UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO POLÍTICA DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: O reassentamento da comunidade do Araxá/Campina Grande-PB em busca da garantia do direito à moradia. Ana Luiza Severino Bezerra Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Yure Silva Lima Professor da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB RESUMO: A Política de Habitação de Interesse Social destaca-se no cenário nacional a partir do ano de 2003 quando é criado o Ministério das Cidades, avolumando consideravelmente as intervenções habitacionais. Ponderando o déficit habitacional uma demanda complexa, neste trabalho buscou-se identificar a satisfação dos beneficiários em relação à ocupação das unidades habitacionais e disponibilidade dos serviços urbanos, no bairro do Araxá/Campina Grande-PB, questionando-os sobre a utilização das áreas comuns, como vem ocorrendo a sua adaptação a nova moradia e os benefícios mais importantes do reassentamento. Este é um estudo descritivo, de cunho qualitativo, tendo como sujeitos do estudo famílias beneficiárias diretas do Projeto de Urbanização de Assentamentos Subnormais do bairro em questão. A coleta de dados se fez mediante aplicação de questionário e a definição do número de participantes correspondeu a 10% do universo de 358 famílias beneficiárias, reassentadas no período 2009-2011. Por fim, percebe-se que conquista da moradia é indispensável para o exercício da cidadania destas comunidades, mas não encerra esta trajetória, pois pensar em intervenção habitacional com efetividade requer um olhar mais amplo da realidade, passando por questões de educação, saúde, geração de trabalho e renda, entre outras, envolvendo dimensões econômicas, políticas, sociais e culturais. PALAVRAS-CHAVE: Habitação de Interesse Social. Direito à moradia. Reassentamento. 1 - INTRODUÇÃO O Brasil é considerado um país predominantemente urbano e segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a taxa de urbanização chegou a 84,4% no ano de 2010. Este intenso processo de urbanização está relacionado com a 2 reprodução de desigualdades sociais, expressa pela falta de acesso a equipamentos e serviços públicos, com moradias precárias, a violência urbana, entre outros. O déficit habitacional é uma demanda complexa a ser enfrentada pelo poder público, visando à promoção do direito à moradia a todos os cidadãos, especialmente após a sua inserção enquanto direito social no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, através da Emenda Constitucional nº. 26, no ano 2000. A atuação do Estado na política habitacional é sistematizada no período ditatorial e após a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1986, suas atribuições são transferidas para a Caixa Econômica Federal, que passa a executar a política habitacional a partir de uma concepção financeira, não assistindo a camada populacional de 0 a 3 salários mínimos. Somente no ano de 2003, através da Lei nº 10.683 é criado o Ministério das Cidades e desde então são várias as tentativas do Governo Federal e demais entes federativos em promover melhores condições de vida para aqueles excluídos do acesso à cidade e demais políticas públicas urbanas, através da implementação de programas/projetos de habitação, saneamento, transporte, trânsito e planejamento territorial. É importante atentar para o fato de que a moradia está além da construção de casas, perpassando questões sociais, econômicas e culturais que condicionam a adaptação das famílias beneficiárias e geram novas formas de sociabilidade. Sendo assim, a dificuldade de adaptação no início da pós-ocupação é um fator importante a ser considerado em se tratando da efetividade dos projetos que concorrem para a redução do déficit habitacional, visto que, tais famílias viveram, por muito tempo, em casas maiores, apesar das precárias condições e das áreas irregulares, sem exigências legais ou normais instituídas. Surgem novos desafios para tal processo adaptativo, principalmente pela redução do espaço externo das moradias e pelo uso coletivo de algumas áreas, a exemplo dos quintais e escadas. A permanência dos beneficiários nas unidades habitacionais instiga demandas a serem pesquisadas sobre até que ponto as necessidades financeiras ou a não identificação com a modalidade construtiva das casas podem influenciar neste processo de adaptação às novas moradias. Sendo assim, nesta pesquisa buscou-se identificar a satisfação das famílias beneficiárias diretas do reassentamento do bairro Araxá/Campina Grande-PB em relação à ocupação das unidades habitacionais e disponibilidade dos serviços urbanos, como vem ocorrendo a adaptação dos mesmos e identificar as modificações produzidas pelos moradores nas novas casas. Para tanto, procurou-se pontuar aspectos importantes relativos à trajetória da Política de Habitação de Interesse Social, a importância da participação social através dos 3 movimentos de moradia na implementação desta política e elementos da Política de Habitação de Interesse Social no município de Campina Grande/PB. Logo, afirma-se a necessidade de uma política urbana que promova a integração social e territorial de toda a população que vive em assentamentos urbanos precários e que ultrapasse a simples entrega da casa, mas, também difunda uma nova cultura urbana, inclusiva, redistributiva, participativa e sustentável, para que, enfim, o déficit habitacional possa ser enfrentado com efetividade. 