IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL TÍTULO DO TRABALHO DESAFIO TERRITORIAL: Priorizando políticas públicas de inclusão social ao pequeno produtor rural TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 11 Meio ambiente, políticas públicas e gestão territorial AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO Patrícia Krieger Grossi PUCRS CO-AUTORES INSTITUIÇÃO 1 2 3 Beatriz G. Aguinsky Gisele Comiran Jaina Raqueli Pedersen PUCRS PUCRS PUCRS RESUMO DO TRABALHO Historicamente, o espaço compreendido pelo meio rural foi despercebido enquanto necessidade de investimento de políticas públicas de inclusão social, em especial o pequeno produtor. No Brasil é possível verificar um aumento das desigualdades regionais e a falta de complementaridade entre as regiões e seus habitantes, onde algumas áreas e/ou moradores, tornam-se cada vez mais autônomos e outros cada vez mais abandonados. Por isso a necessidade de formulação e implementação de políticas de desenvolvimento regional, considerando o acirramento das disparidades e a aceleração do processo de polarização entre as regiões, países e grupos sociais. Considerando as enormes desigualdades e suas particularidades, sejam elas econômicas, políticas ou sociais, pontua-se o cuidado necessário à definição de políticas públicas, no que diz respeito às especificidades do meio rural e urbano. Nesta perspectiva, o presente artigo versa sobre os desafios de inclusão social do pequeno produtor rural, considerando políticas públicas de geração de renda, baseadas no respeito ao meio ambiente como forma de garantir sua sustentabilidade. Enfatiza-se o pequeno produtor rural pelo fato deste, assim como outros segmentos de trabalhadores que detém pouco capital e meios de produção para investir em suas atividades, não estarem na agenda prioritária dos governantes. Além disso, pontua-se o atual momento de preocupação e discussão quanto à preservação e conservação dos recursos naturais e diante disso a necessidade de gestar políticas públicas de inclusão social que considerem esta situação e as particularidades do pequeno produtor e de sua propriedade rural. Num primeiro momento o trabalho discute a trajetória das políticas públicas para o meio rural, pontuando a necessidade deste resgate histórico diante de um cenário que desprivilegiou o espaço rural, em especial o pequeno produtor, em favor do espaço urbano na formulação e implementação de políticas públicas de inclusão social. Na seqüência apresenta-se uma das possibilidades de inclusão social através de projetos de geração de renda ponderando a necessidade do cuidado ao meio ambiente. Por fim, ressalta-se que as mudanças em curso e as transformações ocorridas no momento atual geram problemas, dificuldades e novos desafios exigindo da sociedade e do Estado a formulação de políticas públicas de inclusão social para melhor enfrentar as situações em que se encontram os pequenos produtores rurais. PALAVRAS- CHAVE Inclusão social. Política pública. Espaço rural. ABSTRACT Historically, the space understood as a rural environment was not perceived as in need of investments in social inclusion public policies, especially for the small productor. In Brazil, it is possible to verify the increase in regional inequalities and the lack of complementarities between the regions and their habitants where some areas and their residents become each time more autonomous and others more abandoned. Therefore, there is a need of formulation and implementation of regional development policies considering the increase of disparities and the acceleration of the process of polarization between regions, countries and social groups. Considering the huge inequalities and its economic, political or social particularities, it was highlighted the necessary care for the definition of public policies concerning the urban or rural spaces. In this perspective, the present article focus on the challenges of social inclusion for the small rural productor, considering public policies of income generation based on respect for environment as a way of guarantee their sustainability. It was emphasized that the small rural productor as well as other segments of workers have little capital and means of production to invest in their activities due to the fact that they are not in the high priority government’s agenda. Furthermore, it is pointed out the actual moment of concern and discussion concerning the preservation and maintenance of natural resources and the need of management of inclusive social policies that take into account this situation and the specificity of the small productor and its rural property. In the first moment, this paper discusses the trajectory of public policies in the rural space, pointing out the need of this historical review considering the dismissal of the rural environment in the current context, specially towards the small productor, in favor of the urban space in the formulation and implementation of public policies of social inclusion. In the sequence, it was presented one of the possibilities of social inclusion through income generation projects, and considering the need of care towards the environment. Finally, it was emphasized that changes in course and the transformations in the current moment cause problems, difficulties and new challenges, demanding from society and the State the formulation of public policies for social inclusion to better cope with the situations faced by the small rural productors. KEYWORDS Social Inclusion. Public Policy. Rural Space DESAFIO TERRITORIAL: Priorizando políticas públicas de inclusão social ao pequeno produtor rural Patrícia Krieger Grossi Beatriz G. Aguinsky Gisele Comiran Jaina Raqueli Pedersen Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS 11. Meio ambiente, políticas públicas e gestão territorial RESUMO: Historicamente, o espaço compreendido pelo meio rural foi despercebido enquanto necessidade de investimento de políticas públicas de inclusão social, em especial o pequeno produtor. No Brasil é possível verificar um aumento das desigualdades regionais e a falta de complementaridade entre as regiões e seus habitantes, onde algumas áreas e/ou moradores, tornam-se cada vez mais autônomos e outros cada vez mais abandonados. Por isso a necessidade de formulação e implementação de políticas de desenvolvimento regional, considerando o acirramento das disparidades e a aceleração do processo de polarização entre as regiões, países e grupos sociais. Considerando as enormes desigualdades e suas particularidades, sejam elas econômicas, políticas ou sociais, pontua-se o cuidado necessário à definição de políticas públicas, no que diz respeito às especificidades do meio rural e urbano. Nesta perspectiva, o presente artigo versa sobre os desafios de inclusão social do pequeno produtor rural, considerando políticas públicas de geração de renda, baseadas no respeito ao meio ambiente como forma de garantir sua sustentabilidade. Enfatiza-se o pequeno produtor rural pelo fato deste, assim como outros segmentos de trabalhadores que detém pouco capital e meios de produção para investir em suas atividades, não estarem na agenda prioritária dos governantes. Além disso, pontua-se o