Palavras-chave Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da

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Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da História
Birth and Development of the Philosophy of History
Resumo
Gilberto Brandão Marcon
O artigo em questão visa a refletir em torno do conceito
trazido para a área da filosofia por Kant, em 1804, em torno
da possibilidade de haver leis tais como as que conduzem
à natureza física, que em seu aspecto determinístico seriam
capazes de definir as relações humanas e, assim, definindo
a construção da sociedade, a filosofia da história, como
algo distinto da historiografia voltada a escrever a história.
Neste sentido, a crítica é em relação a se buscarem meios
de aproximação da realidade ocorrida. Em um caso se tem a
História como disciplina, em outro, como conceito filosófico
especulativo, desenvolvido posteriormente por Hegel, o
qual foi fonte para Marx, que adotou tal preceito como
basilar em sua estruturação teórica, em torno da qual se
produziram diversas abordagens na educação. Assim, o que
aqui se objetiva identificar é a sua origem, visando a discutir
a sua efetiva extensão e significação, para que se avalie a
distância entre a teoria e a realidade.
Autor
Palavras-chave
Determinismo, Educação, Filosofia, Filosofia da História,
Historiografia
Gilberto Brandão Marcon:
Coordenador do Curso de Ciências
Econômicas da UNIFAE. Economista
formado
pela
UNICAMP
(1986),
Especialista em Economia de Empresas
pela FAE (1988), Mestre Interdisciplinar
em Administração, Comunicação e
Educação pela UNIMARCO (2008),
Doutorando (2011-2015) em Educação
UNIMEP. Empresário por 20 anos na
área de assessoria econômico-contábil
(1986-2007). Professor Associado UNIFAE
(2003), Ex-Presidente do IPEFAE (20052007) e Membro da Academia de Letras
de São João da Boa Vista, ex-comentarista
econômico TV UNIÃO (2008 - 2011) e
Delegado Municipal CORECON.
e.mail:
[email protected];
[email protected]
Recebido em 13/outubro/2011
Aprovovado em 31/outubro/2012
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Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da História
Introdução
Ao se atentar para o segmento do conhecimento da História,
a percepção por conta da familiaridade com o termo
desde os primeiros anos de educação formal é que se trata
de algo objetivo, constituído pelo esforço de pesquisadores
da área que assim permitem acesso ao passado. Mais do
que isto, tem-se por conta da cultura ocidental que ajustála a uma leitura cronológica. Entretanto, ao se propor
constituir artigo neste sentido passa-se a perceber que se
trata de algo bem mais complexo, onde subsidiam a sua
elaboração questões de linha metodológica que interagem
ao objeto de estudo no que diz respeito à abordagem. Ou
seja, não se tem ainda a possibilidade de uma história total,
mas sim, fragmentos, a partir de um olhar do historiador, o
que deveria propor no mínimo uma reflexão crítica ante o
material que se tem à disposição para a leitura.
Em ciências humanas os dados são oferecidos pela história
e propiciam a construção das informações e, em sendo
ciência, seria desejável a sua imparcialidade para então
direcionar o foco dos vários segmentos das ciências sociais
sobre a mesma. O problema é que o historiador também
é um ser humano com uma subjetividade constituída, e
mesmo que este se guie pelos cuidados em ser objetivo,
haverá de estar interagindo com o próprio contexto histórico
e epistemológico em que está vivendo. Neste sentido o que
aqui se propõe é identificar duas situações que se mostram
presentes na formatação deste conhecimento, interagindo
constantemente: a historiografia e a filosofia da história.
Quanto ao conceito ou definição de historiografia, segundo
a livre docente Silvia Helena Zanirato: “a produção do
conhecimento histórico é complexa, e essa complexidade
implica examinar os fundamentos da ciência da história, de
modo que se compreenda como é organizado o pensamento
histórico”(ZANIRATO, 2006), o que transparece é que ao
querer definir o verbete não se encontra algo exato, mas
antes de aproximações, ou ainda indicações daquilo que
não é historiografia. Primeiramente, tentando encontrar
aquilo que viria a ser: “Em 1821, diante da Academia de
Ciências de Berlin, Wilhelm Von Humboldt pronunciou sua
famosa conferência sobre a tarefa do historiador. Para ele,
o intuito fundador da prática historiográfica seria ‘expor o
que aconteceu’ [...]” (NICOLAZZI; ARAÚJO, 2009).
De modo geral, ao se buscar nos dicionários pela
palavra “historiografia”, o que pressupõe uma definição
mais sintética a liga desde a arte de escrever a história
até o estudo e descrição da história, além de acrescer o
estudo crítico realizado pelos historiadores que seriam os
autores dos trabalhos históricos. E então já se observa
algo de dúbio, afinal se alguns veem arte, outros propõem
descrição. Se no primeiro caso temos expressão do sujeito,
no segundo trata-se de fixar-se no objeto, neste caso, o
fato histórico.
De fato, o que parece a princípio dúbio, expressa uma
realidade onde: A escrita da história opera, [...] no jogo
entre o singular e o geral, entre os planos do visível e do
invisível: ‘a verdade de tudo o que aconteceu repousa sobre
a reunião da parte que em cada fato permanece invisível; o
historiador deve, consequentemente, realizar esta reunião’
[...]” (NICOLAZZI; ARAÚJO, 2009), ou seja, em que pese
visar o fato, ainda assim haverá interferência do historiador.