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O reassentamento da comunidade do bairro do Araxá/Campina Grande-PB realiza-se em busca da garantia do direito à moradia digna, integrando uma área subnormal ao conjunto da cidade através da sua regularização urbanística e fundiária. Nesse contexto, algumas questões se apresentam no tocante à efetividade dos projetos que concorrem para a redução do déficit habitacional, incitando demandas a serem pesquisadas sobre o processo de adaptação e pertencimento a estas novas moradias por parte das famílias beneficiárias. Sendo assim, habitar determinado espaço implica determinações sociais, econômicas e culturais, enquanto aspectos relevantes para a operacionalização da Política de Habitação de Interesse Social, cuja intersetorialidade com as demais políticas públicas ainda se coloca como um desafio. 2.1 Trajetória da Política de Habitação de Interesse Social. O direito à moradia está previsto no Art. 6º da Constituição Federal de 1988, alterado pela Emenda Constitucional nº. 26/2000, que passou a vigorar com a seguinte redação: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição." Contudo, há que se destacar a atuação do Estado na política habitacional, dando-lhe diretrizes nacionais, a partir da instituição do Plano Nacional de Habitação (PNH) e a criação 4 do Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1964, cujo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) tinha seus recursos originados, basicamente, da arrecadação do Sistema Brasileiro de Empréstimos e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O BNH sistematizou a política habitacional no governo militar, como forma de conter as tensões da área urbana que reivindicavam o direito de moradia, apresentando características centralizadoras, como: administração autoritária; inexistência de participação na concepção dos programas e projetos; falta de controle social na gestão dos recursos; construção de conjuntos habitacionais como única forma de acesso à moradia; ausência de estratégias para incorporar processos alternativos de produção da moradia, como a autoconstrução, nos programas públicos. Dessa forma, foram realizados projetos padronizados, sem respeitar as peculiaridades regionais e culturais, fomentou a indústria da construção civil e favoreceu agentes financeiros através da captação de recursos do FGTS. A segregação territorial e o espraiamento das cidades são conseqüências negativas desse crescimento fragmentado e periférico reforçando os contrates socioespaciais, que segundo Maia (2010) também são perceptíveis na cidade de Campina Grande-PB, cuja periferia cresce de forma heterogênea, tanto com loteamentos fechados da população de alta renda, como com os novos conjuntos habitacionais construídos pelo Estado para a população de baixa renda. Com o processo de redemocratização do país e emergência de vários movimentos sociais, que reivindicavam inclusive moradia digna, as três esferas de governos: Federal, Estaduais, Municipais e Distrito Federal, se viram forçadas a descentralizar e formular estratégias para o enfrentamento da questão habitacional, utilizando recursos orçamentários próprios e apoiados nas tradicionais práticas de mutirão. No governo Fernando Henrique (1995-2003), são retomados os financiamentos com base nos recursos do FGTS, e segundo Bonduki e Rossetto (2008, p. 08), os programas focados na urbanização de áreas precárias, a exemplo do Pro Moradia, tiveram fraco desempenho. Em 1999 é criado o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), voltado para a produção de novas unidades habitacionais para arrendamento, inicialmente gerido pela Caixa Econômica Federal, passando sua gestão ao Ministério das Cidades no ano de 2004. A implementação de tais programas não influenciou na redução do déficit habitacional, uma vez que o acesso à moradia continuou restrito aos que podiam pagar pela aquisição da casa própria. Sobre os investimentos realizados na política habitacional durante o governo FHC, Bonduki e Rossetto (2008, p. 08) relatam que “apenas 