atual momento de preocupação e discussão quanto à preservação e conservação dos recursos naturais e diante disso a necessidade de gestar políticas públicas de inclusão social que considerem esta situação e as particularidades do pequeno produtor e de sua propriedade rural. Num primeiro momento o trabalho discute a trajetória das políticas públicas para o meio rural, pontuando a necessidade deste resgate histórico diante de um cenário que desprivilegiou o espaço rural, em especial o pequeno produtor, em favor do espaço urbano na formulação e implementação de políticas públicas de inclusão social. Na seqüência apresenta-se uma das possibilidades de inclusão social através de projetos de geração de renda ponderando a necessidade do cuidado ao meio ambiente. Por fim, ressalta-se que as mudanças em curso e as transformações ocorridas no momento atual geram problemas, dificuldades e novos desafios exigindo da sociedade e do Estado a formulação de políticas públicas de inclusão social para melhor enfrentar as situações em que se encontram os pequenos produtores rurais. PALAVRAS-CHAVES: Inclusão social. Política pública. Espaço rural. ABSTRACT: Historically, the space understood as a rural environment was not perceived as in need of investments in social inclusion public policies, especially for the small productor. In Brazil, it is possible to verify the increase in regional inequalities and the lack of complementarities between the regions and their habitants where some areas and their residents become each time more autonomous and others more abandoned. Therefore, there is a need of formulation and implementation of regional development policies considering the increase of disparities and the acceleration of the process of polarization between regions, countries and social groups. Considering the huge inequalities and its economic, political or social particularities, it was highlighted the necessary care for the definition of public policies concerning the urban or rural spaces. In this perspective, the present article focus on the challenges of social inclusion for the small rural productor, considering public policies of income generation based on respect for environment as a way of guarantee their sustainability. It was emphasized that the small rural productor as well as other segments of workers have little capital and means of production to invest in their activities due to the fact that they are not in the high priority government’s agenda. Furthermore, it is pointed out the actual moment of concern and discussion concerning the preservation and maintenance of natural resources and the need of management of inclusive social policies that take into account this situation and the specificity of the small productor and its rural property. In the first moment, this paper discusses the trajectory of public policies in the rural space, pointing out the need of this historical review considering the dismissal of the rural environment in the current context, specially towards the small productor, in favor of the urban space in the formulation and implementation of public policies of social inclusion. In the sequence, it was presented one of the possibilities of social inclusion through income generation projects, and considering the need of care towards the environment. Finally, it was emphasized that changes in course and the transformations in the current moment cause problems, difficulties and new challenges, demanding from society and the State the formulation of public policies for social inclusion to better cope with the situations faced by the small rural productors. Key- words: Social Inclusion. Public Policy. Rural Space. INTRODUÇÃO O meio rural foi despercebido durante décadas enquanto espaço que tinha e que ainda tem demandas a serem atendidas por políticas públicas de inclusão social, em especial aquelas direcionadas ao pequeno produtor rural. Além disso, houve no Brasil um aumento das desigualdades regionais e falta de complementaridade entre as regiões e seus habitantes, onde algumas áreas e/ou moradores, tornaram-se cada vez mais autônomos e outros cada vez mais abandonados. Frente a esta realidade, na década de 1990 começaram a ser formuladas e implementadas políticas de desenvolvimento regional, considerando o acirramento das disparidades e a aceleração do processo de polarização entre as regiões, países, grupos sociais e também entre o espaço compreendido pelo espaço urbano e pelo espaço rural. Nesta perspectiva, o presente artigo versa sobre os desafios de inclusão social do pequeno produtor rural, considerando políticas públicas de geração de renda, baseadas no respeito ao meio ambiente como forma de garantir sua sustentabilidade. Além disso, pontua-se o atual momento de preocupação e discussão quanto à preservação e conservação dos recursos naturais e diante disso a necessidade de gestar políticas públicas de inclusão social que considerem esta situação e as particularidades do pequeno produtor e de sua propriedade rural. Inicialmente o trabalho irá apresentar a trajetória das políticas públicas para o meio rural, pontuando a necessidade deste resgate histórico diante de um cenário que desprivilegiou o espaço rural, em especial o pequeno produtor, em favor do espaço urbano na formulação e implementação de políticas públicas de inclusão social. Na seqüência apresenta-se uma das possibilidades de inclusão social através de projetos de geração de renda ponderando a necessidade do cuidado ao meio ambiente. Neste item, também é apresentada brevemente às potencialidades do trabalho da política pública de assistência social para a inclusão social e para a geração de renda. Por fim, ressalta-se que as mudanças em curso e as transformações ocorridas no momento atual geram problemas, dificuldades e novos desafios exigindo da sociedade e do Estado a formulação de políticas públicas de inclusão social para melhor enfrentar as situações em que se encontram os pequenos produtores rurais. 1 A TRAJETÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O MEIO RURAL: um resgate necessário Segundo Reuter (2003, p. 38) “política pública pode ser definida como um conjunto interligado de decisões, que têm como finalidade uma área de conflito e tensão social. Essas decisões possuem o respaldo da sociedade constituída e passam por um processo de criação”. De outra forma, pode ser entendida como um conjunto de políticas econômicas, sociais e ambientais implementadas pelo governo, seja em âmbito federal, estadual ou municipal, em conjunto ou não com a sociedade civil, para atender demandas específicas de grupos sociais. Para a formulação de políticas públicas é necessário que primeiro identifique-se o problema e suas causas. Em seguida, estabelecer metas, definir programas e, dentro destes, projetos específicos para cada área de atuação. O próximo passo é a elaboração de atividades e o alocamento de recursos humanos e financeiros para atingir as metas. No Brasil, as políticas públicas diferentemente dos objetivos a que se propõe de uma forma geral, caracterizam-se por políticas compensatórias, que essencialmente procuram corrigir as desigualdades e demandas mais gritantes ou urgentes, visando assim a contenção