marcadores sorológicos de hepatites b (vhb) ec (vhc) em doadores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS
MARCADORES SOROLÓGICOS DE HEPATITES B (VHB) E C (VHC)
EM DOADORES DE SANGUE DE ARIQUEMES, RONDÔNIA, BRASIL
CASSIANO RICARDO DE SOUZA
Belém-Pará
2013
CASSIANO RICARDO DE SOUZA
MARCADORES SOROLÓGICOS DE HEPATITES B (VHB) E C (VHC)
EM DOADORES DE SANGUE DE ARIQUEMES, RONDÔNIA, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e
Parasitários do Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Pará, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida
Machado.
Belém-Pará
2013
Souza, Cassiano Ricardo de
Marcadores sorológicos de Hepatites B (VHB) e C (VHC) em doadores de sangue de
Ariquemes, Rondônia, Brasil, Belém-Pará, 2013, 62 p, Dissertação de Mestrado em Biologia
de Agentes Infecciosos e Parasitários.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado.
1. Hepatite B 2. Hepatite C 3. Doadores de Sangue
3
CASSIANO RICARDO DE SOUZA
MARCADORES SOROLÓGICOS DE HEPATITES B (VHB) E C (VHC)
EM DOADORES DE SANGUE DE ARIQUEMES, RONDÔNIA, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos
e Parasitários, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, como
requisito para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e
Parasitários.
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Ana Cecília Ribeiro Cruz
Instituto Evandro Chagas, SVS, MS
Dr. Felipe Bonfim Freitas
Instituto Evandro Chagas, SVS, MS
Profa. Dra. Vânia Nakauth Azevedo
Instituto de Ciências Biológicas, UFPA
Prof. Dr. Antônio Carlos Rosário Vallinoto (Suplente)
Instituto de Ciências Biológicas, UFPA
Belém, 27 de agosto, 2013.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus,
À minha família e à minha mãe, que sempre se fizeram presentes a meu lado.
À equipe do Hemocentro de Ariquemes – HEMOAR, pelo auxílio e apoio para realização
deste estudo.
Aos professores do Programa de Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários BAIP UFPA, especialmente ao Dr. Luiz Fernando Almeida Machado.
5
Dedico este trabalho à minha amada esposa Luciane, e à
minha filha, Aira Esther, que me ensinou o que é ser pai.
6
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 07
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 08
RESUMO ................................................................................................................................. 09
ABSTRACT ............................................................................................................................. 10
1.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
1. 1
1. 2
1. 2.1
1. 2. 2
1. 2. 3
1. 2. 4
1. 2. 5
1. 2. 6
1. 3
1. 3. 1
1. 3. 2
1. 3. 3
1. 3. 4
1. 4
1. 4. 1
1. 4. 2
HEPATITES VIRAIS ................................................................................................ 14
O VÍRUS DA HEPATITE B (VHB) ......................................................................... 15
Biologia do VHB ........................................................................................................ 15
Manifestações Clínicas das Infecções por VHB ......................................................... 17
Marcadores Sorológicos e a Infecção pelo VHB......................................................... 19
Epidemiologia.............................................................................................................. 21
Diagnóstico Laboratorial do VHB............................................................................... 22
Tratamento e Medidas Preventivas.............................................................................. 23
O VÍRUS DA HEPATITE C (VHC)........................................................................... 28
Biologia do VHC ......................................................................................................... 28
Manifestações Clínicas da Infecção pelo VHC .......................................................... 29
Diagnóstico Laboratorial do VHC............................................................................... 31
Epidemiologia do VHC .............................................................................................. 32
OBJETIVOS ............................................................................................................... .34
Objetivo Geral ......................................................................................................... ....34
Objetivo Específico ................................................................................................... .35
2
2. 1
2. 2
2.2.1
2. 3
2. 4
2.5
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... .35
LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................... .35
AMOSTRA................................................................................................................. .36
Critérios de Inclusão e Exclusão ................................................................................ .36
Casuísticas .................................................................................................................. .36
Testes Sorológicos.. .....................................................................................................37
Análise Estatística .................. ....................................................................................38
3
3.1
3.2
3.2.1
3.2.2
4
RESULTADOS ........ ................................................................................................39
Caracterização da Amostra ........... .............................................................................39
Descrição e Interpretação dos Marcadores Sorológicos ........... .................................40
VHB ........... .................................................................................................................40
Hepatite C .............. ....................................................................................................42
DISCUSSÃO .......... ...................................................................................................43
5.
CONCLUSÕES.......................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Vírus da hepatite B e seus antígenos........................................................................ 16
Figura 2: Estrutura do DNA do VHB. ..................................................................................... 17
Figura 3: Dinâmica dos marcadores sorológicos na infecção aguda pelo VHB ...................... 19
Figura 4: Dinâmica dos marcadores sorológicos na infecção crônica pelo VHB .................... 20
Figura 5: Taxa de detecção de Hepatite B (por 100.000 hab.) segundo região de residência
por ano de notificação. Brasil, 1999 a 2009 .......................................................... 22
Figura 6: Representação esquemática da morfologia do VHC ................................................ 29
Figura 7: Taxa de detecção (por 100.000 hab.) de hepatite C por estado em 2009.................. 34
Gráfico 1 : Distribuição dos candidatos a doadores de sangue no Hemocentro de
Ariquemes/RO (HEMOAR) quanto a aptidão entre 2010 e 2012 ......................... 39
Gráfico 2 : Distribuição dos casos positivos de HBsAg entre os doadores de sangue no
Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR) nos anos entre 2010 e 2012 ............ 41
Gráfico 3 : Distribuição casos positivos de anti HBc entre os doadores de sangue no
Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR) nos anos entre 2010 e 2012 ............ 42
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: - Distribuição dos candidatos a doadores de sangue considerados aptos (aceitos) no
Hemocentro
de
Ariquemes/RO
(HEMOAR)
entre
2010
e
2012........................................................................................................................40
Tabela 2: Número de doações de sangue no Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR), com
sorologia reagente para Hepatite C e a ocorrência em relação ao número total de
doações por ano, no período entre 2010 e 2012 ................................................. ...43
9
RESUMO
As hepatites virais constituem importante problema de saúde pública mundial, sendo sua
distribuição heterogênea. Este estudo teve por objetivo determinar as características
epidemiológicas de doadores de sangue com sorologia positiva para os marcadores da
infecção pelo Vírus da hepatite B (VHB) e Vírus da hepatite C (VHC), no município de
Ariquemes, Rondônia. Foram avaliados os registros de 9.924 doadores de sangue do
Hemocentro de Ariquemes, Rondônia (HEMOAR), cujas doações foram realizadas entre o
período de janeiro de 2010 a dezembro de 2012. Como resultados, o estudo verificou a
prevalência de doações de homens, com faixa etária entre 18 e 29 anos de idade. O marcador
HBsAg se fez presente em 1,2%, o anti-HBc total foi detectado em 11,7% dos doadores, com
a prevalência para hepatite C de 0,46% entre os candidatos. Os resultados demonstram a baixa
prevalência do VHB e do VHC na população examinada.
Palavras-Chaves: Hepatite B, Hepatite C, Doadores de Sangue.
10
ABSTRACT
Viral hepatitis is an important public health problem worldwide, and its heterogeneous
distribution. This study aimed to determine the epidemiological characteristics of blood
donors with positive serology for markers of infection with Hepatitis B virus (HBV) and
Hepatitis C virus (HCV) in the city of Ariquemes, Rondônia. Were evaluated the records of
9,924 blood donors from the Blood Center of Ariquemes, Rondônia (HEMOAR), whose
donations were made between the period January 2010 to December 2012. As a result, the
study found the prevalence of donations from men, aged between 18 and 29 years old. The
marker HBsAg was present in 1.2%, anti-HBc was detected in 11.7% of donors, with hepatitis
C prevalence of 0.46% among the candidates. The results show a low prevalence of HBV and
HCV in the population examined.
Keywords: Hepatitis B, Hepatitis C, Blood Donors
11
1 INTRODUÇÃO
Hemoterapia é o nome dado à ciência que estuda o tratamento das doenças através da
utilização do sangue (Junqueira et al., 2005). Desde a Grécia antiga, acredita-se que o sangue
sustenta a vida, sendo capaz de salvá-la, sendo comum aos nobres beber sangue de
gladiadores que morriam em combate para obter vigor e curar seus males, se tornando comum
a prática de sangrias na cura de doenças (Pereima et al., 2007).
Richard Lower, em 1565, realizou a primeira experiência com transfusão de sangue
em animais. A transfusão de sangue após a definição do sistema circulatório do corpo,
ocorreu apenas em 1616, por Wiillian Harvey passando a alertar os estudiosos a possibilidade
de ocorrer transfusão (Pereima et al., 2007).
No ano de 1667, em Paris, ocorreu a primeira experiência transfusional em humanos,
aconteceu por José Jean Baptiste Denis, médico do rei Luiz IV, professor em filosofia e
matemática, transfundiu sangue de carneiro em humano com resultado negativo.
Pontick e
Landois, em 1778, realizaram transfusão em animais da mesma espécie com sucesso, e no
inicio do século XX, o pesquisador austríaco Karl Landsteiner, realizou a descoberta dos
grupos sanguíneos do sistema ABO (Vertchenco, 2005).
A primeira transfusão em seres humanos foi atribuída a James Blundell em 1918 o
qual, após experiência em animais da mesma raça com sucesso, transfundiu sangue de
humano em humanos (Junqueira, 1979 ).
Desde então, a falta de soluções anticoagulantes que permitissem a estocagem do
sangue coletado de doadores impedia a coleta de sangue, com a realização de transfusões
feitas braço a braço. Com as guerras mundiais, as pesquisas prosseguiram, culminando no
desenvolvimento de soluções anticoagulantes à base de citrato de sódio, inovações que
levaram a possibilidade da existência de bancos de sangue (Vertchenco, 2005).