8,47% foram destinados 5 para a baixíssima renda (até 3 Salários Mínimos) - faixa de salário onde se concentram 83,2% do déficit habitacional quantitativo.” Nesse período merece destaque a aprovação do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), a principal legislação de regulação do espaço urbano que tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, aprovado em 2001, depois de 13 anos de tramitação. A criação do Ministério das Cidades em 2003 é um marco na política urbana e nas políticas setoriais de habitação, saneamento, transporte e planejamento territorial, preenchendo um vazio institucional deixado pela extinção do BNH e fortalecendo a descentralização e municipalização das referidas políticas. O Conselho das Cidades (ConCidades) criado pelo Decreto 5.031/04, tem a finalidade de estudar e propor diretrizes para a formulação e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), bem como acompanhar a sua execução. No ano de 2005, o ConCidades aprova a Política Nacional de Habitação (PNH)1, quando é sancionada a Lei nº. 11.124/05, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Em 2007, o governo Lula (2003-2010) lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), contemplando o setor habitacional com investimentos em infraestrutura e estímulo ao crédito e ao financiamento, ampliando também a discussão sobre os problemas de regularização fundiária. O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), lançado em 2009, pretende viabilizar o acesso a um milhão de moradias para famílias com renda mensal de até 10 salários mínimos e colocou a habitação de interesse social na agenda do país. Em 2011 é lançado o Programa Minha Casa Minha Vida 2 que estabeleceu como principal meta o financiamento da construção de dois milhões de moradias até o ano de 2014, beneficiando famílias com renda mensal de até R$ 4.600,00, incluindo, também, a produção ou reforma de habitações rurais. É importante reconhecer que este foi um passo importante no sentido de construir políticas públicas destinadas a garantir o direito à habitação, contudo, é imprescindível que se atente para a questão urbana, relacionada com a estrutura política, econômica e social, gerando desigualdades sociais e exclusão socioterritorial. 1 Acesse a PNH na íntegra: http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao/politicanacional-de-habitacao/4PoliticaNacionalHabitacao.pdf 6 O PNH já percorreu um longo caminho, mas ainda há muito que se construir. A participação e controle social tornam-se instrumentos relevantes na gestão de tais políticas, buscando-se um meio termo no qual crescimento econômico e desenvolvimento social possam caminhar juntos pela garantia da equidade e justiça social. 2.2 Movimentos de Moradia: a participação social na implementação da Política de Habitação de Interesse Social. Estado e sociedade civil, através dos movimentos sociais, estabelecem relações permeadas de contradições e de permanentes disputas de projetos políticos nos espaços públicos. A mobilização pela emenda da Reforma Urbana aglomerou diversos atores sociais, como movimentos sociais; sindicatos; associações; Organizações Não Governamentais (ONGs); intelectuais; entre outros, gerando redes de articulação como o Fórum da Reforma Urbana2. A nova PNH direciona-se ao fortalecimento da cidadania, da participação e da democracia, apresentando como um de seus princípios a gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade possibilitando controle social e transparência nas decisões e procedimentos. A defesa da participação social na política habitacional é uma das principais bandeiras de luta da sociedade civil, com destaque para a participação na discussão e implementação dos projetos e programas, para a criação de conselhos gestores que definam as diretrizes da política habitacional e a destinação dos recursos nas três esferas de governo; a realização de conferências de habitação, e também a implantação de programas autogestionários, nos quais as associações de moradores assumem a gestão do empreendimento. É preciso que se aprenda a pensar mais articuladamente, orientando a gestão pública em todos os níveis, porque as demandas habitacionais deste país são complexas e históricas, e sem vontade política, recursos e ações conjuntas bem definidas, a efetividade de quais quer políticas públicas se tornará utópica. Dessa forma, o conceito de governança assume importância, que segundo Azevedo (1999, p. 66) está além da capacidade administrativa do Estado, ao passo que envolve o sistema de intermediação de interesses, onde a participação da 2 Desde fins da década de 80, congrega movimentos populares, associações de classe, ONGs e instituições de pesquisa que querem promover a Reforma Urbana, lutando pela garantia da moradia de qualidade, água e saneamento, transporte acessível e eficiente. 