes da América do Sul. A Família Gryllidae da Ordem Orthoptera tem alimentação onívora e são habitantes de vegetação rasteira. Estão presentes em gramíneas e leguminosas forrageiras e em áreas de semeadura direta (GASSEN & GASSEN, 1996). 4.2 Predadores Este grupo funcional está integrado por indivíduos pertencentes às Classes Arachnida e Insecta principalmente das ordens Coleóptera, Hemíptera, Neuroptera e Hymenoptera. Os integrantes da Ordem Araneae podem representar a metade dos predadores de um agroecossistema. São tão eficientes que afetam a população de organismos considerados pragas (RYPSTRA et al., 1999). Dentro da ordem Coleóptera os predadores são integrantes principalmente das Famílias Carabidae e Staphylinidae (CURRY, 1987). A Família Nabidae e alguns indivíduos das famílias Pentatomidae e Reduvidae representam a Ordem Hemíptera, enquanto na Ordem Hymenoptera, as Famílias Formicidae e Vespidae são predadoras generalistas (BENTANCOURT & SCATONI, 2001). Os grupos das aranhas, carabídeos, formigas e estafilinídeos são artrópodos predadores encontrados no solo de culturas agrícolas importantes para o controle de pragas. Torna-se necessário conhecer a resposta deles às diferentes práticas de manejo das culturas, para determinar opções Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 6 de 16 visando aumentar a densidade desses predadores nos sistemas de produção agrícola (STINNER & HOUSE, 1990). As aranhas estão entre os predadores mais numerosos e um importante fator de mortalidade de insetos pragas de lavouras (LILJESTHROM et al., 2002). A presença de várias espécies pertencentes a diferentes grupos sugere um importante efeito limitador das aranhas sobre as populações de insetos, assim como a importância das áreas naturais em técnicas de controle biológico além do potencial de capturar um número maior de presas do que consomem. 4.3. Saprófagos ou Detritívoros A este grupo pertencem um amplo raio de grupos taxonômicos, os mais importantes são Oligochaeta, Diplopoda, Isopoda e insetos pertencentes às ordens Coleoptera, Díptera e Isoptera (WARDLE, 1995). Em sua maioria são onívoros não seletivos. Em geral esses organismos que se alimentam de resíduos tem pouca capacidade para produzir mudanças químicas nos resíduos, o maior efeito é a mudança física através da diminuição do tamanho da partícula. Nas pelotas fecais se desenvolve importante atividade microbiana que é a que produz as transformações químicas (LAVELLE, 2002). As famílias de Tenebrionidae e Dermestidae da Ordem Coleóptera se alimentam de material em decomposição, enquanto que a dieta das subfamílias Scarabeinae e Aphodiinae da Família Scarabeidae são excrementos de vertebrados (CURRY, 1987). O interesse de pesquisadores e pecuaristas pelos besouros coprófagos foi estimulado a partir de 1960, com a observação de que 30 milhões de toneladas de excrementos de bovinos acumulavam-se anualmente na superfície das pastagens australianas, conforme descreve Rodrigues (1989). Para este autor a ação dos besouros coprófagos é extremamente benéfica: ao incorporarem massas fecais, liberam área para desenvolvimento de pastagem, e são excelentes agentes de controle biológico de dípteros e nematoides de importância veterinária. Efeitos benéficos indiretos incluem uma melhora na fertilidade, estrutura e aeração do solo, além da melhora da permeabilidade deste à água. 5. PRÁTICAS DE MANEJO A semeadura direta, como resultado da falta de movimentação e da presença de palhada na superfície, modifica fundamentalmente o ambiente na parte mais superficial do perfil do solo. O conteúdo de matéria orgânica aumenta, melhora a estrutura do solo e a capacidade de armazenar água são maiores, além de que as variações de temperatura do solo diminuem (BROWN et al., 2001). Essa técnica também promove, de forma especial, a macrofauna benéfica, cuja atividade modifica as propriedades físicas, químicas e biológicas edáficas, Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 7 de 16 promovendo a fertilidade do solo e o crescimento das plantas (BROWN et al., 2003). Os resíduos na superfície beneficiam os