Durante a guerra civil espanhola em 1939, um médico da cidade de Toulouse, na
França, organizou uma rede de doadores de sangue que eram simpatizantes à causa dos
12
rebeldes que lutava contra os fascistas, comandada pelo General Franco, dando início a
primeira estocagem de sangue feita em garrafas de vidro (Wertchenko, 2005 ).
Com a Segunda Guerra Mundial, surgem os primeiros bancos de sangue, e a
transfusão generalizada tornou-se uma rotina na prática médica, sendo o sistema de doação de
sangue baseado na doação altruísta e não remunerada, contando com a solidariedade humana
(Rodrigues, 2008).
Landsteine em 1942, com o grupo ABO e a descoberta do sistema Rh, assim
identificando os antígenos e anticorpos, estabeleceu a compatibilidade e incompatibilidade
entre sangue de indivíduos humanos, e com base científica, o uso do sangue como agente
terápico (Wertchenko, 2005).
No Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, com o crescente aumento da população,
e em conseqüência do aumento da necessidade de sangue, surgem os primeiros bancos de
sangue, entre os anos de1942 e 1944 em Porto Alegre, Recife e na Lapa, no Rio de janeiro
(Pereima et al., 2007).
O presidente Castelo Branco, em 1965, com a regulamentação da Lei Federal nº
4.701, define o exercício da atividade hemoterápica no Brasil, e as bases da Política Nacional
de Sangue. No ano de 1970, com preocupação de determinar os riscos transfusionais, foram
desenvolvidas técnicas de triagens laboratoriais e o início a movimentos visando a utilização
de doadores voluntários, não-remunerados (Wertchenko, 2005).
Em 1980, em decorrência da epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AIDS), a lei nº 7649 torna obrigatória a realização de exames laboratoriais para o vírus da
hepatite B (VHB), sífilis, doença de chagas, malária e HIV. Impulsionado pelo avanço da
AIDS, o governo cria Hemocentros Públicos, trazendo a difusão de programas para a captação
de doadores voluntários de sangue, porém com a obrigatoriedade de testes sorológicos.
Em 25 de novembro 1977, no Brasil, foi inaugurado o primeiro centro de
hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE), os três anos posteriores seguiram com a
inauguração de hemocentros no estado do Pará (HEMOPA), e posterior em outros Estados
(Wertchenko, 2005).
13
A hemoterapia no Brasil e no mundo, tem se caracterizado pelo desenvolvimento e
adoção de novas tecnologias, objetivando minimizar os riscos transfusionais, especialmente
quanto à prevenção da disseminação de agentes infecto-contagiosos (Carrazzone et al., 2002).
A transmissão de patógenos através da transfusão, necessita basicamente, que o
doador tenha o agente circulante em seu sangue, que os testes de triagem sorológica não
sejam capazes de detectá-lo, e que o hospedeiro seja suscetível. Além disso, o tropismo de
agentes infecciosos por determinado componente do sangue determina a contaminação dos
diferentes hemocomponentes (concentrado de hemácias, concentrados de plaquetas,
leucócitos e plasma) (Moore et al., 2001).
Assim, o Vírus Linfotrópico das Células T Humanas (HTLV) e o Citomegalovírus
(CMV), localizam-se exclusivamente nos leucócitos, o VHB e o VHC localizam-se
preferencialmente no plasma. O Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas,
pode estar presente em todos os hemocomponentes; o Plasmodium, agente etiológico da
malária, encontra-se nas hemácias, e o HIV, nos leucócitos e plasma (Covas, 2001).
A importância de se cumprir com eficiência o ciclo hemoterápico, cujo processo se
inicia com a captação e seleção de doadores, seguindo-se a triagem sorológica e imunohematológica, processamento e fracionamento das unidades coletadas, dispensação,
transfusão e avaliação pós-tranfusional, se faz indispensável para a prevenção de problemas
futuros (Moore et al., 2001).
A indicação adequada do uso do sangue e componentes, atendendo preceitos da
hemoterapia seletiva, vem propiciando uma maior otimização das unidades coletadas e
redução quantitativa na exposição dos receptores (Chamone et al., 2001).
O Ministério da Saúde determina que, para cada doação efetivada, sejam realizados
testes sorológicos para os seguintes patógenos: HIV-1 e HIV-2, HTLV-1 e HTLV-2, HCV,
HBV, T. cruzi, Treponema pallidum, Plasmodium em áreas endêmicas de malária e CMV
para pacientes imunossuprimidos (Anvisa, 2003).
No Brasil, a rede de hemoterapia pública encontra-se concebida de forma hierárquica,
equânime e descentralizada, sendo responsável por 60% das transfusões realizadas no país,
14
ficando os procedimentos restantes a cargo da rede privada ou conveniada ao Sistema Único
de Saúde (SUS) (Anvisa, 2003).
Em Rondônia, o primeiro Hemocentro foi fundado em 1980, passando à Fundação de
Hematologia e Hemoterapia em 1997 (FHEMERON), uma instituição Estadual composta de
unidades de hematologia e hemoterapia, distribuídas em rede nos diversos municípios do
Estado, contando com uma unidade de âmbito regional no município de Ariquemes,
Rondônia, Brasil.
1.1 HEPATITES VIRAIS
As hepatites virais são doenças causadas por um grupo de vírus, com distribuição
universal, caracterizados pelo hepatotropismo, podendo provocar inflamação e necrose
hepática. Estes agentes se dividem em Vírus da hepatite A (VHA), Vírus da hepatite B
(VHB), Vírus da hepatite C (VHC), Vírus da hepatite delta (VHD) e Vírus da hepatite E
(VHE), além do Vírus da hepatite F (VHF) e Vírus da hepatite G (VHG), os quais se diferem
em suas formas de transmissão e características biológicas, sendo que todos podem causar
infecções agudas, e o VHB, o VHC e o VHD infecções crônicas (Wiwanitkt, 2006).
Os quadros clínicos agudos das hepatites virais são diversificados, variando de formas
subclínicas a formas fulminantes, resultando ainda, a doença aguda, em alguns casos em que
ocorre a recuperação completa do indivíduo, adquirindo este, imunidade protetora ao longo da
vida (Reshetnyak et al., 2008).
Na maioria dos quadros clínicos, a hepatite crônica é assintomática, com
manifestações clínicas apenas em fases adiantadas de acometimento hepático, e diagnóstico
obtido através de alterações em exames de avaliação de rotina ou da triagem. O diagnóstico
etiológico só é possível por meio de exames sorológicos ou da biologia molecular (Wiwanitkt,
2006).
As hepatites causadas pelo VHB e VHC constituem um importante problema de saúde
pública, afetando um grande número de indivíduos em diferentes partes do mundo e com risco
15
de cronificação, estando associadas ao surgimento de doenças hepáticas graves, tais como a
cirrose hepática e o carcinoma hepatocelular (CHC) (Wiwanitkt, 2006; Reshetnyak et al.,
2008).
1.2 O VÍRUS DA HEPATITE B (VHB)
O primeiro relato de uma doença hepática de transmissão parenteral ocorreu por volta
de 1883, com a definição do termo hepatite B em 1947, por MacCallum, sendo adotado este
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1973. No ano de 1965, foi identificado o
antígeno de superfície do VHB, denominado antígeno Austrália, atualmente, designado como
HBsAg. Partículas do VHB no soro foram identificadas em 1970, com a confirmação da
natureza viral destas partícula e a caracterização do genoma do vírus feita por Robinson et al.
em 1974 (Reshetnyak et al., 2008).
As hepatites causadas pelo VHB constituem um importante problema de saúde
pública, uma vez que, tais doenças têm larga distribuição geográfica, afetando um grande
número de indivíduos, em diferentes partes do mundo, e apresentando risco de cronificação,
associado ao surgimento de doenças hepáticas graves, tais como a cirrose hepática e o
carcinoma hepatocelular (CHC) (Gonzalez et al., 2004).
1.2.1 BIOLOGIA DO VHB
O VHB pertence à família Hepadnaviridae, um nome que se refere ao hepatotropismo
e a natureza do genoma de seus membros. A família inclui o gênero Orthohepadnavirus, que
contém agentes que infectam mamíferos, como o VHB, e o gênero Avihepadnavirus, que
contém vírus que infectam aves (Fonseca, 2003).
O vírus possui forma esférica, com aproximadamente, 42 nm de diâmetro, e apresenta
um envelope lipoprotéico, derivado da célula hospedeira, que compreende três componentes
básicos. As glicoproteínas, também denominadas como grande, média e pequena, constituem
o HBsAg. O envelope, por vez, envolve o capsídeo icosaédrico, com diâmetro de 30 a 34 nm,
16
dentro do qual encontram-se o genoma viral e a enzima DNA-polimerase (Seeger & Mason,
2000).
Figura 1: Vírus da hepatite B e seus antígenos
Fonte: Biomabreu.blogspot.com
O capsídeo apresenta duas proteínas antigênicas, a proteína do core (HBcAg), e o
antígeno “e”, solúvel do VHB, que é uma proteína não estrutural presente no soro, indicando
replicação e infectividade viral e cuja persistência e positividade estão associadas ao CHC.
Cada antígeno do VHB (HBsAg, HBcAg e HBeAg) induz a formação de anticorpos
específicos que são denominados, anti-HBs, anti-HBc e anti-HBe, respectivamente (Silva,
2003).
O genoma do VHB consiste de uma molécula de ácido desoxirribonucléico (DNA)
circular, de fita dupla incompleta, de aproximadamente 3,2 kilobases (Kb) de comprimento. A
fita mais longa, de polaridade negativa, é completa e está ligada covalentemente à polimerase
viral na extremidade 5’. A fita menor, de polaridade positiva, é incompleta e varia entre 50 a
70% da fita longa (Seeger & Mason, 2000).
