gênero, empreendedorismo e redes pessoais: as

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas
Alanni de Lacerda Barbosa de Castro
GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS:
AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DE EMPRESAS
Belo Horizonte
29 de fevereiro de 2016
1
Alanni de Lacerda Barbosa de Castro
GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS:
AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DE EMPRESAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Administração da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito para
obtenção
do
título
de
Mestre
em
Administração.
Linha de pesquisa: Estratégia
Orientadora: Gláucia Maria Vasconcelos Vale
Belo Horizonte
29 de fevereiro de 2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
C355g
Castro, Alanni de Lacerda Barbosa de
Gênero, empreendedorismo e redes pessoais: as influências dos laços na
criação de empresas / Alanni de Lacerda Barbosa de Castro. Belo Horizonte,
2016.
159 f. : il.
Orientadora: Gláucia Maria Vasconcelos Vale
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Redes sociais. 2. Empreendedorismo. 3. Grupos sociais. 4. Tecnologia da
informação. I. Vale, Gláucia Maria Vasconcelos. II. Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III.
Título.
CDU: 658.012.4
3
Alanni de Lacerda Barbosa de Castro
GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS:
As influências dos laços na criação de empresas
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Administração da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito para
obtenção
do
título
de
Mestre
em
Administração.
_____________________________________________________
Gláucia Maria Vasconcelos Vale – PUC Minas
_____________________________________________________
José Márcio de Castro – PUC Minas
_____________________________________________________
Juvêncio Braga de Lima – Universidade FUMEC
Belo Horizonte/MG, 29 de fevereiro de 2016.
4
Ao amor da minha vida, meu anjo e marido – Cláudio Wagner
de Castro – que me apoiou em todos os momentos. Muito
obrigada!
À minha mãe – Maria Ordália – exemplo e inspiração, para que
eu busque sempre me dedicar mais e mais em tudo nesta vida,
e ao meu pai – Aroldo Barbosa – pela doação e amor, que me
formaram no caminho do bem e como ser humano.
Aos meus amados irmãos, sobrinhos, tios e sogros, pela
compreensão da minha ausência durante os dois anos deste
trabalho.
À minha avó Aurora, por me acompanhar através das
conversas diárias e à Irmã Regina que, juntas, preenchem uma
parte importante do meu coração.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pelo dom da vida e pela misericórdia em conceder-me mais
um dia.
À minha orientadora, Profª. Drª. Gláucia Maria Vasconcelos Vale, por ter
compartilhado seu amplo conhecimento, por me apresentar o vasto horizonte da
Análise de Redes Sociais (ARS), sem a qual seria impossível o desenvolvimento e a
conclusão deste trabalho.
À Profª. Drª. Liliane Guimarães, por ter me recebido e orientado no estágio
docente, por ter compartilhado sua experiência de forma abrangente e generosa,
pelos incentivos e carinho.
Aos professores do Mestrado Acadêmico em Administração da PUC MINAS,
por terem contribuído de forma significa para o meu desenvolvimento acadêmico e
profissional. Em especial, àqueles que me levaram a recordar o real sentido da
palavra “professor”, aqui destacados - Prof. Dr. José Márcio de Castro, Prof. Dr.
Antônio Neto, Prof. Dr. Roberto Patrus e as já citadas, Profª. Drª. Gláucia
Vasconcelos e Profª. Drª. Liliane Guimarães.
Aos empreendedores entrevistados, pela disponibilidade em compartilhar as
informações e suas histórias, que me proporcionaram melhor compreensão do tema
pesquisado.
Aos parceiros que conheci na PUC Minas ao longo desta jornada, agradeço
pela troca de experiências e companheirismo nos momentos de apreensão. À
Marina Cruz, pelo apoio acadêmico e incentivo.
Aos amigos da Paróquia São Bento, em especial ao Padre Jonh Kennedy e à
Adriana Pimenta, com os quais busquei renovar a energia e a fé para concluir esta
caminhada.
Às grandes amigas Débora, Luciene e Renata, pela compreensão da
ausência neste período e pela torcida de sempre.
Enfim, a todos vocês, que seguem no meu coração, recebam minhas orações
como forma de gratidão e reconhecimento.
6
“A pessoa que procura segurança e se
abriga na sombra protetora do TodoPoderoso pode dizer a Ele: ‘Ó Senhor Deus,
tu és o meu defensor e o meu protetor. Tu
és o meu Deus; eu confio em Ti.’ ”
Salmo 91 – 1-3
7
RESUMO
Este
estudo
apresenta
uma
análise
sobre
como
as
redes
sociais
de
empreendedores de sucesso influenciaram suas decisões de empreender e como
estas se diferenciaram por gênero. Os recursos utilizados para se chegar aos
resultados deste trabalho foram: estudos de casos múltiplos; análises de conteúdo e
dados; e comparação intra e intercasos. A pesquisa foi, portanto, majoritariamente
qualitativa, mas também se utilizou de dados quantitativos. O trabalho está
sustentado na literatura disponível sobre redes sociais e empreendedorismo,
baseando-se nas informações empíricas geradas pelas pesquisas dos quatro casos
descritos. Para a compreensão do contexto empreendedor e da análise das redes
sociais, o referencial teórico deste trabalho foi estruturado em quatro seções. A
primeira
aborda
o
tema
empreendedorismo,
apresentando
conceitos
e
características por gênero. A segunda seção apresenta importância, conceituações
e elementos intrínsecos fundamentais às redes sociais, focalizando as egocêntricas.
Na terceira seção destacam-se os laços sociais, sob a perspectiva da intensidade
dos mesmos. Finalmente, o referencial teórico apresenta, na quarta seção, modelos
de análises teóricas aplicáveis ao estudo. A fim de elucidar o contexto no qual os
empreendedores pesquisados foram premiados, apresentou-se,
também, a
descrição do Prêmio Micro e Pequenas Empresas Brasil. A partir de então, após se
apresentar discussões da literatura sobre empreendedorismo, redes e laços sociais,
descrever o contexto da premiação das empresas e a metodologia aplicada ao
trabalho, buscou-se analisar como mulheres e homens proprietários de empresas
premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.
Para tanto, intermediariamente buscou-se mapear as redes pessoais utilizadas por
homens e mulheres empreendedores, compreender como os gêneros acessaram os
diversos recursos disponíveis em seus laços sociais, identificar os diferentes tipos de
agrupamentos e, por fim, fazer uma análise comparativa entre as redes sociais e os
resultados encontrados.
Palavras-chave: Redes sociais; Redes egocentradas; Empreendedorismo, Gênero.
8
ABSTRACT
This study presents an analysis about the way social networks of successful
entrepreneurs influenced their decisions to start their own businesses and how these
decisions varied based on gender. The resources employed towards reaching the
results were: multiple case study; content analyses (primary and secondary); data
processing and cross-checking (interviews and documents); intra and inter-case
comparisons. Therefore, the research was mostly qualitative, though quantitative
data were also used. The work was founded on the available literature about social
networks and entrepreneurship, being based on the empirical information generated
from the study of the four described cases. In order to understand the
entrepreneurship context as well as analyze the social networks, the theoretical basis
was structured in four sections. The first section covered the theme entrepreneurship
by presenting conceptualizations and characteristics per gender. The second section
covered the importance, conceptualizations and intrinsic elements essential to the
social networks, with a focus on the ego-networks. In the third section social links
were highlighted under the perspective of their intensity. Last but not least, the
theoretical basis presented, in the fourth section, models of theoretical analyses
applicable to the study. With views to elucidate the context in which the surveyed
entrepreneurs were awarded, a description of the Award Brazil Micro and Small
Companies was also included. After presenting discussions about the literature on
entrepreneurship, as well as describing the context of business awarding and the
methodology applied in the study, an analysis was conducted on how women and
men owners of awarded companies used their personal networks to start their
businesses. To this aim, an attempt was made to map the personal networks utilized
by male and female entrepreneurs, understand how they accessed the several
resources available in their social links, identify the different kinds of groupings and
eventually make a comparative analysis between the social networks and the related
findings.
Key-words: Social networks; Ego-networks; Entrepreneurship; Gender.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Empreendedorismo e gênero ................................................................... 29
Quadro 2 - Redes sociais e interpessoais .................................................................. 39
Quadro 3 - Empreendedorismo, redes e gênero ......................................................... 41
Quadro 4 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 1) ... 87
Quadro 5 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 1) ...... 89
Quadro 6 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,
distribuídos pela intensidade dos laços (caso 1) ......................................................... 90
Quadro 7 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços (caso 1) .................................................................................... 91
Quadro 8 - Composição da rede social do empreendedor em percentuais (caso 1)... 92
Quadro 9 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 1) .............................. 93
Quadro 10 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 2) ... 96
Quadro 11 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 2) .... 98
Quadro 12 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,
distribuídos pela intensidade dos laços (caso 2) ......................................................... 99
Quadro 13 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços (caso 2) .................................................................................. 101
Quadro 14 - Composição da rede social do empreendedor em percentuais (caso 2) .. 102
Quadro 15 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 2) .......................... 103
Quadro 16 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 3) ... 107
Quadro 17 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 3) .... 109
Quadro 18 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,
distribuídos pela intensidade dos laços (caso 3) ....................................................... 110
Quadro 19 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços (caso 3) .................................................................................. 111
Quadro 20 - Composição da rede social da empreendedora em percentuais (caso 3) .. 111
Quadro 21 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 3) .......................... 112
Quadro 22 - Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços (caso 4) ..... 116
Quadro 23 - Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes (caso 4) .. 119
Quadro 24 - Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,
distribuídos pela intensidade dos laços (caso 4) ....................................................... 120
Quadro 25 - Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços (caso 4) .................................................................................. 121
Quadro 26 - Composição da rede social da empreendedora em percentuais (caso 4) .. 122
Quadro 27 - Mapeamento de relacionamentos inter-alteri (caso 4) .......................... 123
Quadro 28 - Comparação entre casos, quanto à influência de suas redes sociais e
ao principal fator que motivou a decisão de empreender .......................................... 126
Quadro 29 - Quadro síntese da composição das redes sociais dos empreendedores . 128
Quadro 30 - Confirmação ou refutação das proposições teóricas............................. 133
Figura 1 - Modelo teórico ........................................................................................... 42
Figura 2 - Redes sociais dos empreendedores pesquisados .................................... 130
10
Gráfico 1 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso (caso 1) ................................................................................. 104
Gráfico 2 - Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso (caso 2) ................................................................................... 89
Gráfico 3 - Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso (caso 3) ................................................................................. 113
Gráfico 4 - Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso (caso 4) ................................................................................. 124
11
LISTA DE SIGLAS
AcMINAS - Associação Comercial de Minas Gerais
CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas
FNQ - Fundação Nacional da Qualidade
GEM - Global Entrepreneurship Monitor
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MBC - Movimento Brasil Competitivo
MEG - Modelo de Excelência da Gestão
MPE - Micro e Pequenas Empresas
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SINCOMÉRCIO - Sindicato do Comércio Varejista
TEE - Empreendimentos Estabelecidos
TI - Tecnologia da Informação
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
1.1 Problema de pesquisa ............................................................................................. 14
1.2 Objetivos ................................................................................................................. 18
1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 18
1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................ 18
1.3 Justificativa .............................................................................................................. 18
1.4 Estruturação do trabalho ......................................................................................... 21
2 REFERENCIALTEÓRICO .......................................................................................... 22
2.1 Empreendedorismo ................................................................................................. 22
2.1.1 Conceituações e características ........................................................................... 22
2.1.2 Empreendedorismo e relações de gênero............................................................ 24
2.2 Redes sociais .......................................................................................................... 31
2.2.1 Abordagens e importância.................................................................................... 31
2.2.2 Conceitos essenciais ............................................................................................ 32
2.2.3 Redes sociais e gênero ........................................................................................ 34
2.3 A força dos laços ..................................................................................................... 38
2.3.1 Elementos determinantes para seu desenvolvimento .......................................... 38
2.4 Modelos de análises teóricas .................................................................................. 40
3 PRÊMIO MICRO PEQUENAS EMPRESAS BRASIL ................................................. 44
3.1 Descrição do prêmio ............................................................................................... 44
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 46
4.1 Abordagem da pesquisa.......................................................................................... 46
4.2 Classificação da pesquisa ....................................................................................... 46
4.3 Unidades de análise e observação ......................................................................... 47
4.4 Elaboração e pré-teste do instrumento ................................................................... 48
4.5 Detalhamento da coleta dos dados ......................................................................... 48
4.6 Realização da coleta dos dados.............................................................................. 49
4.7 Análise dos resultados ............................................................................................ 51
4.7.1 Generalização teórica e analítica dos resultados ................................................. 54
5 CASOS ESTUDADOS E ANÁLISES PRELIMINARES .............................................. 55
5.1 Caso 1: Vladimir Gomes Mourão – Caça Talentos Consultoria e Treinamento
Empresarial. .................................................................................................................. 55
5.1.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 59
5.1.2 Motivações para empreender ............................................................................... 60
5.1.3 A questão de gênero para o empreendedor ......................................................... 63
5.2 Caso 2: Anderson de Souza Martins – Bacana Bolsas ........................................... 64
5.2.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 66
5.2.2 Motivações para empreender ............................................................................... 68
5.2.3 A questão de gênero para o empreendedor ......................................................... 68
5.3 Caso 3: Ágatha Lefosse Junqueira – Originalle Presentes e Decorações ............. 70
5.3.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 75
13
5.3.2 Motivações para empreender ............................................................................... 78
5.3.3 A questão de gênero para a empreendedora ....................................................... 78
5.4 Caso 4: Valda Eurides Alves Sanchez – Cultura Inglesa Araxá .............................. 80
5.4.1 Recursos para a criação da empresa ................................................................... 83
5.4.2 Motivações para empreender ............................................................................... 84
5.4.3 A questão de gênero para a empreendedora ....................................................... 85
6 CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS..................................................................... 86
6.1 Consolidação dos resultados por caso pesquisado ................................................ 87
6.1.1 A rede social do empreendedor Vladimir Gomes Mourão (caso 1) ......................... 87
6.1.2 A rede social do empreendedor Anderson de Souza Martins (caso 2) .................... 96
6.1.3 A rede social da empreendedora Ágatha Lefosse Junqueira (caso 3) ................... 107
6.1.4 A rede social da empreendedora Valda Eurides Alves Sanchez (caso 4) .............. 116
6.2 Análise comparativa dos casos ............................................................................. 127
6.2.1 Comparação das redes sociais dos empreendedores ....................................... 128
7 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 136
7.1 Padrões identificados para os casos pesquisados ................................................ 136
7.2 A influência dos laços para a criação das empresas ............................................. 137
7.3 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras ............................. 141
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 143
ANEXO - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PESQUISA DE CAMPO ..................... 153
14
1 INTRODUÇÃO
No Brasil e no mundo, o empreendedorismo vem apresentando, cada vez
mais, importância para o contexto econômico. São aproximadamente 8,9 milhões de
empresas de micro e pequeno portes, ou seja, com faturamento bruto anual de até
R$ 3,6 milhões, conforme Lei Complementar nº 123, de 2006 (SEBRAE, 2014).
Segundo o SEBRAE (2014), essas empresas empregam 52% da mão de obra
formal e são responsáveis por 40% da massa salarial brasileira. Para o estudo
Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2013), a busca de alternativas por melhores
condições de vida e a flexibilização do mercado de trabalho são alguns dos fatores
que explicam o aumento do empreendedorismo no mundo ao longo dos anos.
Abordagens sobre comportamento, características e fatores de sucesso dos
empreendedores podem ser encontradas na administração, sociologia e outras
áreas. Granovetter (2005) aborda o empreendedorismo como precedido por
estruturas sociais e econômicas, tendo presentes aspectos como valores e normas
sociais, sobretudo as que se organizam em forma de redes sociais, influenciando as
ações econômicas. Considerando o empreendedor como importante elemento no
cenário econômico, estando imerso em diversas conexões das quais obtém
diferentes recursos para seu negócio, pode-se dizer, também, que possui de
maneiras específicas, diferentes imersões em diferentes formatos de redes.
Nesse sentido, a análise de redes sociais “trouxe contribuições para o
entendimento das relações entre comunidades ou grupos sociais. Estes processos
tentam entender como os indivíduos interagem buscando informações, ideias e
apoio dentro do grupo” (Andion & Neto Mendonça, 2007, p.1).
Para Rauf e Mitra (2011) os empreendedores consideram suas redes de
relacionamentos como fontes que contribuem para o processo empreendedor, de
diferentes formas. Para estes autores, o empreendedor utiliza componentes de sua
rede pessoal para acessar recursos diversos e suportes de diferentes naturezas,
como suporte emocional, por exemplo.
A rede pessoal é conceituada por Sluzki (2009, p. 42) como “a soma de todas
as relações que um indivíduo percebe como significativas ou define como
diferenciadas da massa anônima da sociedade”. Paralelamente a esses conceitos
deve-se considerar que as redes pessoais “funcionam como pontos de apoio e
15
contribuem para a experiência individual da identidade e da competência [...]”
(Custódio, 2010, p.57).
Complementando este pensamento, Vale e Guimarães (2010) apresentam as
redes dos empreendedores como ambientes fornecedores de recursos para o
empreendimento. Segundo pesquisas realizadas com empresas ativas e extintas, a
busca de informações está em primeiro lugar para os respondentes (73,6% dos
respondentes). Em segundo, os empresários utilizam seus relacionamentos para
“conseguir os primeiros clientes” (72,7%), sendo que “buscar apoio ou orientações
para abrir o negócio” (66,4%) ficou em terceiro, e, por último, “obter facilidades com
os fornecedores” (Vale & Guimarães, 2010).
Outros estudos também demonstram diferentes abordagens para a utilização
das redes pessoais. Da mesma forma, são diversos os aspectos que influenciam na
formação e utilização da rede pessoal do empreendedor. Alguns desses fatores são,
dentre outros, questões como etnia, fatores sócio-demográficos e gênero, sendo as
redes pessoais baseadas em perspectivas individuais (Rauf & Mitra, 2011).
Para Vale e Guimarães (2010), a questão de gênero impacta no
desenvolvimento das respectivas redes pessoais. Enquanto, historicamente, as
mulheres estiveram imersas mais em laços sociais e na segurança das densas
relações familiares, os homens foram capazes de desenvolver redes mais abertas,
dotadas de laços fracos. Este contexto pode ser explicado devido ao fato de, ao
longo do tempo, as mulheres se dedicarem à gestão e produção de bens e serviços
exclusivamente para seus grupos familiares. Por outro lado, aos homens cabia a
função de interação com o mundo, dedicando-se aos mais diversos negócios e
atividades. Assim, as redes pessoais foram se formando mais densas ou mais
fluidas, de acordo com o gênero.
A participação das mulheres, se comparadas aos homens, tem apresentado
evolução ao longo dos anos, nos contextos econômico, político e social, assim como
contribuído para o desenvolvimento econômico de muitos países (Vale &
Guimarães, 2010; Klapper & Parker, 2011). Entretanto, no que tange ao mundo dos
negócios, a evolução feminina não vem apresentando a mesma intensidade (Vale &
Guimarães, 2010). Em alguns países, por exemplo, os Estados Unidos da América
(EUA),
o
empreendedorismo
feminino
ainda
é
menor,
tanto
para
os
empreendimentos iniciais (15,0% homens e 10,4% mulheres) quanto para os já
estabelecidos (8,5% homens e 6,6% mulheres), segundo o GEM (2012). O mesmo
16
estudo demonstra que na Índia estes números são ainda mais expressivos,
prevalecendo a maioria masculina, com uma distância de, aproximadamente, oito
pontos percentuais da taxa de empreendedoras.
A maioria dos países estudados (Estados Unidos da América, Reino Unido,
Irlanda, Suíça, Bélgica e Portugal) apresenta, segundo pesquisa de Klapper e Parker
(2011), a minoria de empreendimentos liderados por mulheres. Ao mesmo tempo, as
empresas com menos de dez funcionários são comandadas por mulheres, e os
homens são donos das maiores empresas.
Grenne (2003) considera que as mulheres empresárias já eram, em 2003,
proeminentes empregadoras, além de importantes no contexto de fornecedores,
clientes e concorrentes, nos Estados Unidos da América e no restante do mundo.
A participação das mulheres nos diversos contextos da sociedade tem se
mostrado
mais
presente
e
os
estudos
empíricos
que
pesquisam
o
empreendedorismo também têm apresentado evolução. Pouca atenção, entretanto,
tem sido dada às redes sociais das empreendedoras (Vale & Guimarães, 2010;
Hampton, Coope & Macgowan, 2009), e ainda menos às conexões das suas redes
pessoais com o desenvolvimento dos respectivos negócios. Brunch, Bruin e Welter
(2009) corroboraram com o exposto, afirmando que novas pesquisas contribuirão
para o entendimento das diferenças entre o empreendedorismo de homens e
mulheres, mudando a noção de que empreender é uma regra masculina.
Para reconhecer e divulgar boas práticas de empreendimentos de ambos os
sexos, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o
Movimento Brasil Competitivo (MBC), a Gerdau e a Fundação Nacional da
Qualidade (FNQ) criaram o Prêmio MPE Brasil. Este é um prêmio de competitividade
para MPEs, conforme descrito no terceiro capítulo deste trabalho.
Neste contexto, o presente estudo se propõe a identificar e analisar as
diferenças entre a utilização das redes pessoais de homens e mulheres na criação
de suas empresas.
O objeto empírico de análise são homens e mulheres proprietários de
empresas vencedoras do prêmio MPE Brasil no estado de Minas Gerais, entre os
anos de 2008 e 2014. As empresas vencedoras são reconhecidas nacionalmente e
destacam-se pelas práticas adotadas na melhoria da competitividade nos
respectivos
segmentos,
através
da
qualidade
empreendedora do empresário ou empresária.
da
gestão
e
capacidade
17
Anualmente
são
premiadas
oito
empresas,
sendo
as
categorias
Agronegócios, Comércio, Indústria, Serviços de Educação, Serviços de Saúde,
Serviços de Tecnologia da Informação - TI (desenvolvimento, implantação e
gerenciamento de software), Serviços de Turismo (bares, restaurantes, hotéis,
pousadas, agências de viagem, transportes turísticos) e Serviços (empresas de
serviços que não se enquadrem nas categorias de serviços acima).
Considerando-se os homens e mulheres proprietários de empresas
premiadas e como utilizaram suas redes pessoais para a criação do negócio, é útil
ao presente trabalho o conceito de embeddedness, amplamente estudado por
Granovetter (1985). Os desdobramentos acadêmicos dos estudos propostos por
Granovetter favoreceram as pesquisas sobre como os laços relacionais influenciam
o comportamento humano.
Para Vale (2011, p.187), “homens e mulheres estiveram, historicamente,
imersos em redes sociais distintas”. Segundo a autora, em comparação aos
homens, mulheres tendem a recorrer mais aos laços relacionais mais próximos para
informação e suporte. Vale e Serafim (2010) acrescentam que mulheres parecem
mostrar-se mais sensíveis do que homens à influência de terceiros, quanto à
decisão de criar uma empresa.
Tais análises encontradas na literatura deixam uma lacuna no conhecimento
a respeito do tema. Isto, visto que os estudos sobre empreendedorismo por gênero e
sobre redes sociais de empreendedores que foram encontrados em pesquisas
acadêmicas não buscaram investigar especificamente a influência das redes
pessoais por gênero no processo decisório do empreendedor para a criação da
empresa.
Destaca-se, ainda, que não foram encontrados estudos comparativos entre
redes de mulheres e homens no que tange ao seu papel no processo empreendedor
feminino e masculino.
1.1 Problema de pesquisa
O problema que orientou a presente pesquisa é: como mulheres e homens
proprietários de empresas premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação
de seus empreendimentos?
18
1.2. Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Analisar como mulheres e homens proprietários de empresas premiadas
utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Mapear
as
redes
pessoais
utilizadas
por
homens
e
mulheres
empreendedores.
b) Compreender como os gêneros acessaram os diversos recursos
disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local,
clientes, recursos financeiros, entre outros.
c) Identificar os diferentes tipos de redes capazes de desempenhar papéis
de fornecedores de recursos aos empreendedores, por gênero.
d) Fazer uma análise comparativa entre as oportunidades e desafios
encontrados entre os gêneros.
1.3 Justificativa
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), no
Brasil, 52% das empresas com até 3,5 anos de existência são de mulheres e 48%
têm homens à frente (SEBRAE, 2014). Para os empreendimentos com mais de 42
meses de atividade, as empreendedoras são 41% e os empreendedores 59%.
Porém, alguns estudos demonstram que estes números estão mudando. No último
Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em MPEs, a taxa de
mulheres de negócios cresceu 21,4% entre os anos de 2001 e 2011, enquanto a
participação masculina cresceu 9,8%, no mesmo período.
O Brasil ocupou, em 2012, a 15ª posição para atividades empreendedoras de
mulheres em idade adulta (18 a 64 anos) em um ranking de 69 países, segundo o
GEM (2012), Report for Women. Para a categoria atividade empreendedora sem
distinção do sexo em fase inicial (TEA), o Brasil ficou em 17º lugar (GEM, 2013).
19
O estudo destaca as taxas para empreendedorismo masculino e feminino no
Brasil, bem como nos países: Alemanha e EUA (do grupo impulsionado por
inovação); China e México (do grupo impulsionado por eficiência), e Índia (do grupo
impulsionado por fatores) (GEM, 2013). Comparando o Brasil com estes países:
as taxas para empreendimentos iniciais ficam próximas para homens e
mulheres (17,2% e 17,4%, respectivamente). Ao observar os outros países,
percebe-se que os homens são muito mais propensos a empreender do que
as mulheres. Como exemplo, cita-se a Índia, onde 13,2% dos homens e
6,4% das mulheres são empresários em início de atividade. Na Alemanha
estas taxas são, respectivamente para homens e mulheres, 6% e 3,9%; na
China 15,8% e 12,2%; nos EUA 15,1% e 10,4%; e no México 16,8% e 13%
(GEM, 2013).
Na observação dos Empreendimentos Estabelecidos (TEE) pode-se perceber
aumento na diferença entre homens e mulheres (respectivamente): no Brasil, 18,6%
e 12,6%; China, 14,1% e 8%; e Índia, 14,8% e 6,3% (GEM, 2013). Segundo GEM
(2013), para Alemanha, EUA e México, a diferença entre empreendimentos
masculinos e femininos já estabelecidos inverteu, ou seja, foi menor do que se
observou nos empreendimentos iniciais, a saber: Alemanha, 6,1% (m) e 4% (f);
EUA, 8,5% (m) e 6,6% (f); e México, 5,7% (m) e 2,8% (f).
A criação de empresas por homens ainda é predominante em muitas partes
do mundo, segundo Klapper e Parker (2011). Os negócios femininos se concentram
no comércio e os masculinos no setor industrial. Para os autores, existe uma
desproporcionalidade entre o desempenho gerencial dos empreendimentos
liderados por mulheres e por homens. Este fator pode ser um dos indicadores de
desencorajamento das mulheres em criar uma empresa. Afirmam, ainda, que os
empreendimentos masculinos apresentam um melhor desempenho, podendo o
mesmo ser medido, por exemplo, pelos lucros, taxas de retorno sobre o capital, e
taxas de crescimento e sobrevivência da empresa. Concluem que segundo todas
aquelas métricas os homens ficam à frente das mulheres.
É importante destacar que no Brasil 40 milhões de pessoas estão
empreendendo, demonstrando a importância econômica e social do tema e a
necessidade de ações governamentais ou não governamentais para sua
consolidação (SEBRAE, 2014). O Brasil ocupa a 4ª posição no ranking em número
absoluto de empreendedores, atrás da China, Índia e Nigéria (GEM, 2013).
20
Para Sanchez e Fuentes (2013), o empreendedorismo em qualquer
sociedade é um fenômeno que exige uma análise complexa, uma vez que é
influenciado por diversas variáveis, incluindo as condições sociais, políticas,
econômicas e culturais.
Enquanto há semelhanças demográficas entre homens e mulheres, segundo
Grenne (2003) existem diferenças entre gêneros no tocante às escolhas de setor,
estratégias e governança. Já England (1993) considera que, para economistas e
psicólogos, diferentes atributos, sendo eles individuais e externos, influenciam no
comportamento de homens e mulheres, assim como em suas interações sociais.
Apesar
da
abrangente
literatura
sobre
os
temas
redes
sociais,
empreendedorismo e gênero (e seus respectivos desdobramentos), a análise sobre
as respectivas correlações ou influências ainda apresenta espaço para estudos
empíricos. Segundo Gupta (2009), a persistência em pesquisas e comparações
entre as diferenças do comportamento empreendedor de homens e mulheres é
importante para a compreensão sobre porque, ao redor do mundo, menos mulheres
escolhem empreender. Afirma, ainda, que o empreendedorismo é visto, por ambos
os sexos, como atividade tipicamente masculina. Winn (2005) considera que,
mesmo as mulheres participando da mudança do mercado econômico de forma
geral, ainda vivem um dilema para empreender. Para o autor, as questões das
responsabilidades com o lar e com a família ainda assolam as mulheres para esta
tomada de decisão (Winn, 2005).
Ahal (2006), Bruch, Bruin e Welter (2009), Klapper e Parker (2010)
argumentam que a teoria tem demonstrado a criação de empresas como uma
característica mais masculina, sendo as mulheres empreendedoras como uma parte
menos óbvia para as atividades empresariais.
Vale, Serafim e Teodósio (2011) sustentam que os motivos que levam o
indivíduo à atividade empreendedora diferem de acordo com o gênero. Segundo as
autoras, para mulheres a influência de outra pessoa na tomada de decisão (21%) é
maior do que para homens (7%). A questão do desemprego também influencia mais
as empreendedoras do que os empreendedores (10% contra 1,8%). Ao mesmo
tempo, Vale, Serafim e Teodósio (2011) demonstram que para o motivo
“identificação de uma oportunidade” os homens destacam-se (50% dos homens
contra 34% das mulheres).
21
Apesar do estudo sobre redes sociais ter sido bastante valorizado nas últimas
décadas, o campo para o aprofundamento teórico sobre o tema ainda dispõe de
espaço para crescimento. Marteleto (2001) avalia que ainda é pouco explorado o
estudo sobre o comportamento dos indivíduos e suas ações inseridas no próprio
contexto social, no formato de redes.
Com base nos dados investigados, pode-se afirmar que o tema “Redes
Pessoais para Criação do Empreendedorismo” vem sendo investigado com menos
ênfase.
Assim, a relevância deste estudo para o meio acadêmico e social consiste em
ampliar a compreensão teórica sobre redes pessoais e suas influências, por gênero,
no processo empreendedor, ou seja, na decisão de empreender.
A finalidade desta investigação é propor também, a partir do mapeamento das
redes pessoais de empreendedores premiados, compreender como essas redes
influenciam na tomada da decisão de criação de um negócio.
1.4 Estruturação do trabalho
Além da introdução, a dissertação conta ainda com mais cinco capítulos. No
segundo, encontra-se a fundamentação teórica, citada por meio de abordagens
teóricas de alguns autores. Em linhas gerais, descrevem-se alguns aspectos
considerados
importantes
para
o
entendimento
do
significado
do
empreendedorismo, com ênfase na relação de gênero. O estudo procura expor e,
ainda, analisar redes sociais, seus conceitos e importância. Em seguida, é
contemplada a importância dos laços sociais, conforme a literatura atual se reporta
ao tema.
No terceiro capítulo são apresentados os aspetos metodológicos norteadores
desta pesquisa, descrevendo-se o tipo de pesquisa, o método de estudo, o
detalhamento da coleta de dados e as variáveis analisadas.
O “Prêmio Micro Pequenas Empresas Brasil”, destacando-se suas categorias
de reconhecimento e critérios especificados no regulamento, é descrito no capítulo
quatro.
O capítulo quinto traz a análise e a interpretação dos dados coletados nas
empresas, os quais são comparados com as informações da pesquisa bibliográfica,
com a finalidade de atender aos objetivos do trabalho.
22
Para finalizar, o sexto capítulo compreende as conclusões deste estudo,
evidenciando as limitações da pesquisa e algumas recomendações para avanços de
novos estudos sobre o tema investigado.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos do trabalho. Iniciase com os conceitos sobre empreendedorismo. Em seguida, descrevem-se alguns
aspectos sobre a relação de gênero. Dando continuidade, explicitam-se redes
sociais, conceitos e importância. Por fim, abordam-se os laços sociais, conforme a
literatura atual se reporta ao tema.
2.1 Empreendedorismo
2.1.1 Conceituações e características
No século XX, o empreendedorismo tem seu marco teórico desenvolvido por
Schumpeter, que destaca a importância do empreendedor no desenvolvimento
econômico e na sobrevivência do capitalismo. Para esse autor, o empreendedor
tinha uma função social ao provocar inovação e crescimento econômico. Nesse
período o conceito de inovação e novidade torna-se parte integrante do
empreendedorismo (HISRICH; PETERS, 2004).
Para Stevenson (2001, p. 32), o espírito empreendedor define-se como “uma
atitude perante o risco e a busca contínua de oportunidades que estejam além dos
recursos disponíveis”.
Johnson (2005, p.2) argumenta que o empreendedorismo “não se trata de um
conjunto de características específicas nem de uma função econômica; tem, sim, um
sistema que é capaz de agregar valor às empresas e às economias dos países que
incentivam a prática do empreendedorismo”.
Segundo Dornelas (2004, p. 32), a definição para empreendedorismo se
resume em “fazer diferente, empregar os recursos disponíveis de forma criativa,
assumir riscos calculados, buscar oportunidades e inovar”.
A inovação, o ato de lançar algo novo, é uma das mais difíceis tarefas para o
empreendedor, pois exige a capacidade de entender o conjunto de forças em
23
funcionamento no ambiente. Para Hisrich (2004), o conceito de empreendedor fica
mais bem definido quando são considerados princípios e termos de uma perspectiva
empresarial, administrativa e pessoal.
Para Timmons (19941 apud DORNELAS, 2004), o empreendedorismo é um
ato comportamental, humano, de criatividade, onde os empreendedores utilizam sua
habilidade de persuasão para formar uma equipe de pessoas com conhecimentos
complementares, para gerenciar os negócios ou projetos empresariais.
Segundo Filion (2000, p.3),
[...] há uma corrente de autores que chama a atenção para o fato de que boa
parte das teorias propõe modelos estáticos, argumentando que uma
construção conceitual no campo deveria incluir critérios de desempenho, pois
os empreendedores trabalham em contexto de constante mudança e
evolução, com papéis e funções em permanente transformação.
O empreendedorismo tem sido um aliado do desenvolvimento econômico
porque tem suportado grande parte das inovações responsáveis por esse
desenvolvimento (Dornelas, 2003). Para o autor, os países desenvolvidos têm
valorizado e apoiado as iniciativas empreendedoras por saberem que estas se
constituem de ações que propiciam a geração de empregos e renda.
No Brasil, estudos sobre empreendedorismo constituem uma área de
investigação relativamente recente se consideradas as últimas décadas do Século
XX, identificando-se baixo número de pesquisas e publicações relacionadas à
infraestrutura, à ambiência econômica e às políticas públicas de apoio ao
empreendedorismo. Por outro lado, há um elevado número de estudos sobre
sistemas de apoio ao empreendedorismo, na área de infraestruturas de suporte
como incubadoras de empresas, parques tecnológicos, financiamentos e práticas de
apoio empresarial (JUDICE; VASCONCELOS, 2006).
Em Filion (2000), deve-se considerar que o que vai realmente constituir um
diferencial no mercado e na vida das pessoas é seu nível de autonomia, e não sua
capacidade de se adaptar à mudança, mas sua habilidade de iniciar a mudança.