social e não a resolução dos problemas e conflitos. Como o próprio termo evidencia, a formulação e implementação de uma política não pode estar desconectada do público alvo, inclusive no momento de sua elaboração, deve contar com a participação do poder público, da sociedade e dos demandatários desta política. Porém, é pela não participação, implementação e avaliação das políticas, que estas, na grande maioria das vezes não atingem os objetivos e resultados esperados. Além disso, considerando as diferenças existentes entre países, estados, regiões, municípios, cidades, espaços urbanos e espaços rurais, destaca-se a importância de políticas públicas serem implantadas a partir do reconhecimento dessas diferenças e das necessidades de cada uma delas. Nesse sentido, discute-se na atualidade a necessidade de criação de políticas públicas de desenvolvimento local, sendo que este [...] refere-se não só ao desenvolvimento econômico local, mas também ao desenvolvimento humano, social e sustentável ambientalmente. [...] A política de desenvolvimento local adota, portanto, uma perspectiva integrada desses componentes do desenvolvimento, com um desenho que é realizado nos próprios territórios e com a participação dos atores locais (ALBUQUERQUE, 2006, p. 04). Na atualidade, como enfatiza o mesmo autor, as novas formas de produção exigem um fortalecimento das instâncias locais das administrações públicas, para dispor da suficiente capacidade para abordar as mudanças nos diferentes sistemas produtivos locais. “Na era da globalização é fundamental atuar desde o local” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 05). O termo desenvolvimento local pode ser entendido tanto como desenvolvimento estadual, regional, municipal, distrital, etc. e indica um conjunto variado de práticas e de perspectivas que permitem evidenciar questões relacionadas com os sentidos atribuídos à noção de desenvolvimento e dos seus atores e espaços de gestão (MOURA apud BECKER; WITTMANN, 2003). As políticas de desenvolvimento local têm entre seus objetivos superar as limitações ou a ausência das políticas centralistas e setoriais, já que o caráter agregado das políticas centralistas as torna muito pouco eficientes para enfrentar os diferentes contextos e situações territoriais, negando suas particularidades. As políticas locais podem ser pensadas como uma estratégia do poder público frente às conseqüências da crise econômica vivenciada na atual conjuntura. O Estado, devido às influências do sistema capitalista e do mundo globalizado, vai se desresponsabilizando de suas tarefas, repassando as mesmas para os governos estaduais e municipais. Devido às enormes transformações ocorridas no momento atual, problemas, dificuldades, mudanças em curso, entre outras, novos desafios vão sendo colocados para a sociedade e para o Estado, exigindo que as políticas públicas sejam reformuladas e adaptadas para melhor enfrentar as situações que se apresentam, quando é constatado o acirramento das disparidades e à aceleração do processo de polarização entre as regiões, países e grupos sociais. Entre estes desafios, destaca-se a necessidade de implementação de políticas públicas para o meio rural e principalmente para a agricultura familiar, também chamada de agricultura de subsistência que passaram por várias mudanças, transformações e também por muitas dificuldades ao longo do tempo. Para compreender estas circunstâncias há que se fazer um resgate histórico das políticas públicas voltadas ao meio rural que permitem identificar estas características. Ressalta-se que desde o período colonial, as autoridades e a ideologia dominante da época, consideravam os pequenos agricultores brasileiros como “vadios”, “ociosos”, “marginais” e outras qualificações semelhantes (SILVA, 1980). A agricultura familiar permanece por praticamente um século sem incentivos Estatais, em termos de reconhecimento no âmbito da agenda de políticas públicas específicas ao setor. Além disso, a estrutura agrária baseada na grande propriedade mantém-se intocada, com exceção dos projetos de assentamento na década de 90, o que dificulta a expansão deste modo de produção (SCHAPPO, 2003, p. 56). Por muitos anos o espaço ocupado pelo pequeno produtor rural foi e continua sendo despercebido por parte do Estado enquanto centralidade no que diz respeito à implantação de políticas públicas que visam o atendimento de suas demandas e o desenvolvimento do meio rural, principalmente no que diz respeito às políticas sociais públicas. Esta invisibilidade do Estado para com o meio rural está relacionada à priorização do meio urbano enquanto categoria central para o modelo de desenvolvimento adotado pelo Estado Brasileiro após 1930. No período de 1930, mais da metade da população brasileira, correspondendo a aproximadamente 60%, ainda morava em áreas rurais. Aos poucos, o processo de industrialização implantado no país e que conjuntamente a outros fatores estruturais e conjunturais conduziram o Brasil à oitava economia industrial mundial ao longo de 40 anos foram determinando a inversão deste quadro. O êxodo rural foi responsável pelo aumento das populações nas zonas urbanas, o que também resultou no agravamento das expressões da questão social nestes centros (KRAEMER, 2006). No Brasil, destaca-se que o Estado passou a intervir diretamente no meio rural a partir das décadas de 1960 e 1970, através de projetos de industrialização via substituição de importações. Contudo, o público alvo destas políticas foram os grandes proprietários, dotados de maior capital e infra-estrutura, visando assim um rápido desenvolvimento. Com esta política de desenvolvimento, o setor mais penalizado foi a agricultura de subsistência. Ressalta-se que esta penalização do pequeno produtor rural se deve também, entre os mais diversos fatores, ao fato do meio rural ser interpretado e decifrado a partir das demandas do espaço urbano, comprometendo assim a eficácia das respostas destinadas a esta população. Além disso, as dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar devem-se à intensificação do processo de modernização da agricultura, que no Brasil se fez intensa a partir da década de 1970. Ainda sobre esta diferenciação entre os pequenos e grandes proprietários rurais é possível identificar que este processo seletivo já existia antes mesmo da formatação de políticas públicas, tendo raízes estruturais na formação política e social de um país com forte concentração fundiária, concentração de renda, desigualdades sociais e fragilidade institucional. Questões estas que definem estruturalmente um acesso seletivo às políticas públicas no meio rural, desde a sua origem até o contexto atual, agravando-se por questões conjunturais (SCHAPPO, 2003). No que se refere à proteção social, destaca-se que os trabalhadores rurais passaram a integrar o conjunto de ações também na década de 1970, diferentemente do trabalhador urbano que já nos anos de 1930 a 1940 tiveram seus primeiros direitos sociais assegurados. Esta situação marca a forma desigual e contraditória da inclusão da população rural no conjunto de ações destinada a assegurar o direito à saúde, à previdência social e à assistência social, que constituem o tripé da Seguridade Social