Sumário - Metodista

Propaganda
Sumário
Utilização do marketing político nas eleições do Vereador Wagner Ocimar Balieiro ------- 02
A utilização de expressões folclóricas como estratégia política nas eleições de 2008 em
Cuiabá – MT --------------------------------------------------------------------------------------------------- 18
Televisão e política na ditadura militar (1965-1985) ------------------------------------------------ 32
Cartas de princípios de partidos políticos enquanto instrumentos sociais ou produtos de
marketing: o caso do Partido Democratas ------------------------------------------------------------- 45
Marketing político em campanhas eleitorias proporcionais: um estudo de estratégicas na
eleição 2008 em Mauá – SP ------------------------------------------------------------------------------ 67
A visão estratégica da comunicação política na construção sustentável da imagem pública
do ator político ------------------------------------------------------------------------------------------------ 82
Barbeiragens bolivarianas em terra brasilis: o marketing político bolivariano de Lula ----- 95
Recursos literários no texto jornalístico: o exemplo de Colômbia espelho América ------ 103
Do choro ao riso! O poder da propaganda emotiva na disputa eleitoral --------------------- 114
Lobby no Brasil regulamentado e a democracia participativa ---------------------------------- 128
A sedução nos pronunciamentos políticos de Fernando Henrique Cardoso --------------- 139
A tribuna livre na Câmara de Taubaté e o direito à democracia ------------------------------- 158
A interdisciplinaridade aplicada nos projetos experimentais de marketing político e
eleitoral ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 178
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TAUBATÉ – SP BRASIL
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GT 06 – Temas Livres
Coordenador Profa. Dra. Monica Franchi Carniello
Universidade de Taubaté ([email protected])
UTILIZAÇÃO DO MARKETING POLÍTICO NAS ELEIÇÕES DO VEREADOR
WAGNER OCIMAR BALIEIRO
Margarete Salles de Oliveira e Rafael Iwanikow
.
Resumo:
Este estudo tem como objetivo verificar de que forma a utilização das
estratégias e ferramentas do marketing político podem ser determinantes para
o sucesso de uma eleição para vereador, tendo como exemplo o vereador
Wagner Ocimar Balieiro, de São José dos Campos – SP. Realizou-se, além de
pesquisa bibliográfica sobre o campo da propaganda política, entrevistas semiestruturadas com o próprio vereador e com sua equipe de campanha, o que
permitiu a realização de uma análise histórica do político em questão e de sua
estratégia de comunicação em épocas pré e pós-eleitorais. A investigação
indicou que, apesar de ter duas campanhas vitoriosas, tendo sido reeleito em
2008 com o dobro dos votos da eleição de 2004, Balieiro pode potencializar
ainda mais a utilização das estratégias de marketing político para garantir
outras vitórias nas urnas.
Palavras-Chave: Marketing Político, Campanha Eleitoral, Comunicação Pré E
Pós-Eleitoral
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Introdução
No Brasil, mesmo nos governos ditatoriais, a comunicação serviu para
amparar suas atitudes através da propaganda política.
Carlos Eduardo Lins da Silva (2002, p.
18- 19), define marketing político como “o
conjunto de planos e ações desenvolvidos
por um político ou partido político para
influenciar a opinião pública em favor de
suas idéias ou atividades.
(Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli,
Moisés Stefano Barel, organizadores,
Marketing político do comício à internet,
São Paulo/ABCOP – 2007, p.204 )
Artigo de Moisés Stefano Barel: O
marketing eleitoral/político e a ABCOP:
história
e
profissionalização
da
comunicação política no Brasil.
As eleições no Brasil passaram a utilizar
as ferramentas do marketing político que
conhecemos hoje nas eleições de 1982 (...)
O ponto alto deste processo ocorreu em
1989, com a primeira eleição presidencial
da Nova república. (...)
Essa eleição passou a ser referência na
discussão sobre técnicas de marketing
político.
(Pimentel, Marcelo Tadeu dos Reis, A
prática do marketing político, p. 19 e 20)
A partir das eleições de 1989 as estratégias de marketing sofreram uma
verdadeira revolução para a obtenção de votos definindo de vez o termo
“Marketing eleitoral”.
Sobre a definição de marketing eleitoral:
Podemos defini-lo como um conjunto de
atividades realizadas em épocas eleitorais,
de modo organizado e planejado, para
captar o maior número possível de votos
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para um determinado político, com o intuito
de torná-lo vitorioso na competição eleitoral.
(Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli,
Moisés Stefano Barel, organizadores,
Marketing político do comício à internet,
São Paulo/ABCOP – 2007, p.203)
Artigo de Moisés Stefano Barel: O
marketing eleitoral/político e a ABCOP:
história
e
profissionalização
da
comunicação política no Brasil.
Com essa visão sobre o Marketing Político é preciso definir o uso do
Marketing Eleitoral, bem como suas ferramentas, durante os processos
eleitorais, visando vitórias nos pleitos disputados.
São José dos Campos
O município de São José dos Campos está localizado no Vale do
Paraíba, no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Com população aproximada de
seiscentos e dez mil habitantes, é a sétima maior cidade do estado de São
Paulo, sendo a segunda maior arrecadadora do estado.
Importante pólo tecnológico abriga grandes empresas multinacionais
como Generals Motors, Embraer, Petrobrás, Johnson e Johnson, entre outras;
abriga também importantes centros de pesquisa e tecnologia como INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), CTA (Comando-geral de
Tecnologia Aeroespacial), IP&D (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento),
entre outros.
No cenário político São José dos Campos é governado desde 1996 pelo
PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), quando foi eleito para prefeito
o candidato Emanuel Fernandes.
Nos pleitos seguintes o PSDB conseguiu se manter no poder tendo
reeleito o prefeito Emanuel Fernandes em 2000 e posteriormente, em 2004,
eleito o candidato do partido Eduardo Cury, que foi reeleito em 2008. Durante
todos esses mandatos do PSDB, o governo construiu uma grande base de
apoio com os partidos aliados na Câmara de vereadores.
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Na legislatura de 2004 os vereadores considerados de oposição foram
somente os três eleitos pelo PT (Partido dos Trabalhadores). E em 2008, os
quatro eleitos pelo PT formam a oposição em São José dos Campos.
Definição do Personagem Político (Wagner Ocimar Balieiro)
Nosso objeto de estudo foi o vereador Wagner Ocimar Balieiro e as duas
campanhas para a Câmara Municipal de São José dos Campos que ele
participou, sendo eleito em ambas.
Nascido em São José dos Campos, em cinco de abril de mil novecentos
e setenta e oito, morador desde o nascimento na região da Vila Tesouro. Foi
por duas vezes presidente da SAB (Sociedade Amigos de Bairro) da Vila
Tesouro, no período de 1997 a 2001, participante de movimento estudantil
desde 1999 (sendo presidente do DCE Henfil – UNIVAP) até a conclusão do
curso de Engenharia Elétrica da UNIVAP em 2003, além de participação ativa
na Igreja Católica da Vila Tesouro, onde participou ativamente da PJ (Pastoral
da Juventude), grupos de crisma e Vicentinos.
Sobre marketing político e marketing eleitoral nas eleições à vereança em São
José dos Campos:
(...) Se analisarmos a utilização dessas
ferramentas em candidaturas a vereança
em São José dos Campos poderemos
observar a utilização das duas ferramentas
distintamente. Existem candidatos em
cumprimento de mandato de mandato
utilizando-se do marketing político para
viabilização
e facilitação do marketing
eleitoral, bem como candidatos utilizandose de marketing eleitoral para viabilização
de um primeiro mandato.
(Valter João de Souza, artigo publicado
no Jornal Valeparaibano de 12/03/2009,
p.2)
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Primeira Campanha Eleitoral
Com base na trajetória do candidato, descrita anteriormente, a equipe
coordenadora de sua campanha realizou pesquisas para definição da imagem
pública percebida pela comunidade da Vila Tesouro e região sobre o candidato
Wagner Balieiro.
Na organização de uma campanha é extremamente necessário ter visão
clara do candidato, pois toda a estratégia que será elaborada deve ser definida
e embasada em suas características.
Os materiais de campanha foram então estruturados com base na
percepção que a comunidade tinha do candidato: um jovem com participação
ativa na comunidade, através da SAB e da igreja, e participação política nos
problemas da sociedade, através de sua participação militante pelo Partido dos
Trabalhadores.
Para definição dos materiais de campanha foi debatido sobre: a marca, o
slogan, o jingle e a identidade visual da campanha.
Na marca era preciso referenciar o nome do candidato ao PT (Partido
dos Trabalhadores), havia definição de utilizar o nome Wagner Balieiro durante
a campanha, com apoio profissional criou-se a marca demonstrada na figura 1.
Figura1
traduzir, de maneira simples e
direta a experiência já adquirida e o caráter comunitário que seria adotado
durante a campanha. Foi definido o seguinte slogan:
PRA VALER A NOSSA FORÇA!
O Jingle de campanha foi criado com base no conceito da campanha,
transmitindo as características do candidato e sendo veiculado em todas as
ações do candidato e de sua equipe na região alvo.
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Na criação do jingle fugiu-se do lugar comum de adaptar uma música
conhecida adaptando-se somente a letra para a campanha.
Para a identidade visual dos materiais foi definido o uso das cores
vermelhas do Partido dos Trabalhadores, mas com uso de fundos brancos e
textos
leves
para
transmitir
leveza
e
jovialidade
aos
materiais
e
conseqüentemente ao candidato.
Definidos os materiais iniciais a coordenação de campanha inovou ao
iniciar os trabalhos no primeiro dia de campanha, com um panfleto de
apresentação da candidatura.
Em entrevista o vereador Wagner Balieiro disse que foi realizada a
panfletagem de casa a casa e um cadastramento dos moradores da região alvo
através de um pequeno questionário, no qual se tentava: identificar as
principais necessidades da região; perceber a receptividade de uma
candidatura da região à câmara de São José, quantificar o nível de
conhecimento do candidato pela comunidade e identificar possíveis apoios.
Nesta
ação
conseguiu-se
um
BD
(banco
de
Dados)
de
aproximadamente quatro mil moradores. O diferencial deste BD foi a forma de
obtenção dos dados: não se adquiriu uma base de dados pronta; fez-se o
levantamento através das entrevistas e os dados foram tabulados com as
autorizações dos moradores e, principalmente, em grande maioria das visitas o
candidato estava junto o que trazia mais credibilidade e visibilidade à
candidatura.
Durante a campanha foi realizado dois tipos de marketing: o concentrado
e o diferenciado, com a conseqüente diversificação dos materiais de campanha
concentrando-se em alvos definidos.
O marketing concentrado foi realizado na região da Vila Tesouro e
focado na participação na igreja e na comunidade com atos que eram
realizados pelo candidato durante sua rotina fora de campanha, só que agora
com mais freqüência do que antes.
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Foi montado um comitê de campanha em local de fácil acesso para a
população da região e todas as ações de campanha eram centralizadas no
comitê eleitoral.
O marketing diferenciado foi realizado nas seguintes frentes:
- na universidade na qual o candidato participara da vida
estudantil ativamente e em outras faculdades da região na tentativa de
surgir como um candidato com perfil para defender a situação estudantil;
- entre os profissionais do setor energético de SJC, pois o
candidato era funcionários da empresa EPTE e mantinha grande contato
com funcionários de outras empresas do setor através da participação
no sindicato da categoria.
Após o resultado da eleição, na qual o candidato foi eleito com 3.618
votos, sendo o candidato mais votado pelo seu partido, foi realizada uma ação
de comunicação pós-eleitoral com divulgação de panfleto de agradecimento
pelos votos e pelo apoio da região à candidatura. Mais uma vez o candidato
participou ativamente dos trabalhos de rua realizados pela sua equipe.
Primeiro Mandato
Apesar de não haver um profissional voltado exclusivamente à
comunicação política, os entrevistados disseram que durante o primeiro
mandato o vereador Wagner Balieiro conseguiu comunicar-se com grande
efetividade com seu eleitorado.
Para tanto utilizou diversas ferramentas tais como:
Elaboração do gabinete com membros da comunidade e da
equipe coordenadora de campanha: um dos motes da campanha
era conseguir um mandato que representasse a comunidade da
Vila Tesouro e a montagem do gabinete com pessoas da região
foi um passo coerente com a campanha;
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Reuniões de mandatos: realizadas periodicamente com os
principais apoios da campanha eleitoral e aberta a comunidade;
Prestação de contas: no início do mandado era realizada reunião
com objetivos de expor as ações do mandato. As principais ações
eram relacionadas e trabalhadas no formato de folheto, entregue
nas reuniões e enviado por mala direta e mailing constante da
base de dados do mandato;
Criação do site do mandato: site da internet onde poderia ser
acompanhado as principais ações do mandato e servir como
canal de comunicação com o vereador;
Mala direta e mailing com ações do mandato: trabalho realizado
periodicamente para divulgação das ações do mandato;
Uso do site de relacionamento Orkut.
Outro fator relevante na comunicação política realizada pelo vereador foi
sua inserção nas mídias de São José dos Campos.
Suas ações de mandato possibilitaram inserções nas rádios, jornais e
televisões da região com freqüência suficiente para ampliar sua exposição na
cidade.
Durante o mandato o vereador conseguiu quebrar o estigma de
“bairrista” que segue a grande maioria dos vereadores no Brasil, pois, apesar
de atuar com maior concentração na região que garantiu sua eleição, ele
participou ativamente em problemas identificados em outras regiões da cidade
de maneira sistemática.
Nos dois últimos anos de mandato foi nomeado líder da bancada do PT
na Câmara Municipal de São José dos Campos o que possibilitou ampliar sua
exposição conseguindo ter expressão regional.
Segunda Campanha
O planejamento para a segunda campanha foi bem diferenciado com
relação à primeira, pois o conceito trabalhado foi diferente.
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Enquanto na primeira campanha o desafio era mostrar ser viável como
representante da região, nesta segunda seria feito um julgamento do primeiro
mandato.
A imagem do candidato também sofreu alteração, pois, na primeira
candidatura a imagem era de um jovem com experiência e capacidade de
inovação para a política da cidade, enquanto que na segunda candidatura o
candidato já possuía uma imagem de homem público e o desafio era consolidar
seu nome no cenário da política municipal.
Atribui-se ao moderno marketing político
o sucesso da visibilidade de um
determinado candidato e quase sempre a
eleição de um candidato que consegue
alterar sua imagem junto ao eleitorado.
(Adolpho Queiróz,
Roberto Gondo
Macedo, organizadores. A propaganda
política no Brasil Contemporâneo, Cátedra
UNESCO / Metodista de Comunicação –
São Bernardo do Campo / SP, 2008 - p. 21)
Artigo de Daniel Galindo: Do marketing
político ao marketing do político
Universidade Metodista de São Paulo UMESP
E, indo além, era necessário superar a votação do último pleito, pois isto
poderia ser encarado como prova cabal da aprovação dos últimos quatro anos.
Para atingir estes objetivos utilizou-se as ferramentas desenvolvidas
durante a primeira campanha, realizando as adaptações necessárias para uma
segunda candidatura.
A marca de campanha sofreu mudança gráfica e de cor, ficando
conforme vemos na figura 2.
Figura 2
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O slogan de campanha permaneceu o mesmo, pois ainda traduzia os
objetivos da campanha.
A identidade visual foi alterada para passar a evolução pela qual o
candidato passará, indicando a apresentação de um candidato mais experiente
do que o da última eleição.
Os materiais de campanha foram criados com designer um pouco mais
arrojados, mostrando as atuações do primeiro mandato e o novo conceito da
identidade visual.
O jingle teve alterações suficientes para identificar que era uma nova
eleição, mas preservou se o mesmo ritmo e melodia.
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Jingle da 1ª campanha
Jingle da 2ª campanha
Chegou a hora de fazer acontecer,
valer a nossa força!
Chegou a hora de fazer acontecer,
valer a nossa força!
Em três de outubro votar em que
trabalha e luta.
Em cinco de outubro votar em que
trabalha e luta.
Wagner Balieiro, um jovem lutador.
Wagner Balieiro, um jovem lutador.
Nós vamos votar, fazê-lo nosso
vereador.
Nós vamos votar, ele é o nosso
vereador.
13200 meu voto é pra você. 13200 é o
Wagner do PT.
13200 meu voto é pra você. 13200 é o
Wagner do PT.
Pra valer a nossa força, pra fazer
acontecer.
Pra valer a nossa força, pra fazer
acontecer.
13200 é fácil e guardar. 13200 com
Carlinhos do PT.
13200 é fácil e guardar. 13200 com
Carlinhos do PT.
Pra aumentar a nossa força nós
contamos com você.
Pra aumentar a nossa força nós
contamos com você.
13200 nele eu vou votar. 13200 é o
Wagner do PT.
13200 nele eu vou votar. 13200 é o
Wagner do PT.
Com as experiências da primeira campanha, avaliando os erros e
acertos, foram definidas as estratégias de marketing adotadas para este pleito.
Novamente foi realizado o marketing concentrado e marketing
diferenciado.
No marketing concentrado novamente foi trabalhada a região da Vila
Tesouro, agora muito mais amplamente, conseguindo grande adesão dos
moradores com relação à campanha, foram fixados banners de apoio a
candidatura e ao candidato, mais uma vez foi utilizado a base de dados, que
durante o mandato aumentou e contava com 15.000 cadastros.
A presença do candidato nas ruas e eventos da região (como feiras e
comércio local) não foi visto como ato eleitoreiro, com o objetivo puro e simples
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de pedir voto; pois durante todo o mandato ele utilizou esta forma de contato
com a comunidade.
No marketing diferenciado foi ampliado, pois através do mandato o
candidato conseguiu inserir-se em outras regiões, necessitando ampliar seu
horizonte de atuação e marketing eleitoral.
Comparações Entre as Duas Campanhas
Conforme opiniões do vereador Wagner Ocimar Balieiro e de seu
coordenador de campanha Luiz Marcelo Inocêncio Silva Santos, as duas
campanhas foram muito parecidas.
O know-how do Partido dos Trabalhadores na organização de
campanhas ajudou na definição das peças e materiais de campanhas e
também no planejamento e estruturação organizacional.
O coordenador Luiz Marcelo considera que a maior diferença sentida foi
com relação ao tamanho de uma em comparação à outra. Enquanto a primeira
candidatura foi estruturada baseada na atuação da militância partidária e do
voluntariado, com poucas contratações de pessoal. Na segunda foi necessária
a montagem de uma equipe maior de cabos eleitorais para conseguir atingir
todos os possíveis eleitores, apesar da militância e do voluntariado ainda
serem parte importante da equipe.
A segunda campanha foi diferenciada, pois vinha de um mandato que
seria avaliado nas urnas, o que gerou muita tensão nos organizadores da
campanha.
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Resultado das Eleições para Vereador em 2004 e 2008
Eleições 2004
%
Votos
votos
Partido
Número
Candidato
Nominais válidos
PMDB
15015
Roberto da Penha Ramos
7.945
2,549
PSB
40100
Walter Katsunori Hayashi
7.201
2,31
PSDB
45699
Cristiano Pinto Ferreira
6.983
2,24
Dulce Rita Chaves de Andrade
PSB
40400
Dabkiwicz
6.126
1,965
PFL
25100
Carlos Alberto Macedo Bastos
6.025
1,933
PSB
40636
Valdir Alvarenga
5.941
1,906
PL
22231
Alexandre José da Cunha
5.750
1,845
PPS
23690
Miranda Ueb Machado
5.732
1,839
PFL
25605
Fernando Luiz Isoppo Petiti
5.394
1,73
PSDB
45610
Hélio Nishimoto
5.039
1,616
PSDB
45633
Cristóvão Gomes Gonçalves
3.770
1,209
PSDB
45678
Dilermando Dié Antonio Alvarenga
3.761
1,207
PT
13200
Wagner Ocimar Balieiro
3.618
1,161
PFL
25500
Jose Jorley do Amaral
3.410
1,094
PT
13500
Amelia Naomi Omura
3.349
1,074
PHS
31100
Lino Bispo da Rocha
3.331
1,069
PSDB
45654
Juvenil de Almeida Silvério
3.276
1,051
PMN
33033
José Luís Nunes do Couto
2.433
0,78
PSC
20123
Luiz Carlos Mota
2.340
0,751
PT
13450
Antonio Dutra da Silva
2.276
0,73
Fonte: www.tse.gov.br
Eleições 2008
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%
Votos
Partido
Número
Candidato
votos
Nominais válidos
PSDB
45605 Fernando Luiz Isoppo Petiti
7.600
2,31
PPS
23023 Roberto da Penha Ramos
7.318
2,22
PSB
40636 Valdir de Alvarenga
7.227
2,19
PT
13200 Wagner Ocimar Balieiro
6.938
2,11
DEM
25200 Renata Lemes de Paiva
6.733
2,04
DEM
25100 Carlos Alberto Macedo Bastos
6.705
2,03
PSDB
45610 Helio Nishimoto
6.562
1,99
DEM
25500 Luiz Carlos Mota
6.562
1,99
PR
22231 Alexandre José da Cunha
5.831
1,77
Dulce Rita Chaves de Andrade
PV
43400 Dabdiwicz
5.816
1,76
PPS
23690 Miranda Ueb Machado
5.592
1,7
PSDB
45699 Cristiano Pinto Ferreira
5.557
1,69
PSB
40100 Walter Katsunori Hayashi
5.540
1,68
PSDB
45678 Dilermando Die Antonio de Alvarenga
5.254
1,59
PT
13500 Amelia Naomi Omura
5.251
1,59
PSDB
45654 Juvenil de Almeida Silverio
4.922
1,49
PSDB
45633 Cristovão Gomes Gonçalves
4.371
1,33
PT
13123 Angela Guadagnin
4.329
1,31
PT
13450 Antonio Dutra da Silva
3.243
0,98
PR
22007 Jairo dos Santos
2.704
0,82
PR
22422 João das Mercês Almeida
2.556
0,78
Fonte: www.tse.gov.br
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Considerações Finais
Pudemos perceber que o know-how do Partido dos Trabalhadores, dos
principais membros da organização da campanha e do próprio vereador,
adquirido em outras eleições, possibilitou certo grau de profissionalismo às
candidaturas e ao mandato realizado entre 2004 e 2008.
É perceptível que o vereador Wagner Balieiro usou as ferramentas do
marketing eleitoral de maneira eficiente para se eleger. Sendo também bem
sucedido no uso do marketing político dando visibilidade a seu mandato de
vereador na programação de sua vida política entre os pleitos, conseguindo
obter na segunda eleição 6.938 votos.
Entretanto, é fato que uma assessoria de marketing político agregaria
valores e otimizaria os recursos, minimizando os percalços que ocorreram
durante o caminho, facilitando o desenvolvimento das campanhas, da
comunicação do mandato e do planejamento da carreira política do candidato,
possibilitando assim vôos mais altos ao vereador Wagner Ocimar Balieiro.
Bibliografia
Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli, Moisés Stefano Barel, organizadores.
Marketing político, do comício à internet – São Paulo: ABCOP –Associação
Brasileira de Consultores Políticos, 2007.
Pimentel, Marcelo. A Prática do Marketing Político – Ações de uma campanha
eleitoral vitoriosa; Taubaté; Ed. do autor; 2008.
Adolpho Queiróz,
Roberto Gondo Macedo, organizadores. A propaganda
política no Brasil contemporâneo – São Bernardo do Campo/ SP - Cátedra
UNESCO / Metodista de Comunicação, 2008.
DOMENACH, Jean-Marie. A propaganda política. São Paulo, ed. Difusão
Européia do Livro, 1963. - versão para e-book Março 2001
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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Mendonça, Duda – Casos e coisas – São Paulo; Globo, 2001
www.tse.gov.br
Pesquisa no Jornal Valeparaibano sobre o tema marketing político durante o
ano de 2009.
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A UTILIZAÇÃO DE EXPRESSÕES FOLCLÓRICAS COMO ESTRATÉGIA
POLÍTICA NAS ELEIÇÕES DE 2008 EM CUIABÁ - MT 1
Débora Cristina Tavares1 e Ramachandra Das Dos Santos Branco1
Resumo:
Este artigo propõe algumas reflexões acerca das relações entre
comunicação e estratégias políticas nos processos eleitorais. Procura
identificar essas estratégias de comunicação política utilizadas na construção
da imagem do atual prefeito de Cuiabá, Wilson Santos através da utilização de
expressões folclóricas tradicionais cuiabanas e mato-grossenses, em especial
do Siriri1 e Cururu1. O artigo parte de uma pesquisa bibliográfica e documental
para construir o referencial teórico e analisa materiais coletados a partir da
campanha política de 2008, bem como artigos em jornais da cidade e
fotografias que representam o objeto de estudo.
Palavras-Chave: Comunicação Política, Folkcomunicação, Construção De
Imagem
Introdução
Este artigo traz uma discussão a respeito da relação entre
comunicação e estratégias políticas utilizadas nos processos eleitorais.
Especificamente trata de alguns artifícios pelos quais os candidatos buscam
conquistar a confiança de seus eleitores e, com isso, conseguir o voto, seu
principal objetivo. No caso deste artigo, as abordagens focam as estratégias
utilizadas pelo então prefeito e candidato à reeleição da cidade de Cuiabá,
Wilson
Santos.
Na
abordagem
da
pesquisa,
o
principal
ponto
de
entrelaçamento entre as estratégias de marketing político e a campanha do
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
19
candidato está na utilização de elementos de comunicação popular, aqui
entendidos como folkcomunicacionais.
Esses elementos, como veremos mais adiante, causa o estreitamento
das relações entre o povo e o candidato favorecendo-o diante de seus
opositores.
Para que possamos analisar e discutir a apropriação dos elementos
utilizados por Wilson Santos em sua campanha, faz-se necessário uma
abordagem explicativa acerca das expressões folclóricas – Cururu e Siriri,
característicos da região mato-grossense.
Início do século XIII na antiga Vila Real do Senhor Bom Jesus de
Cuyabá – Cuyabá, nome emprestado do rio da região – se encontrava muito
ouro, não só nesta vila, mas em toda sua redondeza. Estes vilarejos, que
posteriormente seriam elevados a categoria de cidades surgiram no ciclo
econômico
do
ouro,
no
movimento
exploratório
dos
bandeirantes,
acompanhados pelos jesuítas. Estes catequizaram os nativos, o que trouxe
significativa contribuição aos folguedos regionais marcados pela religiosidade
do povo. Lá estavam os índios, servindo como mão-de-obra escrava, depois os
mamelucos. Logo chegam, ou melhor, são trazidos os negros para essa tarefa.
Nesse processo a economia se articulava em basicamente três pontos: a
produção agrícola de subsistência, a produção açucareira para exportação e a
exploração do ouro até seu quase esgotamento. Como se percebe, a cultura
tradicional cuiabana ou mato-grossense é composta pelo mosaico cultural do
país, recebendo influências históricas do período colonial, com destaque para
tradição católica. Podemos acrescentar aqui a influência da cultura espanhola
pela proximidade fronteiriça e pelos eventos que marcaram as disputas entre
os colonizadores e perceber esta proximidade quando em contato com as
expressões folclóricas regionais.
Neste contexto foram se formando os símbolos culturais que
identificam o cuiabano de Tchapa e Cruz1. O petxe1, como é falado, pela
proximidade com o rio; as frutas típicas como o cadjú e manga; o trato com a
cerâmica, cultura de origem africana; a idéia de povo hospitaleiro,
provavelmente para receber bem os bandeirantes. E é claro não podiam faltar
as festanças como o Siriri e o Cururu. Manifestações estas ligadas na maioria
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das vezes à religiosidade e que trazem uma grande diversidade de expressões
folclóricas nas roupagens, no linguajar puxado e no jeito característico de
cantar, nos instrumentos como a Viola-de-Cocho1 e o Ganzá1.
Pode-se observar na música de Pescuma, Henrique e Claudinho “É
Bem Mato Grosso” (2007) como a simbologia regional é listada:
É bem Mato Grosso / Um guaraná ralado / Pacú assado / Manga
madura do quintal
É bem Mato Grosso / Banho de rio ou cachoeira / Pescaria no
Teles Pires / Araguaia ou Pantanal
É bem Mato Grosso / Festa de santo / Churrasco piché caju
É bem Mato Grosso / Congo viola de cocho / Siriri e Cururu
É bem mato grosso / Belas igrejas / Casarões colônias / Festas de
rodeios / Praias festivais
É bem Mato Grosso / Grandes rebanhos / Plantações fenomenais
/ Um povo hospiataleiro / Como não se viu jamais
É bem Mato Grosso / O sol mais quente que há / Aquela bem
geladinha / A morena e a loirinha / Que faz a gente suspirar
É bem Mato Grosso / Um bailão de rasqueado / Ninguém fica
parado / Até o dia clarear
É bem Mato Grosso!
Este conjunto de símbolos folclóricos apresentados contempla a fala de
Lucena Filho (2007, p.154), quando afirma que:
As manifestações da cultura de um povo abraçam não apenas as
suas instituições e linguagens. As culturas se expressam via
transmissão de múltiplos signos, símbolos e ícones, vivenciados
nas suas crenças, danças, na musicalidade, na religiosidade, nas
comidas típicas, na literatura, na oralidade, nas suas produções
artísticas e nas suas festas.