Pode-se,
então,
chamar
de
“assumir
uma
cultura
empreendedora”
ao
comportamento individual orientado na busca de oportunidades e capaz de enfrentar
a dinâmica das mudanças.
1
TIMMONS, Jeffry A. New venture creation: entrepreneurship for the 21st. century. Boston: Irwin,
1994.
24
Drucker (2002) sustenta que, para que o espírito empreendedor se apresente
nas empresas, isto é, em um nível organizacional e não individual, são requeridas
diretrizes e práticas específicas de três ordens: 1) criação de um clima de
receptividade à inovação, à mudança e à busca de oportunidades; 2) sistemática
mensuração e aperfeiçoamento do desempenho e 3) implementação de práticas
gerenciais de incentivo e recompensa.
Empreendedorismo é uma atividade exercida pela humanidade há muito
tempo; integrados a ele, o progresso e a evolução das sociedades vêm ocorrendo
continuamente, porque as pessoas identificam oportunidades de melhoria e
crescimento sob aspectos diversos, permitindo, assim, um crescimento sustentável
do desenvolvimento humano através dos séculos. Os fenômenos relacionados ao
empreendedorismo vêm ganhando importância e relevância nos contextos
acadêmicos e empresariais com acentuação desde a década de 1980 (RIMOLI et
al., 2004).
Há destaque na competitividade brasileira no novo cenário mundial, segundo
Drucker (2001), já que o país prima pela versatilidade e adaptabilidade, permitindo
um melhor aproveitamento das futuras oportunidades geradas no cenário de
formação de blocos comerciais e de economias emergentes.
2.1.2 Empreendedorismo e relações de gênero
Apesar de os níveis de sucesso empresarial não serem os mesmos para os
gêneros, pesquisas demonstram que mulheres possuem alguns dos mesmos
recursos que os empreendedores do sexo masculino para a abertura do negócio
(Runyan, Huddleston, & Swinney, 2006).
Devido à evolução do papel da mulher na sociedade contemporânea e às
peculiaridades associadas à condição feminina, algumas questões importantes
surgem para investigação. Dentre elas destaca-se, de interesse particular do
presente trabalho, a influência das redes sociais femininas no processo
empreendedor (Vale & Serafim, 2010, p.1).
De acordo com essas autoras, algumas pesquisas procuram relacionar o
interesse pela atividade empreendedora de mulheres com a presença de certos
tipos de experiências familiares prévias. Ressalta-se, porém, “que mulheres com
25
pais empreendedores teriam, teoricamente, maior interesse em se tornarem
empreendedoras” (Vale & Serafim, 2010, p.1).
Torna-se importante destacar que o aumento da participação da mulher no
mercado de trabalho talvez seja um dos principais fatores que vem contribuindo para
o avanço dos estudos na área do empreendedorismo feminino. A participação das
mulheres na atividade empreendedora tem sido objeto de estudo em todo o mundo:
[...] estando entre outros assuntos de interesse as características
empreendedoras, as motivações para empreender, a inclusão social, as
dificuldades para empreender, assim como a sua ascensão dentro das
organizações. Este aspecto, inclusive, tem sido acompanhado por diversos
órgãos, destacando-se o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Miranda & Hoeltgebaum; 2008, p.2).
No Brasil, são identificadas diferenças na escolha de setores e segmentos
quando comparados mulheres e homens empreendedores. Para as empresas
femininas há predominância dos setores de serviços e comércio, apresentando-se
mais ligadas às questões do seu universo, como serviços domésticos, vestuário,
beleza e higiene. Estes segmentos correspondem a 53,9% dos empreendimentos
femininos estabelecidos (GEM, 2013). Ao contrário das mulheres, os homens
apresentam uma maior dispersão de atividades, com menor concentração de
setores e segmentos, mas com predominância da indústria. Entre as empresas
masculinas o segmento da construção civil lidera, com 24,7%, seguido por
manutenção de veículos e transporte de cargas (GEM, 2013).
Mesmo que, ao longo do tempo, as mulheres estejam ocupando cada vez
mais posições de destaque nos diferentes contextos, no que tange ao mundo dos
negócios esta evolução apresenta-se mais tímida, permanecendo a predominância
masculina, afirma Vale (2011). Para Klapper e Parker (2011), existem diferentes
fatores que levam a essa desproporcionalidade, em que mulheres e homens
mantêm-se diferentes quanto à entrada nas atividades empreendedoras. Segundo
os autores, um desses fatores são as dificuldades encontradas por mulheres
empreendedoras para acessarem financiamentos bancários.
Mesmo com a predominância de homens nas atividades empreendedoras, o
empreendedorismo
crescimento
feminino
econômico
e
representa
para
a
uma
redução
potencial
da
viabilidade
pobreza
em
para
países
o
em
desenvolvimento e muitas partes do mundo (Lapper & Parker, 2011). Para Brush,
26
Bruin e Welter (2009), mulheres donas de negócios compõem uma das populações
empreendedoras que mais apresentaram rápido crescimento no mundo, tendo,
também, contribuído para a geração de empregos e riqueza em todas as economias.
Corroborando com esse pensamento, Yetim (2008, p.864) salienta a
existência de diferenciações em função da classe social das empreendedoras. Para
o autor,
[...] mulheres de classe média ou alta que iniciam seus empreendimentos
com o propósito de se tornarem autônomas, recorrem, sobretudo, a laços
profissionais – ou laços fracos – que são formados por colegas, membros
de associações. No caso de mulheres de classe social mais baixa, os laços
são, sobretudo, provenientes do interior de suas famílias ou de suas
comunidades.
Se, por um lado, há semelhanças populacionais entre homens e mulheres,
por outro, segundo Grenne (2003), existem diferenças entre gêneros no tocante às
escolhas de setor, estratégias e governança. Os comportamentos de homens e
mulheres podem, não conscientemente e, não raras vezes, ser influenciados pelos
estereótipos de gênero presentes na sociedade (Devine, 1989; Wegener, Clark &
Petty, 2006; Heilman & Okimoto, 2007).
Para Hughes (2012), apesar da relevância do empreendedorismo feminino
demonstrado ao longo dos anos, houve historicamente uma “desatenção” às
mulheres empresárias e suas iniciativas. A autora afirma que, em 2012, o estudo
sobre esta temática estaria ainda jovem, mas não em fase inicial, como
anteriormente.
Sanches (2013) menciona que há diferença no saldo entre os gêneros, tanto
no que diz respeito aos números de empreendimentos, quanto ao que se refere aos
estudos acadêmicos: há diferença entre homens e mulheres. Apesar desta
constatação, o autor considera que as mulheres também constituem um importante
grupo social, corroborando com Vale e Guimarães (2010, p.1), que sustentam que
“as mulheres vêm ocupando posições de destaque nas mais diferentes esferas da
vida social, econômica, cultural e política, assumindo papeis antes reservados aos
homens”.
Os obstáculos para a criação de empresas diferem conforme o gênero, como
por exemplo, a dificuldade maior das mulheres para obtenção de recursos
financeiros, se comparadas aos homens (Sanchez & Fuentes, 2013). Para os
autores, homens empreendedores apresentam mais facilidade do que as mulheres
27
na questão de obtenção de financiamento para a empresa. A Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (1997) reconhece a importância
econômica e social da crescente atividade empreendedora feminina, sugerindo que
se amplie a exploração teórica do tema (Sanchez & Fuentes, 2013).
O estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2012) reforça a afirmação
da OCDE (1997) sobre as importantes implicações do empreendedorismo das
mulheres, com grande potencial para criação de empregos. Em todas as regiões
pesquisadas houve significativa aproximação, quando não a superação, do
percentual de mulheres com produtos ou serviços inovadores (em empresas em
início de atividade) com relação aos homens.
Considerando o empreendedorismo de modo geral (homens e mulheres), o
mesmo estudo avaliou a percepção das pessoas sobre o ambiente externo e as
suas próprias auto-avaliações internas relacionadas à ação de empreender (GEM,
2012). Analisando-se as percepções sobre o ambiente de negócios,
pode-se constatar que as pessoas veem o contexto que as cercam de
formas diferentes umas das outras. Confirmando estas diferenças entre
percepções de um mesmo ambiente de negócios, onde algumas pessoas
não consideram frutíferas áreas para empreender, outras avaliam como
propícias para tal (GEM, 2012).
Além da percepção sobre oportunidades, outras variáveis interferem na
motivação para a abertura de negócios. Enquanto Greence et al. (2003) sustentam
que mulheres e homens têm interesses distintos para empreender, outros autores
complementam que o empreendedorismo feminino, em maior parte, é motivado por
questões relacionadas à família, como dispor de mais tempo para os filhos e
responsabilidades familiares (Hart et al. 2003; Klapper & Parker, 2011, Brush, Bruin,
& Welter, 2009). Diaz (2007) observou que, embora haja diferenças entre os
motivos, não há dependência entre o sexo e o desejo de criação de um negócio.
Estudos têm investigado os motivos pelos quais o empreendedorismo
feminino ainda é em menor escala, se comparado ao masculino. Klapper e Parker
(2011) afirmam que um dos fatores que influenciam este fato é que as mulheres
apresentam menos aspirações profissionais do que os homens. Entretanto,
complementam que estudos recentes revelam que a diferença entre os gêneros para
as intenções de iniciar um negócio é pequena.
Apesar de diversos estudos constatarem que o empreendedorismo feminino
28
tem evoluído ao longo dos anos, ao mesmo tempo, afirmam que as mulheres ainda
enfrentam algumas dificuldades. Para ao GEM (2012), em alguns países a
responsabilidade de cuidar da família é predominantemente da mulher, limitando,
muitas vezes,
a sua capacidade de empenho para o crescimento do negócio. Na
República da Coreia, por exemplo, as empresárias também enfrentam
dificuldades em manter seus negócios, enquanto assumindo a
responsabilidade pelas tarefas domésticas e da educação dos filhos. Além
disso, é difícil para as mulheres daquele país se incluírem na cultura
empresarial, dominada por homens. Em outro extremo, a Polônia conta com
uma Lei de 2011 que permite maior flexibilidade às empreendedoras.
O empreendedorismo inicial no Brasil apresentou um maior número para
homens do que para mulheres empreendedoras (GEM, 2012). O estudo seguinte
(GEM, 2013) demonstrou uma inversão, sendo 47,8% de homens e 52,2% de
mulheres donos de empresas em fase inicial. Considerando os empreendimentos
estabelecidos liderados por homens e mulheres, o gênero masculino predomina,
com diferença de 15 pontos percentuais 57,8% e 42,2%, respectivamente (GEM, 2013).
Para os negócios já estabelecidos, a média geral dos países pesquisados
ainda retrata maioria masculina. Acompanhando os resultados do GEM 2012, o
estudo verificou maior percentual de empreendimentos estabelecidos no Brasil.
China e Índia também apresentaram diferença significativa, se comparados com
Alemanha, EUA e México, entre o percentual de empreendimentos masculinos e
femininos (Brasil: 18,6% e 12,6%; China: 14,1% e 8,0%; Índia: 14,8% e 6,3%;
Alemanha: 6,1% e 4,0%; EUA: 8,5% e 6,6%; México: 5,7% e 2,8%, sendo homens e
mulheres, respectivamente), conforme GEM (2013).
Independentemente
do
sexo
do
empreendedor,
ambos
os gêneros
necessitam de diferentes recursos para iniciarem e conduzirem suas atividades
empresariais (Vale, 2011). Reforçando esta sustentação teórica, Rauf e Mitra (2011)
afirmam que laços mantidos nas redes interpessoais de empreendedoras fornecem
suporte, sejam como clientes, sejam como parceiros das empresas ou como apoio
emocional.
Machado (2001) argumenta que a diversidade em termos de gêneros,
envolvendo empreendedorismo, tem se acentuado nas duas últimas décadas com o
sucesso e o crescimento do número de mulheres empreendedoras em diversas
29
localidades. A autora cita, ainda, que estudos focados apenas em mulheres
empreendedoras têm apontado diferenças no estilo de empreender e de gestão, que
podem estar associadas ao gênero, indicando que vários trabalhos conduziam a
generalizações sobre o comportamento empreendedor feminino.
Remetendo-se ao processo decisório de homens e mulheres para a criação
de empresas, Machado, Gazola e Anez (2013) consideram o mesmo como
dinâmico, resultando em implicações econômicas, culturais e sociais, havendo
diferenças por gênero. Para os autores, uma dessas diferenças são barreiras sociais
enfrentadas, mais comumente, por mulheres, quando decidem empreender. Como
descrito nas seções anteriores, mulheres e homens percebem de formas diferentes
a questão entre trabalho e família, o que para algumas empreendedoras se torna
mais um fator dificultador.
Para Jonathan (2003, p. 2), mulheres empreendedoras perceberam que o
crescimento de um negócio requer um propósito, ou seja, o crescimento por
crescimento não interessa às empreendedoras. O autor também cita que o
crescimento é frequentemente uma consequência de um intensivo estabelecimento
de amplas redes sociais com empregados, clientes, banqueiros e outros
empreendedores.
Lizárraga, Baquedano e Cardelli-Elawar (2007) consideram que as variáveis
de sexo e idade afetam diretamente a tomada de decisão, contribuindo para
diferenças individuais. Citam, ainda, que nossas decisões são afetadas por crenças
e pelas características que diferenciam os sexos, mesmo que as crenças sejam
baseadas em critérios questionáveis. Consideram também que mesmo com a
sociedade evoluindo no sentido da igualdade social e do trabalho entre homens e
mulheres, é necessário continuar a analisar a partir de uma perspectiva psicológica
se existem diferenças entre os sexos na importância que as pessoas atribuem a
fatores que determinam o processo de decisão. Em se tratando de diferenças entre
homens e mulheres empreendedores, uma diversidade de trabalhos tem sido
desenvolvida a partir dessa perspectiva. Entretanto, a maioria dos estudos tem
analisado um número pequeno de variáveis e suas possíveis associações, afirma
Machado (2001).
No Quadro 1 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos
abordados no empreendedorismo, mostrando-se o relacionamento do mesmo com o
gênero.
30
Quadro 1 - Empreendedorismo e gênero
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
PRINCIPAIS
AUTORES
EMPREENDEDORISMO E GÊNERO
A rede interpessoal é composta por um conjunto de laços
didáticos e diretos, tendo o empreendedor no centro, como
ponto focal da rede.
Hite e Hesterly (2001)
Há diferenças no estilo de empreender de homens e mulheres.
Machado (2001)
Homens e mulheres têm interesses distintos para empreender.
Greence, Hart Gatgewood,
Brush e Carter (2003)
O empreendedorismo feminino é, em maior parte, motivado
Hart, et al. (2003)
por questões relacionadas à família, como dispor de mais
Klapper; Parker (2011)
tempo para os filhos e responsabilidades familiares.
Brush, Bruin, Welter (2009)
Mulheres possuem alguns dos mesmos recursos que os
empreendedores do sexo masculino para a abertura do
negócio.
Todo empreendedorismo é um processo de imersão social.
Runyan, Huddleston e
Swinney (2006)
Bruch, Bruin e Welter
(2009)
O gênero é um dos fatores que influenciam na formação e
utilização da rede pessoal do empreendedor.
Rauf e Mitra (2011)
O empreendedor é criador de redes, podendo cooperar entre si
e com outros agentes econômicos.
Vale (2006; 2008; 2011)
As relações sociais do empreendedor, que é imerso em
relações sociais, influenciam e são como recursos para o
processo empreendedor.
Rauf e Mitra (2011)
Um dos fatores que levam o empreendedorismo feminino a ser
em menor escala do que o masculino se dá ao fato de as
mulheres apresentarem menos aspirações profissionais do que
os homens.
Klapper e Parker (2011)
As mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os
homens à influência de terceiros, quanto à decisão de criar
uma empresa.
Vale, Serafim e Teodósio
(2011)
O processo decisório para a criação de empresas difere por
gênero, sendo uma das diferenças as barreiras culturais e
sociais enfrentadas, mais comumente por mulheres, quando
decidem empreender. Mulheres e homens percebem de
formas diferentes a questão entre trabalho e família, o que
para algumas empreendedoras se torna mais um fator
dificultador.
Machado, Gazola e Anez
(2013)
Fonte: Organizado pela autora.
31
2.2 Redes sociais
2.2.1 Abordagens e importância
Rede social é “uma das formas de representação dos relacionamentos
afetivos ou profissionais dos seres humanos entre si ou entre seus agrupamentos de
interesses mútuos” (Silva, 2013, p.4).
Para Capra (2012), as redes sociais emergem nos últimos anos como um
padrão capaz de expressar, em seu arranjo de relações, as ideias políticas e
econômicas inovadoras, nascidas dos desejos mais atuais. São uma manifestação
cultural e:
[...] uma nova maneira de fazer política. Inspiradas no pensamento
sistêmico, as redes dão surgimento a novos valores, novos pensamentos,
novas atitudes: um novo balanço nas relações entre a tendência autoafirmativa e competitiva predominante e a integrativa e colaborativa, que
muitos veem como a tônica das sociedades do futuro (Amaral, 2004, p.2).
Complementando, Inojosa (2000, p.6) enfatiza que uma rede social deve
possuir também objetivos e propósitos comuns que justifiquem a sua existência. Em
uma “rede de compromisso social, as relações nascem e se nutrem de uma visão
comum sobre a sociedade ou sobre determinada questão social e da necessidade
de uma ação coletiva”.
As redes sociais, segundo Marteleto (2001, p. 72), representam “[...] um
conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e
interesses compartilhados”. Nela, “cada indivíduo tem sua função e identidade
cultural e sua relação com outros indivíduos vai formando um todo coeso que
representa a rede” (Costa, 2003, p. 42).
Nesse sentido, Amaral (2004, p.2) diz que a rede social que contempla
encontros presenciais periódicos:
aprofunda suas discussões, enriquece a diversidade de assuntos, visões e
perspectivas, e alavanca possibilidades de formação de sub-redes. Para a
autora, o encontro presencial favorece a apropriação pelo participante tanto
da esfera pública, como do espaço da própria rede. É o presencial que da
densidade à rede.
As redes sociais representam também um grau de complexidade política de
uma determinada comunidade ou grupo e não deveriam ser criadas artificialmente,
32
uma vez que emergem de processos culturais e políticos (Amaral, 2004).
Manifestam “um desejo coletivo de inovar na forma de organização política, numa
desorganização consciente e intencional de estruturas que não mais correspondem
às demandas e aspirações do grupo”. Além disso, revelam “a existência de
problemas que não conseguem ser resolvidos com as antigas estruturas e forma de
gestão” (Marteleto, 2001, p. 73).
2.2.2 Conceitos essenciais
Os aspectos e desdobramentos acadêmicos referentes ao conceito de rede
(network) vêm sendo estudados com relevância na área das Ciências Sociais. Neste
sentido, Granovetter na (1973) afirma que as comunidades apresentam crescimento
em tamanho e o interesse de pesquisadores pelo estudo das relações sociais dos
membros dessas comunidades também tem recebido maior foco teórico.
A teoria de redes define rede social como uma estrutura social formada por
relações sociais de indivíduos (ou organizações) chamados “nós”, sendo cada um
deles conectado a outro, apresentando um ou mais tipos específicos de
interdependência. Em Vale (2010), pode-se compreender que as relações sociais
geram influência sobre o desempenho dos indivíduos e grupos sociais. Para Martes
(2003 2 apud VALE & GUIMARÃES, 2010), estas conexões entre os indivíduos
compõem os fatores básicos para o entendimento das relações sociais.
A antropologia estrutural compreende redes como descritivas, visto que o
caráter perene das organizações e dos comportamentos sociais pode ser
identificado através da sua análise (Marteleto, 2001). Em se tratando de redes de
indivíduos e não de organizações, a autora coloca ênfase nas relações informais.
De Nooy, Mrvar e Batagelj (2011) conceituam rede social como a relação
existente entre pessoas ou entidades sociais, representando grupos. Para os
autores, essas relações podem ser, por exemplo, afetivas, se para pessoas, e
relacionamentos comerciais, em se tradando de organizações.
2 MARTES,
Ana Cristina Braga. Fronteiras cruzadas: etnicidade, gênero e redes sociais. São
Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.
33
Segundo Wellman (1988), redes sociais são como uma compreensão da
interação humana, de uma maneira mais ampla do que somente o seu
comportamento em comunidade.
Para Wasserman e Galaskiewicz (1994), enquanto uma rede social consiste
em um conjunto limitado de atores e as relações entre eles, uma rede egocentrada,
ou ego-network, consiste em uma rede onde há um foco central - ego - e todos os
“nós” são conectados a ele. Estes nós são chamados de alter (Wasserman &
Galaskiewicz, 1994). Ao contrário da análise da rede total onde, comumente,
investigam-se as conexões nela existentes, na rede egocêntrica o ego é a unidade
de análise (Wellman & Galaskiewicz, 1994; Marsden, 2005).
Conforme Marin (2010), as redes sociais são um conjunto de “nós”, pontos e
vértices, podendo ser individuais ou coletivas. As primeiras são caracterizadas,
segundo o autor, pelas redes egocêntricas, pessoais, chimps. Já as redes coletivas
são aquelas em que o ator central são organizações, ou firmas, ou nações, ou
espécies, por exemplo. Os tipos de laços que conectam à rede, seja ela individual ou
coletiva, são específicos, podendo ser diretos ou indiretos e, também, valorados.
As conexões que ligam o ego ao alter (ou aos alteri) são chamadas laços,
podendo ser mais ou menos intensos - fortes ou fracos (Granovetter, 1973).
Segundo o autor, a estrutura social, mais especialmente na forma de redes sociais,
afeta os resultados econômicos por três razões principais. A primeira delas deve-se
ao fato de as redes sociais afetarem o fluxo e a qualidade da informação. A segunda
é a sua representação de uma importante fonte de recompensa e punição. A terceira
razão é descrita como a confiança do membro da rede em que os outros indivíduos
irão agir corretamente, a despeito dos incentivos para o contrário (Granovetter,
2005).
Alguns estudos que têm surgido sobre redes sociais e seus desdobramentos,
após Granovetter (1973, 1985), têm demonstrado que interesses e comportamentos
são influenciados pelas relações sociais nas quais os indivíduos estão inseridos. Da
mesma forma, empresas também sofrem pressões das contínuas relações sociais
intrínsecas ao seu cotidiano (Granovetter, 2007). Uma das questões clássicas da
teoria social é como os comportamentos e as empresas são afetados pelas redes
sociais. Grande parte da tradição utilitarista pressupõe um comportamento racional e
de interesse pessoal minimamente afetado pelas relações sociais. Tanto os
economistas clássicos e neoclássicos quanto os sociólogos baseiam-se em uma
34
concepção atomizada e subsocializada da ação humana. Segundo Granovetter
(2007), os argumentos teóricos nesses campos rejeitam, por hipótese, todo impacto
da estrutura social e das relações sociais sobre a produção, a distribuição e o
consumo.
Para Schott e Cheraghi (2012), as redes de empresários podem ser
analisadas considerando o agrupamento das suas relações. Segundo estes autores,
são
cinco
os
componentes
que
caracterizam
os
relacionamentos
dos
empreendedores e, desta forma, a análise dos mesmos. São eles: redes privadas
(ou pessoais); redes de trabalho; rede profissional; rede de mercado; e rede
internacional.
As redes privadas são formadas por cônjuge, pais, outros familiares e amigos.
As de Trabalho, por chefes, subordinados, colegas de trabalho. As redes
Profissionais têm como componentes contadores, advogados, funcionários de
bancos, consultores e pesquisadores, enquanto as redes de Mercado são formadas
por concorrentes, colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros. Por fim, Schott e
Cheraghi (2012) definem as redes Internacionais como aquelas compostas por
relações de aconselhamentos realizados por pessoas que estão no exterior ou que
vieram do exterior.
Os autores complementam a análise, sustentando que as redes sociais do
empreendedor sofrem influência da cultura do país e região de origem. Da mesma
forma, consideram a existência de interferência cultural nas propriedades estruturais
(composição e diversidade) das redes em torno do empreendedor (Schott &
Cheraghi, 2012).
Diante do exposto, pode-se dizer que rede social é uma estrutura horizontal,
democrática, participativa, aberta e presencial que une indivíduos em torno de
valores e objetivos compartilhados, sem que as partes percam autonomia e
identidade (Amaral, 2004).
2.2.3 Redes sociais e gênero
As redes pessoais podem fazer parte do contexto da tomada de decisão do
empreendedor. Vale (2008), analisando a literatura sobre empreendedorismo, avalia
o empreendedor como criador de redes. Segundo a autora, não mais este ator
35
econômico é considerado “um ator atomizado e individualista” como anteriormente
descreveu a concepção dominante relacionada ao tema.
Com vistas na teoria das redes, Vale (2008) afirma que a mesma parte do
princípio de que os laços entre os indivíduos possuem fatores básicos que
complementam as relações sociais. Acrescenta, ainda, que as redes sociais são
importantes para diversos tipos de empreendimentos humanos, podendo haver
diferença na forma como homens e mulheres acessam e utilizam seus laços
relacionais.
Vale e Guimarães (2010) apresentam como as redes sociais e informações
que nelas circulam influenciam a sobrevivência e a criação de empresas. Observam
que apesar de haver diferenças para os dois grupos de empresas pesquisadas
(ativas e extintas), os resultados demonstram que as redes sociais (amigos ou
conhecidos) da maioria das empresas compuseram a sua clientela no primeiro ano
de atividade. No mesmo estudo, as autoras reforçam a relevância dos laços fracos
para os negócios, por meio de categorização dos relacionamentos dos
empreendedores. Demonstram que os laços fracos, mais do que os fortes, são
utilizados pelos empreendedores na abertura das empresas. As autoras distinguem
as relações sociais dos empreendedores em três categorias, sendo: laços
profissionais, laços pessoais, laços familiares.
Dentre os resultados, a pesquisa apresenta a categoria de relacionamento
que é mais útil, segundo os respondentes, ao processo de abertura das empresas. A
maioria dos dois grupos pesquisados - empresas ativas e extintas - apontou:
os laços profissionais (que, em geral, fazem parte do contexto de laços
fracos) são “muito importantes” no processo para a abertura do negócio. Em
seguida estão os laços pessoais (compostos por amigos e conhecidos),
seguidos dos laços familiares (parentes que, geralmente, são laços fortes).
Além da utilidade para a abertura do negócio, as redes de empreendedores,
segundo o estudo, fornecem recursos como informações, clientes e
fornecedores (Vale & Guimarães, 2010, p.197).
Quando observados os gêneros, Vale, Serafim e Teodósio (2011)
demonstram que, para ambos, os “relacionamentos profissionais” continuam sendo
avaliados como os mais importantes pelos empreendedores para a criação das
empresas. Ressaltam, entretanto, que para os homens este tipo de laço profissional - é mais importante do que para as mulheres (82% e 67,7%,
respectivamente). Em segundo lugar, mantêm-se os laços pessoais, com percentual
36
aproximado entre homens (27,8%) e mulheres (27%). Já os laços familiares são os
de menor percentual como “muito importantes” para a abertura do negócio - 15,7%
para homens e 12,7% para mulheres (Vale, Serafim & Teodósio, 2011).
Segundo Vale (2011), a questão de gênero tem sido objeto, mais
recentemente, de pesquisas teóricas e empíricas que buscam investigar suas
implicações, tanto no campo das redes sociais quanto no processo empreendedor
em si.
Para Vale (2011) e Moore (1990), mulheres são mais propensas a manter
laços mais intensos e frequentes (laços fortes) com familiares e poucos laços não
familiares, enquanto homens são mais dispostos a formar mais laços fora da família
para a composição da sua rede. Moore (1990) acrescenta que as redes de homens
e de mulheres apresentam diferenças não somente quanto à estrutura e
composição, mas inclusive quanto ao tamanho.
Granovetter (1985) defende que os indivíduos fazem parte de um contexto
social e não tomam decisões nem se comportam de forma atomizada. Neste
sentido, afirma o autor, os relacionamentos de confiança entre os atores influenciam
os comportamentos no mundo dos negócios. Ele considera que, quanto mais forte
for a confiança entre dois indivíduos, mais propício será o ambiente para
comportamentos oportunistas e de má fé. Ressalta, ainda, que os relacionamentos
de confiança nas redes sociais geram oportunidades de manipulações e que, apesar
desta situação poder ocorrer, também, na ausência de relações sociais, o
oportunismo é mais provável em relações mais próximas.
Considerado o primeiro pesquisador a assumir os manifestos da chamada
“Nova Sociologia Econômica”, Mark Granovetter sustenta que as relações sociais
produzem confiança nas relações econômicas (Granovetter, 1985). Segundo o
autor, as relações pessoais são circunstanciais, podendo gerar tanto confiança
quanto má fé na rede.
A abordagem da confiança em redes sociais está diretamente relacionada
com o conceito de embeddedness (Granovetter, 1973, 1985). Para um melhor
entendimento sobre embeddedness e seus desdobramentos nas questões do
empreendedorismo, distinguindo-o por gênero, torna-se necessário um maior
aprofundamento nos conceitos e reflexões sobre redes sociais e laços relacionais.
O argumento de embeddedness traz a defesa de que a concretude das
relações, agindo na origem da confiança, considerando a mesma oriunda da
37
imersão dos indivíduos na rede, desencoraja a má fé (Granovetter, 1985). A
influência das redes no comportamento individual pode ser compreendida por dois
tipos de laços interpessoais (fortes e fracos) que caracterizam uma rede
(Granovetter, 1973).
Em se tratando de redes sociais por gênero, Moore (1990) defende que há
diferenças significativas. O autor exemplifica, afirmando que mulheres são menos
propensas do que homens a utilizar suas redes como recursos para evolução da
carreira profissional.
Enquanto as redes, em nível macro, influenciam movimentos sociais
(Marteleto, 2004), as redes pessoais estão ligadas às relações do ego. Burt (1980)
define ego-network como aquela onde o principal ator é o ego, sendo todos os
demais indivíduos da rede membros com os quais o ego tem relação direta. O autor
conclui que modelos de redes egocêntricas têm sido extensivamente desenvolvidos.
Afirma, ainda, que, para estudos sociológicos, pesquisas empíricas têm sido mais
exploradas.
Burt (1980) sustenta que a rede possui maior ou menor alcance na medida
em que inclui uma diversidade de atores aos contatos do ego. Essa diversidade
pode ser identificada como a heterogeneidade social e/ou número de atores na rede.
Quanto à densidade, se todos os atores estão conectados e as relações são
intensas, pode-se afirmar que a rede é densa (Burt, 1980). Em Burt (1983) e Burt e
Schott (1985), pode-se compreender o aspecto multiplex das redes como a
convergência de múltiplas relações e estrutura dos laços. As redes multiplex podem
apresentar múltiplas formas, sendo que os laços multiplex são constituídos por
componentes formais e informais das relações da rede.
Segundo Bruch, Bruin e Welter (2009), o empreendedorismo é um processo
de imersão social, sendo que, para Rauf e Mitra (2011), os empreendedores, além
de imersos nos relacionamentos sociais, sofrem influência das questões e
informações oriundas do ambiente externo. Se de um lado as redes sociais de
mulheres possuem diversidade de gênero, por outro, homens apresentam maior
frequência de laços com outros homens (Bruch, Bruin, & Welter, 2009, et al. Aldrich,
1989).
Para Rauf e Mitra (2011), as relações sociais são consideradas pelos
empreendedores como recursos para o processo empreendedor de diferentes
formas, que são determinadas pela natureza da rede. Afirmam, ainda, que o
38
empreendedor forma sua personal network (rede pessoal) sob uma perspectiva
estritamente individual. Em contraponto, Marteleto (2004) considera que são as
relações (passadas ou atuais) que determinam o modo como o indivíduo se
comporta, e complementa que as “redes humanas têm uma ordem e leis diferentes
daquelas planejadas e desejadas pelos indivíduos que as compõem”.
A questão da imersão social no processo empreendedor tem sido estudada
também no sentido de analisar o contexto das redes sociais (Uzzi, 1997, 1999;
Granovetter, 1985; Vale, 2008) e redes sociais de mulheres empreendedoras
(Grenne, 2003). Para Manolova (2007), não somente o capital humano, mas
também níveis mais elevados de networking do empreendedor aumentam as
expectativas de crescimento da empresa, assim como, segundo a autora, o grau de
desenvolvimento da rede social especifica a foça institucional do negócio e fornece
apoio emocional para a iniciativa empreendedora.
As redes sociais têm sido foco de diversos autores para estudos relacionados
ao contexto econômico. Granovetter (1985, 2005, 2007) embasa seus estudos na
questão da imersão. Para o autor, as relações sociais interferem nas instituições e
no comportamento econômico. Os indivíduos não atores atemorizados e, sim,
comportam-se imersos em relações sociais que, segundo o autor, influenciam a
questão da confiança e da má-fé na vida econômica (Granovetter, 2007).
2.3 A força dos laços
2.3.1 Elementos determinantes para seu desenvolvimento
Um laço social constituído a partir dessas interações e relações é denominado
laço relacional (Breiger, 1997). Para Breiger (1997, p. 184), portanto, “o laço social
não depende apenas de interação. Laços relacionais, portanto, são aqueles
constituídos através de relações sociais, que apenas podem acontecer através da
interação entre os vários atores de uma rede social”.
Granovetter (1983, p. 209) define laços fortes e fracos com diferentes
atributos.
[...] os laços fortes são aqueles que apresentam uma combinação entre
quantidade de tempo, intensidade emocional, frequência de convívio e
reciprocidade. Laços fracos são contatos menos frequentes e intensos; são
39
as relações interpessoais em que os indivíduos se conhecem, mas não
apresentam a mesma intensidade pessoal como as que são consideradas
como laços fortes. Estes, afirma o autor, são aqueles que possuem grande
intensidade e frequência de contato, assim como intimidade e confiança
mútua. O autor afirma, ainda, que se por um lado os laços fortes dispõem
de confiança, mutualidade e confidência, possuindo informações
redundantes e comuns aos membros, os laços fracos apresentam
informações mais novas do que as que circulam dentro da rede.
Com relação aos laços fortes, Granovetter (1992) cita quatro aspectos que os
identificam: tempo, intensidade emocional, intimidade (confiança mútua) e serviços
recíprocos entre as pessoas. Para o autor, a presença de um desses atributos define
um laço como sendo forte.
Já para Aldrich e Zimmer (1985, p. 11), a força do laço é “dada pelo nível,
frequência e reciprocidade dos relacionamentos entre os indivíduos”. Devido à
confiabilidade, os laços envolvem confiança e emoção e as pessoas dedicam-se
com mais intensidade a este tipo de relacionamento.
Freman (1979), analisando membros primários e secundários das redes, cita
as ideias de Granovetter (1973) relacionadas às relevâncias dos laços fracos, como
possibilidades para o desenvolvimento de modelos para estudos sobre a estrutura
de grupos.
Considerando
que
redes
sociais
são
conjuntos
de
laços
e
“nós”
interconectados, Wellman (1999) defende que tanto pessoas quanto organizações
estão ligadas constantemente, vivendo em diferentes redes sociais, e acrescenta
que os indivíduos tendem à homofilia, isto é, as conexões sociais se formam com
pessoas similares, sendo suas redes sociais construídas onde os atributos são
semelhantes.
Lin (1981) admite, com vistas na literatura referente à força dos laços, a
relevância dos laços fracos para aquisição de informações novas, por exemplo,
empregos, mas afirma que as interações sociais mais intensas (laços fortes) tendem
a se formar entre indivíduos com atributos semelhantes (princípios da homofilia).