Numa proposta de aproximação conceitual poderia dizer
que historiografia tem por fundamento essencial escrever
a história, a sua crítica é no sentido de apurar a ação de
melhor escrever, o que não deve ser confundido com uma
outra disposição que é a de refletir sobre a história. Se
no primeiro caso se tem um direcionamento funcional, no
Pensamento Plural: Revista Científica do
outro prevalece a possibilidade da abstração, do filosofar
sobre a história, portanto, a ‘filosofia da história’.
É importante buscar delimitar seus espaços de atuação,
não porque não interajam entre si, mas pelo motivo de
não poderem ser confundidos entre si. A historiografia
reconhece, assim, tanto o sujeito quanto a reflexão
racional, mas seu sentido é em direção do fato, o que
pode ser feito em diferentes graus de amplitude. Visando a
identificar estes territórios, quanto ao conceito de ‘filosofia
da história’, é esclarecedor o historiador Voltaire Schilling:
Se Isaac Newton descobrira as leis até então
secretas do funcionamento do Cosmo, não
haveria a possibilidade da filosofia vir algum dia
também a descobrir as leis ocultas que movem
a história das sociedades? Refletindo sobre isso
o pensador Immanuel Kant, morto em 1804,
criou a Filosofia da História (SCHILLING, 2003,
p.34)
O filósofo britânico Simon Blackburn identifica que a
expressão ‘filosofia da história’: “[...] foi usada no século
XVIII (por exemplo, por Voltaire) para referir o pensamento
histórico crítico, que se opõe à mera coleção e repetição
de histórias sobre o passado” (BLACKBURN,1997),
explica mais, que: “Kant levou esta ideia mais longe,
de tal modo que a filosofia da história se converteu na
procura de um sistema grandioso sobre o desdobramento
da evolução da natureza humana, testemunhado em fases
sucessivas (o progresso da racionalidade ou do Espírito)
[...] (BLACKBURN,1997), para completar que: “esta
filosofia da história essencialmente especulativa encontrou
um complemento extra-kantiano em Fichte, para quem
a associação da mudança temporal com a implicação
lógica introduz a ideia de que os próprios conceitos
são o instrumento dinâmico da mudança histórica”
(BLACKBURN,1997).
Porém não será Kant (1724-1804) que desenvolverá
seus pressupostos, mas sim Hegel (1770-1831), no que
é interessante deixar claro que não se trata do que se
conceberia como um historiador profissional, mas sim
um filósofo produzindo reflexões sobre a história: “seu
trabalho não foi reconhecido como obra de profissional
e sim, de um filósofo idealista que desejava demonstrar
uma tese: o desfile do Espírito Absoluto pelos tempos
afora, rumo à liberdade” (BLACKBURN,1997). Porém, o
plano filosófico haverá de influir sobre a historiografia:
“Doravante a verdadeira história, a grande história deveria
ser escrita numa perspectiva universal e não mais local. Em
todo o transcorrer do século XIX e do XX surgiram coleções
mastodônticas denominadas genericamente de ‘histórias
universais’ ou ‘mundiais’” (BLACKBURN,1997).
Em torno da proposta de Hegel surgiram, via afirmação
e refutação de pressupostos, duas linhas distintas: a
‘história [...] positivista, impregnada pela concepção de
‘ordem e progresso’ de um lado, e a ‘história marxista’,
sustentada no pressuposto do determinismo econômico
da infraestrutura, que nasceram ao longo do século XIX,
respectivamente tendo como ícones do pensamento, no
caso do positivismo, o francês Auguste Comte (17981857) e o marxismo pelo alemão o Karl Marx (18181883), surgidos na primeira e segunda metade do século
XIX.
No final do século XIX e início do XX desenvolvese o pensamento de Max Weber (1864 -1920), Suas
teorias e propostas metodológicas produziram reflexos na
denominada História Temática originada nas primeiras
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
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MARCON, G. B.
décadas do século XX. Reafirma-se que tais personalidades
não eram historiadores, mas pensadores que antes
atuavam como filósofos e sociólogos, que buscaram na
reflexão em torno da história a justificava para parte das
suas argumentações teóricas.
Por fim, uma linha de pensamento marcada pela ideia
de decadência se fará presente no início do século XX:
“após o colapso geral do poder europeu em 1918 que se
cogitou de uma outra visão da história universalista. [...]
ela deu-se por intermédio de um pensador e não de um
historiador profissional: Oswald Spengler” (SCHILLING.
2003). Em relação a ele: “o seu livro A decadência do
Ocidente, publicado em 1918, estava longe do otimismo
dos tempos iluministas e do positivismo do século XIX. O
mundo spengleriano era um mundo sombrio” (IDEM).
O trabalho em questão visa a entender os aspectos
propostos por estes autores, pois que estes acabaram não
só por influir na própria construção da historiografia, como
na ação humana, a partir das suas ideias, ou seja, na
bifurcação do caminho acima proposto. O estudo, neste
caso, se propõe em direção à filosofia da história.
O desenvolvimento da filosofia da história
O espaço geográfico de tais acontecimentos é a
Europa Ocidental. É o contexto histórico onde se expande
a burguesia que ascenderá à classe dominante, à qual
ficaram associadas concepções como a valorização
da visão científica e do aspecto empírico-experimental,
o racionalismo e o individualismo antropocêntrico e
sua consequente mudança de relação entre homem e
natureza, características que colocam em questionamento
a formação do saber anterior ligado à escolástica, baseado
em certezas dogmáticas, questionadas no período de
transição do Renascimento em direção ao Iluminismo:
Trazer à luz a costura interna do tecido da
história que permitiria decifrar esse enigma.