brasileira. Destaca-se que desde suas origens, a concessão dos direitos sociais à população rural é marcada por medidas compensatórias, fragmentadas e assistencialistas com claro objetivo de abrandamento dos conflitos de classe, o que, de certa forma, desarticulou as mobilizações dos trabalhadores rurais até a década de 1970. Somente a partir de 1980, os trabalhadores rurais passam a reivindicar seus direitos sociais e inseri-los no cenário político brasileiro, de forma que suas demandas têm fortes repercussões na organização de classe dos trabalhadores rurais (CASTEL, 2007). [...] a história dos trabalhadores rurais na luta por seus direitos é permeada de momentos de conflitos e lutas pela posse da terra, luta pela sobrevivência e por melhores condições de vida. Situação desigual que historicamente os coloca à margem das ações de proteção social do Estado brasileiro. A cada ângulo, na trajetória do trabalhador rural, ficam as evidências das desigualdades sociais e as marcas da exclusão social que permeiam as suas conquistas no campo do direito social (CASTEL, 2007, p.14). Ainda no que se refere à proteção social destinada aos trabalhadores rurais, tem-se que após as mobilizações dos trabalhadores rurais na década de 1980, os mesmos tiveram seus direitos sociais garantidos a partir da Constituição Federal de 1988. Neste movimento destacam-se os seguintes: Confederação Nacional dos trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAG), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs), Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR) e outros movimentos de representação que participaram das conquistas da classe trabalhadora rural neste período. Contudo, há que se levar em conta que a garantia legal adquirida não significa a efetivação desses direitos sociais em sua praticidade, pois o reconhecimento da condição de trabalhador rural vai depender das relações concretas desses trabalhadores com os mediadores destas políticas sociais, principalmente quando estes privilegiam o trabalhador urbano. Como ressalta Iamamoto (2003), as primeiras ações de proteção social no Brasil, surgem para responder as demandas dos trabalhadores urbanos, em especial àquelas categorias que eram importantes para a consolidação do modelo urbano-industrial, o que também contribuiu para atrair trabalhadores das zonas rurais em busca de melhores condições de vida. Durante muito tempo a população rural recebeu tratamento diferente do trabalhador urbano, lembrando que obteve contraditoriamente ampliação de direitos socais e trabalhistas no período da ditadura militar (1964 a 1984), obtendo, porém, igualdade de condições jurídico-legais com os demais trabalhadores apenas a partir da Constituição de 1988, como ressaltado anteriormente. Nesta perspectiva é possível identificar que a emergência da política social no Brasil manteve afastada a população rural, bem como os trabalhadores informais, dos “benefícios” da modernização, concedidos aqueles que, através de sua inserção no mercado de trabalho formal, são tidos como cidadãos. Santos (1979) destaca a emergência da política social no Brasil com a necessidade de regulação estatal dos conflitos gerados pela forma industrial de produção e acumulação capitalista, apontando aquela que viria a ser uma das características marcantes do sistema de “proteção social” brasileiro: a cidadania regulada. Mesmo com as mudanças advindas a partir da Constituição Federal de 1988, há que se evidenciar que algumas questões muito importantes permanecem ainda invisibilizadas, pontua-se a pobreza existente no meio rural e a desigualdade presente nas relações que se estabelecem entre os sujeitos rurais e destes com o meio urbano. Além disso, destacam-se as várias dificuldades relacionadas à atividade agrícola em pequenas propriedades e que se caracterizam pela precariedade das instituições de apoio; assistência técnica; limitação de recursos, ligada à escassez de terras; tecnologia disponível incompatível com o tamanho da propriedade; entre outras (RODOLFO, 2003). Por essas razões, é possível falar de outro problema que perpassa pelo meio rural, principalmente pela agricultura familiar e que diz respeito ao deslocamento de grande parte da mão-de-obra para os centros urbanos, principalmente de jovens que não visualizam perspectivas de melhora e mudanças para o meio onde vivem. Um exemplo dessa situação é a migração que retrata que muitas vezes [...] o “esvaziamento” do meio rural e a “incapacidade” de modernização da pequena produção não são processos inevitáveis, mas são resultantes da priorização de um modelo de desenvolvimento que além de direcionar as políticas públicas ao desenvolvimento urbano/industrial, incentivando o produtivismo da “grande” agricultura e os mecanis mos de mercado, não valoriza o potencial da agricultura familiar em termos de desenvolvimento social e econômico do país (SCHAPPO, 2003, p. 56). Como já evidenciado, as políticas públicas destinadas ao meio rural acabam beneficiando os agricultores que possuem maior capital, que podem investir em novas e modernas tecnologias, contribuindo assim para o crescimento da economia e para o acirramento das desigualdades entre os trabalhadores. Assim, os pequenos produtores rurais, que possuem pouca terra, pouca tecnologia, poucos recursos para investir em melhorias, acabam tendo que buscar outras alternativas de trabalho e/ou se manter numa condição sem perspectivas de mudança e de avanços. Durante o processo de modernização da agricultura brasileira, as políticas públicas para a área rural, em especial à política agrícola, privilegiaram os setores mais capitalizados e a esfera produtiva das commodities voltadas ao mercado internacional, com o objetivo de fazer frente aos desequilibrios da balança comercial do país. Para o setor da produção familiar, o resultado dessas políticas foi altamente negativo, uma vez que grande parte desse segmento ficou à margem dos benefícios oferecidos pela política agrícola, sobretudo nos campos do crédito rural, dos preços mínimos e do seguro da produção (MATTEI, 2001, p. 01). Falar sobre estas desigualdades e/ou disparidades existentes entre os trabalhadores urbanos e rurais e mesmo entre os trabalhadores rurais, considerando os trabalhadores de pequenas propriedades rurais e os de grandes extensões de terra, é falar também das disparidades e desigualdades regionais. É sob a hegemonia da globalização e do sistema capitalista de produção, que mais precisamente nos anos 90, começa-se a fazer um debate sobre a reprodução das desigualdades regionais no Brasil, não que antes elas não existissem, porém, hoje, estão recheadas de novos ingredientes, permanecendo, contudo, as disparidades tanto do ponto de vista social, quanto econômico. A vivência destas disparidades regionais atinge hoje não apenas as regiões desenvolvidas, atingindo também as áreas menos desenvolvidas e mais pobres, que se sentem ameaçadas quanto a sua inserção produtiva e também porque haverá espaços descartados do novo mapa da economia global. Conseqüente a tudo isto tem-se que as disparidades regionais atingem não apenas os níveis básicos de desenvolvimento econômico, mas também os níveis de desenvolvimento social. Como a globalização é um fator