Neste sentido, Wellman (2010) sustenta que a característica dos laços e das
relações varia, dentre outros fatores, de acordo com gênero e idade. Por exemplo,
Wellman (1985) descreve que pessoas casadas tendem a manter mais laços com
outras pessoas também casadas.
Uzzi (2003) salienta que as relações presentes nos laços formais e informais
das empresas atuam como condutores de informação, podendo aumentar sua
40
capacidade de prosperar no curto e adaptar-se no longo prazo. O autor ratifica o que
Granovetter (1973) demonstrou sobre a importância dos laços para o fornecimento e
circulação de informações. Os laços fracos possibilitam informações novas e uma
ampla gama de atores, enquanto os laços fortes tendem a ser em menor quantidade
e com circulação de informações mais privadas à rede (Granovetter, 1973, 1983;
Uzzi, 2003).
Para Shane e Cable (2002) os laços relacionais impactam na confiança para
financiamento de negócios e geração de oportunidades para aumento do lucro, em
função da diminuição da assimetria de informações.
Uzzi (1999) defende que as redes de relacionamentos afetam o custo de
capital para uma empresa em transações econômicas, confirmando o que
Granovetter (1985) sustenta. Neste sentido, Williamson (1975) apresenta a questão
da confiança relacionada aos custos de transação.
2.4 Modelos de análises teóricas
No Quadro 2 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos
abordados sobre redes, mostrando-se o relacionamento das mesmas com gênero,
abordagens sociais e interpessoais.
Quadro 2 - Redes sociais e interpessoais
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
PRINCIPAIS
AUTORES
REDES SOCIAIS E INTERPESSOAIS
As conexões que ligam o ego aos alteri são chamadas laços, podendo ser
mais ou menos intensos – fortes ou fracos.
Granovetter (1973)
Enquanto os laços fracos fornecem recursos como informações novas à
rede, que são úteis ao ego (empreendedor), os laços fortes fornecem apoio
emocional.
Granovetter (1973,
1985)
As redes sociais, compostas por laços fortes e fracos, afetam os resultados
econômicos, principalmente por três razões: a) por afetarem o fluxo e a
qualidade da informação; b) por serem fonte de recompensa e punição; e c)
pela confiança do membro da rede em que os outros indivíduos irão agir
corretamente, a despeito dos incentivos para o contrário.
Granovetter (1973,
2005)
As redes interpessoais possuem maior ou menor alcance de acordo com a
diversidade dos contatos do ego.
Burt (1980)
Redes sociais são como uma compreensão da interação humana, de uma
maneira mais ampla do que somente o seu comportamento em
Wellman (1988)
41
comunidade.
Há diferenças nas redes pessoais de homens e mulheres. As redes
masculinas são focadas, na maioria, em colegas de trabalho, enquanto as
femininas mantêm familiares como a maior parte dos membros.
Moore (1990) e Vale
(2011)
Uma ego-network consiste em uma rede onde há um foco central - o ego com todos os nós conectados a ele.
Wasserman e
Galaskiewicz (1994)
Ao contrário da análise da rede total onde, comumente, investigam-se as
conexões nela existentes, na rede egocentrada o ego é a unidade de
análise.
Wasserman e
Galaskiewicz (1994)
Marsden (2005)
Os laços sociais são constituídos através de relações sociais, podendo
acontecer apenas através de interação entre os vários atores de uma rede
social.
Breiger (1997)
Os indivíduos tendem à homilia.
Wellman (1999)
As redes sociais representam um conjunto de participantes autônomos,
unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.
Marteleto (2001)
Rede social é uma estrutura que une indivíduos em torno de valores e
objetivos compartilhados, sem que as partes percam autonomia e
identidade.
Amaral (2004)
O empreendedor é criador de redes, podendo cooperar entre si e com
outros agentes econômicos.
Vale (2006, 2008, 2011)
A questão de gênero impacta no desenvolvimento das redes pessoais e as
relações sociais geram influência sobre o desempenho dos indivíduos e
grupos sociais.
Vale (2010)
Os laços mantidos nas redes interpessoais de empreendedoras fornecem
suporte, sejam clientes, sejam como parceiros das empresas ou como
apoio emocional.
Rauf e Mitra (2011)
As relações sociais do empreendedor, que é imerso em relações sociais,
influenciam e são como recursos para o processo empreendedor.
Rauf e Mitra (2011)
As redes sociais podem ser definidas como as relações entre pessoas ou
organizações […], por exemplo, as relações afetivas entre as pessoas ou
relações comerciais entre organizações.
De Nooy, Mrvar,
Batagelj e (2011)
As redes sociais de empreendedores podem ser classificadas em cinco
grandes grupos: (i) rede privada (ou pessoal); (ii) rede de trabalho; (iii) rede
profissional; (iv) rede de mercado; e (v) rede internacional.
Schott e Cheraghi
(2012)
Fonte: Organizado pela autora.
No Quadro 3 apresenta-se um modelo de análise dos principais conteúdos
abordados e de interesse deste estudo, destacando-se as abordagens entre
empreendedorismo e redes e entre empreendedorismo e gênero.
42
Quadro 3 – Empreendedorismo, redes e gênero
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
PRINCIPAIS
AUTORES
EMPREENDEDORISMO, REDES E GÊNERO
EMPREENDEDORISMO E
REDES
Enquanto os laços fracos fornecem recursos
como informações novas à rede, que são úteis
ao ego (empreendedor), os laços fortes
fornecem apoio emocional.
Granovetter (1973,
1985)
As redes interpessoais possuem maior ou
menor alcance de acordo com a diversidade
dos contatos do ego.
Burt (1980)
As relações sociais do empreendedor, que é
imerso em relações sociais, influenciam e são
como recursos para o processo empreendedor.
Rauf e Mitra (2011)
O empreendedor é criador de redes, podendo
cooperar entre si e com outros agentes
econômicos.
Vale (2006, 2008,
2011)
Mulheres recorrem mais aos laços fortes e
homens aos laços fracos.
Vale (2011)
As redes sociais de empreendedores podem
ser classificadas em cinco grandes grupos: (i)
rede privada (ou pessoal); (ii) rede de trabalho;
(iii) rede profissional; (iv) rede de mercado; e
(v) rede internacional.
EMPREENDEDORISMO E
GÊNERO
Schott e Cheraghi
(2012)
Há diferenças nas redes pessoais de homens
e mulheres. As redes masculinas são focadas,
na maioria, em colegas de trabalho, enquanto
as femininas mantêm familiares como a maior
parte dos membros.
Moore (1990) e
Vale (2011)
A
questão
de
gênero
impacta
no
desenvolvimento das
respectivas redes
pessoais dos empreendedores.
Vale (2010)
Mulheres possuem alguns dos mesmos
recursos que os empreendedores do sexo
masculino para a abertura do negócio.
Runyan, Huddleston e
Swinney (2006).
As mulheres parecem mostrar-se mais
sensíveis do que os homens à influência de
terceiros, quanto à decisão de criar uma
empresa.
Vale e Serafim (2010)
Um
dos
fatores
que
levam
o
empreendedorismo feminino a ser em menor
escala do que o masculino se dá ao fato de as
mulheres apresentarem menos aspirações
profissionais do que os homens.
Klapper e Parker
(2011).
Fonte: Organizado pela autora.
43
O processo de criação de uma empresa, como exposto nas seções
anteriores, passa por algumas influências, sobretudo das relações sociais do
empreendedor (homem ou mulher), bem como das questões relacionadas ao
gênero. Para identificar e analisar como essas influências impactam no processo da
tomada de decisão da abertura da empresa, desenvolveu-se um modelo teórico
(FIGURA 1).
Figura 1 – Modelo teórico
Fonte: Elaborado pela autora.
O modelo teórico buscou sustentação nas proposições teóricas apresentadas
neste trabalho e sintetizadas nos Quadros 1, 2 e 3.
A rede pessoal refere-se aos relacionamentos do empreendedor na época em
que criou a empresa. Esta rede é formada pelos agrupamentos de relacionamentos
que Schott e Cheraghi (2012) denominaram como profissionais (rede de trabalho),
pessoais (rede privada) e comerciais (rede de mercado). A estas caracterizações foi
incluída a rede de colegas de faculdade e demais cursos, relevantes para parte dos
empreendedores.
Os atributos são o que caracteriza cada membro da rede (alter – segundo
McCarty, 2005) do empreendedor, por exemplo, sexo, proximidade familiar (cônjuge,
filho, irmão, etc.) ou de trabalho, dentre outros.
Neste estudo buscou-se identificar se os atributos dos alteri têm correlação
com os tipos de laços (fortes ou fracos, segundo Granovetter, 2012) e qual ou quais
tipos de recursos, motivações e influências esses laços fornecem ao ego
(empreendedor).
Por fim, o modelo teórico se propõe a favorecer a compreensão de como as
redes sociais dos empreendedores influenciaram a decisão de empreender.
44
A seguir, aborda-se o “Prêmio Micro Pequenas Empresas Brasil”, destacandose suas categorias de reconhecimento e critérios especificados no regulamento.
3 PRÊMIO MICRO PEQUENAS EMPRESAS BRASIL
Este item descreve as informações apresentadas nos relatórios de gestão
publicados no site do “Prêmio MPE Brasil” do ano de 2014, destacando suas
categorias de reconhecimento e critérios especificados no regulamento.
3.1 Descrição do prêmio
O prêmio é um reconhecimento concedido anualmente às micro e pequenas
empresas que se destacam em suas categorias, cuja atuação sirva de referência no
esforço de mobilização para a melhoria da competitividade em seu segmento.
As empresas candidatas são avaliadas pela qualidade da gestão e pela
capacidade empreendedora do empresário (ou empresária), através da utilização de
ferramentas específicas, por exemplo, o “Questionário de Auto-avaliação”, com base
no Modelo de Excelência da Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade
(FNQ).
O objetivo do prêmio se constitui no reconhecimento nacional e estadual às
micro e pequenas empresas que promovem o aumento da qualidade, da
produtividade e da competitividade, pela disseminação de conceitos e práticas de
gestão. Esta avaliação é realizada através da observação de 11 fundamentos:
pensamento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura da inovação, liderança e
constância de propósitos, orientação por processos e informações, visão de futuro,
geração de valor, valorização das pessoas, conhecimento sobre o cliente e o
mercado, desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social.
As categorias de reconhecimento para o prêmio são Agronegócio, Comércio,
Indústria,
Serviços
de
Educação,
Serviços
de
Saúde,
Serviços
de
TI
(desenvolvimento, implantação e gerenciamento de software), Serviços de Turismo
(bares, restaurantes, hotéis, pousadas, agências de viagem, transportes turísticos) e
Serviços (empresas de serviços que não se enquadrem nas categorias de serviços
acima).
45
As empresas inscritas em uma destas categorias também podem optar por se
candidatar ao “Destaque de Boas Práticas de Responsabilidade Social” e "Destaque
de Inovação". As empresas aptas a participar devem se enquadrar em critérios
especificados no regulamento do prêmio, dentre eles, ter completado pelo menos
um ano de atividades e receita bruta anual de até R$3.600.000,00 (três milhões e
seiscentos mil reais), incluindo a soma dos orçamentos de filiais e matriz. Para
participarem do Prêmio MPE Brasil, as empresas devem, portanto, ser de micro ou
pequeno porte (MPE), segundo a Lei Complementar 123/2006, apresentando,
portanto, faturamento de até R$3.600.000,00 (PRÊMIO MPE BRASIL, 2014).
As MPE, no Brasil, correspondem a 27% do PIB e a 99% dos estabelecimentos
formais, além de empregarem cerca de 70% da força de trabalho nacional (PRÊMIO
MPE BRASIL, 2014).
Segundo o MPE Brasil (2014), o interesse na participação no prêmio tem
crescido a cada ano. Desde 2002 mais de 230 mil empresas se candidataram ao
prêmio em todo Brasil. Somente em Minas Gerais, foram 34.085 empresas inscritas
de 2008 a 2014 (período selecionado para este trabalho). Percebe-se que, ao longo
dos anos, as empresas vencedoras de cada ciclo renovam sua motivação pela
busca da excelência e do aumento das vantagens competitivas de seus negócios,
além de tornarem-se agentes na multiplicação de seus conhecimentos em gestão
(PRÊMIO MPE BRASIL, 2014).
A
partir
deste
ponto,
faz-se
necessário
abordar
os
procedimentos
metodológicos nos quais se reúnem a abordagem e a classificação da pesquisa, as
unidades de análise e observação, a elaboração do instrumento de pré-teste, a
coleta e análise dos dados.
46
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os capítulos anteriores forneceram as referências teóricas nas quais se
baseia o desenvolvimento deste trabalho. Este capítulo trata da abordagem e
classificação da pesquisa, abordagem metodológica, unidade de análise e
observação, elaboração e pré-teste de instrumento, detalhamento e elaboração da
coleta de dados e as variáveis analisadas.
4.1 Abordagem da pesquisa
A abordagem da pesquisa é de natureza qualitativa. A pesquisa qualitativa
tem como principal objetivo compreender, em profundidade, fenômenos complexos.
O uso da pesquisa qualitativa é indicado para se analisar fenômenos sociais e
humanos. A pesquisa qualitativa tem como principal objetivo compreender, em
profundidade, fenômenos complexos. O uso da pesquisa qualitativa é indicado para
se analisar fenômenos sociais e humanos (Godoy, 1995, 2005).
Esta é uma das tônicas do estudo, uma vez que o objetivo da pesquisa é,
sobretudo, analisar como mulheres e homens proprietários de empresas premiadas
utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.
A definição por abordagem qualitativa faz-se também em função da
necessidade de se compreender como os gêneros acessaram os diversos recursos
disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local, clientes,
recursos financeiros, entre outros.
4.2 Classificação da pesquisa
Para caracterizar o tipo de pesquisa, tomou-se como base a taxionomia
proposta por Vergara (2005), que a qualifica com quanto aos fins e quanto aos
meios, sendo ambos parte fundamental deste estudo.
De acordo com Ragin (1992), quanto aos fins, a presente pesquisa é
explanatória. Este método de teorização - “explanation-contextualization” - se baseia
na afirmação de que os estudos de caso podem gerar explicações causais que
preservam um pouco da riqueza contextual. Ainda, segundo Ragin (1992), os
estudos explanatórios
admitem
preservar
variáveis
explicativas
que
estão
47
necessariamente ligados ao contexto, o que é desconsiderado em pesquisas
estatísticas. Neste método de teorização, o nexo de causalidade pode é rejeitado em
favor de um entendimento mais complexo que reconhece a natureza contingente
das relações causa-efeito, complementa Ragin (1992).
Quanto aos meios de investigação, esta pesquisa se caracteriza como estudo
de casos (YIN, 1981; 2001) múltiplos, sendo quatro os indivíduos que compõem os
casos pesquisados. Segundo Yin (1981), estudos de caso como a estratégia de
investigação que busca examinar um fenômeno contemporâneo em seu contexto de
vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são
claramente evidentes. Afirma, ainda, que nos estudos de casos não se podem
manipular comportamentos relevantes (Yin, 2001).
A pesquisa foi desenvolvida, portanto, pelo método casos múltiplos, estando
circunscrita a mapear as redes pessoais e suas utilizações por homens e mulheres
empreendedores proprietários de empresas premiadas pelo “Prêmio MPE Brasil”,
em Minas Gerais.
4.3 Unidades de análise e observação
Foram definidas como unidades de análise empreendedores proprietários de
empresas premiadas, em Minas Gerais, entre os anos de 2010 e 2014 pelo Sebrae
Minas no “Prêmio MPE Brasil”. As empresas vencedoras são reconhecidas
nacionalmente e destacam-se pelas boas práticas adotadas de gestão e capacidade
empreendedora do empreendedor.
O estudo ficou restrito à análise do estado de Minas Gerais por conveniência
logística da pesquisadora. A seleção das unidades de análise para este estudo foi,
portanto, intencional, não probabilística, visto que não foram utilizadas formas
aleatórias de seleção das amostras, não se adotando a aplicação de fórmulas
estatísticas (Marconi & Lakatos, 2002). Neste sentido, Ragin (1992) afirma que, o
conceito de “caso” é logicamente anterior ao conceito de “população”. Em um
contexto em que o conceito de “caso” é entendido como “problemática”, esses
conceitos parecerem impenetráveis, acrescenta o autor.
48
4.4 Elaboração e pré-teste do instrumento
Antes de aplicar a entrevista aos dois grupos, foi realizado um pré-teste com
um homem empresário, com o objetivo de validar o instrumento de pesquisa em
relação à facilidade de compreensão, facilidade de respostas, tempo gasto para
resposta e quantidade de questões.
O instrumento foi validado e, a partir do pré-teste, detectou-se a necessidade
de reformular cinco questões, a saber: as variáveis 1, 2, 3, 4 e 6 do Bloco I e as
variáveis 8, 9 e 10 do Bloco II. A reformulação fez-se necessária dada a possiblidade
(identificada a partir do pré-teste) de o entrevistado não estar em sua primeira
empresa. Outra possibilidade verificada foi a atividade empreendedora ter começado
através da entrada em uma sociedade e, não necessariamente, da abertura de uma
empresa.
O tempo de resposta à entrevista durante o pré-teste foi de 50 minutos. Este
tempo foi considerado insuficiente, se incluído o preenchimento do “gerador de
nomes”. A partir do pré-teste verificou-se que o tempo médio necessário para as
entrevistas é de 120 minutos.
4.5 Detalhamento da coleta dos dados
O instrumento de coleta de dados primários constituiu-se em uma entrevista
semi-estruturada, sendo definidas algumas questões orientadoras, deixando aos
entrevistados a oportunidade de complementar as observações como desejassem.
Para Beuren (2004, p.133), “a entrevista em profundidade possibilita ao entrevistado
a liberdade de desenvolver cada situação na direção que considera mais adequada.
Isso significa uma forma de explorar mais as questões levantadas”.
As evidências que foram coletadas através de entrevistas em profundidade
basearam-se na literatura e em um único tipo de roteiro de entrevistas aplicado com
os quatro empresários – objeto da análise empírica, conforme apresentado no
Apêndice A.
As entrevistas foram aplicadas abordando os seguintes tópicos: os recursos
disponíveis nas redes pessoais dos entrevistados; a forma de utilização dos
recursos das redes pelos empreendedores; a natureza dos laços presentes nas
49
redes; a influência dos laços na criação da empresa; e a percepção do entrevistado
quanto ao desempenho por gênero.
O apoio das redes sociais dos empreendedores, incialmente, não lhes
pareceu explícito. Entretanto, à medida que as entrevistas se aprofundaram e que a
memória da época em que empreenderam era reavivada, observaram-se como as
interações de cada ego participaram da criação da empresa. Esta constatação, que
inicialmente não era explícita, foi assumida pelos entrevistados ao final da pesquisa.
Para a realização do estudo de caso, foi adotada também a perspectiva
relacional pura, com foco nos aspectos da Análise de Redes Sociais (ARS),
utilizando-se da linha sociométrica desenvolvida por Jacob Levy Moreno, a partir de
estudos sobre a relação entre estruturas sociais e bem-estar psicológico.
Wassermann e Galaskiewicz (1994) argumentam que a ARS pode ser
categorizada
em:
a)
medidas
estruturais
(como
centralidade,
densidade,
transitividade e coesão); b) papéis e posições (como a análise de equivalência
estrutural, regular, análise de clusters e de blockmodels); e c) análise estatística dos
relacionamentos.
A ARS envolveu a identificação e análise da natureza dos contatos, as
relações dos empreendedores e a utilização de recursos presentes nas redes
pessoais de empreendedores premiados, tais como informações para mercado,
apoio financeiro, seleção do local para a instalação da empresa, apoio emocional,
composição de sociedades, dentre outros.
A base para a coleta de dados secundários se deu em livros, artigos de
revistas, artigos eletrônicos, journals, dissertações e teses, entre outros. Marconi e
Lakatos (2002, p. 24) afirmam que as fontes secundárias são as extraídas da
“imprensa em geral e obras literárias”. Parte das informações referentes às histórias
das empresas pesquisas foi acessada no site do Prêmio MPE Brasil, disponível em
http://www.mbc.org.br/mpe (acessado no período entre 01/09/2014 e 31/05/2015).
4.6 Realização da coleta dos dados
As entrevistas foram aplicadas direta e presencialmente pela pesquisadora,
para três dos entrevistados, e obedeceram ao seguinte processo:
50
a) Contato telefônico para checagem da disponibilidade de resposta do
empreendedor, explicação dos objetivos da pesquisa e agendamento da
entrevista presencial.
b) Envio de e-mail contendo o objetivo geral da pesquisa e, em anexo, o
roteiro da entrevista e gerador de nomes (planilha em Excel).
c) Presencialmente, no início da entrevista, realizou-se a explicação dos
objetivos da pesquisa.
d) Entrega do roteiro impresso aos entrevistados.
e) Checagem, por parte da entrevistadora, da existência de impedimentos
sobre a gravação da entrevista.
f) Realização
da
entrevista
pela
pesquisadora,
com
anotações
e
preenchimento realizados em notebook e no roteiro impresso.
Para uma das empresárias entrevistadas foi impossibilitada a aplicação
presencial e a entrevista foi realizada via videoconferência, utilizando-se a
ferramenta Skype. Contudo, esta entrevista também seguiu o mesmo processo
exposto acima, como para os demais respondentes, sem prejuízo das respostas e
levantamento de informações.
A opção metodológica para coleta dos dados proposta foi construída
apresentando
características
da
técnica
name-generator,
em
entrevistas
semiestruturadas, onde é solicitado ao ego (o empreendedor entrevistado) que liste
os nomes de pessoas que fazem parte de sua rede (com critérios especificados pelo
pesquisador, por exemplo, quantidade e tempo, natureza dos recursos, tais como
informação, solidariedade, recursos financeiros, entre outros). Segundo Marin et al.
(2007) e Laumann (1999), o name-generator é aplicado por meio de entrevistas nas
quais os entrevistados recebem uma ou uma série de questões que os provocam
para gerar uma lista de pessoas (alter) que fazem parte da sua rede.
Rauf e Mitra (2011) afirmam que, se a um indivíduo for solicitado que liste
todas as pessoas com as quais se relaciona, esta lista constituirá sua rede pessoal,
ou ego-network. A coleta de dados para as redes pessoais foi realizada
entrevistando-se o ego sobre seus contatos (membros de sua rede). Os outros
membros da rede do ego são chamados de alter (McCarty, 2005). Para o autor, as
redes pessoais analisam aspectos da relação do ego (e seus desdobramentos) com
os membros da sua rede (alter).
51
Existem também pacotes para a coleta de dados de redes pessoais. O
software selecionado para esta etapa do trabalho foi o EgoNet, por ser considerado
o mais adequado para o mapeamento da ego-network, assim como sistematização
de criação de dados para a posterior visualização da rede. McCarty (2005) afirma
que o EgoNet combina dados fornecidos pelos respondentes e dados relativos à
composição da rede em um arquivo que pode ser exportado para outros softwares
geradores de gráficos e sociogramas.
Outra justificativa para a utilização do EgoNet dá-se pelo fato de o mesmo ter
sido projetado para pesquisadores que precisam coletar e analisar dados de redes
egocêntricas de vários entrevistados (McCARTY, 2005). Este é o caso do presente
trabalho, onde foram entrevistados quatro empreendedores.
As entrevistas foram realizadas pela própria pesquisadora, em junho de 2015,
com vistas a identificar como cada empreendedor usa seus laços para sustentar o
processo de criação da empresa.
4.7 Análise dos resultados
A análise dos resultados efetivou-se pela análise dos dados e do conteúdo
obtidos a partir das entrevistas norteadas pelo instrumento de coleta. O objetivo
primordial desta pesquisa encontra sentido nas respostas dos entrevistados, bem
como durante sua condução, e permite ao pesquisador inferir sobre os elementos da
comunicação, com base na objetividade e sistematização da análise de conteúdos
(BARDIN, 2002). Segundo o autor, na fase de análise do material os dados brutos
foram trabalhados e decodificados, ou seja, foi feita uma categorização dos
conteúdos de forma a facilitar a análise realizada.
Na análise dos dados, visando elevar a confiabilidade dos resultados (Castro
& Ladeira, 2010), aplicou-se também a triangulação de dados provenientes das
evidências geradas pelas entrevistas. Este cruzamento de informações contribuiu,
também, para salientar diferenças e similaridades relacionadas ao objeto empírico e
ao problema investigado (Eisenhardt, 1989).
Acredita-se que a utilização dos múltiplos métodos de coleta tenha
possibilitado a realização dos processos de triangulação ou verificação controlada
de informação, através da checagem cruzada de consistência e confiabilidade dos
dados (Vergara, 2005).
52
Para contribuir com a análise dos dados, foi utilizada a técnica de ARS, que
pode ser sociocêntrica ou pessoal (McCarty, 2005, 2007). Enquanto a análise
sociocêntrica destina foco sobre as interações dentro de um grupo, a análise de
redes pessoais – utilizada neste trabalho – foca os efeitos da rede sobre as atitudes
individuais, comportamentos e condicionantes.
A análise das redes sociais dos egos foi realizada considerando-se três
critérios, a saber:
a) A natureza das relações, agrupando-as em cinco tipos de redes, segundo
Schott e Cheraghi (2012):
i)
Rede privada ou pessoal;
ii) Rede de trabalho;
iii) Rede profissional;
iv) Rede de mercado;
v) Rede internacional.
b) A intensidade dos laços (Granovetter, 1973):
i) Laços fortes (adotados para esta pesquisa como aqueles cujos
contatos presenciais ou à distância eram, pelo menos, semanais ou
quinzenais);
ii) Laços fracos (aqueles cujos contatos eram esporádicos, sem
relacionamento presencial ou à distância, superior a quinze dias).
c) Os tipos de recursos fornecidos pelas redes dos egos:
i)
Informações sobre mercado;
ii) Informações sobre o ramo específico da empresa;
iii) Informações sobre como abrir uma empresa;
iv) Apoio para identificação do ponto;
v) Suporte financeiro;
vi) Apoio para selecionar mão de obra;
vii) Incentivo emocional para empreender;
viii) Indicação dos primeiros clientes;
53
ix) Outros (citados pelos entrevistados como alerta sobre os riscos de
empreender, equipamentos para a empresa, incentivo contrário entendido
como estímulo e suporte acadêmico).
Para analisar a natureza das relações dos entrevistados, baseou-se na
sustentação teórica proposta por Schott e Cheraghi (2012), que definem como cinco
os tipos de relacionamentos que compõem as redes sociais dos empreendedores.
Segundo os autores, os cinco agrupamentos seguem as seguintes descrições: (i)
redes privadas (ou pessoais), formadas por cônjuge, pais, outros familiares e
amigos; (ii) redes de trabalho, formadas por chefes, subordinados, colegas de
trabalho;
(iii)
redes
profissionais,
compostas
por
contadores,
consultores,
advogados, funcionários de bancos, pesquisadores; (iv) redes de mercado,
formadas por concorrentes, colaboradores, fornecedores, clientes e demais
parceiros; e (v) redes internacionais, que são aquelas compostas por relações de
aconselhamentos realizados por pessoas que estão ou que vieram do exterior
(Schott & Cheraghi, 2012).
A intensidade dos laços, pesquisada e analisada neste trabalho, distinguiu-se
seguindo o conceito de Granovetter (1973) para laços fortes e laços fracos. Os laços
fortes são, para o autor, aqueles que combinam quantidade de tempo, intensidade
emocional, frequência de convívio e reciprocidade, enquanto os fracos são menos
frequentes e menos intensos (Granovetter, 1973). Segundo o autor, os laços fracos
caracterizam-se, também, como os relacionamentos em que os indivíduos se
conhecem, não apresentando, contudo, a mesma frequência, intensidade, confiança
mútua e intimidade que são presentes nos laços fortes (Granovetter, 1973). Desta
forma, foram realizadas análises sobre a intensidade dos laços de cada ego e como
cada laço participou no fornecimento de recursos.
As redes sociais são fontes de recursos para os empreendedores, como
apresentado nas seções anteriores por diversos autores (Granovetter, 1973, 1985;
Rauf & Mitra, 2011; Vale, 2010). Neste sentido, foram mapeados quais recursos as
redes dos egos forneceram quando estes decidiram empreender.
Para efeito da análise das redes sociais dos empreendedores, o estudo se
concentrou nos laços que forneceram algum tipo de recurso quando os
entrevistados decidiram empreender. Desta forma, o número de alteri cuja análise se
aprofundou se dará somente com aqueles os quais foram citados pelo (a)
54
entrevistado (a) como fonte de algum recurso. A mesma lógica se aplica para os
grafos das redes sociais dos empreendedores.
4.7.1 Generalização teórica e analítica dos resultados
Para Pozzebon e Freitas (1998) uma das etapas mais difíceis da pesquisa
qualitativa é a análise dos dados. Acrescentam que, para muitos pesquisadores o
processo tornar-se-ia mais fácil e aceitável se o estudo fosse realizado por métodos
estatísticos. Entretanto, Pozzebon e Freitas (1998) concluem que as análises
estatísticas são pouco recomendáveis para estudos exploratórios e explanatórios,
nos quais busca-se conhecer melhor o contexto pesquisado.
No que se refere às possibilidades de generalização, em Yin (2002)
compreende-se que os estudos de casos possibilitam a generalização analítica, uma
vez que permitem construir, alargar ou desafiar teorias. Segundo Yin (2002) as
generalizações analíticas a partir de estudos de casos, refletem questões
problemáticas de interesse da pesquisa e, desta forma, sua análise possibilita
inferências lógicas (generalização analítica).
Para Welch (2011) a generalização dos resultados de estudos de caso
viabiliza-se envolvendo uma definição cuidadosa de escopo, explicações causais e
requer, ainda, compreensão das condições em que a pesquisa foi realizada.
Eisenhart (2009) afirma que a generalização em pesquisas qualitativas é
possível e importante. Exemplifica que resultados encontrados em pesquisas
etnográficas possibilitam a generalização teórica e analítica para contextos
semelhantes. Em se tratando de estudo de casos, segundo Eisenhart (2009), alguns
pesquisadores iniciam a investigação escolhendo o objeto de pesquisa por
conveniência ou acessibilidade. Desta forma, são exploradas as condições iniciais,
estreitado o foco e descritos os resultados iniciais. Posteriormente, verificam-se se
os resultados são relevantes para aquela amostra escolhida.
Pode-se compreender, portanto, que também para Eisenhart (2009), a
generalização dos resultados da pesquisa qualitativa é plausível. Ademais, os
resultados encontrados podem, em contextos diversos, ser extrapolados analítica e
teoricamente, para situações e contextos similares.
55
Na sequência, apresentam-se os resultados da pesquisa, demonstrando-se as
possíveis comparações com os proprietários de empresas premiadas que utilizaram suas
redes pessoais para a criação de seus empreendimentos.
5 CASOS ESTUDADOS E ANÁLISES PRELIMINARES
Este capítulo dedica-se à apresentação dos dados e informações coletados
junto aos dois grupos participantes do estudo. Salienta-se que a pesquisa permitiu
não só examinar as diferentes percepções dos entrevistados em relação ao tema
proposto, mas também explorar como os fatos são articulados, confrontados e
alterados.
É importante destacar que, embora todos os entrevistados estivessem
centrados no tema, cada um focalizou uma perspectiva acerca da temática,
buscando com isso o enriquecimento do estudo. Para tanto, foram utilizadas
técnicas apropriadas em cada encontro e questões norteadoras para os debates,
que fizeram parte da pesquisa.
A apresentação de cada caso está organizada, primeiramente, com a
descrição do histórico empreendedor do indivíduo pesquisado e a caracterização de
sua empresa. A partir desta contextualização, descrevem-se (i) os recursos
fornecidos pelas redes sociais dos empreendedores para a criação da empresa; (ii)
as motivações para empreender; e (iii) a questão de gênero para o (a)
empreendedor (a).
5.1 Caso 1: Vladimir Gomes Mourão – Caça Talentos Consultoria e
Treinamento Empresarial
Em 2012 e 2008, o empresário Vladimir Mourão foi vendedor do “Prêmio MPE
Brasil”, Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial Ltda. A empresa é a
segunda experiência formal de empreendedorismo do empreendedor.
A empresa, criada em março de 1999, tem como objetivo principal despertar a
visão empreendedora em seus alunos. Possui um laboratório de aprendizado
contábil e administrativo, aliando a teoria à prática destas atividades. Além dos
serviços prestados aos clientes, a Caça Talentos oferece eventos gratuitos de
treinamento em técnicas de oratória, memorização, artes cênicas, gestão
56
empresarial, marketing pessoal, preparação de currículos e outros temas ligados ao
empreendedorismo. Promove, também, outras ações sociais, como arrecadação de
alimentos para doação a pessoas necessitadas.
A história de empreendedorismo de Vladimir, proprietário da empresa,
começa quando ainda era criança em Governador Valadares, cidade da região Leste
de Minas Gerais. Filho de uma empreendedora informal (vendedora de roupas
autônoma) e de um professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC) regional, com outros quatro irmãos, o Vladimir da Caça Talentos
encontrava-se, na maior parte do tempo, sem dinheiro suficiente para comprar
merenda escolar. Como a família vivia com dificuldades financeiras, para resolver a
questão, Vladimir, com sete anos de idade, começou a colher mangas “coco” da
mangueira do quintal de sua casa e vendê-las nas ruas de Governador Valadares.
Além das mangas do quintal de casa, o Vladimir da Caça Talentos vendia
bolas de gude e figuras da seleção brasileira de futebol. Segundo ele, era bom na
competição e negociava com os alunos que, na maioria, eram filhos de fazendeiros
e podiam pagar por aqueles produtos.
O empresário cita, com objetividade, estas experiências empreendedoras que
viveu na infância. Para ele, a necessidade de solucionar as questões financeiras
logo cedo torna a sua história empreendedora um pouco diferente de outras, e dos
pontos abordados por esta pesquisa.
O Vladimir da Caça Talentos e sua família viveram em Governador Valadares
até seus nove anos de idade, quando se mudaram para a periferia de Belo
Horizonte. Para o empresário, foi marcante a mudança de realidade. Enquanto no
interior do estado convivia com filhos de fazendeiros, na capital seus amigos eram
de baixa renda. Ali passou a brincar soltando papagaio e jogando bola e aprendeu a
ter liberdade de andar na rua, sozinho.
Segundo o empreendedor, a sua realidade era “ver de perto pessoas carentes
e necessitadas”. Naquela época, sua mãe vendia roupas para os funcionários de
uma fábrica de plástico da cidade e ele a acompanhava. Era ele o responsável pelo
recebimento dos pagamentos dos clientes toda sexta-feira, além de acompanhar a
mãe aos fornecedores dos produtos.
Quando a família de Vladimir se mudou para uma casa financiada pelo pai,
onde ele e os irmãos aprenderam a plantar frutas, legumes e criar pequenos
animais, conheceram muitas outras crianças.
57
Naquela época que, segundo Vladimir, sua rede social privada (Schott &
Cheraghi, 2012) começou a ser ampliada, implementou a sua terceira iniciativa
empreendedora. Após ser aprovado para o Colégio Tiradentes (colégio de regime
militar de Belo Horizonte), onde estudou até a conclusão do ensino médio, ele
ministrou aulas particulares de matemática para colegas daquela escola e de outras.
Com o dinheiro gerado pelas aulas, o empreendedor ajudava nas despesas da casa
e da família, também comprando doces e merenda escolar para os irmãos menores.