Em sua Idéia de uma história universal sob
o ponto de vista cosmopolita, de 1784, Kant
não só estimulou a procura da interpretação
racional da história, como também defendeu
a idéia de que ela deveria ser escrita sob o
prisma de “uma história universal geral” que
abarcasse toda a humanidade. Essa ambição
correspondia aos tempos iluministas, quando
um surto cosmopolita ocorreu por entre a
intelectualidade do Velho Mundo, fazendo com
que fossem rompidos os muros medievais em
que o pensamento estava até então contido.
(SCHILLING, 2003)
Coube, entretanto, a outro filósofo alemão, desenvolver
o proposto por Kant, assim “a primeira tentativa de
escrever uma história universal não foi feita por nenhum
historiador profissional, e sim, por Hegel (1770-1831) que
publicou suas ‘Lições sobre a filosofia da história universal’
em 1830” (SCHILLING, 2003), trata-se do que gerou a
denominada ‘historia idealista’, constituída em torno do
pensamento do autor ao afirmar que: “a história universal
poderia ser explicada como a marcha da razão e que
todas as diferenças que encontramos entre povos e países
nada mais são do que as faces multiformes dessa mesma
razão e que “uma vontade divina rege poderosa o mundo”
(SCHILLING, 2003). Para o que conclui que: “nada está
sujeito ao acaso, mas sim faz parte de uma ordenação
regida por leis naturais perceptíveis pela mente humana”
(SCHILLING, 2003). Suas ideias são um marco na filosofia
da história e foram construídas no seguinte contexto:
Apesar da decepção com o desenrolar dos
acontecimentos na França, ele nunca negaria
a grandeza histórica da revolução, que
influenciaria suas reflexões sobre o curso de
história. O movimento francês, assim como
a civilização grega, o Império Romano, as
mudanças advindas da revelação cristã e da
Reforma protestante, são para Hegel, meios
de compreender o presente. E para explicálo é preciso dar conta de suas contradições.
(ABRÃO, 1999, p.349).
Iluminar, ilustrar, esclarecer, fornecer as luzes: a
Luz, metáfora da razão desde Platão, torna-se
no século XVIII – o Século das Luzes – a grande
palavra de ordem. Na Inglaterra, na Itália,
na França e na Alemanha, proliferam ideias
em seu nome, que, se não se agrupam em só
movimento, têm a mesma intenção: combater o
seu oposto, as trevas e obscurantismo, seja ele
filosófico, religioso, moral ou político (ABRÃO,
1999, p. 249).
Em que pesem os anseios de objetivos superiores,
na prática criou-se um quadro conflituoso refletindo o
confronto entre os novos interesses e aqueles associados
ao antigo regime, levando a questionamentos tais como:
“é possível extrair-se alguma lógica dessa sucessão de
guerras, de grandes confrontos bélicos, de destruição de
templos e cidades inteiras, de construção de tantas outras,
do desaparecimento de antigas e da emergência de novas
civilizações, que marcaram a história da humanidade?”
(SCHILLING, 2003).
É este quadro que influenciará o filósofo iluminista
alemão Immanuel Kant (1724-1804) que terá resposta
afirmativa à questão: “mesmo levando em conta o
predomínio da loucura e da insensatez entre os homens,
devíamos nos esforçar, disse ele, para descobrir o “plano
secreto” da natureza que explicasse qual o sentido,
aparentemente desencontrado, das ações humanas”
(SCHILLING, 2003). Em síntese o proposto por Kant será
o abaixo exposto:
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No mais, é importante observar o corte feito, pois:
“conforme Hegel, as mudanças culturais – que constituem
a História – não são resultantes do desenvolvimento
harmonioso, amoroso, de um plano de Deus, defendido
pelos princípios da Teoria do Providencialismo Histórico de
Santo Agostinho” (MOTTA, 2005, p.80). Essencialmente
suas reflexões recaem sobre o foco das contradições, e
estas não faltam naquele momento. Afinal a Revolução
Francesa: “[...] saudada como a instauração da razão e
da liberdade, como realização da autonomia pregada nos
ideais do Iluminismo, [...] transformou-se rapidamente no
Terror, e depois, no imperialismo militarista de Napoleão
[...]”(ABRÃO, 1999, p.348).
Tal situação levou aos seguintes questionamentos:
“os resultados do movimento acabam por negar os seus
ideais. Por quê? Como eles se articulam, do ponto de vista
histórico? A questão intriga Hegel e é o ponto de partida
de seu sistema filosófico” (ABRAÃO, 1999, p.349). No
desenvolvimento deste problema da contradição entre ideal
e realidade é que acabarão por interagir respectivamente
as áreas de filosofia e da história: “o esforço de Hegel,
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da História
segundo Franklin Leopoldo e Silva, professor de filosofia da
USP, concentra-se num objetivo muito claro: a compreensão
do presente, a partir da explicação do sentido do
desenvolvimento histórico” (ABRAÃO, 1999, p.349), para
concluir que: “a filosofia hegeliana caracteriza-se nesta
medida, por um intenso compromisso com a realidade.”
(ABRAÃO, 1999, p.349).
De onde então surge uma nova questão para ser
refletida: mais o que é realidade? Para Hegel ela: “se
caracteriza justamente por seu aspecto mutável em todos os
níveis, principalmente, histórico” (ABRAÃO, 1999, p.349),
e então a questão passa a ser: “até que ponto os conceitos
formulados por distintos sistemas filosóficos dão conta
desse dinamismo?” (ABRAÃO, 1999, p.350). Para resolver
tal impasse: “interessa-lhe considerar o aspecto de processo
que a mobilidade do real envolver [...] as mudanças [...]
desde a percepção sensível até as revoluções políticas.
