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Por que o aprendizado é uma experiência individual?
Você já deve ter ouvido alguém falar no termo transferir conhecimento. Não uma,
mas, possivelmente, muitas vezes. Agora, vamos refletir um pouco sobre isso.
Como é possível transferir algo que é puramente tácito, ou seja, que é abstrato e
está em áreas diferentes de nossa mente, para outra pessoa? Simples, não é
possível. Podemos transferir ou transmitir informações, mas conhecimento... Não.
Pelo menos neste tempo/espaço.
O conhecimento que possuímos é resultado do aprendizado que temos a partir de
todas as experiências pelas quais passamos ao longo de nossas vidas. E cada
experiência é vivida de forma diferente, pois todos nós somos pessoas diferentes.
Certa vez, quando eu ainda estava na 7ª série, um professor de matemática me
disse: Nada no mundo é igual. As coisas podem ser semelhantes, mas não iguais.
Somente seis anos mais tarde, quando vim estudar sobre Matemática Fractal e a
Teoria do Caos, foi que entendi o que meu professor havia tentado me ensinar: o
que torna as coisas semelhantes são as pequenas e infinitas diferenças entre elas,
pois realmente nada no mundo é igual.
Então somos pessoas diferentes. No entanto, algo me intrigava. Por que eu só vim
aprender o significado daquilo seis anos depois? Após refletir muito e com base em
alguns estudos, eu entendi por que o aprendizado é uma experiência individual e o
conhecimento não pode ser transferido. É individual, pois quando recebemos uma
informação nova, esta se divide e segue caminhos diferentes em nosso cérebro,
passa por vários filtros emocionais, racionais, analíticos, julgadores; ao mesmo
tempo, é comparada com outras informações guardadas na memória e tudo isso, a
uma velocidade incrivelmente mais rápida que o mais poderoso computador já
inventado. O que ocorre é que., neste momento, essas informações estão sendo
interpretadas e compreendidas para construir o conhecimento Trata-se de um
processo extremamente complexo e singular em cada ser humano.
O filme norte-americano Matrix, produzido em 1999 pelos irmãos Wachowski, é um
exemplo claro do ponto de vista abordado neste artigo. Nele, após a invenção da
Inteligência Artificial, o mundo é dominado pelas máquinas, que utilizam os seres
humanos como fonte de energia. Para conseguir isso, as máquinas criam um
mundo virtual onde os seres humanos, mergulhados em casulos, passam toda a
sua existência em um sono profundo, acreditando que vivem em um mundo que é,
na verdade, totalmente virtual. Como todo filme de ação, esse também tem seu
herói, Neo, um jovem que usa as mesmas armas criadas pelas máquinas, para lutar
contra elas. O curioso neste filme é a forma como Neo se utiliza da realidade virtual
para aprender. Através de um cabo, seu cérebro é conectado a um computador
que, em segundos, transfere informações que são imediatamente aceitas e
interpretadas pelo cérebro. Em um determinado momento do filme, ele aprende a
lutar kung-fu em menos de 10 segundos. Dá para imaginar isso? Leva-se em média
10 anos para atingir a faixa preta de karatê. Já pensou então, fazer um MBA em
menos de cinco segundos?
Este filme mostra, claramente, uma utopia, na qual o conhecimento no formato
explícito, representado por dados binários estruturados em um computador, é
transferido para a mente de um homem e convertido em dados analógicos que
formam o conhecimento tácito.
Felizmente, acredito que ainda estamos muito longe disso acontecer, visto que para
realizar tal façanha, seriam necessários computadores tão perfeitos como nosso
cérebro. Mas, como sabemos, a vida imita a arte. Sendo assim, não seria
interessante começarmos a nos perguntar como isso impactaria nossas vidas? Essa
é uma boa reflexão.
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Enquanto não vivemos em um mundo igual ao do filme Matrix, e espero que isso
nunca aconteça, podemos corrigir o termo transferir conhecimento, e dizer, então,
que construímos e compartilhamos o conhecimento. Pois, na realidade, o que
transferimos são informações e a partir dessas é que construímos o conhecimento,
através da experiência individual do aprendizado. O resultado deste ciclo evolutivo
é o quão diferentes são os seres humanos em sua aparência e, principalmente, em
sua essência.
Fonte
POR QUE o aprendizado é uma experiência individual? SMITH, gestão do
conhecimento. FGV Online: 2013.
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