7 sociedade civil no processo de definição, acompanhamento e implementação de políticas públicas será decisivo para a sustentabilidade das mesmas. Nesse contexto é que os Conselhos gestores se constituem como uma importante experiência de participação social e espaço de gestão democrática, ampliando o debate entre governo e sociedade em busca de eficiência e efetividade das políticas públicas. 2.3 Elementos da Política de Habitação de Interesse Social no município de Campina Grande/PB. O município de Campina Grande, de acordo com dados divulgados pelo IBGE, com uma população estimada em 385.213 habitantes no ano de 2010 e apresenta uma taxa de urbanização de 95%. Conforme dados do Diagnóstico do Setor Habitacional, realizado pela Secretaria de Planejamento para elaboração do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, no ano de 2009, o déficit habitacional corresponde a aproximadamente 16 mil novas moradias para famílias com renda mensal entre 0 e 3 salários mínimos. A crescente demanda por moradias é um problema em todas as regiões do país e de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD, 2009), o déficit habitacional brasileiro é de 5,8 milhões de moradias. O Termo de Adesão da Prefeitura de Campina Grande ao Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) foi realizado em julho de 2007, quando houve o comprometimento de se criar o Conselho Gestor e o Fundo Municipal de Habitação, critérios para que a cidade se habilite e possa receber os recursos dos programas federais de Habitação de Interesse Social e de agências internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Projeto de Lei de nº 088/2009, que dispõe sobre a Política Municipal de Habitação (PMH), cria o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (PMHIS) e institui o Conselho Gestor do Fundo, foi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal. O PLHIS é uma exigência da Lei Nº 11.124/05, que norteia a definição das estratégias, o desenho dos programas habitacionais e as prioridades de investimentos, que devem ser discutidas entre o governo e sociedade civil. Este é um mecanismo eficiente em direção ao planejamento local do setor habitacional e definição de um plano de ação para enfrentar seus principais problemas, especialmente no tocante à habitação de interesse social. No âmbito da PLHIS são propostos programas de provisão de unidades habitacionais, urbanização de 8 assentamentos precários, regularização fundiária, melhorias habitacionais e desenvolvimento institucional. Os órgãos governamentais que atuam na cidade em direção da diminuição do déficit habitacional são: Companhia Estadual de Habitação Popular (CEHAP) e a Secretaria Municipal de Planejamento (SEPLAN). De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Campina Grande, as metas de construção de novas unidades habitacionais no município são: Nome do Assentamento Colinas do Sol Três Irmãs Acácio Figueiredo Raimundo Suassuna Novo Cruzeiro Nova Palmeira Bodocongó Malvinas Fronteiras Serrotão Araxá Bodocongó Novo Horizonte Jardim Europa Bodocongó III Pedregal Bairro das Cidades Total Programa Cehap MCMV PAC UCES3 HBB4 PSH/OGU5 Nº de UH Sub-Total 406 639 1143 3334 813 333 950 1062 912 5044 1000 1120 460 472 1088 56 100 100 100 160 160 367 367 10 093 Tabela 1: Metas de construção de novas unidades habitacionais no município Fonte: Prefeitura Municipal de Campina Grande, 2010 Contudo, o que pode-se perceber é que a política municipal de habitação é formulada a partir de um modelo centralizador, destacando a atuação dos atores políticos governamentais em todo o processo. Dessa forma, o ciclo da política acontece de forma estanque, distanciando e fragilizando os processos de formulação, implementação e monitoramento, o que compromete a efetividade da política, pouco contribuindo para a efetividade das ações voltadas à redução do déficit habitacional do município de Campina Grande. No tocante a intersetorialidade das políticas públicas, esta não acontece, dificultando o atendimento integrado das demandas postas pelo seu público alvo. A política de habitação 3 UCES: União Campinense de Equipamentos Sociais. HBB: Habitar Brasil/BID. 5 PSH/OGU: Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social/Orçamento Geral da União. 4 9 acontece com se fosse algo separado e distinto das demais políticas, sem que se atente para a importância da integralidade das ações. 