Compreender a realidade significa entender o modo como
esse processo transcorre” (ABRAÃO, 1999, p.349).
A história idealista, em essência é um modelo que visa
a explicar o movimento de evolução do universo. Este, por
seu lado, está em contínua evolução, o que ocorre sem
interferência do ser humano. A causa primeira deixa de
ser a ‘providência divina’ introduzida por Santo Agostinho.
Deus não é abolido, mas fica antes ligado à natureza,
como aquele que dirige o mundo por leis. Neste sentido, o
projeto para o mundo é absolutamente racional:
[...] Deus é o sistema de relações no qual
todas as coisas se movem e têm sua existência
e seu significado. No homem, o Absoluto se
alça à consciência de si mesmo e se torna
Ideia Absoluta – isto é pensamento que se
realiza como parte do Absoluto transcendendo
limitações e propósitos individuais, e captando,
sobe a competição universal, a oculta
harmonia de todas as coisas. ‘A razão é a
substância do universo [...] o projeto do mundo
é absolutamente racional. (DURANT, 1996.
p.281)
Por fim, a lei que haverá de colocar todo o sistema
em movimento será a dialética que, nesta concepção,
não apenas atua no plano do pensamento abstrato, mas
também no mundo concreto, e mais do que isto é elemento
de interação entre os dois planos distintos:
Porque não só os pensamentos se desenvolvem
e evoluem segundo esse ‘movimento dialético’,
mas também as coisas; toda a situação contém
uma contradição que a evolução deve resolver
com uma unidade reconciliadora [...] O
movimento do pensamento, então, é idêntico
ao movimento das coisas; em cada um deles há
uma progressão dialética a partir da unidade
para a diversidade e daí para a diversidade na
unidade (DURANT, 1996, p.280/281).
Com tais pressupostos, Hegel faz a conexão entre
filosofia e história, pois se interligam pensamento e fato:
“de todas as relações, a mais universal é a do contraste, ou
oposição. Toda condição de pensamento ou das coisas –
toda ideia e toda situação do mundo – leva irresistivelmente
ao seu oposto e depois se une a ele para formar um todo
mais elevado e mais complexo” (DURANT, 1996, p.280),
eis o “movimento dialético”. Tal explicação parte da
postulação filosófica de que para Hegel tudo aquilo que
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existe nada mais é do que uma manifestação da Ideia, que
por seu lado evolui necessariamente em direção ao Espírito,
onde se pode identificar o mecanismo denominado de
dialético: e a Ideia num primeiro momento equivale à tese,
a qual se contrapõe à antítese como negação da primeira,
que representa a Natureza, sendo que da interação de
ambas surgirá a síntese, expressão do Espírito.
Em suma, haverá negação, retomada e superação.
Assim, parte-se das ideias gerais para o plano dos
fenômenos sensíveis, que são particulares, concretos e
definidos. Neste sistema conceitual a história será definida
como sendo: “feita nos períodos em que as contradições
da realidade estão sendo resolvidas pelo crescimento,
assim como as hesitações e a falta de jeito da juventude
se transformam na facilidade e na ordem da maturidade”
(DURANT,1996, p.281).
Ao analisar tal sistema, a visão de Will Durant é de
que: “essa filosofia da história parece levar a conclusões
revolucionárias. O processo dialético faz da mudança
o princípio cardinal da vida: nenhuma condição é
permanente: em cada estágio das coisas há uma
contradição que só a ‘luta de contrários’ pode resolver.
A mais profunda lei da política, portanto, é a liberdade”
(DURANT, 1996, p.282). Entretanto, conforme a leitura
pode-se fazer uma abordagem de forma conservadora, e
isto acabou ocorrendo com Hegel, entre a sua juventude
vivida em meio a incertezas e sua maturidade com posição
consolidada.
Neste caso, como o sistema direcionava para a
liberdade, para ele esta só poderia ser conseguida se os
indivíduos se organizassem em Estado. Se no primeiro
caso o fundamento do movimento era a realização, neste
segundo instante é a satisfação. Tinha-se antes competição
e confronto, modificou-se para paz e harmonia ao longo
da vida do filósofo, algo de comum interesse com o Estado
autoritário prussiano: “se Hegel, no final da vida, se
inclinava mais para as implicações conservadoras de sua
filosofia do que para as radicais, isto, em parte, se devia
ao fato de que o Espírito da Era desconfiava de excesso
de mudanças [...] o filósofo da luta como a dialética do
crescimento [torna-se] defensor da satisfação (DURANT,
1996, P. 288).
Abre-se espaço para uma abordagem idealista
e romântica voltada para estudar apenas os fatos de
destaque, onde homens eram transformados em heróis,
sendo supervalorizados quanto à sua participação,
deixando de lado a perspectiva evolucionista em direção ao
futuro, para ficar à mercê de um culto ao antigo, visando
antes à manipulação social do que ao esclarecimento.
Tal dualidade acabará pela ambivalência na herança
hegeliana cindida em direita e esquerda. Na direita
hegeliana: “Weisse e o Fichte mais jovem encontraram,
na teoria do real como racional, uma expressão filosófica
da doutrina da Providência e uma justificativa para uma
política de absoluta obediência” (DURANT, 1996, P. 288).
Já pelo lado da esquerda hegeliana: “Feuerbach,
Moleschott, Bauer e Marx voltaram ao ceticismo e à “crítica
mais elevada” da juventude de Hegel, e desenvolveram a
filosofia da história, transformando-a numa teoria de lutas
de classes levando, por uma necessidade hegeliana, ao
‘socialismo inevitável” (DURANT, 1996, P. 288).
