Aula 2_Aprendizado individual e Matrix

Propaganda
Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina
Curso: Tecnólogo de Recursos Humanos
Disciplina: Treinamento e Desenvolvimento
Professor: Bona (Antônio Bonanomi Neto), M.Sc.
Aprendizado: uma experiência individual
Marcelo Smith
Transferência direta de conhecimento é algo que, por enquanto, só existe em
filmes como "Matrix". Com informações e vivências, sim, constrói-se novo
conhecimento – e o e-learning tem tudo a ver com isto.
Você já deve ter ouvido alguém falar no termo “transferir conhecimento”,
possivelmente muitas vezes. Mas... como é possível transferir, direta e exatamente,
para outras pessoas, algo que é puramente tácito, ou seja, que é abstrato e está em
áreas diferentes de nossa mente?
Simples: não é possível. Podemos transferir ou transmitir informações, mas não
conhecimento... Pelo menos não neste tempo/espaço. E isso faz muita diferença.
CONHECIMENTO = INFORMAÇÕES + VIVÊNCIA
O conhecimento que possuímos é resultado do aprendizado que temos a partir de
todas as experiências pelas quais passamos ao longo de nossas vidas. E cada
experiência é vivida de forma diferente, pois todos nós somos pessoas diferentes.
Certa vez, quando eu ainda estava na 7ª série, um professor de matemática me disse:
”Nada no mundo é igual. As coisas podem ser semelhantes, mas não iguais”. Somente
seis anos mais tarde, quando vim a estudar sobre Matemática Fractal e a Teoria do
Caos, foi que entendi o que meu professor havia tentado me ensinar: o que torna as
coisas semelhantes são as pequenas e infinitas diferenças entre elas, pois realmente
nada no mundo é igual.
No entanto, algo me intrigava. Por que eu só aprendi o significado daquilo seis anos
depois? Após refletir muito e com base em alguns estudos, eu entendi porque o
aprendizado é uma experiência individual e o conhecimento não pode ser transferido.
É individual, pois quando recebemos uma informação nova, esta se divide e segue
caminhos diferentes em nosso cérebro, passa por vários filtros emocionais, racionais,
analíticos, julgadores, ao mesmo tempo, e é comparada com outras informações,
guardadas na memória - tudo isso a uma velocidade incrivelmente mais rápida que o
mais poderoso computador já inventado. O que ocorre é que, neste momento, estas
informações estão sendo interpretadas e compreendidas para construir o
conhecimento. Trata-se de um processo extremamente complexo e singular.
MATRIX NÃO É AQUI
O filme norte americano “Matrix”, produzido em 1999 pelos irmãos Wachowski, é um
exemplo claro do ponto de vista abordado neste artigo. Nele, após a invenção da
Inteligência Artificial, o mundo é dominado pelas máquinas que utilizam os seres
humanos como fonte de energia. Para conseguir isto, as máquinas criam um mundo
virtual onde os seres humanos, mergulhados em casulos, passam toda a sua
1
existência em um sono profundo acreditando que vivem em um mundo que é, na
verdade, totalmente virtual.
Como todo filme de ação, este também tem seu herói, Neo, um jovem que usa as
mesmas armas criadas pelas máquinas para lutar contra elas. O curioso é a forma
como Neo se utiliza da realidade virtual para aprender. Através de um cabo, seu
cérebro é conectado a um computador que, em segundos, transfere informações que
são imediatamente aceitas e interpretadas pelo cérebro.
Num determinado momento do filme ele aprende a lutar kung-fu em menos de 10
segundos. Dá para imaginar isso? Leva-se, em média, 10 anos para atingir a faixa
preta de karatê. Já pensou, então, fazer um MBA em menos de 5 segundos?
Este filme mostra claramente uma utopia onde o conhecimento no formato explícito,
representado por dados binários estruturados num computador, é transferido para a
mente de um homem e convertido em dados analógicos que formam o conhecimento
tácito. Felizmente, acredito que ainda estamos muito longe disto acontecer, visto que,
para realizar tal façanha, seriam necessários computadores tão perfeitos como nosso
cérebro.
Mas, como sabemos, a vida imita a arte. Sendo assim, não seria interessante
começarmos a nos perguntar como isto nos impactaria, se fosse real? Esta é uma boa
reflexão...
Enquanto não vivemos em um mundo igual ao do filme Matrix, podemos – e devemos
– corrigir a expressão “transferir conhecimento“ e dizer então que construímos e
compartilhamos o conhecimento. Pois, na realidade, o que transferimos são
informações e, a partir destas, é que construímos um conhecimento singular, através
da experiência individual do aprendizado. Não por acaso os seres humanos são tão
diferentes em sua aparência e, principalmente, na sua essência.
Nos próximos artigos vamos ver que o e-learning é uma excelente opção de
aprendizado justamente porque, dentre outras coisas, permite que cada um passe por
uma vivência particular, respeitando ritmos e estilos individuais. Não perca!
=====================
>> SOBRE O AUTOR: Marcelo Smith é consultor, fundador e CEO da Smith Gestão
do Conhecimento. É autor do peopleLearn® e do conceito "Fábrica de Conteúdo". A
partir de 1995, especializou-se no desenvolvimento de CBT (Computer Based
Training) tendo realizado mais de 50 cursos técnicos. Desde 2001 produz conteúdos
customizados para cursos e jogos. Ao longo dos últimos 7 anos, coordenou o
desenvolvimento de mais de 500 projetos para grandes organizações.
2
Download