3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa realizada trata-se de uma análise cujo objetivo é apresentar uma realidade específica. Neste estudo serão utilizados dados quantitativos e qualitativos, dando ênfase maior aos dados qualitativos, procurando conhecer como determinados fenômenos se manifestam (ZANELLA, 2009). O campo de estudo é a comunidade reassentada no bairro do Araxá, na cidade de Campina Grande – PB, cuja ocupação irregular ocorrida a mais de vinte anos em área de domínio público, desprovida de infra-estrutura urbana, habitações de baixo padrão construtivo, desordenamento urbanístico, sendo área de risco, dada a proximidade da linha férrea, além de ser cortada por um canal, cujo esgoto corria a céu aberto. O universo de uma pesquisa, conforme Marcone e Lakatos (2002, p. 225), refere-se ao “[...] conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”. Dessa forma, o universo desta pesquisa abrange 358 famílias beneficiárias diretas do Projeto de Urbanização de Assentamentos Subnormais residentes no bairro da Araxá/CG, que já residem no novo Conjunto Habitacional, tendo sido reassentadas no período 2009-2011. Em se tratando de um estudo qualitativo, a amostra da pesquisa constará de 10% do seu universo, equivalendo a aplicação de 36 questionários, selecionados aleatoriamente, a partir de uma lista contendo os nomes dos respectivos beneficiários, disponibilizada pela Equipe Técnica Social responsável pela execução do Projeto Técnico de Trabalho Social. A coleta de dados se fez mediante a pesquisa bibliográfica, realização de visitas domiciliares e aplicação de questionário, no mês de novembro de 2011. O referencial teórico foi coletado a partir da pesquisa bibliográfica por permitir a leitura de informações sobre a temática estudada, possibilitando uma posição crítica do pesquisador. Utilizamos a investigação de caráter exploratório e descritivo, devido “os estudos exploratórios permitirem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema. O pesquisador parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade [...]” (TRIVINÕS, 1987, p. 109). Também foram aplicados questionários, constituídos por uma série ordenada de perguntas referentes ao tema de 10 pesquisa, a fim de identificar a satisfação dos beneficiários em relação à ocupação das unidades habitacionais e disponibilidade dos serviços urbanos. De posse dos dados, foram extraídos os temas referentes aos objetivos da pesquisa e ponderados a partir da análise de conteúdo, uma vez que, segundo Minayo (1992, p. 74) “Através da análise de conteúdo podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação”. Corrobora-se o compromisso com a socialização dos resultados da pesquisa, ressaltando o intuito de fornecer subsídios para a implementação de políticas públicas que concorram para o acesso e à efetivação dos direitos sociais. 4 - ANÁLISE DE RESULTADOS 4.1 O perfil socioeconômico dos beneficiários do Projeto de Urbanização de Assentamentos Subnormais do bairro do Araxá em Campina Grande/PB. Os sujeitos da pesquisa corresponderam a 36 famílias beneficiadas diretamente com o Projeto de Urbanização de Assentamentos Subnormais do bairro do Araxá, podem ser caracterizados de acordo com o sexo e a faixa etária, sendo notável a predominância do sexo feminino, na faixa entre 35 e 51 anos de idade, conforme a Tabela 2: Categorias De 18 a 30 anos % 33,4 De 31 a 50 anos 47,2 Mais de 51 anos 19,4 Masculino 22,2 Feminino 77,8 Tabela 2 – Sexo e faixa etária dos sujeitos da pesquisa Fonte: Sistematização dos autores. Novembro, 2011 De acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE, 2010), de 1999 para 2009, o número médio de pessoas na família, considerando os diversos arranjos familiares, tem caído, destacando-se aqui as famílias mais pobres (renda mensal per capita de até ½ salário mínimo), cujo número médio de pessoas por família chega a 4,2. Na comunidade reassentada do Araxá tal fato se confirma, ao passo que 55,5% dos entrevistados informaram que suas 11 famílias são compostas entre 04 e 06 pessoas, 38,9% são compostas de 01 a 03 pessoas e 5,6% têm famílias compostas por 07 pessoas, de acordo com a Tabela 3: Número de pessoas 04 a 06 01 a 03 07 % 55,5 38,9 5,6 Tabela 3 – Número de pessoas residentes. Fonte: Sistematização dos autores. Novembro, 2011 Quando questionados acerca da escolaridade, percebemos que o acesso ao ensino formal por parte dos adultos é defasado. Conforme a Tabela 4 percebe-se que 58,3% cursaram o ensino fundamental, 22,2% chegaram a cursar o ensino médio e 19,4% informaram nunca ter freqüentado escola. Escolaridade Ensino Fundamental Ensino Médio Não alfabetizados % 58,3 22,2 19,4 Tabela 4 – Escolaridade dos sujeitos da pesquisa. Fonte: Sistematização dos autores. Novembro, 2011 Em se tratando de um grupo de indivíduos em condição produtiva para o mercado de trabalho, os mesmos sobrevivem do trabalho informal (subemprego, trabalho terceirizado, parcial, temporário), vítimas do desemprego e da exclusão social urbana. Diante de tal fato, o tipo de ocupação de 