Por conta da abordagem de Hegel em relação ao
Estado, em seu idealismo, este haverá de encontrar
afinidade no positivismo de Comte, em ambos os casos
ocupando o lugar de ator principal da história.
A construção da teoria positivista pode ser observada
a partir daquele que o próprio Comte (1798 – 1857)
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
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MARCON, G. B.
declarou ser seu principal influenciador:
Segundo ele próprio afirmava trata-se da obra
Esboço de um quadro histórico dos progressos
do espírito humano, de Condorcet (17431794) obra cujo conteúdo: “traça um quadro
do desenvolvimento da humanidade, no qual
os descobrimentos e invenções da ciência e da
tecnologia desempenham papel preponderante,
fazendo o homem caminhar para uma era
em que a organização social e política seria
produto das luzes da razão. Essa idéia tornarse-ia um dos pontos fundamentais da filosofia
de Comte”(GIANNOTTI, 1996, p.06)
A história positivista se caracterizará pela narrativa e se
formará a partir da refutação de aspectos da abordagem
hegeliana. O foco será sua concepção ideal e racionalista,
contestados em nome da valorização do empírico, da
experiência, dos dados positivos, do fato social, fazendo-a
fixar o seu foco no passado. Entretanto, assim como Hegel
desenvolveu o seu sistema associando a filosofia à história,
Comte criticará a fundamentação metafísica do alemão
e proporá outro método: o observacional: “a filosofia da
História – primeiro tema da filosofia de Comte – pode ser
sintetizada na sua célebre lei dos três estados: todas as
ciências e o espírito humano como um todo desenvolvemse através de três fases distintas: a teológica, a metafísica e
a positiva” (GIANNOTTI, 1996, p.06).
Quanto aos positivistas, tem uma abordagem baseada
no cientificismo objetivando que o homem venha a
conhecer as leis da natureza apoiando-se no método
usado nas ciências naturais, não por acaso trazendo em
seu bojo o papel que cabe ao historiador, expurgado de
sua subjetividade e concepção ideológica, a quem caberá
descrição narrativa, exata e objetiva, cronologicamente
encadeada. Ou seja, sem conflitos ou contradições, pois
não se deseja a interpretação dos fatos, o que ficaria a
cargo das ciências sociais. Eis a delimitação da sua
contribuição da história. É neste sentido que o núcleo
principal do sistema fica ligado antes à educação, baseado
nas avaliações sociológicas a partir da história.
A evolução à história humana proposta dentro de
parâmetros científicos também ocorreria em Marx.
Porém em ambos os casos parece ter antes alimentado
fundamentos ideológicos do que revelações de leis de
condução da história humana com a mesma essência das
leis naturais. Em Comte tem-se um reformador e em Marx,
um revolucionário:
[...] com relação ao principal problema social
de sua época – o crescimento do proletariado
industrial – a posição do Comte não foi uma
posição revolucionária como a de Marx
(1818-1883). Comte considerava que todas
as medidas sociais deveriam ser julgadas em
termos de seus efeitos sobre a classe mais
numerosa e mais pobre. Acreditava também
que os proletários (e as mulheres) pudessem
abrandar o egoísmo dos capitalistas e que
uma ordem moral humanitária poderia abolir
todos os conflitos de classe. Os capitalistas
deveriam ser moralizados e não eliminados:
a propriedade privada deveria ser mantida.
Comte foi na verdade um conservador [...]
(GIANNOTTI, 1996, p.06).
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O positivismo se insurge contra a metafísica, fosse
ela sagrada, fosse humana racionalista, estando neste
contexto a valorização do aspecto laico em contraposição
ao desprestígio da ideia de religião ligada à providência
divina, humanizada. Ocuparam o lugar que era destinado
à vida dos santos a dos heróis. A ciência sobrepunha-se,
para alguns passava a ser o único fundamento da vida
humana, de modo que por mais contraditório que pareça,
ela, que nasceu combatendo os dogmas religiosos, acaba
sendo objeto de crença, como se fosse espécie de nova
religião, que efetivamente acabará proposta por Comte.
As características desta abordagem é ser narrado
aquilo que teve mais destaque, que foi mais relevante,
que apresentou maior repercussão social, onde o laico
e o divino aparecem bem separados e o tempo histórico
sobrepõe-se ao bíblico. Destaca-se o que é material e
concreto em detrimento ao que é abstrato ou místico. A
ação do Estado ocupa o lugar que foi da providência divina
para construir-se uma História da Civilização que substitui
a visão anterior de História Universal, entendendo-se
‘civilização’ como sinônimo de uma sociedade conduzida
a partir das leis identificada através da pesquisa científica.