No contexto da citação acima, percebe-se em Cuiabá a variedade de
informações, formas e conteúdos vinda das tradições populares e que são
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identificadas por este artigo quando inseridas nos meios de comunicação de
massa como estratégias de comunicação política.
Folkcomunicação
Antes de estabelecer relações entre as expressões folclóricas de Mato
Grosso e a utilização delas nas estratégias de marketing político do atual
prefeito Wilson Santos, faz-se necessário uma apresentação da área das
Ciências da Comunicação da qual tratamos como a Folkcomunicação
Primeiramente “Folkcomunicação é a comunicação através do folclore”
(LUYTEN apud MARQUES DE MELO, 2005, p. 77). Podemos entender a
Folkcomunicação como uma disciplina que estuda os processos pelos quais os
símbolos gerados de forma espontânea, pelas culturas denominadas
subalternas ou marginalizadas dos meios oficializados da comunicação,
passaram e passam atualmente devido às modificações ocorridas na
sociedade e principalmente referentes aos impactos midiáticos.
Segundo Marques de Melo (2005, p.74),
O objeto de pesquisa dessa disciplina situa-se na fronteira entre o
Folclore (resgate e interpretação da cultura popular) e a
comunicação de massa (difusão industrial de símbolos através
dos meios mecânicos ou eletrônicos destinados a audiências
amplas, anônimas e heterogêneas).
É interessante a forma clara como coloca Hohlfeldt citado por Souza
(2007, p.6),
A Folkcomunicação é o estudo dos procedimentos
comunicacionais pelos quais as manifestações da cultura popular
ou do folclore se expandem, se sociabilizam, convivem com
outras cadeias comunicacionais, sofrem influência da
comunicação massificada e industralizada ou se modificam
quando apropriadas por tais complexos.
Seguindo adiante é importante observar o momento histórico favorável
às manifestações folclóricas caracterizadas pela espontaneidade, como
descrito anteriormente de uma sociedade pré-industrial. Esse período pode ser
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compreendido desde os tempos coloniais até meados da década de 1930.
Estas sociedades e suas culturas ficaram como que esquecidas pelas
sociedades tidas como “mais desenvolvidas”. As manifestações folclóricas
surgiram então, da necessidade de interação social dessa gente à margem dos
processos oficializados.
Em todo mecanismo de formação de cultura, a comunicação
representa papel primordial. Como processo social básico, a
comunicação representa o próprio motor – da configuração do
simbolismo que marca o fenômeno cultural. É através da
comunicação que as gerações mais velhas transmitem às
gerações mais novas o seu acervo de experiências, os símbolos,
as normas, os valores, os mitos. É a comunicação que assegura a
sobrevivência e a continuidade de uma cultura no tempo,
promovendo, inclusive, a trasformação dos seus símbolos em
face dos novos fenômenos que o desenvolvimento aponta.
(BREGUÊS, 2003, p.107).
As transformações ocorridas daquele momento histórico até a
contemporaneidade são diversas, assim como as abordagens para tais
transformações. Situaremos agora os momentos históricos posteriores e suas
conseqüências mais nítidas nos processos folkcomunicaionais.
A influência dos meios de comunicação, o predomínio da cultura
de massa, e intensificação do avanço industrial com novas
tecnologias, e o turismo como fenômeno de lazer das multidões,
novos desafios foram lançados às manifestações folclóricas.
(BREGUÊS, 2003, p.107).
As festas [aqui podem ser entendidas também como manifestções
tradicionais do povo], em geral, vêm sofrendo significativas
mudanças em sua organização, no Brasil, resultante da
massificação da cultura, da urbanização, da divisão do trabalho e
da modalidade da economia capitalista adotada. (BENJAMIN,
2001, p.22).
O desenvolvimento urbano-industrial trouxe mudanças significativas à
sociedade brasileira. A chegada do “capitalismo tardio” veio estabelecer a
produção em grande escala no Brasil, o que sugeriu a padronização dos
hábitos de consumo, numa espécie de homogeneização da cultura, ou mesmo
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americanização da cultura. O que só foi possível com o uso estratégico da
mass communication.
Segundo Ortiz (1991, p.38) “se apontarmos os anos de 1940 como o
início de uma „sociedade de massa‟ no Brasil é porque se consolida neste
momento o que os sociólogos denominaram de sociedade urbano-industrial”,
porém somente nas décadas de 1960 e 1970 ocorreu a consolidação de um
mercado de bens culturais.
Trazendo para a realidade regional, neste período pudemos constatar
certo afastamento das novas gerações às culturas folclóricas tradicionais.
Estas gerações buscaram se aproximar da cultura americana ou paulista por
influência da indústria cultural, se recusando a receber valores da cultura
tradicional das gerações anteriores. O que sugeriu a extinção das
manifestações folclóricas.
De acordo com Breguêz (2009, p. 108) a extinção do folclore se dá
enquanto manifestação cultural espontânea. Vejamos o porquê nas palavras do
autor:
Com o crescimento da sociedade industrial é inevitável a extinção
progressiva do folclore enquanto manifestação cultural
espontânea. Isto porque o avanço cada vez mais intenso das
relações sociais e industriais engendra também o avanço da
indústria cultural que, em geral, se apropria das expressões que
vêm do povo imprimindo-lhes novos significados.
Considerando
as
festas
tradicionais
como
um
conjunto
de
manifestações folclóricas, podemos destacar a afirmação de Trigueiro (1998
apud SOUZA, 2007 p.8):
Vivemos num mundo de coexistência entre as culturas
tradicionais e modernas. A modernização não vem para acabar
com o folclore e a cultura popular por ser até mesmo uma de suas
estratégias. A incorporação de bens simbólicos modernos nas
festas tradicionais não elimina a cultura folk, mas, a trasforma e
insere no mercado de consumo dos meios de comunicação de
massa.
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Atualmente, ano 2009, podemos observar que o cenário é outro,
assistimos a consolidação da Globalização. A chamada Pós-modernidade ou
Era Digital. Fator fundamental para as mudanças ocorridas foi o rápido
progresso tecnológico. Segundo Ortiz (1994, p. 159) houve uma “passagem de
uma era mecânica para outra elétrica/eletrônica”.
[…] os empresários entendem que o capitalismo passou de uma
fase de high volume para de high value. Antes, o que importava
era produzir o maior volume de produtos para distribuí-los em
massa. Resultava disso a necessidade da padronização dos bens
de consumo, maneira de se baixar o custo de sua fabricação. O
momento atual seria distinto. Não é tanto a produção de massa
que conta, mas a fabricação de produtos especializados a ser
consumidos por mercados exigentes e segmentados (ORTIZ,
1994, p.148).
A partir daí, podemos entender a re-valorização das expressões
folclóricas como um modo de especialização dos produtos e serviços, atingindo
públicos específicos e segmentados através das expressões que identificam
um povo para conquistá-los.
As manifestações folclóricas após passarem pelo choque com a
indústria cultural, correr o risco da extinção, serem re-significadas aos moldes
da cultura de massa, passam agora por uma super-valorização por parte das
classes hegemônicas. Estas utilizam de um discurso de tipo esquerdista,
revestido de preocupações como a preservação dos saberes populares e
justiça social, legitimando a incorporação das expressões folclóricas na
aplicação de estratégias de comunicação – destaque aqui para o turismo –
ampliando e consolidando mercados e promovendo interesses políticos e
econômicos, como pode ser ilustrado pela imagem seguinte:
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Fonte: Notícia PAC (2007)
Ao pegar a viola de cocho (o violão pantaneiro) nas mãos, Lula disse ser o
“Almir Sater do Planalto”, em referência ao cantor, compositor e violeiro natural
de Mato Grosso do Sul (Notícia PAC, 2007)
Estratégias Políticas
Segundo Tavares & Santos (2004, p.5):
[...] podemos identificar a folkcomunicação também no campo
político, uma vez que, segundo a conceituação de Luiz Beltrão em
1965, a Folkcomunicação pode ser definida como „manifestções
artísticas e folclóricas‟ pelas quais „a massa se comunica e a
opinião se manifesta‟.
Para Lucena Filho (2007, p. 162) a Folkcomunicação também se
apresenta no campo político:
A fixação de símbolos [...] como imagens definidoras do Nordeste,
faz-se em meio a uma multiplicidade de outros fatos exibidos
como marcas capazes de dar uma cara à região. Elas são
apropriadas e adaptadas, em campanhas políticas ou como
estratégias comunicacionais, por
organizações em nível
mercadológico e institucional, para instrumentaliza [sic] a
identidade do nordestino e o sentimento de pertencimento.
Tomemos a imagem apresentada – Lula e Wilson Santos em evento
para anunciar a liberação do PAC – e as afirmações de Lucena Filho, Tavares
& Santos como ponto de partida para a análise dos símbolos que identificam a
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cultura regional mato-grossense, com destaque para as expressões do Siriri e
Cururu, instrumentalizados como estratégia de comunicação organizacional na
campanha política de 2008 e gestão do prefeito de Cuiabá-MT, Wilson Santos.
Wilson Santos durante sua campanha para reeleição utilizou em seu
discurso a proposta de resgate da cultura cuiabana, se colocando como um
candidato que tem conhecimento da história e cultura da comunidade regional,
embora ele mesmo seja caracterizado como “pau rodado” – uma expressão
local utilizada para referenciar as pessoas que residem na cidade, porém são
originárias de outro Estado. Nascido em Dracena, interior de São Paulo, Wilson
Santos mudou-se para Cuiabá em meados da década de 60.
Para fortalecer seu discurso de conhecimento da história e resgate da
cultura cuiabana e reforçar seus laços de identificação entre os eleitores, ele
usou de uma série de artifícios, como se apresentar com camisa de estampa
florida (imagem 1), característica das festividades mato-grossenses e produzir
adesivos de campanha com símbolos regionalistas (imagens 2 e 3), pintados
por pintores da região como Adir Sodré e Wender Carlos, seguem as fotos:
1
2
3
Fonte: Galeria de
Fotos [2008]
Fonte: REIS [2008]
Fonte: REIS [2008]
No debate entre os candidatos a prefeito, Wilson Santos utilizou mais
uma ferramenta para reforçar esta postura de candidato da terra conforme a
notícia do debate veiculado no jornal eletrônico 24HorasNews:
Na última pergunta do segundo bloco, Wilson Santos escolhe
Valternir para responder sobre área cultural e o questiona se ele
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sabe a diferença entre Siriri e Cururu. Valtenir sai pela tangente e
não responde qual a diferença, Wilson não perde a chance e
pergunta novamente (REDAÇÃO 24HORAS NEWS, 2008).
Neste episódio, Wilson Santos mais que dizer que seu adversário não
conhece a realidade regional, procura fazer entender que ele próprio conhece a
identidade local e por isso terá mais condições de gerir a prefeitura. Artifícios
como os citados, instrumentalizam a identidade do cuiabano gerando um
sentimento de pertencimento que por fim favorece quem os aplica.
Próximo da vitória nas urnas:
[Wilson] Santos afirmou ainda que sua vitória representa a vitória
do povo cuiabano. A nossa vitória, é a vitória dos cuiabanos, do
velho Mato Grosso, do guaraná ralado, da cabeça de pacu, da
piraputanga, do siriri e do cururu. A vitória das nossas tradições,
da nossa cultura (BORGES, 2008).
Mesmo eleito, o prefeito mantém sua imagem de sujeito da terra,
pintando e bordando Cuiabá com as cores e formas, ou símbolos folclóricos
que caracterizam a região.
1
2
3
Fonte: REIS [2008]
Fonte: REIS
[2008]
Fonte: REIS
[2008]
A primeira foto mostra uma pintura feita na caixa d‟água do reservatório
da cidade, onde foi inaugurado o Museu das Águas. A Pintura mostra uma
cena característica da cultura tradicional. A segunda foto destaca a pintura feita
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em um poste, vários postes na cidade foram pintados por artistas locais como
pinturas como esta que apresenta o peixe e o caju como símbolos da cultura
cuiabana. Na terceira foto a primeira dama da cidade, Adriana Bussiki faz pose
para ser fotografada na recém inaugurada Praça Oito de Abril com uma pintura
do artista local Adir Sodré ao fundo.
1
2
3
Fonte: REIS [2008]
Fonte: REIS [2008]
Fonte: REIS [2008]
Nestas imagens, a primeira foto retrata a Praça Rachid Jaudy com o
destaque para a Viola-de-Cocho, também fazendo referência à cultura
cuiabana e mato-grossense assim como o peixe retratado na segunda imagem.
O peixe é estruturado em mosaico por ser uma uma arte desenvolvida
no período do tradicionalismo local, ou na antiga Cuiabá, como é chamado o
período. O peixe, como já mencionado, pela proximidade com o rio, de uma
cidade nascida as margens do rio ao qual tomou o nome para si. O peixe é o
alimento mais tradicional da região, uma marca da cultura cuiabana. Este
mosaico é a logomarca da prefeitura na gestão do segundo mandato do
prefeito Wilson Santos. Desenvolvido por um grupo de artistas organizado pela
primeira dama. Esta logomarca está espalhada em vários pontos da cidade
como praças, postos de saúde, museus, entre outras obras. O ponto de táxi, na
terceira imagem, em formato de peixe é mais uma maneira criativa de
apresentar a identidade local. Por fim, podemos observar, em algumas das
fotos apresentadas as cores utilizadas para pintar a cidade, o verde e o branco.
Cores estas que compõem a bandeira da cidade. Conhecida pelo pseudônimo
de Cidade Verde, as cores são também exploradas em pinturas de meio fio,
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postes da cidade e prédios que oferecem serviços públicos, como postos de
saúde e cursinho para vestibulares.
Segue um trecho do texto encontrado no site da prefeitura de Cuiabá
na página em que é aprentado o folclore cuiabano:
Talvez por sua localização geográfica , que a isolou do resto do
país por muito tempo, Cuiabá é uma cidade com personalidade
própria. Na arquitetura, na música, na dança, na culinária, no jeito
de falar, enfim, em praticamente todas as suas manifestações
culturais, um traço genuinamente local pode ser encontrado. Essa
riqueza faz do folclore cuiabano uma das principais atrações
turísticas da cidade. (FOLCLORE).
E é com a identificação dessas manifestações culturais que o
candidato e atual prefeito de Cuiabá tem trabalhado suas estratégias de
comunicação política.
Considerações Finais
As estratégias de comunicação política realizadas pelo então candidato
a prefeito Wilson Santos e também pela prefeitura de Cuiabá demostram a
super-valorização das expressões folclóricas, característica da realidade
contemporânea. Essas modificações tornam-se sensíveis quando passamos a
enxergar a cultura tradicional como uma ferramenta de persuasão aplicável, na
especialização de produtos e serviços, de acordo com realidade do sistema
político e econômico adotado.
Pode-se
perceber
que
essa
apropriação
dos
elementos
folkcomunicacionais pelo candidato em sua campanha política procura suprir o
fato dele não ser nascido na cidade e dessa forma, consolidar sua aproximação
com o povo cuiabano, bem como tornar sua campanha caracterizada com a
identidade cuiabana e fortalecer o sentimento de pertencimento, como diria
Lucena Filho (2007).
Para tanto, a resposta do público parece-nos favorável a essa
abordagem utilizada pelo candidato, pois faz com que se sintam reconhecidos
em seu discurso.
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Ao tomar esse posicionamento, Wilson Santos se afasta da imagem de
figura exógena e se coloca como mediador das causas do povo, procurando
instituir a identificação e entendimento de suas mensagens por parte da
população de interesse e que são ao mesmo tempo participantes e agentes
geradores da cultura popular dentro do seu contexto social.
Fazendo isso, Wilson Santos se aproxima de seu eleitorado e, de certa
forma faz predominar seu “clima de força”, como estipula Domenach (1963, p.
82) disseminando suas idéias a partir de um discurso que pode ser facilmente
compreendido pelo eleitorado e com isso, favorecer sua campanha.
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TELEVISÃO E POLÍTICA NA DITADURA MILITAR (1965-1985)
Moacir José dos Santos1
Resumo:
A expansão da televisão como principal forma de entretenimento e
comunicação do Brasil adquiriu impulso decisivo na década de 1960. Esse
trabalho explora a constituição de um sistema de comunicação brasileiro a
partir de investimentos estatais e a disputa entre o principal grupo de
comunicação do período, sob o controle de Assis Chateaubriand e a nascente
Rede Globo de Roberto Marinho. A hipótese principal aponta para a realização
de um planejamento estratégico para o setor de telecomunicações sob os
governos Jânio Quadros e João Goulart e implantado durante a ditadura militar.
O modelo implantado estabeleceu para o Estado a responsabilidade de
desenvolver a estrutura necessária para a otimização dos serviços como
telefonia e transmissão de dados. E o setor privado passou a controlar o
mercado ligado a televisão sob o estimulo propiciado com a estrutura
implantada pelo Estado. A pesquisa histórica efetuada para analisar a disputa
entre os dois grupos de comunicação verificou que o conflito foi resolvido com
a arbitragem dos representantes da ditadura militar em favor do grupo de
comunicação considerado mais confiável, liderado por Roberto Marinho.
Palavras-Chave: Comunicação; História; Política; Televisão.
A compreensão das relações entre a televisão e política na
ditadura
militar
decorre
da
problematização
e
compreensão
do
desenvolvimento do setor de telecomunicações. Esse setor experimentou um
significativa expansão nas décadas de 1960 e 1970 e foi objeto de intensa
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disputa entre militares, empresários e políticos mediados no Estado nacional.
Diversos pesquisadores, ligados a Comunicação Social (MELO, 1981) e ao
Direito (HERZ, 1987), que a partir de problemas específicos as respectivas
áreas do conhecimento tentaram investigar a implantação e expansão das
telecomunicações no Brasil. Porém, a ausência de uma perspectiva histórica
determinou a limitação dos resultados destes trabalhos. Essas pesquisas
concentraram-se na constatação da expansão das telecomunicações, em
especial a televisão, como resultado da iniciativa da ditadura militar instalada
em 1964. Os militares pretenderam, sob essa ótica, criar um sistema de
comunicações apto a satisfazer as necessidades geradas com a expansão
capitalista dependente de recursos externos e, simultaneamente, aumentar o
poder de persuasão sobre a população. A defesa das bases da sociedade
consumista e desigual corresponderia a expansão de um sistema de
comunicação capaz de gerar apoio ao regime autoritário brasileiro. Entretanto,
a afirmação que define a expansão do setor de telecomunicações no Brasil e
da televisão apenas após a instalação do regime militar de 1964 não
corresponde as características históricas do processo de modernização da
comunicação no Brasil.
A pesquisa da legislação setorial brasileira anterior a 1964 e a
consulta as fontes da imprensa entre as décadas de 1960 e 1970, permitiu
detectar um movimento que envolvia políticos, militares e empresários
interessados na modernização das telecomunicações antes da implantação do
regime autoritário (OLIVEIRA, 1991). A definição de uma política brasileira de
telecomunicações foi a ação mais estratégica para a expansão da televisão no
Brasil. Os interesses específicos de cada grupo citado estavam conectados na
busca da mediação do Estado brasileiro, estratégico para a organização dos
serviços de telecomunicações e para a criação das garantias almejadas por
empresários da radiodifusão para investir com segurança no setor, em especial
na televisão. Outro aspecto importante para os empresários e para a expansão
da economia brasileira era a constituição das condições adequadas para o
desenvolvimento de uma forte indústria de equipamentos eletrônicos, com
destaque para produção de televisores. Este movimento tem seu ponto de
inflexão no ano de 1962, quando o estrangulamento do sistema nacional de
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comunicações e a homologação do Código Brasileiro de Telecomunicações
aceleram o conflito de interesses entre os diversos setores envolvidos, gerando
as condições que provocaram a fixação de uma política coordenada por meio
do Estado para o setor.
O Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, consolidou a
principal característica que permeou o desenvolvimento do setor no país até a
década de 1990, o monopólio estatal dos serviços (telex, telefonia, telégrafos
por exemplo) e a exploração da radiodifusão brasileira. Resultado da luta entre
diversos setores, a política brasileira de telecomunicações contemplou a
expansão sob o monopólio público associada a satisfação da necessidade de
crescimento econômico. Para tanto foi necessária a soma de esforços de
militares e políticos ligados a João Goulart, que almejavam a estatização de
concessionárias privadas de telefonia. O monopólio dos serviços de
telecomunicações unia perspectivas distintas na concepção do Estado como
promotor do desenvolvimento nacional. E os confrontos com políticos
vinculados a UDN e defensores do capital estrangeiro que surgiram quando da
estatização das concessionárias privadas de telefonia, resultaram mais da
preocupação destes de combater o governo do presidente João Goulart em
todas as frentes políticas existentes na época, do que em implantar um projeto
nacional de modernização das telecomunicações diferente do proposto pelo
governo federal ou os militares. Por exemplo, quando a elaboração do Código
Brasileiro de Telecomunicações foi iniciada em 1961, a UDN controlou a
comissão especial encarregada de sua organização, trabalhando em conjunto
com os militares indicados pelo então presidente Jânio Quadros para
assessorá-la com a sua experiência no setor. O principal item do novo código
era exatamente o monopólio público das telecomunicações, objetivo prioritário
na perspectiva dos militares para o sucesso da modernização do setor. Esse
objetivo dos militares não foi contestado ou rejeitado por parte dos membros da
UDN que compuseram a comissão nomeada por Jânio Quadros. A oposição da
UDN a estatização das concessionárias dos serviços de telefonia, telégrafo e
telex ocorreu em virtude da iniciativa política ocorrer após a renúncia do
presidente Quadros, portanto, liderada no âmbito federal por João Goulart. E
também com destaque para a ação do governador Leonel Brizola, no Rio
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Grande do Sul. Goulart e Brizola conquistavam prestígio político, naquele
momento, por estatizar ineficientes empresas privadas de telefonia, o que,
obviamente, não ocorria sob o olhar passivo da oposição representada no seu
principal partido político, a UDN ( SANTOS, 2000).
A opção por implantar o monopólio estatal no setor de serviços de
telecomunicações, por parte dos militares brasileiros, revela a busca do
controle de um setor estratégico para o desenvolvimento econômico nacional.
Entretanto, a associação ao capital estrangeiro não era rejeitada, mas mediada
com divisão da economia entre setores estratégicos para a segurança nacional
e setores em que presença do capital externo favorecia a expansão econômica
brasileira. Outro fator primordial para a participação decisiva dos militares no
setor de telecomunicações foi
experiência acumulada desde a década de
1930, quando devido a questões de segurança nacional, assumiram os órgãos
do governo federal encarregados de fiscalizar o setor. A segurança nacional
permeou todo o envolvimento dos militares com as telecomunicações,
norteando cada decisão destinada a maximizar o potencial estratégico do setor,
tanto para o crescimento econômico quanto para o controle de fatores que
auxiliaram na contenção de elementos hostis a manutenção da estrutura de
poder vigente no país. Somente a compreensão do ideal militar de aliar o
desenvolvimento econômico e a segurança nacional é possível entender os
fatores que impeliram os militares a participar da formação de uma política
brasileira de telecomunicações. Essa associação de fatores provocava nos
militares
brasileiros
a
necessidade
de
controlar
a
expansão
das
telecomunicações, principalmente por meio da instituição do monopólio público
dos serviços aliado à formação e controle dos órgãos de planejamento e
controle setorial.
Nesta perspectiva, o Código Brasileiro de Telecomunicações
resultou do confronto entre os militares, empresários e políticos, principalmente
nos combates travados quando da sua homologação em 1962. O principal
confronto ocorreu entre o governo federal e os empresários da radiodifusão,
que aliaram-se aos adversários políticos do presidente João Goulart. Aliás, nos
debates acerca da definição da legislação setorial o monopólio das
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telecomunicações não foi questionado decisivamente. A intensão dos militares
em assegurar ao Estado o controle monopolista de um setor estratégico
concretizou-se. No entanto, os maiores confrontos foram provocados em razão
do conflito sobre o estatuto da exploração privada da radiodifusão. Os
empresários lutavam por uma maior proteção da lei a suas atividades,
enquanto o governo do presidente João Goulart, estimulado com a intensa
polarização política, desejava um controle mais forte sobre as atividades das
empresas de rádio e televisão. Os vetos do governo Goulart aos artigos que
limitavam a interferência do poder executivo nas empresas de radiodifusão
foram derrubados no Congresso Nacional. A derrubada dos vetos de João
Goulart indicava o enfraquecimento de seu poder de negociação política, bem
como o fortalecimento de seus adversários no momento em que aumentavam
os conflitos políticos. A derrota de João Goulart na promulgação do Código
Brasileiro de Telecomunicações também significou o fortalecimento do poder
político dos empresários da radiodifusão, cuja dependência da expansão do
sistema nacional de telecomunicações, sob controle estatal, limitava-se as
condições tecnológicas, compensada por sua capacidade de articulação junto
aos políticos, somada a possibilidade de atrair o apoio da opinião pública.
Presidente João Goulart e o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
Fonte: www.google.com/29/09/09.
As condições de desenvolvimento da política brasileira de
telecomunicações definida
no
Código Brasileiro
de
Telecomunicações
consolidaram-se no decorrer dos anos. O regime militar brasileiro implantou
iniciativas administrativas e jurídicas para desenvolver e aperfeiçoar as
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diretrizes determinadas na legislação setorial, considerando as novas
condições de exercício do poder após a instalação do regime autoritário em
1964. Deste modo, o Plano Nacional de Telecomunicações, formulado após a
definição da legislação setorial, contemplou a satisfação das necessidades
econômicas dos centros dinâmicos do capitalismo brasileiro e de segurança
nacional almejada por parte dos militares. E a expansão do setor de
telecomunicações realizadas durante os primeiros anos do regime militar
conjugou o planejamento econômico estatal do período, o que resultou na
superação do estrangulamento gerado com anterior estagnação do setor. O
planejamento estatal sob a responsabilidade do Ministério do Planejamento
incluía
as
cidades
beneficiadas
com
a
expansão
do
sistema
de
telecomunicações, a despeito da definição das prioridades de ligações técnicas
ser de competência do CONTEL ( Conselho Nacional de Telecomunicações). A
definição dos investimentos públicos ocorria com inclusão do setor de
telecomunicações para viabilizar a modernização econômica. No campo
administrativo as ações do governo militar implicaram na homologação do
Regulamento do CONTEL, que detalhava de maneira específica a competência
do orgão. Outra ação estratégia do governo instalado em 1964 e que mantinha
o planejamento realizado no inicio da década de 1960 foi a criação do
Ministério das Comunicações. Entre as atribuições do novo ministério estava a
constituição de uma burocracia para dinamizar a administração de um setor em
vertiginosa
expansão,
reservando
ao
CONTEL
a
exclusividade
do
planejamento, orientação e coordenação da expansão do sistema de
telecomunicações.
Entretanto, a expansão do setor de telecomunicações foi marcada
por uma importante revisão das situações de infração a legislação setorial e as
punições previstas. Apesar da constituição da divisão de funções entre o
Estado, detentor do monopólio dos serviços de telecomunicações e, o setor
privado que controlou a radiodifusão, a arquitetura setorial não impediu a
emergência de um importante conflito. O escândalo Globo/Time-Life motivou a
criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) em 1966. Esse
conflito tem como origem a disputa entre empresas do setor para aferir
vantagens nas novas condições de desenvolvimento da radiodifusão brasileira,
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a saber, o denunciante, Assis Chateaubriand, líder e proprietário dos Diários
Associados, com a TV Globo, de propriedade do empresário Roberto Marinho.
O caso não limitava-se a empresas disputando o controle do mercado de
televisão, mas indica a luta para conquistar uma posição vantajosa para a
exploração eficaz das novas condições de operação possibilitadas com a
expansão do sistema nacional de telecomunicações (SANTOS, 2000). A
reorganização do sistema de telecomunicações implicou a constituição das
condições técnicas para transmissão em rede. A operação em rede significava
a redução dos custos, a ampliação do mercado consumidor e aumento da
captação ode recursos financeiros.
Uma nova fase da história da comunicação no Brasil era
inaugurada. A empresa que conquistasse as melhores condições de operação
naquele momento poderia garantir a liderança do mercado de televisão,
concentrando a audiência e os recursos aplicados com intensa expansão do
mercado publicitário (ORTIZ, 1991). O combate férreo ao fortalecimento da TV
Globo, propiciada com a associação a norte-americana Time-Life, foi priorizada
por várias empresas de comunicação sob a liderança do então principal
conglomerado de comunicação brasileiro, os Diários Associados. Todas as
empresas do setor envolvidas neste conflito haviam apoiado a deposição do
presidente João Goulart e esperavam auferir benefícios com a instalação do
regime militar no país. Contudo, o fortalecimento inesperado da Globo com o
suporte propiciado mediante a associação a norte-americana Time-Life,
desequilibrava a correlação de forças do setor. E a competição política entre as
frações de classe no poder para adquirir relevância na escolha do sucessor de
Castelo Branco, estimulou o conflito entre o ascendente grupo Globo e os
Diários Associados, que experimentavam muitas dificuldades financeiras para
manter a liderança do setor de comunicação social no Brasil.