invertebrados de vários modos: são fontes de alimento, fornecem habitat e contribuem para estabilizar o microclima do solo (FAO, 2002). Acreditase que este ambiente também favorece aos organismos do solo, aos predadores e aos indivíduos saprófagos (BENITO & PASINI, 2002; BROWN et al., 2001, 2002; GASSEN & GASSEN, 1996). GASSEN (2001) cita que a abundância de palha na superfície do solo desenvolve ambiente favorável a diversidade de espécies, que resultam numa tendência de equilíbrio natural das populações. Os inimigos naturais das pragas encontram ali ambiente favorável para reprodução e sobrevivência e o controle biológico natural assume maior importância. Com respeito aos herbívoros, o comportamento é variável, alguns encontram um ambiente mais favorável que permite que se desenvolvam populações importantes enquanto outros são indiferentes às alterações provocadas por esta tecnologia (BROWN et al., 2002; STINNER & HOUSE, 1990). O efeito da vegetação deve ser analisado de duas maneiras, em função da variação espacial e temporal. O tipo, a riqueza de espécies vegetais e seu manejo têm efeito sobre a macrofauna do solo (ALTIERI, 1999), porque determina os recursos disponíveis e afetam a interação entre os herbívoros, seus predadores e os detritívoros (MOORE et al., 2004; SIEMANN, 1998). A continuidade espacial de um grande número de plantas de uma mesma espécie faz com que os herbívoros encontrem os recursos concentrados e haja uma mínima exposição a fatores adversos. Pelo contrário, os inimigos naturais colonizam em forma lenta e são menos abundantes porque os ambientes simplificados não proporcionam fontes alternativas adequadas de alimentação, refúgio e reprodução (ROOT, 1973). Em sistemas de cultivos anuais intensivos há uma redução na complexidade e estabilidade da comunidade biológica do solo (CURRY, 1987). A fauna original desaparece, as comunidades são menos abundantes e diversas, as populações de predadores diminuem e aumenta a possibilidade de desenvolver populações importantes de pragas. Isto tem sido reportado para uma grande variedade de cultivo, como arroz, milho e soja (LEE, 1985). O pastoreio é uma prática que afeta a macrofauna do solo. Os efeitos são causados por meio do corte da vegetação, do pisoteio e pela presença de fezes (MORRIS, 2000). De acordo com a altura de corte da vegetação se modificam o refúgio disponível, a disponibilidade de alimentos e as condições microclimáticas de temperatura e umidade. Em geral um incremento na intensidade de pastoreio é acompanhado por uma diminuição da diversidade da fauna que habita o solo, como consequência da simplificação da vegetação e da redução de massa verde e resíduos (CURRY, 1987; MORRIS, 2000). Com aumento de carga animal, os saprófagos passam a Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 8 de 16 ser mais abundantes, provavelmente devido ao aumento na quantidade de excrementos (DECAENS et al., 2001). Zerbino & Moron (2003) avaliando diferentes sistemas de cultivo e rotação, verificaram que a composição da comunidade da macrofauna do solo foi diferente, que nos sistemas de rotação lavoura-pecuária onde se registraram os maiores valores de espécies e abundância populacional. Quando o sistema de rotação lavoura-pecuária se encontrava na fase agrícola, a abundância total se reduz, tendendo a valores próximos as áreas de agricultura contínua com fertilizantes. É importante considerar que nem todos os artrópodos são pragas, pelo contrário, são em sua maioria benéficos, atuando como agentes de controle biológico natural ou decompositores (MOORE et al., 1988). Os sistemas de cultivo e o tipo de cobertura usada na entressafra são de grande importância na manutenção do equilíbrio da teia alimentar das comunidades de artrópodos do solo e podem ser usados como um instrumento para manter o equilíbrio entre a praga e seus inimigos naturais (STINNER & HOUSE, 1990). O tipo de cobertura de inverno afeta a população de inimigos naturais por servir de alimento para muitos organismos que auxiliam a manter a população de predadores (ROBERTSON et al., 1994). Caixeta et al. (2005) pesquisou