O positivismo entende a história num contexto
de linearidade progressiva, onde visa à ordem, paz e
harmonia, como meios de alcançar o progresso, e se
contrapõe ao negativismo da dialética que visa a entender
o movimento histórico, onde está implicado certo nível de
caos. O que é valorizado no caso do marxismo, onde
justifica as revoluções. Se em Hegel e depois, em Marx,
a dialética dá movimento independente aos fatos, para
Comte estes devem ser vistos de forma isolada, como
objetos naturais e inertes. Numa síntese, o positivismo,
partindo da sistematização teórica, propunha uma solução
para a sociedade:
O estado positivo caracteriza-se, segundo
Comte, pela subordinação da imaginação
e da argumentação à observação. Cada
proposição anunciada de maneira positiva
dever corresponder a um fato, seja particular,
seja universal. Isso não significa, porém, que
Comte defenda um empirismo puro, ou seja,
a redução de todo conhecimento à apreensão
exclusiva de fatos isolados. A visão positiva dos
fatos abandona a consideração das causas
dos
fenômenos (procedimento teológico
ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas
leis, entendidas como relações constantes
entre fenômenos observáveis. [...] Em suma o
espírito positivo, segundo Comte, instaura as
ciências como investigação do real, do certo
e indubitável, do precisamente determinado e
útil. Nos domínios do social e do político, o
estágio positivo do espírito humano marcaria
a passagem do poder espiritual para as mãos
dos sábios e cientistas e do poder material para
o controle dos industriais. (GIANNOTTI, 1996,
p.09).
Por outro lado, numa linha paralela a Comte,
desenvolve-se, a partir da denominada
esquerda
hegeliana, a abordagem de Karl Marx (1818-1883), cujo
diferencial inicial em relação a Hegel estará em relação à
força motora do mecanismo dialético, porém invertendo o
sentido de como o usou Hegel, ao invés da ideia para o
plano concreto, basicamente em torno do plano concreto,
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Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da História
buscando o empírico no lugar do racionalismo. Rejeita,
assim, o que há de metafísico na dialética hegeliana: “[...]
no lugar do Absoluto como determinante da história através
do Zeitgeist, Marx sugeria movimentos de massa e forças
econômicas como as causas básicas de toda mudança
fundamental, fosse no mundo das coisas, fosse na vida do
pensamento”. (DURANTI, 1996, p.282/283). No lugar da
razão, o movimento onde dialeticamente confrontam-se as
classes sociais como mecanismo motor da história:
Com Marx e Engels emerge um tipo de história
bastante diferente, baseada na estrutura
progressiva de Hegel, mas que remete a
realização do objetivo da história para um
futuro onde surgirão as condições políticas para
a liberdade, sendo assim os fatores políticos
e econômicos, e não a «razão», o motor da
história (BLACKBURN, 1997).
O marxismo absorve a visão sistêmica de Hegel.
Também para ele a história não seria um conjunto de fatos
desordenados, mas segue o anterior como que construindo
sua teoria partir da identificação de leis naturais, visando
a adicionar caráter científico. No mais, rompe com a
tradição teológica, adotando uma postura ateísta que
na sua sistematização teórica elimina a possibilidade da
intervenção divina epistemologicamente ligada à tradição
agostiniana. O universo é matéria, e os fenômenos nada
mais são do que reflexo do movimento desta por leis
naturais, não sendo expressão de espírito universal racional
e nem de Deus, daí reafirmar a refutação da metafísica e
do teológico. Neste contexto, se define e atua o mecanismo
dialético centrado no terreno econômico em torno das
classes sociais de interesses opostos, fundamentando o
materialismo histórico, focando o concreto, o passível de
ser empírico, visando a reafirmar a qualidade científica da
teoria.
[...] escola de historiadores que tem em Marx
seu fundador e mais brilhante expoente explica
os movimentos, as modificações ocorridas na
sociedade, como resultado – consequência –
das forças econômicas da sociedade, [...] para
essa escola, as coisas não são independentes
umas das outras, mas interdependentes,
[assim embora] a história parece ser apenas
uma seqüência de atos desordenados, mas
na realidade, conforma-se a um padrão de
leis que podem ser descobertas. (HUBERMAN,
1981, p.236)
Com a elaboração teórica apoiada na história,
Marx propunha que: “a economia, política, lei, religião,
educação, de cada civilização estão ligados – um depende
do outro e é condicionado pelos, [mas] de todas estas
forças a economia é a mais importante” (HUBERMAN,
1981, p. 236). Ou seja: o “fator básico, a chave de tudo
são as relações entre os homens, como produtores, a forma
pela qual os homens vivem é determinada pela forma de
ganhar a vida – pelo modo de produção predominante
dentro de qualquer sociedade” (HUBERMAN, 1981,
p.237), é estrutura econômica que dá o caráter histórico,
com o elemento cultural secundário e gerado a partir dela.
Enfim: “partindo de uma perspectiva histórica, define
capitalismo como sendo um determinado modo de
produção de mercadorias, gerando historicamente desde
Pensamento Plural: Revista Científica do
o início da Idade Moderna e que encontrou plenitude no
intenso processo de desenvolvimento industrial inglês, ao
qual se chamou de Revolução Industrial” (CATANI, 1981,
p.08). Em síntese:
[...] a produção econômica e a organização
social que dela resulta necessariamente para
cada época da história constituem a base da
história política e intelectual dessa época; que,
por conseguinte (desde a dissolução da antiga
propriedade comum do solo), toda a história
tem sido uma história da luta de classes, de lutas
entre classes exploradas e classes exploradoras,
entre classes dirigidas e classes dirigentes,
nos diversos estádios da evolução social; mas
que essa luta chegou presentemente a uma
fase em que a classe explorada e oprimida
(o proletariado) não mais se pode libertar da
classe que a explora e oprime (a burguesia),
sem libertar, ao mesmo tempo e para todo o
sempre, da exploração, opressão e lutas de
classes na sociedade inteira (ENGELS apud
CHEVALLIER, 1980, p.287).