Embora contasse com uma estrutura consolidada no rádio e na
imprensa, o grupo Diários Associados precisava administrar problemas de
gestão que comprometiam a eficiência da empresa e, simultaneamente, a
liderança no setor de televisão estava aberta a mudanças com a emergência
de novas condições tecnológicas. O advento de um concorrente com forte
respaldo financeiro e com apoio da cúpula militar e civil do governo brasileiro,
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constituía uma ameaça grave a condição de líder do setor de radiodifusão. A
disputa política interna as frações de classe que ascenderam ao poder com o
golpe de 1964, opondo os elementos beneficiados com o exercício autoritário
do poder, que participavam do controle do Estado aos indivíduos frustrados em
suas expectativas políticas, pois apoiaram a deposição de João Goulart e
acreditavam não receber o tratamento adequado por seu apoio político em
1964. É pertinente observar que a própria dinâmica do jogo político contribui
para a frustração do adversários da associação da Globo com a norteamericana Time-Life. A intensão dos governos militares em eliminar todas as
formas de populismo características do período anterior a 1964, cujo principal
expoente no setor de comunicação era exatamente o proprietário das
Emissoras e Diários Associados, Assis Chateaubriand, favoreceu um
tratamento condescendente que favoreceu a Globo.
Assis Chateaubriand.
Fonte: upload.wikimedia.org /wikipedia/29/09/2009.
A associação entre a Globo e a norte-americana Time-Life constituía grave
infração ao Código Brasileiro de Telecomunicações, o que não impediu,
entretanto, o favorecimento a empresa de Roberto Marinho. A televisão, no
Brasil, foi o principal meio de legitimação do autoritarismo, mas na segunda
metade da década de 1960 o domínio do mercado televisivo não estava
determinado, o que explica a rivalidade entre a Globo e os Diários Associados.
As possibilidades técnicas e econômicas constituídas com a expansão dos
sistema nacional de telecomunicações somente poderiam ser aproveitadas por
empresas dotadas de expressivo poder financeiro e político, capazes de
investir maciçamente em tecnologia, administração e produção de conteúdo
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televisivo. O conflito entre a associação Globo/Time-Life e os Diários e
Emissoras Associadas, evidenciou esse processo, ao opor um grupo
emergente apoiado em expressivo capital estrangeiro, ao maior complexo de
comunicação da América Latina da época(HERZ, 1987). A perspectiva
delineada com a constituição do sistema nacional de telecomunicações e nas
diretrizes econômicas do regime militar, que apesar de favorecer a
concentração de renda propiciou o aumento do consumo, especialmente da
classe média brasileira, instigava a expansão e consolidação de empresas
rentáveis e dinâmicas de televisão, em dimensão nacional. É importante
lembrar que o setor de televisão no Brasil estava regionalizado no inicio da
década de 1960, pois as condições técnicas como ausência do vídeo-taipe e
de um sistema nacional de telecomunicações implicava na inexistência de
transmissão em escala nacional. A criação do vídeo-taipe e do sistema
nacional de telecomunicações alterou esse quadro, constituindo as condições
técnicas para a operação da televisão em escala nacional.
Roberto Marinho e o presidente João Figueiredo.
Fonte:www.blogspot.com/29/09/09.
Apenas a organização empresarial sólida, com a redução dos custos e a
otimização dos lucros, ensejaria as condições para o melhor aproveitamento da
nova realidade da comunicação no Brasil. A conquista da audiência e do
mercado publicitário orientava o conflito entre a associação Globo/Time-Life e
os Diários e Emissoras Associadas. O sucesso da TV Globo em compor as
alianças adequadas para eliminar as punições a que estava sujeita se fosse
condenada, determinou a constituição de um novo modelo empresarial de
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administração das empresas de radiodifusão. A Globo aproveitou o máximo da
nova estrutura brasileira de telecomunicações em convergência à técnicas
racionalizadas de produção de conteúdo de televisão e administração
específica para uma empresa de comunicação. A TV Globo conquistou a
audiência e consequentemente captou a maior parte dos recursos publicitários
canalizados para a televisão. Em poucos anos a concentração dos
investimentos em publicidade na televisão significou a destinação da maior
fatia dos recursos a TV Globo (ORTIZ, 1991).
O escândalo Globo/Time-Life é fundamental para compreensão
do desenvolvimento da radiodifusão brasileira. O confronto entre frações de
classe que haviam defendido conjuntamente em 1962 os interesses do
empresariado da radiodifusão por ocasião da homologação do Código
Brasileiro de Telecomunicações e, apoiado a deposição de João Goulart
envolveu esta dupla dimensão: a concorrência comercial e o descontentamento
com o governo Castelo Branco. As bases da exploração das telecomunicações
estavam estabelecidas desde 1962 e foram aprimoradas durante o governo
militar,
segundo
as
diretrizes
definidas
no
Código
Brasileiro
de
Telecomunicações. Embora a exploração privada tenha recebido confirmação e
garantias legais, a concorrência entre as empresas estimulava a adoção de
posturas agressivas na busca de maior audiência e consequentemente do
controle do mercado. A combinação de interesses políticos de indivíduos que
sentiam-se lesados e a ameaça de uma nova hegemonia no campo da
comunicação, caracterizou o campo da comunicação no pós-1964. A proteção
oficial a TV Globo auxiliava a estratégia de redefinição do campo político que
apoiou a deposição do presidente João Goulart, com a exclusão do exercício
do poder dos descontentes ou considerados inadequados para compor os
interesses alojados no interior do Estado. Simultaneamente, favorecia-se uma
empresa em situação irregular e limitava-se a atuação política dos críticos do
governo Castelo Branco que apoiaram sua ascensão ao poder.
Portanto, a partir do Código Brasileiro de Telecomunicações
delinearam-se duas premissas fundamentais: o monopólio estatal do sistema
de telecomunicações e dos serviços (telefonia, telex e telégrafo) e, a
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conservação do modelo de exploração privado do rádio e da TV, conforme as
expectativas do empresariado do setor de radiodifusão. A construção de uma
concepção ampla sobre o setor, que articulava múltiplos interesses,
especialmente
nas
diferenças
entre
a
prestação
de
serviços
de
telecomunicações e a exploração da radiodifusão propiciou a constituição de
uma nova fase do setor no país, caracterizada por uma maior interferência do
Poder executivo na expansão do sistema e, no aumento da participação social
dos meios de comunicação de massa, com destaque para a televisão.
Ademais, o próprio termo telecomunicações surge somente com as iniciativas
de normatização do setor, o que sugere a necessidade de controle estratégico
de uma área dinâmica, diversificada e fundamental para a economia em grande
escala. Neste sentido, a política brasileira de telecomunicações foi permeada
por elementos fundamentais inerentes ao processo histórico brasileiro, cujo
conflito de interesses mediado no Estado fecundou seu desenvolvimento. A
partir do envolvimento de políticos, empresários e militares foi traçada uma
política setorial controlada e centralizada no Estado, mas conduzida em prol da
expansão econômica brasileira. O monopólio estatal foi estratégico para
canalizar os recursos necessários para a modernização das telecomunicações
e, embora o apoio a essa escolha não contasse com todos os empresários do
setor, a aliança dos militares e dos representantes do governo João Goulart
decidiu o Estado como principal gestor do sistema de telecomunicações. A
política de telecomunicações constituiu-se na perspectiva de potencializar o
ideal de desenvolvimento e segurança, que, afinal, mediante a composição de
vários interesses, estimulou a indústria de equipamentos, a economia e a
expansão do mercado consumidor através da televisão.
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43
Bibliografia
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SODRÉ, M. O monopólio da fala. Petrópolis: Vozes, 1977.
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CARTAS DE PRINCÍPIOS DE PARTIDOS POLÍTICOS ENQUANTO
INSTRUMENTOS SOCIAIS OU PRODUTOS DE MARKETING: O CASO DO
PARTIDO DEMOCRATAS
Mariana Mendes1 e Vinícius Werneck Barbosa Diniz1
Resumo:
A contemporaneidade é profundamente marcada pela mídia de massa.
Como consequência, a propaganda assumiu um papel preponderante nas
campanhas políticas. Nesse ambiente mediado, há instrumentos tradicionais
entre os partidos políticos - quais sejam: cartas de fundação, de princípios etc -,
que permanecem pouco alterados. Isso não implica, necessariamente, que o
significado desses instrumentos também permaneceu o mesmo. De que
maneira cartas de fundação ou de princípios se configuram em um contexto,
qualificado por Martin Wattenberg (1991), como intensamente centrado nos
candidatos?
O artigo analisa a Carta de Princípios do Democratas, antigo PFL, e
verifica se o documento assume, de forma mais preponderante, o papel de
recurso ideológico ou o de produto de marketing. Utilizando-se de discussões
sobre política e textualidade, propõe-se ponderar a densidade ideológica do
texto, e, a partir daí, sugerir os interesses sobre os quais talvez tenha sido
pautada sua confecção.
Palavras-Chave: Representação Política; Subtexto Ideológico;
Marketing; Partido Democratas.
Introdução
Dizer que o mundo é hoje diferente do que foi ontem é, de alguma forma,
um lugar-comum. Essa ideia é repetida em todas as épocas, e nunca sem razão.
A verdadeira questão se localiza nas perguntas que tentam responder quais
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essas diferenças e suas intensidades, importâncias e consequências. As
respostas não são consensuais quanto a isso, embora o sejam para a ideia de
que algo mudou.
Autores de diversas escolas científicas desenvolveram teorizações sobre
o momento atual da história. Stuart Hall acredita que vivemos uma modernidade
tardia; Zygmunt Bauman, uma modernidade líquida. Há os que se utilizam do
conceito pós-modernidade e há os que defendem a hipermodernidade. Em
entrevista ao grupo Cibercidades, da UFBA, Gilles Lipovetsky (2008) sumariza
uma das percepções sobre esse debate:
Quando eu abordei essa noção de pós-moderno, o fiz
numa tentativa de explicar fatos novos e uma nova
realidade. Os fatos que eu estava assinalando [...] são bem
pontuais: o fim das ideologias, o surgimento de uma nova
cultura hedonista, o destino da comunicação e do consumo
de massa, o psicologismo, o culto do corpo. Todas essas
realidades mostravam que havia um novo capitalismo e
também um novo tempo da vida democrática. Foi para
marcar essa mudança muito importante que empregamos
o conceito de pós-moderno, assinalando, assim, uma
bifurcação. A nova sociedade que se implantou durante os
anos 1950, 60 e 70 estava mais centrada no presente – no
hedonismo, no prazer, no consumo, na liberação sexual, –
com o fim das grandes crenças políticas. (LIPOVETSKY,
2008)
Após defender o conceito pós-modernidade, Lipovetsky modifica seu
percurso teórico e declara que ela nunca existiu: “[...] os fatos estavam certos; foi
a conceitualização que não estava correta, pois evidentemente não se era pósmoderno, mas se vivia em uma outra modernidade [...] ou mais exatamente em
uma hipermodernidade.” (LIPOVETSKY, 2008)
Luiz Nazario, em um ensaio sobre o quadro histórico do pós-modernismo,
sugere que a pós-modernidade só faz sentido como uma distopia, a despeito do
sentido positivo que o conceito de moderno também carrega. Pós-moderno “não
como superação dos males da modernidade [...], mas como superação negativa
do sentido negativo do fenômeno observado à luz da teoria crítica”. (NAZARIO,
2005, p. 25)
Sejam esses fatos novos e essa nova realidade (conforme as palavras
utilizadas por Lipovetsky na entrevista), seja a distópica visão da pósmodernidade em Luiz Nazario, fato é que as mudanças pelas quais passou a
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sociedade refletiram nas diversas arenas da vida social - não excluindo nesse
caminho aquelas que compõem o foco do artigo, a comunicação e a política.
Os partidos políticos constituem um desses objetos em rápida
transformação (e diretamente relacionados com os processos de mediatização
da política). Logo, trabalhos cujo foco concentrem-se nas reconfigurações
partidárias, à luz da relação comunicação e política, representam um local
privilegiado para a compreensão das mudanças sociais já aludidas. O objetivo
deste artigo é compreender a Carta de Princípios do Democratas (antigo PFL),
buscando apontar se ela se apresenta enquanto um instrumento de conquista da
adesão popular ou como um protocolo que se formaliza durante a fundação (ou
refundação) do partido. Sendo um instrumento de adesão popular ou uma das
etapas de formalização burocrática de um partido, como ela se comporta nessa
nova ambiência da política, claramente relacionada à comunicação de massa?
Contexto Político, Democratas E Linguagem
A Nova Ambiência Eleitoral
O cientista político Paulo Roberto Figueira Leal defende que, levando-se
em conta a realidade do cenário eleitoral contemporâneo, há o que se pode
chamar de uma “nova ambiência eleitoral”. Sem dúvida, a preocupação de Leal
sobre como os eleitores “apreendem, processam e utilizam as informações que
recebem no correr de uma campanha” é fundamental para compreender o que
nos propomos. (LEAL, 2002, p. 1)
Para Leal, há um conjunto de processos que funcionaram como uma
americanização das disputas eleitorais ao redor do planeta, os quais sumariza
em quatro elementos: a importância do candidato, a racionalidade do eleitor, o
impacto da campanha e a influência do sistema eleitoral.
Nessa nova ambiência observa-se uma forte personalização das
campanhas. Cada vez mais, os candidatos utilizam da formação de uma imagem
própria em detrimento das ideologias partidárias, fato que vem sendo registrado
por estudos em Comunicação e em Ciência Política.
A importância crescente do voto personalizado, o declínio
da identificação partidária e o processo de desalinhamento
do eleitorado sinalizam para a prevalência dos fatores de
curto prazo como determinantes do voto. Martin
Wattenberg (1991: 3) designa o fenômeno como a
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“ascensão da política centrada nos candidatos”. [...] Em
resumo, ele sustenta que, quando a opinião pública tende
à neutralidade sobre os partidos, é o candidato quem
polariza o debate. (LEAL; DINIZ, 2005, p. 1 e 2)
Dentro desse contexto os meios de comunicação tornam-se fortes
instrumentos para a construção das imagens dos candidatos, ganhando espaço
o marketing político. Roger-Gérard Schwartzenberg afirma que a personalização
do poder acabou favorecida pelo que se denomina política-espetáculo:
é a superestrutura da sociedade, é o próprio Estado que se
transforma em empresa teatral, em Estado-espetáculo. De
uma forma sistemática e organizada. Para melhor divertir e
iludir o público de cidadãos. Para melhor distrair e desviar.
E mais facilmente transformar a esfera política em cena
lúdica, em teatro de ilusão. (SCHWARTZENBERG, 1977,
p. 9 apud GROHMANN; FERREIRA, 2009, p. 3)
É importante ressaltar que essa nova forma de se fazer política é
resultado de diversos fatores, que incluem o desenvolvimento dos meios de
comunicação - que afetou os modos de interação social -, mudanças da
estrutura social, da economia etc. A partir da necessidade de adaptação da
política a esse novo contexto social, a propaganda política adquiriu crucial
importância. Jean Marie Domenach, a define como uma empresa organizada
para influenciar a opinião pública e dirigi-la (2001 apud LEAL; VIEIRA, 2009,
p.1).
Nesse ponto deve-se fazer uma distinção entre propaganda e publicidade.
Segundo Philip Kotler, economista norte-americano, propaganda é fazer “que o
comprador reaja mais favoravelmente às ofertas da empresa” (1980, p. 410). Já
a publicidade, conforme ressaltam Leal e Vieira (2009, p. 2), se refere a produtos
ou pessoas, não a ideias (como na propaganda). Essa sutil (e fundamental)
diferença conceitual favoreceu um entrelaçamento desses conceitos, já que, em
resumo, a segunda almeja convencer através dos melhores aspectos do produto
e a primeira a divulgar uma idéia.
Devido à natureza mercadológica da sociedade consumista pósmoderna, a propaganda política internalizou a lógica da publicidade e se
apropriou de seu discurso. Nesse contexto, o processo de decisão do voto acaba
tendo as mesmas características do processo de decisão de compra. De acordo
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com Philip Kotler, a decisão ocorre em cinco etapas: o reconhecimento do
problema, a busca de informações, a avaliação de alternativas, a decisão de
compra e o comportamento pós-compra (KOTLER; KELLER, 2006, p. 188 apud
LEAL; VIEIRA, 2009, p. 4).
A primeira etapa corresponde à busca de soluções para necessidades; a
segunda, à procura por informações sobre as opções de solução disponíveis; a
terceira analisa e estabelece os juízos de valor finais; a quarta é a decisão final.
Na quinta etapa – o comportamento pós-compra – o eleitor/consumidor irá
avaliar se há ou não a proximidade esperada entre suas expectativas e o
desempenho do candidato/produto.
Da mesma forma que Kotler acredita na racionalidade durante o processo
de decisão de compra, Samuel Popkin sugere que aquela é um traço distintivo
do eleitor típico dessa nova ambiência eleitoral. Seguindo o caminho da
psicologia cognitiva e de Anthony Downs, Popkin parte do pressuposto de que
as decisões tomadas pelos eleitores têm por base cálculos racionais. (LEAL,
2002, p. 3) Apesar de ser mais comum nos Estados Unidos, esse eleitor médio
é, cada vez mais, aquele encontrado pelo resto do mundo.
O terceiro ponto levantado na teorização sobre a “nova ambiência
eleitoral” é o impacto das campanhas enquanto fenômenos em mutação nas
democracias contemporâneas. Leal traz para o debate a tese de Thomas
Holbrook de que existe um “ponto de equilíbrio entre as forças políticas na
disputa” e de que “a campanha, em essência, serve para ajustar eventuais
disparidades, ajudando o resultado a direcionar-se a este ponto de equilíbrio
predeterminado por fatores exógenos”. Uma comunicação política eficiente seria
“aquela que ajuda os eleitores a identificarem os candidatos ou partidos como
agentes efetivamente capazes de oferecerem respostas para os problemas que
realmente os preocupam”. (LEAL, 2002, p.4)
O sistema eleitoral é também crucial para se compreender a dinâmica
pela qual se dá a disputa eleitoral em um país. No Brasil, um sistema
proporcional de lista aberta encontra-se em vigor desde 1945. Nesse sistema os
eleitores podem votar em um nome (voto nominal) ou em partido (voto de
legenda). As cadeiras obtidas pelos partidos (ou pelas coligações entre partidos)
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são posteriormente ocupadas pelos nomes que mais receberam voto naquela
lista única. É importante ressaltar que esta passa a ser compartilhada entre os
partidos em caso de coligação. Jairo Marconi Nicolau diz que já na década de 50
o sistema brasileiro passou a receber críticas de políticos e estudiosos:
Dois pontos apareceram com mais frequência nestas
críticas. O primeiro é que durante a campanha eleitoral, ao
invés de cooperarem entre si, os candidatos seriam
estimulados a competirem pelas possíveis cadeiras obtidas
pelos partidos. O segundo é que os candidatos teriam
fortes incentivos para pedir voto para si, mas poucos
incentivos para enfatizar a campanha partidária, o que
contribuiria para promover a „personalização‟ e enfraquecer
os partidos. (NICOLAU, 2007, p. 134)
Leal complementa essa discussão com a tese de Barry Ames de que, sob
sistemas proporcionais de lista aberta, os candidatos tem “poucos incentivos
para utilizar apelos ideológicos (pois estes, no lugar de distingui-los dos outros
nomes da lista, os aproxima deles)” (2002, p. 5)
Todas essas variáveis alijaram do eleitor médio sustentado por Popkin, a
ideia de um cidadão cívico, cônscio de suas responsabilidades frente ao bem
comum, para o qual ele contribui desinteressadamente. (LEAL, 2002, p. 3)
Buscar informações é um processo que apresenta custos, que não são viáveis
frente à ausência de estímulos e incentivos:
Como o eleitor não tem incentivos em buscar informações
políticas, os dados com os quais ele trabalha são
subprodutos de informações advindas de outras atividades
– pessoais ou econômicas, por exemplo. As informações
que se usa para o cálculo político são indiretas e decorrem
de impressões geradas em outros campos da vida
cotidiana. (LEAL, 2002, p. 3)
A forma como se processa a decisão do voto é um debate constante nas
ciências sociais e na ciência política. Em um livro dedicado ao assunto, Marcus
Figueiredo (2008, p. 156) defende a teoria da decisão bayesiana como a que
melhor sustenta a explicação para o fenômeno da decisão eleitoral. Para ele, a
teoria da decisão bayesiana “trabalha fundamentalmente com dois conceitos:
desejabilidade e desejabilidade esperada das consequências de ações. O
primeiro, estático, define o caminho que realiza melhor o desejo individual; o
segundo, dinâmico, pondera os caminhos alternativos pelas chances de
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sucesso.” (FIGUEIREDO, 2008, 156) Para a teoria da decisão, ter por base
apenas o “grau de desejabilidade é fazer uma opção política sem considerar o
estado de natureza”, enquanto “decidir racionalmente [...] é usar procedimentos isto é, ações e cálculos intelectuais - que garantam a máxima desejabilidade
esperada.” (FIGUEIREDO, 2009, p. 156)
É no contexto dessa nova ambiência eleitoral que se pode discutir as
estratégias de comunicação dos partidos políticos - inclusive suas Cartas de
Princípios. Certamente um documento partidário não representa uma força
isolada, mas sim um dos elementos da comunicação partidária, que se dá
naquilo que
chamamos aqui de nova ambiência eleitoral, descrita por
autores como Wattenberg, Popkin e Holbrook, [que] tem
três características principais: supervalorização da figura
do candidato; eleitor com racionalidade de baixa
informação, auto-centrado e propenso à aceitação de
atalhos informativos, que facilitem a decisão através do
processamento de informações prévias; e campanhas com
capacidade limitada de garantir vitórias, obrigando os
atores políticos à consideração de outras estratégias de
conexão eleitoral e de comunicação mais duradouras.
(LEAL, 2002, p. 5)
Análise Histórica do Democratas
O Democratas é um partido político brasileiro que se localiza à direita no
espectro partidário do país. A legenda foi fundada em março de 2007, quando
uma convenção do PFL (Partido da Frente Liberal) aprovou a troca do nome, a
nova sigla DEM e o nome de Rodrigo Maia para a presidência. (PFL..., 2007)
Em entrevista ao portal de notícias G1, o então presidente do Democratas
sugere que a mudança de nome foi uma reação a um novo ciclo de populismo
na América Latina. (ENTREVISTA..., 2007) Preocupado com esse ciclo, Maia
posiciona “populismo versus democracia”, fazendo uso do que se chama na
ciência política de contraconceito assimétrico: o elemento positivo é sempre
aquele que se refere à identidade do grupo que nomeia, enquanto o negativo, ao
outro (FERES JUNIOR, 2007, p. 99) Da mesma forma, construiu-se na história
os clássicos conceitos de cristão versus pagão e de grego versus bárbaro; a
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entrevista dada por Maia sugere agora o par populismo versus democracia, este
como o elemento positivo e aquele como o negativo - um avesso das qualidades
do Eu coletivo. (FERES JUNIOR, 2007, p. 99)
Outro motivo aventado para justificar as decisões da convenção de 2007
foi o desempenho eleitoral insatisfatório das últimas eleições, quando o PFL
diminuiu a bancada na Câmara dos Deputados e ficou com apenas um governo
estadual (PFL..., 2007). Desde sua fundação, o PFL participou da base de apoio
de todos os governos até 2002, quando passou para a oposição após a vitória
de Luiz Inácio Lula da Silva (do Partido dos Trabalhadores).
No resumo histórico desenvolvido no site oficial, o Democratas defende
que a escolha do nome do partido, substituindo PFL, “reafirma o mesmo espírito
criativo e firme da ação política de 1984”. (HISTÓRIA, 2009) Naquela época,
quando esboçava-se a transição do regime autoritário para a democracia, o PFL
ainda não tinha sido formado. Entretanto, um grupo de parlamentares do PDS
(Partido Democrático Social) iniciou um ousado movimento independente da
cúpula partidária:
Cansada de maltratar leads (o primeiro parágrafo de uma
reportagem, que gera o título) com a longa referência aos
“deputados do movimento dissidente do PDS” [...], a
jornalista Maria Inês Nassif [...] decidiu arranjar uma
denominação, ou um carimbo, para definir de forma sucinta
e clara o que era aquele movimento. [...] Foi assim que
surgiu e se firmou a expressão “Frente Liberal” para
designar o grupo de senadores e deputados do PDS que
se insubordinavam contra o regime, contra o governo
Figueiredo e contra a candidatura Paulo Maluf.
(CANTANHÊDE, 2001, p. 86)
A Frente Liberal aliou-se então ao PMDB para apoiar um candidato de
oposição. O escolhido foi o governador mineiro Tancredo Neves, do PMDB, que
teria como vice o senador José Sarney, do PDS. Por exigência da legislação
eleitoral, a chapa deveria ser formada por dois integrantes do mesmo partido, o
que levou Sarney a filiar-se ao PMDB. A mesma legislação, no entanto, não
impediu os integrantes da Frente Liberal, ainda filiados ao PDS, de votarem no
candidato da oposição. (SCHMITT, 2000, p. 59 e 60) A formalização da Frente
Liberal enquanto partido aconteceu em janeiro de 1985, após a eleição de
Tancredo Neves, e foi registrada no TSE em setembro de 1986.
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A Sugestividade das Palavras
Um artigo que se proponha analisar a Carta de Princípios de um partido
político, não poderia renunciar ao uso de discussões acerca da própria
textualidade. Conforme Confúcio bem definiu nos Analetos, sem conhecer a
linguagem não se pode conhecer o homem.
A Carta, apresentada pelo Democratas, contém 20 tópicos nos quais são
expostos os princípios que norteariam a prática partidária. São duas páginas,
que poderiam ser analisadas a partir de diferentes referenciais teóricos das
ciências que trabalham com a linguagem.
Kotler, por exemplo, já citado anteriormente, sustenta que “a comunicação
persuasiva acontece quando um emitente conscientemente desenvolve sua
mensagem no sentido de conseguir um efeito calculado sobre a atitude e/ou no
comportamento do público visado”. (1980. p. 381)
Claramente, não apenas no marketing a comunicação se dá para
alcançar efeitos específicos. O mesmo pode ser dito sobre a fala cotidiana, sobre
as relações interpessoais e, certamente, sobre o discurso político.
Se habitualmente estruturamos a fala objetivando
determinado fim, o discurso político produzido durante a
propaganda eleitoral pode ser revelador não apenas das
reais intenções discursivas de quem fala, mas também dos
valores ideológicos de fundo.(LEAL; DINIZ, 2005, p. 3)
O discurso político é eminentemente persuasivo, visto que em um contexto
democrático como o que se configura no Brasil, o político é alçado à condição de
representante através da instituição do voto. Para ele, o grande desafio é
apresentar-se, nas campanhas eleitorais, como a opção mais adequada para os
eleitores - grupo social que garante sua posição na esfera política. Leal e Diniz
sugerem que as manifestações discursivas dos indivíduos reverberam valores
dos grupos sociais aos quais pertencem. (LEAL; DINIZ, 2005). Citado pelos dois
autores, o linguista José Luiz Fiorin defende uma posição que compartilhamos:
A cada formação ideológica corresponde uma formação
discursiva (...). É com essa formação discursiva assimilada
que o homem constrói seus discursos, que ele reage
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lingüisticamente aos acontecimentos. (FIORIN, 2004, p. 32
apud LEAL; DINIZ, 2005, p. 4)
Não existe texto descomprometido e não há como se evitar a
tendenciosidade.(LAGE, 1998) Entretanto, se “esta decorre de interesse, de
preconceito, de legítima vontade de compreender ou da intenção maliciosa de
enganar é algo de avaliação complicada.” (LAGE, 1998, p 103) Lage defende em
sua obra que não apenas a escolha das palavras influi na produção de sentido,
mas também o fazem as estruturas argumentativas, os elementos enfatizados e
o contexto em que se localiza o discurso.
Não decorre daí que haja algum juízo de valor a ser elaborado no presente
estudo sobre a comunicação perpetrada pela Carta de Princípios do
Democratas. Como adverte Nilson Lage, tal empreitada seria complicada - para
não dizer inadequada. Isso não impede que uma análise da linguagem e de sua
utilização, sejam ferramentas para compreender um objeto teórico.
Textos (orais, escritos ou construídos com qualquer
matéria prima de signos verbais ou não verbais) podem ser
compreendidos em distintas camadas de significação. Por
debaixo da região mais superficial daquilo que está dito, os
níveis mais profundos de interpretação podem revelar
visões
de
mundo,
perspectivas
filosóficas
e,
fundamentalmente, valores ideológicos. (LEAL; DINIZ,
2005, p. 3)
Forma e Conteúdo
A Carta de Princípios do Democratas estrutura-se em 20 tópicos que
discutem diversos pontos, sobre os quais se pautariam as atuações do partido.