para o agravamento das disparidades regionais, “a equalização das condições de desenvolvimento econômico e social – isto é, infra-estrutura e bem-estar – aparecem como elemento fundamental para que se possa verdadeiramente enfrentar o desafio da globalização” (LAVINAS; GARCIA; AMARAL, 1997, p. 09). As disparidades regionais são conseqüência que decorrem de um processo dinâmico de relações e interações humanas que se expressam em termos históricos, sociais, políticos e econômicos. Além disso, é preciso ressaltar que políticas regionais estão sim inseridas na agenda de praticamente todos os governos, contudo, “para nós, habitantes de um país onde, não obstante serem extremos os desequilíbrios sociais e regionais, os objetivos redistributivos freqüentam muito mais o discurso do que a prática governamental” (GOMES, 1993, p. 01). Nesta perspectiva é possível identificar, a partir de um resgate histórico, que o espaço rural bem como as políticas públicas destinadas à sua população sempre estiveram em desvantagem com relação ao espaço urbano. Além disso, pontua-se o desfavorecimento do pequeno produtor rural em relação ao grande proprietário de terras, que historicamente foi favorecido pelas políticas públicas adotadas pelos governantes, que buscavam a industrialialização e o rápido desenvolvimento do país. Considerando o contexto apresentado e ressaltando as dificuldades enfrentadas pelo pequeno produtor rural, apresenta-se na seqüência as potencialidades de políticas públicas locais e regionalizadas no sentido de melhorar e qualificar a agricultura familiar através de políticas de inclusão social que considerem a possibilidade de geração de renda atrelada ao compromisso de utilização consciente dos recursos naturais. 2 INCLUSÃO SOCIAL PARA O PEQUENO PRODUTOR RURAL: geração de renda e conscientização ambiental No Brasil, devido à crise fiscal do Estado, processos de descentralização, declínio de regiões industrializadas e ascensão econômica de novas regiões, é impulsionada, desde o início da década de 1990, uma tendência de valorização das políticas públicas de desenvolvimento regional, formuladas e implementadas por governos locais, em busca de novas formas de atuação e alternativa para enfrentar estes problemas. Hoje, diferentemente dos anos de 1970 e 1980, a idéia de desenvolvimento regional não se restringe a incentivos financeiros e obras estruturais, mas acredita-se que os responsáveis pelo crescimento regional são identificados nas relações sociais desta mesma região, ou seja, ela própria tem a capacidade política de liderar e conduzir seu próprio desenvolvimento. Entre esses atores sociais capazes de promover o crescimento e o desenvolvimento regional, destaca-se a população que vive no meio rural, principalmente os pequenos proprietários que durante o processo histórico foram desprestigiados pelas políticas públicas implementadas pelos governantes. Essa desvantagem refere-se principalmente às políticas econômicas que visavam e visam o crescimento da economia, e que foram destinadas aos grandes proprietários de terra que já detinham os meios de produção, bem como recursos financeiros para investir na produção. Em relação à formulação de políticas de desenvolvimento regional, torna-se cada vez mais evidente a importância do envolvimento dos segmentos relevantes da sociedade civil. É necessário aumentar a participação das comunidades, dos vários grupos sociais, dos diferentes níveis de governo, para que haja maior mobilização de recursos, com vistas às soluções alternativas dos problemas vivenciados por muitas pessoas e regiões. Também, com a participação da sociedade civil na formulação e implementação das ações do governo, têm-se uma sociedade mais dinâmica, mais justa e mais democrática. Considerando as dificuldades vivenciadas pelo pequeno produtor rural, como o êxodo rural que se dá principalmente pela saída dos jovens em busca de melhores condições de vida, a escassez de recursos financeiros, o não acesso as tecnologias, entre outras, apresenta-se como alternativa de enfrentamento a tais situações, políticas públicas de geração de renda. Estas devem possibilitar a participação dos sujeitos demandatários, pois como enfatiza Becker e Bandeira (2000, p. 26), tem se tornado cada vez mais aceita, nos últimos anos, no Brasil, a idéia de que é necessário criar mecanismos que possibilitem uma participação mais direta da comunidade na formulação, no detalhamento e na implementação das políticas públicas. A crescente difusão desse enfoque pode ser atribuída, por um lado, ao próprio avanço da democratização do país e, por outro, a uma nova abordagem que se vem tornando dominante no contexto internacional, que enfatiza a importância da participação da sociedade civil e da articulação de atores sociais para as ações relacionadas com a promoção do desenvolvimento. Considerando a importância da participação comunitária foi organizado no estado os Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (COREDEs). Estes representam a participação e foram criados com a finalidade de suprir a falta de instâncias de articulação regional no Estado, constituindo-se, simultaneamente, em instrumentos de mobilização da sociedade, capazes de aprofundar a compreensão dos problemas regionais, e em canais de comunicação com a administração pública, a fim de possibilitar a participação da comunidade na formulação e na implementação de iniciativas voltadas para a promoção do desenvolvimento regional (BECKER; BANDEIRA, 2000). Conforme Filho (s.d., p. 02) “[...] a política de desenvolvimento regional deixou de ser um campo simples para ser um campo complexo dentro do universo das políticas públicas”. O mesmo autor faz referência para quatro princípios básicos que poderiam pautar uma nova política de desenvolvimento regional no Brasil: a autonomia, a cooperação, a coordenação e a equalização. O primeiro sugere que os indivíduos procurem satisfazer suas necessidades de se sentirem pertencentes a uma sociedade específica ou desejada, contendo uma história, uma cultura, uma identidade. O segundo princípio propõe que o exercício da autonomia, deve evoluir para um cenário de ações cooperadas, por meio de alianças, consórcios, etc. o princípio da coordenação, assumido pelo governo federal, é introduzido por meio de regras de comportamento ou de mecanismos de mediação que procuram induzir a convergência e a integração das ações dos entes individuais. O último princípio orienta as ações do governo federal para que o mesmo busque a inclusão de regiões desfavorecidas no processo de desenvolvimento econômico, a fim de atingir o objetivo da integração nacional. Neste sentido, destaca-se que as políticas de desenvolvimento regional caracterizadas por um conjunto de ações que visam à redução das disparidades regionais devem buscar a construção de uma identidade regional considerando a complementaridade entre as regiões. Esta política deve estar estruturada através de um conjunto de instrumentos que promovam articulações entre os diversos setores do governo, incorporando o orçamento participativo, os conselhos regionais de desenvolvimento, a comunidade universitária e científica, os sindicatos, as entidades da sociedade civil organizada e todos os demais agentes sociais. Ressalta-se que no Brasil há um aumento das desigualdades regionais e a falta de complementaridade entre as regiões, onde algumas áreas tornam-se cada vez mais autônomas e outras cada vez mais abandonadas. Por isso, a necessidade de formulação e implementação de políticas de desenvolvimento regional que incluam políticas de geração de renda ao pequeno produtor rural, pois estes estão muitas vezes abandonados e invisibilizados pelos governantes e pela própria sociedade civil. Esta desigualdade vivenciada pelo Brasil, que é uma questão socioeconômica central a ser resolvida, envolve segundo Rocha (1998, p. 01) duas temáticas: A primeira concerne à desigualdade entre pessoas que está associada à elevada variância de indicadores relacionados com a qualidade de vida, geralmente sintetizada pela renda. [...]