Também o positivismo almejou ser científico, porém,
seu método era observacional narrativo. Marx objetivou
além: a partir do que é concreto e material identificar a lei
que produzia o movimento da sociedade, independe do
arbítrio humano, portanto, determinística. Ou seja, assim
como no Newton descobriu as leis da física e as aplicou,
Marx supunha ter descoberto leis históricas. A partir destas
poderia não só prever, como interferir no direcionamento
do futuro. Para tanto, incitou o engajamento político,
desenvolvendo uma ideologia para a classe revolucionária,
o proletariado. A história, fonte para o marxismo, como
havia sido para o positivismo, porém, o método de
interpretação e as diretrizes do materialismo histórico são
outras. Marx desenvolve a sua análise a partir da ideia:
“[...] de uma ordem natural e espontânea, a
qual seria melhor ordem para a sociedade e,
por via da história, o leva a aceitar o fato da
realização dessa ordem por meio da evolução
fatal, [...] por esta atitude é levado a uma análise
evolutiva e não funcional destes fenômenos,
[...] estuda as variações, os movimentos dos
fenômenos econômicos e os liames de seu
desenvolvimento; interessa-lhe descobrir não
as leis de uma economia parada, mas em
movimento, em transformação”(HUGON,
1980, p.211).
É importante destacar quanto ao relacionamento de
Comte e Marx com relação à história. O ponto crucial é
que embora seja clara, a influência de ambos através de
suas teorizações, entre historiadores como Burke, são vistos
como sociólogos: “extremamente interessados pela história,
mas desprezavam os historiadores profissionais. Estavam
interessados nas estruturas, e não nos acontecimentos,
e a nova história tem um débito para com eles que,
frequentemente, não é reconhecido” (BURKE, 1992, p.
18/19).
Por fim, uma terceira linha de pensamento em relação
à história surgirá no último quarto do século XIX, início do
XX, o de Max Weber, que alguns autores como Catani para
diferenciar da linha econonomicista de Marx, chamará
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
55
MARCON, G. B.
de culturista. Em comum, ambas objetivam explicar
o capitalismo, tratam-se de: “duas grandes correntes
representadas por Max Weber (1864-1920) e por Karl
Marx (1818-1883); à primeira, chamamos de culturista e
à segunda, histórica, em razão dos diferentes pontos de
vista dos quais partem para explicar os mesmos conceitos”
(CATANI, 1981, p.07). Explicada a abordagem marxista,
agora se atém a esclarecer os aspectos da linha weberiana
identificada: “através de fatores externos à economia, para
Weber, o Capitalismo se constitui a partir da herança de
um modo de pensar as relações sociais (as econômicas
aí compreendidas) [...] Torna-se evidente nesta concepção
do Capitalismo a grande importância conferida a fatores
culturais”(CATANI, 1981, p.07/08).
Para esclarecê-la é importante entendê-la num
contexto onde a questão de método de construção do
conhecimento é o foco de problematização, era meados
do século XIX: “nessa época, assistia-se ao triunfo
dos métodos das ciências naturais, concretizadas nas
radicais transformações da vida material do homem;
operadas pela Revolução Industrial” (TRAGTENGERG,
1974, p.06). Entretanto, isto não ocorrerá de modo
pacífico: “alguns pensadores que procuravam conhecer
cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los
segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao
contrário, afirmando a peculiaridade do fato humano e a
consequente necessidade de uma metodologia própria”
(TRAGTENGERG, 1974, p.06).
No primeiro caso, podem-se citar os positivistas com
destaque os sociólogos Augusto Comte (1798-1857) e
Émile Durkheim (1858-1917) ao tratarem historicamente o
fato social como objeto desprovido de significado, apenas
observável de constatável mediante descrição objetiva.
Por outra via, Karl Marx (1818-1883), ao constituir o
materialismo dialético histórico também almeja produzir
ciência, seu caminho é o materialismo visando a dar ao seu
método força empírica colocando o ser humano de carne
e osso na sua concepção de classe social. Mais do que
isto, dando à dialética a característica de lei natural, que
definiria movimento da história a partir da contraposição
de classes.
Quanto ao segundo grupo, como já se observou
necessitaria de metodologia própria, a qual: “deveria
levar em consideração o fato de que o conhecimento dos
fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo
ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que
se procura conhecer é a própria experiência humana”
(TRAGTENGERG, 1974, p.06). Ou seja, nas ciências
humanas, o método deveria dizer respeito: “à própria
experiência humana, seriam introspectivas, utilizando
a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não
generalidades de caráter matemático, mas descrições
qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do
espírito” (TRAGTENGERG, 1974, p.06), prevalecendo
as concepções de civilização, classificada conforme o
progresso, alocando a história via divisão quaternária:
Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, nisto
repetindo a escola idealista.
Nesta abordagem de modo comparativo, pode dizer
que em ciências naturais busca-se uma relação de causa
e efeito, de modo a explicar os fenômenos, enquanto que
naquilo que se refere às ciências humanas a atitude seria
outra, trata-se de compreender os processos inerentes à
vivência humana e deles extrair um sentido um significado,
o que é bem diferente de uma explicação, a este respeito,
Tratenberg esclarece:“os sentidos (ou significados) são
dados, segundo Dilthey, na própria experiência do
investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos
56
na experiência dos outros” (TRAGTENGERG, 1974, p.06),
Será justamente este método compreensivo o adotado
por Max Weber, que consistirá: “em entender o sentido
que as ações de um indivíduo contêm, e não apenas o
aspecto exterior dessas mesmas ações” (TRAGTENGERG,
1974, p.08/09), observadas como: “um fato propriamente
humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido,
[que] não se esgota em si mesmo e aponta para todo
um complexo de significações sociais” (TRAGTENGERG,
1974, p.09), postura que o afasta da visão positivista de
fato social, ao mesmo tempo que da visão marxista ao
rejeitar o aspecto explicativo da causa e efeito, não visa
a leis exatas, mas a estabelecer tendências probabilísticas.