19,5% dos entrevistados era informal, 69,4% estavam desempregados e 11,1% eram aposentados ou pensionistas, em conformidade com a Tabela 5: Ocupação Desempregado Informal Aposentado/Pensionista % 69,4 19,5 11,1 Tabela 5 – Escolaridade dos sujeitos da pesquisa. Fonte: Sistematização dos autores. Novembro, 2011 Correlacionada a essa informação, a renda familiar mensal de 36,1% das famílias não atingia um salário mínimo, 44,4% chegava a 01 salário mínimo, 5,5% estava entre 02 e 03 salário mínimos e 13,9% não souberam informar o rendimento mensal da família, de acordo com os dados da Tabela 6: 12 Rendimento Mensal 01 Salário Mínimo Menos de 01 Salário Mínimo 02 a 03 Salários Mínimos Não souberam informar % 44,4 36,1 5,5 13,9 Tabela 6 – Rendimento mensal das famílias beneficiárias. Fonte: Sistematização dos autores. Novembro, 2011 Dessa forma, percebemos que entre os entrevistados, além das péssimas condições de habitabilidade, acessavam precariamente os serviços de educação, saúde e trabalho, cuja garantia de direitos sociais estava longe da sua realidade. 4.2 A adaptação e satisfação da comunidade reassentada aos novos espaços ocupados. É importante que a cidade seja observada enquanto uma estrutura dinâmica que se transforma historicamente, sendo uma organização socioespacial, com suas diversas partes em constante influência mútua, sendo também palco de luta pela sobrevivência, trabalho e moradia (PAZ e TABOADA, 2010). O processo de reassentamento da comunidade do Araxá/Campina Grande-PB imprimiu mudanças na forma de habitabilidade das famílias, exigindo um processo de adaptação por parte das mesmas aos novos espaços ocupados. A maioria dos entrevistados ainda faz relações entre a nova e a antiga moradia, referindo-se, principalmente ao tamanho das casas e aos quintais, e também ao fato de não poderem realizar ampliações nas casas. Neste sentido complexo de morar é que Nalin (2007, p. 96) afirma “que o cenário que envolve o hábitat é complexo, relacional e não está atrelado somente à casa, mas estabelece outras imagens ou outros tantos espaços”. Compreender o significado da moradia para estas famílias está além das melhorias objetivas como o acesso a serviços básicos de esgotamento sanitário, energia elétrica, ruas pavimentadas ou água tratada e encanada. É importante, também, que se considerem as significações daqueles barracos de taipa e/ou casas de alvenaria de baixo padrão construtivo, pois elas estão carregadas pela história de vida de muitas pessoas que muito tempo não 13 conheceu outra forma de se habitar, uma vez que, “o homem projeta em seu espaço a forma como se relaciona com o mundo, com os outros e consigo mesmo” (NALIN, 2007, p. 97). Quando questionados sobre a utilização de áreas comuns, como a escada e o quintal, 55,6% dos entrevistados avaliaram este aspecto negativamente, pois nunca vivenciaram a experiência de residirem um dúplex6, tendo como reclamações mais freqüentes o barulho vindo da movimentação no 1º andar e a falta de limpeza das escadas. Os 30,5% que se colocaram indiferentes a esta situação, argumentaram que, por residirem na parte térrea dos duplex, não sentiram dificuldades em dividir tais espaços e os 13,9% que avaliam a utilização das escadas e quintais positivamente pontuaram como fator importante a preservação da antiga vizinhança. A situação precária em que tais famílias viviam as colocava em risco cotidianamente, além de serem privadas de serviços básicos, principalmente os de saúde e saneamento. As famílias beneficiadas pontuam, freqüentemente, as dificuldades enfrentadas por elas, principalmente no inverno, uma vez que, as ameaças de desabamento eram constantes, além das péssimas condições de mobilidade dentro da área de ocupação. Sendo assim, quando perguntados sobre os benefícios do reassentamento, por ordem de importância, os entrevistados elegeram como melhoria mais significativa a urbanização da área, elencando os demais na seguinte ordem: Categorias - % Urbanização da área Melhor estrutura da casa Facilidade de acesso aos equipamentos comunitários e serviços públicos Segurança 1º 97,2 2,8 2º 3º 4º 2,8 __ __ 52,8 33,3 11,1 __ 33,3 44,4 22,2 __ 11,1 22,2 66,7 Tabela 3 – Benefícios do reassentamento de acordo com entrevistados Fonte: Sistematização dos autores, 2011 Em se tratando do tamanho das casas, para o atendimento das necessidades das famílias beneficiárias, 63,9% delas, apesar de considerá-las pequenas, afirmam estar satisfeitas, pois logo comparam a estrutura física da atual moradia com a antiga, normalmente de taipa e com instalações elétricas e hidráulicas irregulares. Já 36,1% dos entrevistados consideram que as novas casas não atendem as necessidades da sua família, seja pelo número de pessoas residentes, seja pela impossibilidade de ampliação, condição importante para a 6 Tipologia das unidades habitacionais (UHs) entregues às famílias reassentadas no bairro do Araxá/Campina Grande-PB. Constitui-se de um bloco com quatro UHs, sendo dois térreos e dois 1º andares, medindo 44,5 m2 cada unidade. 