. A segunda temática relativa à desigualdade de importância crucial no caso brasileiro é a da desigualdade regional. Apesar de suscitar desde longa data o estabelecimento de políticas e a criação de instituições governamentais voltadas especificamente para o seu combate, as diferenças entre regiões permanecem em níveis elevados quaisquer que sejam os critérios utilizados para a sua mensuração. É frente a estas desigualdades regionais e mesmo locais, que surgem estratégias para o seu enfrentamento. Como exemplo evidencia-se as políticas de desenvolvimento regional, que através da transformação do sistema produtivo territorial, do crescimento e da diversificação da produção, da melhoria do rendimento per capita da população, do incremento da qualidade dos serviços sociais e da proteção do meio ambiente, dão concretude aos seus objetivos, que podem ser resumidos pelo “incremento da qualidade de vida da população num determinado contexto espacial e temporal” (CRUZ e RIBEIRO, 2003, p. 11). O desenvolvimento regional torna-se, assim, “(...) um processo localizado de mudança social sustentada que tem como finalidade última o progresso permanente da região, da comunidade regional como um todo e de cada indivíduo residente nela” (BOISIER apud BECKER e BANDEIRA, 2000, p. 201). Para que isso ocorra de forma autêntica, são necessários alguns atributos inerentes a este processo de desenvolvimento. Primeiro: um crescente processo de autonomia regional de decisão, que significa capacidade crescente de definir seu próprio destino. Segundo: uma crescente capacidade regional para apropriar-se do excedente econômico ali gerado, a fim de revertê-lo na própria região, diversificando sua base econômica e conferindo sustentabilidade de longo prazo a seu crescimento. Terceiro: um crescente movimento de inclusão social, o que implica uma melhoria na repartição da renda regional e uma permanente possibilidade de participação da população nas decisões de competência da região. Quarto: um crescente processo de conscientização e mobilização social em torno da proteção ambiental e do manejo racional dos recursos naturais da região. Quinto: uma crescente autopercepção coletiva de “pertença” regional, isto é, de identificação da população com sua região (BOISIER apud BECKER e BANDEIRA, 2000). Diante disso e reforçando o quarto atributo evidenciado é possível destacar que nos últimos tempos vem aumentando gradativamente a preocupação com o meio ambiente, de forma especial, com os recursos naturais indispensáveis para a sobrevivência do Planeta. Concomitante a isto, legislações estão sendo discutidas e aprovadas a fim de estabelecer comportamentos e regras, para que na utilização dos recursos naturais, tanto para a sobrevivência como para os processos de geração de renda, estes sejam utilizados de forma consciente, garantindo assim sua sustentabilidade para as futuras gerações. Assim, as políticas de geração de renda destinadas aos pequenos produtores rurais, além de considerar as legislações ambientais, devem ater-se as particularidades e a maneira como se constituíram as propriedades, tendo em vista que em tempos anteriores a não existência de tecnologias e de estudos ambientais resultaram na utilização inadequada do espaço, comprometendo o meio ambiente. Essa utilização inadequada pode ser identificada quando se observa a localização das propriedades rurais, principalmente as que se caracterizam pela agricultura familiar, que historicamente se instalavam em lugares localizados perto de rios e sangas, como forma de garantir água para o consumo humano e também dos animais. Conseqüente a isto e com o desenvolvimento das atividades agrícolas, muitas dessas acabaram prejudicando o meio ambiente, não somente pela utilização de agrotóxicos e outros produtos do gênero, mas pela grande exploração da terra para a produção, o que pode ser observado nas lavouras com plantações bem próximas da costa dos rios e que entre outras, se caracterizam por APPs – Áreas de Preservação Permanente. Nesta perspectiva, destaca-se o desafio de implantar políticas públicas de geração de renda que levem em consideração o respeito ao meio ambiente. Além disso, muitas ações de geração de renda já vêm sendo desenvolvidas no sentido de reaproveitar alguns materiais que após a sua utilização acabam indo para os lixos e prejudicam o meio ambiente. Um exemplo disso é o óleo de cozinha que após sua utilização acaba indo, muitas vezes, para os ralos da cozinha e do banheiro, causando a contaminação da água. Ressalta-se que através de seu reaproveitamento este, além de não poluir as águas pode ser utilizado como matéria-prima para a fabricação de sabão e de combustíveis. Ações como a descrita anteriormente, além de não prejudicarem o meio ambiente podem representar mudanças na vida de muitas pessoas que não detém meios de produção para suprir suas necessidades básicas. Porém, faz-se necessário que os poderes públicos locais reconheçam estas ações como possibilidades de políticas públicas de geração de renda, considerando as particularidades de cada município e suas respectivas microrregiões. Nesse sentido, Becker e Wittmann (2003, p. 148) destacam que […] ao viver num país como o Brasil, onde as diferenças regionais são significantes e as culturas, as histórias e as tradições são diversas, onde a formação da população é diferenciada, pode-se dizer que a “receita” para o desenvolvimento acompanhado da redução das desigualdades é diferente para cada uma das regiões e microrregiões brasileiras. Então, uma política de desenvolvimento que esteja na busca de melhores condições de vida para as populações deve espelhar-se na sua localidade e, dentro dessa realidade, aplicar um modelo de desenvolvimento. Conforme Holanda (2003), as políticas regionais surgem como uma ação do governo no sentido de corrigir a falha do mercado e viabilizar uma melhor distribuição espacial e populacional da prosperidade econômica. Porém, mesmo tendo ela surgido na década de 1950, os resultados não são tão satisfatórios, pois o desequilíbrio regional da economia brasileira pouco se alterou nesse período. Levando em conta as enormes desigualdades, sejam elas econômicas, políticas ou sociais e que atingem as diferentes regiões brasileiras, surge uma discussão quanto a definição de estratégias de desenvolvimento regional para o Brasil, que requer uma nova regionalização do país, ou