A circularidade da molécula de DNA é devido à sobreposição das duas fitas
complementares na região coesiva, ou seja, pelo pareamento de bases das terminações 5’ de
ambas as fitas. Flanqueando esta região, há duas seqüências idênticas de 11 bases,
denominadas DR1 e DR2, consideradas importantes para a iniciação da replicação do genoma
do VHB (Silva, 2003).
17
O DNA do VHB contém quatro janelas de leitura aberta parcialmente sobrepostas,
denominadas de pré-S/S, pré-Core/Core, P e X. Além disto, podem ser encontrados ainda,
dois enhancers (Enh1 e Enh2), com função de regulação e ativação dos genes virais. A PréS/S, apresenta três sítios de iniciação, pré-S1, pré-S2 e S (superfície) e codifica as três
glicoproteínas do envelope (G, M e P) (Silva, 2003).
Figura 2: Estrutura do DNA do VHB Fonte: www.drthuthuy.com/imagens
A glicoproteína G parece estar envolvida na adsorção do VHB ao hepatócito, assim
como também no processo de montagem e transporte do vírus, enquanto o papel da
glicoproteína M ainda não bem estabelecido. O HBsAg é antigenicamente heterogêneo, com
um determinante comum denominado a, e dois pares de determinantes mutuamente
exclusivos, d ou y, e w ou r, que caracterizam quatro principais subtipos: adw, ayw, adr, ayr.
Por apresentarem diferenças na distribuição geográfica, os subtipos são importantes
ferramentas em estudos epidemiológicos (Fonseca, 2003).
1.2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS INFECÇÕES POR VHB
A infecção pelo VHB pode se manifestar de forma completamente assintomática,
como em 80 a 90% das crianças, ou na forma de sintomas gastrintestinais leves, ou na forma
de hepatite fulminante, e na maioria dos casos adquiridos após o período neonatal, ocorre a
evolução para o controle imunológico (Kao, 2002).
18
A hepatite B aguda se assemelha clinicamente a outras formas de hepatites agudas, e
caracteriza-se por apresentar um período de incubação de 45 a 180 dias, sendo na maioria das
vezes, subclínica e anictérica, resultando geralmente na recuperação completa do paciente,
pois apenas em cerca de 0,2% dos indivíduos, a doença assume caráter fulminante e com alta
letalidade (Ferreira, 2010).
O risco de desenvolver doença aguda ictérica causada pelo VHB aumenta com a idade,
inversamente à possibilidade de cronificação, a cronicidade da infecção ocorre em
aproximadamente 90% dos neonatos, 20% das crianças e 1 a 5% dos adultos (Ferreira, 2010).
Entre portadores crônicos, metade não apresenta doença hepática, se apresentando
como portadores assintomáticos, mas alguns mostram sinais de atividade inflamatória no
fígado, de variada intensidade, podendo desenvolver cirrose hepática ou hepatocarcinoma nas
fases tardias, com altas taxas de morbidade e mortalidade (Ferreira et al., 2007).
As respostas imunológicas humoral e celular envolvidas na infecção pelo VHB são
complexas e, aparentemente, o vírus não é diretamente citotóxico para os hepatócitos
infectados, assumindo, o sistema imunológico, um papel fundamental no curso e prognóstico
da hepatite (Souto et al., 2004).
Estudos indicam que a resposta humoral contra os antígenos do envelope viral
contribuem para a erradicação de partículas virais circulantes, e que a resposta celular contra
os antígenos do envelope, capsídeo e polimerase, é vigorosa na infecção aguda, e media a
eliminação do vírus por inibição da replicação viral por meio das citocinas tipo 1, tais como
Interferon Gama e Fator de Necrose Tumoral alfa (Ferreira, 2010).
Apesar da forte resposta celular ao VHB durante a fase aguda, níveis muito baixos do
vírus persistem na circulação por diversas décadas após completa resolução clínica e
sorológica da doença. Se faz necessário ressaltar que a resposta celular à infecção pelo VHB
tem efeito curativo mais eficiente que destrutivo e, o resultado da infecção, pode depender do
equilíbrio desses dois efeitos, com uma predominante resposta curativa, levando a eliminação
viral, ou uma resposta predominantemente destrutiva, conduzindo a persistência viral e
doença hepática crônica (Souto et al., 2004).
19
1.2.3 MARCADORES SOROLÓGICOS E A INFECÇÃO PELO VHB
As técnicas de diagnóstico são fundamentais, não apenas para a determinação do
agente etiológico, bem como para a avaliação do estado clínico do indivíduo e monitoramento
da terapêutica específica a ser utilizada. Assim, embora a suspeita de infecção pelo VHB
possa ser norteada por dados clínicos, a confirmação diagnóstica laboratorial deve ser
realizada por meio dos marcadores sorológicos ou moleculares do VHB (Brasil, 2005).
A infecção possui como primeiro marcador sorológico o HBsAg, que surge antes dos
primeiros sintomas (Tai et al., 2010), a exemplo do HBcAg no citoplasma e no núcleo dos
hepatócitos infectados (Levinson et al., 2005). Nas primeiras semanas de infecção, o título de
HBsAg cresce e se apresenta conjuntamente ao desenvolvimento de características
histológicas que remetem à hepatite viral aguda (Melão et al., 2006).
Quando o HBsAg alcança seu nível máximo, se identifica o anti-HBc circulante,
durante 4 a 6 semanas, decrescendo lentamente após este período. Os testes de função
hepática normalmente chegam ao normal dentro de 3 a 4 semanas, e os títulos de HBsAg no
sangue decrescem, e os níveis detectáveis de anti-HBc continuam a aparecer durante vários
anos (Dufour, 2008; Figura 3).
Curso Sorológico da hepatite B aguda
Curso Sorológico Típico
Sintomas
anti-HBe
HBeAg
anti-HBcTotal
Título
0
4
8
anti-HBs
IgManti-HBc
HBsAg
12
16
20
24
28
32
36
52
100
Semanas após a exposição
Figura 3- Dinâmica dos marcadores sorológicos na infecção aguda pelo VHB
Fonte: Adaptado de www.cdc.gov
20
Portadores crônicos, apresentam o HBsAg em níveis altos por vários anos (Lee, 1997),
com títulos de anti-HBc mais elevados que os encontrados na infecção aguda, com o antiHBs circulante livre não sendo detectado. No portador crônico, a presença de HBeAg é um
indicador de replicação viral (Santos et al., 2002; Lee et al., 2004; Neumann, 2005) e o soro
destes indivíduos é infectante (Brasil, 2008).
A negativação do HBeAg em testes laboratoriais e aparecimento de anti-HBe definem
uma melhora na evolução da infecção, com a queda da viremia (ICCH, 2003), contudo é
importante ressaltar que alguns tipos de VHB podem sofrer mutações (precore e core)
afetando a produção de HBeAg, resultando assim em resultados laboratoriais negativos para
esse marcador, não porque o indivíduo reagiu imunologicamente, mas sim pela incapacidade
do vírus mutante em produzir o HBeAg (Milich et al., 2003).
O surgimento do antígeno HBeAg ocorre durante a replicação viral nos hepatócitos,
onde são produzidas as partículas não infecciosas, constituídas apenas de HBsAg e, em
menor quantidade, as partículas de HBeAg encontradas no soro dos indivíduos contaminados
(Horvat et al., 2007), a positividade e a persistência desse marcador (HBeAg) pode estar
correlacionada ao aumento do risco para o carcinoma hepatocelular (Yang et al., 2002; Figura
4).
Curso Sorológico da Infecção Crônica pelo HBV
Curso Sorológico Típico
Aguda
(6 meses)
Crônica
(anos)
HBeAg
anti-HBe
HBsAg
Título
anti-HBc Total
IgManti-HBc
0
4
8 12 16 20 24 28 32 36
52
Semanas após a Exposição
anos
Figura 4- Dinâmica dos marcadores sorológicos na infecção crônica pelo VHB
Fonte: Adaptado de www.cdc.gov).
21
1.2.4 EPIDEMIOLOGIA
Apesar de ser uma doença que possua vacinação, a hepatite B é considerada um grave
problema de saúde pública mundial. Segundo o Programa Nacional de Imunização (PNI),
para haver um controle da hepatite B, é necessária a cobertura vacinal superior a 95% (Brasil,
2001).
A OMS estima que dois bilhões de pessoas já entraram em contato com o VHB, sendo
que destas, cerca de 350 milhões evoluíram para a forma crônica (Sharma et al., 2005).
Estimativas sobre a infecção pelo VHB no Brasil, apontam para uma diminuição no número
de casos evidenciados da doença, fato este decorre de recorrentes campanhas de vacinação na
faixa etária entre 0 e 20 anos (Brasil, 2003).
O PNI, desde 1998, preconiza a vacinação de todas as crianças ao nascer contra a
hepatite B, seguindo o exemplo de outros cem países que já realizam a vacinação universal
das crianças. A vacinação, é oferecida a grupos de risco desde o princípio da década de 90,
recentemente ampliada aos jovens na faixa etária até os 29 anos (Brasil, 2008).
A vacina é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, administrada em três
doses, com intervalos entre doses de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis
meses entre a primeira e a terceira dose, sendo necessário o esquema vacinal completo, com a
administração das três doses, para a aquisição de imunidade entre 90% a 95% (Brasil, 2008).
Após a infecção aguda pelo VHB, entre 3% a 5% dos adultos evoluem para a forma
crônica da doença, e se a infecção for em crianças, esse número pode chegar a 95% (Ferreira
et al., 2007). Infecções pelo VHB podem determinar uma série de apresentações clínicas
como, com portadores assintomáticos, portadores crônicos, quadros de hepatite aguda, cirrose
e carcinoma hepatocelular (Lee, 1997).