14 obtenção de renda dos mesmos, visto que alguns tiveram que vender animal, carroças ou não tem um lugar fechado para acomodarem os materiais recicláveis coletados, conforme se pode ver na foto a seguir: Foto 1 – Materiais recicláveis acumulados. Fonte: Acervo da pesquisadora. Novembro, 2011 Assim, nota-se que a infraestrutura da casa associada à urbanização são fatores determinantes no processo de adaptação dos novos conjuntos habitacionais por parte dos moradores, principalmente quando estes não precisam ser reassentados para outras localidades. Contudo, a falta de espaço externamente é um fator relevante neste processo. De fato, há uma urgência no desenvolvimento de métodos e técnicas para a produção de moradias necessárias ao enfrentamento do déficit habitacional brasileiro, bem como a preocupação no sentido de que elas sejam erguidas com qualidade. Mais que uma casa, as intervenções habitacionais buscam garantir o acesso a direitos sociais e integrar assentamentos irregulares à cidade. Ter mais qualidade de vida é uma questão unânime entre todos os entrevistados, passando por questões de segurança, acessibilidade e condições dignas de moradia. Contudo, novas formas de morar impactam diretamente na sua organização social, inclusive nas diversas formas como essas famílias estabelecem sua renda familiar. Sendo assim, a inclusão dos assentamentos precários ao tecido urbano da cidade, com vistas à garantia do direito à moradia é um desafio tanto para o poder público, quanto para a sociedade civil, que deve se colocar cada vez mais participativa para que suas demandas sejam atendidas, respeitando a diversidade que lhe é inerente. 4.3 Interferências produzidas pelos moradores no ambiente construído. 15 Os Projetos de Urbanização de Assentamentos Precários, a exemplo do desenvolvido no bairro do Araxá/Campina Grande-PB, cujo procedimento ocasiona a mudança de local de moradia, apesar da pouca distância, das famílias beneficiárias, com vistas à melhoria das condições de habitabilidade, traz à tona um processo de mudanças que, por vezes, causa rompimentos de vínculos e alterações no cotidiano dos moradores. Tal fato incide diretamente sobre a apropriação ou abandono das novas moradias, visto que, a partir de determinado padrão construtivo, todas as famílias são enquadradas em um mesmo arquétipo de habitação com os quais não estavam acostumadas, fazendo surgir a necessidade de um processo adaptativo a nova forma de morar. Das intervenções construtivas nas unidades habitacionais realizadas pelos moradores, 33,4% já realizaram alguma intervenção na casa, sendo que a mais comum é a construção de muro ou cerca, apesar da Prefeitura Municipal de Campina Grande não autorizar, visto que, o projeto original será descaracterizado. Na Foto 2 constata-se que a existência do grande número de cercas nos fundos das casas: Foto 2 – Cercas no quintal das casas. Fonte: Acervo da pesquisadora. Novembro, 2011 Também verificamos que alguns entrevistados promoveram melhorias internamente, como pintura, revestimento do piso com cerâmica e troca de janelas. Os outros 66,6% dos entrevistados que não realizaram intervenção nas casas, não o fizeram por não terem autorização e nenhum tipo de orientação para promovê-la. Contudo, todos os entrevistados expressaram o interesse em realizar alguma ampliação para uso da própria família, sendo prioridade a construção de mais um quarto e/ou aumento da área da cozinha. Na Foto 3 notase a realização de melhorias como pintura, revestimento em cerâmica e grades no portão e janelas: 16 Foto 3 – Pequenas melhorias realizadas. Fonte: Acervo da pesquisadora. Novembro, 2011 Neste ponto, há uma grande insatisfação das famílias beneficiárias com relação ao projeto, pois as mesmas não se julgam proprietárias das suas casas por não poderem adaptálas as suas necessidades e nem possuírem nenhum documento que comprove a sua titularidade. A forma como se dá o processo de adaptação de tais espaços é um aspecto relevante para a sustentabilidade dessas novas comunidades, que apresentam peculiaridades e, portanto, demandam ações que não somente tentem padronizá-las. Na busca pela garantia de direitos sociais, tais intervenções habitacionais buscam integrar ocupações irregulares à cidade. Dessa forma, é importante se atentar para questões físicas, fundiárias e sociais, na tentativa de que tal política possa ter efetividade. 