A quarta oportunidade de aumentar a renda foi identificada pelo Vladimir ao
entrar na faculdade de Ciências Contábeis e perceber (ainda partindo da experiência
de acompanhar sua mãe) mercado para anéis e colares de prata. Assim, comprava
da fábrica de produtos de prata que havia aberto perto da sua casa e revendia na
sala de aula. Para o empreendedor, esse período lhe rendeu um bom lucro, o que
contribuiu para pagar o primeiro ano da faculdade, conjuntamente à ajuda recebida
de sua mãe e às aulas particulares que voltou a ministrar para colegas de sala.
Naquele momento, dois membros de sua rede privada (sequencialmente),
sendo um laço forte e outro laço fraco, influenciaram o empreendedor da Caça
Talentos a se candidatar a postos de trabalho cujos salários seriam maiores do que
a renda gerada pelas atividades empreendedoras. Schott (2012) define redes
privadas como aquelas formadas por esposo, parentes, amigos. Encontra-se em
Granovetter (1973) a definição de laços fortes, que são aqueles cuja intensidade e
frequência dos contatos são altas, e laços fracos, em que a intensidade é esporádica
ou pouco frequente.
Durante o período de faculdade Vladimir trabalhou em várias empresas e teve
outras atividades empreendedoras informais para complemento de renda, por
exemplo, ovos de páscoa que fabricava e vendia para sua rede de relacionamentos.
Vladimir foi também influenciado por seu pai na formação do seu perfil
empreendedor. No período de sua graduação acompanhou o pai, que participava de
um curso de psicologia transcendental (Movimento Gnóstico 3 ). Por meio deste
grupo, que ele também passou a frequentar, aprendeu atividades relacionadas à
tesouraria, abertura de empresas, contabilidade prática de gastos. Para ele, naquele
3
O Movimento Gnóstico Cristão Universal (ou simplesmente Movimento Gnóstico) é o nome de uma
escola fundada por Samael Aun Weor na qual se estudava a doutrina gnóstica, para divulgar suas ideias
em benefício da humanidade. Esta escola foi organizada e transformada por Joaquin Enrique Amortegui
Valbuena, também conhecido como Rabolu, de acordo com as ordens manifestadas em documentos pelo
fundador desta instituição. Em 2000, o Rabolú veio a falecer. Um pouco antes de falecer
ele desinstitucionalizou o Movimento Gnóstico, por falta de praticidade de seus membros.
58
grupo aprendeu a “ter uma mente correta”. Acrescenta que o objetivo daqueles
ensinamentos é libertar a consciência com uma atitude correta e ética.
Vladimir participou do grupo gnóstico até os 28 anos de idade e, para ele,
esta foi a principal influência para se tornar empreendedor. Integrado à prática que
adquiriu no referido grupo, o empreendedor utilizou da experiência de quando
ministrava aulas particulares. Para o empresário, em suas aulas ele contribuía com
os alunos, também os orientando sobre empregabilidade, currículos, posturas e
capacitação.
Ressalta-se, ainda, que a vontade de empreender de Vladimir surgiu
conjuntamente à vontade de se tornar mais útil para um público que necessitava de
capacitação para aumentar sua possibilidade de emprego. Naquele momento,
começou a vislumbrar o que, posteriormente, seria a criação da empresa que hoje é
denominada Caça Talentos Consultoria e Treinamento Empresarial Ltda.
No primeiro ano de atividade, a empresa Contabilidade dos Empreendedores
possuía um funcionário e hoje conta com cinco.
A Caça Talentos também começou com um e hoje conta com 12, entre
funcionários e profissionais terceirizados.
A primeira experiência do entrevistado como empreendedor formalizado foi
como sócio de um escritório de contabilidade de um amigo do seu pai. Esta
sociedade foi formada por um laço fraco (Granovetter, 1973). Um laço forte do
empreendedor, o seu pai, possibilitou o início da sociedade. A sociedade começou
em
1995
(um
ano
após
a
fundação
da
empresa
Contabilidade
dos
Empreendedores), com 30% de ações do escritório, passando para 50%
posteriormente.
Os dados provenientes da pesquisa demonstram que Vladimir:
[...] e o sócio conquistaram clientes importantes e venceram algumas
licitações. Em 2002 o primeiro sócio vendeu sua parte na empresa para
uma mulher, mudando-se para São Paulo/SP. A parceria com a nova sócia,
que completa 13 anos, construiu uma carteira de clientes, o que foi possível
pela implementação da organização das atribuições na empresa por sócio.
Torna-se importante ressaltar que a Caça Talentos foi criada em 1999 pelo
empreendedor, em sociedade com uma irmã. Constatou-se que a motivação foi a
identificação da lacuna de oferta dos serviços que a empresa viria a oferecer.
59
5.1.1 Recursos para a criação da empresa
Foi pertinente também avaliar os recursos faltantes para a criação da
empresa. Neste item, verificou-se que para o empreendedor não houve dificuldades
em encontrar os recursos necessários para a abertura da empresa. Outro ponto
destacado foram os recursos disponíveis e acessados na rede pessoal do
empreendedor para a criação da empresa. Nota-se que a experiência profissional do
empresário, anterior à primeira experiência empreendedora formal, lhe gerou
segurança.
Enfatiza-se que alguns membros de sua rede privada (Schott, 2012) lhe
forneceram incentivo, mesmo que em forma de inspiração, no momento da criação
da empresa. Um laço fraco do empreendedor,
colega do seu pai e de reputação reconhecida no meio dos contadores, lhe
forneceu orientações para a sua atuação como profissional no início da
carreira, o que, para o entrevistado, foi importante quando decidiu
empreender na área.
Os dados coletados permitem abstrair que o recurso financeiro necessário
para a primeira sociedade, o empresário “havia poupado ao longo dos anos
anteriores; [...] e também dominava informações sobre abertura de empresas devido
à sua área de atuação”, relata Vladimir.
Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que o mercado de
atuação, tanto da Contabilidade dos Empreendedores quanto da Caça Talentos, foi
sendo pesquisado pelo próprio empresário.
A partir desses relatos, pode-se inferir que cinco membros da sua rede
pessoal, sendo um laço forte (Granovetter, 1973) da rede privada (Schott &
Cheraghi, 2010), forneceram informações sobre o mercado e sobre o ramo de
atuação da primeira empresa (Contabilidade dos Empreendedores).
Deve-se salientar que este resultado é compatível com a teoria de Schott
(2012), que menciona que as redes dos empreendedores são organizadas em cinco
agrupamentos de relacionamentos, que são as redes privadas (ou pessoais), redes
de trabalho, de mercado, profissionais e as redes internacionais.
60
É fundamental registrar que para informações sobre a abertura de empresa,
além da experiência que o entrevistado já possuía, ele contou com fontes da rede
privada e da rede profissional (Schott & Cheraghi, 2010), sendo dois laços fortes e
dois laços fracos, como reforça Granovetter (1973).
Foi pertinente também observar que houve incentivo contrário ao início da
atividade empreendedora por parte de dois laços fortes da rede privada – os pais do
empreendedor. Para Vladimir, “isso se deu em função do receio ao risco que o filho
estava por assumir”.
Os dados coletados permitiram identificar que “parte da rede social forneceu
incentivos para a criação da empresa, sendo a maioria laços fortes (cinco) e dois
laços fracos”. Especificando-se estes recursos, listam-se: informações sobre
mercado (1); informações sobre o ramo (2); suporte financeiro (3); apoio para
selecionar mão de obra (4); e indicação dos primeiros clientes, independentemente
do sexo (5). O empreendedor afirma que esses recursos são mais situacionais do
que relacionados ao gênero da fonte.
Conforme pode ser comprovado, o entrevistado ressaltou a importância do
gênero feminino para fornecer informações sobre como abrir uma empresa:
As mulheres têm parecido mais organizadas e competentes; [...] a mulher
ainda é mais calculista e detalhada no planejamento do que o homem, o
que favorece as informações sobre como abrir a empresa.
No aspecto relacionado ao apoio para identificação do ponto do negócio,
Vladimir sugere que “as mulheres são mais ousadas do que os homens, arriscando
mais; [...] as mulheres também são melhores no apoio emocional (incentivo para a
criação da empresa)”.
5.1.2 Motivações para empreender
Com relação à motivação para empreender, segundo Greence, Hart
Gargewood, Brush e Carter (2003) homens e mulheres têm interesses distintos. O
empreendedor Vladimir, além dos fatores apresentados no roteiro de entrevista,
apresentou a “responsabilidade social” como uma das principais motivações para
empreender.
61
Desta forma, foi pertinente observar o “peso dos fatores para a criação da
empresa”, para os quais Vladimir apresenta a ordem de importância, a saber:
i) Ter mais tempo livre com a família;
ii) Responsabilidade social;
iii) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais;
iv) Realização profissional.
Ressalta-se que o aumento da renda não foi não considerado fator importante
para o empreendedor.
5.1.3 A questão de gênero para o empreendedor
A avaliação dos fatores relativos à diferença entre os gêneros no
empreendedorismo foi diversificada, levando-se em consideração questões que
abordavam os seguintes aspectos: influência para empreender, desempenho por
gênero, preferências por gênero na admissão e gestão de funcionários, preferências
por gênero para aconselhamento profissional e consultorias, empreendedorismo na
família e as influências da rede pessoal do empreendedor na inspiração e decisão
de empreender.
Quanto à influência para empreender, o relato do entrevistado permite
evidenciar que “há diferença entre os gêneros na forma de se influenciarem por
outras pessoas no momento da decisão de empreender; [...] mulheres são mais
influenciadas do que homens para as questões relacionadas à criação da empresa”,
afirma Vladimir.
Durante o discurso, foi explicitado por Vladimir que “suas atuais sócias, assim
como outras empreendedoras de seu relacionamento e clientes mulheres, são
quase todas influenciadas pelos maridos”.
Deve-se salientar que esse resultado é compatível com as teorias de Vale e
Serafim (2010), que mencionam que mulheres parecem mais sensíveis do que os
homens à influência de terceiros quanto à decisão de criar uma empresa.
As reflexões são pertinentes sobre o desempenho por gênero, traduzindo
muito bem que o desempenho de mulheres e homens é semelhante. Entretanto, o
entrevistado pondera que:
62
para algumas atividades o desempenho pode ser diferente. Como exemplo
destas atividades listam-se as áreas mais humanas da gestão,
relacionamentos, áreas de vendas de roupas femininas, salões de beleza.
Exemplifica, ainda, as áreas exatas como áreas em que os homens
apresentam melhor desempenho (engenharias, TI) e direito.
Também foi lembrada pelo entrevistado a preferência para consultores e
orientação profissional que:
depende da área de conhecimento. Para áreas de conhecimento exatas,
como assessoria em Tecnologia da Informação (TI) e finanças, homens
parecem ser melhores. Já as mulheres são melhores do que os homens na
área do marketing.
Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que as mulheres vêm se
sobressaindo em profissões e atividades, conforme relato de entrevista:
As mulheres se sobressaem, quando comparadas aos homens, em
profissões e atividades que demandam mais o lado emocional, como
paisagismo e arquitetura, por exemplo; [...] em atividades mais racionais e
intelectuais os homens levam vantagem.
Os dados coletados permitiram identificar que Vladimir “não tem preferência
entre funcionários homens ou mulheres; é indiferente”. Ao se discutir na entrevista
sobre esta questão, ele mostrou posição distinta ao afirmar que “para ele os homens
são mais fáceis de administrar”.
A preferência por gênero para aconselhamento profissional e consultorias é
um item que é reforçado nos resultados. Observou-se que:
quando se relaciona a consultorias e aconselhamentos profissionais, as
mulheres são melhores do que os homens em questões de marketing, de
relacionamento, como Recursos Humanos (RH), por exemplo. Os homens
se destacam nas áreas exatas, como também exemplifica: TI, engenharias
e finanças.
Visando compreender os aspectos referentes ao empreendedorismo em
família, percebeu-se uma linha diversificada na visão do entrevistado quanto ao
perfil da família que busca sempre diversificar a atividade empreendedora. Isso se
comprova no seguinte relato:
63
Além da mãe, que era empreendedora, um irmão e uma irmã do
entrevistado também exercem atividade empreendedora. Ambos os irmãos
começaram após o entrevistado. Um primo empreendeu em uma empresa
no segmento de lava a jato, e hoje possui uma pizzaria.
Foi pertinente perceber, no decorrer da entrevista, como o apoio da mãe
(incluindo o apoio financeiro) do entrevistado contribuiu para sua formação
acadêmica e para iniciar sua percepção sobre as atividades empreendedoras.
Ressalta-se, ainda, a importância que o entrevistado dá ao Movimento
Gnóstico na criação da empresa. Para Vladimir, “foi no momento em que comecei a
trabalhar como contador voluntário no Movimento Gnóstico que despertei
efetivamente para a criação do meu próprio escritório”.
Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista foi no que se refere às
inspirações. O entrevistado destacou que “apesar de ter inspirações para se tornar
um empresário, o seu interesse foi despertado ainda criança e apurado ao longo das
diversas experiências que teve como empreendedor informal ao longo da vida”.
Conforme pode ser comprovado, o empreendedor Vladimir ressalta a
importância da sua rede pessoal na inspiração e decisão de empreender. “Naquela
época ela vendia roupas para os funcionários de uma fábrica de plástico da cidade e
o entrevistado a acompanhava. Era ele o responsável pelo recebimento dos
pagamentos dos clientes toda sexta-feira”.
5.2 Caso 2: Anderson de Souza Martins – Bacana Bolsas
Em 2013, o empreendedor Anderson de Souza Martins, venceu o Prêmio MPE
Brasil, em Minas Gerais, pela Casa Bacana Presentes, do setor de comércio,
sediada em Varginha-MG. Fundada em 2003, esta foi a primeira empresa do
empresário, seguida de outras duas unidades, sequencialmente criadas em 2004 e
2007, sendo todas no mesmo ramo de atividade. Hoje, estão em operação duas
delas, sendo uma a matriz e a outra filial.
Ao longo do tempo, o foco da empresa (matriz e filiais) foi se concentrando até
que o seu produto principal se focasse em bolsas e malas, assumindo, hoje, o nome
fantasia de Bacana Bolsas. Desde a criação da empresa o empreendedor tem como
sócia a sua esposa. No início das atividades a empresa contava com uma
funcionária somente, e hoje conta com quatro funcionárias que trabalham nas duas
64
lojas, sendo uma gerenciada por Anderson e a outra pela sócia (esposa). Desde o
momento da criação até os dias atuais o mercado de alcance é Varginha-MG e
municípios do seu entorno.
O entrevistado destacou alguns membros de sua rede profissional como sendo
os que mais influenciaram seu interesse e decisão de criar a empresa. Esses laços,
(parte da rede profissional do entrevistado) foram todos caracterizados como fortes,
apresentando vínculo emocional e contato frequente com o empreendedor.
Esses mesmos laços forneceram ao empreendedor Anderson recursos como
incentivo (apoio emocional para a criação da empresa), informações sobre mercado,
informações sobre o ramo de atuação (comércio), informações sobre como abrir a
empresa, apoio para identificação do ponto e de mão de obra.
Apesar de esta ser a primeira experiência empreendedora, o empresário
começou a trabalhar antes dos 15 anos, como vendedor de picolés, engraxate de
sapatos e lavador de peças de carro, em Varginha-MG. Antes de se formar como
Técnico em Contabilidade, foi contratado aos 15 anos pela empresa Casas
Pernambucanas, iniciando sua vida profissional no setor de embalagens de pacotes
e serviços gerais. Após um ano trabalhando naqueles setores, o empresário foi
promovido para trabalhar no escritório da empresa, período em que fazia o curso de
Técnico em Contabilidade. Após três anos de contrato, participou de concurso
interno e foi promovido para o cargo de Auditor Interno, onde ficou durante quatro
anos.
Naquele período, Anderson ainda não pensava em se tornar empreendedor.
Segundo ele, sua aspiração era crescer na empresa onde, após os quatro anos
como Auditor Interno, assumiu o cargo de Gerente de Compras, sendo transferido
para a cidade do Rio de Janeiro. Com sua transferência para o Rio de Janeiro,
conheceu a esposa e se casaram.
A história do empreendedor Anderson está inter-relacionada com a história da
empresa “Casas Pernambucanas”, matriz Rio de Janeiro. Após atuar quatro anos
como Gerente de Compras, a “Casas Pernambucanas - matriz Rio de Janeiro” veio
à falência e a matriz São Paulo (sendo esta a que hoje sedia a unidade de VarginhaMG) sobreviveu. Naquela fase, Anderson atuou como consultor da massa falida até
o momento em que se mudou para Varginha-MG e criou a sua própria empresa.
Segundo o empreendedor, sua experiência com a falência da grande empresa na
65
qual trabalhou por muitos anos forneceu-lhe subsídios importantes sobre a gestão
de um negócio.
Os cinco anos em que atuou como consultor da massa falida (totalizando 10
anos como funcionário das “Casas Pernambucanas), segundo o entrevistado, foram
importantes para a decisão de criar a própria empresa. Seu gerente imediato
deixava evidente que aquele era um processo do qual os consultores sairiam aos
poucos, na medida em que o trabalho para a massa falida fosse sendo finalizado.
Naquele período, concluindo sua parte no trabalho, conversou e convenceu a
esposa, que também estava desempregada, da sua vontade de empreender na
cidade natal (Varginha-MG) como alternativa de geração de renda, visto que
também estavam com um filho pequeno. Em fevereiro de 2002, após o incentivo
vindo do alter B2, que era o responsável pela massa falida das “Casas
Pernambucanas”, o empreendedor Anderson retornou para Varginha com a família e
fundou a “Casa Bacana Presentes”.
No momento da criação da empresa, sua rede social era formada na maior
parte por colegas de trabalho e de faculdade, sendo que alguns membros da sua
rede profissional foram a principal fonte de recursos para a criação da empresa. O
empreendedor ressalta que a maior parte dos gerentes contemporâneos das “Casas
Pernambucanas” havia montado empresas semelhantes. Este fato contribuiu para
que esses laços fornecessem, sobretudo, recursos diversos para a criação da Casa
Bacana Presentes, sobretudo informações sobre mercados.
A prosperidade dos negócios de diversos colegas de trabalho motivou
Anderson a abrir a sua própria empresa. Outros membros da sua rede profissional o
incentivavam explicitamente.
O incentivo partindo principalmente da rede profissional e parte da rede privada
(esta composta totalmente por laços fortes) se dividiu em incentivo emocional
positivo e estímulos negativos que foram alertas sobre os riscos de empreender.
Neste sentido, destaca-se um dos membros da rede pessoal do empreendedor (laço
forte), que forneceu incentivo contrário, focando sua percepção nos riscos do novo
negócio. A mãe incentivou positivamente e a ela o proprietário da “Casa Bacana
Presentes” atribui o seu perfil empreendedor. Sua esposa também apresentou
incentivo positivo assim que o empreendedor a convenceu de sua ideia de abrir a
empresa na cidade natal. Para o empresário, as mulheres são melhores do que os
homens para apoio emocional.
66
5.2.1 Recursos para a criação da empresa
Pode-se perceber que no momento da criação da empresa o entrevistado
sentiu falta de alguns recursos, assim como de fontes seguras para buscá-los. Um
deles foi o passo a passo de “como fazer”. Além de informações detalhadas de
como abrir a empresa, o empreendedor relatou que:
gostaria de ter tido acesso a fontes de informações sobre alternativas de
onde comprar mercadorias, equipamentos para a montagem da loja (como
prateleiras e expositores), como desenvolver a logomarca da empresa,
dentre outras.
Os recursos acima descritos foram buscados em fontes diversas, sobretudo
na Internet. Entretanto, para o entrevistado a busca não obteve os resultados
esperados. Segundo ele,
os principais sites pesquisados foram o do SEBRAE-RJ e outros sites de
possíveis fornecedores em Belo Horizonte e São Paulo. Além da Internet,
para identificar fornecedores também realizou algumas viagens. O
empreendedor considerou difícil o acesso a fontes destes tipos de recursos
para a abertura da empresa.
Salienta-se que não houve interesse em buscar recursos de terceiros para a
criação da empresa. Desta forma, o empreendedor não pensou em possíveis fontes.
Contudo, no início das atividades acessou crédito bancário para capital de giro.
A análise dos dados da pesquisa indica não haver dificuldades na aquisição
de recursos disponíveis e acesso na rede pessoal do empreendedor para a criação
da empresa.
Diversos
autores
afirmam
que
redes
de
relacionamentos
dos
empreendedores são fontes de recursos para seus empreendimentos. Vale e
Guimarães (2010) consideram que as redes sociais fornecem recursos para a
sobrevivência e para a criação de empresas, sendo os laços fracos (mais do que os
fortes) os mais utilizados para a abertura do negócio.
Quanto aos aspectos referentes à rede de relacionamentos, o entrevistado
destacou um laço forte como fornecedor de recursos da natureza dos descritos
acima. Em algumas das suas pesquisas de campo realizadas em Varginha-MG
(sede da empresa), o empreendedor acessou um dos membros de sua rede de
67
trabalho, B46, laço forte. Este alter foi uma das fontes de informações (mercado e
como abrir empresa) mais importantes para o entrevistado. Além deste tipo de
recurso, este laço forneceu um dos incentivos mais fortes para a criação da
empresa, segundo Anderson, o apoio emocional.
Quando o entrevistado retornou à Varginha buscando informações para a
abertura da sua empresa, aquele membro de sua rede de trabalho (B46) já havia se
tornado empreendedor e lhe forneceu algumas das informações das quais
necessitava. Complementando os recursos anteriores fornecidos por este laço do
empreendedor, encontram-se apoio para planejar o dimensionamento das vendas e,
segundo
Anderson,
“principalmente,
informações
sobre
fornecedores
de
mercadorias e equipamentos que são pontos críticos para começar um negócio”.
Quase a totalidade da rede privada do entrevistado é composta por laços
fortes, fornecendo diferentes recursos para a criação da empresa. A sua rede
privada é composta por 14 membros. Deles 13 são caracterizados como laços fortes
e 1 como fraco, como explicitado em Granovetter (1973).
Sua esposa forneceu, segundo Anderson, todos os recursos descritos no
roteiro de pesquisa:
[...] informações sobre mercado, informações sobre o ramo de atuação,
informações sobre como abrir a empresa, apoio para identificar o ponto,
suporte financeiro, apoio para identificar mão de obra, incentivo emocional e
indicação dos primeiros clientes.
A mãe, irmãos e um parente, laços fortes, como define Granovetter (1973),
“forneceram incentivo para a criação da empresa (apoio emocional). O pai e a sogra,
também laços fortes, foram contrários à criação da empresa”.
Dos amigos caracterizados como laços fortes, quatro forneceram
informações sobre mercado e sobre como abrir a empresa; dois forneceram
informações sobre o ramo (comércio); um deu informação sobre o ponto
para abrir a empresa; três forneceram apoio para identificar e selecionar
mão de obra; quatro incentivaram emocionalmente para a criação da
empresa e indicaram os primeiros clientes.
Schott (2007) menciona que a rede de trabalho de um empreendedor é
formada por colegas de trabalho, gerentes, funcionários. A rede de trabalho do
entrevistado era composta por 14 membros. Além de 8 indivíduos que possuem
somente o atributo de colega de trabalho, a rede social apresenta outros 6
68
indivíduos que, além deste atributo, possuem o atributo de amigos, fazendo também
parte da rede privada do empreendedor.
Os resultados indicam que parte da rede social do empreendedor Anderson
também se apresentou como fonte de recursos para a decisão de empreender.
Diante do exposto, será analisada na seção a seguir a rede social formada somente
pelos membros que forneceram algum tipo de recurso ao empreendedor.
5.2.2 Motivações para empreender
Quanto às motivações para empreender, considerando também para este
empreendedor as afirmações de Greence, Hart, Gatgewood, Brush e Carter (2003)
de que homens e mulheres têm interesses distintos para empreender, buscou-se
verificar quais variáveis pesavam mais e quais eram menos importantes para a
decisão empreendedora.
Para o empreendedor Anderson, o “peso dos fatores para a criação da
empresa” apresenta-se na seguinte ordem:
i)
Ter mais tempo com a família;
ii) Realização profissional;
iii) Aumento da renda;
iv) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais.
Falta de oportunidade de trabalho não foi uma opção considerada pelo
empreendedor.
5.2.3 A questão de gênero para o empreendedor
Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista foi a percepção dos
entrevistados sobre quem sofria mais influência para empreender, os homens ou as
mulheres. Para Anderson, há diferença por gênero. Segundo o empreendedor,
“mulheres e homens são influenciados de forma diferente por outras pessoas nas
suas decisões, sendo as mulheres mais vulneráveis às influências de outras
pessoas para a criação de uma empresa”.
69
No decorrer da entrevista, constatou-se que a escolha do ramo de negócio se
deu por meio de observações de mercado e da tendência que o próprio
empreendedor vislumbrou, que eram as lojas de presentes e utilidades de preço
único. Desta forma, ele não considera que foi influenciado a atuar no ramo em que
fundou a empresa.
A partir de dados coletados para esta pesquisa e aqui analisados, percebeuse a importância do desempenho por gênero. Nesta questão, o entrevistado
destacou:
O desempenho operacional de homens e mulheres empreendedores é
diferente. Enquanto homens são mais focados, mulheres são mais
dispersas. [...] as duas situações são, ao mesmo tempo, benéficas e
prejudiciais. Benéficas porque as mulheres conseguem visualizar “o todo”
mais do que os homens, por exemplo, em caso de feiras de negócios.
Prejudiciais porque pode haver dispersão do sexo feminino, impedindo que
se cumpra o planejado no tempo estabelecido.
Quanto ao desempenho geral nos negócios, o entrevistado considera que
“homens e mulheres têm as mesmas condições e resultados, ou seja, o
desempenho de uma mulher empreendedora é igual ao de um homem
empreendedor. O gênero é indiferente”.
Registrou-se, a partir das respostas, a preocupação do entrevistado com as
preferências por gênero na admissão e gestão de funcionários.
Dá-se relevo ao fato da preferência do entrevistado por funcionários do sexo
feminino, uma vez que Anderson considera que é mais fácil administrar mulheres.
Esta afirmação se confirma no fato de o seu quadro funcional ser composto somente
por mulheres.
Enfatiza-se também a importância das preferências por gênero para
aconselhamento profissional e consultorias. De um lado, Anderson
afirmou ser indiferente. Por outro lado, afirmou que as mulheres escutam
mais, ao passo que os homens são mais competitivos, buscando mostrar o
que gostariam de fazer. Por escutarem mais, para o empresário as
mulheres têm mais habilidade para a consultoria. Da mesma forma se dá
com o aconselhamento profissional.
Outro ponto importante ressaltado durante a entrevista diz respeito ao
empreendedorismo na família. Constatou-se que há histórico de empreendedorismo
na família do entrevistado.
Os dois avôs (paterno e materno) e o pai foram proprietários de pequenas
mercearias. Contudo, segundo o entrevistado, apesar destes membros da
70
sua rede pessoal, cujos laços são fortes, serem empreendedores, o que
mais lhe despertou interesse para o empreendedorismo foram sua
experiência e os relacionamentos após começar a trabalhar nas Casas
Pernambucanas.
A partir de dados coletados para esta pesquisa e aqui analisados, percebeuse que apesar de membros da sua rede pessoal terem fornecido apoio emocional
para a criação da empresa, o entrevistado:
atribui a principal influência às experiências que teve durante o período em
que
trabalhou
nas
Casas
Pernambucanas,
impelindo-o
ao
empreendedorismo no momento em que se viu fora da empresa.
Com relação à inspiração para empreender, averiguou-se que surgiu após o
empreendedor:
[...] ter tido experiência como funcionário nas Casas Pernambucanas,
apresentando sua rede social mais ampla e diversificada. Para ele, mesmo
a sua empresa sendo de pequeno porte, sua inspiração foi a grande
empresa na qual trabalhou por aproximadamente 10 anos.
Na análise das respostas identificou-se que o empreendedor “sofreu as
influências da rede pessoal na inspiração e decisão de empreender para criar a
empresa”.
5.3 Caso 3: Ágatha Lefosse Junqueira – Originalle Presentes e Decorações
A empreendedora Ágatha, proprietária da Originalle Presentes e Decorações,
foi vencedora do Prêmio MPE Brasil em 2014. Criada em Julho de 2009, esta foi a
primeira empresa da empresária, que nasceu em uma família de empreendedores.
Ágatha Lefosse Junqueira é graduada em Design de Interiores, com especializações
em “Visual Merchandising” e “Vitrinismo”.
A empresa atua no setor de comércio de São Lourenço/MG, atualmente no
segmento de fun design (expressão em inglês que literalmente significa "estilo
engraçado ou divertido). O fun design é um estilo que está sendo adotado cada dia
mais na área de design de produto, moda, decoração além de estilização de
ambientes. Direcionada a este segmento, a Originalle é uma loja multimarcas de
presentes, que conta com produtos exclusivos na cidade e na região de São
Lourenço/MG.
71
A empresa iniciou suas atividades com uma funcionária e nos meses
seguintes passaram a ser dois. No momento atual, conta com sete colaboradores,
sendo três na matriz e quatro na filial. Como São Lourenço/MG é uma cidade
turística, o foco se divide em turistas (loja matriz) e mercado local e regional
(segunda loja).
A Originalle começou suas atividades já como associada a duas entidades de
classe, sendo elas Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associação Comercial e
Industrial de São Lourenço, além do Sindicato dos Empregados. A empresária
Ágatha é diretora da CDL e, além das entidades de classe das quais já participava, a
empresa se associou posteriormente ao Sindcomércio. A Originalle foi criada sem
sociedade, contando com algumas parcerias descritas a seguir.
A história de empreendedorismo da empresária tem início com o histórico de
empreendedorismo do seu pai, que aos 18 anos começou a fazer perfumes para
vender na porta de faculdades em São Paulo/SP. Recém-chegado da Argentina,
saído do militarismo daquele país à época, vendeu alguns pertences para comprar
as primeiras matérias primas (essências de perfumes) e começar a vida
empreendedora da família que se formaria logo a seguir. Durante a sua atividade
empreendedora conheceu sua esposa e, juntos, começaram a fazer artesanato e
gerar renda para seu sustento e dos filhos que viriam.
Para Ágatha, sua família foi criada com a “essência do empreendedorismo,
saindo de uma vida de não ter nada e conquistando muitas coisas”.
Em 1985 a família se mudou de São Paulo/SP para São Lourenço/MG, onde
inicialmente começou a vender seus produtos numa pequena feira, em uma rua
ainda de terra. Tendo aquele mercado e o local atraído os empreendedores,
decidiram se instalar na cidade. Montaram uma pequena loja nos fundos de uma
galeria, foram aumentando o espaço e hoje estão instalados em uma loja que possui
quatro portas (uma ao lado da outra), o que para a cidade é considerado um
empreendimento grande. Atualmente, os empreendedores que iniciaram sua
trajetória fabricando sua própria mercadoria não produzem mais o que vendem. O
setor se mantém o mesmo (comércio), com foco em presentes, sobretudo orientais.
Neste contexto, Ágatha cresceu e foi moldando suas características
empreendedoras. A partir dos 13 anos de idade, começou a participar ativamente
das decisões da empresa dos pais. Sua opinião era consultada sobre alterações de
embalagens, logomarca, exposição e outras questões do dia a dia do negócio.
72
Segundo Ágatha, mesmo com a pouca idade, lhe agradava a inteiração com seus
pais para discutir sobre coisas da empresa.
Aos 18 anos foi para o Rio de Janeiro/RJ para fazer faculdade (Design de
Interiores), com o auxílio financeiro de seus pais. Não se sentindo confortável com
os pais financiando totalmente os custos dos seus estudos e considerando sua
experiência em lojas, procurou emprego.
Segundo Ágatha, foi o segundo momento de grande influência para a sua
decisão de criar sua própria empresa. Para ela, o fato de ter também a visão “do
olho do dono” contribuía para que não se limitasse a fazer somente as atividades
que lhe eram atribuídas e, em se dedicando mais, se destacava dos demais
funcionários.
O encantamento pelo empreendedorismo aumentou com esse primeiro
trabalho no Rio de Janeiro, quando conheceu processos e procedimentos bem
estruturados para planejamento e gestão da empresa. Tendo crescido vivenciando o
empreendedorismo instintivo dos pais, conhecer uma nova empresa diferente, com
departamentos melhor estruturados, segundo a empresária a despertou para um
novo jeito de empreender. Foi naquele momento que um membro de sua rede social
exerceu influência decisiva, segundo a empreendedora, para a sua vontade de criar
a própria empresa.
A consultora de recursos humanos da rede de empresas na qual trabalhava,
na época laço forte (Granovetter, 1973), exerceu forte influência e, segundo Ágatha,
em 2000, aos 20 anos de idade, decidiu que queria se tornar empreendedora.
Durante seu relato, a empresária identificou exatamente o momento em que tomou a
decisão de empreender, passando pelas influências de seus pais e chegando a uma
também forte influência que lhe impulsionou à decisão (consultora de recursos
humanos de uma empresa em que trabalhou).
A história da empresa em que Ágatha trabalhou no Rio de Janeiro foi,
segundo ela, muito importante para a sua formação empreendedora. Assim como a
história de seu pai, os donos daquela empresa (Viva a Vida) eram estrangeiros, e
vieram para o Brasil precisando de recursos financeiros para se manter neste outro
país. A empresária Ágatha foi contratada para a empresa, cuja rede possuía 14
lojas, no momento em que a mesma já se encontrava na segunda geração dos
proprietários - os filhos do casal de alfaiates alemães fundadores da empresa em
São Paulo/SP.
73
Para Ágatha, o histórico de inovação da Viva a Vida influenciou a sua
formação empreendedora. A primeira iniciativa foi manter uma costureira disponível
na loja para modificar as roupas de acordo com o desejo do cliente. A segunda foi
disponibilizar uma revistaria (com revistas importadas dado o público alvo que era
classe “A”) para os homens que acompanhassem as mulheres em compras. A
terceira inovação foram os cafés italianos e champagne sempre oferecidos nas lojas.
Os relatos da entrevistada demonstram o seu perfil empreendedor.
Na empresa em que trabalhava no Rio de Janeiro teve a iniciativa de propor
mudança de conceito na exposição dos produtos. Esta ação foi para a gerente da
Viva a Vida uma quebra de paradigmas dada à rigidez de padronização entre as 14
lojas que compunham a rede. A proposta da Ágatha foi acolhida e a loja do Rio de
Janeiro, na qual trabalhava como vendedora, foi a única a ser autorizada a montar a
própria vitrine.
Para Ágatha, uma situação específica presenciada nessa empresa também
influenciou o seu histórico de empreendedorismo. Foi adotada pelos gestores
daquela empresa a estratégia de contratar um estilista renomado para assinar uma
coleção inteira. As cores utilizadas na coleção não agradaram os clientes, fazendo
com que não se vendesse praticamente nada daquelas novas peças. Diante do
prejuízo, os proprietários decidiram viajar à China para encontrar mercadorias mais
baratas, buscando recuperar as perdas. Novamente, segundo Ágatha, a estratégia
foi equivocada por dois principais motivos. O primeiro, porque o mercado alvo da
empresa era focado em um público clássico, não absorvendo o estilo de roupas
fabricadas na China. O segundo, a demora na entrega dos produtos comprados
contribuiu para que novas medidas de contingência pudessem ser adotadas.
Naquele momento de oscilações no negócio, Ágatha assumiu o cargo de
subgerente. Contudo, após duas coleções com faturamento decrescente em toda a
rede, a Viva a Vida iniciou seu processo de falência, fechando loja a loja, tendo sido
a unidade do Rio de Janeiro (onde Ágatha trabalhava) a última a fechar as portas.
De acordo com a empreendedora, o processo de falência da empresa em que
trabalhava foi um grande aprendizado, sendo utilizado ainda hoje em sua empresa.