Diversas legendas têm sido acusadas de não seguirem seus manifestos
fundadores ou suas cartas de princípios, ao longo da trajetória política brasileira.
É possível que diversos partidos sequer possam ser reconhecidos a partir
da leitura de seus manifestos fundadores, o que não parece alterar muito suas
chances de sucesso eleitoral. Entretanto, independente de onde o Democratas
se localize nessa discussão sobre a relação entre os partidos e suas cartas de
fundação, é interessante notar que, com a refundação da legenda em 2007, a
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Carta de Princípios é aquela desejada pelo partido atual. Se a Carta não foi
modificada, ela continuava representando o partido e foi respaldada; caso tenha
sido alterada, ela estava desatualizada, mas agora se encontra ratificada. Nesse
sentido, esse episódio a torna diferente da Carta de outros partidos, e nenhum
integrante do Democratas poderia argumentar que tempos novos exigem novas
metodologias, e que estas não são contempladas pelos documentos escritos na
fundação do partido.
Entretanto, como entender essa Carta (bem como Manifestos de
Fundação, Programas de governo, Diretrizes partidárias etc) no contexto da
nova ambiência eleitoral? Em um cenário no qual o eleitor típico decide seu voto
a partir de atalhos e não de uma pesquisa extensa dos atores políticos
envolvidos na campanha, uma pergunta, então, se coloca: não seria a Carta de
princípios um excelente atalho para a decisão de voto desse eleitor típico?
Ao levar em conta as outras variáveis componentes da nova ambiência
eleitoral, e não apenas aquela que comenta sobre os atalhos para a decisão do
voto, parece-nos que o fenômeno se inverte. Outro elemento importante na nova
ambiência descrita por Leal (2002), o aumento da importância dos candidatos
em detrimento dos partidos - e consequentemente das qualidades dos
candidatos a despeito daquelas possuídas pelos partidos -, indica que um
instrumento coletivo como a Carta de Princípios se enfraqueceria enquanto
mecanismo de conquista do voto.
O adensamento da disputa interna nos partidos (expressa
na falta de unidade partidária) também ajudou a deslocar o
eixo da discussão para as qualidades dos candidatos e
para fatores de curto prazo. Competência, integridade,
capacidade de decisão, carisma e atributos pessoais
(aparência, idade, religião, saúde etc.) preenchem o
espaço deixado vago pela discussão política, sobretudo em
disputas pouco ideologizadas, como as norte- americanas.
(LEAL; DINIZ, 2005, p. 1 e 2)
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Aliada a outras variáveis dessa nova ambiência eleitoral, a personalização
alija do processo eleitoral elementos ideológicos. Essa percepção encontra
respaldo também na tese de Barry Ames já identificada anteriormente, pela qual
a personalização das campanhas torna desinteressante o uso de argumentos
ideológicos, pois estes aproximam os candidatos ao invés de diferenciá-los.
Defender uma Carta de princípios coletiva dificultaria a personalização das
campanhas, fundamental num sistema eleitoral (outra das variáveis da tese de
Leal) como o brasileiro.
Não é necessária uma busca ao dicionário para concordarmos que um
documento que reúne os princípios de um partido, se propõe a sumarizar os
valores, as teses, as crenças bem como as convicções mais caras, às quais a
lógica partidária se submeteria.
Já no título do presente artigo, aventamos a dúvida sobre o objetivo final
de um documento como a Carta de Princípios partidária. Uma das interpretações
sugere que ela se configura enquanto um espaço de sincera exposição de
informações que a legenda entende como de importante veiculação. Outra,
enquanto mero instrumento para fomentar a adesão eleitoral-partidária,
subjugando os princípios à dinâmica partidária. Há ainda a hipótese de que a
Carta nada mais seria que uma formalização de requisitos burocráticos,
necessários no momento da fundação: a mesma ideia se manteria e protocolar
também seria seu emprego posterior. Essas hipóteses podem se conjugar de
formas e intensidades variadas: um partido, por exemplo, que inicialmente
entende a Carta como uma obrigação protocolar, pode, posteriormente, tanto
utilizá-la para sincera exposição de suas convicções como para divulgar seus
interesses de uma perspectiva puramente pragmática.
É provavelmente consensual que o mais adequado para um regime
democrático seja o uso da Carta de Princípios enquanto instrumento de
divulgação ideológica, que informa o cidadão sobre os reais valores que
representam a essência partidária. De nada adiantaria tal documento se, após
escrito, não fosse disponibilizado pelos partidos aos cidadãos: torná-lo acessível
física ou eletronicamente é, portanto, um passo importante para alcançar seu
objetivo final.
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Quando se imagina, portanto, a existência de uma Carta de Princípios e
sua posterior publicização, há outra variável fundamental que não pode ser
esquecida: além do acesso físico, é imprescindível o acesso que se poderia
chamar de subjetivo ou intelectual. Desde as iniciais teorias da linguística, um
dos requisitos fundamentais para que a comunicação se estabeleça é o
compartilhamento de um código.
Nesse sentido, a carta não poderia ser escrita em uma língua
desconhecida do público alvo (seria criticada, obviamente, se fosse escrita em
inglês ou outra língua estrangeira). Mas há códigos que subjazem a própria
língua portuguesa, tornando uma forma dialetal incompreensível fora de seu
local de uso corrente, da mesma forma que uma norma culta não é
compreensível para grande parte dos cidadãos.
O público alvo de um partido político brasileiro é claramente heterogêneo,
visto que, no país, tem direitos eleitorais todo aquele nascido no Brasil ou
naturalizado brasileiro, maior de 16 anos, alfabetizado ou não, não importando
gênero, raça, etnicidade, religião, posição social etc. Comunicar com um público
tão diversificado é certamente um desafio que não é exclusivo de uma Carta de
Princípios.
No jornalismo impresso a linguagem também deve receber um cuidado
especial para que atenda a um público extenso e diversificado: seja por conta do
interesse público (quando o jornalista se esforça para produzir textos acessíveis
e claros), seja por conta do interesse econômico (quando para gerar capital a
empresa jornalística deve alcançar tiragens cada vez maiores de seus veículos
informativos).
Nessa busca do texto mais adequado, diversos jornais incluíram no meio
jornalístico os manuais de redação. Constituídos de normatizações estéticas
(como organizar informações visualmente), gramaticais e mesmo padronizações
de um texto com a “cara” do veículo, todos postulam um uso da variante formal
da língua aliada à simplicidade e concisão: “O texto de jornal deve ter estilo
próximo da linguagem cotidiana, mas sem deixar de ser fiel à norma culta,
evitando erros gramaticais, gíria, vulgaridade e deselegância.” (MANUAL..., 2009
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A) Da mesma forma que Nilson Lage, estudioso da língua e dos processos
comunicativos, ressalta em seu livro a importância das escolhas vocabulares, a
Folha de São Paulo sugere em seu Manual de Redação o uso de um conjunto
lexical que não dificulte a compreensão do texto:
Escolha a palavra mais simples e a expressão mais direta
e clara possível, sem tornar o texto impreciso. Palavras
difíceis e construções rebuscadas dificultam a
comunicação e tornam o texto pedante: Ele não sabe
quanto saiu a compra é melhor que Ele não dispõe dos
custos exatos da transação comercial. (MANUAL, 2009 A)
As mesmas recomendações não se restringem aos manuais de veículos
de jornalismo impresso, sendo encontradas, por exemplo, no Manual de
Redação do Banco do Brasil: a linguagem “deve ser simples, direta e objetiva,
que vá direto ao assunto, evitando-se linguagem restrita a determinados grupos”.
(MANUAL..., 2009 C, p.3) O jornal do próprio Senado e sua agência de notícias
publicou um Manual que tem posicionamento semelhante:
As matérias devem ser claras e concisas. O repórter deve
optar sem- pre pela simplicidade, escrever de forma direta,
em linguagem acessível, e evitar alongar-se sem
necessidade. A economia de palavras pode tornar mais
fácil a compreensão do texto. (MANUAL..., 2009 D, p.11 e
12)
Algumas semelhanças podem ser encontradas, portanto, entre o texto
jornalístico e aquele adequado para a redação de um documento partidário
destinado ao grande público. Embora possa haver vocabulários específicos de
um e de outro objeto, a ideia sustentada pela Folha quando diz que o texto deve
ser direto, objetivo e claro, é também necessária para uma democratização do
acesso ao texto de uma carta de princípios partidários.
Representantes do Democratas (como o já citado Rodrigo Maia)
enfatizaram que uma das teses mais importantes para o partido é a democracia.
Nesse sentido, o partido não se propõe a falar para elites (quando se analisa a
partir da ênfase discursiva oficial promovida pelos líderes partidários), mas para
o país e para o povo.
Não é, no entanto, o que sugere uma leitura crítica da Carta de Princípios
do partido, que usa de uma linguagem profundamente marcada por escolhas
lexicais e estruturas textuais rebuscadas. Contrariando a lógica dificilmente
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atacável de que a democratização da informação e da participação exige um
cuidado especial com a linguagem, a Carta, por vezes, exige grandes esforços
de quem se propõe a entendê-la: o texto “não deve ser redigido com períodos
longos e frases intercaladas, que obrigam o leitor a uma ginástica mental para”
compreendê-lo. (MANUAL..., 2009 C, p. 12)
Mas as escolhas lexicais e estruturais rebuscadas, as frases intercaladas,
os períodos longos e a profusão de ideias em um mesmo item estão presentes
ao longo do texto. O §12 da Carta de Princípios1, por exemplo, inicia-se com o
uso de uma palavra comum, porém a partir de uma acepção pouco usual, e mais
à frente emprega um termo que dificilmente faria parte de um texto escrito para
um público heterogêneo.
Reclamar uma justa distribuição da renda e da riqueza e
um crescimento equilibrado das regiões, objetivando a
equanimidade no processo de desenvolvimento. (§ 12)
Há termos cujo uso é inevitável, pela ausência de correspondentes de mais
fácil compreensão. Entretanto, se o tópico em questão fosse reescrito utilizandose dos termos “exigir” (ou buscar, lutar por...) e “igualdade” em lugar de
“reclamar” e “equanimidade”, certamente o documento alcançaria um público
mais extenso, sem prejuízo do sentido.
Esse questionamento feito ao § 12 pode ser estendido a outros 16 itens,
excluindo-se, provavelmente, os §§ 3, 5 e 15.
Já o § 11, contém em um único período de cinco linhas, múltiplas ideias
defendidas a partir de um léxico pouco acessível:
Propugnar por um desenvolvimento que vise à realização
integral do homem, a partir de um processo de mudança
qualitativa
nas
relações
sociais,
voltado
para
a
prosperidade econômica, equidade social e equilíbrio
regional, assentado em um relacionamento harmonioso
com o nosso patrimônio ecológico e consentâneo com
nossa cultura. (§11)
Palavras ou expressões retiradas do trecho acima, como “propugnar”,
“mudança qualitativa”, “assentado”e “consentâneo”, são de difícil compreensão.
Pode-se dizer que a dificuldade aumenta quando são utilizadas para tratar de um
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tema complexo como as convicções políticas. Aumenta ainda mais quando
empregadas em conjunto e em um período tão longo.
O Manual de Redação da Folha de São Paulo trata dessa questão de
maneira objetiva:
Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por
meio de encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso.
Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizarse das formas mais simples admitidas pela norma culta da
língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e
que cada frase contenha uma só idéia. (MANUAL..., 2009
B)
Todo o documento está permeado de vocabulário que seria classificado
pelo Manual da Folha de pouco claro e direto. As conclusões sobre a
impropriedade vocabular de termos como os expostos acima são praticamente
auto-evidentes, principalmente quando são lidas levando em consideração a
realidade socio-educacional brasileira.
A despeito dessa auto-evidência, uma análise quantitativa colabora para
uma percepção mais apurada da questão. Optamos por uma metodologia que
avaliasse a frequência com que as palavras da Carta de Princípios do
Democratas seria utilizada nos textos jornalísticos da Folha de São Paulo,
conscientemente pensados para serem acessíveis ao grande público. Admitimos
a possibilidade de falha do método, enquanto única forma de avaliar a
propriedade linguística de um material. Entretanto, aliando os números obtidos
ao bom senso indispensável à prática analítica, acreditamos que as conclusões
saem fortalecidas.
Verificamos, portanto, no sistema de buscas integrado ao site da Folha, o
número de ocorrências de cada palavra utilizada para a escritura da Carta de
Princípios do Democratas. Cada um desses números, que variaram de 1
(consentâneo) a 613.720 (mais), foram recolhidos e dispostos em tabelas para
análise posterior. Fizemos o mesmo com textos jornalísticos, dos cadernos
“Dinheiro”, “Educação”, “Cotidiano”, “Brasil” e “Mundo”, por serem provavelmente
aqueles que possuem discussões que mais frequentemente tangenciariam
aquelas efetuadas pelo documento do Democratas.
Obtivemos uma média, por texto, dividindo a soma do número de
ocorrências das palavras pela quantidade de palavras; portanto, a média da
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sessão Dinheiro, foi obtida dividindo 2.706.223 por 50 (número de palavras que
foram objeto de busca). O resultado, 54.124, é a média encontrada para o
caderno. As matérias escolhidas foram sempre as que constavam como as mais
lidas de cada sessão.1 A média final das 5 sessões, considerada pelo artigo
como a média da FSP é 59.011.
A mesma metodologia, utilizada para verificar a Carta de Princípios do
Democratas, resultou em uma média final de 21.364, quase 3 vezes abaixo da
média da FSP, e quase 4 vezes quando comparada à média do caderno
“Cotidiano”.
Quando analisadas pela mesma metodologia as 20 palavras mais
infrequentes de cada texto, acontece um fenômeno interessante. Enquanto a
média, nos textos da Folha de São Paulo, é de 4.743 ocorrências, a média das
20 palavras menos usadas entre aquelas encontradas na Carta de Princípios é
de 33. As 20 palavras mais incomuns da Carta são, portanto, 143 vezes menos
utilizadas que as 20 menos usadas nos textos da Folha.
À essa análise quantitativa pode se somar uma simples análise do bom
senso,
através
da
leitura
das
palavras:
consentâneo
(1
ocorrência),
preeminência (1), perfilhar (2), pugnar (2), propugnar (4), imobilistas (7),
equanimidade (8), preconizar (9), consubstanciada (12), consignar (20),
legitimada (32), espúrios (35), desfrute (41), primado (51), ascenção (53),
harmonioso (52), vise (72), acepção (75), postular (83), inviolável (85). Outras
palavras não menos complexas também são encontradas no documento, como
ingerência, equidade, pêndulo e cerceamento.
Considerações Finais
Esse uso da linguagem afasta da possibilidade de entendimento todo
aquele que não domina essa variante específica da língua; por sua vez, esse
afastamento tem consequências perversas. A primeira - e mais óbvia: nem todos
os eleitores têm acesso àquilo que o partido tem por princípios. A segunda também grave: muitos dos cidadãos desejosos em filiarem-se ao partido, serão
levados a fazê-lo a despeito da compreensão de um conjunto de princípios que
deveriam norteá-lo e com os quais deveria estar de acordo prévio. A terceira - e
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sintomática: se não há desejo ontológico em promover uma compreensão do
conjunto de princípios, nem ao eleitor, nem ao possível filiado, conclui-se que a
Carta não possui qualquer valor na dinâmica político-eleitoral brasileira; a
desideologização das campanhas chegou ao ápice de que um texto contendo
um corpo de princípios partidários não necessariamente precisa estar acessível,
física e intelectualmente, para o conjunto de todos os membros da pólis ou do
demos. Não é só o cidadão comum que está privado de uma discussão dos
princípios partidários, mas também muitos políticos.
Todos têm o direito de escolher livremente a variante linguística que
desejarem, mas é sintomático que uma Carta de Princípios seja um desses
textos que se tornam elitizados pelo uso excessivo de determinadas
terminologias e estruturas frasais. É possível concluir que, para um partido cuja
principal defesa é a democracia, não houve preocupação em divulgar
democraticamente as crenças e valores que pautam sua atuação.
A Carta - como os demais documentos - poderia ser um instrumento de
seminal importância para discussão de visões de representatividade, ideologias
partidárias, percepções de democracia e, mesmo, de partido. Não é assim que
tem funcionado. Em nossa conclusão, não acreditamos que tal situação se
restrinja ao Democratas. A pesquisa apreciou teoricamente a questão e depois
verificou seus pontos no estudo de caso sobre o documento do Democratas.
Acreditamos, no entanto, que essa situação se repete em grande parte do
espectro político-partidário brasileiro: não necessariamente por meio de uma
linguagem hermética, no entanto, mas de formas variadas.
Quantos eleitores leram, sabem e conhecem as cartas de princípios e
manifestos fundadores dos partidos em cujos candidatos votaram nas últimas
eleições? A pergunta incluída no título do artigo e refeita algumas páginas acima
talvez tenha sim uma resposta: as cartas de princípios - bem como os principais
documentos partidários - não são hoje nem peças úteis para o marketing
eleitoral, nem documentos de exposição ideológica para conquista de adesão
popular. Esses documentos representam um papel burocrático e protocolar.
Acreditamos que esse é um dos sintomas da nova ambiência eleitoral. Uma
das pesquisas que não foi feita mas provavelmente seria responsável por
interessantes resultados, é verificar de que outras formas as cartas de princípios
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alijam os interessados da possibilidade de compreensão e discussão. Uma
análise do discurso, seja de matriz francesa ou não, provavelmente demonstraria
que as cartas possuem diversos significados sob a óbvia e mais clara camada
de significação.
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6 ANEXOS
6.1 CARTA DE PRINCÍPIOS DO DEMOCRATAS
O Democratas tem por princípios:
1. Defender o primado da democracia, regime político que melhor responde às
necessidades e aspirações do homem civilizado, no qual o governo é escolhido
pela maioria, respeitados os direitos da minoria e assegurada a alternância do
poder.
2. Lutar pela instauração da plenitude democrática, consubstanciada na
existência de instituições públicas sólidas e estáveis, e na exigência de que a
lei, legitimada pela representação popular, seja efetivamente igual a todos.
3. Advogar o direito que todos tem de expressar, livremente, seus credos
religiosos e convicções políticas, como condição fundamental à existência do
Estado democrático.
4. Consignar seu repúdio a todas as formas de totalitarismo ou de
autoritarismo, reconhecendo contudo que é dever do Estado moderno
defender-se da ação dos seus inimigos, dentro da lei, e sem sacrifício das
liberdades fundamentais que constituem a essência da democracia.
5. Colocar-se firmemente contra qualquer espécie de discriminação e
preconceito, quanto à religião, sexo e raça, bem como defender o direito das
minorias.
6. Afirmar sua crença de que os homens são basicamente iguais em direitos e
que a pessoa humana é inviolável em sua dignidade, não podendo sofrer
quaisquer restrições que não aquelas necessárias à preservação de sua
própria integridade e de seu semelhante, e à defesa do bem comum.
7. Proclamar a preeminência e exigir o efetivo exercício dos direitos humanos,
em sua acepção moderna e dinâmica, que, além das liberdades públicas
fundamentais, abrangem os direitos econômicos, os direitos sociais, os direitos
culturais, os direitos ecológicos, e o direito à privacidade.
8. Pugnar pela expansão das perspectivas de vida do cidadão, de modo a
permitir que um número cada vez maior de pessoas desfrute de oportunidades
cada vez melhores e que os indivíduos possam ser livres para trabalhar e criar
segundo suas aptidões, respeitando cada um o direito dos demais.
9. Estimular e promover permanentemente a reorganização e renovação da
sociedade brasileira, tornando-a espontânea e pluralista, ampliando as vias de
ascensão social e política para as novas gerações e promovendo a valorização
da mulher, de modo que sua participação seja efetiva e integral, sem
limitações, discriminações, ou preconceitos.
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10. Preconizar a mudança social dentro da ordem democrática, recusando
soluções violentas incompatíveis com as nossas tradições, e posturas
imobilistas, que conflitem com as exigências de transformação da sociedade.
11. Propugnar por um desenvolvimento que vise à realização integral do
homem, a partir de um processo de mudança qualitativa nas relações sociais,
voltado para a prosperidade econômica, equidade social e equilíbrio regional,
assentado em um relacionamento harmonioso com o nosso patrimônio
ecológico e consentâneo com nossa cultura.
12. Reclamar uma justa distribuição da renda e da riqueza e um crescimento
equilibrado das regiões, objetivando a equanimidade no processo de
desenvolvimento.
13. Exigir uma ampla participação da comunidade na formulação e implantação
de decisões que aproveitem ao desenvolvimento nacional, bem como na
fiscalização dos atos governamentais.
14. Perfilhar o respeito ao direito de propriedade, com reconhecimento das
responsabilidades sociais inerentes ao exercício desse direito, tendo em conta
que o interesse individual não pode se sobrepor ao interesse coletivo.
15. Reconhecer a livre iniciativa como elemento dinâmico da economia e a
empresa privada nacional como agente principal da vida econômica do País.
16. Admitir a ingerência do Estado na economia, nos limites da lei, com a
finalidade de promover o desenvolvimento, regular as relações sociais,
condicionar o uso da propriedade a seu papel social e evitar a exploração
predatória dos recursos naturais, sem que, contudo, em nenhuma hipótese,
resulte em constrangimentos espúrios ao livre-mercado ou no cerceamento das
liberdades do cidadão.
17. Concorrer para o fortalecimento da organização sindical e o equilíbrio nas
relações entre o capital e o trabalho.
18. Postular a modernização permanente das Forças Armadas, como requisito
indispensável à defesa da soberania nacional e das instituições democráticas.
19. Propor uma política externa, fundada no princípio da igualdade soberana
dos Estados e no respeito à autodeterminação dos povos e a não-ingerência
nos assuntos internos dos outros países orientada em favor da paz mundial, do
desarmamento, de uma divisão mais justa do poder político e econômico
mundial e de um maior acesso dos países em desenvolvimento aos frutos do
progresso material e voltada para o estabelecimento de relações com todas as
nações que desejem cooperar com o Brasil, à base do respeito mútuo.
20. Empenhar-se em favor de um ordenamento constitucional que resulte da
manifestação livre e soberana do povo brasileiro.
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MARKETING POLÍTICO EM CAMPANHAS ELEITORIAS PROPORCIONAIS:
UM ESTUDO DE ESTRATÉGICAS NA ELEIÇÃO 2008 EM MAUÁ - SP
Kelly Cristine Chasci, Débora Alves Pereira E Roberto Gondo Macedo
Resumo:
As estratégias de comunicação política contemplam todos os níveis do
sistema político, porém, quando existe a necessidade de desenvolvimento de
campanhas de construção de imagem pública, pré-eleitoral, eleitoral e póseleitoral, o cargo que o ator político ocupa ou pretende ocupar, influencia
diretamente nas ações que serão estrategicamente elaboradas com o objetivo
de promoção de credibilidade na identidade do político, em suas mais diversas
aparições e atividades na sociedade. O objetivo do artigo é descrever a
atuação de candidatos nas eleições municipais de 2008 para a conquista de
uma cadeira no legislativo do município de Mauá, no estado de São Paulo, cujo
universo de votantes aproxima-se de 250 mil eleitores, apontando suas
estratégias de campanha, envolvimento do potencial grupo de eleitores e suas
opiniões acerca do Marketing Político como ferramental de sucesso nos
resultados eleitorais.
Palavras-Chave: Marketing Político; Estratégia Eleitoral; Campanha Eleitoral;
Voto.
Introdução
A interpretação da palavra “política” para a sociedade está cada vez
mais relacionada e vinculada a processos de ineficiência administrativa e
problemas derivados de corrupção em todas as escalas do poder público. Essa
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imagem denegrida influencia diretamente na compreensão, escolha e
participação do cidadão em suas obrigações democráticas.
O marketing político vem se desenvolvendo continuamente, mas
somente após 1945 quando o regime totalitário do governo deu lugar ao poder
de escolha que se começou a trabalhar com o auxílio de profissionais, a
imagem de forma positiva aos olhos do povo. Com a última eleição direta para
presidente em 1960, o Brasil enfrentou o regime militar desde 1964 sob muita
opressão e dificuldades, tudo era controlado pelo governo e qualquer
manifestação de oposição era sinônimo de forte represaria.
Após épocas intercaladas entre democracia (idéia desenvolvida pelos
gregos onde as pessoas têm participação ativa em processos decisórios), e
ditadura em 1974 o marketing se revela nos meios de comunicação, porém
ainda com muita cautela e também limitado pela Lei Falcão que só autorizava
em campanhas políticas a apresentação de foto e currículo do candidato.
A partir de 1984 com a campanha das “Diretas Já” ressurgiu na
população a esperança e coragem de lutar pelos seus direitos, juntamente com
outras lideranças como a UNE (União Nacional dos Estudantes), sindicatos
como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), artistas, religiosos e
intelectuais. Também nesta época o marketing se faz fortemente presente
através do rádio e televisão mostrando os comícios, atividades dos candidatos
junto à população, emissão das propostas, entre outras manifestações.
Entre tantas manifestações dois comícios foram marcantes, um no Rio
de Janeiro em 10/04/1984, e outro no dia 16/04/1984 em São Paulo, mais de
um milhão de pessoas se reuniram na Praça da Sé, num grandioso evento
movido pela esperança e pela sede de democracia.
Segundo dados do IBOPE (2006) “em média 85% da população que
votam fazem relação entre boa imagem e comunicação com responsabilidade
e justiça”, por isso é necessária uma pesquisa complexa e minuciosa quanto às
necessidades e expectativas da população seja realizada, a fim de fornecer
dados que permitam a tomada de decisão e avaliação das ações já em
andamento.
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Todo este processo serve como base em prol de novas estratégias ao
decorrer da campanha. E inevitável relacionar política ao período eleitoral e
tudo o que ele implica para promover a imagem do candidato, pois este
mercado eleitoral apresenta características diferentes de qualquer outro, está
cercado de desafios como, por exemplo, saber lidar com diferentes públicos
nas mais diversas situações,
Origem e Conceituação do Marketing Político
O marketing político está ligado à evolução da comunicação e dos
princípios da democracia, direcionado a idéia de participação das pessoas nos
processos decisórios, vindo historicamente desde a época das repúblicas da
Grécia, que tinham como referência votar em todos os cargos.
As assembléias normalmente aconteciam em períodos de lua cheia, com
eleitores maiores de trinta anos e sem manchas em sua reputação, e assim
através
de
aclamações
mais
imponentes
a
população
elegia
seus
representantes.
Já nesta época o marketing político se fazia presente através de
banquetes em honra ao candidato onde se destacavam suas qualidades e
benevolência, aplausos calorosos iniciados por seus súditos diretos durantes
as assembléias, e também os cânticos comparados atualmente aos jingles de
campanha.
O marketing político é um conjunto de técnicas e
procedimentos que tem como objetivos adequar um
(a) candidato (a) ao seu eleitorado potencial,
procurando fazê-lo, num primeiro momento,
conhecido do maior número de eleitores possível e,
em seguida, mostrando-o diferente de seus
adversários, obviamente melhor do que eles.
(FIGUEIREDO, 1994, p.10).
A comunicação vem se adaptando, porém somente isto não basta, a
evolução tecnológica veio complementar o marketing no processo eleitoral
através do rádio, da televisão, celular, computador, entre outros.
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Todas estas modalidades vêm se aprimorando junto com a habilidade de
tratar as pessoas que é um fator essencial, e todo este conjunto deve ser
continuamente trabalhado por todos os envolvidos em uma campanha política.
Segundo Tavares & Torrezam (2007, p.12) “contudo, principalmente na
época em questão, os candidatos precisavam se não estar com a população,
transmitir sua mensagem e seus ideais para seus eleitores”.
Nos Estados Unidos após 1945 a democracia trouxe consigo o acesso
às informações e o poder de escolha, porém só se pode ver a ação do
marketing político em campanha televisiva no ano de 1952 através da
candidatura do General Dwight Eisenhower do partido republicano.
O marketing político dava seus primeiros passos no país por intermédio
da agência BBDO responsável pela campanha do General, surgia então uma
das principais preocupações dos profissionais de marketing político que é a
adaptação do discurso do candidato, Após a eleição do General Eisenhower
com a contribuição do marketing político, os republicanos reservaram 20
milhões de dólares em investimentos.
Com a evolução dos tempos e formas de comunicação, o marketing
político se faz extremamente necessário como diferencial competitivo, ele tem
como objetivo moldar o candidato, seu discurso, sua postura até mesmo sua
imagem de acordo com as expectativas do eleitorado, não somente em
campanha eleitoral, mas ao longo dos quatro anos de mandato, que é a
essência do marketing político.
Há uma diferença entre marketing político e
marketing eleitoral, porém ambos se completam, são
processos distintos, o marketing eleitoral entra em
atividade exatamente nos meses de campanha que
antecedem a eleição, já o marketing político é mais
complexo, ele é permanentemente trabalhado ao
decorrer dos quatro anos, “[...] estamos tratando de
uma estratégia permanente de aproximação do
partido e do candidato com o cidadão em geral”.
(GOMES, 2004, p.27).