A endemicidade para o VHB está baseada na prevalência dos marcadores para a
infecção, e também nas vias de transmissão, que variam muito nas diversas regiões do planeta
(Ferreira, 2010). No Brasil, com toda a sua diversidade étnica, econômica e regional, a
22
infecção pelo VHB também tem distribuição muito heterogênea, com tendência a aumentar no
sentido sul-norte (Souto et al., 2004).
A alta endemicidade da prevalência do HBsAg presente na região amazônica passa
por transformações, frente as campanhas de vacinação que foram realizadas no país a partir
dos anos de 1989 e 1991, com declínio da prevalência do VHB nas áreas consideradas
anteriormente de alta endemicidade (Braga et al., 2004).
O estudo das hepatites virais ainda constitui um campo aberto na área da medicina
tropical brasileira, porque são escassos os estudos de prevalência com base populacional.
Aspectos diversos existentes nessa área, relacionados à região geográfica, situação
socioeconômica, diferenças raciais e culturais, entre outros, permitem supor que diferenças
significativas existem na prevalência dessas viroses (Paraná et al., 2005; Figura 5).
Figura 5 - Taxa de detecção de Hepatite B (por 100.000 hab.) segundo região de
residência por ano de notificação. Brasil, 1999 a 2009
Fonte: Boletim de Hepatites Virais, Brasil, 2010.
1.2.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DO VHB
O diagnóstico da hepatite B pode ser clínico-laboratorial e laboratorial, com exames
laboratoriais inespecíficos e específicos, realizados para verificar a lesão do tecido hepático,
semelhantes aos realizados para hepatite A, como por exemplo, as dosagens das
aminostranferases (Brasil, 2004).
23
O diagnóstico de qualquer das formas clínicas da hepatite B realiza-se através de
técnicas sorológicas. Tais técnicas revelam-se fundamentais não apenas para o diagnóstico,
mas também mostram-se muito úteis no seguimento da infecção viral, na avaliação do estado
clínico do paciente e na monitorização da terapêutica específica. As importantes descobertas
realizadas nas áreas da virologia e da biologia molecular desses vírus, nos últimos anos, foram
progressivamente sendo incorporadas à rotina para o manejo desses agentes (Braga et al.,
2004).
Métodos sorológicos e de biologia molecular são realizados nas fases aguda e crônica
da hepatite B, considerando os diferentes antígenos do HBV e anticorpos contra esses
antígenos, como marcadores da doença, que são indicadores da presença e diferentes estágios
da hepatite. Desta forma, a confirmação diagnóstica pode ser realizada por exame da presença
destes marcadores no sangue (Brasil, 2004).
A hepatite B é acompanhada pelo aparecimento dos marcadores sorológicos, e o
diagnóstico do VHB geralmente é feito pela pesquisa dos antígenos HBsAg e HBeAg, e de
anticorpos específicos: anti-HBs, anti-HBc e anti-HBe presentes no soro do paciente, sendo
utilizado o teste de ensaio imunoenzimático (ELISA) (Tavares Neto, 2004).
A replicação viral e a resposta imune do paciente se dá de acordo com a localização
dos principais antígenos do HBV. O primeiro antígeno a aparecer no curso da hepatite B é o
HBsAg. Na hepatite B aguda, este marcador persiste de três a quatro meses após a infecção
pelo HBV e desaparecem após a evolução do paciente para a cura. No entanto, se o HBsAg
persistir por mais de seis meses a hepatite B será crônica e, portanto, constitui em um
indicativo para a fase crônica (Soares, 2003).
1.2.6 TRATAMENTO E MEDIDAS PREVENTIVAS
Nenhuma forma de tratamento específico encontra-se indicada nas formas agudas
sintomáticas da hepatite B, cerca de 95% dos pacientes evoluem para a cura espontânea da
infecção, com aparecimento de anticorpos anti-Hbs, indicativos da resolução do processo.
Aproximadamente, 2 a 3 pacientes por 1.000 infectados desenvolvem hepatite fulminante a
24
subfulminante, formas com elevada mortalidade (> 80%) e que necessitam ser tratadas em
unidades de terapia intensiva, devido às múltiplas complicações decorrentes da insuficiência
hepática aguda (Alter et al., 1989).
A melhor forma de tratamento é através do transplante hepático, que tem sido
realizado em vários centros do mundo, com grande sucesso. A sobrevida após cinco anos de
transplante nesses pacientes, encontra-se em torno de 80%. A recorrência da infecção, nesses
casos, revela-se improvável, uma vez que a replicação cessa rapidamente, inclusive com
desaparecimento do HBsAg e surgimento precoce do anti-HBs (Braga et al., 2004).
Os indivíduos infectados pelo VHB com indicações para tratamento específico, são
representados principalmente pelos doentes com hepatite crônica e cirrose hepática. Muitas
drogas têm sido avaliadas no tratamento dessa virose nos últimos 10 anos, e a eficácia de cada
uma delas, em estudos controlados, apresenta resultados bastante variáveis (Arraes et al.,
2003).
O principal objetivo no tratamento da infecção crônica pelo VHB, é o de suprimir a
replicação viral antes que ocorra dano irreversível ao fígado. O interferon foi à primeira droga
aprovada para tratamento da infecção crônica pelo VHB. O interferon possui atividade
antiviral e imunomoduladora e ambas as ações mostram-se importantes no tratamento dessa
virose (Arraes et al., 2003).
A terapia com interferon deve ser considerada em pacientes com hepatite crônica B,
com evidências de replicação viral (HBeAg e VHB-DNA positivos) e doença hepática ativa,
(aminotranferases elevadas e atividade necroinflamatória à biópsia do fígado) (Brasil, 2004).
Os cirróticos compensados com evidências de replicação viral devem também ser
considerados candidatos ao tratamento. Ao contrário, hepatopatas crônicos com icterícia,
ascite ou sinais de encefalopatia não devem ser tratados com interferon, devido ao risco de
desencadeamento de insuficiência hepática e de infecções bacterianas graves. A dose
comumente administrada de interferon para pacientes com hepatite crônica B é de 5 milhões
de unidades diárias ou 10 milhões de unidades três vezes por semana, por via subcutânea,
durante 4 a 8 meses (Brasil, 2004).
25
Estudos controlados, randomizados, mostraram que essa citocina é benéfica para esses
indivíduos, e observou-se uma diferença significativa entre pacientes tratados e controles,
quando avaliados após 6- 12 meses de seguimento pós-tratamento; o clareamento do HBeAg
ocorreu em 33% dos tratados, comparado com 12% dos não tratados; o VHB-DNA
desapareceu em 37% dos tratados e em 17% dos não tratados; e o HBsAg em 8% dos que
receberam a droga contra 1,8% dos que não a receberam. Os pacientes que responderam à
medicação desenvolveram anti-HBe, normalizaram as aminotransferases e mostraram sensível
diminuição da atividade inflamatória à biópsia hepática (Arguello et al., 2003).
A erradicação completa da infecção pelo VHB tem sido raramente documentada,
embora um clareamento tardio do HBsAg encontra-se reportado em 25% a 65% dos
respondedores após vários anos de seguimento. Os pacientes que não responderam a um
primeiro curso de tratamento com interferon, podem ser retratados com o mesmo esquema
terapêutico durante 6 meses; um estudo recente mostrou que um terço desses doentes
apresentaram remissão da doença após o novo tratamento (Arguello et al., 2003).
A eficácia e a tolerância ao tratamento com interferon em crianças com infecção pelo
VHB replicativa, revelaram-se similares às observadas em adultos. Vários efeitos adversos
encontram-se associados ao uso prolongado do interferon. Os mais comuns são os
relacionados à chamada síndrome flu-like, em que febre, mialgias, mal estar e cefaléia estão
presentes. Outros efeitos colaterais incluem perda de peso, alopécia, distúrbios
neuropsiquiátricos (incluindo depressão profunda e suicídio) e queda no número de leucócitos
e plaquetas. Os portadores de afecções auto-imunes não devem fazer uso dessa medicação,
devido ao risco de exacerbação da doença durante a terapêutica (Arraes et al., 2003).
Diversos medicamentos têm sido recentemente utilizados no tratamento da infecção
crônica pelo VHB. A descoberta de que esse vírus utiliza a enzima transcriptase reversa no
seu ciclo de replicação celular, motivou vários autores a empregar medicações inibidoras
dessa enzima, habitualmente indicadas para o tratamento da infecção pelo HIV, na terapêutica
da hepatite crônica B. A lamivudina (3-thiacytidina - 3TC), um análogo de nucleosídeo, de
potente ação contra a transcriptase reversa, mostrou ser a droga mais promissora desse grupo
no tratamento da hepatite B. Ela inibe a síntese do DNA-VHB, a partir do RNA prégenômico, bloqueando portanto, a síntese de novas partículas virais (Barreales et al., 2006).
26
Na maioria dos estudos até agora realizados, a dose utilizada foi de 100mg diária, por
via oral, por no mínimo 12 meses. A droga mostrou-se bem tolerada e produziu rápido
decréscimo dos níveis do DNA-VHB no soro, que persistiu durante toda terapia, mas após o
seu término houve reaparecimento do ácido nucléico viral em níveis similares aos observados
antes do tratamento.
A soroconversão HBeAg/anti-HBe ocorreu em 15% a 20% dos pacientes tratados,
percentuais esses similares aos documentados após um curso de 4 meses de monoterapia com
interferon alfa. Constatou-se a melhora bioquímica e histológica em aproximadamente 50%
dos doentes, incluindo alguns que não haviam alcançado a soroconversão. A progressão da
fibrose hepática foi retardada significativamente em todos os indivíduos tratados com
lamivudina comparados com o placebo, independentemente da resposta sorológica (Alter et
al., 1989).