seja, considerar uma divisão em mesorregiões e microrregiões. Como bem ressalta Siqueira e Filho (2001, p. 83) “a definição de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento regional depende do maior conhecimento das especificidades das regiões e das delimitações precisas do espaço a ser abordado”. Embora se saiba que a divisão espacial é útil para determinadas finalidades, há hoje uma necessidade de se realizar uma nova regionalização do país para orientar a definição e a execução das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento regional, levando em conta as áreas economicamente deprimidas das regiões mais ricas do país e também, a periferia das regiões metropolitanas das grandes cidades brasileiras. Esta regionalização deveria considerar as desigualdades não somente entre as macrorregiões, como Norte, Nordeste, Sudeste, Centro Oeste, por exemplo, mas sim considerar as diferenças existentes entre regiões de um mesmo estado e/ou estados vizinhos, pois as diferenças e desigualdades nem sempre se dão a longas distâncias. Inclusive perceber e trabalhar com as particularidades regionais do meio rural, não priorizando mais uma vez o espaço urbano em detrimento ao rural. Destaca-se que o desenvolvimento de políticas públicas para o meio rural, considerando suas particularidades e necessidades, representa a ampliação de oportunidades de escolha das pessoas, no que tange ao leque de opções por permanecerem ou não em determinado espaço. Contudo, torna-se inconveniente caso esteja descolada de uma análise que caracterize tais políticas e o público alvo a quem são destinadas. Assim, é possível identificar que Na década de 90, ampliam-se os debates, discussões e reivindicações, por parte dos movimentos sociais, técnicos e agências internacionais que destacam a necessidade de valorização da agricultura familiar, apontando a sua importância em termos de desenvolvimento social e econômico do país. É no bojo de tais movimentos e reivindicações que pode ser observado uma mudança de foco no perfil da intervenção do Estado no meio rural, distinto, ainda que de maneira tímida, daquele da chamada modernização conservadora, onde as ações centravam-se no produtivismo agrícola (SCHAPPO, 2003, p. 100-101). A partir dessa nova percepção do meio rural, que reconhece sua importância para o desenvolvimento econômico e social das regiões, reafirma-se que as políticas de desenvolvimento regional visam melhorar as condições sociais da população e reduzir as diferenças entre as regiões. Portanto, como evidencia Siqueira e Filho (2001) faz-se necessário uma nova regionalização do país, levando em conta aspectos econômicos, e também de natureza social e urbana, para que assim as políticas possam se aproximar cada vez mais das necessidades regionais. “A definição de uma política de desenvolvimento regional deve levar em consideração as especificidades de cada uma das regiões em termos das oportunidades de investimentos, das restrições ambientais e dos problemas sociais” (SIQUEIRA; FILHO, 2001, p. 109). Combater as desigualdades regionais, com vistas ao seu desenvolvimento, dependerá da complementaridade das ações nacionais e das ações regionais semelhantes e justapostas. Só assim teremos uma política de desenvolvimento regional. Portanto, tem-se que a política de desenvolvimento regional só se concretiza, quando políticas regionais nacionais convivem com políticas regionais estaduais e mesmo municipais. É preciso que essas políticas, como bem enfatiza Holanda (2003, p. 06), procurem trabalhar de forma autônoma, porém harmônica. Outra questão importante que deve ser analisada antes de se fazer críticas e exigir uma reformulação das políticas regionais, é que “não se pode esperar resultados radicais em períodos relativamente curtos já que se trata de questões estruturais com profunda herança histórica” (DINIZ, 2001). Esta questão é uma realidade em várias situações, as mudanças não acontecem de uma hora para a outra, mas necessitam de acompanhamento contínuo para se efetivarem, como é o caso das políticas públicas para a agricultura familiar, que recentemente entraram nos planos de governo. Contudo, para que seus resultados possam ser percebidos é necessário que os próximos governantes não interrompam as políticas em operacionalização. Como já ressaltado no início do trabalho, durante muito tempo o meio rural não foi reconhecido enquanto espaço necessário de formulação e implementação de políticas públicas, principalmente no que se refere às políticas de geração de renda ao pequeno produtor rural. Recentemente é que vem se discutindo essa necessidade, quando se percebe processos migratórios, êxodo rural entre outros problemas que assolam o meio rural, espaço este, fundamental para o desenvolvimento tanto para as pessoas que nele vivem como para as pessoas que vivem nos centros urbanos. Assim, aponta-se a necessidade de entender o rural enquanto um ator coletivo, um espaço específico e fundamental para o desenvolvimento como um todo, um espaço que clama por políticas direcionadas a tal realidade. O meio rural não pode mais ser encarado, como a simples sustentação geográfica de um setor (a agricultura extensiva), mas como base de um conjunto diversificado de atividades e de mercados potenciais, ou seja, seus horizontes podem ser ampliados (ABRAMOWAY, 2000). Deve-se conceber o meio rural não apenas como um espaço agrícola/produtivo, mas sim como um espaço onde se vive, dotado de dimensões sociais, políticas e culturais, o que influencia diretamente os debates, discussões e diferentes pontos de vista em torno do direcionamento das políticas públicas para o desenvolvimento rural e principalmente o desenvolvimento da agricultura familiar. Assim, destaca-se que o ponto principal para valorizar a agricultura familiar como protagonista do desenvolvimento rural, é ampliar o apoio aos produtores familiares - de modo que não sejam obrigados a buscar formas precárias de sobrevivência. Diante disto, a proposta que se apresenta é a de investir e fortalecer os agricultores familiares - para que através da diversificação agropecuária, possam diversificar as economias locais - multiplicando-se as atividades não-agrícolas dos setores secundários e terciários, em torno das unidades familiares poliprodutivas (VEIGA et al, 2001, p. 49). Neste sentido, não seria uma oposição à criação de empregos “não-agrícolas” ao “desenvolvimento agrícola”, pois fortalecer a agricultura familiar exigiria a criação de empregos não-agrícolas para a própria pluriatividade e para a demanda dos atuais empregados agrícolas. Nesta percepção, Veiga et al (2001) baseando-se em Echeverria (2000) destaca três possibilidades complementares de ação: - Uma que se baseia no crescimento do setor agrícola; - Outra que aponte para o uso sustentável e para a conservação dos recursos naturais; - Outro baseado na importância do crescimento das atividades econômicas rurais que se desenvolvem fora do setor agrícola. Segundo esta vertente, além dos programas já existentes, como o PRONAF, torna-se necessário outros programas que venham a fortalecer os agricultores familiares, pois como se observa, o fortalecimento dos agricultores familiares amplia-se para além da dimensão