No processo de marketing político são pesquisadas e reconhecidas as
necessidades da população, para que a proposta do candidato se ajuste as
expectativas do seu público alvo, há uma diferença entre marketing político e
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marketing eleitoral, porém ambos se completam, são processos distintos, o
marketing eleitoral entra em atividade exatamente nos meses de campanha
que antecedem a eleição, já o marketing político é mais complexo, ele é
permanentemente trabalhado ao decorrer dos quatro anos, durante o período
de mandato o político deve ter ciência de tudo o que fala, faz ou não, irá refletir
em sua futura campanha, por que conquistar os eleitores não é uma tarefa
fácil, ainda mais difícil é torná-lo fiel.
Para alcançar este objetivo devem-se conhecer as necessidades das
pessoas, pois são elas que irão direcionar a campanha, e proporcionar
vantagens cumulativas para que se possa aproveitá-las futuramente em novas
plataformas políticas.
Além de fidelizar a população, o marketing político tem entre suas metas
formar novos eleitores, aproximá-los da política e do candidato. Conforme vão
surgindo este novo público, o partido deve se adequar as novas necessidades
que vem junto a eles, a plataforma política deve ser flexível para que comporte
o maior número possível de eleitores interessados e comprometidos.
As diversas atividades políticas no mundo afetam diretamente a
sociedade, através do interesse que despertam nas pessoas, provocadas pela
criatividade dos profissionais de marketing, é fato que tudo o que é lançado ao
público depois de certo tempo se torna corriqueiro, por isso o aperfeiçoamento
das atividades políticas é extremamente necessário.
Estar com a opinião pública, contar com seu apoio e
obter seu reconhecimento são o supremo desejo de
quem tem alguma coisa a propor ou a vender a
sociedade [...] o fator opinião pública é decisivo. Seu
cotidiano envolve o conhecimento das relações do
público – reconhecer, sentir, acompanhar e
pressenti-las – para trafegar por entre elas como em
terreno minado. (FARHAT, 1992, p.08).
Por estes motivos cada vez mais o tema está sendo estudado e
analisado
quanto
a
possíveis
inovações,
uso
das
ferramentas,
e,
principalmente sua evolução que é base para seu entendimento
O conceito de marketing e política é histórico, ao mesmo tempo atual, e
proporciona margem à conscientização da importância da junção de suas
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atividades, não só pelos personagens políticos envolvidos, como também pelo
povo que se interessa cada vez mais pelo o que os políticos prometem e
realizam ao longo dos quatro anos de mandato.
A base do marketing eleitoral baseia-se na implantação de técnicas de
marketing político e comunicação, com o objetivo de conquistar a confiança e
fidelidade do eleitorado. Para a obtenção de êxito é necessário conhecer o que
a população precisa e deseja, para então definir as ações que buscaram
amenizar as necessidades e conectá-las à plataforma do candidato à
plataforma do candidato.
Um item de extrema importância nesse processo eleitoral é a
propaganda, que visa aumentar a atenção referente à imagem do candidato,
persuadindo a população com a melhor proposta baseada na criação e no
desenvolvimento de ações sociais para os vários níveis da sociedade, são
desenvolvidas as ações de comunicação como, por exemplo, as pesquisas,
eventos, vídeos, comerciais e propagandas, entre outras, que devem ser
aplicadas com eficácia, não expondo demasiadamente a imagem do candidato.
Na busca pelo voto, os candidatos e sua equipe elaboram os planos de
campanha com criatividade e baseados em pesquisas que apontam as
necessidades da população, porém podemos perceber que as atividades de
marketing eleitoral evoluíram com o passar dos tempos e experiências
adquiridas.
Em exemplos mais recentes, é possível citar a campanha de Fernando
Collor de Mello (1989) teve de todos os artífios das campanhas apresentadas
até agora, utizou-se todo o tipo de mídia disponível, contou com o apoio de
artistas conhecidos e principalmente valorizou a imagem e a proximidade com
o povo.
Outra marca em evidência desta campanha foi a distribuição de brindes.
Itamar Franco (1992/vice) teve uma promoção de imagem relativamente
simples como vice candidato de Collor, assumiu a Presidência da República
após um processo impeachment e não teve oportunidade de expor sua imagem
e plataforma política, além de algumas iniciativas como, por exemplo, o
racionamento de energia.
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Em uma
eleição
todos os envolvidos direta ou indiretamente
(coordenadores, assessores, cabos eleitorais, entre outros.), devem estar
unidos e integrados das atividades em geral, para que as ações estratégicas se
desenvolvam de forma eficaz, e para que também haja manobras de defesa
quanto aos ataques de adversários diretos e “indiretos” durante a campanha.
O candidato através de sua equipe deve se fizer presente em cada canto
da região do pleito, ressaltando a importância de sempre haver alguém no
respaldo em seu comitê para ações repentinas e providências imediatas, tal
qual receber a população que vai até o político expressar seu apoio.
O eleitor está à procura de um candidato com as
seguintes qualidades: experiência, honestidade, vida
limpa
e
passado
decente,
assepsia,
equilíbrio/ponderação,
preparo,
coragem/determinação, autoridade (não confundir
com autoritarismo). Há uma saturação de perfis
antigos, que usam as esteiras da velha política. O
eleitor quer ver perfis mais identificados com suas
grandes demandas: segurança, saúde, educação,
melhoria das condições de vida nas regiões, nos
bairros, nas ruas. (TORQUATO, 2009).
O candidato tem que passar segurança para o eleitor, tem que tem
transmitir a mensagem com clareza e realidade, tem que demonstrar interesse
pelos problemas de cada pessoa que vier lhe falar, tem que estar ciente das
necessidades da região, saber ouvir para aprender a falar o que o povo quer e
precisa ouvir.
O comportamento de deixar tudo para última hora é uma regra que não
foge às campanhas eleitorais, de dois em dois anos pode-se confirmar essa
situação basicamente gerada pela falta de interesse de parte da população nas
propostas políticas apresentadas pelos candidatos.
Muitos eleitores escolhem seus representantes a partir de um pedido, ao
receber um panfleto na rua, utilizando a relação de nomes e legendas no local
de votação, ou simplesmente não comparecem as urnas e dispensa seu voto,
seu poder de escolha.
As pesquisas eleitorais atuais são consideradas relevantes no processo
eleitoral, pois através dessa ferramenta é possível avaliar o andamento da
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campanha e quais os resultados parciais quanto à intenção de voto, ela
identifica o perfil do eleitorado que automaticamente reflete a plataforma
política.
Estas
atividades
devem
ser
realizadas
por
profissionais
com
conhecimento neste ramo, responsabilidade e eficiência, caso contrário o
resultado pode ser o oposto ao esperado e acarretar em prejuízo financeiro e
de perda de tempo, que é essencial na corrida ao pleito.
Cada campanha é única, estratégias e alianças devem ser revistas e
aplicadas conforme a necessidade daquele momento deve-se avaliar se a
aliança proposta trará consigo mais pontos positivos do que rejeição. Visto que
o candidato vai falar ao público que engloba uma grande parte de pessoas
humildes, a linguagem deve ser simples, sem muitas palavras técnicas, pois o
povo quer entender o que lhe é falado, e quer olhar nos olhos do político e
enxergar todas as promessas que acabou de escutar.
Período Eleitoral
A campanha eleitoral é um conjunto de ações que antecedem o dia da
eleição, e embora a maioria das pessoas só a participe durante os três meses
de publicidade e exposições dos candidatos, há toda uma estrutura em termos
de escolhas, pesquisa, organização e legislação, entre outros fatores para
preparar uma plataforma política antes de apresentá-la ao eleitorado. Uma
campanha envolve esforços de diversos gêneros e variadas estratégias de
comunicação, a fim de facilitar a emissão da mensagem eleitoral.
Mesmo com tantos motivos para a descrença na política, é perceptível o
interesse que o assunto ainda desperta na população, mas não é uma tarefa
fácil manter essa expectativa de forma positiva principalmente com os novos
eleitores, que trazem consigo uma ideologia de transformação instantânea do
mundo. A campanha deve ser transparente, ousada, flexível e focada na
conquista do voto, aproveitando cada oportunidade com senso de realidade
para não substimar os concorrentes.
É fundamental que o planejamento quanto às ações seja desenvolvido
meses antes da campanha, para que a função da mesma que é passar as
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informações sobre a plataforma política consiga seu objetivo no tempo
previamente estipulado, definindo as ações, funções dos colaboradores e
orçamento, é necessário dividir o projeto em etapas, ou seja, metas que
permitam uma avaliação com frequência verificando se houve êxito, ou se
existem providencias a tomar para que os erros sejam reparados a tempo e
não somente ao final da eleição quando não se há mais nada o que fazer a não
ser contemplar a vitória ou comportar a derrota.
O candidato ao preparar sua campanha se depara com dois resultados
óbvios: ganhar ou perder, talvez o “perder” se torne mais brando se for
colocado de forma que, se o indivíduo ao se candidatar pela primeira vez tenha
como objetivo apresentar seu nome ao cenário político, para posteriormente
concorrer diretamente ao cargo. Assim antes de elaborar o organograma,
devem-se ter claro e definido quais os objetivos e necessidades em cada área
de uma campanha.
Devemos começar um orçamento apurando o tipo de
material a ser usado condizente com o segmento
que se pretende atingir e dimensionamento a
quantidade [...] procuraremos os fornecedores que
irão nos suprir do material necessário e os seus
custos, vindo a seguir, de preferência, o contrato de
fornecimento que deve ser assinado pelas partes
[...]. (MANHANELLI, 1988 p.46).
O conceito de opinião pública pode variar de acordo com quem a
analisa, pode representar uma vontade ou ação coletiva, ou, também ser
representada por resultados em especial os das pesquisas onde comumente é
associada. Este processo acaba se tornando um círculo, o candidato
desenvolve táticas para interferir na opinião pública, que por sua vez fornece os
resultados, e os mesmos consequentemente retornam a posição (fortalecida é
claro) para influenciar as pessoas.
A opinião pública é principalmente influenciada por emoções, basta uma
atitude que seja caracterizada como negativa ou afronta ao que se considera
correto, para que o conceito sobre o candidato seja abalado, por isso em ações
de campanha salientando os meios de comunicação, o equilíbrio á essencial.
Conscientes da força da opinião, muitos candidatos lançam mão de fatos
e boatos com o intuito de denegrir imagens, e assim provocar alguma reação
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negativa no eleitorado com relação aos seus adversários, parem é válido
ressaltar que esta atitude pode ter efeito contrário, no caso da segunda opção
(boato) se comprovada esta ação, ela pode comprometer a confiança de
eleitores ainda indecisos, e não se pode agregar mais este risco, pois cada
voto é importante.
Um grande entrave no conceito de Marketing Político
é de que se o político não comunicar com a
imprensa, seja através de seu departamento ou de
empresas especializadas, nada conseguirá mostrar
a sociedade, mesmo que tenha realizado fatos
significativos. (MACEDO, 2007, p.92).
A
Internet
é
um
meio
de
comunicação
que
vem crescendo
expressivamente com o passar dos anos, por intermédio da interação entre
pessoas ela cria condições favoráveis na exposição de produtos e idéias.
No cenário político a situação não é diferente, os cabos eleitorais virtuais
utilizam à internet e todas as suas ferramentas como meio de transmissão da
plataforma política do candidato, devido à agilidade proporcionada pelo World
Wild Web (WWW), são lançadas informações na rede com grande frequência
na rede, mas nem sempre verdadeiras, como qualquer meio de comunicação a
internet também é passível de propagandas negativas, porém em contra
partida devido à mesma agilidade é possível interagir em tempo real e expor
noticias esclarecedoras e que auxiliam e reflexão do eleitor.
A aderência de novas tecnologias pela população principalmente na
política reforça o perfil que a internet exerce grande influência na sociedade, a
facilidade que ela proporciona ao usuário em acompanhar em tempo real
passo-a-passo seu candidato reflete a vantagem sobre os outros meios de
comunicação. Como o objetivo da propaganda política é atingir a massa, a
internet se revela grande aliada na tarefa da comunicação, salientando a
estratégia do uso dos blogs que permitem a interação e expressão de idéias
sobre acontecimentos em tempo real.
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Análise de Caso
A pesquisa metodológica tem como base entrevistas realizadas com
candidatos das eleições municipais ao cargo de vereador em 2007.
Com
ênfase nas ações de marketing político e eleitoral foram aplicadas questões
semelhantes a ambos os candidatos, para uma futura comparação e
compreensão de suas idéias referente ao tema abordado, e analise das suas
perspectivas futuras dentro do cenário político da região.
Considerado ator político A, Atila Cesar Monteiro Jacomussi é natural de
Mauá – SP tem 35 anos, é divorciado e tem um filho. Foi coordenador de
campanha do pai Atila Jacomussi durante 12 anos, e elegeu-se vereador pela
primeira vez através do PPS (Partido Popular Socialista). Foi eleito pela
segunda vez consecutiva em 2007 - o vereador mais votado da região do ABC
- através do PV (Partido Verde) partido que permanece filiado atualmente.
Considerado ator político B, José Rogério Moreira Santana natural do
Estado de Alagoas e reside em Mauá há 25 anos, casado e tem dois filhos.
Fiado ao PT (Partido dos Trabalhadores) há 23 anos onde se elegeu vereador
por três vezes consecutivas, sendo a última vez no ano de 2007, e atualmente
é presidente da câmara de vereadores de Mauá.
Considerado ator político C, Alvarino Lemes tem 64 anos é casado, pai
de três filhos e sócio em uma corretora de imóveis, já participou do Plano
Diretor e do Conselho de Planejamento Urbano da cidade, atualmente faz parte
do Conselho de Segurança de Mauá. Já foi filiado ao PMDB, PTB e PT, porém
foi através do PSDC (Partido Social Democrata Cristão) que disputou as
eleições de 2007 –candidato não foi eleito - partido no qual permanece filiado.
Como ator político D, José Luiz Cassimiro é professor de história,
casado, tem uma filha, e reside em Mauá há 26 anos. Na década de 70 militou
pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e UPE (União Paulista dos
Estudantes), foi fundador do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
na qual exerceu a presidência regional que abrange o ABC, Suzano e Litoral
Norte. Em 1997 foi secretário de governo, em 2000 elegeu-se vereador pela
primeira vez, porém licenciou-se para dar continuidade aos projetos da
secretaria. No ano de 2004 reelegeu-se vereador desempenhando os quatro
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anos de mandato, e atualmente é secretário do governo de Osvaldo Dias,
ressaltando que todas as atividades políticas sempre foram ligadas ao PT
partido que é filiado desde sua fundação.
Até a década de 1930, toda a região conhecida hoje atualmente como
ABC Paulista, englobando sete municípios, pertencia a apenas o município de
São Bernardo. A sua sede de fato, era no atual centro de São Bernardo do
Campo. Em 1934 Mauá torna-se Distrito de Paz, ou seja, passa a dispor de um
Juiz de Paz, cinco anos depois, o município de São Bernardo passa a se
chamar Santo André, e sua sede passa para a região da Estação Ferroviária
de Santo André.
Devido ao progressivo aumento da população, e à crescente
industrialização de Mauá, surge o desejo de emancipação do então distrito, já
que seus habitantes se ressentiam da pouca atenção da Prefeitura de Santo
André aos problemas locais. Em 1947 foi criada a Sociedade Amigos do
Distrito de Mauá, formada principalmente por representantes do comércio e da
indústria de Mauá. Ela seria a principal articuladora da emancipação. O
município foi instalado a 01/01/1954, mas esse foi um período de transição até
que se escolhesse prefeito e vereadores de Mauá.
O eleitor de Mauá em sua maioria está na periferia, e uma pequena
parte considerada formadora de opinião habita em bairros com melhores
condições. Atualmente 35% dos eleitores aptos têm idade entre 26 a 40 anos,
e deste total 50% são jovens da periferia. Por isso os programas de
desenvolvimento para esta faixa etária são prioridades para a maioria dos
políticos.
Resultados das Entrevistas em Profundidade
Um dos itens solicitados para a abordagem inicial das entrevistas foi o
fator motivacional que levou cada entrevistado a ingressar na concorrência
eleitoral por um cargo público eletivo. O ator público A justificou o interesse
pelo fato de possuir envolvimento familiar acentuado, o ator B já evidenciou
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que um dos fatores de influência foi o contato com o ambiente religioso. O
entrevistado C e D justificaram o interesse pelo fato de envolvimento em
movimento de bairro, sindicais e organizações não governamentais, reportando
o interesse em representatividade política das comunidades locais.
Quando o tópico foi referente ao posicionamento acerca da importância
das ações de Marketing Político para a carreira de um homem público, de
maneira unânime, os entrevistados ressaltaram a relevâncias das ações
mercadológicas, bem como a preocupação constante de planejamento
adicionais os períodos eleitorais.
Como a abordagem da pesquisa ocorreu com candidatos proporcionais
a cargos de vereança, alguns pontos foram ressaltados por todos,
principalmente quanto a períodos eleitorais, como a necessidade de contato
com a população de modo presencial, sempre atuante nas reuniões de bairro e
grupos de moradores, com o objetivo de manter sempre forte e satisfeita as
bases de eleitores, garantindo a sustentabilidade da gestão do ator político.
A participação dos partidos políticos na campanha também foi
questionada, tendo como resultado apontado por todos que os partidos
dificilmente suprem todas as necessidades do candidato, portanto, o mesmo
deve planejar sua campanha da melhor forma possível, visando potencializar
ao máximo os recursos, financeiros e de pessoal, com vistas a conseguir
sucesso no pleito eleitoral.
Um dos pontos apontados na pesquisa foi o nível de interação com a
equipe de campanha dos candidatos. Os atores políticos A e B, explanaram
que consideram como estratégico e necessário o acompanhamento direto das
ações promovidas pela equipe de campanha, principalmente quando se trata
de agendamento de compromissos, elaboração, produção e distribuição de
material de divulgação.
Os atores C e D consideraram importante o processo, mas evidenciaram
que é importante possuir uma equipe de suporte eficiente, pois somente com
essa sustentação é possível a atuação de campo, no contato direto com as
pessoas, de modo mais intenso e interacionista.
O último ponto que foi levantado pelos candidatos foram os fatores que
poderiam ser considerados cruciais para a construção de uma carreira se
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sucesso na vida pública. Os pontos apresentados por todos versaram sobre o
desenvolvimento de um governo participativo, com acompanhamento nas
bases de apoio nas comunidades, contribuindo para uma imagem forte para as
eleições futuras.
A importância do planejamento pós eleitoral também foi apontado como
representativo, visto que para alcançar novos patamares eleitorais, é
necessário manter a base conquistada e sempre buscar amplia-la, caso
contrário a futura e potencial candidatura pode surgir comprometida.
Considerações Finais
Partindo da premissa que o marketing busca a satisfação das
necessidades dos clientes, no marketing político a criação da plataforma
eleitoral é realizada com base em pesquisas que identifiquem as necessidades
da população, é importante salientar que a campanha política é preparada
meses antes do seu lançamento definindo planejamento e delegando tarefas
aos colaboradores.
As ferramentas de comunicação têm como objetivo facilitar o
desenvolvimento do marketing, criando uma ligação entre o eleitor e o
candidato, e consequentemente uma vantagem competitiva sobre os demais
adversários. O marketing político e eleitoral são atividades que disponibilizam
ações e esforços diferenciados, porém, ambos se completam durante o pleito,
e arte de se comunicar de forma eficaz através da mídia e diante do eleitor
exige uma minuciosa pesquisa quanto às expectativas e principalmente
necessidades da população.
As atividades de marketing eleitoral como comícios, panfletagens,
reuniões residenciais e em associações, passeatas e carreatas, entre outras,
compõem o conjunto de ferramentas de comunicação a disposição de cada
candidato, o diferencial é saber usá-las com organização e flexibilidade que
exige o momento.
A plataforma política é extremamente importante, porém o que se deve
fazer é criar condições favoráveis à interpretação do eleitor independente da
classe social, sexo, idade ou qualquer gênero de classificação, a emissão da
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mensagem deve englobar ética, responsabilidade e discernimento para que a
adesão aconteça de forma espontânea e se torne fiel.
As entrevistas com os candidatos não podem ser consideradas como
padrão de comportamento a todos os atores políticos, principalmente por não
apresentar uma ordem metodológica de grande abrangência nacional. Todavia
apresentou pontos representativos que contribuíram para a interação com a
fundamentação teórica dos conceitos de comunicação política.
A amostra demonstrou-se preocupada com a evolução da carreira na
vida pública e apontam o planejamento de marketing político, pré, eleitoral e
pós como parte de um processo evolutivo contínuo, fundamental para o
sucesso na carreira de um político, seja nos cargos eletivos ou de confiança
nas diversas modalidades de gestão pública.
Referências Bibliográficas
FARHAT, Said. O fator opinião pública: como se lida com ele. São Paulo: T.
A. Queiroz, 1992.
FIGUEIREDO, Rubens. O que é Marketing Político. São Paulo: Brasiliense,
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Paulo: ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos, 2007.
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São Paulo: Summus, 1988.
TAVARES, Débora; TORREZAM, Alexandre. Uma eleição na velocidade do
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<http://www.assessoriapolitica.com>. Acesso em 17 de jun. 2009.
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A VISÃO ESTRATÉGICA DA COMUNICAÇÃO POLÍTICA NA CONSTRUÇÃO
SUSTENTÁVEL DA IMAGEM PÚBLICA DO ATOR POLÍTICO
Carla Cachone, Marília Cardoso e Roberto Gondo Macedo
Resumo:
Diante do sistema eleitoral brasileiro, é possível identificar dois principais
grupos políticos, o primeiro formado por um grupo de famílias tradicionais em
regiões brasileiras, cujo impacto e poder nas campanhas eleitorais é de
relevante impacto e naturalmente migra de geração em geração a permanência
nos mais diversificados cargos públicos eletivos. O segundo grupo é formado
por atores sociais provenientes de diversos segmentos da sociedade que não
possuem tradição no ambiente político, mas por intermédio de diversos canais
de comunicação conseguiram vitórias nos pleitos proporcionais e majoritários.
A proposta deste artigo é demonstrar como a dinâmica eleitoral permite a
seleção desses dois grupos antagônicos e como as carreiras políticas são
construídas nos dois ambientes. Para fortalecimento da fundamentação é
descrita a trajetória e principais estratégicas de comunicação do atual
Deputado Estadual pelo estado de São Paulo, Orlando Morando, com atuação
política mais incisiva na região do ABC Paulista.
Palavras-Chave: Imagem Pública; Inserção Política; Marketing Político;
Orlando Morando.
Introdução
Política é um assunto que tem despertado cada vez menos o interesse
dos jovens. Já acostumados com escândalos de corrupção, eles preferem
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acreditar que são todos iguais e votam praticamente apenas por obrigação e
não por idealismo.
Neste sentido, a disputa por cargos eletivos no legislativo e executivo
ficam para os candidatos de sempre, sem grandes chances de renovação no
quadro de atores políticos. Além do desinteresse pelo assunto, outro fator que
desmotiva a inserção dos jovens para a vida pública é a necessidade de um
forte apadrinhamento que os ajude a conquistar votos.
No entanto, o objetivo deste artigo é mostrar que política não é coisa
apenas para a minoria, mas sim para todos que demonstrarem interesse em
trabalhar em causas pró-sociedade. O desafio é grande, mas com
determinação e ferramentas inteligentes de comunicação e marketing para
campanhas eleitorais, o distante sonho da carreira pública pode se tornar uma
realidade.
Compreender as técnicas de comunicação política pode ser um grande
diferencial para o aspirante a cargos públicos eletivos, pois, independente dos
recursos financeiros disponíveis, potencializar a arrecadação para a disposição
das ações de campanha pode auxiliar no equilíbrio das diferenças dos demais
candidatos concorrente a re-eleição de mandato e de grupos políticos
tradicionais.
As ações de comunicação política permitem a equipe gestora do
candidato promover abordagens que direcionem as características de
credibilidade e fidelização de eleitores, criando assim um vínculo que pode
contribuir para a formação de um núcleo (base) estratégica do candidato
naquela região.
Criar uma equipe multidisciplinar com o decorrer dos anos permite ao
político múltiplos olhares nas ações estratégicas que possivelmente pode
desenvolver, diminuindo consideravelmente as chances de fracasso nas
aplicações em campo.
Segundo Ferrari (2007) cada dia mais políticos
precisam melhorar a capacidade de se comunicar
eficazmente
para
assegurar
a
sua
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representatividade junto aos seus públicos. Da
mesma forma, para que o governo possa assegurar
a sua representatividade e legitimidade, os cidadãos
devem
ser
informados
tanto
sobre
os
acontecimentos, como sobre sua necessidade,
interpretação e análise dos programas políticos.
Rompendo as dificuldades da primeira eleição, o ator político conquista a
oportunidade de fixar suas diretrizes de trabalho para a sociedade, possuindo
condições reais de fortalecer a sua imagem pública, permitindo planejar novas
ações na carreira política.
O Estereótipo dos Atores Políticos
Fazendo uma breve análise sobre o cenário político brasileiro podemos
notar um estereótipo comum para a grande maioria dos atores políticos. Em
geral, os que se candidatam a cargos públicos no legislativo ou no executivo
possuem anos de experiência na vida pública ou então um histórico político
familiar, onde seus pais ou avós representaram a política em âmbito nacional
ou regional em alguma fase de suas vidas.
Desta forma, basicamente os atores políticos estão divididos em duas
alas. De um lado estão os que passaram por grandes momentos da história
nacional, acumulando anos de experiência na vida pública. De outro, os jovens
políticos que em sua maioria absoluta são descendentes dos que fizeram
carreira em cargos públicos.
A comunicação política vai além da comunicação
governamental, comunicação eleitoral ou marketing
político. Por outro lado, a comunicação pública se
articula com a comunicação política na esfera
pública, como local de interação social de todos os
agentes e interesses envolvidos. Nesta esfera,
transitam os recursos humanos (cidadãos, políticos e
eleitores), físicos (suporte de comunicação massiva,
tecnologias interativas e convergentes), econômicos
(capital, ativos em geral), comunicacionais
(discursos, debates, diálogos estruturados dentro e
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fora das mídias massivas e recursos interativos).
(MATOS, 2006).
O eleitor se vê em meio a duas opções completamente distintas.
Dividido entre a experiência (que lhe exprime uma sensação de que as coisas
continuarão da mesma forma, mesmo que não estejam boas) e a juventude
(que lhe transmite a sensação de algo novo, porém sem grandes convicções
de que haverá maturidade para enfrentar os desafios impostos pela vida
pública).
Essa sensação foi experimentada em 1989, ano da primeira eleição
direta para presidente desde o regime militar. A disputa ocorreu entre o exmetalúrgico Luís Inácio Lula da Silva e o jovem bem aparentado Fernando
Collor de Mello. Collor vencia como símbolo da renovação política brasileira.
Um voto de confiança dos eleitores à juventude política.
Segundo Manhanelli (2001), além de redigir e
administrar os textos e pré-pautas da comunicação
política, o profissional da área deve procurar manter
abertos todos os canais de comunicação, realizando
um verdadeiro trabalho de relações públicas,
permanentemente com os jornalistas, sempre pronto
a prestar informações e dar declarações e sem
jamais falseá-las, podendo quando muito, omiti-las.
Em menos de três anos, após inúmeros escândalos de corrupção, um
impeachment tirou o presidente eleito do poder. Desde então, o eleitor
brasileiro passou a olhar os jovens políticos com desconfiança, revivendo as
más experiências de Collor a cada eleição que apresentasse candidatos de
pouca idade.
Paralelamente, os inúmeros crimes políticos contribuíram para a criação
de um arquétipo ruim e desinteressante para o surgimento de novos atores
políticos no país tanto em esferas municipais quanto estaduais e federais.
Política tornou-se algo que incita boicotes.
Neste cenário, a renovação da política nacional fica restrita praticamente
apenas a descendentes de políticos consagrados que despertam interesse pela
vida pública.
A possibilidade de iniciar uma carreira política apenas por
idealismo fica cada vez mais escassa.
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Para o sucesso em uma jornada eleitoral é necessário planejamento
prévio, na visão de Kuntz (2000, p.18)
A definição prévia de quem vai participar, e como, da
formulação da estratégia de comunicação de uma
campanha eleitoral é importantíssima para garantir a
sua agilidade, equilíbrio e objetividade, elementos
imprescindíveis para assegurar eficácia nos
resultados e praticidade da sua execução.
Ao eleitor resta apenas optar entre o que ele julga velho (já conhecido e
passivo para aceitar seus erros) e o novo (que lhe parece nem tão novo assim,
já que vem carregado de valores já conhecidos e que parecem apenas querer
seguir os passos de seus antepassados sanguíneos).
Assim, o eleitor assume uma postura de votar apenas porque é
obrigatório. Ele não acredita no poder transformador da política e prefere
incorporar à sua fala os típicos dizeres que insistem em colocar os atores
políticos como todos sendo “farinha do mesmo saco”.