Ao retornar a São Lourenço, após a conclusão do curso de Design de
Interiores, e tendo trabalhado em lojas no Rio de Janeiro, a empreendedora Ágatha
trabalhou em sua área de formação (Designer de Interiores) durante um longo
período. Assumiu como gestora a loja dos pais, conciliando com as atividades
74
profissionais, o que para ela foi possível sem causar transtornos. Entretanto,
segundo Ágatha, sua frustração com os resultados como designer de interiores foi
gradativa e crescente, visto que somente tinha o controle do projeto e não dos
demais serviços. Assim, tendo aptidão e gosto pelo comércio decidiu dedicar-se
somente às atividades do setor.
O tempo em que Ágatha esteve fora de São Lourenço/MG, trabalhando em
outras empresas e conhecendo formas de gestão mais estruturadas, a motivou a
implementar uma forma mais moderna e mais profissional de gerir os negócios da
família. Entretanto, as novidades trazidas para a condução da empresa dos pais
geraram choque de gestão entre as gerações. A tentativa de implantar os
aprendizados trazidos das experiências fora, como inovações, procedimentos e
metodologias estruturantes, não convenceu os patriarcas, que consideraram ser
mais adequado manter a gestão da mesma forma que era feita até então, visto que,
para eles, estava dando certo.
Com o objetivo de implantar os diversos processos da administração de um
negócio, a empreendedora Ágatha decidiu criar sua própria empresa e, acreditando,
segundo ela, que possuía conhecimento suficiente, abriu seu negócio. Avaliou,
ainda, que a experiência adquirida ao longo do trabalho com seus pais em uma
cidade turística (São Lourenço/MG), atrelada à experiência adquirida nos outros
trabalhos, fornecera a ela a visão para a escolha do negócio. Após sua decisão de
deixar a empresa dos pais para criar a própria, a empreendedora identificou um
imóvel em uma localização que, para ela, era ideal. A empresária relata que no
momento de fechar o negócio para a locação do imóvel para a abertura da empresa,
o marido estava em viagem ao exterior e precisou tomar sozinha a decisão.
Segundo Ágatha, todas as áreas da gestão lhe encantam. Relata, ainda, que
é “apaixonada pelo empreendedorismo de forma geral”. Desde os processos de
compra, distribuição dos produtos, venda, precificação, treinamento de funcionários,
até visual merchandising e todas as demais compõem a sua motivação para o dia a
dia na empresa.
Uma característica do perfil da Ágatha é sua permanente busca por
capacitação. Tanto como proprietária da empresa, como para a equipe de
funcionários, ela investe constantemente em treinamentos.
Em 2011 foi criada a segunda loja, no mesmo segmento, com o objetivo de
atender ao público que frequentava outra parte da cidade, também turística.
75
5.3.1 Recursos para a criação da empresa
A avaliação dos fatores relativos aos recursos para a criação da empresa foi
feita levando-se em consideração questões que abordaram os seguintes aspectos:
recursos faltantes para a criação da empresa; recursos disponíveis e acessados
para a criação da empresa; e peso dos fatores para a criação da empresa.
No que diz respeito aos recursos faltantes para a criação da empresa, ao criar
sua empresa, dentre os primeiros recursos que a empreendedora aponta como
escassos estão:
treinamentos de vendas para a equipe, que satisfizessem suas
expectativas. Para solucionar esta deficiência na oferta de recursos, a
empresária montou seus próprios cursos (a partir da sua própria
experiência, leituras e pesquisas) para capacitar sua equipe e assim o
realiza até o momento.
Outro recurso não encontrado foram informações suficientes para realizar
pesquisa de mercado. A empresária buscou no SEBRAE e:
[...] em outras fontes na Internet e não encontrou dados suficientemente
confiáveis para a definição de estratégias de marketing, por exemplo. [...]
sentiu falta de crédito disponível para a criação e, também, durante o início
das atividades.
Aspectos mais negativos dos recursos, segundo Ágatha, dizem respeito às
“informações sobre mercado para direcionar ações de marketing e divulgação que
não foram encontradas. Também por isso a empresária decidiu naquele momento
não investir em ações de divulgação”.
Segundo Ágatha, ela não dispunha de todos os recursos financeiros
disponíveis para a criação da empresa. Porém, ela possuía:
o seu conhecimento e sabia o que queria colocar na loja para vender.
Naquele momento, decidiu recorrer a um membro de sua rede social, da
época em que trabalhava na loja dos seus pais. Um fabricante de velas
decorativas havia oferecido para os pais da empreendedora seus produtos,
reforçando que, como era fabricante, poderia conceder melhores condições
de pagamento. Contudo, na loja dos pais essa linha de produtos não foi
incluída.
O resultado desta análise está compatível com o pensamento de Schott e
Cheragui (2012) de que rede de mercado é aquela formada por fornecedores,
concorrentes, clientes, parceiros, colaboradores. Esta classificação da rede da
76
empreendedora se mostrou relevante e composta por laços fracos (Granovetter,
1973), quando criou sua empresa.
Aquele laço contido em sua rede de mercado forneceu o primeiro lote de
produtos para a sua empresa, no formato de consignação. Mesmo não
compondo exatamente a linha de produtos que buscava oferecer em sua
loja, a empreendedora percebeu em um laço o recurso do qual necessitava
para iniciar suas atividades.
Destaca-se, ainda, que outro membro da sua rede de mercado (SCHOTT,
2012) que conheceu como fornecedor de serviços (marceneiro) da empresa dos pais
fabricou as prateleiras para a loja, mesmo com o recurso financeiro disponível pela
empreendedora sendo aquém do valor cobrado por aquele profissional. O
marceneiro decidiu atender à demanda de Ágatha,
pela parceria antiga com a família e pela parceria que estava sendo
construída com a nova empresa para trabalhos futuros. Outro recurso
fornecido por esse seu laço fraco, membro da sua rede de mercado, foi a
referência para a primeira funcionária.
Aquele fornecedor de serviços de marcenaria atuou como ponte entre Ágatha
e a pessoa que passou a ser a primeira funcionária da empresa. Esta, por sua vez,
antes que fosse contratada, forneceu incentivo emocional para a criação da
empresa, pelo fato de a empreendedora sentir nela confiança para iniciar as
atividades da Originalle ainda estando amamentando a filha. Para a empresária, “o
fato de ter identificado uma pessoa com a qual poderia contar ao abrir a empresa
deu a ela mais segurança”.
Assim, com aproximadamente R$2 mil em móveis fabricados pelo Ferreira e
um lote de R$10 mil de velas do Beto, mercadorias suficientes para encher a loja, a
Originalle iniciou as atividades.
Outra consideração a ser feita é que o marido da empreendedora, laço forte e
membro de sua rede pessoal, forneceu recursos como incentivo para a criação da
empresa (apoio emocional). Além do apoio emocional, o marido participou com
recursos financeiros para a compra de um computador, um pouco mais de
mercadorias em São Paulo/SP, e cedeu outro computador que possuía
(Granovetter, 1973).
Quanto às seis colegas de trabalho, conforme a teoria de Granovetter (1973)
representam laços fortes que forneceram insumos que a empreendedora utiliza
77
ainda hoje no treinamento de sua equipe, como “o que não fazer”. Aquelas pessoas
argumentavam que Ágatha não deveria se dedicar tanto à empresa, por ser somente
funcionária. Contudo, tendo o que ela chama de “olhar do dono” por ter
acompanhado
a
trajetória
empreendedora
dos
seus
pais,
mantinha
seu
comprometimento com os resultados.
Evidenciou-se no discurso da empreendedora que a maior parte da sua rede
social,
seja ela privada, profissional ou de mercado forneceu apoio emocional, ou
seja, incentivou para a criação da empresa. Contudo, ressalta que a decisão
sobre o que e como empreender foi, em grande medida, uma decisão
própria, sem que houvesse influências de outras pessoas.
Na criação da segunda loja, em 2011, a empreendedora afirma ter tido mais
influências, sobretudo quanto à localização do ponto. A influência para esta decisão
começou:
ao ouvir clientes dizerem que não se lembravam da loja quando levavam
turistas a uma região específica da cidade. Estes laços fracos, que
compõem a rede de mercado da empreendedora, forneceram, portanto,
informações sobre ponto e mercado, influenciando também no incentivo da
empresária em abrir uma nova unidade.
Mais um fornecedor destes recursos foi um membro da rede de mercado da
empreendedora. Uma das funcionárias, laço forte, forneceu à Ágatha
informações sobre o mercado de São Lourenço para mais de uma unidade
de empresas do mesmo segmento. Tão importante quanto o laço
anteriormente mencionado, a empreendedora cita outro funcionário que lhe
forneceu recursos sobre o mercado, implicando no seu estímulo para abrir a
segunda loja, mais focada no fun design. Este segmento, para o qual a
empresa foi direcionada ao longo dos anos, está diretamente ligado ao
público mais jovem. Outro funcionário, que tinha na época 16 anos, atuou
como termômetro para as ideias e decisões de Ágatha. Segundo a
empreendedora, o comprometimento dos funcionários forneceu a ela
segurança (apoio emocional) para abrir a segunda loja.
5.3.2 Motivações para empreender
Quanto às motivações para empreender, Klapper e Parker (2011) afirmam
que um dos fatores pelos quais o empreendedorismo feminino é menor que o
masculino é que as mulheres apresentam menos aspirações profissionais do que os
homens. Desta forma, procurou-se também apurar qual o peso dos fatores para a
criação da empresa da empreendedora Ágatha.
78
Registrou-se que para alguns autores as questões relacionadas ao lar e à
família influenciam mais as mulheres do que os homens na tomada de decisão para
empreender, conforme reforçam Winn (2005), Hart, Gatgewood, Brush, Carter e
(2003), Klapper e Parker (2011) e Brush, Bruin e Welter (2009).
O “peso dos fatores para a criação da empresa” apresenta, para Ágatha, a
ordem:
i)
Realização profissional;
ii) Ter mais tempo com a família;
iii) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais;
iv) Aumento da renda.
Observa-se que, para esta empreendedora, a falta de opção de emprego também
não foi um fator considerado para a decisão de empreender.
Os resultados e análises da entrevista com a empreendedora Ágatha não
confirmaram, se analisados isoladamente, a sustentação de Klapper e Parker
(2001). Para a entrevistada, o principal fator considerado na sua decisão de
empreender foi realização profissional.
5.3.3 A questão de gênero para a empreendedora
Evidenciou-se na análise dos resultados a percepção dos entrevistados sobre
a influência de gêneros na decisão de empreender. A empreendedora Ágatha
considera que
homens e mulheres sofrem, de diferentes formas, influências ao decidirem
criar uma empresa; [...] as mulheres consideram mais as questões
familiares do que os homens. Avalia, ainda, que homens são mais objetivos
ao definirem o ramo em que vão atuar, buscando modelos de negócios mais
práticos e testados, como as franquias, por exemplo.
Para Ágatha, a própria história exemplifica a sua afirmação. Ao longo de sua
trajetória empreendedora:
1) influenciou vários membros de sua rede pessoal, sobretudo laços fortes.
2) considerou algumas opiniões no momento da criação de sua empresa,
mas “se fosse ficar ouvindo” a opinião de cada um teria tanta sugestão que
ficaria perdida.
79
3) junto a um empreendedor de sucesso há sempre uma mulher, seja a
namorada, esposa, ou mãe, por exemplo.
4) considera que homens são mais influenciáveis por outras pessoas para a
abertura de empresas do que mulheres.
Pode-se perceber que, quanto ao desempenho por gênero, para Ágatha o
desempenho de um empreendedor:
não depende de gênero, é indiferente ao sexo do indivíduo. A
empreendedora considera que os bons ou os maus resultados dependerão
de fatores como dedicação, conhecimento, entre outros, mas não se o
empresário é homem ou mulher.
Em se tratando de preferência por funcionários, a empresária estratifica por
gênero: “em vendas, tenho mais sucesso com homens, e para as atividades
administrativas, as mulheres demonstram-se mais organizadas”.
Com relação à facilidade de administrar, a empreendedora Ágatha afirma que
“os homens são mais fáceis de lidar”.
Também foram levados em consideração aspectos relacionados às
preferências por gênero para aconselhamento profissional e consultorias. No caso
de consultores e aconselhamento profissional, a preferência da empreendedora é:
[...] para os homens; [...] as mulheres são mais competitivas, retendo
informações em alguns casos. Relatou que suas experiências com
consultores foram melhores do que as com consultoras. Acrescentou, ainda,
que considera os consultores homens mais generosos quanto ao
compartilhamento de informações e conhecimento.
A partir do relato dos entrevistados, pode-se inferir que o histórico de
empreendedorismo na família que Ágatha acompanhou:
durante sua vida foi a história dos seus pais. Além dos pais, a empresária
possui um tio que é dono de uma loja em Jaguariúna, interior do estado de
São Paulo, mas não teve contato nem conhecimento mais aprofundado da
história deste parente empreendedor.
Nas respostas colhidas, foi possível detectar as influências da rede pessoal
da empreendedora na inspiração e decisão de empreender. Para ela, “a primeira e
importante influência foram seus pais. Neles, ela se pautou em tudo, valores que vão
além dos valores empreendedores”, relata Ágatha.
Destaca-se, ainda, que o segundo momento de influência foi o seu primeiro
trabalho no Rio de Janeiro/RJ. Nessa empresa, Ágatha foi influenciada por “uma
80
profissional da área de RH, pela forma como atuava e tratava as questões da
empresa, além das ações inovadoras da empresa, que até hoje são inspiração”.
5.4 Caso 4: Valda Eurides Alves Sanchez – Cultura Inglesa Araxá
A empresária Valda, proprietária da Cultura Inglesa Araxá, foi vencedora do
Prêmio MPE Brasil em Minas Gerais em 2013. Esta foi sua primeira experiência
empreendedora, assumida em parceria com sua irmã Valma, em agosto de 1988. A
empresa foi criada em Araxá, como filial de outra Cultura Inglesa, com sede em
Uberaba/MG. A empreendedora Valda Sanchez é formada em Letras, com MBA em
Gestão Empresarial e outras especializações na língua inglesa em diversos países,
como Inglaterra, Canadá, Austrália, entre outros.
O histórico de empreendedorismo de Valda se mistura ao da sua irmã (Valma
Eurides Alves Ashidani). Juntas, participaram da primeira turma de alunos da Cultura
Inglesa em Araxá. Nascida em uma família de 13 filhos, sendo uma das mais novas,
Valda decidiu empreender entre seus 18 e 19 anos de idade. O pai foi consultado e
foi solicitada sua permissão para assumirem aquela atividade empreendedora,
quando surgiu a oportunidade do negócio. Este foi um dos momentos de apoio
recebido pela empreendedora, de sua rede de relacionamentos.
Àquela época, a empresa era de propriedade de dois sócios de Uberaba, em
parceria com uma professora italiana. Por motivos particulares, após três anos
aquela professora mudou-se para São Paulo/SP e indicou Valda e Valma como
possíveis novas professoras da escola. Naquela ocasião, Valda cursava Magistério
e já se interessava pela profissão de sala de aula. Antes que as irmãs despertassem
para assumir a escola, outra professora liderou o empreendimento durante
aproximadamente um ano e meio.
Não obtendo sucesso, a matriz da empresa em Uberaba/MG se percebeu entre
duas opções. A primeira era fechar a Cultura Inglesa em Araxá/MG e a segunda era
buscar nova sociedade. Foi nesse momento que Valda e sua irmã propuseram aos
proprietários participarem da sociedade com o percentual de 30%. Valda salienta
que
o maior recurso de que ambas dispunham naquela época, além da força de
trabalho, era a “vontade de não deixar o negócio morrer”, dado o gosto que
tinham pela escola. O carinho que tinham pela professora italiana, que já
81
não participava mais do quadro de colaboradores da Cultura Inglesa em
Araxá/MG, também continuava a motivá-las para fazerem “de tudo para o
negócio sobreviver”.
Assim, a empreendedora Valda e sua irmã Valma pediram ao empresário que
as deixasse tentar. Apesar da pouca idade que tinha na época em que decidiu
empreender juntamente à sua irmã gêmea, Valda assumiu parte da gestão e da
condução da Cultura Inglesa de Araxá e, em 1989, a matriz Uberaba/MG vendeu
mais 50% da sociedade. Em 1991, a empreendedora Valda e sua irmã compraram
os 20% restantes assumindo, naquele momento, a totalidade da empresa. A partir
de então, como relata Valda, “foi muito trabalho, mas também muito sucesso”.
Em 1991, quando assumiram os 100% da Cultura Inglesa Araxá, a escola
possuía 44 alunos, o que, para a empreendedora, configurava um negócio bastante
pequeno. Contavam com cinco funcionários, incluindo as suas sócias, que também
trabalhavam como professoras. No momento atual, a escola possui 24 funcionários.
O mercado de alcance no início das atividades era somente a cidade de
Araxá/MG. Hoje, além de Araxá, a empresa possui clientes de Perdizes, Tapira e
São Gotardo, cidades localizadas em Minas Gerais, na região denominada como
Alto Paranaíba. Participa, hoje, de duas entidades empresariais, quais sejam:
Sindicato Patronal – Sindlivre; Sindicato do Comércio e Associação Comercial e
Industrial de Araxá. No primeiro ano, a escola era associada somente ao Sindlivre.
O perfil empreendedor de Valda permitiu que assumisse o cargo de presidente
da Associação Brasileira de Culturas Inglesas, estando hoje em seu segundo
mandato. Uma das características percebidas na entrevistada foi a busca constante
de conhecimento. Valda relata que, desde o momento em que empreendeu, tinha
muito claro em sua mente que ela e sua sócia não poderiam parar de se
especializar. Para ela, “o estudo que tinham era suficiente para o momento, mas
sabiam que para a empresa crescer precisavam continuar aprimorando seus
conhecimentos”.
O empreendedorismo sempre se fez presente na vida de Valda. Para ela, o
espírito empreendedor do pai, que exercia atividade de fazendeiro na região de
Araxá/MG, foi inspiração para diversas questões da vida, incluindo a decisão de
empreender. Com 13 filhos, a dedicação do senhor Eurípedes Batista Alves – pai de
Valda, assim como sua “incansável busca por uma vida melhor para a família”,
inspirava a entrevistada a também ter atitudes empreendedoras, relata Valda.
82
Segundo a empreendedora, com seu pai aprendeu a buscar caminhos para
solucionar as questões adversas no negócio e na vida. Para ela, o senhor Eurípedes
possuía visão empreendedora diferenciada e era atento às oportunidades
de negócio. Através de seu espírito empreendedor, incrementava sua
atividade de fazendeiro e comprou terras e imóveis de parentes e de outras
pessoas da região [...]. Assim, o senhor Eurípedes foi aumentando o
patrimônio da família e contribuindo para que Valda e os irmãos tivessem
suporte, também financeiro, quando precisassem.
Além do pai, um irmão das duas sócias também era empreendedor no
momento em que empreenderam. O irmão possuía e ainda hoje é dono de um
restaurante na cidade de Araxá/MG. O pai, como mencionado diversas vezes pela
entrevistada, possuía o “empreendedorismo nas veias”. Hoje, o marido também
exerce atividade empreendedora, atuando no segmento de produção de flores,
transporte na Colômbia, fabricação e exportação de fertilizantes foleares no Brasil.
Quando indagada sobre que tipo de recursos sentiu necessidade quando
decidiu empreender, a empresária relatou que financiamentos bancários não eram
muito disponíveis naquela época. Por outro lado, a empreendedora podia contar
com o apoio financeiro de seu pai, quando precisava.
Outro recurso do qual a empreendedora sentiu falta foram mais fontes para
suporte acadêmico. Como para Valda e a irmã (sua sócia) aquela era a primeira
experiência empreendedora, buscavam apoio técnico para reduzir os riscos do
negócio. O suporte técnico relacionado às questões acadêmicas da escola, as
sócias encontraram “em somente duas fontes”, como afirma Valda. A primeira era a
Cultura Inglesa de Uberaba, que tinha sido a matriz da Cultura Inglesa Araxá,
quando esta ainda era filial. A segunda fonte para o suporte acadêmico foram as
editoras internacionais que, como relata Valda, ofertavam cursos a baixo custo.
Esses e outros recursos fornecidos pela rede social da empreendedora são
descritos nas próximas seções.
83
5.4.1 Recursos para a criação da empresa
Descobriu-se
que
assim
como
para
os
empreendedores
descritos
anteriormente, a rede social de Valda foi fonte de diversos recursos quando do
momento em que se tornou empresária.
A rede social da empreendedora, mapeada com 40 membros, participou da
sua decisão de empreender. Desses 40 laços com quem Valda se relacionava na
época em que se tornou empresária, 16 forneceram algum tipo de recurso.
Confirmando a sustentação teórica de Manolova (2007), que afirma que as redes
sociais
do
empreendedor
fornecem
apoio
emocional
para
a
iniciativa
empreendedora, na rede de Valda isto também pode ser observado.
Segundo Valda e conforme descrito nas sessões anteriores, parte da sua
rede influenciou a sua decisão de empreender. Atrelada a esta influência, a
empresária afirma que quando empreendeu “um grande fator motivador foi a
vontade de manter o negócio da Cultura Inglesa em Araxá funcionando”, dado o seu
envolvimento emocional com a empresa.
Como descrito, o empreendedorismo se fez presente na vida de Valda,
inicialmente através do seu pai. Fazendeiro na região e com “um espírito
empreendedor nato”, segundo ela seu pai a inspirou a tornar-se também empresária.
Para ela, a inspiração advinda dele explica-se pelo empreendedorismo, dedicação,
vontade de vencer na vida e, sobretudo, incentivo emocional.
O pai da empreendedora era fazendeiro, tendo nesta atividade a fonte de
renda e de formação do patrimônio da família. Segundo ela, a visão de negócio e de
futuro do pai fez com que ele fosse adquirindo as fazendas dos irmãos e de outras
pessoas. Para Valda, acompanhar os comportamentos empreendedores do pai, que
durante todo o tempo seguiam em direção à melhoria do patrimônio da família, foi
para ela como uma formação empreendedora durante a vida.
É importante ressaltar que o recurso financeiro inicial para a compra dos 30%
da empresa em 1988 também teve como fonte de apoio o pai de Valda. Reforçando
o espírito empreendedor do senhor Eurípedes, a empreendedora relata
que o pai, que tinha como fonte de renda a fazenda da família, que crescia
por “sua dedicação e visão de negócio”, tinha o hábito de destinar parte do
rebanho de gado para toda a família. Assim, os 13 filhos teriam algum
patrimônio quando adultos.
84
E essa foi a origem do primeiro recurso que a empreendedora acessou para
comprar parte da Cultura Inglesa de Araxá/MG. Valda e a irmã abriram mão de sua
parte em uma casa comprada por seu pai, cuja parte do recurso foi o gado da
família.
5.4.2 Motivações para empreender
Com relação às motivações para empreender, quando perguntado à
empreendedora se algumas pessoas a influenciaram na decisão de empreender, a
resposta foi positiva.
De acordo com Valda, o maior incentivador foi seu pai,
[...] dizendo que, se ela acreditava que o negócio daria certo, deveria
agarrar a oportunidade. Para a empreendedora, os aconselhamentos do pai
de que as sete filhas deveriam estudar e ser independentes, para não
ficarem na dependência de algum homem, também foram incentivos para
que empreendesse com a pouca idade.
Além da motivação gerada pelo apoio emocional do pai e a inspiração nele, a
decisão de empreender foi
[...] igualmente motivada pela vontade de manter a empresa funcionando,
sobretudo devido à importância que Valda e sua irmã davam ao empenho
e confiança a elas depositada pela antiga proprietária e professora da
Cultura Inglesa em Araxá/MG entre 1982 e 1986. Foi a partir deste
membro de sua rede social que as sócias aumentaram o amor que tinham
pela escola.
A empreendedora acrescenta, ainda, que o fato de ela e a irmã estarem
sempre juntas significava para ela um apoio emocional importante. Isso era
traduzido na confiança de que uma poderia contar com a outra independentemente
do problema que pudesse surgir. Este sentimento foi um dos recursos que contribuiu
para a decisão de empreender.
Quanto ao peso dos fatores para a decisão de empreender (QUADRO 13), foi
possível constatar que para Valda a realização profissional foi o fator que mais
pesou para tornar-se empreendedora. Quando solicitado que atribuísse um peso aos
fatores apresentados, o escalonamento de Valda apontou a seguinte ordem de
importância:
85
i)
Realização profissional;
ii) Aumento da renda;
iii) Ter mais tempo com a família;
iv) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais.
Assim como para a entrevistada anterior, o maior peso foi dado para
“realização profissional”, não confirmando o exposto por Klapper e Parker (2001),
que afirmam que as mulheres empreendem valorando, principalmente, as questões
relacionadas à família.
Para Valda, também não foi considerada na tomada de decisão de
empreender a questão de falta de opção de emprego.
5.4.3 A questão de gênero para a empreendedora
Com relação a gênero, Valda coloca que homens e mulheres são igualmente
influenciados por outras pessoas nas suas decisões, o que se repete na decisão
específica de criar uma empresa. Para ela, “em geral essas influências dependem
mais de “como a pessoa funciona do que da questão de gênero”. Isso tem a ver
mais com “competência e determinação do que se a pessoa é homem ou mulher”.
Com
respeito
a
consultores
e
aconselhamentos
profissionais,
a
empreendedora respondeu ser indiferente. Relatou que:
[...] talvez por existirem no mercado mais consultores do sexo masculino,
contratam-se mais homens do que mulheres. Mas, para ela, não significa
preferência. Valda exemplifica a área de finanças, onde é mais comum
haver mais homens do que mulheres, e contrapõe, relatando que teve
experiência com consultora de finanças, cujos resultados foram
satisfatórios. Para ela, as contratações de consultores para a Cultura
Inglesa de Araxá são baseadas na análise de currículos e referências, sem
se considerar o gênero do profissional.
O mesmo se dá para a contratação de funcionários. Não há, para Valda,
[...] a preferência por funcionários homens ou mulheres. A competência da
pessoa independe do gênero. Manter uma equipe com mulheres e homens
é saudável para a empresa. Homens são, geralmente, mais práticos dos
que as mulheres, têm pensamentos mais lógicos e agem de forma mais
86
objetiva. Esse perfil pode ser melhor para algumas atividades e pior para
outras em um mesmo negócio.
A empreendedora afirma que não acredita que time formado somente por
mulheres resulta em muita conversa e pouca produtividade. Para ela, esta e outras
situações problemáticas dentro das empresas são:
[...] devido mais aos perfis e às personalidades das pessoas do que em
função de gênero. Acrescenta, novamente, que em sua empresa busca
manter o equilíbrio. Da mesma forma, dá-se para a questão sobre a
facilidade de administrar homens ou mulheres: indiferente.
A não existência de diferenças de competência entre os gêneros é
exemplificada pela empresária Valda, que relata: “há casos de mulheres que
obtiveram sucesso mesmo em setores de maior ocorrência masculina. E o inverso
também é verdadeiro”, complementa. Segundo ela, mulheres e homens não se
distinguem quanto à diferença de recursos fornecidos e disponíveis.
6 CONSOLIDAÇÃO DOS RESULTADOS
As informações obtidas permitem concluir que existe conexão em termos de
relações de gênero, empreendedorismo e as redes sociais dos egos pesquisados.
O resultado obtido nas entrevistas leva a entender, também, que para os
empreendedores pesquisados há tendências objetivas de que os seus laços sociais
foram utilizados no momento em que decidiram empreender. Pode-se concluir que
a triangulação dos resultados sobre gênero, empreendedorismo, redes pessoais e
laços sociais foi aplicada satisfatoriamente.
Registrou-se que a combinação de diferentes perspectivas metodológicas, a
utilização de materiais empíricos e secundários foram úteis, de modo a melhor
compreender os diferentes aspectos das influências das redes sociais dos egos em
suas decisões de empreender e a evitar os “vieses” de uma metodologia única.
Operacionalmente, a triangulação foi conduzida com a combinação de
resultados obtidos a partir da análise do estudo dos quatro casos. Esta análise se
deu através dos resultados dos empreendedores pesquisados, considerando-se o
87
processamento dos respectivos dados e da análise dos conteúdos, como
apresentado no item 6.1.
A partir da análise comparativa entre os resultados por indivíduo pesquisado,
realizou-se uma síntese da participação das redes sociais e dos principais fatores
que influenciaram os empreendedores a empreender. Esta perspectiva comparativa
está descrita a partir do item 6.2.
6.1 Consolidação dos resultados por caso pesquisado
A apresentação dos resultados por empreendedor pesquisado, está
organizada a partir da análise das respectivas redes sociais como fontes de
recursos para a criação da empresa. Ainda nesta perspectiva, foi incluída a análise
da necessidade da presença do ego (empreendedor pesquisado) para o
relacionamento inter-alteri. Inclui-se nesta parte a elaboração dos grafos das redes
para os quatro casos.
6.1.1 A rede social do empreendedor Vladimir Gomes Mourão (caso 1)
Constatou-se que uma parte da rede social do empreender forneceu recursos
no momento da sua decisão de se tornar empresário (participar de uma sociedade
formal). Entretanto, para Vladimir sua decisão foi mais individual do que influenciada
por outros.
Analisando a totalidade dos alteri citados pelo ego (43), sete deles foram fonte
de algum tipo de recurso, repetindo-se a mesma fonte para mais de um recurso.
Por meio da análise da entrevista com o empreendedor Vladimir foi possível
mapear os recursos fornecidos por sua rede social no momento em que decidiu
empreender. Os resultados demonstram o quanto sua rede de relacionamentos
participou como fornecedora de recursos quando tomou tal decisão.
A partir do gerador de nomes foi criada uma matriz com todos os membros da
rede do empreendedor, destacando-se os que forneceram algum tipo de recurso e
analisando-se em qual categoria de rede – privada, de trabalho, profissional, de
mercado ou internacional (Schott & Cheragui, 2012), cada alter se enquadrava.
Também se analisou a intensidade dos laços, segundo definição de laços fortes e
laços fracos (Granovetter, 1973) e a natureza do recurso disponibilizado.
88
Houve ocorrência de 25 indicações de recursos recebidos da rede social do
entrevistado. Estas ocorrências foram provenientes de 7, do total de 43 membros da
rede social de Vladimir. Isto significa que 7 pessoas forneceram algum tipo de
recurso para a sua decisão de empreender formalmente (formalmente, porque que
ao longo da vida havia exercido diversas atividades empreendedoras informais).
Das 25 ocorrências de recursos fornecidos por 7 pessoas, constatou-se que
algumas participaram com mais de um tipo de apoio. Para preservar a privacidade
do entrevistado, os nomes dos alteri foram substituídos por siglas (de A1 a A43). Do
total de 43 relacionamentos mapeados, o quadro 4 apresenta somente os 7 alteri
que forneceram algum tipo de recurso no momento em que Vladimir decidiu
empreender.
Quadro 4: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços
Alter
A1
A3
A6
A7
A11
A12
A26
Categoria da
rede à qual o
alter pertence
Intensidade do
laço
Rede Privada
Rede Privada
Rede Profissional
Rede de trabalho
Rede de Mercado
Rede Profissional
Rede Privada
Laço forte
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Recursos fornecidos4
1
x
x
x
x
x
x
2
x
x
x
x
x
x
3
x
x
x
x
4
5
6
x
7
8
x
x
x
x
x
x
x
x
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 4 demonstra que parte da rede social de Vladimir forneceu 6 dos 8
tipos de recursos listados na pesquisa. A ocorrência desses seis recursos recebidos
pelo empreendedor foi de 25 vezes, para um total de 7 alteri (fontes dos recursos).
Considerando-se as cinco categorias apresentadas por Schott e Cheragui
(2012) para as redes sociais dos empreendedores, pode-se observar que das 25
ocorrências, 16 foram oriundas de 4 alteri que não pertenciam à rede privada
(familiares, amigos e parentes). Estes 4 laços pertenciam, pois, às redes
4
Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; 2) Informações sobre o ramo da empresa; (3)
Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6)
Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação
dos primeiros clientes.
89
profissionais, de trabalho ou de mercado. A rede privada do empreendedor
apresentou 9 ocorrências de recursos fornecidos.
Com relação à intensidade dos laços (fortes ou fracos) sustentada por
Granovertter (1973), 5 dos 7 membros da rede social do empreendedor Vladimir,
que forneceram algum tipo de recurso, eram laços fortes, e 2 eram fracos. Dos 4
alteri que forneceram a maior parte dos recursos (redes de trabalho, profissional e
de mercado), 2 eram laços fracos e 2 eram laços fortes. Estratificando-se
especificamente a ocorrência de recursos fornecidos pela intensidade dos laços,
constata-se que 20 ocorrências se deram pelos laços fortes e 6 pelos fracos.
Para os recursos “informações sobre mercado” e “informações sobre o ramo
da empresa”, foram fontes 6 membros da rede do entrevistado, sendo 2
caracterizados como rede privada (ou pessoal), 2 como rede profissional, 1 como
rede de trabalho e 1 como rede de mercado. Estes mesmos 6 alteri, se
caracterizados pela intensidade dos laços, são 2 laços fracos e 4 laços fortes.
Embora o empreendedor possuísse o conhecimento necessário para abertura
de empresas, este tipo de informação foi discutido entre Vladimir e 4 membros de
sua rede social, sendo 1 da rede privada, 1 da rede de trabalho, 1 da rede de
mercado e 1 da profissional. Deles, somente o alter que compunha a rede de
trabalho foi considerado pelo entrevistado como laço fraco (os demais foram
caracterizados como laços fortes).
Enquanto “apoio para selecionar mão de obra” foi um dos recursos apontados
por 1 membro da rede de mercado, sendo ele um laço forte, o “incentivo emocional
para a criação da empresa” teve como fonte 5 alteri (3 da rede privada, 1 da rede
profissional e 1 da rede de mercado). Todas as 5 fontes do apoio emocional se
caracterizaram como laços fortes.
Os resultados da pesquisa demonstram, portanto, que para o empreendedor
Vladimir a maior parte dos recursos recebidos de sua rede social foi oriunda das
redes privada, profissional, de trabalho e de mercado, como apresenta o quadro 5:
90
Quadro 5 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes
RECURSOS
FORNECIDOS
1
2
3
4
5
6
7
8
CATEGORIA DA REDE
REDE
PRIVADA
REDE
PROFISSIONAL
REDE DE
TRABALHO
REDE DE
MERCADO
Informações sobre
mercado
Informações sobre o
ramo específico da
empresa
Informações sobre
como abrir a empresa
Apoio para identificar o
ponto para a empresa
Suporte financeiro
2
2
1
1
2
2
1
1
1
1
1
1
-
-
-
-
-
-
-
-
Apoio para selecionar
mão de obra
Incentivo emocional
para empreender
Indicação dos
primeiros clientes
-
-
-
1
3
2
-
1
1
-
-
1
Fonte: Dados da pesquisa.
Pode-se observar no quadro 6 que as redes privada, profissional, de trabalho
e de mercado participaram em 16 das 25 ocorrências de recursos fornecidos quando
Vladimir decidiu empreender. Destes, 13 ocorrências foram recursos referentes a
informações de mercado e informações diretamente ligadas a questões do negócio.
Por outro lado, 03 ocorrências, ou seja, uma menor parte dos recursos fornecidos
pela rede do empreendedor, tiveram como fonte estas redes.