O alto índice de recidivas observado após o término da terapêutica com lamivudina
pode estar relacionado à persistência do DNA-VHB circular (cccDNA) no núcleo do
hepatócito. Esses ácidos nucléicos servem de molde para transcrição do RNA pré-genômico.
A maioria dos antivirais ativos sobre o VHB possui pouco ou nenhum efeito sobre o DNAVHB circular do núcleo hepatocítico, e isso parece ser a causa do rápido reaparecimento do
ácido nucleico viral no soro após o término da terapia (Arguello et al., 2003).
Estudos recentes ressaltam que o prolongamento da terapia com lamivudina para 18
meses levou à perda do HBeAg em 38%, desaparecimento do DNA-VHB em 100% dos
casos, além de normalização das aminotransferases séricas em 43% dos pacientes tratados; a
perda do HBeAg manteve-se sustentada após a retirada da droga, o que sugere que a
medicação possa ser suspensa após o desaparecimento desse marcador sorológico (Arguello et
al., 2003).
A lamivudina também encontra-se indicada na terapia de pacientes portadores de
hepatite crônica pela mutante pré-core do VHB. Como esses indivíduos não possuem HBeAg,
o objetivo final da terapêutica recai sobre o desaparecimento do DNA-VHB, além da melhora
bioquímica e histológica. Dois estudos demonstraram a eficácia virológica, bioquímica e
histológica dessa droga nesses pacientes, se comparada ao placebo, embora em um deles o
índice de recidiva pós terapêutico tenha sido elevado (Behal et al., 2008).
27
Os pacientes com cirrose hepática pelo VHB, em fase replicativa, também
demonstraram melhora significativa nos seus parâmetros bioquímicos e virológicos, quando
tratados com a lamivudina. A evolução e a sobrevida nesses casos, aparentemente foram
melhores nos doentes submetidos à terapêutica com esse antiviral (Arguello et al., 2003).
Novos estudos mostram-se necessários para avaliar o efeito da combinação de drogas
no tratamento da hepatite B. O maior problema resultante do tratamento prolongado com
lamivudina é o desenvolvimento de resistência por mutação na polimerase do VHB (Arguello
et al., 2003).
Poucos efeitos colaterais têm sido observados durante a terapia com lamivudina,
mesmo quando administrada em doses maiores (300mg/dia). A diarréia pode eventualmente
surgir durante o uso da medicação. A redução da dose mostrou-se necessária em pacientes
com insuficiência renal (clearence de creatinina < 50ml/minuto). Outros agentes antivirais já
foram empregados no tratamento da hepatite crônica B (Behal et al., 2008).
Os cirróticos descompensados, com icterícia, ascite e encefalopatia hepática, possuem
poucas chances de resposta a qualquer terapia antiviral e, portanto, devem ser encaminhados
para o transplante hepático. O maior problema observado nos transplantados VHB positivos é
a reinfecção do enxerto com desenvolvimento de hepatite crônica, que pode ser grave em
alguns casos, levando o paciente ao óbito (Behal et al., 2008).
O famciclovir e a lamivudina têm sido utilizados com algum sucesso para tratar as
recorrências do VHB em pacientes submetidos à transplante. Essas drogas podem inclusive
prevenir a reinfecção do fígado se forem administradas, pelo menos um mês antes do
transplante e por, no mínimo, um ano após a cirurgia. Altas doses de imunoglobulina antihepatite B também têm sido usadas para prevenir a reinfecção, mas infelizmente, alguns
estudos demonstraram que esses anticorpos retardam, mas não evitam a infecção posterior do
enxerto (Arguello et al., 2003).
Quanto à prevenção, a vacinação se faz na melhor forma ainda existente de profilaxia,
além do incentivo a atividades educativas em saúde, estimulando o uso de métodos de
prevenção, como o uso da camisinha e adesão a práticas sexuais seguras, reforço quanto a
28
medidas voltadas aos cuidados pessoais, como o não compartilhamentos de alicates de unhas,
giletes, dentre outros, realização de testagem em casos de vulnerabilidade, conscientização
dos profissionais de saúde, adesão precoce da gestante ao pré-natal, com a realização de
marcadores sorológicos, possibilitando evitar a transmissão vertical, assegurando não apenas
a saúde materna como fetal, são ações que se fazem indispensáveis para o controle e redução
deste agravo (Brasil, 2005).
1.3 O VÍRUS DA HEPATITE C (VHC)
No ano de 1989, foi descrito o agente etiológico causador da hepatite C, denominado
VHC (Choo et al., 1989), sendo desenvolvido neste mesmo ano, o método de investigação
sorológica para detecção dos anticorpos para o VHC (Kuo et al., 1989).
A hepatite C já era estudada antes da descoberta de seu agente etiológico, quando foi
denominada hepatite não A não B, uma forma de doença hepática aguda ou crônica que
ocorria, geralmente, após uma transfusão sanguínea ou de hemoderivados (Silva, 2001). A
hepatite C, juntamente com a doença hepática alcoólica, são as maiores causas de doença
crônica do fígado (Strauss, 2001).
1.3.1 BIOLOGIA DO VHC
O VHC é um vírus hepatotrópico, tendo o homem como seu único hospedeiro natural
(Choo et al., 1989). O vírus da Hepatite C pertencente à família Flaviviridae, gênero
Hepacivirus (Szabó et al., 2003), se apresentando de forma distinta aos flavivírus e pestivírus,
sendo que os vírus mais relacionados filogeneticamente ao VHC são os vírus da hepatite G
(VHG), da dengue e da febre amarela (Simmonds, 2001).
O VHC tem sua partícula esférica e envelopada com aproximadamente, 55 nm de
diâmetro. Seu material genético é composto por uma fita de ácido ribonucléico (RNA) de
cerca de 9.500 nucleotídeos (Milagres, 2006). A partícula viral é composta por um envelope
lipídico, onde se localizam as glicoproteínas virais E1 e E2, sendo o capsídeo protéico
icosaédrico contendo, em seu interior, um RNA de fita simples com polaridade positiva
(Imbert et al., 2004; Figura 6).
29
Figura 6 – Representação esquemática da morfologia do VHC
Fonte: Adaptado de James, 2001
A estrutura genômica do VHC tem cerca de 9.500 nucleotídeos (Mello, 2006). Possui
três regiões distintas: uma região 5’ não traduzida (5’ UTR) de 341 pares de bases uma
extensa janela de leitura aberta que codifica uma poliproteína de 3.011 aminoácidos, e uma
região 3’ não traduzida (3’ UTR), de cerca de 27 pares de bases (Zein, 2000). A poliproteína
do vírus cliva-se em seu pólo N-terminal originando as proteínas estruturais (core, E1 e E2),
que se envolvem na constituição do VHC. No pólo C-terminal a poliproteína é clivada em seis
proteínas não estruturais (NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) e estão envolvidas na
replicação viral (Lyra et al., 2004).
O VHC se agrupa em nove genótipos distintos que são identificados através de
números (1 a 9) e vários subtipos (76) já descritos (Silva et al., 2012) e que são caracterizados
através de letras minúsculas (a,b,c, etc) (Simmonds, 2004; 2005).
1.3.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA INFECÇÃO PELO VHC
A transmissão do VHC ocorre principalmente, por via sanguínea, através de
transfusões de hemoderivados, uso de drogas injetáveis, hemodiálise, inalação de cocaína,
tatuagens e piercing (Strauss, 2001; Alter, 2002). Atividades cotidianas e habituais de higiene
30
pessoal já foram relatadas como possíveis na transmissão do VHC, como a partilha de lâmina
de barbear e escovas de dente (Bessa, 2009). A transmissão pela via sexual, se ocorrer, é
pouco freqüente, não alcançando 5% dos casos (Tibbs, 1995).
Apesar do vírus ser detectado na saliva, é pouco provável a transmissão por meio de
compartilhamento de utensílios para higiene oral, mas existe a recomendação para o não
compartilhamento desses objetos (Wang et al., 2003). O VHC é detectado também no sêmen,
urina, bile, mucosa intestinal e líquido ascítico, porém, com baixo potencial de risco de
transmissão (WHO, 2002; Focaccia et al., 2004). O risco de transmissão vertical (maternofetal) do VHC ocorre em, aproximadamente, 6% dos casos, e está associado à presença de
viremia elevada. Contudo, ainda não se sabe se a infecção ocorre durante a gravidez ou
durante o parto (Tibbs, 1995).
Antes da seleção rigorosa dos doadores de sangue e dos testes de triagem para a
utilização dos hemoderivados, que no Brasil só se deu a partir de 1991, o VHC era a maior
causa de hepatite pós-transfusional (Martins, 2011).
Usuários de drogas injetáveis e inaláveis que fazem compartilhamento de utensílios
usados para o consumo, constituem um importante grupo de risco para a contaminação pelo
VHC com prevalência entre 70% a 90% (Yen et al., 2003; Manual de Orientações Hepatites
Virais, 2008).
Outras possíveis vias de transmissibilidade do VHC estão associadas à exposição a
sangue por material cortante ou perfurante de uso coletivo, sem esterilização adequada, como:
manicure, pedicure e tratamentos estéticos que envolvam materiais pérfuro-cortantes,
tatuagens e piercing (Mariano et al., 2004). Mesmo excluídos todos os fatores de risco
anteriores, a transmissão esporádica, ou sem modo conhecido, é responsável por pelo menos
12% dos casos (Tibbs, 1995).
A hepatite C pode se apresentar de três modos diferentes, a forma aguda, com
resolução da infecção e recuperação em 15% dos pacientes, a infecção crônica em que,
aproximadamente, 70% dos pacientes podem evoluir para complicações hepáticas em algum
momento da vida, e a progressão rápida para a cirrose em 15% dos casos (Kobayashi et al.,
2004).