Comunicação Política e Estratégias de Imagem Eleitoral
A comunicação política não pode ser considerada uma ciência
condensável em fórmulas exatas e imutáveis, sua evolução é dinâmica,
acompanha os processos de convergência de outras áreas do conhecimento
que de certo modo fundem-se com os procedimentos utilizados nas aplicações
nos mais diversos níveis da relação política e sociedade.
Alguns princípios provêm tanto da ciência como da estética, e sua
aplicação estratégica se mistura entre planejamentos estratégicos e estudos e
pesquisa sobre comportamento do eleitor para formulações de atividades de
comunicação de massa. Neste contexto que a análise do discurso de
fundamenta como recurso sine qua non na proposta de comunicação política,
pois oferece conceitos de análise comunicacional extremamente pertinentes
nos planos de fixação da imagem e atos do ator político.
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Segundo Domenach (1950) a propaganda confundese com a publicidade, pois procura criar, transformar
certas opiniões, empregando, em parte, meios que
lhe pede emprestados; distingue-se dela, contudo,
por não visar objetos comerciais e, sim, políticos: a
publicidade suscita necessidades ou preferências
visando a determinado produto particular, enquanto
a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos
que, amiúde, modificam o comportamento, o
psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou
filosóficas. Por conseguinte, a propaganda influencia
a atitude fundamental do ser humano. Sob esse
aspecto, aproxima-se da educação; todavia, as
técnicas por ela empregadas habitualmente, e
sobretudo o desígnio de convencer e de subjulgar
sem amoldar, fazem dela a antítese.
A análise do discurso e o poder da palavra, por intermédio de diversos
autores demonstram que a comunicação e o discurso aplicados de forma
correta, remete o ator político a aceitação pela massa envolvida pela
mensagem. Na análise de Domenach no processo de comunicação e
propaganda política de Hitler, precede o estudo do envolvimento de massa
como centro de todo o processo dominador de império conquistado pelo
terceiro reich.
Além do discurso, a construção da imagem do candidato é tida como
essencial em tempos de convergência tecnológica e com grande quantidade de
mídia de exposição dos atos realizados pelos políticos nas diversas escalas de
poder.
Manter-se sempre presente com a comunidade que elege o político
permite que em segundo momento, isto é, eleições posteriores o trabalho de
comunicação política para a conquista dos votos necessários para a vitória
sejam mais direcionados e com maior chance de retorno e fidelização.
Torquato (1985) explana que o extraordinário
progresso experimentado pelas técnicas de
comunicação de 1970 para cá, representa para a
humanidade uma conquista e um desafio. Conquista,
na medida em que se propicia possibilidades de
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difusão de conhecimentos e de informações em uma
escala antes inimaginável. Desafio, na medida em
que o avanço tecnológico impõe uma séria revisão e
reestruturação dos pressupostos teóricos de tudo
que se entende por comunicação.
A comunicação política integra um vasto repertório de informações,
teorias e estratégias, consideradas pela ciência política a linguagem do poder,
sendo que cada sistema político possui uma linguagem, porém, é fato que
todas as ações são desenvolvidas e aplicadas em prol de um único objetivo, o
alcance, a manutenção e a permanência no poder.
Orlando Morando: A Inserção na Vida Pública
Diante do cenário descrito anteriormente, além de haver pouco interesse
na vida pública aqueles que o tem sentem-se sufocados e pressionados por um
círculo completamente fechado.
A falta de apoio estratégico e de um apadrinhamento tornam as eleições
uma conquista altamente utópica para os cidadãos comuns. Desta maneira, o
círculo político permanece praticamente intacto, sem grandes opções de
mudanças de ideais.
Curiosamente, há um case recente que contraria essa realidade. Em
1996, aos 21 anos de idade, o filho de um comerciante do bairro Batistini, em
São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, ingressou para a vida pública
pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Orlando Morando era um líder comunitário que lutava por melhorias em
seu bairro. Outros comerciantes da região o incentivaram a se candidatar
vereador para que assim pudesse trazer conquistas para sua comunidade que,
na época, não tinha saneamento básico, iluminação pública, segurança e
educação adequados para a população local.
Com um investimento de seis mil reais arrecadados pelos comerciantes
do bairro, Orlando criou sua campanha eleitoral. Suas ferramentas de
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marketing foram panfletos rodados em mimeógrafos, muros pintados e
principalmente o boca a boca com a população. A estratégia rendeu a ele
1.523 votos, tornando-se o primeiro suplente a vereador e assumindo o cargo
após apenas quinze dias do mandato vigente.
Seu histórico político era praticamente inexistente até então. Cerca de
20 anos antes seu pai disputou uma eleição para vereador, mas jamais
vencera. Seus únicos atributos eram o tradicional comércio da família no bairro,
o que o deixava próximo aos eleitores. Segundo ele mesmo, esta sempre foi
sua maior estratégia eleitoral, afinal depois de eleito, as pessoas saberiam
onde encontrá-lo e cobrá-lo.
O interesse pela política foi repentino. Morando sabe que a grande
maioria dos jovens tem antipatia pela política, que eles julgam ser todos iguais.
Entretanto, seu senso de indignação diante de escândalos políticos e de
superfaturamento de gestões passadas, o impulsionaram a abraçar o desafio e
se lançar candidato. Foi este seu grande estímulo para entrar para a vida
pública.
Os desafios foram enormes e o preconceito também. Em inúmeras
ocasiões foi considerado imaturo para tal cargo. No entanto, com determinação
e boa vontade, ele foi conquistando seu espaço na política regional e estadual.
Atualmente Orlando Morando está com 35 anos de idade. Em 2000 foi
reeleito vereador por São Bernardo do Campo conquistando um número de
votos quatro vezes maior que na primeira eleição disputada, sendo o terceiro
mais votado no município. Em 2002 interrompeu seu mandato para concorrer a
uma vaga como deputado estadual e venceu tornando-se o mais jovem eleito
para este cargo, aos 26 anos. Em 2006 foi reeleito como o deputado estadual
mais votado da história do grande ABC, com 70.131 votos no estado de São
Paulo.
O segredo para suas conquistas pode estar no cuidado que Morando
tem com a sua imagem pública. Para ele o fato de dar respostas à
comunidade, independentemente delas serem positivas ou não, é algo
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essencial. Sua marca consiste em estar presente, fazer corpo a corpo não
apenas em períodos eleitorais, sempre com foco na pesquisa de opinião.
As pesquisas eleitorais atuais são um item muito
importante, através delas pode-se avaliar o
andamento da campanha e quais os resultados
parciais quanto à intenção de voto, ela identifica o
perfil do eleitorado que automaticamente reflete a
plataforma política, ou seja, “independentemente de
[...] métodos de procedimentos seus objetivos são
levantar opiniões, anseios, motivos ou sensações
para interferir no processo de comunicação com o
público”. (SANTOS, 2007, p. 68).
A preocupação com o seu marketing pessoal e com o marketing de suas
campanhas sempre foi priorizada. Atualmente ele possui uma equipe de
assessores formada por 14 profissionais de áreas diferentes, entre elas
jornalistas, advogados, administradores, líderes comunitários e até psicólogos.
As campanhas, que começaram apenas com panfletos rodados em
mimeógrafos e muros, ganharam novos investimentos e se modernizaram. Em
2000, Orlando Morando fez uso de carro de som, showmício com artistas locais
e melhorou seu material gráfico. Em 2002, na disputa para deputado estadual,
a campanha ganhou um site e uma série de mimos em especial para as
eleitoras com a distribuição de brindes como mini-hidratantes, lixas e batons.
Em 2006, com a vigência de uma nova lei para campanhas eleitorais
que proíbe a distribuição de brindes e a realização de showsmício, o candidato,
agora pelo Partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB), investiu no corpo a
corpo. As passeatas pela rua cumprimentando e ouvindo os eleitores lhe
custaram um emagrecimento de oito quilos. A comunicação sonora, baseada
na criação de jingles, também foi forte e as músicas são lembradas até hoje
pelos eleitores.
A Campanha mais Cara da História do País
Com a experiência adquirida nos mandatos como vereador e deputado
estadual, Orlando Morando foi apontado por seu partido como o candidato mais
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indicado a disputar a prefeitura de São Bernardo do Campo nas eleições de
2008.
A primeira pesquisa do Ibope, realizada em agosto, apontava 35% das
intenções de voto para Morando, contra apenas 9% para o segundo candidato,
o petista Luiz Marinho. Mas o que parecia o prenuncio de uma vitória, acabou
se transformando numa desgastante campanha e numa inesperada derrota.
A campanha de Morando teve um investimento pouco superior a 4
milhões de reais. A de Luiz Marinho foi três vezes maior, passando dos 12
milhões, caracterizando-se como a campanha mais cara da história do país.
São Bernardo do Campo possui cerca de 560 mil eleitores e este valor
representa algo em torno de 50 reais por eleitor.
O cenário era contundente. Há 20 anos a cidade de São Bernardo era
administrada pelo PSDB. Contraditoriamente, o município foi o berço da
criação do Partido dos Trabalhadores, marcada pelas lutas sindicais lideradas
por Luís Inácio Lula da Silva, então presidente do Brasil em seu segundo
mandato e com o maior índice de aprovação de seu governo (superior a 80%).
Ter a cidade administrada pelo PT era uma questão de honra para o partido
que não mediu esforços para vencer a eleição.
A campanha foi marcada por escândalos e boatos acompanhados dia a
dia pela imprensa local e nacional. Para Morando, a campanha que era para
ser municipal, acabou se tornando federal.
Lula declarou seu apoio a Luiz Marinho abertamente. Esteve presente
em cinco comícios do candidato. Apenas a título de comparação, nas eleições
para a capital a disputa era entre Gilberto Kassab, do Democratas, e Marta
Suplicy, do PT, e Lula só esteve presente em dois comícios.
Quando Lula não estava fisicamente presente, sua voz era amplamente
divulgada nas ruas da cidade com dizeres que traziam a mensagem de que
dentro de dois anos, quando terminar seu mandato como presidente da
república, voltará a morar em São Bernardo do Campo e que seu candidato
traria o progresso para a cidade.
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Enquanto isso, Morando foi alvo de inúmeros boatos sobre sua vida
pessoal, inclusive que teria sido preso durante a campanha. O final da eleição
deu a vitória a Luiz Marinho por 56% a 44% dos votos no segundo turno.
Encerrada a campanha, Morando entrou com um processo de difamação,
calúnia e injúria e ainda de abuso de poder econômico contra o PT.
A Preocupação com a Imagem e o Futuro Político
Logicamente, a campanha de 2008 não será uma das melhores
lembranças para Morando, que voltou para cumprir seu mandato como
deputado estadual até o final de 2010, porém no âmbito político, nem sempre
uma derrota pode significar uma derrocada na carreira, mas sim na preparação
de novos desafios eleitorais.
Ao avaliar sua estratégia de campanha, ele não consegue apontar falhas
e prefere se colocar como vítima da campanha mais cara da história do país.
Seu único apontamento seria para a foto de campanha que, a seu ver, estava
um pouco séria demais (preocupação que sempre se fez presente em função
da pouca idade).
Os cuidados com a imagem serão os mesmo, mas sem exageros
segundo ele. Vestir-se adequadamente para cada ocasião e preservar-se de
exposições públicas em bares com os amigos são restrições inevitáveis em sua
opinião.
Sobre o futuro político, Morando diz que ainda é cedo para fazer planos,
mas sua meta é concluir o mandato como deputado estadual e defender São
Bernardo do Campo. Mais que como opositor, ele fiscalizará o governo de Luiz
Marinho como um cidadão do município.
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Considerações Finais
O processo de construção das imagens públicas está assentado em
uma lógica interacional que inclui sujeitos ativos. A imagem dos políticos não é
uma construção que ocorre no isolamento, mas um processo que se dá em
uma situação de disputa pública de sentidos, que envolve diversos atores e
interesses específicos.
A imposição da imagem dos candidatos sempre acontece em um campo
de forças, no qual sua construção e desconstruções fazem parte do jogo,
principalmente através do embate comunicativo. Na sociedade contemporânea,
boa parte desta luta ganha expressão e se realiza através dos meios de
comunicação.
A imagem de Lula na cena pública, por exemplo, tem a participação da
mídia nesse processo. As mensagens inseridas pelos políticos nos veículos de
comunicação não se impõem por si, uma vez que são submetidas a outras
interpretações presentes no espaço mais amplo da mídia. Além de empreender
esforços para criar uma imagem adequada aos seus propósitos, os políticos
precisam desenvolver recursos para monitorá-la permanentemente e, assim,
lidar com o que é feito dele na cena pública.
Assim é possível detectar as tensões que surgem no chamado campo
de visibilidade midiática. Evidencia-se o modo pelo qual, na disputa pela
imposição da imagem pública, no contexto político das eleições, o ator político
tem que lidar não só com as estratégias dos adversários, mas, também, com
as estratégias da mídia que participa ativamente na disputa pela imposição da
imagem pública.
O planejamento eficaz de uma campanha ocorre quando existe
previamente uma preocupação nas ações de comunicação com a comunidade
regional, visando um bom convívio e consequentemente uma visão de
credibilidade concisa e coerente. A nova geração de atores políticos que
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compreenderem essa relevância certamente conquistará parâmetros de
competitividade acentuados e positivos.
Referências
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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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95
BARBEIRAGENS BOLIVARIANAS EM TERRA BRASILIS:
O MARKETING POLÍTICO BOLIVARIANO DE LULA
Roberta Garcia Squarcine Barreira
Resumo:
No dia 13 de novembro de 2008, durante a visita do presidente Lula ao
Papa Bento XVI, um acordo entre a Santa Sé e o Brasil foi assinado. Nele, a
ratificação da incorporação do ensino religioso nas escolas públicas. Ainda em
tramitação no Senado Federal, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional (PDS - Projeto de Decreto Legislativo, Nº 716 de 2009. Relator: Sen.
Fernando Collor de Mello) o documento dividido em 20 artigos, assinado entre
Lula e o Vaticano, diverge opiniões sobre uma maior autonomia do Estado e
sua política de privilégios, que esbarram nos limites da religião e na laicidade
proposta pela Constituição Federal de 1988.
Palavras-Chave: Acordo Santa Sé, Bolivarianismo, Política X Religião, Público
x Privado.
___________________
Artigo produzido para o VIII Congresso Brasileiro de Marketing Político –
Politicom 2009
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Taubaté, SP – Outubro/2009
E-mail: [email protected]
Introdução
Este trabalho visa analisar uma recente medida adotada pelo Governo
de Luiz Inácio Lula da Silva, o acordo Brasil - Santa Sé. Assinado em
novembro de 2008, o tratado retoma iniciativas que visam a implantação do
estudo religioso em grade disciplinar de todas as escolas de rede pública
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brasileira. O antigo documento, que data de 1890 entre o País e a Igreja
Católica era ultrapassado, e, portanto um novo acordo foi ratificado, mas não
houve a alteração do que se considerava uma sociedade de privilégios ao
catolicismo, embora o documento afirme: “o ensino religioso, católico e de
outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental". Atualmente o
tratado está sendo analisado pelo Senado.
Mais que um marketing político a um ano das eleições presidenciais,
este acordo revela uma semelhança entre o governo Lula e o governo de Hugo
Chávez, presidente da Venezuela. O primeiro fator – marketing – fica evidente
quando analisado por uma perspectiva de conquista de popularidade do
presidente Lula com a maior parte dos brasileiros, representado pelo
catolicismo, como também pelo “agrado” realizado aos seguidores de outras
religiões. Segundo dados divulgados pela FGV em 2005, os brasileiros que
seguem a doutrina católica representam 74% da população no país. Esse
vínculo estabelecido entre o presidente e o Vaticano significa o aumento de
popularidade interna e externa do presidente, o que conseqüentemente o
fortalece e o mantém na política (capítulo I). Para o Vaticano esta medida
política representa uma contenção do aumento de seguidores não católicos.
Quanto à semelhança de governos entre Lula e Chávez, pode-se
apontar que recentemente o presidente venezuelano anunciou mudanças no
sistema de ensino do país, cujas escolas devem adotar o modelo bolivariano
de ensino. Entre outras medidas, visa-se a retirada obrigatoriedade do ensino
religioso nas escolas do país. À primeira vista, estas duas medidas podem
parecer contraditórias. Entretanto, um estudo mais detalhado revela que tanto a
Lei Orgânica de Educação (modelo adotado por Hugo Chávez) como o acordo
da Santa Sé, convergem a um mesmo objetivo.
Seria esta inserção do ensino religioso apenas um marketing político do
atual presidente do Brasil, ou seria Luiz Inácio Lula da Silva um apreciador não
assumido de Simón Bolívar?
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Definição de Marketing Político
É de interesse primeiro à compreensão deste trabalho um breve
entendimento sobre Marketing Político. Para o autor Rego (2002) e Kotler
(1978), apud Mattielo e Ribeiro (2006), a prática do Marketing Político torna-se
indispensável em uma campanha eleitoral, pois é através desta que haverá a
bombardeio de informação, manipulação e persuasão da opinião pública.
Segundo Rego (1985), a expressão define-se por:
“[...] marketing político é um esforço planejado para
se cultivar a atenção, o interesse e a preferência de um
mercado de eleitores, é o caminho seguro para o sucesso
de quem deseja vencer na política”. (REGO, 1985, p.13).
O autor ainda define oito conceitos básicos à prática política. Sendo o
principal deles o valor de legitimidade. Segundo o autor:
“O conceito de legitimidade é fundamental para a prática
política. Por legitimidade, deve-se compreender o
processo pelo qual os eleitores ou governados
consideram os valores políticos compatíveis com seus
valores. Mas, para chegar à legitimidade na política, o
interessado deve percorrer uma longa rota. Trata-se do
caminho para chegar à posição de mando e conquista”
(REGO, 1985, p.13).
Sobre esta conquista do poder, Kotler (1978) apud Mattielo e Ribeiro
(2006), afirma que para um cidadão que sai do anonimato e torna-se eleito, sua
manutenção no poder depende de seu carisma e de uma apropriada retórica,
virtudes que encontram-se em nosso atual presidente.
Público e Privado
A distinção entre estas duas esferas – a pública e a privada – torna-se
ferramenta chave para a discussão sobre Política e Religião (capítulo III).
Assim sendo, segundo o autor alemão Jürgen Habermas (1984) apud Terra
(2006), no decorrer dos séculos, há diferentes definições sobre o que é o
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espaço público em contraste ao espaço privado. Na Grécia Antiga três
conceitos distintos explicavam a diferença: o primeiro deles definia que espaço
público eram as pólis, onde ocorriam os debates de interesse coletivo; o
segundo significado dizia respeito ao privado, que se restringia a uma família; e
o terceiro conceito caracterizava a esfera íntima. Na Idade Média, a definição
do que é público, passa a interligar-se com a vida da nobreza. Isto é, um fato
público era aquele que estivesse intimamente relacionado à vida dos nobres,
incluindo a vida do Rei. Muitas transformações sociais e econômicas mudaram
o conceito da esfera pública e da esfera privada ao longo dos anos. Mas a
assimilada em uma sociedade contemporânea, traz a idéia do autor Thompson
(1998), apud Terra (2006), que diz que a esfera pública é constituída por
pessoas com vidas e valores privados, cuja intenção é a discussão sobre
assuntos referentes ao Estado.
Estado x Religião
Uma vez esclarecida a relação e a tênue linha que separa o público do
privado, torna-se possível evidenciar e argumentar sobre o envolvimento do
estado e da religião na sociedade. O objetivo central é promover a reflexão da
existência deste vínculo entre dois extremos. Ou seja, para o autor Ferrari
(1999) apud Burity (2001), estes dois princípios que tecem a vida em
sociedade, nunca deixaram de caminhar juntos. Entretanto, ele não defende a
necessidade deste vínculo, apenas o evidencia como fator natural. A despeito
disto, o autor diz:
“A idéia de que o espaço público deve estar totalmente
destituído de conotações religiosas (a 'praça pública
desnuda', evocada por Neuhaus), como pré-requisito para
a igualdade e liberdade de seus cidadãos, parece mais
frágil hoje do que há alguns anos atrás" (FERRARI, 1999.
p. 14 apud BURITY, 2001).
Assim como o Ferrari (1999) apud Burity (2001), alguns cidadãos
também compartilham a idéia da existência deste vínculo, seja por acreditarem
nele, ou apenas pela descrença de ambos os papéis em nossa sociedade.
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Dessa forma, uma discussão promovida pelo portal de notícias do UOL
intitulada “Política e religião podem andar juntas?” apresenta os seguintes
resultados: 15% das pessoas defendem e dizem acreditar neste vínculo; 17,5%
acreditam que este vínculo é formado porque tanto a política quanto a religião
são representativos de corrupção; 7,5% não acreditam que isso seja possível
no Brasil; mas o resultado predominante é aquele que se refere às pessoas
que não defendem e tampouco acreditam que política e religião deveriam
andar juntas: um total de 60%.
Ratificando o pensamento popular, Burity (2001) aponta três normas que
definem o papel concernente à política e o papel a ser desempenhado pela
religião. Segundo o autor, a primeira norma afirma que “assuntos e convicções
religiosas (ou a expressão de valores últimos) dizem respeito à esfera privada
dos grupos e indivíduos, mantendo aí sua legitimidade”. Ainda segundo Burity
(2001), o estado deve manter-se neutro, sem favorecer um grupo religioso em
detrimento de outro. Por fim, a terceira norma diz que deve haver uma
separação entre igreja e estado, sendo que um não deve sobrepor-se ao outro,
princípio esse, da laicidade.
Embora não explícita pela Constituição Federal de 1988, é de livre
escolha a religião ou doutrina a ser seguida pelos cidadãos em nosso país. O
que se pode observar no Brasil é que há uma violação deste direito de se
permanecer laico. Ou seja, está escrito no 19º artigo da Constituição Federal:
“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçarlhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes, relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público”.
A Doutrina Bolivariana de Ensino
Hugo Chávez assinou em novembro deste ano, a Lei Orgânica da
Educação. Nela, o político adota duas polêmicas medidas, consideradas por
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seus opositores como uma maior autonomia do Estado na sociedade
venezuelana. O primeiro artigo diz respeito à censura de liberdade de
expressão à imprensa. Ou seja, segundo a nova lei, nenhum artigo que se
oponha ao governo chavista deve ser divulgado pela mídia do país.
O segundo item concerne ao direito à laicidade nas escolas da Venezuela.
O artigo de número 50, único ítem, afirma: “La educación religiosa se impartirá
a los alumnos hasta el sexto grado de educación básica, siempre que sus
padres o representantes lo soliciten. En este caso, se fijarán dos horas
semanales dentro del horario escolar”. Diferentemente do Brasil, que a
intenção é a de implantar a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas
públicas, a Venezuela terá a retirada obrigatória do mesmo. Ou seja, assim
como Chávez (que segue o modelo bolivariano de ditatorialismo), Lula também
intervém em assuntos não concernentes ao Estado, e sim a uma vida privada
(capítulo II e III).
Considerações Finais
O presente artigo, analisado por dois distintos e complementares
assuntos, evidencia a enumeração de dois principais itens:
I. a) Sendo, portanto, o Brasil um país cuja laicidade pode ser inferida e
legitimada pela Constituição Federal de 1988, há transgressão desse direito ao
povo brasileiro.
b) A religião e práticas de cultos, missas e seitas, dizem respeito à vida
privada de cada indivíduo em
sociedade. Não devem, portanto, sofrerem
quaisquer intervenções do Estado, mesmo que essa intervenção seja para
separação entre política e religião, haja visto o caso venezuelano. Toda e
qualquer ingerência do Estado em assuntos concernentes a religião tem cunho
intervencionista, no sentido pejorativo do termo, pois esse papel é esperado
dos agentes sociais por si só.
c) A intervenção do Estado brasileiro na religião, pode impulsionar a
segmentação social e fortalecer grupos específicos.
II. a) O modelo político para a construção de um Estado “forte”, que
interfere em
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assuntos concernentes ao comportamento do indivíduo em sociedade, pode
ser definido como ditatorial.
Neste caso especificamente, espelha a
ditadura de Simón Bolívar (caso em que não há respeito entre as barreiras
da política e da religião).
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RECURSOS LITERÁRIOS NO TEXTO JORNALÍSTICO: O EXEMPLO DE
COLÔMBIA ESPELHO AMÉRICA
Bruno Ravanelli Pessa
Resumo:
Em Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez, viagem
pelo sonho da integração latino-americana, Edvaldo Pereira Lima aproveitou
sua passagem pelo país para explorar a temática da integração continental a
partir do diálogo com personagens e do contato com cenários que marcam o
passado e o presente colombianos. Neste livro-reportagem-viagem, os
recursos e técnicas utilizadas se aproximam do exercício do jornalismo literário.
A pesquisa almeja, a princípio, identificar, explicar e discutir as características
literárias presentes no livro Colômbia espelho América. Por fim, intenta
desvendar as potencialidades do livro-reportagem.
Palavras-Chave: Jornalismo Literário, Jornalismo Narrativo, Livro-Reportagem,
Colômbia, América Latina
Introdução
O livro Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez,
viagem pelo sonho da integração latino-americana foi produzido em 1987 por
Edvaldo Pereira Lima e lançado pelas editoras Perspectiva (para a coleção
Debates) e Edusp dois anos depois. Tendo viajado à Colômbia por ocasião de
um congresso de ensino de comunicação, o jornalista brasileiro estendeu sua
estada no país sul-americano para coletar dados para o livro. Seu
desembarque foi na capital Bogotá; depois, passou por Villa de Leyva, onde
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aconteceu o supracitado congresso, Tunja, novamente Bogotá, Barranquilla,
Santa Marta, Aracataca, Santa Marta de novo e Cartagena, de onde embarcou
“de volta para casa”.
Antes de conceber a obra, o jornalista já sabia o que queria alcançar: um
livro-reportagem-viagem, a fim de enriquecer sua pesquisa sobre livroreportagem, que redundaria na tese de doutorado O livro-reportagem como
extensão do jornalismo impresso: realidade e potencialidade, apresentada à
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 1990. Por
sua vez, a citada tese foi o ponto de partida para o livro Páginas Ampliadas: o
livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura, lançado pela
primeira vez em 1995, pela editora Manole, e que se tornaria referência
nacional sobre o tema.
Para identificar, explicar e discutir as características literárias presentes
no livro Colômbia espelho América, este estudo lança mão da análise de
conteúdo da obra citada e de pesquisa bibliográfica sobre jornalismo literário e
livro-reportagem, tendo em vista tanto os aspectos quantitativos (freqüência
das características do conteúdo) quanto os qualitativos (presença ou ausência
de características do conteúdo, passíveis de interpretação), principalmente,
que a análise de conteúdo inclui (BARDIN, 1977, p. 21).
O presente trabalho faz parte do desenvolvimento do projeto de
pesquisa Colômbia espelho América: um livro-reportagem paradigmático,
desenvolvido no nível mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, sob orientação
da Professora Doutora Sandra Reimão. Este pesquisador travou contato
pessoal e freqüente com Edvaldo Pereira Lima por ocasião do curso de
especialização lato sensu em Jornalismo Literário oferecido pela Academia
Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL) nos anos de 2006 e 2007.
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Esclarecimentos Necessários
Primeiramente, situemos o que se entende por jornalismo literário. O
mesmo Edvaldo Pereira Lima publicou este conceito no site oficial da
Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL):
Jornalismo literário é a modalidade de prática da
reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico
utilizando recursos de observação e redação originários
da (ou inspirados pela) literatura. Traços básicos: imersão
do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de
dados
e
informações,
metáforas),
digressão
uso
e
de
símbolos
humanização.
(inclusive
Modalidade
conhecida também como Jornalismo Narrativo.
Felipe Pena, outro estudioso do tema, lista diversos atributos deste
modo de se fazer jornalismo:
O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os
recursos do Jornalismo, ultrapassar os limites dos
acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da
realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as
correntes burocráticas do lead, evitar os definidores
primários
e,
principalmente,
garantir
perenidade
e
profundidade aos relatos (PENA, 2008, p. 13).
Faz-se
necessário,
para
melhor
compreensão
do
conceito,
o
esclarecimento do que não venha a ser jornalismo literário: nem todo
jornalismo sobre literatura e nem todo jornalismo publicado em livro, por
exemplo. Jornalismo com toques de ficção ou ficção com recursos de
jornalismo também são formatos diferentes, que não se encaixam no conceito.
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Há quem considere as expressões jornalismo literário e new journalism
sinônimas, mas esta não é a visão deste estudo, que identifica o primeiro como
modalidade de jornalismo independente de um contexto histórico circunscrito e
entende o segundo como movimento localizado em espaço e período histórico
específicos (LIMA, 1993, p. 51), a saber, os Estados Unidos da década de
1960. Por mais persistente que seja a ressonância do new journalism ao longo
do tempo, inclusive no Brasil, não se pode afirmar que ele seja equivalente ao
jornalismo literário.