A análise do quadro 6 ainda apresenta como a rede privada (ou pessoal)
deste empreendedor participou no fornecimento de recursos. Esta categoria de rede
apresentada por Schott e Cheragui (2012) forneceu 09 das 25 ocorrências de
recursos recebidos por Vladimir. Destas 09 ocorrências, 03 foram apoio emocional,
02 informações sobre mercado, 02 informações sobre o ramo da empresa, 01
informações sobre como abrir a empresa e 01 participou na indicação dos primeiros
clientes (ressaltando-se que neste último o empreendedor comprou a carteira de
clientes).
Considerando a intensidade dos laços como fortes ou fracos, conforme
conceituado por Granovetter (1973), a rede do empreendedor Vladimir demonstra
que das 25 ocorrências de recursos recebidos de sua rede, 17 originaram-se de
laços fortes e 08 de laços fracos. Buscando sintetizar o exposto, o quadro 6
91
relaciona os tipos de recursos fornecidos pela rede social do entrevistado,
distribuídos pela intensidade dos laços (laços fortes ou laços fracos).
Quadro 6 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,
distribuídos pela intensidade dos laços
RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO
EMPREENDEDOR
1
2
3
4
5
6
7
8
Informações sobre mercado
Informações sobre o ramo específico da empresa
Informações sobre como abrir a empresa
Apoio para identificar o ponto para a empresa
Suporte financeiro
Apoio para selecionar mão de obra
Incentivo emocional para empreender
Indicação dos primeiros clientes
INTENSIDADE DOS LAÇOS
LAÇOS
LAÇOS
FORTES
FRACOS
3
3
3
3
3
1
1
5
1
2
-
Fonte: Dados da pesquisa.
O Quadro 6 demonstra que a maior parte dos recursos recebidos por Vladimir
foi oriunda de laços fortes.
Considerando o recurso “incentivo para a criação da empresa”, a análise para
este empreendedor confirma a defesa de Granovetter (1973; 1985), que afirma que
o apoio emocional é fornecido, em maior parte, por laços fortes. Por outro lado, os
resultados para este entrevistado isoladamente contradizem a afirmação de Vale e
Guimarães (2010), que sustentam que os laços fracos (mais do que os fortes) são
os mais utilizados para a abertura de negócios.
Contudo,
vale
ressaltar
que
o
entrevistado
considerou
que,
dos
relacionamentos mapeados em sua rede social, apenas 7 pessoas forneceram
algum tipo de recurso no momento em que decidiu empreender formalmente.
Os relacionamentos mapeados por Vladimir como ativos na época em que
empreendeu foram 43, sendo 13 mulheres e 30 homens. A tendência à homofilia
(Wellman, 1999), se isolado o atributo de gênero, é confirmada para este
empreendedor. Analisando a totalidade da rede social do empreendedor, 31 eram
laços fortes e 12 laços fracos.
Estratificando-se homens e mulheres do total de 43 relacionamentos
mapeados, foram identificadas 13 mulheres, sendo que 12 foram caracterizadas
como laços fortes e 01 como laço fraco, segundo definição de Granovetter (1973).
92
Constatou-se que os 30 homens da rede de Vladimir se dividiram em 19 laços
fortes e 11 laços fracos. A maioria dos laços fortes pertence à rede privada (neste
caso formada por pai, mãe, irmãos, parentes e amigos) e de colegas do curso que o
empreendedor fazia na época (Gnose). Os 11 laços fracos se concentraram
majoritariamente na rede de trabalho (colegas de trabalho) e parte da rede privada
(parentes distantes).
Entretanto, para efeito da análise da rede social do empreendedor, este
estudo continuará se concentrando nos laços que forneceram algum tipo de recurso
quando o mesmo decidiu empreender.
Nesse sentido, foi criada uma matriz com os 07 membros da rede social do
ego (empreendedor) que foram fontes de recursos, mapeando-se o atributo (gênero)
dos alteri, a categoria da rede à qual pertenciam e a intensidade do laço, como
apresenta o quadro 7.
Quadro 7 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços
ALTER
GÊNERO DO
ALTER
CATEGORIA DA REDE À QUAL
O ALTER PERTENCE
INTENSIDADE
DO LAÇO
A1
Masculino
Rede Privada
Laço forte
A3
Masculino
Rede Privada
Laço forte
A6
Masculino
Rede Profissional
Laço forte
A7
Masculino
Rede de trabalho
Laço fraco
A11
Masculino
Rede de Mercado
Laço forte
A12
Masculino
Rede Profissional
Laço fraco
A26
Masculino
Rede Privada
Laço forte
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstra o quadro 7, todos os fornecedores de algum tipo de recurso
para o empreendedor eram homens, sendo: (i) 03 da rede privada e laços fortes; (ii)
02 da rede profissional, sendo 01 laço forte e 01 laço fraco; (iii) 01 da rede de
trabalho – laço fraco; e (iv) 01 da rede de mercado, laço forte. Vale ressaltar que a
rede privada foi composta por 2 familiares e 1 amigo do empreendedor.
93
A análise da rede social de Vladimir se deu, também, através dos indicadores
gerados pelo software Egonet. Tais indicadores demonstram, conforme apresentado
no quadro 8, a síntese da composição da rede social em percentuais.
Quadro 8 – Composição da rede social do empreendedor em percentuais
GÊNERO DOS
ALTERI NA REDE
FORMAÇÃO DA
REDE SOCIAL DO
EMPREENDEDOR
POR CATEGORIA
PARTICIPAÇÃO DAS
REDES (POR
CATEGORIA) NO
FORNECIMENTO DE
RECURSOS
Rede Privada: 36%
Masculino: Feminino: Rede Privada: 43%
100%
0%
Rede Profissional:
Rede Profissional: 28%
29%
Rede de trabalho: 14% Rede de trabalho: 12%
Rede de Mercado:
Rede de Mercado: 24%
14%
INTENSIDADE
DOS LAÇOS
NA REDE
Laço
forte:
71%
Laço
Fraco:
29%
Fonte: Dados da pesquisa.
A totalidade dos alteri fontes de algum tipo de recurso quando Vladimir
decidiu empreender era do gênero masculino. Considerando-se somente o atributo
gênero para a rede fornecedora de recursos, novamente é confirmada a sustentação
teórica de Wellman (1999), que afirma que os indivíduos tendem à homofilia, sendo
suas redes formadas por pessoas com atributos similares.
Quanto à categoria das redes do empreendedor, conforme conceituado por
Schott e Cheragui (2012), dos membros fonte de algum tipo de apoio, 43%
pertenciam à rede privada, 29% à rede profissional e às redes de trabalho e de
mercado (14% dos alteri em cada).
Analisando-se as 25 ocorrências de recursos fornecidos pela rede social do
empreendedor, o quadro 8 apresenta que a maior parte deles teve como fonte a
rede privada (36%). A rede profissional aparece em segundo lugar, fornecendo 28%,
seguida da rede de mercado com 24% e da rede de trabalho com 12% dos recursos
recebidos pelo entrevistado.
Pode-se observar o agrupamento das redes privada (A3, A1 e A26) e
profissional (A6 e A12) do empreendedor Vladimir. Em sua maioria, os membros
desses grupos se relacionavam entre si, o que não acontecia com os alteri A11
(rede de mercado) e A7 (rede de trabalho), que não faziam parte do agrupamento
citado. A existência de ligação entre os alteri está representada no gráfico 1 por
94
linhas. As figuras não estão ligadas pelas referidas linhas, significando a inexistência
de relacionamentos entres esses laços.
Como demonstrado, a ARS possibilita, também, a análise da necessidade da
presença do ego para os relacionamentos inter-alteri. Neste sentido, buscou-se
elaborar uma matriz binária, onde 0 significa que não havia relacionamento e 1
significa que havia relacionamento entre os alteri, segundo percepção do ego, como
demonstrado no quadro 9.
Quadro 9 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri
ALTER
A1
RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI
A1
A3
A6
A7
A11
A12
A26
-
0
1
0
0
1
1
-
0
0
0
0
1
-
0
0
0
0
-
0
0
0
-
0
0
-
1
A3
A6
A7
A11
A12
A26
-
Fonte: Dados da pesquisa.
Considerando que 1 significa a existência e 0 a inexistência de
relacionamento entre os alteri, os dados demonstram que 2 membros da rede social
do empreendedor – A7 (rede de trabalho, laço fraco) e A11 (rede de mercado, laço
forte) – não se relacionavam com os demais, sem a presença de Vladimir. Os alteri
A26 (rede privada, laço forte), A12 (rede profissional, laço fraco) e A1 (rede privada,
laço forte) formam uma tríade, como demonstrado no gráfico 1.
Na rede social de Vladimir, A26 também funciona como ponte entre A3 (rede
privada, laço forte) e A1, e entre A3 e A12. No mesmo sentido, A1 é ponte entre A6
(rede profissional, laço forte) e A12, e entre A6 e A26.
A análise da rede social prescinde, também, a análise dos atributos dos
membros que a compõem, além da intensidade dos laços e da existência ou não de
relacionamento entre os alteri. O gráfico 1 apresenta a visualização da rede social
de Vladimir.
95
Gráfico 1 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso
Fonte: Elaborado pela autora.
A rede de Vladimir é demonstrada no Gráfico 1, que apresenta a
configuração, segundo gênero, atributos, intensidade dos laços e existência (ou não)
de relacionamento entre os laços do ego.
Pode-se verificar que a rede do empreendedor, na época em que decidiu
empreender, era composta pelo agrupamento dos seus membros em redes privada
(representada por círculos), profissional (representada por quadrados), de trabalho
(representada por estrela) e de mercado (representada por triângulo). Quanto aos
atributos, Schott e Cheraghi (2012) analisam as redes de empreendedores a partir
do agrupamento de suas relações (atributos). Considerando-se a sustentação
teórica de Schott e Cheraghi (2012) e analisando-se a rede formada somente pelos
alteri que forneceram algum tipo de recurso, a rede social do empreendedor Vladimir
se configura como segue:
a) Rede privada (ou pessoal): 03 membros, sendo todos laços fortes;
b) Rede de trabalho: 01 membro, laço fraco;
c) Rede profissional: 02 membros, sendo 01 laço forte e um laço fraco;
d) Rede de mercado: 01 membro, laço forte.
96
A maioria dos membros da rede social do empreendedor caracterizou-se
como laços fortes (figuras preenchidas em preto). Segundo Granovetter (1973),
laços fortes são aqueles cuja intensidade do contato (pessoal ou não) é alta.
Vladimir apresenta, em sua rede fornecedora de recursos, 5 laços fortes e 2 laços
fracos. Os laços fortes foram compostos pelos 03 membros da rede privada, pelo
membro da rede de mercado e por 1 membro da rede profissional. O membro da
rede de trabalho e 1 da rede profissional foram caracterizados pele ego com laços
fracos (figuras sem preenchimento, somente contornadas).
6.1.2 A rede social do empreendedor Anderson de Souza Martins (caso 2)
A avaliação sobre os recursos fornecidos pela rede social do proprietário da
empresa Bacana Bolsas foi considerada positiva e importante por Anderson,
levando-se em consideração questões que abordavam os seguintes aspectos:
informações sobre o mercado; informações específicas sobre o ramo da empresa;
suporte financeiro; apoio para selecionar mão de obra; incentivo para a criação da
empresa (apoio emocional); e outros recursos fornecidos pela rede.
Parte da rede social do empreendedor foi fonte de recursos para a criação da
sua empresa. Do total de 46 membros da rede listados por Anderson no gerador de
nomes, 17 forneceram algum tipo de apoio.
Partindo da construção teórica de Schott e Cheraghi (2012), que apresentam
as redes dos empreendedores categorizadas em cinco agrupamentos (rede privada
ou pessoal, rede de trabalho, rede profissional, rede de mercado e rede
internacional), e atribuindo a cada membro a descrição de Granovetter (1973) para a
intensidade dos laços, serão apresentados a seguir os recursos fornecidos ao
empreendedor por sua rede social.
Foram identificadas 47 ocorrências de recursos oriundos da rede social deste
ego. Esses recursos tiveram como fontes as redes privada, de trabalho e
profissional, sendo 17 os alteri fornecedores. Também para este empreendedor mais
de um recurso foi fornecido por uma mesma pessoa, fato que se repetiu para 10 dos
17 membros fornecedores de recursos.
Assim como para o caso anterior, os nomes dos 46 membros da rede social
de Anderson foram substituídos pelas siglas sequenciais de B1 a B46, com o
objetivo de preservar a privacidade do entrevistado e das pessoas citadas.
97
A análise dos 17 alteri que formaram a rede fornecedora de recursos ao
empreendedor está apresentada a partir do quadro 10.
Quadro 10: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços
Recursos fornecidos5
Categoria da
rede à qual o
alter pertence
Intensidade
do laço
1
2
3
4
5
6
7
8
B1
Rede Privada
Laço forte
x
x
x
x
X
x
x
x
B2
Rede de Trabalho
Laço fraco
B3
Rede Privada
Laço forte
B4
Rede de Trabalho
Laço fraco
x
B5
Rede de Trabalho
Laço forte
x
B6
Rede de Trabalho
Laço fraco
x
B8
Rede Privada
Laço forte
x
B9
Rede Privada
Laço forte
x
B10
Rede Privada
Laço forte
x
B11
Rede Privada
Laço forte
x
B13
Rede de Trabalho
Laço fraco
B17
Rede Privada
Laço forte
B18
Rede de Trabalho
Laço fraco
x
B23
Rede Profissional
Laço forte
x
x
B24
Rede Profissional
Laço forte
x
x
B43
Rede Privada
Laço forte
x
B46
Rede de Trabalho
Laço forte
Alter
9
x
x
x
X
x
x
x
x
x
x X
x
x
x
x
x
x
x
x
X
x
x
x
x
x
x
Fonte: Dados da pesquisa.
5
Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3)
Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6)
Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação
dos primeiros clientes; e (9) Outros (alerta sobre os riscos de empreender).
98
Pode-se observar através do quadro 10 que a rede social de Anderson
forneceu os 8 recursos listados, além de alerta sobre os riscos de empreender
(outros).
Constata-se que houve 47 ocorrências de recursos fornecidas por 17 alteri.
Se estratificadas por categoria das redes, conforme proposto por Schott e Cheragui
(2012), apresentam-se como sendo 23 oriundas da rede privada (ou pessoal), 20 da
rede de trabalho e 04 da rede profissional. Observa-se, portanto, que as fontes de
recursos fornecidos para o empreendedor Anderson se concentraram nas redes
privadas e de trabalho, com 43 das 47 ocorrências de recursos.
Analisando-se a intensidade dos laços conforme sustentado por Granovertter
(1973), 34 das 47 ocorrências de recursos recebidos pelo empreendedor foram
oriundas de laços fortes e 13 de laços fracos. Quanto à característica dos alteri
fornecedores de recursos, segundo a intensidade dos laços constata-se que 12 são
laços fortes e 05 são fracos.
Para o recurso “informações sobre mercado” foram fontes 6 membros da rede
de Anderson, sendo que 03 deles também forneceram “informações sobre o ramo
da empresa”. Os alteri fornecedores desses recursos caracterizaram-se como
membros da rede de trabalho (04 alteri, sendo 2 laços fracos e 2 fortes) e da rede
privada (2 alteri, sendo ambos laços fortes).
“Informações sobre como abrir a empresa” foram fornecidas por 8 pessoas,
sendo que duas delas também forneceram “apoio para identificar o ponto”. Destes
alteri, 5 pertenciam à rede de trabalho (3 laços fracos e 2 fortes) e 3 à rede privada
(todos laços fortes).
O recurso “suporte financeiro” teve como fonte dois membros da rede privada,
sendo ambos laços fortes.
Ainda analisando as fontes dos recursos recebidos por Anderson quando
decidiu empreender, 5 membros de sua rede forneceram “informações para
selecionar mão de obra”, sendo eles 03 da rede de trabalho (2 laços fracos e 1 laço
forte) e 2 da rede privada (ambos laços fortes). Três destes mesmos alteri (2 da rede
de trabalho – laços fracos; 1 da rede privada – laço forte) também forneceram o
recurso “indicação dos primeiros clientes”.
Com relação ao apoio emocional (incentivo para criação da empresa) para o
empreendedor, 15 alteri se destacaram, sendo eles 9 componentes da rede privada
99
(todos laços fortes), 4 da rede de trabalho (3 laços fracos e 1 forte) e 2 da rede
profissional (ambos laços fortes).
O empreendedor citou, ainda, outro recurso que membros de sua rede o
forneceram, que foram os alertas sobre os riscos de empreender. Para Anderson,
“estas informações foram úteis para compor o planejamento do negócio”. Os alteri
fornecedores desse recurso foram 2 membros da rede profissional (laços fortes) e 1
da rede de trabalho (laço fraco).
Os resultados demonstram que a maior parte dos recursos recebidos por
Anderson quando decidiu empreender teve como fonte as redes privada e de
trabalho, como apresenta o quadro 11.
Quadro 11 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes
RECURSOS
FORNECIDOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Informações sobre
mercado
Informações sobre o
ramo específico da
empresa
Informações sobre
como abrir a empresa
Apoio para identificar o
ponto para a empresa
Suporte financeiro
Apoio para selecionar
mão de obra
Incentivo emocional
para empreender
Indicação dos
primeiros clientes
Outros
CATEGORIA DA REDE
REDE PRIVADA
REDE DE
TRABALHO
REDE
PROFISSIONAL
2
4
-
2
1
-
3
5
-
2
-
-
2
-
-
2
3
-
8
5
2
1
2
-
1
-
2
Fonte: Dados da pesquisa.
Constata-se, através do quadro 11, que 43 das 47 ocorrências de recursos
fornecidos pela rede social do empreendedor foram oriundas das redes privada e de
trabalho. Destas, 17 ocorrências se concentraram em informações sobre mercados
e como abrir a empresa, além de incentivo para empreender, com 15 ocorrências.
O quadro 11 apresenta, ainda, como a rede privada de Anderson participou
no fornecimento de recursos. O maior número de ocorrências de recursos fornecidos
por esta categoria de rede foi o “incentivo para a criação da empresa”, com 8 do total
100
de 15. Para os demais recursos listados, a rede privada também foi fonte. Contudo,
a rede de trabalho forneceu mais informações relacionadas ao negócio em si
(informações sobre o mercado, sobre o ramo, sobre como abrir a empresa, apoio
para selecionar mão de obra e indicação dos primeiros clientes), quando comparada
à rede privada.
Analisando-se os recursos fornecidos pela rede do empreendedor a partir da
intensidade dos laços (Granovetter, 1973), o quadro 12 apresenta a distribuição dos
mesmos, por laços fortes e laços fracos.
Quadro 12 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social do empreendedor,
distribuídos pela intensidade dos laços
INTENSIDADE DOS LAÇOS
LAÇOS
LAÇOS
FORTES
FRACOS
4
2
3
5
3
2
2
3
2
12
3
1
2
1
2
RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO
EMPREENDEDOR
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Informações sobre mercado
Informações sobre o ramo específico da empresa
Informações sobre como abrir a empresa
Apoio para identificar o ponto para a empresa
Suporte financeiro
Apoio para selecionar mão de obra
Incentivo emocional para empreender
Indicação dos primeiros clientes
Outros
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 12 demonstra que a maior parte dos recursos recebidos por
Anderson de sua rede social foi proveniente dos laços fortes. Observa-se que 47,33
ocorrências de recursos tiveram como fonte os laços fortes e 14 os laços fracos.
Estes recursos concentraram-se no incentivo emocional para empreender, com 12
ocorrências. Em seguida, destacam-se para os laços fortes as informações sobre o
negócio (recursos 1, 2 e 3). Os laços fracos apresentaram maior ocorrência, quando
comparados aos laços fortes, para a indicação dos primeiros clientes e alerta ao
empreendedor sobre os riscos inerentes ao processo de se criar uma empresa.
Para este empreendedor também se confirma a sustentação teórica de
Granovetter
(1973; 1985),
que
afirma
que
o
apoio
emocional
para
os
empreendedores tem como fonte mais os laços fortes do que os fracos. Excluindose esse recurso (incentivo emocional), os laços fortes continuam sendo a maior
fonte de recursos fornecidos ao empreendedor Anderson quando da criação de sua
101
empresa, assim como aconteceu para o entrevistado anterior. Este resultado
contradiz os resultados de outros estudos, por exemplo, aquele apresentado por
Vale e Guimarães (2010).
Moore (1990) e Vale (2011) demonstraram em seus estudos que há
diferenças nas redes pessoais de homens e mulheres. Ambos os autores afirmam
que as redes masculinas são focadas, na maioria, em colegas de trabalho, enquanto
as femininas mantêm familiares como a maior parte dos membros.
O empreendedor Anderson listou 46 pessoas como sendo de sua rede de
relacionamentos na época em que decidiu empreender. Destas, 34 eram do gênero
masculino e 22 do gênero feminino. Assim como para o entrevistado anterior, para
este empreendedor também se confirmou a tendência à homofilia (Wellman, 1999),
se observado somente o atributo de gênero.
Quanto à intensidade dos laços como fortes ou fracos (Granovetter, 1973), a
totalidade dos relacionamentos mapeados (46) foram caracterizados como laços
fortes (26 alteri) e 20 como fracos. Dos 26 laços fortes, 15 eram homens e 11
mulheres. Dos laços fracos, 13 eram homens e 07 eram mulheres.
Analisando-se
a
intensidade
dos
laços
(Granovetter,
1973)
e
os
correlacionando aos agrupamentos dos relacionamentos (Schott & Cheragui, 2012),
os laços fortes se concentraram nas redes privada e de trabalho, enquanto a maioria
dos laços fracos se concentrou na rede profissional.
Retornando à estratificação da rede social do empreendedor que forneceu a
ele algum tipo de recurso, foi criada uma matriz que favoreceu a visualização dos
alteri por atributo de gênero, categoria da rede e intensidade do laço. O quadro 13
apresenta estas informações.
102
Quadro13 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços
ALTER
B1
B2
B3
B4
B5
B6
B8
B9
B10
B11
B13
B17
B18
B23
B24
B43
B46
GÊNERO DO
ALTER
CATEGORIA DA REDE À QUAL
O ALTER PERTENCE
INTENSIDADE
DO LAÇO
Feminino
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede Profissional
Rede Profissional
Rede Privada
Rede de Trabalho
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Laço forte
Laço forte
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstrado no quadro 13, a rede social do empreendedor Anderson
foi composta por (i) 8 membros da rede privada, sendo 5 mulheres e 2 homens,
todos laços fortes; (ii) 7 da rede de trabalho, sendo 6 homens e 1 mulher, 2 laços
fortes e 5 laços fracos; e (iii) 2 membros da rede profissional, sendo 2 mulheres e
ambas laços fortes.
A fim de sintetizar a composição da rede do empreendedor em informações
quantitativas, foi elaborado um quadro síntese, apresentado a seguir.
103
Quadro 14 – Composição da rede social do empreendedor em percentuais
GÊNERO DOS
ALTERI NA REDE
Masculino:
53%
FORMAÇÃO DA
REDE SOCIAL DO
EMPREENDEDOR
POR CATEGORIA
PARTICIPAÇÃO DAS
REDES (POR
CATEGORIA) NO
FORNECIMENTO DE
RECURSOS
INTENSIDADE
DOS LAÇOS NA
REDE
Rede Privada: 47%
Rede Privada: 49%
Laços
Feminino: Rede Profissional:
Rede Profissional: 8% fortes:
47%
12%
70%
Rede de trabalho: 41% Rede de trabalho: 43%
Laços
Fracos:
30%
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 14 demonstra que 53% dos membros da rede do empreendedor
eram do sexo masculino, e 47% do sexo feminino. Quanto à categoria das redes por
agrupamento dos relacionamentos (Schott & Cheragui, 2012), 47% dos membros
pertenciam à rede privada, 41% à rede de trabalho e 12% à rede profissional.
Analisando-se a participação de cada categoria de rede no fornecimento de
recursos, verificou-se que 49% do apoio recebido pelo empreendedor quando criou
sua empresa teve como fonte a rede privada, 43% a rede de trabalho e 8% a rede
profissional. Quanto observada a intensidade dos laços presentes na rede, constatase que 70% eram laços fortes e 30% laços fracos.
A análise da necessidade da presença do ego para que os membros de sua
rede social se comunicassem foi realizada para os quatro empreendedores
pesquisados neste trabalho. Além da visualização da existência ou não de
relacionamentos inter-alteri sem a presença do ego ter sido apresentada através do
gráfico 2, essa análise pode ser realizada também através da matriz binária,
conforme apresentado pelo quadro 15. Esta matriz (QUADRO 15) demonstra
quando havia relacionamento com outro alter (número 1) e quando não havia
relacionamento entre os alteri sem a presença do ego (número 0).
104
Quadro 15 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri
RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI
ALTER B1
B2
B3
B4
B5
B6
B8
B9
0
1
1
0
0
0
1
1
1
0
1
0
0
0
1
0
-
1
1
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
-
1
1
1
0
1
1
1
1
0
1
0
0
0
1
-
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
-
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
-
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
1
-
1
1
1
0
1
0
0
0
0
0
-
1
1
0
0
0
0
0
0
0
B10
-
1
0
0
0
0
0
0
0
B11
1
-
0
0
0
0
0
0
0
-
0
1
0
0
0
1
-
0
0
0
0
0
-
0
0
0
1
-
1
0
0
-
0
0
-
0
B1
B2
B3
B4
-
B5
B6
B8
B9
B13
B10 B11 B13 B17 B18 B23 B24 B43 B46
B17
B18
B23
B24
B43
B46
-
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 15 apresenta a existência ou não de conexões entre os alteri da
rede social de Anderson. O número 1 significa que os alteri se relacionavam sem a
presença do empreendedor e o número 0 significa a inexistência de relacionamento,
ou seja, era necessário que Anderson estivesse presente para que houvesse
contato entre aquelas pessoas.
Os dados demonstram que 2 alteri da rede do empreendedor Anderson – B23
e B24 (rede profissional, laços fortes) – se relacionavam entre si somente, não
mantendo contato com os demais membros da rede social.
Buscando favorecer a visualização gráfica da rede social do empreendedor,
também para este foi criado, a partir dos dados inseridos no software Egonet, o
gráfico 2. O referido gráfico é a representação visual da rede social de Anderson,
identificando-se as categorias das redes, a intensidade dos laços, o gênero dos alteri
e se havia ou não contato entre eles sem a presença do empreendedor.
105
Gráfico 2 – Rede social do empreendedor, formada pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso
Fonte: Elaborado pela autora.
Pode-se observar que os membros da rede do empreendedor que lhe
forneceram
algum
tipo
de
apoio
para
empreender
se
caracterizavam
majoritariamente como rede privada (representada por círculos) e rede de trabalho
(representada por estrelas), sendo a minoria caracterizada como rede profissional
(quadrados). As figuras que possuem círculos no centro representam os alteri do
gênero feminino.
Como já discutido anteriormente, de acordo com os cinco tipos de
agrupamentos propostos por Schott e Cheraghi (2012), a rede social de Anderson
apresentou três deles, como demonstra o gráfico 2. Em números absolutos, as redes
mapeadas apresentaram-se como segue:
i) Rede privada (ou pessoal): composta por 8 membros, todos laços fortes;
ii) Rede de trabalho: composta por 7 membros, sendo 2 laços fortes e 5
fracos;
iii) Rede profissional: composta por 2 membros, ambos laços fortes.
106
Quanto ao gênero, os alteri do sexo feminino (representados pelas figuras
com círculo ao centro) estão presentes nos três agrupamentos (redes privada, de
trabalho e profissional), mesmo que em diferentes proporções. Entretanto, são
minoria quando comparados ao gênero masculino (figuras sem a marcação dos
círculos ao centro). Verifica-se que as mulheres da rede deste empreendedor estão
mais concentradas nas redes privada e profissional. É possível, ainda, observar que
a rede de trabalho é formada basicamente pelo sexo masculino.
Considerando-se a intensidade dos laços (Granovetter, 1973), as figuras com
o interior preenchido de preto são a representação dos laços fortes. As figuras sem
preenchimento representam os laços fracos. O gráfico 2 demonstra que a maioria
dos membros da rede social se caracterizou como laços fortes (12 alteri),
concentrados na rede privada, e a minoria como laços fracos (5 alteri), concentrados
na rede de trabalho.
Pode-se observar através do gráfico 2 que os três agrupamentos presentes
na rede social de Anderson possuem características distintas, tanto quanto à
categoria das redes, como quanto à intensidade dos laços. O primeiro agrupamento
é formado pelos alteri da rede profissional (B23 e B24, ambos laços fortes). As duas
pessoas da rede profissional interagem entre si, podendo ser observado pela
existência da linha de ligação. Entretanto, não há comunicação desta categoria (rede
profissional) com os demais membros da rede social do empreendedor.
O segundo agrupamento é composto pelos 7 alteri da rede de trabalho (B2,
B4, B5, B6, B13, B18, B46), sendo a maior parte deles laços fracos. Os membros
desta categoria de rede (de trabalho) se comunicam entre si e possuem uma ponte
para a rede privada – B3. O alter B3 era, ao mesmo tempo, amigo (rede privada,
laço forte) e colega de trabalho de Anderson, o que o possibilitava fazer esta ligação
entre as duas categorias de redes.
O terceiro agrupamento na rede social do empreendedor é formado por sua
rede privada, com 8 membros (B1, B, B8, B9, B10, B11, B17 E B43), sendo todos
laços fortes. Esta rede é formada, na maioria, por familiares próximos (família
nuclear) e amigos, sendo que B1 (cônjuge) mantém a centralidade neste
agrupamento, servindo de ponte entre B43 e o restante da rede privada e entre B17
e B3, B10, B9 e B11.
107
6.1.3 A rede social da empreendedora Ágatha Lefosse Junqueira (caso 3)
A avaliação dos fatores relativos à rede social como fonte de recursos para
Ágatha foi diversificada, levando-se em consideração questões que abordaram os
seguintes aspectos: informações sobre o mercado; informações específicas sobre o
ramo da empresa; suporte financeiro; apoio para selecionar mão de obra; e incentivo
para a criação da empresa (apoio emocional).
Segundo Runyan, Huddleston e Swinney (2006), as mulheres possuem
alguns dos mesmos recursos que os homens para a criação de um negócio.
Manolova (2007) afirma que as redes pessoais do empreendedor fornecem apoio
emocional para a iniciativa empreendedora.
A rede social da empreendedora Ágatha era formada por 36 pessoas e parte
dela forneceu alguns recursos no momento da criação da sua empresa. Mas, para
esta empreendedora, a sua decisão foi mais individual do que influenciada por
outros. Contudo, do total de 36 membros que formavam sua rede social, 11
forneceram algum tipo de apoio.
Considerando o agrupamento dos relacionamentos proposto por Schott e
Cheraghi (2012) – rede privada ou pessoal, rede de trabalho, rede profissional, rede
de mercado e rede internacional – e partindo dos alteri mapeados no gerador de
nomes, analisaram-se os recursos fornecidos pela rede social da entrevistada.
Foi elaborada uma matriz com os 36 nomes citados pela empreendedora e
estratificados os 11 que geraram algum tipo de recurso, indicando-se a qual
categoria de rede cada alter pertencia. Assim como a categoria da rede, foi
analisada também a intensidade dos laços como fortes ou fracos (Granovetter,
1973).
Os resultados demonstram que houve 17 ocorrências de recursos fornecidos
por 11 membros da rede social de Ágatha. Para esta empreendedora, 5 alteri
forneceram mais de um recurso e 6 somente um. Para preservar a privacidade da
entrevistada, os nomes dos alteri foram substituídos por siglas sequenciais de C1 a
C36. Os membros da rede que forneceram algum tipo de apoio são C1, C2, C4, C5,
C6, C7, C8, C11, C31 e C34.
O quadro 16 apresenta os recursos fornecidos a Ágatha quando a
empreendedora decidiu criar sua empresa, assim como as fontes desses recursos.
108
Quadro 16: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços
Alter
C1
C2
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C11
C31
C34
Categoria da
rede à qual o
alter pertence
Intensidade
do laço
Rede Privada
Rede Privada
Rede de Mercado
Rede de Mercado
Rede Privada
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede Privada
Rede de Mercado
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço fraco
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Recursos fornecidos6
1
2
3
4
5
x
x
x
6
7
8
9
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro demonstra que dos 8 recursos listados na pesquisa a rede social da
empreendedora forneceu 6 (informações sobre mercado; informações sobre o ramo
da empresa; informações sobre como abrir a empresa; suporte financeiro; apoio
para selecionar mão de obra; e incentivo emocional para a criação da empresa) e
outros recursos que não estavam listados (equipamentos para a empresa e incentivo
contrário que, segundo Ágatha, lhe serviu de estímulo). Os dois recursos que não
foram indicados por Ágatha como fornecidos pelos seus relacionamentos da época
em que empreendeu foram apoio para identificar o ponto (lembrando que este
recurso foi recebido somente para a segunda loja) e indicação dos primeiros
clientes.
Analisando-se, pois, a ocorrência de 16 recursos fornecidos pele rede social
da entrevistada a partir das cinco categorias apresentadas por Schott e Cheragui
(2012), observam-se que 9 foram oriundos da rede privada, 5 da rede de mercado e
3 da rede de trabalho.
Considerando-se a intensidade dos laços, dos 11 membros fornecedores de
recursos, 6 eram laços fortes e 5 laços fracos, segundo o conceito de Granovetter
6
Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3)
Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6)
Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação
dos primeiros clientes; e (9) Outros (equipamentos para a empresa e incentivo contrário, que lhe
serviu de estímulo).
109
(1973). A concentração dos recursos se deu nos laços fortes (11 ocorrências),
ficando 6 ocorrências de recursos nos laços fracos.
Uma mesma pessoa foi fonte de “informações sobre mercado” e “informações
sobre o ramo da empresa”, sendo ela parte da rede de mercado e laço forte.
Informações sobre como abrir uma empresa foram acessadas pela empreendedora
junto a um membro de sua rede privada, caracterizado como laço forte.
Quanto a suporte financeiro, o quadro 16 demonstra que 2 alteri membros da
rede de mercado (laços fracos) e 1 da rede privada (laço forte) foram fonte para a
empreendedora. Ágatha considera que o fornecimento de mercadorias em formato
de consignação e a redução do preço para aquisição de equipamentos junto aos
dois fornecedores (C4 e C5) foram “um importante suporte financeiro”. Além do
suporte
financeiro
através
de
desconto
para
fornecimento
dos
primeiros
equipamentos para a montagem da loja, C5 também forneceu apoio para selecionar
mão de obra. A empreendedora reforça que o suporte financeiro para a criação da
empresa também teve como fonte um familiar próximo (C6, rede privada, laço forte).
Enquanto 7 membros da rede privada (C1, C2, C6, C7, C8, C9 e C31, laços
fortes) da empreendedora forneceram incentivo emocional para a criação da
empresa, 1 membro da rede de trabalho (C11, laço fraco) foi contrário à iniciativa de
Ágatha. Entretanto, a mesma afirma que tal fato foi, para ela, também um fator
impulsionador à decisão de empreender.
Os resultados da pesquisa demonstram que a maioria dos recursos
fornecidos pela rede social de Agatha teve como fontes as redes privada, de
mercado e de trabalho, como apresenta o quadro 17:
110
Quadro 17 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes
CATEGORIA DA REDE
RECURSOS FORNECIDOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Informações sobre
mercado
Informações sobre o ramo
específico da empresa
Informações sobre como
abrir a empresa
Apoio para identificar o
ponto para a empresa
Suporte financeiro
Apoio para selecionar mão
de obra
Incentivo emocional para
empreender
Indicação dos primeiros
clientes
Outros
REDE PRIVADA
REDE DE
MERCADO
REDE DE
TRABALHO
-
1
-
-
1
-
1
-
-
-
-
-
1
2
-
-
1
-
5
-
3
-
-
-
2
-
-
Fonte: Dados da pesquisa.