os efeitos de diferentes manejos do solo e de tipos de cobertura plantadas no inverno, sobre a população de artrópodos em solo sob cultivo com feijoeiro orgânico. Os tratamentos testados pouco interferiram na riqueza da fauna artrópoda do solo, não sendo observado efeito do tipo de cobertura na atividade de predadores (aranhas e carabideos) e de coleópteros pragas. Realizando pesquisa com artrópodos nas culturas da soja e milho cultivados após aveia submetida a diferentes níveis de pastejo e adubação nitrogenada, Silveira (2007), concluiu que tanto a presença de animais pastejando na área durante o inverno quanto à adubação nitrogenada não influenciou as populações de artrópodos pragas ou predadores na cultura subsequente. Na agricultura a diversidade na população de insetos está correlacionada com fatores como as práticas culturais e de manejo do solo, a heterogeneidade do ambiente e a riqueza de espécies de plantas. O aumento de insetos herbívoros favorece o aumento e diversidade de insetos predadores e parasitoides (HADDAD et al., 2001). Integrar culturas apropriadas de cobertura com a conservação da palhada tem inúmeros benefícios: combate a erosão do solo, aumenta níveis de matéria orgânica, melhora drenagem do solo, melhora a retenção de nutrientes e redução de plantas daninhas, e que resultam como abrigo para estabilização de inimigos naturais e na restauração do controle natural de pragas das culturas (LEWIS et al., 1997). Outras medidas preventivas incluem rotação de culturas, evitar monocultura em larga escala, permitir áreas de escape sem plantio e áreas marginais como refúgio para os inimigos naturais, as quais Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 4ª edição - fevereiro de 2016 - página 9 de 16 contribuirão, com certeza, para prevenir ressurgência de pragas. Descreve Gassen (2001) que no plantio direto têm-se condições propícias para o equilíbrio, pois a palha e o não preparo do solo ocasionarão maior diversidade de insetos benéficos e outros organismos, agentes naturais de controle. A ausência de revolvimento do solo e a presença da palhada, por outro lado, propiciam o aparecimento de insetos de ciclo longo, como corós e tamanduá da soja, além da presença de insetos provenientes da cultura anterior. Frequentemente, os danos serão maiores nas fases iniciais das culturas e em culturas com população pequena de plantas (FERNANDES, 2000). 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso de nitrogênio na cultura anterior, no caso a aveia não é motivo suficiente para modificar a ocorrência e flutuação populacional de insetos pragas, predadores e saprófagos, apesar de favorecer maior desenvolvimento de massa seca na aveia e a produção de milho. Analisando a situação da integração lavoura-pecuária, a mesma pode ser considerada benéfica, pois o pastejo favorece a população de predadores e reduz a população de insetos pragas. Embora os trabalhos apresentados não demonstrem efetivamente os benefícios ou não do sistema de integração lavoura-pecuária sobre a população de artrópodes, não se descarta a influência deste sistema na melhoria das condições de cultivo. Novos estudos contemplando o acompanhamento por um período mais longo poderão corroborar as tendências de que diferentes níveis de pastejo e quantidade de palhada, com o contínuo acúmulo de matéria orgânica nas camadas superficiais do solo em diferentes estágios de decomposição, promovam a conservação e aumento da fertilidade do solo ao longo dos anos, provocando também alterações na população de artrópodes, beneficiando o equilíbrio natural das populações de inimigos naturais e a consequente redução da população de insetos indesejados. REFERÊNCIAS ALTIERI, Miguel Angel. El agroecosistema:determinantes, recursos, processos y sustentabilidad. In: ALTIERI, M. 1999 (Ed.) Agroecologia: Bases científicas para uma agricultura sustentable. Montevideo, Nordan Comunidad. 1999. p. 47-70. ANDERSON, Jonathan Michael. Functional attributes of biodiversity in land use systems. In: GREENLAND, D.J.; SZABOLCS, I. (Eds.). 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