31
Ainda vale lembrar que não existe nenhuma medida específica eficaz para redução do
risco de transmissão após exposição ao VHC. Os profissionais de saúde que apresentarem
exame sorológico positivo (no momento do acidente ou durante o acompanhamento) deverão
ser encaminhados aos serviços especializados para realização de testes confirmatórios,
acompanhamento clínico e tratamento, quando indicado (Brandão Junior, 2000).
1.3.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DO VHC
O diagnóstico da infecção pelo VHC ocorre, em sua maior parte, em triagens
sorológicas em doações de sangue, ou por vezes, quando em exames rotineiros, faz-se a
descoberta de alterações significativas nas enzimas hepáticas (Oliveira et al., 1999; Mincis et
al., 2007).
A hepatite C tem como característica a assintomatologia, sendo observado
manifestações ictéricas entre 5% a 10% dos casos (Busch et al., 2006). Apenas com os
aspectos clínicos não é possível identificar o agente etiológico, sendo necessária a realização
de exames sorológicos (Mello, 2006).
São utilizadas em geral, duas categorias de testes para diagnosticar a infecção pelo
VHC, testes indiretos, que detectam anticorpos contra o VHC, e testes diretos, tais como a
pesquisa do RNA do VHC e o teste de detecção do antígeno do core do VHC (Chevaliez et
al., 2005; Forns et al., 2006).
A genotipagem viral e a determinação dos subtipos virais são importantes, pois podem
influenciar na terapêutica a ser adotada, sendo que este processo é baseado, geralmente, em
métodos moleculares (Prati et al., 1994; Chevaliez et al., 2005: Forns et al., 2006).
Inicialmente, a definição da infecção pelo VHC é feita pelo marcador sorológico antiVHC, sendo que o teste mais utilizado é o Ensaio Imunoenzimático do tipo ELISA (Chevaliez
et al., 2006). O teste anti-VHC de terceira geração, detecta anticorpos contra quatro proteínas
do VHC (Souza, 2007).
32
Considerando a utilização do teste ELISA, a especificidade e sensibilidade na detecção
do anti-VHC, pode ser considerada, por este teste, denominado como de 3ª geração, igual a
cerca de 99% em indivíduos imunocompetentes com replicação viral ativa (Forns et al.,
2006). Resultados falso-positivos podem ocorrer em populações de baixo risco (Pawlotsky,
2002), falsos-negativos no intervalo da infecção pelo VHC e a detecção de anticorpos em
casos de imunossupressão e imunodeficiência (Scavassa, 2006).
A pequisa qualitativa de genoma viral (VHC-RNA) confirma a presença do vírus, uma
vez que muitos dos testes não são conclusivos para a confirmação do VHC, não existindo no
mercado mundial um teste que tenha 100% sensibilidade e de especificidade, visto que
quando utilizados em populações onde os valores de prevalência são pequenos, geram um
considerável número de casos falso-positivos, necessitando, então, para esse fim, dos testes de
biologia molecular (Ferreira & Scavassa, 2002; 2006).
O conhecimento dos genótipos envolvidos na infecção pelo VHC é de grande
importância, tendo em vista que a evolução clínica se dá de forma diferente em função dos
genótipos presentes. O genótipo 1, por exemplo, tem uma resposta menos satisfatória ao
tratamento, em pacientes com cirrose hepática pelo VHC, se comparado aos genótipos 2 e 3
(Annicchiarico et al., 2008), além de apresentar lesões hepáticas mais graves (Harris et al.,
2006).
1.3.4 EPIDEMIOLOGIA DO VHC
O perfil epidemiológico da infecção pelo VHC é tão complexo quanto à história
natural da doença. A infecção pelo VHC tem uma distribuição universal e as suas altas taxas
de prevalência estão diretamente relacionadas com alguns grupos de risco, tais como
hemofílicos, pacientes hemodialisados, receptores de múltiplas transfusões, recém-nascidos
de mães portadoras e toxicômanos (Fonseca, 2006).
O VHC é considerado uma doença endêmica, de distribuição mundial, com variações
em sua prevalência de acordo com características epidemiológicas distintas (Martins et al.,
2011). Segundo estimativas da OMS, cerca de 2% da população mundial é infectada (Perz et
33
al., 2004), e 80% desenvolve hepatite crônica (Lavillette et al., 2005). Na Europa e nos
Estados Unidos a prevalência varia entre 0,2% a 3%, no continente Africano entre 5% (Silva
et al., 2012).
Estima-se que 170 milhões (3%) de pessoas no mundo estão infectadas pelo VHC
(Wong et al., 2006). Os índices variam em entre 1% da população em países como Reino
Unido, Escandinávia, Nova Zelândia e algumas áreas do Japão, ou chegam até a 26% no caso
do Egito (Focaccia, 2007), sendo que nas Américas é de 1,7% (Tanno et al., 2005).
No Brasil, a maioria dos estudos sobre prevalência da infecção pelo VHC envolve
grupos específicos como usuários de drogas, pacientes hemodializados e doadores de sangue,
o que não representa a população em geral (Focaccia et al., 2004). Desta forma, com base em
doadores de sangue, a prevalência de anti-VHC nas diversas regiões foi de 0,62% no Norte;
0,55% no Nordeste; 0,43% no Sudeste; 0,28% no Centro-Oeste e 0,46% no Sul (Brasil, 2006).
Estudos referem que no Brasil, a infecção acomete 3% da população (Martins et al.,
2011). Estudos epidemiológicos realizados em grupos de risco e pré-doadores de sangue
(Carvalho et al., 2009; Pereira et al., 2012), estimam que o país apresente cerca de 10 mil
novos casos de hepatite C por ano, com cerca de 2 mil óbitos, sendo esta infecção responsável
por 70% das hepatites crônicas. Nos países industrializados, a hepatite C corresponde a 40%
dos casos de cirrose descompensada, 60% de carcinoma hepatocelular e 30% dos transplantes
de fígado (Vasconcelos et al., 2006).
Dados divulgados pelo governo brasileiro apontam para uma estabilização no número
de casos de hepatite C nos últimos três anos (Brasil, 2010). Com relação ao ano de 2009, o
número de casos notificados nos sistemas oficiais mostram uma distribuição heterogênea dos
casos, tendo como posição de destaque no cenário nacional o estado do Acre, na região norte,
encabeçando a lista de maior número de casos notificados por 100.000 mil habitantes (Brasil,
2010; Figura 7).
Os dados na região norte, quanto as notificações realizadas no Estado de Rondônia,
demonstram resultados divergentes aos encontrados em estudos realizados na Amazônia
Ocidental, aspectos relacionados a sub-notificações ou informações inconsistentes frente ao
sistema de informação nacional (Brasil, 2010).
34
Figura 7. Taxa de detecção (por 100.000 hab.) de hepatite C por estado em 2009
Fonte: SINAN, 2010
Dados epidemiológicos no Brasil, compreendendo o período entre 1999 a 2011,
revelam que os maiores números de casos concentram-se na região sudeste e sul. Juntas, essas
duas regiões são responsáveis 90% dos casos confirmados, a região norte e centro oeste do
país concentram os menores percentuais de casos confirmados nos últimos 10 anos (Brasil,
2012). O estado de Rondônia é considerado uma região de alta endemicidade, no entanto,
poucos estudos sobre o VHC foram realizados na Amazônia Ocidental (Katsuragawa et al.,
2010).
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 OBJETIVO GERAL
Determinar as características epidemiológicas de doadores de sangue com sorologia
positiva para o VHB e VHC, avaliando ainda a prevalência isolada e conjunta desses
marcadores sorológicos.
35
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Descrever a soroprevalência das Hepatites B e C;

Descrever o perfil epidemiológico dos doadores;
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizado um estudo descritivo, com
levantamento de dados em arquivos do Hemocentro de Ariquemes – RO (HEMOAR),
compreendendo o período de doações realizadas entre o ano de 2010 a 2012. As informações
obtidas foram organizadas e tabuladas com o uso do Programa Bioestat 5.0.
2.1 LOCAL DO ESTUDO
Ariquemes é um município brasileiro do estado de Rondônia, seu nome é uma
homenagem a tribo indígena Arikeme, habitantes originais dessa região, com sua fundação em
21 de novembro de 1977.
Juntamente com os municípios de Vilhena e Porto Velho, Ariquemes foi considerada,
pela revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, como uma das 25 melhores cidades do
Brasil para se empreender.
A cidade de Ariquemes é o primeiro município do interior com a maior arrecadação
estadual, destacando-se pela pecuária, produção de café, cacau, guaraná e cereais, com o
maior garimpo a céu aberto do planeta, anteriormente também destacava-se pelo comércio da
madeira. O município reúne ainda inúmeras indústrias de diversos segmentos.
A população estimada do município, pelo último senso realizado pelo IBGE, é de
cerca de 90.000 habitantes. Os habitantes do município que residem em área urbana são
acompanhados pelas unidades de atendimento do Programa Saúde da Família dos diversos
36
bairros e setores, além de uma unidade para atendimento à área rural, com ações fixas e
móveis, um Hospital Municipal da Criança, para o atendimento de menores de idade, entre 0 à
12 anos, e acima de 12 anos, os atendimentos são realizados pelo Hospital Regional, o qual é
responsável pela assistência não apenas ao município, bem como atende a população de seis
cidades que compreendem a regional Ariquemes, Vale do Jamari.
As consultas de maior complexidade são realizadas por hospitais da rede pública de
saúde na capital Porto Velho, localizada a 320 km do município de Ariquemes- RO.
O município conta com uma Unidade de Coleta e Trasfusão de Ariquemes –
HEMOAR, no qual é responsável pela coleta, armazenamento e distribuição do sangue,
plasma e plaquetas, não apenas Ariquemes como as cidades que compreendem esta regional, a
qual conta com a fidelização de doadores, como uma estratégia para a segurança ao receptor e
manutenção das rotinas hemoterapêuticas necessárias.