Considerando-se a categorização das redes proposta por Schott e Cheragui
(2012), o quadro 17 demonstra que 99 das 17 ocorrências de recursos foram
fornecidos pela rede privada, 5 pela profissional e 3 pela rede de trabalho. Constatase, portanto, que a rede privada da entrevistada foi a principal fonte dos recursos por
ela recebidos quando decidiu empreender. Em segundo lugar encontra-se a rede de
mercado, com 5 ocorrências de recursos, seguida pela rede de trabalho, com 3.
Quanto à intensidade dos laços conceituada por Granovetter (1973), a rede
social da empreendedora apresenta a maior concentração de laços fortes, como
demonstrado no quadro 18:
111
Quadro 18 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,
distribuídos pela intensidade dos laços
RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO
EMPREENDEDOR
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Informações sobre mercado
Informações sobre o ramo específico da empresa
Informações sobre como abrir a empresa
Apoio para identificar o ponto para a empresa
Suporte financeiro
Apoio para selecionar mão de obra
Incentivo emocional para empreender
Indicação dos primeiros clientes
Outros
INTENSIDADE DOS LAÇOS
LAÇOS
LAÇOS
FORTES
FRACOS
1
1
1
1
2
1
5
2
2
1
Fonte: Dados da pesquisa.
Os laços fortes forneceram 11 das 17 ocorrências de recursos e os fracos os
6 restantes, como apresentado pelo quadro 18.
Granovetter (1973; 1985) afirma que são os laços fortes os que mais
fornecem apoio emocional ao empreendedor. Esta sustentação se confirmou
também para Ágatha, que teve como fontes para este recurso 5 laços fortes.
Analisando-se a rede social da empreendedora por gênero, dos 36
relacionamentos listados por Ágatha na época em que decidiu empreender, 24 eram
mulheres e 12 homens. Confirma-se, portanto, também para esta entrevistada, a
tendência à homofilia sustentada por Wellman (1999), se isolado o atributo de
gênero. Estratificando-se as 24 mulheres da sua rede de relacionamentos, 16 foram
caracterizadas como laços fortes e as demais como laços fracos. Dos 12
relacionamentos masculinos, 5 eram laços fortes e 7 laços fracos (Granovetter,
1973).
Isolando-se os 11 alteri fornecedores de recursos essa tendência se mantém,
visto que 6 eram do gênero feminino e 5 do gênero masculino. A rede social dos
empreendedores pesquisados neste trabalho foi estudada também segundo a força
dos laços descrida por Granovetter (1973). Considerando-se a intensidade dos laços
para os gêneros da rede, enquanto 4 das 6 mulheres eram laços fortes, 3 dos 5
homens eram laços fracos, como demonstrado no quadro 19.
112
Quadro 19 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços
Alter
GÊNERO DO
ALTER
A1
A2
A4
A5
A6
A7
A8
A9
A11
A31
A34
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Categoria da rede à qual o
alter pertence
Rede Privada
Rede Privada
Rede de Mercado
Rede de Mercado
Rede Privada
Rede Privada
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede de Trabalho
Rede Privada
Rede de Mercado
Intensidade do
laço
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Laço fraco
Laço fraco
Laço fraco
Laço forte
Laço forte
Fonte: Dados da pesquisa.
O exposto pelo quadro 19 mostra que, quanto ao agrupamento dos
relacionamentos fornecedores de recursos, conforme Schott e Cheraghi (2012), e
analisados como laços fortes, a maior parte compunha a rede privada, com 5 dos 6
alteri. Os 05 laços fracos se dividiram entre a rede de trabalho (03 alteri) e a rede de
mercado (02 alteri).
O quadro 19 demonstra, ainda, que os fornecedores de recursos, distribuídos
por gênero do alteri (6 do gênero feminino e 5, do masculino), assim se
caracterizavam: (i) 5 como rede privada e laços fortes; (ii) 3 como rede de trabalho e
laços fracos; (iii) 3 como rede de mercado, sendo 2 laços fracos e 1 laço forte.
A análise da rede social de Ágatha também foi realizada através dos
indicadores quantitativos gerados pelo software Egonet. O quadro 20 apresenta a
composição da rede em percentuais.
Quadro 20 – Composição da rede social da empreendedora em percentuais
GÊNERO DOS
ALTERI NA REDE
FORMAÇÃO DA
REDE SOCIAL DO
EMPREENDEDOR
POR CATEGORIA
Rede Privada: 46%
Masculino:
Feminino Rede de Trabalho:
45%
: 55% 27%
Rede de Mercado:
27%
Fonte: Dados da pesquisa.
PARTICIPAÇÃO DAS
REDES (POR
CATEGORIA) NO
FORNECIMENTO DE
RECURSOS
Rede Privada: 53%
Rede de Trabalho:
18%
Rede de Mercado:
29%
INTENSIDADE
DOS LAÇOS NA
REDE
Laço
forte:
55%
Laço
Fraco:
45%
113
A análise dos resultados demonstra que 55% dos alteri eram do gênero
feminino e 45% do gênero masculino. Isto sugere, também para Ágatha, a tendência
à homofilia apresentada por Wellman (2010), se analisado especificamente o
atributo de gênero na rede. Os laços fortes apresentam-se como maioria na rede
social da empreendedora. Enquanto os laços fracos são 45%, os classificados como
fortes (Granovetter, 1973; 1985) são 55%.
Quanto à categoria das redes, conforme sustentação teórica de Schott e
Cheragui (2012), 46% dos membros pertenciam à rede privada e, igualmente, 27% à
rede de trabalho e à rede de mercado. Dos recursos fornecidos pela rede social de
Ágatha, a rede privada foi a apresentou-se com maior percentual de apoios à
empreendedora. (53%). A rede de mercado ficou em segundo lugar com 29%,
seguida da rede de trabalho, com 18% dos recursos fornecidos.
Dando sequência à análise da rede social de Ágatha, foi criada uma matriz
com os 11 membros da rede social do ego que forneceram algum tipo de recurso. A
matriz possibilitou a visualização dos atributos dos alteri e o mapeamento da
necessidade da presença do ego para que houvesse relacionamento entre aqueles,
como apresenta o quadro 21:
Quadro 21 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri
RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI
ALTER
C1
C2
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C11
C31
C34
C1
-
1
0
1
1
1
0
0
0
0
0
-
1
1
1
1
0
0
0
0
0
-
0
0
0
0
0
0
0
0
-
1
0
0
0
0
0
0
-
1
0
0
0
1
1
-
0
0
0
0
0
-
1
1
0
0
-
1
0
0
-
0
0
-
0
C2
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C11
C31
C34
Fonte: Dados da pesquisa.
-
114
Considerando que 1 significa a existência e 0 a inexistência de
relacionamentos entre os membros da rede da empreendedora, os resultados
demonstram a necessidade da sua presença para que houvesse o contato para
parte da rede social.
O quadro 21 demonstra que nenhum alter se relaciona com todos os outros.
Isto demonstra a necessidade da presença de Ágatha. Entretanto, como exposto
anteriormente, há relacionamento entre os membros da rede privada e alguns
contatos com a rede de mercado. Não há relacionamento destas duas redes com a
rede de trabalho, onde os alteri se relacionam todos entre si.
A utilização do software Egonet nesta pesquisa possibilitou a geração de
gráficos, favorecendo a visualização das redes sociais dos entrevistados,
contemplando os atributos dos alteri, a intensidade dos laços e a existência (ou não)
de relacionamento entre eles. O gráfico 3 demonstra o exposto.
Gráfico 3 – Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que
forneceram algum tipo de recurso
Fonte: Elaborado pela autora.
O gráfico 3 apresenta a visualização da rede social de Ágatha, segundo
gênero, atributo (categoria das redes), intensidade dos laços e existência (ou não)
de relacionamento entre os laços do ego.
115
Verifica-se que a rede da empreendedora era composta pelo agrupamento
dos seus membros em redes privada (representada por círculos), de trabalho
(representada por estrelas) e de mercado (representada por triângulos), segundo
descrevem Schott e Cheraghi (2012). A partir desta sustentação teórica (Schott &
Cheraghi, 2012) e analisando a rede formada somente pelos alteri que forneceram
algum tipo de recurso na época em que a entrevistada decidiu empreender, a
configuração em números absolutos se deu como segue:
iv) Rede privada (ou pessoal): 5 membros, sendo todos laços fortes;
v) Rede de trabalho: 3 membros, sendo todos laços fracos; e
vi) Rede de mercado: 3 membros, sendo 1 laço forte e 2 fracos.
As figuras com círculos ao centro são a representação do gênero feminino,
sendo as demais figuras as que representam os membros da rede que são do sexo
masculino. A maior parte dos alteri que compuseram a rede social da
empreendedora se caracterizou como laços fortes (figuras preenchidas em preto).
Enquanto os laços fortes se concentraram na rede privada, formada, em sua
maioria, por familiares, os laços fracos se concentraram nas redes de mercado (3
alteri) e de trabalho (2 alteri).
O gráfico 3 permite observar que a rede de Ágatha possui dois agrupamentos,
com características distintas. O primeiro agrupamento é formado por alteri da rede
privada (C2, C1, C7, C6 e C31 – todos laços fortes) e da rede de mercado (C4, C5 –
laços fracos e C34 – laço forte), que na maioria se relacionavam entre si. C4, que
era um fornecedor da empresa de Agatha e prestava serviços anteriormente para o
empreendimento do pai (C2), apresenta ligação direta somente com este (C2). C31
(familiar distante) apresenta ligação direta somente com C6 (familiar nuclear), que
centraliza as ligações da rede. O mesmo se repete para C34.
O segundo agrupamento é formado exclusivamente pela rede de trabalho
(C11, C9 e C8 – todos laços fracos). Os alteri desta rede se comunicavam entre si;
no entanto, não se comunicavam com os demais alteri da rede social da
empreendedora, sem a sua presença, formando, assim, uma clique (Wellman,
1981).
116
6.1.4 A rede social da empreendedora Valda Eurides Sanchez (caso 4)
Embora a decisão empreendedora de Valda ter se dado há mais de vinte anos,
através de estímulos foi possível que a entrevistada se recordasse dos seus
relacionamentos presentes na época, assim como dos fatos importantes para o
empreendimento. Pode-se constatar, assim como para os empreendedores
descritos anteriormente, que a rede social de Valda foi fonte de diversos recursos
quando do momento em que se tornou empresária. Apesar de Valda ter se tornado
empreendedora há mais de vinte anos, foi possível resgatar em sua memória os
relacionamentos da época, sobretudo os que lhe forneceram algum tipo de apoio
para a decisão de empreender.
Segundo Valda, além do fundamental apoio emocional dado pelo pai desde o
momento da tomada de decisão até os primeiros anos de atividade da empresa,
outros fatores foram decisivos para decidir empreender. Valda diz que,
primeiramente, ela e a irmã Valma estavam sempre juntas e isso encorajava
ambas a assumirem os riscos da decisão. O outro fator relevante foi a
importância dada à indicação que a ex-professora e sócia da Cultura
Inglesa de Uberaba fez às duas irmãs, para que assumissem a escola em
seu lugar. [...] Esta indicação e confiança recebidas foram fundamentais
para que decidissem se tornar empreendedoras naquela empresa. E,
finalmente e, tão importante para a entrevistada quanto as anteriores, foi a
vontade de não deixar o negócio daquela escola de inglês acabar.
Ainda sobre inspiração, mas, neste caso, em relação à forma de gerir o
negócio que estava por ser assumido, outro membro da rede social da
empreendedora se destacou. Por se tornar uma referência de organização
empresarial e pela forma que conduzia a empresa da qual estava à frente, o alter
D19 (laço fraco), segundo Valda, foi referência e as inspirou no quesito gestão.
Além do incentivo emocional, outros apoios foram fornecidos pela rede social
da empreendedora. Tendo em vista a descrição teórica de Schott e Cheraghi (2012),
que sustentam que as redes sociais dos empreendedores podem ser redes privadas
(ou pessoais), redes de mercado, redes de trabalho, redes profissionais ou
internacionais, e a definição de laços fortes e laços fracos de Granovetter (1973),
esses recursos foram mapeados e analisados, também para Valda.
Assim como para os entrevistados anteriores, foi elaborada uma matriz – o
gerador de nomes – contendo os 41 nomes dos relacionamentos da empreendedora
117
na época em que empreendeu. Entretanto, a análise da rede social se concentrou
nos 16 membros da rede que forneceram algum tipo de recurso.
Os resultados da pesquisa demonstram que houve 31 ocorrências de recursos
fornecidos por 16 alteri da rede social de Valda, sendo que 7 alteri foram fontes de
mais de um recurso.
Buscando preservar a privacidade da entrevistada e de sua rede social, os
nomes das pessoas foram substituídos por siglas (D1 a D41). O quadro 22
apresenta, por categoria da rede (Schott & Cheragui, 2012) e por intensidade dos
laços (Granovetter, 1973), os recursos recebidos pela empreendedora de sua rede
social.
Quadro 22: Recursos fornecidos por tipo de rede e intensidade dos laços
Alter
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D8
D9
D11
D12
D13
D14
D17
D19
D40
Categoria da
rede à qual o
alter pertence
Intensidade
do laço
Rede Privada
Rede Privada
Rede de mercado
Rede trabalho
Rede de mercado
Rede de mercado
Rede de mercado
Rede de trabalho
Rede de trabalho
Rede de trabalho
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede trabalho
Rede de mercado
Forte
Forte
Forte
Forte
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Forte
Forte
Forte
Forte
Forte
Fraco
Recursos fornecidos7
1
2
3
4
5
6
X
x
x
x
x
x
x
x
7
8
x
x
x
x
x
x
x
x
9
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Fonte: Dados da pesquisa.
Os resultados demonstram que todos os recursos listados foram recebidos por
Valda de, pelo menos, um dos alteri. Além dos 8 recursos listados na pesquisa, para
ela o “suporte acadêmico” foi um apoio também oriundo da sua rede social.
7
Recursos fornecidos: (1) Informações sobre mercado; (2) Informações sobre o ramo da empresa; (3)
Informações sobre como abrir a empresa; (4) Apoio para identificar o ponto; (5) Suporte financeiro; (6)
Apoio para selecionar mão de obra; (7) Incentivo emocional para a criação da empresa; (8) Indicação
dos primeiros clientes; e (9) Outros (Suporte acadêmico).
118
Segundo Valda, durante certo período o suporte acadêmico foi acessado por
meio de 2 membros da sua rede de mercado (D6 e D7, laços fracos). O primeiro foi
a Cultura Inglesa de Uberaba, à qual a Cultura Inglesa de Araxá/MG já havia
pertencido como filial. No início das atividades, as empreendedoras viajavam para
Uberaba/MG duas vezes por semana para receber esse suporte.
A segunda fonte para o suporte acadêmico foram as editoras internacionais
que, como relata Valda, ofertavam cursos a baixo custo. Esse acesso aos cursos
fornecidos pelas editoras internacionais foi realizado através de outro membro da
sua rede de mercado, que atuava em São Paulo/SP (D40, laço fraco). Esta fonte
disseminava as informações sobre os cursos pertinentes às sócias e, ainda hoje, faz
parte da sua rede de mercado.
Analisando, pois, as 31 ocorrências de recursos fornecidos pela rede social
da empreendedora, apresentadas no quadro 22, observa-se que os mesmos se
dividiram nas redes privada, de trabalho e de mercado, conforme agrupamentos de
relacionamentos propostos por Schott e Cheragui (2012). Na rede de mercado
houve 13 ocorrências de recursos, 11 na rede privada e 6 na rede de trabalho.
Quanto à intensidade dos laços sustentada por Granovetter (1973) como
laços fortes e laços fracos, os 16 membros fontes de recursos foram caracterizados
como 9 laços fortes e 6 fracos. Não foi percebido, para esta empreendedora,
concentração de recursos por intensidade dos laços. Constatou-se, pois, que
aproximadamente a metade dos recursos foi oriunda de laços fortes e a outra
metade dos laços fracos.
O alter D6 (rede de mercado, laço fraco) foi fonte de “informações sobre
mercado” e “informações sobre o ramo da empresa”. Além de D6, o alter D5 também
forneceu informações sobre mercado para a empreendedora. Para os recursos
“informações sobre como abrir uma empresa” e “apoio para identificação do ponto”
foram fontes, novamente, D6 e D14 (rede privada, laço forte), além de D7 (rede de
mercado, laço fraco).
Cabe realçar que como a empresa já estava instalada quando a
empreendedora Valda e sua sócia (a irmã Valma) entraram na sociedade, não foi
necessária a escolha do ponto. Contudo, quando assumiram a totalidade da
empresa, contaram com o apoio de dois membros da rede social para contratos de
novas instalações. Constatou-se que este recurso foi fornecido por 2 membros da
119
rede de mercado, sendo ambos laços fracos, e um membro da rede privada (laço
forte).
O apoio para seleção de mão de obra foi fornecido por 2 membros da rede
social da empreendedora, pertencendo o primeiro à rede de mercado (D3) e o
segundo à rede de trabalho (D4), ambos laços fortes.
Como descrito anteriormente, a empreendedora Valda recebeu incentivo
emocional para a sua decisão de empreender. A maior parte das fontes desse
recurso se caracterizou como rede privada e laços fortes, sendo elas D1, D2, D12,
D13 e D14. Este apoio foi, ainda, fornecido por parte da rede de trabalho - D4 (laço
forte), D8 (laço fraco) e D11 (laço fraco) - e por D5, que era membro da rede de
mercado e laço fraco.
A indicação dos primeiros clientes foi um recurso novamente fornecido por
D2, D4, D6, D7 e o único recebido de D17 (rede privada, laço forte).
Por fim, a empreendedora recebeu, ainda de sua rede social e como descrito
anteriormente, suporte acadêmico para a empresa. Este recurso foi fornecido por D6
e D7 (rede de mercado, laço fraco), por D19 (rede de trabalho, laço forte) e por D40
(rede de mercado, laço fraco).
Considerando a definição proposta por Schott e Cheraghi (2012), que
agrupam os relacionamentos dos empreendedores em cinco categorias (rede
privada, rede de trabalho, rede profissional, rede de mercado e rede internacional), a
rede de Valda foi composta de três tipos: rede privada; rede de trabalho; e rede de
mercado. A análise dos resultados aponta que a rede privada foi a que mais
forneceu recursos para a empreendedora quando a mesma decidiu empreender,
seguida pela rede de mercado e, por último, a rede de trabalho. O quadro 23
demonstra o aqui apresentado.
120
Quadro 23 – Quantidade de recursos fornecidos por categoria das redes
CATEGORIA DA REDE
RECURSOS FORNECIDOS
REDE PRIVADA
REDE DE
TRABALHO
REDE DE
MERCADO
1
Informações sobre
mercado
-
-
2
2
Informações sobre o ramo
específico da empresa
-
-
1
3
Informações sobre como
abrir a empresa
1
-
1
4
Apoio para identificar o
ponto para a empresa
1
-
2
5
Suporte financeiro
1
-
-
6
Apoio para selecionar mão
de obra
1
1
7
Incentivo emocional para
empreender
6
3
1
8
Indicação dos primeiros
clientes
2
1
2
9
Outros
-
1
3
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstrado no quadro 23, a rede privada apresentou 11 ocorrências
de recursos fornecidos, a rede de mercado 13 e a rede de trabalho 6. Constata-se,
pois, que a rede privada foi a principal fornecedora de recursos para a
empreendedora.
Analisando a descrição das redes dos empreendedores apresentada por
Schott e Cheraghi (2012) e atribuindo a força dos laços sustentada por Granovetter
(1973), os resultados da análise da rede social de Valda demonstraram o que segue:
da rede privada da empreendedora, com 6 membros, todos eram fortes; dos 5
membros da rede de trabalho, 02 configuravam-se como laços fortes e 03 como
fracos; e, por fim, dos 5 laços da rede de mercado 4 eram fracos e 1 forte, segundo
os conceitos de Granovetter (1973).
Quando se analisa o fornecimento de recursos quanto à intensidade dos
laços, constata-se que houve um equilíbrio entre os fortes e os fracos, como descrito
no quadro 24.
121
Quadro 24 – Tipos de recursos fornecidos pela rede social da empreendedora,
distribuídos pela intensidade dos laços
INTENSIDADE DOS LAÇOS
RECURSOS FORNECIDOS PELA REDE DO
EMPREENDEDOR
LAÇOS
FORTES
LAÇOS
FRACOS
1
Informações sobre mercado
-
2
2
Informações sobre o ramo específico da empresa
-
1
3
Informações sobre como abrir a empresa
1
1
4
Apoio para identificar o ponto para a empresa
1
2
5
Suporte financeiro
1
-
6
Apoio para selecionar mão de obra
2
-
7
Incentivo emocional para empreender
7
4
8
Indicação dos primeiros clientes
3
2
9
Outros
1
3
Fonte: Dados da pesquisa.
Certificou-se que os laços fortes forneceram 6 dos 8 recursos listados na
entrevista, acrescentando o suporte acadêmico, que não estava listado.
Das 31 ocorrências de recursos, 16 foram fornecidos pelos laços fortes e 15
pelos laços fracos, como apresentado no quadro 24. Assim como para os
entrevistados anteriores, também para Valda o apoio emocional foi o recurso que
mais se concentrou nos laços fortes.
Granovetter (1973; 1985) afirma que as redes sociais dos empreendedores
fornecem a eles diferentes tipos de recursos. Para o autor, os laços fracos fornecem
recursos como informações novas à rede, enquanto os laços fortes fornecem apoio
emocional. Manolova (2007) afirma que as redes pessoais do empreendedor
fornecem a ele apoio emocional para a iniciativa empreendedora. Esta sustentação
teórica confirma-se também para esta empreendedora.
Em complemento, observa-se que, como para os demais entrevistados,
também para Valda a maioria dos laços que compõem a rede privada caracteriza-se
como laço forte.
A rede social da empreendedora foi formada por 40 membros e, destes, 16
forneceram algum tipo de recurso no momento em que Valda decidiu empreender.
122
Segundo a empreendedora, parte da sua rede influenciou a sua decisão de se tornar
uma empresária. Integrada a esta influência, a entrevistada afirma que
quando empreendeu, um grande fator motivador foi a vontade de manter o
negócio da Cultura Inglesa em Araxá funcionando. Seu envolvimento
emocional com a escola compôs a decisão de, junto à irmã, assumir a
empresa”.
Com base nos dados da pesquisa, pode-se afirmar que dos 40 membros que
compunham a rede social de Valda, 22 eram mulheres e 18 homens. Se isolado o
atributo de gênero, confirma-se o exposto por Lin (1981) e Wellman (1999), que
afirmam que os indivíduos tendem à homofilia, ou seja, têm conexões sociais com
pessoas semelhantes.
Analisando-se os 16 alteri fornecedores de algum tipo de apoio, a maioria
feminina se mantém, com 9 pessoas, como demonstrado no quadro 25.
Quadro 25 – Mapeamento dos alteri por atributo de gênero, categoria da rede e
intensidade dos laços
Alter
GÊNERO DO
ALTER
Categoria da rede à qual o
alter pertence
Intensidade do
laço
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D8
D9
D11
D12
D13
D14
D17
D19
D40
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Rede Privada
Rede Privada
Rede de mercado
Rede trabalho
Rede de mercado
Rede de mercado
Rede de mercado
Rede de trabalho
Rede de trabalho
Rede de trabalho
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede Privada
Rede trabalho
Rede de mercado
Forte
Forte
Forte
Forte
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Fraco
Forte
Forte
Forte
Forte
Forte
Fraco
Fonte: Dados da pesquisa.
A análise do quadro 25 mostra que, segundo o conceito de agrupamento dos
relacionamentos de Schott e Cheraghi (2012) e atribuindo a intensidade dos laços
como fortes ou fracos (Granovetter, 1973), os membros da rede privada de Valda
123
possuem maioria caracterizada como rede privada (6 alteri), sendo todos laços
fortes. As redes de trabalho e de mercado apresentam a mesma quantidade de alteri
– 5 cada uma. A rede de trabalho possui 3 laços fracos e 1 forte e a de mercado, 4
laços fracos e 1 forte.
Ao caracterizar os laços femininos e masculinos, observa-se que, dos 9 alteri
femininos, 5 caracterizaram-se como laços fortes (2 da rede privada, 2 da rede de
trabalho e 1 da rede de mercado) e 4 como laços fracos. Torna-se possível analisar,
ainda sob a perspectiva de gênero, que os 16 alteri fornecedores de recursos (9
mulheres e 7 homens) estão assim caracterizados: (i) rede privada: 4 homens e 2
mulheres, sendo todos laços fortes; (ii) rede de trabalho: 4 mulheres (2 laços fortes e
2 laços fracos) e 1 homem (laço fraco); (iii) rede de mercado: 3 mulheres (1 laço
fraco e 2 fortes) e 2 homens, sendo ambos laços fracos.
Foi feita uma síntese das informações quantitativas da rede social de Valda,
relacionadas a gênero dos alteri, percentuais das categorias das redes (privada, de
trabalho e de mercado), participação das categorias no fornecimento de recursos e
percentual de laços fortes e fracos na rede da empreendedora (QUADRO 26).
Quadro 26 – Composição da rede social da empreendedora em percentuais
GÊNERO DOS
ALTERI NA REDE
FORMAÇÃO DA
REDE SOCIAL DO
EMPREENDEDOR
POR CATEGORIA
Rede Privada: 38%
Masculino: Feminino: Rede de Trabalho:
31%
44%
56%
Rede de Mercado:
31%
PARTICIPAÇÃO
DAS REDES (POR
CATEGORIA) NO
FORNECIMENTO
DE RECURSOS
Rede Privada: 35%
Rede de Trabalho:
23%
Rede de Mercado:
42%
INTENSIDADE
DOS LAÇOS NA
REDE
Laços
fortes:
56%
Laços
Fracos:
44%
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 26 mostra que 56% dos alteri eram do gênero feminino e 44% do
gênero masculino. Quanto à categoria das redes, segundo Schott e Cheragui (2012),
38% dos membros pertenciam à rede privada, 31% à rede de trabalho e 31% à rede
de mercado.
A necessidade ou não da presença da empreendedora para que os membros
da sua rede se relacionassem foi pesquisada durante as entrevistas. A matriz
elaborada com os 16 alteri fornecedores de apoio à empreendedora (QUADRO 27)
124
reforça a existência ou não dos relacionamentos inter-alteri. O número 1 significa
que havia relacionamento e o número 0 significa a inexistência.
Quadro 27 – Mapeamento de relacionamentos inter-alteri
RELACIONAMENTOS INTER-ALTERI
ALTER
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D8
D9
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D8
D9
D11
D12
D13
D14
D17
D19
D40
-
1
-
0
1
-
0
1
1
-
0
1
0
0
-
0
1
0
0
1
-
0
1
0
0
1
1
-
0
1
0
0
0
0
0
-
0
1
0
0
0
0
0
0
-
D11 D12 D13 D14 D17 D19 D4O
0
1
0
0
0
0
0
0
0
-
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
-
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
-
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
1
-
0
1
0
1
0
0
0
0
0
0
1
0
0
-
0
1
0
0
0
0
0
1
0
1
0
0
1
0
-
0
1
0
0
1
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
-
Fonte: Dados da pesquisa.
Com relação à necessidade ou não da presença da empreendedora para o
relacionamento entre os membros da sua rede, os resultados demonstram que, para
a maioria dos relacionamentos, precisavam da presença de Valda (QUADRO 27).
Os resultados demonstram que parte da rede social da empreendedora se
relacionava entre si (número 1). Para a outra parte da rede, demonstrada pelos
números 0, a presença de Valda era necessária para que houvesse conexão entre
os alteri.
Pode-se contatar que, dos 16 alteri fornecedores de recursos, D9 é o único
que mantinha contato com apenas um outro membro da rede (D2). Isto pode ser
observado também no gráfico 4.
Para a visualização gráfica da rede da empreendedora, foi utilizado o Egonet,
assim como para os demais entrevistados. Desta forma, o gráfico 4 apresenta a rede
social de Valda, contemplando os atributos dos alteri, a intensidade dos laços e a
existência (ou não) de relacionamento entre eles.
125
Gráfico 4 – Rede social da empreendedora, formada pelos alteri que
forneceram algum tipo de recurso
Fonte: Elaborado pela autora.
Como demonstrado, o gráfico 4 apresenta visualmente os resultados já
descritos até no momento. A rede social da empreendedora Valda foi composta por
três agrupamentos, quais sejam: rede privada (representada por círculos), rede de
trabalho (representada por estrelas) e rede de mercado (representada por
triângulos). Dois destes agrupamentos se caracterizaram por não haver, neles,
membros de outra rede. São a rede de trabalho e a rede de mercado. Os alteri com
preenchimento em preto são a representação dos laços fortes, e as figuras sem
preenchimento são os laços fracos. As figuras que possuem um círculo ao centro
representam o gênero feminino e aquelas sem círculo ao centro são a representação
do gênero masculino na rede social da empreendedora.
A rede de trabalho foi formada somente por 5 alteri (D4, D8, D11, D19 e D9),
sendo um laço forte (D4) e os demais laços fracos. Quanto ao gênero, este
agrupamento apresentou 4 alteri do sexo feminino (3 laços fracos e 1 forte) e 1 do
sexo masculino (laço fraco). Os membros desta rede não estão todos diretamente
conectados. Observa-se que o arter D4 (laço forte), embora seja membro da rede de
trabalho, está ligado a esta via D2 (rede privada). Da mesma forma apresenta-se a
maioria dos membros da rede de trabalho, que é conectada ao restante da rede
social da empreendedora por membros da rede privada (D14 e D2).
126
A rede de mercado, representada por triângulos (D5, D6, D7 e D40), sendo 2
mulheres e 2 homens (todos laços fracos), apresenta-se semelhante à rede de
trabalho. A rede de mercado é ligada ao restante da rede social, também por D2.
Vale observar que a rede de mercado possui, ainda, o alter D3 (sexo feminino, laço
forte). Entretanto, D3 não está ligado diretamente ao restante desta rede. Assim
como D4, D3 se conecta aos demais membros da sua categoria de rede através de
outro alter (D2).
Analisando-se a rede privada (D1, D2, D12, D13, D14 e D17), como
demonstra o gráfico 4 e como discutido anteriormente, quanto à intensidade dos
laços, todos se caracterizam como laços fortes (círculos preenchidos de preto),
sendo 2 alteri do sexo feminino e 4 do masculino. A rede privada mantém ligação
com a rede de trabalho e com a rede de mercado. Com a rede de trabalho, a ligação
se dá pelos alteri D14 e D2; com a rede de mercado, exclusivamente através de D2.
A partir desta sustentação teórica (SCHOTT E CHERAGHI, 2012), a
configuração da rede social da empreendedora se sintetiza em:
i) Rede privada: 06 membros, sendo todos laços fortes;
ii) Rede de trabalho: 5 membros, sendo 4 laços fracos e 1 laço forte; e
iii) Rede de mercado: 5 membros, sendo 04 laços fracos e 1 laço forte.
Ressalta-se que, para esta entrevistada, os três agrupamentos caracterizados
como rede privada, rede de trabalho e rede de mercado apresentavam conexão
entre si através de pelo menos um alter.
A necessidade da presença da empreendedora para que os membros da sua
rede se relacionassem foi pesquisada durante a entrevista. Neste sentido, observase que para parte deles era preciso que Valda estivesse presente. As linhas que
unem um alter a outro (GRÁFICO 4), demonstram que havia conexão sem a
presença de Valda. As figuras sem linhas entre si caracterizam ausência de
relacionamento.
127
6.2 Análise comparativa dos casos
O estudo dos casos dos quatro empreendedores pesquisados neste trabalho
possibilitou a análise da influência das redes quando os mesmos decidiram
empreender. Além da influência das redes, este estudo abordou as motivações que
os levaram à criação das respectivas empresas. O quadro 28 e as informações que
o sucedem apresentam a análise comparativa dos resultados encontrados.
Quadro 28: Comparação entre os casos, quanto à influência de suas redes
1
2
3
4
5
6
A rede social do (a) empreendedor (a) forneceu
recursos quando decidiu empreender.
Os laços fortes forneceram incentivo (apoio
emocional).
As redes dos empreendedores possuem mais
pessoas do mesmo gênero do que do sexo
oposto.
Houve modelo de referência familiar para
empreender.
Quanto aos fatores que levaram a empreender,
“ter mais tempo com a família”, recebeu o maior
peso.
Quanto aos fatores que levaram a empreender, a
“realização profissional” recebeu o maior peso.
CULTURA
INGLESA
ARAXÁ
ORIGINALLE
INFLUÊNCIA
DAS REDES SOCIAIS
E O PESO DOS FATORES
PARA A DECISÃO DE EMPREENDER
BACANA
BOLSAS
EMPRESAS
PESQUISADAS
CAÇA
TALENTOS
sociais e ao principal fator que motivou a decisão de empreender
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Sim
Sim
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 28 apresenta a síntese da participação das redes sociais (1 a 4) e
dos principais fatores (5 e 6) que influenciaram os empreendedores a empreender.
A análise dos resultados da pesquisa versou em torno da rede social que forneceu
algum tipo de apoio aos indivíduos focais do estudo (QUADRO 28). Desta forma,
será apresentado o quanto e como as respectivas redes sociais participaram do
processo empreendedor, sob a dimensão de tamanho, natureza e intensidade dos
laços, quantidade de laços úteis e tipos de recursos provenientes das respectivas
redes.
128
Neste capítulo, serão apresentadas as conclusões da pesquisa, que foram
baseadas no referencial teórico, cujas proposições foram discutidas ao longo da
análise de cada caso. As conclusões dos resultados, como demonstrado ao longo
deste trabalho, estão pautadas no estudo dos casos, processamento dos dados e
análise de conteúdo.
A comparação das redes sociais dos empreendedores está, portanto,
organizada em três partes que compõem a próxima seção. Na primeira, busca-se
comparar as redes dos egos, elucidando-as através da comparação das redes
sociais e das influências por gênero. A segunda apresentará, para cada caso
estudado, quais as proposições teóricas discutidas no Capítulo 2 foram, ou não,
confirmadas e quais foram refutadas. Por fim, a terceira parte discutirá as
contribuições e limitações deste trabalho, apresentando sugestões para pesquisas
futuras.
6.2.1 Comparação das redes sociais dos empreendedores
A
análise
dos
resultados
demonstrou
que
as
redes
sociais
dos
empreendedores contribuíram para a criação dos respectivos empreendimentos.
Contudo, a composição das redes apresentou variação entre os entrevistados, tanto
com relação à natureza dos laços quanto à intensidade dos mesmos e, também,
quanto à composição das redes.
Analisando-se o período em que os egos decidiram empreender, pode-se
confirmar que a rede privada (Schott & Cheragui, 2012) foi a de maior relevância
para os quatro empreendedores pesquisados. A mesma constatação se repetiu para
os laços fortes, que se apresentaram como os de principal participação no
fornecimento de recursos para os egos, se comparados aos laços fracos.
Estudar quem são as fontes e quais os tipos de apoio foram fornecidos aos
empreendedores pesquisados possibilitou compreender como suas redes sociais
influenciaram a decisão de empreender.
Para facilitar essa compreensão, foi elaborada a síntese das informações
acima descritas, como apresenta o quadro 29. As informações estão assim
organizadas: relacionamentos ativos de cada ego na época em que decidiu
empreender; laços úteis para o processo de criação da empresa; natureza dos laços
(categoria das redes em privada, de mercado, de trabalho ou profissional);
129
intensidade dos laços (fortes ou fracos); e a intensidade versus a natureza dos
laços.