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das ponderações acerca da trajetória da Política de Habitação de Interesse Social brasileira, alguns apontamentos de como esta vem sendo implementada e a importância dos movimentos sociais neste processo, se pode indicar neste trabalho, algumas considerações que se acredita serem importantes para a compreensão de alguns conceitos, construídos historicamente, que perpassam e orientam, de forma consciente ou não, a ação diária dos gestores públicos. Não obstante, tem-se a clareza de que esse estudo não é ponto de partida – dada a produção analítica acerca de tal questão – nem ponto de chegada, pois a realidade é muito complexa e dinâmica, carregada de determinações, que configuram e reconfiguram a totalidade social. 17 É notória a importância do entendimento de que a PNHIS está além da construção de moradias para famílias pobres. Este é um direito dos cidadãos em situação de vulnerabilidade social, que deve ser prestado com qualidade e interligado com as demais políticas públicas. Mas, também é preciso perceber a diversidade dos sujeitos e de suas demandas que perpassam por questões tanto objetivas quanto subjetivas que condicionam a sua adaptação aos novos espaços ocupados, visto que habitar implica determinações sociais, econômicas e culturais, dimensões decisivas para a sustentabilidade das intervenções habitacionais. Com a garantia legal do direito à moradia prevista na Constituição Federal de 1988 a política habitacional começa a tomar outros rumos em direção à desconstrução do modelo de política mercadológica, centralizadora e autoritária que vigorou por tantos anos no país, sendo incluída na agenda governamental e operacionalizada, com destaque para a criação do Ministério das Cidades e do Conselho das Cidades. Desde então, várias são as tentativas do governo federal e demais entes federativos em promover melhores condições de vida para aqueles excluídos do acesso às cidades e demais políticas públicas, através da implementação de programas/projetos de provisão habitacional e urbanização de áreas irregulares. A inclusão dos assentamentos precários ao tecido urbano, a exemplo da comunidade do Araxá, é um desafio para o poder público e para a sociedade civil, que deve se colocar cada vez mais participativa em busca do atendimento de suas demandas de inclusão social a partir do acesso a moradia digna. Fazem-se notório os ganhos de qualidade de vida com a urbanização da área e em termos de melhores condições de acesso aos equipamentos públicos e comunitários, contudo, há muito que se fazer em direção à sustentabilidade das famílias beneficiárias depois de reassentadas. Além de dificuldades na apropriação dos espaços, muitas vezes em virtude da modalidade de construção verticalizada, da falta de espaços externos a casa ou da utilização de espaços comuns, ainda há que se considerar que morar em uma área regular traz algumas despesas que não faziam parte do seu cotidiano, como pagar água, luz, entre outras. Tais fatores fazem surgir a necessidade de ações que concorram para a geração de renda da comunidade, visando a sua sustentabilidade. Diante do exposto é plausível perceber a relevância desse trabalho enquanto uma oportunidade de discussão e reflexão acerca do espaço habitado, do Conjunto Araxá, contribuindo enquanto insumos para projetos futuros da mesma natureza. 18 Dessa forma, uma leitura ampla da conjuntura política, econômica, social e cultural subsidiará uma análise mais clara acerca do processo no qual estão inseridas as políticas públicas de proteção social brasileira, inclusive a habitacional. A reversão do quadro de desigualdade das cidades e a construção de uma política de direitos é uma tarefa longa, lenta, gradativa, para que a construção da equidade e justiça social possa acontecer verdadeiramente, concorrendo para a efetividade destas ações. ________________________________________ Ana Luiza Severino Bezerra. Bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB/2007); Especialista em Políticas Públicas e Assistência Social (FURNE/UNIPÊ/2010). Assistente Social na Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Campina Grande. E-mail: [email protected]. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação – Artigo em publicação periódica científica impressa – apresentação: NBR 6022/03. Rio de Janeiro, 2003. AZEVEDO, Sergio de. Políticas públicas e governança em Belo Horizonte. In: Cadernos Metrópole / Grupo de Pesquisa PRONEX. – n. 3 (2000) – São Paulo: EDUC, 1999 BONDUKI, Nabil G; ROSSETTO, Rossella. Política e Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. In: Ações Integradas de Urbanização e Assentamentos Precários. Curso à distância. Módulo I. Disciplina II. Brasília: Ministério das Cidades, 2008. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. 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