2.2 AMOSTRA
Foram considerados como amostra, 9924 doadores de sangue do HEMOAR, cujas
doações foram realizadas entre o período de janeiro de 2010 à dezembro de 2012.
2.2.1 Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídos na pesquisa os indivíduos que satisfizeram as seguintes condições: (1)
Indivíduos que compareceram ao HEMOAR dentro do período adotado por este estudo, (2)
Candidatos considerados aptos à doação após a Triagem Social e de Enfermagem.
2.3 CAUSUÍSTICA
Foi realizada a coleta de dados nos relatórios de produção mensal do HEMOAR, os
quais são direcionados pelos parâmetros considerados pela FHEMERON e diretrizes
preconizadas pelo Ministério da Saúde.
37
Como período para a coleta de dados, foram adotados registros realizados na unidade
entre os anos de 2010 a 2012, considerando os critérios de inclusão e exclusão, frente à
população adotada para o estudo.
Não foi estabelecido contato com os candidatos a doação de sangue, sendo apenas
utilizados os registros contidos no Hemocentro, não sendo este projeto submetido ao Comitê
de Ética e Pesquisa (CEP) ou necessário Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Considerando o sigilo e a não identificação dos participantes neste projeto, foi
realizado um termo de autorização, junto a direção do banco de sangue, para a coleta e
publicação dos dados.
2.4 TESTES SOROLÓGICOS
Para se obter segurança dos produtos sangüíneos a serem utilizados em transfusões,
rígidos parâmetros de qualidade devem ser seguidos. Entende-se por segurança transfusional
o conjunto de medidas quantitativas e qualitativas adotadas que vise um menor risco aos
doadores e receptores de sangue, além da garantia de estoques estratégicos de sangue capazes
de atender à demanda transfusional. Em que pese todo o avanço na busca de segurança
transfusional, não existe transfusão isenta de Riscos (Chamone et al., 2001).
O ciclo hemoterápico, cujo processo se inicia com a captação e seleção de doadores,
seguindo-se a triagem sorológica e imuno-hematológica, processamento e fracionamento das
unidades coletadas, dispensação, transfusão e avaliação pós tranfusional devem ser baseadas
na eficácia e eficiência das ações realizadas (Tynell et al., 2001).
No Brasil, a portaria nº 343 MS/2001, determina a realização de testes de triagem
sorológica nos serviços de hemoterapia para sífilis, doença de Chagas, hepatites B e C, Aids,
HTLV e malária. No que se refere aos receptores de sangue, a referida portaria determina a
realização de testes imuno-hematológicos, quais sejam, ABO/Rh, pesquisa de anticorpos
irregulares (PAI) e testes de compatibilidade (Prova Cruzada) (Anvisa, 2013).
38
Como métodos de triagem sorológica, são utilizados na rotina laboratorial, os métodos
de hemaglutinação, enzimaimunoensaio, radioimunoensaio, quimioluminescência, além de
técnicas de biologia molecular (VICTORIA, 2003).
Antígenos virais sobre a superfície celular ou no interior da célula podem ser
detectados por imunofluorescência e ensaio imunoenzimático, e os antígenos virais liberados
de células infectadas podem ser detectados por ensaio imunoenzimático (ELISA),
radioimunoensaio (RIA) e aglutinação em látex (MURRAY et al., 2000).
O método mais utilizado na rotina laboratorial é o imunoenzimático direto (ELISA
direto) baseado na ligação antígeno-anticorpo, que apresenta vantagens como rapidez no
processamento, facilidade de automação, alta confiabilidade e custo relativamente baixo. O
resultado é obtido através da leitura ótica da intensidade de cor formada na reação, a qual será
proporcional à concentração do antígeno ou anticorpo pesquisado (MATOS et al, 2004).
A reação em cadeia da polimerase (PCR) tornou-se muito importante para a detecção
de partículas virais (LINDH et al., 2005). A utilização de primers promove a amplificação de
uma seqüência-alvo em poucas horas, possibilitando a detecção de seqüências de vírus
latentes e integrados (MURRAY et al., 2000). A PCR amplifica o DNA viral através de uma
reação enzimática que compreende a desnaturação, hibridização e polimerização, sendo toda a
reação catalisada pela enzima polimerase (VICTORIA, 2003).
Nos últimos anos, métodos de PCR em tempo real, com escalas mais abrangentes de
detecção e possibilidade de quantificação, foram descritos (LINDH et al., 2005), contribuindo
para a compreensão da viremia nos diferentes estágios da doença em diferentes populações,
além do monitoramento da resposta do paciente à medicação (KONNICK et al., 2005).
2.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para a análise dos resultados, foi utilizado o software Biostat 5.0 (Ayres et al., 2009),
com a análise dos dados, distribuição de frequências relativas, sendo ainda utilizado o valor
mínimo, valor máximo e mediana para as variáveis quantitativas contínuas, e posteriormente,
39
os dados foram categorizados e agrupados. Foi realizada a aplicação dos testes do Quiquadrado (X2) para duas ou mais amostras, comparação entre amostras, e realizado teste de
significância, adotado como valor de p < 0,05, através das tabelas de contingência, permitindo
a apresentação dos resultados de forma descritiva, com o levantamento de indicadores
presentes no processo e avaliação.
3. RESULTADOS
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Entre os anos de 2010 e 2012 foram atendidos 13.416 candidatos a doadores de sangue
no Hemocentro (HEMOAR) de Ariquemes, Rondônia, Brasil, dos quais, 9924 (74,0%) foram
aceitos, ou seja, considerados aptos a serem doadores, e os demais 3492 (26,0%) não foram
aceitos, considerados assim inaptos. Analisando essas diferenças nos anos estudados verificase que elas são estatisticamente significantes (χ2=30,128, p<0,0001) entre os grupos. Sendo o
ano de 2012, o ano em que houve uma maior prevalência de candidatos inaptos (29,0%),
como mostra o gráfico 1:
χ2=30,128
p<0,0001
Gráfico 1: Distribuição dos candidatos a doadores de sangue no Hemocentro de
Ariquemes/RO (HEMOAR) quanto a aptidão entre 2010 e 2012.
40
Quanto às características sociodemográficas da população selecionada, ou seja, que
estavam aptas a doarem sangue, avaliamos o gênero e a idade (Tabela 1). No que se refere ao
gênero, verificou-se uma prevalência de doadores aptos entre os homens nos três anos
analisados, no entanto, sem apresentar diferenças estaticamente significantes (χ2=0,311,
p=0,8558). O mesmo não ocorreu com a distribuição dos doadores quanto a faixa etária, que
apresentaram diferenças estatisticamente significantes (χ2=7,025, p=0,0298) com uma
prevalência maior entre os doadores com faixa entre 18 a 29 anos de idade.
Tabela 1: Distribuição dos candidatos a doadores de sangue considerados aptos (aceitos) no
Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR) entre 2010 e 2012.
Ano
2010
2011
2012
Variáveis
n
%
n
%
n
%
Gênero
Feminino
1275
36,0
1245
36,6
1084
36,4
Masculino
2268
64,0
2154
63,4
1898
63,6
Total
Faixa Etária
18 à29 Anos
3543
100,0
3399
100,0
2982
100,0
1977
55,8
1828
53,8
1568
52,6
Acima de 29 Anos
1566
44,2
1571
46,2
1414
47,4
3543
100,0
3399
100,0
2982
100,0
Total
p
0,8558
0,0298*
*Estatisticamente significante
3.2 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS DE
INTERESSE
Os 9924 (74,0%) doadores aceitos (aptos) a fazerem a doação de sangue nesse período
de 2010 a 2012, se submeteram anteriormente a triagem social, e após esta, realizada a
consulta de enfermagem, seguido pela triagem sorológica. Nessa triagem, foi possível
verificar várias infecções de interesse, como será descrito a seguir, impossibilitando o uso da
bolsa de sangue.
3.2.1 VHB
O primeiro marcador sorológico da infecção pelo VHB analisado é o HBsAg.
Verificou-se a presença deste marcador em 119 (1,2%) dos doadores de sangue do HEMOAR.
41
Estes valores não apresentam nenhuma diferença estatisticamente significante (χ2= 1,6519 e
p=0,1987) neste período, mas esses valores mostram uma tendência decrescente na
prevalência desse marcador nesse período. Observa-se no gráfico 2, que em 2010 foram 50
casos positivos para a sorologia do HBsAg ou seja 1,41% dos doadores de sangue que
compareceram ao HEMOAR, em 2011 esse número reduziu para 37 (1,09%) e em 2012
reduziu-se ainda mais um pouco, caindo para 32 casos, ou seja 1,07% dos doadores.
χ2= 1,6519
p=0,1987
Gráfico 2: Distribuição dos casos positivos de HBsAg entre os doadores de sangue no
Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR) nos anos entre 2010 e 2012.
Com relação à presença de marcadores sorológicos de anticorpos, o anti-HBc, que
representa um contato prévio com o vírus, este foi detectado em 1158 (11,7%) dos doadores
de sangue do HEMOAR. Conforme o gráfico 3, é possível observar que, no ano de 2010,
houve uma prevalência maior (13,0%) havendo uma queda em 2011 para 10,4%, e novamente
se elevando no ano de 2012 para 11,6%. Essas variações nos mostram diferenças
estatisticamente significantes entre os períodos estudados (χ2= 21,326 e p< 0,0001).
42
χ2= 21,326
p< 0,0001
Gráfico 3: Distribuição casos positivos de anti HBc entre os doadores de sangue no
Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR) nos anos entre 2010 e 2012. Quanto ao anticorpo
anti-HBs, este não foi testado em nenhum dos doadores de sangue que fizeram os testes
sorológicos no HEMOAR.