econômica-produtiva, valorizando-se as noções de território e capital social, concebendo-se os agricultores e demais atores das regiões não apenas enquanto produtores, mas também enquanto sujeitos políticos fundamentais nos processos de dinamização dos espaços rurais (SCHAPPO, 2003, p. 50). É preciso, pois, uma estratégia de desenvolvimento capaz de criar novas oportunidades de geração de emprego e renda para incluir os excluídos, os pobres rurais. Nesta direção Silva (1996), propõe que seja criado um novo conjunto de políticas não agrícolas para impulsionar o desenvolvimento das áreas rurais, principalmente das pequenas propriedades - para que possa ser assegurada a cidadania nestes espaços sem ser necessário migrar para as cidades. O Autor propõe para o caso brasileiro cinco grupos de políticas que seriam fundamentais para o desenvolvimento das áreas rurais, sendo estas: a) Políticas de desprivatização do espaço rural: criação de programas de moradia rural, implantação de áreas públicas para lazer no entorno de reservas ecológicas, parques e represas; e a implantação de uma reforma agrária não exclusivamente agrícola nas regiões Centro-Sul do país; b) Políticas de urbanização do meio rural: criação de infra-estrutura de transportes e comunicações, extensão dos serviços urbanos básicos, principalmente água potável, energia elétrica, saúde e educação; c) Políticas de geração de renda e ocupações agrícolas e não-agrícola: estimular a pluriatividade das famílias rurais e outros usos para os espaços rurais (como o turismo, a moradia e a preservação ambiental), promovendo também a requalificação profissional necessária dessa população para a sua reinserção nesses novos segmentos de prestação de serviços pessoais que estão surgindo; d) Políticas sociais compensatórias ativas: aposentadoria precoce em áreas desfavorecidas, estímulo a jovens agricultores, renda mínima vinculada à educação de crianças (como no caso dos cortadores de cana mirins, das carvoarias) etc.; e) um reordenamento político-institucional: fortalecer novas estruturas do poder local para que seja possível a efetiva descentralização das atuais políticas públicas do país. Para isso é imprescindível recuperar o papel do setor público como artífice do planejamento territorial (Silva, 1996). Além dessas políticas, destaca-se a importância da articulação das mesmas com as demais políticas públicas, entre elas, a de Assistência Social, que pode contribuir no processo de inclusão da população rural na agenda das políticas públicas brasileiras. A política pública de assistência social pode contribuir no sentido de dar visibilidade às demandas dos trabalhadores rurais, problematizando a ausência destes trabalhadores no projeto de desenvolvimento do país, buscando assim, possibilidades e estratégias de enfrentamento à pobreza rural que, articulada a outras políticas setoriais, apontam ações a serem desenvolvidas numa perspectiva de desenvolvimento dos espaços urbanos e rurais considerando suas particularidades. Considerando os objetivos da política de assistência social, entre eles a geração de trabalho e renda, destaca-se que esta pode contribuir com o desenvolvimento regional e local, referindo-se aqui, ao desenvolvimento da agricultura familiar. Como se observou no decorrer do trabalho, os pequenos agricultores passaram por muitas dificuldades ao longo da história e mesmo com o reconhecimento destas a partir da década de 1990, não se pode desconsiderar o caminho que ainda precisa ser percorrido. Da mesma forma que a regionalização, a assistência social também parte do princípio do território, ou seja, das necessidades e potencialidades que uma determinada região apresenta. Segundo Abramovay, “ampliar as oportunidades de geração de renda nas próprias regiões em que se formaram, é um dos mais importantes compromissos que as políticas de desenvolvimento territorial têm com as gerações mais jovens” (2003, p. 8-9) e dentre as ações que podem ser desenvolvidas pontua-se a de inclusão social realizadas conjuntamente pelas políticas de geração de renda com a assistência social. O Serviço Social, portanto, é uma das profissões com possibilidades de contribuir com as experiências de geração de trabalho e renda, visando à autonomia destes trabalhadores diante dos processos de trabalho e ao fortalecimento destes empreendimentos coletivos. A geração de renda baseada no convívio saudável com o meio ambiente é fundamental para a inserção e a inclusão social da população rural, em destaque para as famílias dos pequenos produtores rurais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto neste trabalho, é possível ressaltar que há um grande desafio a ser considerado pela sociedade civil e pelo Estado, caracterizando-se pela necessidade de se reconhecer o meio rural e principalmente a agricultura familiar enquanto espaço de investimento de políticas públicas de inclusão social. Como se observou, durante muito tempo o meio rural e principalmente a agricultura familiar foi desconsiderada enquanto necessidade de investimento de políticas públicas, principalmente políticas econômicas e sociais. Somente na década de 1990, com o reconhecimento dos problemas que eclodiam no espaço rural e conseqüentemente no espaço urbano, começaram a ganhar visibilidade as primeiras políticas públicas, decorrentes também da Constituição Federal de 1988, que passou a garantir aos trabalhadores rurais os mesmos direitos até então destinados apenas aos trabalhadores urbanos e com trabalho formal. A falta de investimentos na agricultura familiar fez e continua fazendo com que muitas famílias e principalmente os jovens, abandonem o espaço rural e se deslocam para as cidades em busca de trabalho e melhores condições de vida. Contudo, destaca-se que ao contrário do período de industrialização no Brasil, a oferta de trabalho não é mais a mesma ou quase nula. Com isso, esses sujeitos acabam mais uma vez desprotegidos pelas políticas públicas, especialmente pela política econômica. Conseqüentemente, os trabalhadores que saíram em busca de melhorias acabam tendo que ser assistidos pela política de Assistência Social, que através de programas e projetos buscam garantir a inclusão social dos mesmos. Contudo, destaca-se que para garantir esta inclusão social, a política de Assistência Social que reconhece esta demanda e principalmente como a mesma se origina, deve buscar parcerias com outras políticas públicas, destacando-se aquelas destinadas à ampliação da renda, a política de assistência técnica e a política agrária. Estas políticas, conjugadas com a política de assistência social podem revelar novos espaços de dinamização e contribuir para a ampliação das oportunidades de escolha por parte daqueles que desejam permanecer no território rural, contribuindo assim para seu crescimento e desenvolvimento, levando sempre em conta o respeito ao meio ambiente. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. O futuro das regiões rurais. Porto Alegre: UFRGS, 2003. ALBUQUERQUE, Francisco. A importância da produção local e a pequena empresa. Disponível em: www.cadh.org.br/marcoconceitual.html. Acesso em: 18 jul. 2006. BECKER, Dinizar Fermiano; BANDEIRA, Pedro Silveira. 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