Agora, focalizemos o objeto desta análise. Colômbia espelho América é
um livro-reportagem, ou seja, um veículo de comunicação impressa nãoperiódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao
tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. Por
grau de amplitude superior, se entende maior ênfase ao tratamento do tema
em foco nos aspectos extensivo e intensivo (LIMA, 2004, p. 26). Como
oportunamente destaca Eduardo Belo, quem investe em livro-reportagem no
Brasil o faz, entre outros motivos, pela “necessidade de contar histórias que
atualmente não cabem em outros veículos – por força de limitações técnicas ou
das circunstâncias” (BELO, 2006, p. 36).
Conforme seus objetivos particulares e a natureza do tema abordado, o
livro-reportagem pode assumir diferentes aspectos. Entre as diversas vertentes
existentes, a obra aqui estudada pode ser definida como um livro-reportagemviagem, pois toma a viagem a uma região geográfica específica como pretexto
para trabalhar vários aspectos de caráter sociológico, humano, cultural e
histórico do local. Ele difere do relato turístico e romantizado por se preocupar
com pesquisa, coleta de dados e exame de conflitos, sem fechar os olhos para
determinadas observações e pontos negativos. Não se trata de um livro de
viajante apaixonado, mas de repórter (LIMA, 2004, p. 51 e 302).
De fato, o autor aproveitou uma passagem pela Colômbia para reunir
dados municiadores do livro, que transita por um cenário complexo “sem
excessivo aprofundamento, mas o suficiente para estabelecer um grau de
solidez e de costura entre os diferentes fragmentos da realidade do real” (LIMA,
2004, p. 304). Inspirado em alguns modelos de livros de viagem, de escritores
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como Paul Theroux e Bruce Chatwin, Lima escolheu a Colômbia por se tratar,
no seu ponto de vista, de um país que representava as aspirações latentes de
uma integração continental (a latino-americana) e as frustrações desse ideal.
Assim, ao se falar de uma situação local, inevitavelmente se permitia a
discussão de aspectos de um contexto mais amplo, em âmbito regional.
Símbolos, Dinâmicas e Vozes
Colômbia espelho América lança mão de cinco símbolos colombianos
relacionados à temática da integração latino-americana. O primeiro é composto
pelas estratégicas características geográficas do país, o único da América do
Sul com costas para os oceanos Pacífico e Atlântico. O segundo seria a cidade
portuária de Cartagena, por onde passava o tesouro que a Espanha explorava
no continente. Alvo histórico de pilhagens, Cartagena seria palco da resistência
espanhola diante dos seus inimigos, abrigando grandes fortificações militares.
Em terceiro lugar, está o mito de El Dorado, paraíso repleto de ouro imaginado
pelos conquistadores séculos atrás. Por fim, duas figuras humanas: Simón
Bolívar, líder venezuelano que chega a reunir três Estados sob o nome de GrãColômbia, e Gabriel García Márquez, escritor colombiano que transforma sua
terra natal Aracataca na mítica Macondo, “microuniverso que plasma as
realidades surrealistas (...) de todo um continente” (LIMA, 2004, p. 311).
Tendo como fio condutor o relato da própria viagem do jornalista, a
narrativa se vale deste deslocamento para introduzir novos níveis espaciais e
dimensões temporais no texto, como, por exemplo, quando relaciona dois
episódios ocorridos no mesmo cenário que estão separados pelo momento de
eclosão. Neste sentido, o livro comete a ousadia de viajar para o futuro em um
trecho específico e demarcado, exercitando a ficção científica, prática nada
comum para obras jornalísticas. No caso, se trata de um passeio por uma
Amazônia Continental no ano de 2051, quando os rios da região são
administrados de forma integrada pelos países que os abrigam (LIMA, 1989, p.
19-21).
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Embora a narração se desenrole na perspectiva do autor, ela se mostra
maleável à pluralidade de vozes que travam contato com Lima, quando este
cede espaço para a manifestação de figuras de notável reconhecimento social
e pessoas anônimas, seja em falas na primeira pessoa ou em depoimentos
tratados na terceira pessoa onisciente, do autor. O uso de distintas funções de
linguagem varia o ritmo narrativo, enriquecido também com o livre escoar dos
pensamentos dos personagens, tratados de forma humanizada.
Exemplo: no diálogo – muito mais em tom de conversa do que de
entrevista - com Germán Vargas Cantillo, amigo próximo de García Márquez,
as declarações do entrevistado são longas, mescladas a comentários do
entrevistador que acrescentam informações e introduzem o próximo tema
abordado, dispensando as indagações do tradicional esquema perguntaresposta. O resultado é um texto mais fluente e coeso, que respeita o raciocínio
do interlocutor (LIMA, 1989, p. 103-107). O tratamento dos personagens
preferencialmente pelo primeiro nome e não pelo sobrenome, ao longo do livro,
é um traço humanizador que revela a disposição do jornalista para se
aproximar das pessoas com quem interage. Sempre que fala de si, sem receio
de expressar sua voz autoral, e se abre para trocas afetuosas, o autor
evidencia o contraste com o típico distanciamento pregado pelo jornalismo tido
como objetivo, neutro e imparcial.
O cuidado de Lima em humanizar seus personagens é tamanho que até
elementos da natureza e acidentes geográficos ganham contornos de seres
humanos. Quando descreve o principal rio colombiano de ligação para o mar,
por exemplo, tem-se a impressão de que o mesmo possui vontade e esforço
próprios nesta frase:
“O Magdalena consegue a proeza de evitar a Amazônia
exatamente porque as duas cadeias de montanhas que
sobem para o norte e nordeste formam paredão de
proteção, empurrando o rio para o Caribe” (LIMA, 1989, p.
28).
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Na obra, não se identificam traços de imersão na realidade apenas na
exploração de paisagens e cenários, mas também no interesse por fatos
coincidentes ao transitar do jornalista pela Colômbia – como o desempenho de
um ciclista do país em um torneio de destaque internacional, transmitido dia
após dia via rádio – e na sua postura de se deixar levar pelas contingências
que o obrigaram a mudar de planos, aceitando novas situações que lhe foram
apresentadas para poder convertê-las em novas possibilidades de descobertas
e conclusões inesperadas.
Digressões e Documentação, sem Perder a Leveza
Como já mencionado acima, Colômbia espelho América alterna
dimensões temporais conforme o autor se locomove pelo país. A técnica da
digressão conduz o leitor do tempo presente, a viagem de avião de Lima em
maio de 1987, para o ano de 1560, quando os espanhóis adentram as mesmas
selvas que o Boeing que o conduz avista, instigados pela busca do ouro dos
indígenas. Faz o mesmo quando o jornalista aporta em Cartagena, e da
descrição das heranças de sua arquitetura e construção parte para a origem de
tantas fortificações militares, desde a fundação da cidade no século XVI,
passando pela prosperidade do domínio espanhol, os ataques de piratas
ingleses e franceses – inclusive o capitaneado pelo notável Francis Drake -, o
comércio de escravos negros e a resistência do Forte San Felipe de Barajas ao
pior dos cercos estrangeiros, no século XVIII.
O resgate de tantos fatos históricos obviamente demandou a Lima um
trabalho extenso de investigação e documentação, para que os dados
utilizados no seu texto fossem os mais precisos possíveis. Mesmo quando
certas informações se confundem com lendas, e não se consegue separar
claramente o real e o mágico, é preciso ter ciência disso e dizê-lo ao leitor,
como se nota no livro (LIMA, 1989, p. 130). O grande risco de se construir um
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longo recorrido histórico é transformar o texto em um relato “pesado”, cansativo
e enfadonho para quem o lê, preocupação que o autor identifica quando
defende a linguagem jornalística baseada na fundamentação combinada com a
fluidez, de modo que a leitura transcorra com leveza e naturalidade por várias
páginas. Nesse sentido, a diminuição da distância temporal entre os
acontecimentos passados e o momento da leitura, por meio da colocação dos
verbos no tempo presente, colabora para a atualização do relato. O
procedimento,
padronizado
no
texto
jornalístico
convencional,
não
é
desprezado em Colômbia espelho América. No exemplo abaixo, Lima narra um
evento ocorrido no século XVI como se ele tivesse acabado de acontecer:
Aguirre começa a espalhar boatos de que traz muitas
pedras preciosas. Até que o governador da ilha, Juan
Villandrando, decide visitar esse desconhecido misterioso
que desperta em todos a ilusão de El Dorado. Cai na
armadilha: Aguirre o prende, rouba os cofres reais,
saqueia a população. E quando parte de seus homens se
rebelam, fugindo para o continente, a fúria sanguinária de
Aguirre rompe os últimos bloqueios internos que lhe
impediam a total loucura. Numa carnificina avassaladora,
manda decapitar alguns de seus oficiais, bem como várias
personalidades importantes da ilha. O governador é
enforcado (LIMA, 1989, p. 24).
Convites ao Leitor
Desde as primeiras páginas, Lima lança mão, com bastante freqüência,
de uma estratégia claramente identificada com a preocupação em atrair o leitor
para o percurso do texto e as reflexões plantadas nesse caminhar. Trata-se de
indagações que encerram parágrafos ou sucedem descrições, convidando o
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leitor a ficar alerta e se posicionar sobre o tema que é questionado. Nos casos
em que o autor expõe pensamentos e julgamentos, a subseqüente pergunta no
texto desponta, para aquele que o lê, como se lhe dissesse “você concorda
comigo ou discorda do que acabei de escrever?” ou então “o que você teria a
dizer sobre isso?”. Dois exemplos desta “artimanha” encontram-se nos
excertos abaixo:
O espanhol perseguia as lendas de ouro, submetia
nações inteiras para obtê-lo pela cruz e pela espada. E o
inglês, o francês vinham acossar o tesouro espanhol,
propriedade espúria, para pilhar e destruir e matar e
construir a grandeza deles... Piratas, bucaneiros e
corsários com o aval da nobreza para roubar. Abutres
sobre abutres? (LIMA, 1989, p. 23)
Não é preconceito. Nem querer impor modelo de fora.
Mas por que nós, latinos, não conseguimos ser –
enquanto povo, nação, conjunto, eficientes? Por que
nossas
sociedades
não
andam?
Por
que
não
conseguimos estabelecer uma civilização dos trópicos
que seja de efetiva qualidade social, tecnológica,
administrativa, empresarial, humana? (LIMA, 1989, p. 2627)
Este último fragmento, não por coincidência, é significativo porque revela
outro recurso generalizado de inclusão do leitor: a colocação do pronome na
primeira pessoa do plural – “nós”, ou seja, “eu, autor, e você, leitor” -, que no
caso deste trecho se reforça por estar acompanhado de um adjetivo partilhado
por ambos os sujeitos envolvidos no processo – “latinos”, que se refere a quem
escreve e a quem lê. Uma indagação do tipo “Por que nossas sociedades não
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andam?” se insere em uma outra proposta do autor, ainda mais abrangente:
levar o leitor a exercitar sua condição de ser social e refletir sobre a
coletividade que o cerca e do qual ele faz parte, evidenciando o papel social
que o livro-reportagem é capaz de assumir.
Considerações Finais
Convém mencionar que esta investigação encontra-se em estágio inicial
e, portanto, parte considerável do conteúdo de Colômbia espelho América
ainda será analisada com maior detalhe e atenção. Entretanto, já foi possível
detectar a existência de inúmeros recursos literários no livro-reportagemviagem de Edvaldo Pereira Lima, bem como suas contribuições para que a
obra pudesse ser tomada como caso bem trabalhado de texto que explora as
potencialidades do jornalismo literário em seu formato mais enriquecedor,
justamente o livro-reportagem.
Referências Bibliográficas
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006.
LIMA, Edvaldo Pereira. Colômbia espelho América: dos piratas a García
Márquez, viagem pelo sonho da integração latino-americana. São Paulo:
Perspectiva e Edusp, 1989.
LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo: Brasiliense,
1993.
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LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão
do jornalismo e da literatura. 2.ed. São Paulo: Manole, 2004.
LIMA, Edvaldo Pereira. CONCEITOS. Academia Brasileira de Jornalismo
Literário. Disponível em: <http://www.abjl.org.br>. Acesso em 16 jun. 2009.
PENA, Felipe. Jornalismo literário. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto,
2008.
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DO CHORO AO RISO!
O PODER DA PROPAGANDA EMOTIVA NA DISPUTA ELEITORAL
Marcela Nabuco dos Santos
Resumo:
Neste trabalho pretende-se apresentar uma análise do poder da
propaganda emotiva na disputa pelo eleitorado durante a trajetória de sua
campanha na utilização das mídias televisiva e radiofônica.
Será demonstrada a diferença entre uma propaganda racional e emotiva
e seus efeitos de causa, trazendo aos eleitores uma “realidade” e
caracterização de personagens desenvolvidas por seus coordenadores de
campanha com o intuito de vender sempre a melhor imagem dos seus clientes
e a mais próxima da qual o povo deseja naquele ano eleitoral.
Serão empregadas reflexões de artigos científicos desenvolvidos por
Margarete Bin, Gustavo Alves, que fazem uma análise do discurso político na
propaganda eleitoral gratuita para deputados estaduais-PR-2006 e um artigo
de Rosane da Conceição intitulado de „Propaganda: Um romance quase
perfeito‟.
Falar-se-á do poder de emocionar, de persuasão, citando exemplos,
falando do Acórdão de n.1.649/2008 e sobre a preocupação da imagem do
político, desde visual até a sua base familiar, regionalidade, valores e crenças,
tudo feito com exclusividade para atrair eleitores e, consequentemente,
“garantir” a vitória dos seus “clientes”.
Com este artigo, o objetivo é propor uma análise e reflexão do poder de
emocionar com risos ou lágrimas e de se fazer vencer um candidato através
delas, muitas vezes transformando-os em verdadeiros “heróis do povo”.
Palavra-Chave: Propaganda Emotiva; Persuasão; Vitória; Imagem.
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THE CRY OF LAUGHTER!
THE EMOTIONAL POWER OF ADVERTISING IN ELECTIONS
Marcela Nabuco dos Santos
Abstract:
In this paper we present an analysis of the emotive power of advertising
in the race by electorate during the course of his campaign on the use of
television and radio media.
The difference between a rational and emotional propaganda and its
effects in question, bringing managers in order to sell when the best picture of
their customers closer to what people want that election year.
Employ ideas of scientific papers developed by Margarete Bin, Gustavo
Alves makes us an analysis of political discourse in electoral propaganda for
state legislators- PR-2006 and an article by Rosane da Conceição titled
Propaganda: An almost perfect novel.
We talked about the emotional power of persuasion, we cite examples,
we speak of Case n.1.649/2008 and concern about the image of a politician
from visual to his family background, regionality, values and beliefs, all made
exclusively to appeal to voters respectively and “ensure” the victory of their
“clients”.
With this paper we propose an analysis and reflection of the power of
emotion to laughter of tears and make a candidate win through them, often
turning them into real “heroes of the people”.
Key Words: Propaganda Emotional, Persuasion; Victory; Image.
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Introdução
Emoção- significa abalo moral ou afetivo; perturbação, geralmente
passageira, provocada por algum fato ao nosso espírito (boa ou má notícia,
surpresa, perigo). Significado com encaixe perfeito para o que pretendemos
tratar nesse trabalho, colocando em debate o poder que a propaganda
emocional exerce na disputa eleitoral e da sua persuasão em seduzir o eleitor a
favor dos candidatos presentes na disputa.
A propaganda emocional tem como uma das suas principais funções a
de emocionar e provocar sensações a quem a assiste. Por diversas vezes
representa uma “realidade”, que é desejada pelos eleitores e provocada a ser
desejada pelos seus coordenadores de campanha. Ex: No ano de eleição X, a
população sofreu com a crescente morte por dengue. Qual a realidade? A
morte, qual o desejo do povo?A solução para o problema “dengue”. E qual é o
desejo dos coordenadores de campanha? Provocar a indignação, aumentando
o desejo de mudança e logo em seguida mostrando a solução como algo árduo
mais simples de se tratar que durante o tempo da gestão atual não foi realizado
pelo candidatado no poder, mas que com “boa vontade e esforço” o adversário
certamente dará a solução.
Indignação, raiva, medo, esperança e felicidade são sentimentos
provocados em um único exemplo em que ao final podemos constatar o poder
da propaganda emotiva.
Uma realidade teatralizada com personagens bem arrumados, alinhados
e sempre desejosos por mudanças de vida para o seu “eleitorado sofrido” com
as causas atuais do ano eleitoral. Jingles fácies de cantar e principalmente de
decorar a “musiquinha” e que cai no gosto das pessoas, melodias legais com
ritmos que identificam o candidato e na televisão cenas fortes, outros que se
familiarizam com a realidade vivida pelas pessoas e um candidato que mais do
que uma pessoa normal é colocada em cena como um super herói sem capa e
sem poderes sobrenaturais, mas com poderes reais de solução para se não
todos os problemas, a grande parte deles.
O eleitorado, ou seja, o povo precisa acreditar que o poder está nas
mãos deles e que eles delegam a quem achar mais conveniente o que não
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deixa de ser verdade, mas conveniente para quem? Se a fantasia se mistura
com a atualidade e o desejo de cada um que deposita seu voto na urna, muito
provável que o mais conveniente seja para aquele que melhor trace seu plano
de campanha eleitoral.
Acreditando nesse poder que se encontra em suas mãos, o eleitorado
vota no candidatado X e repassa para ele o domínio, confiando que a mágica
será feita e a mudança acontecerá. Sobre esse trecho citado, podemos utilizar
como exemplo um trecho do jingle da Campanha de Reeleição do Lula para
presidente no ano de 2006, quando ele dizia: “É Lula de novo com a força do
povo”, mostrando-nos que a realidade debatida até agora em que o eleitorado
possui o poder em suas mãos e que o candidato tendo a certeza disso precisa
mostrar ao público que ele não quer tomar para si o que é do povo e sim pela
força deles e com total autorização dos mesmos, governa aquele local para a
melhoria deles, ou seja, a população.
É de grande importância a utilização do poder de persuasão para
convencer o eleitorado do que se está sendo tratado. No programa eleitoral é
necessário que se demonstre segurança e confiança nas palavras ditas e os
argumentos precisam ser convincentes e positivos para que sejam bons
aliados nas argumentações. O poder da palavra e como a utilizamos é outra
questão eficaz para a vitória nas eleições. Palavra tem poder...
Emocionar nem sempre significa chorar, podemos também utilizar dos
risos para ganhar as eleições, por muitas vezes observamos nas pesquisas
eleitorais que candidatos que nomeamos de “ridículos” ganharam eleições ou
ficaram perto da vitória, por tratarem a política como uma diversão e através
deles podemos constatar um ponto que diverge do primeiro debatido por nós
até o momento.
No primeiro momento debatemos o poder de emocionar aos eleitores
que depositam total confiança e crença nos seus candidatos, mas através
dessas “figuras políticas” podemos verificar outro tipo de candidato que
também se utiliza da emoção, mas para se indignar com os fatos ocorridos e
acabam votando nessas “figuras” para representá-los, por não confiar na
política e por acreditar que votando em políticos que se vestem de Robin é uma
forma de demonstrar essa indignação diante dos problemas atuais ou
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simplesmente por diversão, porém mesmo assim podemos ver o poder da
propaganda emotiva na vitória do candidato, seja por risos ou por choros o que
referenda, sobremodo, o que colocamos até o presente momento.
Desenvolvimento
A propaganda eleitoral é uma das formas que mais aproxima o eleitor do
seu candidato, pois podemos entrar nas suas casas sem a permissão dos seus
donos e ali temos todo o direito de deixar a mensagem que queremos passar
naquele momento, criando laços afetivos e gerando diversos sentimentos com
os discursos bem elaborados que se fazem entendidos por todos os assistidos.
O candidato precisa encontrar uma imagem certa e mais próxima do seu povo
para que a identificação possa existir com o público.
Veremos ao desenvolver desse trabalho que o emocional atrai muito mais do
que o racional, e por isso no cenário atual político brasileiro podemos observar
claramente a mudança por propagandas emotivas, deixando mais de lado as
racionais ou as simplesmente informativas, pois essas não colaboram com a
vitória na disputa eleitoral, um indicativo de que a reflexão, a análise, o pensar,
doem, causam e se opta sempre pela mensagem simplista, reducionista, que
manipula as massas, pois “cria” vínculos pretensamente “afetivos”.
Racional x Emotiva
Partiremos agora da diferença entre propaganda emotiva e racional, a
primeira como citamos diversas vezes ela é criada para emocionar e criar
vínculos com o público e a segunda é informativa, foi feita para passar a
mensagem, funções e especialidades que estão sendo comunicadas naquele
momento. E qual a função da propaganda eleitoral? Não é justamente informar
os planos de governo? Deixar claro para o eleitorado quais as pretensões na
sua gestão política? Se for verdade, por que então estamos debatendo que a
propaganda emotiva convence mais que a racional?
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Pela simplicidade do fato de como as informações nos são passadas de
maneira milimetricamente trabalhada, aonde, mas do que informar ao eleitor de
seus projetos, o candidato precisa confiar no que está dizendo e transmitir
através de suas palavras toda essa certeza fazendo com que se acredite nele.
As pessoas não querem assistir ou ouvir candidatos didáticos e sem
expressão, alguém que se comunique “friamente” com eles, e sim de “laços e
amigos” que saibam chegar até o ouvinte através da televisão ou do rádio,
porém esse “alguém” não pode simplesmente apresentar o programa eleitoral
de bermuda ou pronunciar palavras erradas para se aproximar dos eleitores,
claro que não, primeiro pelo fato de termos um eleitorado instruído que também
vota e decide nas urnas e segundo porque a população menos favorecida não
está querendo um candidato igual a eles, e sim um que lute por eles, alguém
que os entenda, porém com “mais capacidade” para governar a cidade, estado
ou país.
Imagem e Discurso
Segundo Andrade (1996), a imagem certa é aquela que o eleitor
identifica num candidato, homem ou mulher, como o político enfim, capaz de
atender ao que ele exige, satisfazer as suas necessidades porque o eleitor
confia na impressão que tem dele, na intuição de ser aquele o melhor
candidato para ganhar o seu voto. A imagem certa é a imagem vencedora.
Conforme Andrade (ibidem) nos fala, a imagem do político precisa
identificá-lo e trazê-lo para mais próximo do seu eleitorado; é necessário que
se construa a imagem e não apenas a visual, mas como um todo, na qual se
envolve crenças, valores e ideologias a fim de convencer ao eleitor.
O político bem vistoso, sorridente e simpático, que sabe se comportar
em frente às câmeras utiliza-se bem da linguagem e corresponde às
expectativas dos eleitores através da imagem exposta por eles, afinal a
imagem certa é a imagem vencedora.
Para cada local uma forma de se comportar e se expressar. Em
passeatas o candidato mantém a linha mais informal e participa no meio da
população; já em propagandas eleitorais ele volta à formalidade e com jeito
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mais sereno de quem possui a solução para os problemas atuais, a imagem é
a mesma, porém ela adapta-se ao meio vivido.
O candidato cria uma identidade própria e diferente e a sua imagem é
agregada a propaganda emotiva de forma positiva e bem trabalhada. Em seu
artigo Propaganda: Um romance quase perfeito, Rosane da Conceição nos diz
que “Os publicitários lançam mão do discurso com um “exercício do poder” das
palavras mesmas, em vista de promoção de idéias próprias a um pensamentos
da representação”; assim podemos afirmar que o discurso está associado a
imagem e à realidade que nos é apresentada de uma maneira familiar e bem
próxima ao que o eleitorado deseja.
Em seu artigo, Rosane cita Zilda Knoploch (mestra em antropologia) que
afirma: “A propaganda é um poderoso meio de difusão de hábitos de consumo,
não só de produtos industriais e serviços, como também de conceitos e idéias”.
Nada mais plausível para as propagandas políticas que cria grandes conceitos
e ideais sobre os seus candidatos, afinal é muito provável que o candidato
ganhe simplesmente porque apresentou os melhores projetos para a cidade,
mas tem muito mais vantagem eleitoral aquele que sabe como apresentar seu
plano governamental, não é o que se quer dizer e sim o que o povo quer ouvir
do jeito certo.
A propaganda emotiva compreende fatores de apelo emocional na
imagem, no texto e na dicção, formulando idéias e criando conceitos em quem
assiste ou ouve o horário eleitoral, tudo feito com o mesmo destino: o de
convencer e persuadir o público, assim nos fala Rosane, quando cita: “Ele, em
nosso caso o eleitor, é seduzido por uma espécie de romance preparado para
satisfazer suas expectativas já existentes, quando muito reelaboradas,
representadas.” (Artigo Propaganda: Um romance quase perfeito, p.5)
É importante também destacarmos o grande efeito que o discurso tem
na construção da imagem do candidato e de como o eleitor projeta as cenas
diante do que se está ouvindo, criando concepções imaginárias.
O discurso político é elaborado de forma exclusiva para cada programa
de acordo com que vai ser apresentado no dia pelo candidato, forma-se o que
podemos chamar de conjunto de procedimentos, utilizados para privar o
adversário e ganhar a vitória nesse grande jogo político.
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No artigo Análise do discurso político na propaganda eleitoral gratuita
para deputados estaduais- PR-2006, os autores citam Alves (2006) que diz que
o discurso é uma arma na disputa política porque é um texto que contém a
busca por posições sociais e políticas onde o sujeito lida com posições sociais,
discursivas e políticas que já foram anteriormente construídas ou tencionadas
por ele mesmo e por outros sujeitos visando ou destruí-las ou reformulá-las, ou
ainda, retomá-las, num processo de fixação parcial de sentidos e do
estabelecimento de uma hegemonia.
Podemos considerar a importância do discurso político na criação da
imagem do candidato e de como bem apresentado torna o mesmo aceito pela
população, pois suas propostas de governo ganham mais força perante o
eleitorado, mais credibilidade, passa confiança e ganham legitimidade perante
quem assiste ou ouve os programas eleitorais.
Com o discurso político, o candidato ganha força também para
manifestar a sua indignação perante a gestão atual ou glorificar o que fez até
agora pela população e explana de forma positiva o que pretende fazer mais
ainda depois do ganho eleitoral; também pode defender-se ou acusar,
tornando-se o porta-voz do eleitorado e tudo isso ganha mais força quando
colocado nas propagandas emotivas, que aqui poderemos chamar de
“propagandas eleitorais emotivas”, aonde utiliza-se dos recursos sonoros, da
imagem certa e frases bem construídas, o que provoca identificação e,
posteriori, projeção (o eleitor projeta-se no candidato, “faz parte” dele e do que
defende)
O discurso reforça idéias, direciona opiniões, contrasta elementos e cria
realidades e como disse Bourdieu (1998), o que dá poder às palavras é a
crença na legitimidade delas ou daquele que as pronuncia, esse pensamento
avigora a idéia de que um discurso é mais um instrumento favorável na busca
da vitória.
Outro trecho que podemos retirar do artigo que reforça toda a idéia
desse trabalho é a que na política hoje o candidato se mostra como aquele
cidadão disposto a atender os desejos dos seus eleitores, e na televisão o seu
discurso torna-se fortalecido, pois é o contato com o eleitor aparentemente
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frente a frente, dando a oportunidade dele mostrar que tem condições de
atender a vontade do povo.Cria-se a ilusão da empatia de fato.
Com todos esses feitos podemos observar que a maior finalidade é a
produção da melhor imagem através das estratégias positivas, seduzir e
garantir os votos e o poder político, porque o candidato ele constrói o seu
personagem e a sua “marca”.
Podemos finalizar, seguindo Ruth Amossy (2005) que todo ato de tomar
palavra envolve a construção de uma imagem de si. Mas para isso não é
preciso que o locutor pormenorize suas qualidades, pois seu estilo, suas
competências lingüísticas e suas crenças implícitas são suficientes para
construir uma representação de sua pessoa. Assim, o locutor efetua em seu
discurso uma apresentação de si.
Propagandas Emotivas
Todos esses argumentos citados até agora, colaboram para o sucesso
das propagandas eleitorais e claro que como decorrência a vitória política do
candidato; contudo, a propaganda emotiva é o nosso foco nesse artigo e por
isso podemos afirmar que a construção da imagem, o poder de persuasão,
veemências dos discursos, entre outros consolidam a propaganda emotiva
como a preferida dos coordenadores de campanha porque é a que mais fala
por todos esses recursos, quer dizer ela é formada por esses recursos e como
dito anteriormente ela pode levar a emoção do choro ou dos risos.
Exemplificamos com as eleições de 2008 na cidade de Aracaju, estado
de Sergipe, aonde podemos encontrar uma dessas tais “figuras políticas” que
de uma forma irreverente tentam ganhar a simpatia e votos eleitorais: o senhor
Jaelson Gomes Mota, candidato a vereador, em sua Campanha vestia-se de
Robin e andava de jipe pelas cidades, carreatas e até mesmo passeatas
políticas do seu partido. Em torno dele muitas histórias foram contadas como a
que seu melhor amigo se vestia de Batman e junto com ele nos finais de
semana saiam pela cidade em busca de diversão e da sua tristeza quando ele
faleceu, mas nesse exemplo podemos verificar a emoção através dos sorrisos,
das pessoas pedindo para tirar foto com ele e seu “batmóvel”. E quem não o
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conheceu ou comentou sobre ele naquele ano de eleição? Nesse ano de 2008,
concorreram 234 candidatos a vereador e o candidato em questão ficou em 65,
totalizando 1.170 votos. Notabilizou-se, pois, o tipo criado.