3.2.2 HEPATITE C
Para a detecção da hepatite C, foi utilizado nesse estudo o marcador anti-VHC, e com
base nos testes sorológicos realizados, verificou-se que, dos 9924 doações realizadas no
período de 2010 a 2012, 46 apresentaram sorologia reagente para hepatite C, apresentando
assim uma ocorrência global de 0,46%.
Avalia-se que, no período estudado, existe uma tendência de queda gradativa no
número de casos, bem como verifica-se também que a quantidade de casos de inaptidão pela
triagem sorológica do VHC, apresenta diferenças estatisticamente significantes (χ2= 10,638 e
p= 0,0049)
com relação ao número de pessoas que foram consideradas aptas a serem
doadoras de sangue neste período.
43
Tabela 2: Número de doações de sangue no Hemocentro de Ariquemes/RO (HEMOAR),
com sorologia reagente para Hepatite C e a ocorrência em relação ao número total de doações
por ano, no período entre 2010 e 2012.
Aptas
Inaptas
Ocorrência
Ano
(Triagem clínica)
(Triagem Sorológica)
(%)
2010
3543
27
0,76
2011
3399
11
0,32
2012
2982
8
0,27
3308 ± 291,4
15,3 ± 10,2
0,45 ± 0,27
Média ±DP
χ2= 10,638 e p= 0,0049
4. DISCUSSÃO
As medidas pré-transfusionais, como a captação e seleção de doadores, somados aos
testes de triagem sorológica, diminuem sensivelmente a possibilidade de transmissão de
doenças por meio de transfusão, mas não isenta de riscos para os receptores (Marwaha et al.,
2003).
Considerando que os testes para triagem sorológica não apresentam 100% de
sensibilidade e especificidade, e, ainda, pela possibilidade da não identificação de doenças
durante a triagem clínica, na grande maioria de curso assintomático, corre-se o risco de
transmissão de patógenos m fase de janela imunológica (Fernandes, 2001).
Quanto à motivação para a doação de sangue, o doador pode ser identificado como:
espontâneo, de reposição, convocado e autólogo. Nenhuma forma de coação deve ser utilizada
para induzir a doação. O doador espontâneo habitual é o mais desejado e, conseqüentemente,
aquele com maior possibilidade de promover melhor segurança transfusional (Salles et al.,
2003).
Neste estudo, foi verificado o predomínio de doadores do gênero masculino 64%, a
exemplo do descrito em outras regiões do Brasil, com valores iguais a 81,5% no Norte, 82,7%
no Nordeste, 76,6% no Centro-Oeste e 71,7% no Sul (ANVISA, 2002).
44
O HBsAg e o Anti-HBc total são utilizados rotineiramente como testes de triagem em
bancos de sangue. O HBsAg, determinante antigênico encontrado na superfície do VHB, é o
primeiro marcador a ser detectado no curso da infecção pelo VHB, tornando-se positivo de 2
a 6 semanas e poderá permanecer positivo durante todo o período da infecção nos portadores
crônicos. Antes mesmo do desaparecimento deste antígeno, surge o anti-HBc, anticorpo
contra antígenos do nucleocapsídeo (core) do VHB (Pelinga, 2008).
Por ser o primeiro anticorpo presente, e algumas vezes o único marcador detectado
durante a evolução da infecção, dificuldades na interpretação deste marcador aparecem
quando o anti-HBc é encontrado sem correspondente reatividade para o HBsAg ou Anti- HBs,
sendo classificado como Anti-HBc isolado. A presença desse perfil sorológico pode estar
associada à infecção antiga, com baixos níveis de Anti-HBs; período de janela imunológica;
falsa reação positiva e portador crônico com HBsAg não detectável (Valente et al., 2005).
A prevalência de marcadores sorológicos positivos para hepatite B apresentada neste
estudo, 11,7%, demonstrou-se acima dos valores nacionais, que variam de 1 a 10% conforme
a região, já os marcadores para hepatite C, apresentaram-se abaixo da média nacional
(Strauss, 2001), com resultados iguais a 0,46%.
O alto número de doadores somente anti-HBc reagentes mostra a importância da
detecção deste marcador, o qual é o único presente no período de janela imunológica, e que
permite detectar a infecção presente ou passada em um número maior de indivíduos
(Fernandes et al., 1999).
Apesar da evidência de que a imunização ativa com o anti-HBc possa originar resposta
imune, esse marcador não é tido como anticorpo neutralizante, e sua presença não assinala a
recuperação da infecção pelo VHB (Silva et al., 2006). Mesmo assim, a exclusão de doadores
anti-HBc positivos é assunto muito controverso e que gera discussões, devido à evidência de
resultados falso-positivos, e o elevado número de doadores que são recusados. Com efeito,
1158 dos indivíduos apresentaram presença deste marcador nos testes de triagem, o que
correspondeu a uma positividade de 11,7%. Ressaltando que, doadores positivos apenas para
esse marcador, são considerados como definitivamente inaptos à doação, embora não sejam
encaminhados para acompanhamento em serviços especializados, fato que impossibilita a
determinação do percentual de falso-positivos nesta população (ANVISA, 2002).
45
No presente estudo, as prevalências do HBsAg e do anti-HCV (1,2% e 0,46%,
respectivamente), resultados divergentes aos encontrados entre os doadores do Serviço de
Hemoterapia do Rio de Janeiro (Hemolad) no ano de 2.000, as quais atingiram valores de
0,5% e 1,2%, respectivamente (Santos et al., 2001).
Com relação à prevalência da positividade por marcador, constatou-se que as taxas de
positividade de HBsAg evidenciadas foram maiores às encontradas por Toledo et al. (2005),
que encontraram prevalência, em militares, de 0,6%, visto que foi apresentada a prevalência
de 1,2% neste estudo.
Os dados inerentes a prevalência para hepatite B apontada por este estudo, coincide
com o descrito em outros estudos que salientam a grande variabilidade na prevalência da
infecção entre as regiões brasileiras (El Kouri & Santos, 2004), com tendência crescente do
VHB no sentido da região Sul/Norte. Estima-se que no país existam cerca de dois milhões de
portadores crônicos de VHB. Algumas investigações apontam que a freqüência da infecção
pelo VHB varia de 0,5% a 1,1% no Sul do país ate 1,5% a 3% nas regiões Centro e Noroeste,
atingindo 15% na região amazônica, considerada área de alta endemicidade. Ademais, a
prevalência de portadores crônicos na região Norte alcança 11%. Em decorrência disso, a
hepatite B representa um problema sanitário de grande importância nesta região (Cruz et al.,
2009).
Infecção pelo HCV tem distribuição em todo o território nacional, e suas taxas de
prevalência apresentam variações de acordo com cada região do Brasil, visto que os testes de
triagem sorológicos realizados nos bancos de sangue do Brasil não são de diagnóstico,
conforme determina a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 153, de 14 de junho de
2004 (Brasil, 2004).
Estudos realizados nos estados e municípios brasileiros sobre a taxa de prevalência de
anti-HCV em doadores de sangue mostraram taxas de 1,2% no Estado de Minas Gerais,
0,87% em São Paulo, 0,98% no Rio Grande do Sul, 0,42% em Santa Catarina, 0,75% no
Amazonas e 0,56% em Goiás (Wendel, 2003), além de prevalências de 0,9% (Paltanin &
Reiche, 2002) em Apucarana-PR, 0,47% (Rocha, 2003) em Uberlândia-MG e de 0,3%
(Valente et al., 2005) na cidade de Ribeirão Preto-SP.
46
No Brasil, ainda não se conhece a prevalência exata da infecção no território nacional
(Cruz et al., 2009), mas estudos em diversas regiões sugerem que esteja situada entre 1% e
3% da população geral (Brasil, 2010). Conforme dados levantados em rede de hemocentros,
referentes os pré-doadores de sangue, a distribuição da prevalência do vírus da hepatite C
variou da seguinte forma entre as regiões brasileiras, 0,62% no Norte, 0,55% no Nordeste,
0,28% no Centro-Oeste, 0,43% no Sudeste e 0,46% no Sul (Brasil, 2010), resultados
apresentados neste estudo se mostram semelhantes aos dados evidenciados.
Entre doadores de sangue de Uberaba, Minas Gerais, a prevalência do anti-VHC é de
0,3% (Garcia et al., 2009), números maiores que na pesquisa de Ciorlia & Zanetta (2007) em
São José do Rio Preto, São Paulo, com (1,7%). A prevalência encontrada mostrou-se inferior
a encontrada em cirurgiões dentistas (3,1%) em Belém, Pará, (Costa, 2006), e entre
toxicômanos de Goiânia, Goiás (6,9%; Lopes et al., 2009), e moradores de rua em São Paulo,
SP (8,5%; Brito et al., 2007). Neste estudo, dos 9924 doações realizadas no período de 2010 a
2012, 46 apresentaram sorologia reagente para hepatite C, apresentando assim uma ocorrência
global de 0,46%.
Estes dados também estão condizentes com dados encontrados em alguns países do
continente americano, como nos estudos realizados em 1994 e 1995 entre doadores
voluntários no noroeste do México, no qual a prevalência de anti-HCV foi de 0,47%
(Unifenas, 2013).
47
5. CONCLUSÕES
 A presença do marcador HBsAg se fez presente em 119 (1,2%) dos doadores
de sangue do HEMOAR no período adotado pelo estudo;
 O marcador sorológico anti-HBc total foi detectado em 1158 (11,7%) dos
doadores;
 Foi constatada a ocorrência global de 0,46% para hepatite C entre os
candidatos;
 Verificou-se uma prevalência de homens entre os doadores aptos, considerando
os três anos analisados, com prevalência de doadores com faixa etária entre 18
a 29 anos de idade;
48
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