Quadro 29: Quadro síntese da composição das redes sociais dos
empreendedores
NATUREZA DA REDE
Relacionamentos ativos na época
em que o ego empreendeu
Laços considerados úteis para o
processo de criação da empresa
GÊNERO MASCULINO
GÊNERO FEMININO
Empresa
1
Empresa
2
Empresa
3
Empresa
4
43
46
36
40
16%
37%
30%
40%
100%
0
53%
47%
45%
55%
44%
56%
43%
14%
14%
29%
47%
0
41%
12%
46%
27%
27%
38%
31%
31%
71%
29%
70%
30%
55%
45%
56%
44%
100%
-
100%
33%
77%
100%
100%
20%
80%
40%
60%
(% do total de relacionamentos mapeados)
Laços do gênero masculino
Laços do gênero feminino
Natureza dos laços
1.
2.
3.
4.
Rede Privada
Rede de Mercado
Rede de Trabalho
Rede Profissional
Intensidade dos laços
Laços Fortes
Laços Fracos
Intensidade dos Laços por Natureza dos Laços
Rede Privada – Laços Fortes
Rede Privada – Laços Fracos
Rede de Mercado – Laços Fortes
Rede de Mercado – Laços Fracos
Rede de Trabalho – Laços Fortes
Rede de Trabalho – Laços Fracos
Rede Profissional – Laços Fortes
Rede Profissional – Laços Fracos
100%
100%
100%
50%
50%
29%
71%
100%
-
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro 29 reúne as informações mais relevantes para este estudo. Tal
síntese possibilita comparar a composição das redes sociais dos indivíduos
pesquisados e outros fatores de influência, como a presença de recursos e a
intensidade dos laços de cada rede.
A apresentação das informações contidas no quadro 29 está organizada sob
cinco perspectivas. A primeira trata-se das redes pessoais quanto às similaridades.
A segunda, das redes pessoais quanto às diferenças. A terceira perspectiva
130
apresenta as diferenças e convergências por gênero. A quarta perspectiva para a
apresentação das informações trata-se das diferenças e convergências por gênero.
Por fim, a quinta perspectiva traz a confirmação ou não dos resultados da pesquisa
sob a abordagem das proposições teóricas.
Três principais similaridades entre os quatro casos pesquisados (QUADRO
29) foram reveladas pelos resultados deste estudo. A primeira delas é que, para os
quatro empreendedores, o tamanho da rede privada predominou sobre as demais. A
segunda similaridade está relacionada à rede de trabalho. Comparando-se a rede de
trabalho presente nos relacionamentos dos quatro empreendedores, constata-se
que para todos eles os laços fracos foram maioria na rede de trabalho.
A terceira similaridade é quanto à tendência à homofilia. Analisando-se
isoladamente o atributo gênero dos alteri nas quatro redes sociais, constata-se que
os laços masculinos são a maioria dos relacionamentos dos empreendedores e os
laços femininos a maioria para as empreendedoras.
Os dois empreendedores do gênero masculino apresentaram maior
percentual de laços fortes do que as empreendedoras. Enquanto os laços fortes
presentes nas redes sociais masculinas foram de 71% e 70%, nas redes femininas
foram de 55 e 56%. Ressalta-se, ainda, que os laços fortes foram os que mais
forneceram recursos para os empreendedores pesquisados.
A existência da rede profissional foi verificada para os dois empreendedores
do gênero masculino e inexistente para as empreendedoras do gênero feminino.
Observa-se que para os três egos que apresentaram relacionamentos
classificados como rede de mercado, ou houve experiência empreendedora
preliminar (empresas 1 e 3) ou a empresa foi adquirida (empresa 4).
Os quatro empreendedores afirmaram terem decidido empreender por própria
análise do contexto à época. Embora haja esta afirmativa, o estudo demonstra que
as redes sociais forneceram diferentes tipos de apoio àqueles empreendedores no
momento em que decidiram empreender.
A rede de mercado foi identificada em três dos quatro casos, sendo eles: uma
empresa de propriedade masculina (empresa 1, Vladimir); e as duas empresas
femininas (empresa 3 – Ágatha e empresa 4 – Valda). Para esta natureza de laços
(rede de mercado), as mulheres apresentaram maior percentual de laços fracos do
que os citados pelo empreendedor do gênero masculino. Para a rede de mercado
masculina (Vladimir), todos os alteri se caracterizaram como laços fortes, enquanto
131
para as empreendedoras a maioria foi de laços fracos (77 e 80%) para esta natureza
de laços.
O apoio emocional foi o recurso mais presente para os empreendedores
quando da criação das empresas. Da mesma forma, os laços fortes foram as
principais fontes de recursos para os entrevistados. A rede privada foi formada
exclusivamente por laços fortes, também para os quatro casos.
Um dos indicadores de coesão nas redes sociais são as chamadas “cliques”,
que são caracterizadas por um nível mais sociocêntrico do que egocêntrico
(Wellman, 1981). As cliques são representadas por um subconjunto de alteri, com
existência de relações diretas entre si. Neste sentido, a visualização gráfica das
redes sociais demonstrou que, para os quatro casos, foram observadas cliques,
como destacam os círculos pontilhados na figura 2.
Figura 2: Redes sociais dos empreendedores pesquisados
Fonte: Elaborado pela autora.
132
A figura 2 mostra que a quantidade de cliques foi maior de acordo com o
número de membros das redes, mais do que a existência da correlação de cliques
com o gênero dos empreendedores.
Os resultados da pesquisa demonstram que as redes sociais de dois
empreendedores (Vladimir e Ágatha) forneceram menos recursos para a decisão de
empreender, quando comparadas às redes dos demais (Anderson e Valda). No
mesmo sentido observa-se, para eles, uma menor quantidade de cliques. Nas redes
de maior tamanho (Anderson e Valda) há, além de maior número de cliques,
também um mesmo indivíduo participando de dois subgrupos. Estes alteri – B3 para
Anderson e D2 para Valda – são membros da rede privada dos dois
empreendedores (ambos família nuclear).
Outra similaridade identificada foi que, para os quatro empreendedores
pesquisados, pode ser confirmado o agrupamento dos laços, conforme proposto por
Schott e Cheraghi (2012). Todos os relacionamentos foram caracterizados como
rede privada, rede de trabalho, de mercado ou profissional. A rede internacional não
foi identificada para nenhum dos egos pesquisados. Ressalta-se, também, que os
autores não afirmam que para todos os empreendedores as cinco categorias de
redes são necessariamente identificadas, e sim que os laços presentes nas redes
sociais se enquadram naquelas categorias descritas (Schott & Cheraghi, 2012).
Os resultados deste estudo demonstraram que os egos que tiveram menor
número de recursos recebidos de seus laços relacionais são também os que
demonstraram mais autonomia nas decisões. Esses entrevistados afirmaram decidir
sozinhos sobre as questões empreendedoras (Vladimir) e que mais influenciam as
pessoas, do que recebem delas influências para suas tomadas de decisão (Ágatha).
Constata-se, sob a perspectiva dos recursos recebidos das redes sociais, que
os dois egos que demonstraram mais autonomia apresentaram também menor
percentual de alteri fornecedores de apoios, em relação aos outros. Esta
constatação é demonstrada no quadro 29: os percentuais de alteri fornecedores de
recursos foram de 16% para Vladimir, 30% para Ágatha, 30% para Anderson e 40%
para Valda, sugerindo que não há diferença ou igualdade por gênero quanto à
quantidade de fontes de recursos presentes nas redes.
Do total de 51 alteri fornecedores de recursos para os egos pesquisados,
nota-se que 53% pertenciam às redes das empreendedoras e 47% pertenciam às
redes masculinas. Embora o apoio das redes sociais tenha sido presente também
133
para os homens empreendedores, o fato de a maioria dos laços fornecedores de
recursos estar lotada nas redes femininas reforça o exposto por Rauf e Mitra (2011),
que afirmam que as redes interpessoais de empreendedoras fornecem suporte, seja
como clientes, seja como parceiros das empresas ou como apoio emocional.
O apoio emocional para a decisão de empreender pode ser identificado para
ambos os gêneros, apresentando proximidade no percentual das ocorrências (54%
para homens e 46% para mulheres), como demonstrado no quadro 30.
Outra divergência mapeada entre os gêneros foi a motivação para
empreender. Diferentes autores (Greence, Hart, Gatgewood, Brush & Carter, 2003;
HART, et al. 2003; Brush, Bruin & Welter, 2009; Klapper & Parker, 2011; Rauf &
Mitra, 2011; Machado, Gazola & Anez, 2013) afirmam que mulheres e homens têm
diferentes motivações para a criação de uma empresa. Os dados desta pesquisa
demonstram que para as duas empreendedoras o fator de maior peso foi a
realização profissional (Ágatha e Valda). Já para os empreendedores do sexo
masculino, ter mais tempo com a família ocupou o primeiro lugar na ordem dos
fatores que pesaram para a decisão de empreender (Vladimir e Anderson).
Ter uma referência empreendedora na família nuclear também foi um dos
elementos comuns para as duas empreendedoras. Uma delas teve o pai como
inspiração forte quando decidiu empreender e no dia a dia do negócio (Valda). Para
a outra, o empreendedorismo dos pais e trabalhar no empreendimento da família
durante grande parte da adolescência, despertaram características empreendedoras
e de autonomia para suas decisões (Ágatha).
Revisitando a teoria discutida neste trabalho, buscou-se apresentar as
proposições teóricas e a análise da confirmação ou não das mesmas para os
resultados da pesquisa. O quadro 30 apresenta a descrição das referidas
proposições e a discussão dos resultados (QUADRO 30).
134
Quadro 30: Confirmação ou refutação das proposições teóricas
AUTORES
PROPOSIÇÃO TEÓRICA
GRANOVETTER
(1973; 1985)
Enquanto os laços fracos
fornecem recursos como
informações novas à rede,
que são úteis ao ego, os
laços fortes fornecem
apoio emocional.
Comportamento e
interesses pessoais são
influenciados pelas
relações sociais nas quais
os indivíduos estão
inseridos.
GRANOVETTER
(1973; 1985)
RAUF E MITRA
(2011)
VALE (2010)
O gênero é um dos fatores
que influencia na formação
e utilização da rede
pessoal do empreendedor.
VALE (2010)
Pode haver diferença na
forma como homens e
mulheres acessam e
utilizam seus laços
relacionais.
VALE E
GUIMARÃES (2010)
As redes sociais e
informações que nelas
circulam influenciam a
sobrevivência e a criação
de empresas, sendo os
laços fracos (mais que os
fortes) os mais utilizados
para a abertura dos
negócios.
As redes pessoais do
empreendedor fornecem
apoio emocional para a
iniciativa empreendedora.
MANOLOVA (2007)
DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Os resultados sugerem
confirmação desta proposição.
Para todos os egos pesquisados,
os laços fortes foram a principal
fonte de apoio emocional
(incentivo para empreender).
Os resultados demonstraram que
os empreendedores pesquisados
foram impactados pela influência
de suas redes sociais quando
decidiram empreender. Para os
quatro casos, incidiram
relacionamentos que os
inspiraram na tomada de decisão,
sugerindo, portanto, a
confirmação desta proposição
teórica.
Foi demonstrado que para as
redes femininas e masculinas
houve algumas diferenças quanto
à composição, quanto ao
percentual de laços fortes e
fracos fornecedores de recursos
e quanto à natureza dos laços,
sugerindo, assim, a confirmação
desta proposição teórica.
Também para esta proposição
sugere-se confirmação, visto que
houve algumas diferenças na
composição das redes por
gênero, assim como recurso
presente nas redes femininas que
não foi identificado nas redes
masculinas.
Os resultados da pesquisa
demonstraram que as redes
sociais dos quatro casos
estudados forneceram recursos
quando os egos decidiram
empreender. Por outro lado, os
dados sugerem que os laços
fortes forneceram mais apoio do
que os fracos.
Para os empreendedores
pesquisados o apoio emocional
foi o principal recurso recebido
das respectivas redes pessoais.
135
Continuação do Quadro 30: Confirmação ou refutação das proposições
teóricas
AUTORES
PROPOSIÇÃO TEÓRICA
RUNYAN,
HUDDLESTON E
SWINNWY (2006)
Mulheres possuem alguns
dos mesmos recursos que
os empreendedores
homens para a abertura do
negócio.
KLAPPER E
PARKER (2011).
Um dos fatores que levam
o empreendedorismo
feminino a ser em menor
escala do que o masculino
se dá ao fato de as
mulheres apresentarem
menos aspirações
profissionais do que os
homens.
Questões relacionadas ao
lar e à família influenciam
mais as mulheres do que
os homens na tomada da
decisão para empreender.
WINN (2005); HART,
GATGEWOOD,
BRUSH E CARTEER
(2003); KLAPPER E
PARKER (2011);
BRUSH, BRUIN E
WELTER (2009)
VALE E SERAFIM
(2010)
MACHADO (2001)
Mulheres parecem
mostrar-se mais sensíveis
do que os homens à
influência de terceiros,
quanto à decisão de criar
uma empresa.
Há diferença no estilo de
empreender de homens e
mulheres.
DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Embora um recurso (suporte
financeiro) tenha sido identificado
somente nas redes sociais
femininas, a maior parte deles
esteve presente nas redes de
ambos os gêneros.
Os resultados desta pesquisa
demonstraram que o fator de
maior peso para a decisão
feminina de empreender foi
realização profissional.
A pesquisa constatou que, para
os homens, ter mais tempo com a
família foi o principal fator que
pesou quando decidiram ter a
própria empresa.
Dados não conclusivos.
Sugerem-se novas pesquisas
para buscar elucidar estas
teorias.
Fonte: Organizado pela autora.
Buscou-se investigar, à luz da teoria disponível, como as redes sociais de
empreendedores premiados os influenciaram quando os mesmos decidiram
empreender. Desta forma, como apresentado no quadro 31, algumas posições
teóricas foram confirmadas, outras negadas e, para outras duas, os resultados não
foram conclusivos.
Sobre a negação de duas proposições sugerem-se novas pesquisas que
verifiquem longitudinalmente (e se possível, de forma a generalizar os resultados)
se o contexto social altera os fatores que motivam homens e mulheres a
empreender.
136
7 CONCLUSÕES
Como descrito no capítulo 2, os indivíduos fazem parte de um contexto
social,
não
adotando
comportamentos
e
decisões
de
forma
atomizada
(GRANOVETTER, 1985). Neste sentido, este estudo pode concluir que os laços dos
empreendedores, com os quais estes mantinham relacionamentos próximos na
época em que empreenderam, tiveram influências na criação das respectivas
empresas.
Essas influências, a partir da pesquisa, podem ser analisadas como os
apoios recebidos pelos egos de suas redes sociais, os quais foram percebidos
como incentivo emocional e suportes variados, como informações relacionadas ao
mercado e ao negócio em si, além de apoio financeiro em alguns casos.
Conclui-se, portanto, que as redes sociais dos empreendedores proprietários
das empresas premiadas estudadas foram fontes de recursos. A maior parte dos
referidos recursos fornecidos foram relacionados a informações sobre mercado e
sobre o negócio em si, além do apoio emocional, que em todos os casos teve a
maioria das ocorrências.
Baseando-se nas teorias discutidas no capítulo 2, considerando-se o modelo
teórico proposto por este trabalho e analisando-se os dados comparativos da
pesquisa, apresenta-se, a seguir, a síntese dos resultados.
7.1 Padrões identificados para os casos pesquisados
A partir da análise dos quatro casos pesquisados, pode-se concluir que houve
padrões no que se refere à composição e à utilização das redes sociais dos
empreendedores para a criação de suas empresas. Não obstante, padrões também
foram identificados nas motivações empreendedoras por gênero.
O primeiro padrão encontrado trata-se da utilização da rede como fonte de
recursos. Para os quatro empreendedores as respectivas redes sociais forneceram
diversos tipos de apoio quando os mesmos decidiram empreender. Dentre os
recursos recebidos pelos empreendedores, para todos eles, o apoio emocional foi o
mais recorrente. Assim como os laços fortes foram a fonte da maior parte dos
recursos presentes nas quatro redes sociais.
137
No que se refere às categorias e à intensidade dos laços, a rede privada e os
laços fortes foram a maioria na composição de todas as redes sociais. Este segundo
padrão foi identificado tanto para as empreendedoras, quanto para os empreendedores.
O terceiro padrão mapeado foi a predominância de gênero, considerando o
sexo do dono da rede. Para as empreendedoras prevaleceu a maioria de membros
femininos nas suas redes e, para os empreendedores, os membros masculinos
foram predominantes.
Ter um modelo de referência foi o quarto padrão verificado para os quatro
empreendedores. Para dois deles (um homem e uma mulher) a inspiração para
empreender foram as respectivas empresas nas quais trabalharam. Para os outros
dois (um homem e uma mulher), houve forte influência empreendedora na família.
Quanto à motivação para a decisão de empreender, o padrão identificado
caracterizou-se por gênero. As duas empreendedoras atribuíram maior peso para a
sua decisão de empreender ao mesmo fator: “realização profissional”. Da mesma
forma, para os dois empreendedores do sexo masculino o maior peso foi dado à
mesma motivação: “ter mais tempo com a família”.
7.2 A influência dos laços para a criação das empresas
Para os quatro casos pesquisados, verifica-se a influência de seus laços
sociais quando da decisão de empreender. O modelo teórico elaborado por este
estudo (figura 1) apresenta esta influência, detalhando a reflexão acerca dos
resultados da pesquisa.
Figura 1 – Modelo teórico
Fonte: Elaborado pela autora.
138
A partir do modelo teórico (figura 1), foram analisados os resultados dos
casos e pode-se afirmar que:
a) O atributo de gênero para as redes dos empreendedores manteve a
mesma lógica, apresentando a maioria dos alteri o mesmo gênero do ego
em todos os casos.
b) A intensidade dos laços foi a mesma para ambos os gêneros quanto à
maioria dos recursos fornecidos no momento em que os entrevistados
decidiram se tornar empreendedores – laços fortes.
c) A rede privada, formada por familiares nucleares e amigos próximos, foi a
de maior relevância para os quatro casos quanto ao fornecimento de
recursos no momento em que os empreendedores decidiram empreender.
d) A rede de mercado se apresentou mais presente quanto ao fornecimento
de recursos, mais para as mulheres do que para os homens pesquisados.
e) O recurso mais presente nas redes dos empreendedores pesquisados foi
o apoio emocional e o incentivo para a criação da empresa.
f) Os quatro casos pesquisados apresentaram evidências de referências
anteriores que foram úteis para sua decisão de empreender, sendo elas
familiares ou profissionais.
g) Dois dos quatro casos pesquisados (um por gênero) afirmaram ter, nas
empresas
onde haviam
trabalhado,
inspiração
para
o
processo
empreendedor.
h) Três dos quatro casos pesquisados, sendo duas mulheres e um homem,
apresentaram histórias de empreendedorismo na família nuclear (pai e/ou
mãe) que exerceram peso no histórico empreendedor do ego.
i) Os dois casos do gênero feminino afirmaram ter crescido em um
ambiente familiar empreendedor, podendo-se constatar que receberam
esta influência para as respectivas decisões de se tornarem empresárias.
139
j) Os recursos recebidos pelos empreendedores diferiram-se por gênero,
tendo os homens recebido mais informações sobre o negócio em si, e as
mulheres
mais
suporte
financeiro.
Contudo,
ambos
os
gêneros
receberam, semelhantemente, incentivo emocional para empreender,
advindo de suas redes sociais.
k) As principais motivações para empreender se distinguiram por gênero. As
mulheres disseram buscar mais realização profissional do que os
homens, enquanto estes afirmaram que o maior peso para a decisão de
empreender foi ter mais tempo com a família.
O objetivo geral deste estudo foi analisar como mulheres e homens
proprietários de empresas premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação
de seus empreendimentos. Pesquisando-se junto aos quatro empreendedores os
elementos e variáveis relacionados às respectivas redes sociais, pode-se afirmar
que o objetivo geral foi cumprido. As análises basearam-se na discussão das teorias
apresentadas no capítulo 2 e possibilitaram confirmar a influência das redes sociais
dos entrevistados em seus processos de criação das empresas.
Pode-se afirmar que os laços sociais dos empreendedores influenciaram no
momento em que estes decidiram empreender, sobretudo de duas maneiras. A
primeira, através do fornecimento de recursos diversos. Esses recursos foram
mapeados pelos empreendedores como informações diversas sobre mercado,
informações técnicas e específicas dos empreendimentos, apoio financeiro e suporte
emocional. Para todos os egos pesquisados, parte da rede social e dos recursos
nela presentes lhes forneceu confiança para o processo da decisão de empreender.
Mesmo para aqueles que disseram ter, sozinhos, tomado a decisão de criar a
empresa, as evidências demonstram que o apoio advindo de seus laços relacionais
da época contribuiu no processo empreendedor. Tais evidências podem ser
constatadas, por exemplo, pelo acesso aos primeiros clientes para a empresa 1 e o
apoio dos fornecedores de equipamentos e mercadorias para a empresa 3.
A segunda forma em que as redes sociais dos empreendedores os
influenciaram foi pela inspiração que os mesmos afirmaram ter recebido de parte de
seus laços relacionais, fossem eles de trabalho, profissionais ou familiares. Mais as
empreendedoras (empresas 3 e 4) do que os empreendedores homens (somente
140
empresa 1) afirmaram ter membros da família nuclear (pai e/ou mãe) como sendo
empreendedores. Nestes três casos houve relatos e afirmações de como esses
laços
familiares
tinham
comportamentos
empreendedores
nas
atividades
econômicas que exerciam.
Para a empresa 2, mesmo que não demonstrada com a mesma intensidade a
inspiração no empreendedorismo dentro da família, esta inspiração, relatada e
verbalizada diversas vezes durante a entrevista, teve como fonte a empresa em que
o empreendedor trabalhou, incluindo alguns dos ex-colegas de trabalho.
A verificação do objetivo geral da pesquisa compreendeu quatro objetivos
específicos, a saber: (i) Mapear as redes pessoais utilizadas por homens e mulheres
empreendedores; (ii) Compreender como os gêneros acessaram os diversos
recursos disponíveis em suas redes, tais como: informações sobre mercado, local,
clientes, recursos financeiros, entre outros; (iii) Identificar os diferentes tipos de
redes capazes de desempenhar papéis de fornecedores de recursos aos
empreendedores, por gênero; e (iv) Fazer uma análise comparativa entre as
oportunidades e desafios encontrados entre os gêneros.
O primeiro objetivo específico buscou, através do mapeamento das redes
pessoais dos empreendedores pesquisados, conhecer os componentes das
referidas redes, tamanho, atributos dos alteri e intensidade dos laços. Estas
informações foram identificadas para os quatro casos e seus resultados discutidos
no capítulo 5. Da mesma forma, mapearam-se os membros das redes sociais que
forneceram algum tipo de recurso e quais foram os apoios recebidos pelos
empreendedores, como descreveu o segundo objetivo específico.
Para o terceiro objetivo específico, que buscou identificar os diferentes tipos
de redes capazes de desempenhar papéis de fornecedores de recursos aos
empreendedores, constatou-se que não houve diferença significativa por gênero. Foi
identificado, entretanto, que a rede privada (SCHOTT E CHERAGHI, 2012) foi o tipo
de agrupamento que mais forneceu recursos aos empreendedores, fossem eles
homens ou mulheres.
Fazer uma análise comparativa das oportunidades e dos desafios por gênero
foi o quarto objetivo específico, também discutido nos resultados apresentados no
capítulo
5.
Esta
análise
possibilitou
constatar
que
as
duas
mulheres
empreendedoras pesquisadas consideraram desafiador encontrar fontes variadas e
confiáveis para acesso a conhecimentos específicos das suas empresas, por
141
exemplo, suporte acadêmico (empresa 4) e cursos de vendas para a equipe
(empresa 3). Este desafio não foi explicitamente verificado para os empreendedores
do gênero masculino. Para estes, pode-se constatar que houve um maior tempo
destinado ao planejamento do negócio.
Observa-se, portanto, que os objetivos, geral e específicos, foram
compreendidos por esta pesquisa. Entretanto, algumas limitações compõem este
estudo, como será apresentado a seguir.
7.3 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas futuras
Embora o foco deste trabalho tenha sido, especificamente, o mapeamento e
estudo das redes egocêntricas e não sociocêntricas, admite-se que uma limitação
advém do fato de a realidade de cada indivíduo pesquisado ser a percepção
unilateral dele próprio, uma vez que os membros das redes não foram entrevistados.
Outra dificuldade encontrada foi a negação de responder à pesquisa pela
única mulher proprietária de empresa do setor industrial vencedora do prêmio MPE
Brasil no período estipulado. O fato de esta empreendedora não aceitar ser
entrevistada culminou na exclusão da entrevista já realizada com a empresária,
proprietária de uma indústria vencedora do prêmio. Estas duas exclusões do grupo
foco de indivíduos da pesquisa limitaram o estudo aos setores de serviços e
comércio.
A maior parte das proposições teóricas testadas apresentou resultados
conclusivos para os egos pesquisados. Entretanto, para duas destas proposições,
os resultados não apresentaram conclusões claras. São elas:
i) Mulheres parecem mostrar-se mais sensíveis do que os homens à
influência de terceiros, quanto à decisão de criar uma empresa (VALE E
SERAFIM; 2010); e
ii) Há diferença no estilo de empreender de homens e mulheres (MACHADO,
2001).
142
Não obstante às limitações acima descritas, esta pesquisa possibilitou
contribuições acadêmicas no que tange ao estudo das redes sociais de indivíduos
que decidem empreender.
A primeira contribuição está relacionada à compreensão da percepção do
próprio indivíduo pesquisado sobre a participação de seus laços relacionais na sua
decisão de se tornar empreendedor. Esta pesquisa demonstrou empiricamente que,
mesmo o ego afirmando ter, sozinho, decidido empreender, a rede social forneceu
recursos que favoreceram a confiança para a referida decisão. Esta constatação
pode ser observada, principalmente, para os egos das empresas 1 e 3.
A segunda contribuição teórica é a constatação de modelos de referência
para os empreendedores premiados. Esta evidência foi fortemente verificada em
pelo menos três dos quatros empreendedores pesquisados.
Por fim, acredita-se que compreender como as redes sociais de empresários
proprietários de empresas premiadas influenciaram as decisões de empreender
contribui para que organizações acadêmicas, públicas e civis (dentre outras),
possam gerar mais ambiência favorável ao empreendedorismo.
Investigar e analisar quais recursos estavam presentes nas redes sociais dos
empreendedores pesquisados, assim como a composição e atributos dos laços por
gênero, pode ser útil para possíveis aprofundamentos de novas pesquisas. A
generalização de resultados de pesquisas empíricas sobre fenômenos sociais,
mesmo que complexos, pode ser mais uma possibilidade para estudos futuros.
Da mesma forma, pesquisas futuras podem complementar os resultados
deste estudo e as contribuições teóricas por ele geradas. Como exemplo,
apresentam-se algumas sugestões:
a) Há influência correlata entre redes sociais e idade do indivíduo para a
decisão de empreender?
b) Em quais situações homens e mulheres diferem por peso de fatores
motivadores para a criação de uma empresa?
Acredita-se, portanto, que as reflexões geradas ao longo deste trabalho e a
partir dele contribuirão para expandir a compreensão das influências das redes
sociais
sobre
as
decisões,
por
gênero,
de
indivíduos
empreendedores.
143
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153
ANEXO
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PESQUISA DE CAMPO
GÊNERO, EMPREENDEDORISMO E REDES PESSOAIS:
AS INFLUÊNCIAS DOS LAÇOS NA CRIAÇÃO DA EMPRESA
Problema de pesquisa: Como mulheres e homens proprietários de empresas
premiadas utilizaram suas redes pessoais para a criação de seus
empreendimentos?
Empresário (a):
Idade:
Telefones:
CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA
1.
2.
3.
4.
2.
3.
Nome da empresa:
Setor/ Segmento:
Data de criação da empresa: ___/___/___
Número de funcionários hoje: _________
Número de funcionários no primeiro ano: _________
Mercado de alcance hoje:
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
4. Mercado de alcance no início das atividades:
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
5. Participação em entidades de classe hoje:
( ) Sindicato patronal:_______________________________________________
( ) Sindicato do Comércio
( ) Associação Comercial e Industrial
( ) CDL
( ) Outra (s) associação (ões) de classe: ________________________________
( ) Outra (s): ______________________________________________________
6. Participação em entidades de classe no início:
( ) Sindicato patronal:_______________________________________________
( ) Sindicato do Comércio
( ) Associação Comercial e Industrial
( ) CDL
( ) Outra (s) associação (ões) de classe: ________________________________
( ) Outra (s): ______________________________________________________
154
EMPREENDEDOR (ego)
7. Gênero:
8. Idade:
9. Escolaridade: _________________
Curso(s): ________________________
Especializações: __________________________________________________
10. Estado civil: ______________________________________________________
11. Filhos (e idade):
a) Sexo / Idade: _________/ __________
b) Sexo / Idade: _________/ __________
12. Presença de empreendedor na família?
( ) Sim
( ) Não
Se sim, Quem: ___________________________________________________
Houve algum Modelo de referência?
 Familiar? Qual familiar: __________________________________________
 Outros? Quem: ________________________________________________
 Inexistente:
Em quem se inspirou? ____________________________________________
13. Sociedade empresarial
EMPRESA 1: ( ) Sim
EMPRESA 2: ( ) Sim
( ) Não
( ) Não
14. Sociedade na empresa – Gênero
EMPRESA 1: ( ) Homem ( ) Mulher
EMPRESA 2: ( ) Homem ( ) Mulher
15. Sociedade – Proximidade parental com o sócio
EMPRESA 1
EMPRESA 2
Seu sócio é algum familiar ou parente?
( ) Sim: Quem: ____________
( ) Não
Seu sócio é algum familiar ou parente?
( ) Sim: Quem: ____________
( ) Não
Se não, indicar:
Se não, indicar:
( ) Amigo
( ) Colega de trabalho
( ) Outro: _____________________
( ) Amigo
( ) Colega de trabalho
( ) Outro: _____________________
155
RELACIONAMENTO E SUPORTE
16. Quando DECIDIU entrar em sua primeira sociedade, quem lhe ajudou mais?
(
(
(
(
(
(
(
) Algum familiar (pai, mãe, filho, cônjuge);
) Namorado;
) Amigo;
) Colega de trabalho;
) Vizinho;
) Consultor;
) Outro: _____________________________
Para isso, liste 40 pessoas com quem você se relacionava quando criou sua
empresa, e que considera que participaram, de alguma forma, do processo.
Podem ser familiares, amigos, colegas de trabalho, consultores, entre outros.
Ir para a tabela para a geração dos nomes.
GERADOR DE NOMES:
ATRIBUTO
ALTER / LAÇO
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Familiar (pai, mãe, filho, cônjuge);
Namorado;
Amigo;
Colega de trabalho;
Vizinho;
Consultor;
Outro: _______
...
TIPOS DE RECURSOS x LAÇO
17. Em que cada uma dessas pessoas contribuiu?
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
Informações sobre mercado
Informações sobre o ramo
Informações sobre como abrir a empresa
Apoio para identificar o ponto
Suporte financeiro
Apoio para selecionar mão de obra
Incentivo para a criação da empresa
Indicação dos primeiros clientes
Outros(especificar)
156
18. De que tipo de apoio você sentiu necessidade (falta) quando decidiu abrir a
empresa?
Escrever:
TIPOS DE RECURSOS
1
2
3
4
Outros:
19. Onde foi buscar cada um deles?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
ALTER (LAÇO) E RECURSOS
20. Tipo do relacionamento.
Qual era a intensidade do relacionamento com cada $$ à época?
> VOLTAR À PLANILHA.
Nomes e Atributo
Intenso/
Forte
1
…
40
Porque cada $$ foi importante/útil naquele momento?
> VOLTAR À PLANILHA.
Nomes
1
…
40
-
Atributo
Importância
Superficial/
Esporádico/
Fraco
157
21. Você considera que algumas pessoas influenciaram na decisão de abrir a
empresa?
( ) Sim
( ) Não
22. Rede social versus Influência na decisão para a criação da empresa.
Qual foi o grau de influência que os laços exerceram sobre o seu INTERESSE e
DECISÃO de abrir a empresa?
6. Você considera que mulheres e homens são influenciados de forma
diferente por outras pessoas para as suas decisões?
( ) Sim
( ) Não
7. Em sua opinião, as mulheres ou os homens são mais influenciados por
outras pessoas para a abertura de uma empresa?
( ) Mulheres( ) Homens
23. Por que escolheu este ramo de negócio?
a. Você foi influenciado por alguém?
( ) Sim
( ) Não
Se sim,
b. Quem: ___________________________________________________
c. Como: ___________________________________________________
d. Outro (s) motivo (s): ________________________________________
24. Peso dos fatores para a criação da empresa
Quais fatores foram mais importantes para a criação da sua empresa?
Escala:
(
(
(
(
(
(
5
4
3
2
1
Principal fator
considerado
Muito importante,
mas não
principal
Pouco
importante
Nada
importante
Não
considerado
) Ter mais tempo livre com a família
) Ter mais flexibilidade de horários para resolver questões pessoais
) Aumento da renda
) Realização profissional
) Falta de opção de emprego
) Outro: _____________________
158
25. Interesse em recursos de terceiros para a abertura da empresa
i. Você teve INTERESSE em recursos de terceiros para a criação da empresa?
( ) Sim
( ) Não
ii. Se sim, em quais fontes de recursos pensou para a criação da empresa?
(
(
(
(
(
(
(
(
(
) Família (pai, mãe, filho {a}, irmão {ã})
) Cônjuge (marido ou esposa)
) Namorado (a)
) Amigo (a)
) Colega de trabalho
) Vizinho (a)
) Empréstimo bancário
) Outro: _____________________
) Não pensei em recursos de terceiros para a abertura da empresa
26. Utilização de recursos de terceiros para a abertura da empresa:
I. Você UTILIZOU recursos de terceiros para a criação da empresa?
( ) Sim
( ) Não
ii. Se sim, qual ou quais foram a(s) fonte(s)?
(
(
(
(
(
(
(
(
) Família (pai, mãe, filho (a), irmão (a)
) Cônjuge (marido ou esposa)
) Namorado (a)
) Amigo (a)
) Colega de trabalho
) Vizinho (a)
) Empréstimo bancário
) Outro: _____________________
RELAÇÕES INTER-LAÇOS
27. Os membros da sua rede de relacionamentos se relacionam entre si sem a
necessidade de sua presença?
5
Escala:
Sim
4
3
2
Muito
provavelmente
Pouco
provavelmente
Nada provável
Mapeamento:
> VOLTAR À PLANILHA.
1
Não se
relacionam
159
DESEMPENHO POR GÊNERO
28. Você considera que o desempenho de uma mulher empreendedora é igual
ao de um homem empreendedor?
( ) Sim
( ) Não
29. Você prefere consultores HOMENS ou MULHERES?
( ) Homens
( ) Mulheres
30. Você prefere funcionários HOMENS ou MULHERES?
( ) Homens
( )Mulheres
31. Quem é mais fácil de administrar?
( ) Homens
( ) Mulheres
32. Você prefere aconselhamento profissional de HOMENS ou MULHERES?
( ) Homens
( )Mulheres
33. Para quais tipos de apoio os homens são melhores?
1.
2.
3.
4.
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34. E as mulheres? Para quais tipos de apoio as mulheres são melhores?
1.
2.
3.
4.
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35. E as mulheres? Para quais tipos de apoio as mulheres são melhores?
1.
2.
3.
4.
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