Por fim, cabe citar o pensamento de Spengler, publicado
em 1918, no livro O Declínio do Ocidente, que se tratava
de obra com uma: “descrição inevitável da decadência
das culturas que, tal como as plantas, tinham seu período
de crescimento, esplendor, decadência e morte. Para ele
havia chegado a vez da cultura ocidental, ferida de morte.
O livro [...] foi acolhido como um retrato depressivo da
intelectualidade alemã, atormentada pela guerra e pelo
desespero da derrota, um choro dos vencidos” (SCHILLING,
2003), que acabou por influenciar o historiador inglês
Arnold Toynbee que publicou:
[...] a partir de 1934, o seu monumental A
Study of History (O Estudo da História), no
qual identificou 21 civilizações na história da
humanidade. Toynbee construiu um majestoso
cenário onde as civilizações, como se fossem
os seres biológicos de Darwin, emergiam
ou desapareciam conforme a dinâmica
que imprimiam ao desafio-resposta a que
eram submetidas pela natureza e por outras
civilizações rivais (SCHILLING, 2003).
Os citados pensadores, efetivamente, influenciaram
na sociedade através da filosofia da história, inclusive
contribuindo para própria historiografia e se, parte deles,
em algum momento, teve a pretensão de identificar leis
históricas, o fato é que antes propuseram abordagens
sobre o tema, contribuições efetivas ao conhecimento, mas
que cabem ser relativizadas, não sendo confundidas com
verdades. O conhecimento do arbítrio humano é um fator
que ainda demanda estudos e pesquisas, de modo que a
ação do ser humano, quando muito, pode ser mensurada
por propensões estatísticas, e não pelo determinismo de
leis equivalentes as naturais.
Considerações finais
O tema aqui estudado visa a contribuir para
identificação de duas vertentes que não poucas vezes
acabam surgindo misturadas num mesmo texto. A
historiografia e a filosofia da história não são áreas
estanques, porém, o argumento proposto é que devem
ser olhadas a partir de uma dinâmica de interação, pois
que contribuem uma para o enriquecimento da outra, seja
no sentido de afirmações, seja no sentido de refutações.
Mais do que isto, o entendimento a que se chega em favor
da imparcialidade do conhecimento demanda que sejam
áreas que, embora interativas, tenham garantidas as suas
respectivas independências.
Trata-se de uma relação onde mais do que nunca
a relatividade evita com que a historiografia seja
constrangida pelas ideologias, que por vezes nascidas das
teorias construídas a partir da reflexão filosófica, porém,
não significa descartar a filosofia da história que contribui
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
Nascimento e Desenvolvimento da Filosofia da História
Referências
em refletir sobre questões que vão desde o método
até a influência do sujeito pesquisador, seja quanto a
divergências decorrentes de enganos, seja quanto à
intencionalidade de impor sobre o emaranhado de fatos
produzidos pelo arbítrio humano leis deterministas. Não
se trata de refutar por si só, mas se manter o critério de
relatividade, estabelecer a dúvida como saudável princípio,
manter viva a motivação da investigação, porém tendo
maturidade suficiente para não deixar que a razão se
aprisione em certezas, convertendo-se em crença, num
retorno aos velhos mitos, agora vestidos dos conteúdos da
ciência moderna.
Não existe aqui o propósito maniqueísta de cadastrar
em listagens distintas o que é o bem e o que o mal, nem
mesmo se quer propor isto ou aquilo com solução, porque
não temos aqui conclusão, mas considerações finais
inerentes a este estudo limitado a esclarecer um pouco
do que deve fazer parte da filosofia da história, e que
pode até influenciar na historiografia, mas por si só não
é historiografia. As contribuições da reflexão haverão de
sempre contribuir, porém, se não podemos ter nem mesmo
a certeza objetiva em sua inteireza do passado, como ter
certo o futuro? Porém, os dados devem ser buscados, a
iluminação deve prevalecer e o seu ponto de partida é a
história.
Numa aproximação visa-se a: “práticas científicas de
historiadores preocupados tanto em afirmar quanto em
negar os princípios ideológicos dos trabalhos selecionados.
Em busca de uma compreensão do alcance e dos limites
da reflexão acerca da historiografia” (ZANIRATO, 2006).
Portanto, uma dinâmica caracterizada pela: “importância
de um olhar crítico para a historiografia, da necessária
retificação das versões produzidas por historiadores
de tempos em tempos, que contribuem para alargar
o conhecimento teórico-metodológico da disciplina”
(ZANIRATO, 2006).
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Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
57
Abstract
MARCON, G. B.
The article aims to reflect on the concept brought by Kant to the area of philosophy in 1804, about the possibility
of laws like those that lead to the physical nature, which in its deterministic aspect would be able to define
human relationships and thus defining the structure of society, the philosophy of history as something distinct
from historiography focused on writing the story. In this sense, the criticism is about to seek means to approach
occurred reality. In first approach it has History as a discipline and in the other, as a philosophical speculative
concept, which was later developed by Hegel, being the source for Marx that adopted it as a basic precept in his
theoretical framework, around which were produced various educational approaches. Therefore the objective here
is to identify its origin, is to identify its origin, in order to discuss their actual extent and significance to evaluate the
distance between theory and reality.
Key words
Determinism, Education, Philosophy, Philosophy of History, Historiography
58
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.6, n.1, 2012
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