Seguindo sequência de exemplificação, vamos colocar em questão a
Campanha Política para governo no ano de 2006, onde venceu em primeiro
turno o atual governador do estado de Sergipe Marcelo Déda que tem como
mote de governo: “Sergipe de Todos”. Um candidato de boa aparência física,
agradável, simpático, sorridente e de perfeita oratória, nunca perdeu nenhuma
eleição e derrubou uma hegemonia governamental no estado.
Sua campanha foi voltada para a informação com toda a emoção
envolvida, slogan aonde a bandeira sergipana corta o coração, mote que reflete
o desejo do povo que naquele momento era de um governo que pensasse no
coletivo e não apenas nas classes mais favorecidas, que falasse por todos e
que criasse projetos para os mesmos. Propagandas Eleitorais com jingles que
emocionavam e que envolviam sentimento; o tempo todo trabalhou- se a
emoção e não falou-se mal dos governos anteriores, apenas rebatia-se quando
o candidato adversário resolvia insultar de alguma forma, mas tudo feito com
muita classe e principalmente o candidato passava clareza nas suas intenções
quando ditas nos programas eleitorais, e para finalizar esse exemplo cito que
no dia da sua vitória, ele encontrava-se vestido com a blusa de São Jorge que
é conhecido por ser um santo guerreiro e também extremamente popular, é um
dos santos mais próximos do povo e ele ressaltou a blusa que usava, ao povo
e a cor do seu partido.
A imagem que criou-se do Marcelo Déda foi gerada nas pessoas como a
de um herói aquele que iria solucionar todos os problemas existentes e que
seria a “salvação” para o sofrimento do “povo”. O messianismo manipulador se
presentificou, como é comum no cenário político nacional.
A questão da propaganda política é antiga, e é fato claro que precisa-se
utilizar de técnicas e métodos para difundir o candidato e suas idéias. Uma das
proibições no Código Eleitoral (Cód. Eleitoral art. 242) diz que é proibido
empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião
pública, estados mentais, emocionais e passionais. Porém como podemos
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avaliar se a Campanha Política ultrapassou os limites do emocional? Afinal a
Propaganda Emotiva é didática e estudada em tempos escolares.
Em setembro de 2008 os juízes que compunham o Tribunal Regional
Eleitoral do Acre, por unanimidade julgaram improcedente a representação
movida pelo recorrente a Coligação Frente Popular das Comunidades que
argumentou da prática de propaganda eleitoral irregular, ocorrida na manhã do
dia 05 de setembro de 2008, durante o horário eleitoral gratuito, onde a
recorrente afirma que seu adversário utilizou de uma roupagem de matéria
jornalística; de consulta popular com o intuito eleitoral, onde é possível
identificar o entrevistado, de indução do eleitorado a crer que a cobrança do
IPTU é prática ilegítima; de utilização de artifício para criar estado emocional
nos eleitores, com musicas dramáticas e pessoas chorando; do uso de
truncagem, montagem e utilização de recursos gráficos com o intuito de
degradar a imagem do candidato majoritário da recorrente; da difusão de
propaganda com o intuito de degradar e ridicularizar o candidato majoritário da
Coligação recorrente.
No relato final do julgamento, chegam à conclusão que a exibição do
choro, sem exploração sensacionalista, não configura meio publicitário que crie
artificialmente na opinião pública estados mentais, emocionais ou passionais,
proibidos pela legislação eleitoral. Foi esse o entendimento do egrégio
tribunal...
Considerações Finais
É fato que a propaganda emotiva precisa ser de bom-gosto e bom tom e
disfarçadamente demonstrar o seu candidato, não há mal nenhum em fazer as
pessoas se emocionarem, rirem ou cantarem “musiquinhas”, afinal naquele
momento em que os eleitores sentam na frente da televisão elas querem ver
algo novo e principalmente querem acreditar que esse “novo” pode virar
realidade, não simplesmente assistir a mais um tele-jornal aonde as notícias já
ajudam na descrença de que as coisas podem melhorar, então no ano eleitoral
os horários políticos são a válvula de escape para todos os fatores ocorridos
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naquele dia, porque nela o eleitorado tenta encontrar o perfil do candidato que
ele espera que possa resolver alguns dos tantos problemas demonstrados nos
jornais. Por isso a propaganda emotiva faz companhia aos candidatos políticos
se articulando com toda a linhagem de boa imagem em toda a sua amplitude.
A propaganda precisa valorizar idéias e seus candidatos promovendo o
encontro do seu candidato com os desejos do povo, por isso a necessidade de
criar e produzir símbolos, jingles, motes, cores e todo tipo de material
condizente com o público-alvo, que envolva emocionalmente.
Contudo, vimos que a propaganda, especificamente a eleitoral, tem na
sua vertente mais seguida pelos coordenadores de campanha a emotiva, pois
uma das suas principais funções é a de emocionar e provocar sensações nas
pessoas, também observamos que a realidade dela é teatralizada com o
objetivo de oferecer ao eleitorado o que eles desejam do seu candidato
naquele ano eleitoral.
O eleitorado necessita acreditar na mudança e o seu candidato precisa
demonstrar que se pode confiar nele, o poder está nas mãos do primeiro, mas
este deposita inteiramente no segundo, basta acreditar.
Há candidatos que emocionam com lágrimas e outros que nos fazem rir
com as situações, mas em ambos os casos podemos afirmar que a emoção
fala mais alto, e
é através da propaganda eleitoral que o candidato se
aproxima do eleitor, pois entra nas casas sem pedir permissão e ali deixa sua
mensagem, ou seja seus planos de governo acompanhados de uma misto de
discursos bem elaborados e de uma imagem bem alinhada no vídeo.O
candidato precisa encontrar a imagem certa e criar a sua própria identidade, a
imagem que lhe dará votos na eleição.
Segundo
Manuel
Castells
“o
ambiente
influi
e
muito”
(CASTELLS,1999,p.361), pois geralmente os eleitores assistem à televisão nas
suas casas, no horário de descanso: de manhã antes de ir trabalhar, na hora
do almoço e à noite quando estão bem descansados. E nesse momento as
propagandas eleitorais são absorvidas com maior tranqüilidade, por isso
precisamos pensar na imagem do candidato como um todo, e não apenas no
visual.
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126
Finalizando, citamos o título do livro de Carlos Augusto Manhanelli:
“Eleição é guerra!” E como toda guerra, por mais dolorida que seja tem
lágrimas quando se perde um ente querido e tem risos quando ele consegue
voltar para casa, mas um registro é certo: ali sempre haverá emoção, sempre
haverá choro e riso!
Referências Bibliográficas
DE ANDRADE, Sérgio “Arapuã”. Como vencer eleições usando TV e rádio.
São Paulo: Editora Nobel,1996.
GARCIA, Nélson Jahr. Sadismo, Sedução e Silêncio. São Paulo: Editora
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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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128
LOBBY NO BRASIL REGULAMENTADO E A DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA
Rose Mara Vidal de Souza1
Resumo:
O artigo apresenta uma reflexão sobre o lobby e legalização da
profissão no Brasil. A partir do pluralismo - entendido como uma tradição
de pensamento e ao mesmo tempo um conjunto de valores públicos que
implicam respeito, diversidade e tolerância -, discute o lobby como uma
forma de exercício da política pluralista, mas que acarreta graves
desequilíbrios na representação política. O artigo perpassa pelo conceito
de origem inglesa e norte-americana . Na parte final, trata dos grupos de
pressão e de interesse, além da importância da democracia no seu
contexto. Conclui que a sociedade deve, obrigatoriamente, estar
mobilizada para influenciar o poder público, que, afinal de contas, a
representa e por ela foi eleita, assim como empresas, entidades,
sindicatos e movimentos sociais devem lutar pelos seus direitos, sendo o
lobby uma dessas representações.
Palavras-Chave: Lobby, Marketing Político, Comunicação
Introdução
Na sociedade contemporânea, pós-industrial e norteada pelas regras do
capital, parte do que somos, sentimos ou pensamos decorre do partilhamento
de conteúdos aos quais não temos acesso a partir de nossas relações com os
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outros e com o mundo ou das práticas sociais cotidianas, mas do universo
mediado pelos meios de comunicação. Assim, nossas relações com o mundo
estão cada vez articuladas e condicionadas à forma como somos vistos, fator
que tem tornado a divulgação de nossas ações algo imprescindível para a
imagem, o desenvolvimento e o crescimento de qualquer natureza jurídica ou
física.
Fazem parte destas ações de comunicação diversas áreas, como a
assessoria de imprensa, a publicidade e propaganda, a fotografia, o marketing
e as relações públicas. Esta última faz as vezes de um profissional que não é
regulamentado no Brasil: o lobista.
Segundo Nassar (2007) é preciso deixar claro que não há lobby “do
bem” ou “do mal”. Existem ações iniciadas por um indivíduo ou um grupo para
influenciar a opinião de um representante ou um setor do governo em prol de
apoio a sua causa -que é o lobby. Para Maquiavel não havia um bem, por
maior que fosse, que pudesse ser avaliado como um bem sem restrições,
principalmente na política (Maquiavel, 2008). Existe a construção de uma
estratégia de argumentação com o objetivo de defender uma causa -que é a
“advocacy”. E existe o processo de gerenciamento de ações estratégicas com
o intuito de influenciar políticas públicas -que são as relações governamentais.
Todas praticadas com técnicas de relações institucionais ou relações públicas.
No Brasil o “lobby” é muito utilizado no meio político. Infelizmente,
grande parte da população possui uma concepção errônea do significado da
palavra. O lobista está atrelado a corrupção, ao suborno e a falta de ética.
Neste artigo, além de exemplificarmos o que é lobby vamos sugerir este debate
com a sociedade, principalmente o uso do lobby em campanhas eleitorais.
Levando em conta que as questões éticas relacionadas à promiscuidade entre
público e privado não são novas nem exclusivas. Devem ser enfrentadas à luz
da atualidade: um mundo aberto, interligado em redes, sociedades mais
informadas, mais conscientes, desejosas de participação (NASSAR, 2007).
Persuasão e democracia
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130
Lóbi (também grafado lobby) ou grupo de pressão é um grupo de
pessoas ou organização que tem como atividade buscar influenciar, aberta ou
secretamente, decisões do poder público, especialmente do poder legislativo,
em favor de determinados interesses privados. Pressões e manipulações
exercidas por lobbies também são observadas em outras instâncias do poder
público (Executivo, Judiciário), e também sobre os meios de comunicação.
Fazer um lobby é algo muito natural, feito por todos nós. Entre alguns
exemplos de lobbyes, podemos citar a ocasião de um filho tentar convencer
seu pai a comprar um vídeo game ou quando um sindicato discute melhorias
nas condições de trabalho com uma empresa.
A palavra lobby tem origem inglesa e significa salão, hall, corredor.
Segundo alguns estudiosos, o fato de várias articulações políticas acontecerem
nas ante-salas (lobby) de hotéis e congressos, fez nascer a expressão
“lobbying” (lobismo) para designar as tentativas de influenciar decisões
importantes tomadas pelo poder público, sobretudo aquelas relacionadas a
questões legislativas, de acordo com interesses privados de alguns grupos ou
setores inteiros da sociedade (DANTAS, on line).
Nos Estados Unidos a palavra foi adotada com o mesmo sentido, mas a
referência era o vestíbulo onde se hospedavam os presidentes eleitos antes de
tomar posse e passar a morar na casa Branca. Ali ficavam os postulantes à
espera da oportunidade de apresentar seus pleitos aos futuros ministros,
assessores e outros altos funcionários da nova administração. Por ali até
passavam também membros da Câmara dos Representantes, ou do Senado,
em visita ao futuro presidente, os quais podeiam, por sua vez, ser portadores
ou apoiadores do pretendido pelos solicitantes (FARHAT, p.50).
Uma das principais ferramentas do lobismo é a persuasão. De acordo
com Citelli (1997), para existir persuasão é necessário que certas condições se
façam presentes: a mais óbvia é a livre circulação de idéias. Em uma ditadura,
em um regime que censura, fica um pouco estranho falar em persuasão, visto
que inexistem idéias em choque.
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131
Não há pluralidade de mensagens e, portanto é
possível que o discurso nem chegue à sua fase
persuasiva permanecendo nos mais baixos extratos
civilizatórios. O discurso do tirano é único, daí se está
recoberto de mentiras ou engodos, ninguém sabe,
ninguém viu. Ademais é frenquente nas ditaduras a
dispensa da sutileza da palavra e a adoção do
argumento do chicote, da tortura, da pura violência
física (CITELLI, 1997, p. 68).
Partindo destes pressupostos podemos entender que Lobby só existe
em democracias. Ou seja, são atividades legítimas, lícitas e necessárias. Para
o bem delas mesmas, dos envolvidos e dos interessados e, especialmente, do
fortalecimento da nossa democracia, a regulamentação do lobby é bem vinda
no Brasil.
De acordo com Bueno (on line), em princípio, o lobby é considerado
normal em um regime democrático, porque os grupos organizados (empresas,
entidades ou movimentos sociais) têm o direito (e até o dever) de se empenhar
na defesa dos interesses que defendem ou das idéias que professam.
Infelizmente, dada a fragilidade da classe política (com uma conduta ética
quase sempre reprovável) e o jogo do Governo (que se rende a grupos para
obter vantagens), o lobby, enquanto prática, tem sido desvirtuado, identificado
como abuso de poder (econômico, sobretudo), corrupção e tudo o que há de
mais deplorável no relacionamento humano e comercial.
Seguindo o raciocínio de Bueno, no Brasil (e isso vale para qualquer
outra nação), os grupos organizados têm assento, de maneira representativa,
no Parlamento, como é o caso, por exemplo, da bancada ruralista, em nosso
país, ou mesmo dos representantes das instituições de ensino ou da medicina
privada. Os produtores agrícolas franceses e as siderúrgicas americanas fazem
o mesmo, pressionando os respectivos governos para fazer valer os seus
privilégios.
João Bosco Lodi, consultor na área da administração, com trabalhos
também sobre o Lobby, defende a tese de que não se deve confundir lobby
com Relações Públicas e explica:
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"Estas últimas consistem em Comunicação com os
diversos públicos que integram a sociedade, um dos
quais é o Poder Público. O LOBBY restringe-se a uma
ação junto ao poder público, um ato de influenciar sobre
a decisão, enquanto Relações Públicas realiza apenas
a comunicação em si. Desta forma, não existe LOBBY
junto à opinião pública, como não existe lobby junto à
imprensa" (BUENO apud LODI, on line).
Em uma sociedade democrática, os tomadores de decisão são
confrontados com uma complexa rede de interesses e se valem das idéias e
opiniões dos grupos de pressão para subsidiarem suas decisões. Os grupos de
pressão fornecem informações confiáveis e comprováveis aos tomadores de
decisão e os mesmos transformam esses grupos em interlocutores,
convidando-os a emitir sua opinião quando necessário.
A atividade inclui a coleta de informações, propostas políticas,
estratégias apropriadas para dar suporte a tais demandas, confecção de
pesquisas e a procura por aliados. O lobbying proporciona a troca de
informações e de idéias entre governo e partes privadas, capazes de infundir
nas políticas públicas conhecimento de causa e realismo consciente. Seu
último estágio é a pressão, momento em que o lobista deve se valer de seu
poder de comunicação e persuasão (Graziano, 1994). Sendo assim, podemos
conceber o lobbying como saber especializado e representação técnica, pois
enquanto representam interesses especiais, os lobistas são o sustentáculo da
informação de um especialista técnico-político (Graziano, 1994).
Regime Militar
O lobby no Brasil o seu desenvolvimento ocorreu quando o país ainda
estava sob o regime militar. Apesar de não haver muito espaço para que os
grupos de pressão participassem, já que o Congresso foi extremamente
enfraquecido e o atendimento de demandas, assim como a formulação de
políticas públicas, havia se tornado atribuição do poder Executivo, a mídia
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passou a chamar de lobbying qualquer atitude que tivesse alguma relação com
influência e convencimento, sem se importar com o caráter da representação
de interesses.
Por desconhecimento da mídia, a palavra acabou sendo confundida com
compra de lealdade, o lobby só passou a existir de fato depois do processo de
redemocratização. Vinte anos se passaram desde então e a atividade nunca foi
regulamentada. E não foi por falta de projeto. Ex-vice presidente da República,
o senador Marco Maciel (PFL-PE) tenta há duas décadas aprovar projeto para
regulamentar a profissão de lobista.
„„É
leviana
a
argumentação
segundo
a
qual
quem
propõe
regulamentação defende o lobby. O que eu quero é acabar com o lado obscuro
dessa atividade, que permite o tráfico de influência. Se houver uma disciplina,
há como se punir as desobediências‟‟, comenta o senador. O texto foi aprovado
no Senado em 1989 e, desde então, aguarda análise da Câmara
(ROTHENBURG & CERATTI, on line).
Lobby regulamentado
Em outros países a profissão de lobista é reconhecida oficialmente,
sendo até regulamentada por lei. O lobby chega a ser reconhecido como uma
importante parte do processo político. EUA, União Européia e parte da América
Latina, por exemplo, têm mecanismos reguladores das atividades de lobby. No
Brasil não. O Congresso nacional mantém parado seis projetos que regulam o
lobby no Brasil. O mais antigo deles, de 1989, é de autoria do senador Marco
Maciel. Ainda de acordo com Nasser (2007), não é uma tarefa simples
normatizar essa atividade, que é muito complexa, envolve múltiplos interesses
e ainda há muita nebulosidade.
O lobby nos EUA tem a “Federal Regulation of Lobbying Act of 1946",
que o regulamenta. Essa lei foi atualizada em 1995 por causa de uma grande
crise ética, que envolveu alguns membros e vários funcionários do Congresso
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e do Executivo, entre os quais o lobista Jack Abramoff, o centro do escândalo
de extensiva corrupção em Washington. Ele usou várias entidades políticas e
corporativas para ganhar dinheiro, pagar viagens e outros presentes para
funcionários e autoridades do governo federal. Foi apanhado, julgado e
condenado a passar mais de cinco anos na cadeia (NASSER, 2007).
Não foi o único a pagar pelo crime. Lá, nos EUA, além da lei federal,
cada Estado e muitos municípios têm legislações próprias, que dão
transparência às relações com o poder. A jovem União Européia discutiu
amplamente a atividade de lobby. Enquanto isso, adotou documentos que
estabeleceram princípios gerais para a conduta dos lobistas. Em 2006, foi
introduzido o “Green Paper on a European Transparency Initiative”, oferecendo
mais transparência e regras definidas para os 15 mil lobistas, ONGs e outros
grupos que pretendem influenciar os decisores da UE. Ao mesmo tempo, o
tema foi debatido em audiências públicas.
Alguns de nossos vizinhos -Argentina, Chile, Colômbia, México, Perutêm leis de lobby ou de ética pública.
O Brasil precisa colocar entre as prioridades de sua agenda a
regulamentação do lobby, que deverá servir para toda a administração pública
federal -Executivo, agências reguladoras, estatais, Legislativo e Judiciário-,
deverá ser parâmetro a ser aplicado aos Estados, capitais e aos municípios
com mais de 200 mil eleitores. Deverá abranger os setores público e privado, o
terceiro setor, os sindicatos, as associações, as confederações, as empresas,
as consultorias etc.
O fundamental é que, pela regulamentação, se possa identificar quem
representa quem, quais são os interesses em jogo no processo de formação
das políticas públicas e se existe abuso do poder econômico. Também, o
controle dos gastos diretos e indiretos envolvidos nesse trabalho.
Muitos autores ligam a palavra lobby, grupo de pressão ou mesmo grupo
de interesses comum a só situação, no entanto há diferenças entre os
conceitos, como podemos exemplificar a seguir.
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135
De acordo com Azambuja (2003), os grupos de pressão como qualquer
grupo social, permanente ou transitório, que, para satisfazer seus interesses
próprios, procure obter determinadas medidas dos poderes do Estado e
influenciar a opinião pública. Qualquer grupo social pode ser um grupo de
pressão, quando procuram influenciar o poder público decisões de seus
interesses. Já para Bastos (2004), a maior diferença entre essa ação reside no
fato de que os partidos visam assumir o governo para que nele possam ser
implantados os programas políticos já os lobistas, pelo contrario, não visam
assumir o poder, mas sim pressioná-lo num determinado sentido, podendo
depois de adquiridos seus interesses se desfazerem.
Na realidade, os grupos de pressão devem ser analisados como
estruturas que integram o sistema político. Não são institucionais - como as
que compõem o Executivo, o Legislativo e o Judiciário - e sim informais
constituídas por setores organizados da sociedade.
Contrariamente aos partidos políticos, os grupos de pressão não se
propõem a conquistar o poder formal. Seu objetivo é influir nas decisões, seja
para promover seus interesses, seja para evitar que decisões que os
contrariem sejam aprovadas.
Grupos de pressão situam-se no espaço localizado entre os indivíduos
isoladamente considerados de um determinado segmento social e os órgãos
de governo. Trata-se de uma estrutura de articulação de interesses, em
contraste com os partidos políticos, que são estruturas de agregação de
interesse. Grupos de pressão, portanto, são porções sociais organizadas,
reunindo indivíduos que compartilham interesses e desenvolvem ações com a
intenção de inspirar decisões de governo.
Para Castro (2004), o conceito de grupo de interesses são as forças
sociais que emergem num grupo total, organizam se e atuam objetivando
vantagens e benefícios de acordo com a natureza do grupo. Os grupos de
interesse podem ser profissionais, econômicos, religiosos, ou ligados a
qualquer outra função social. Não raro, eles podem converte-se em grupo de
pressão.
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136
Um exemplo interessante para distinguir esse grupo foi informado por
Farhat (2007) em que ele cita os monarquistas brasileiros constituem um grupo
de interesses, mas não de pressão.
Havendo inscrito no art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias a previsão de um plebiscito, a fim de permitir que o eleitorado
decidisse sobre a forma monárquica ou republicana de governo, os partidários
da volta do Império permaneceram no quase-anonimato. Nada fez, e pouco
disse, para divulgar e promover sua causa, até os dias e semanas de
propaganda, imediatamente antes do plebiscito, no rádio e na TV, no começo
de 1993.
Considerações Finais
O lobby pode ser realizado sem violar as leis do país. Esta ressalva é
importante, porque a interação dos atores sociais com os atores do poder
público durante processos decisórios pode assumir uma forma degenerada,
criminosa – a corrupção. É o que ocorre quando está em jogo a obtenção de
vantagens ilícitas para ambas as partes; por exemplo, quando atores sociais
oferecem dinheiro e/ou outros benefícios aos tomadores de decisão, em troca
de diversos tipos de recompensas ilegais.
Naturalmente, detectar e investigar os episódios de corrupção, assim
como punir os culpados, são atitudes da maior importância para a defesa do
interesse público. A mídia brasileira tem oferecido uma contribuição muito
valiosa neste sentido, ao denunciar e acompanhar diariamente numerosos
eventos de corrupção. Além disso, como irei argumentar em seguida, essa
parcela das atividades de defesa de interesses pode e deve ser submetida a
mecanismos que a tornem mais transparente e acessível aos diversos
segmentos sociais – portanto, que a tornem mais compatível com valores
democráticos.
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137
Qualquer que seja, no entanto, a conceituação (no processo de
regulamentação do lobby no Brasil, em curso no Brasil, os profissionais de
Relações Públicas, num determinado momento, defenderam - e alguns
continuam defendendo até hoje - a atividade como privativa da categoria), o
certo é que o lobby, em si, não merece o caráter pejorativo com que é
distinguido.
Concordo com Bueno (on line) quando diz que a sociedade deve,
obrigatoriamente, estar mobilizada para influenciar o poder público, que, afinal
de contas, a representa e por ela foi eleita, assim como empresas, entidades,
sindicatos e movimentos sociais devem lutar pelos seus direitos. O limite para a
aceitação do lobby, enquanto prática, está no uso adequado (democrático,
transparente, ético) dos instrumentos utilizados para esta influência. Com
certeza, uma boa comunicação é fundamental no sentido de favorecê-la e as
empresas, grupos sociais ou entidades devem sempre valer-se dela. A
corrupção, a propina e outros procedimentos não éticos devem ser vistos sob a
perspectiva policial ou da Justiça e nada tem a ver com lobby ou comunicação.
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A SEDUÇÃO NOS PRONUNCIAMENTOS POLÍTICOS DE FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO
Ariádne Castilho de Freitas
Resumo:
Este trabalho consiste em uma análise para identificar as diversas vozes
que tecem e se entrecruzam em seis pronunciamentos de FHC enquanto
presidente do Brasil. A Análise do Discurso de linha francesa, a proposta
dialógica bakhtiniana e os pressupostos da argumentação forneceram os
subsídios teóricos para a análise. A partir do estudo de diferentes formas de
heterogeneidade, verificou-se a manifestação explícita do “outro” em pelo
menos três dimensões: o outro 1, 2, 3 e, dessa forma, questiona-se a visão
monológica da linguagem, enfatizando-se o caráter argumentativo e, portanto,
heterogêneo do pronunciamento político. Os resultados apontam para a criação
de sentidos muitas vezes não desejados pelo locutor; defende-se, ainda, que o
dizer de FHC é extremamente sedutor.
Palavras-Chave: Pronunciamento Político - Heterogeneidade - Manifestação
do “Outro”-
Argumentação - Sedução
Introdução
Como professora de Língua Portuguesa há muitos anos, deparamo-nos
com inúmeros problemas, principalmente o que se refere ao trabalho com
textos. Verificamos que o texto é usado como pretexto para o ensino da
gramática, do vocabulário e da ortografia; a leitura do professor predomina; o
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aluno, na maioria das vezes, aceita passivamente a leitura imposta pelo
professor, sem questionamento; o leitor- aluno não é visto como um produtor
de sentidos, o que reflete a uniformidade pretendida pela escola. Além disso,
observamos que muitos professores não apresentam, nas aulas, a leitura de
outros gêneros discursivos, como o pronunciamento político, por exemplo, o
que poderia ser explicado pela falta de interesse que predomina entre os
brasileiros em relação à política de um modo geral.
A existência desses fatos é preocupante, pois o aluno deve ser
sensibilizado para ler criticamente os diversos tipos de mensagem, e entre
elas, o pronunciamento político, que apresenta rico material para ser discutido
criticamente, para ser refletido. O trabalho com esse gênero tem importância
para o exercício da cidadania, para que o aluno compreenda as diferentes
posturas públicas e assuma uma posição que lhe permita contribuir para a
construção da história de seu país. O pronunciamento político é fortemente
argumentativo, heterogêneo e se abre à disseminação de sentidos. Por isso, as
pessoas devem ter um posicionamento mais crítico para a conscientização
política, observando o que está por detrás do que é dito, ou até mesmo do que
não é dito, para não serem enganadas por alguns políticos.
Resolvemos analisar o discurso político à luz da Análise do Discurso de
linha francesa na medida em que esperamos contribuir para a sensibilização do
professor e do aluno no que diz respeito à leitura desse gênero discursivo.
Estabelecemos os seguintes objetivos para o trabalho: contribuir para a
reflexão sobre o pronunciamento político como material alternativo para o
ensino em língua materna e analisá-lo enquanto texto argumentativo. Temos
como ponto de partida a hipótese de que a heterogeneidade constitui, no
pronunciamento político, um recurso de persuasão.
Metodologia
Escolhemos seis elocuções proferidas em 1995 e 1996 por Fernando
Henrique Cardoso, no seu primeiro mandato como presidente da república. Os
pronunciamentos são:
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Quadro 1 - Identificação das elocuções:
No
1
ONDE
QUANDO
INTERLOCUTOR
ASSUNTOS
Brasília
3/2/95
povo brasileiro
queda da inflação, reforma
constitucional
2
Ceará
24/3/95
povo brasileiro
aposentadoria, salário mínimo,
reforma agrária
3
Washington
20/4/95
Bill Clinton
liberdade, amizade Brasil/EUA
4
Brasília
25/8/95
ministros, políticos
reconstrução das formas de
Estado
5
Belo
4/3/96
povo brasileiro
educação. previdência, política
Horizonte
6
Brasília
social
22/5/96
empresários
reforma constitucional, política
econômica
Discutimos
as
noções
teóricas
que
embasaram
o
trabalho,
consideramos o contexto sócio-histórico (abordamos assuntos determinantes
para a manifestação lingüística como a inflação, a educação, a saúde, a
violência, o trabalho, o salário e a concentração de renda); o locutor: o então
presidente Fernando Henrique Cardoso, vencedor
das eleições logo no
primeiro turno com quase 55% dos votos, sociólogo, professor universitário da
USP, aposentado compulsoriamente em 1969, militante da oposição ao regime
militar e os interlocutores: o povo brasileiro, difícil de ser caracterizado, tendo
em vista a heterogeneidade que o constitui.
Identificamos seqüências discursivas, definidas por Courtine (1981, p.
25) como “seqüências orais ou escritas de dimensão superior à frase”, que,
uma vez delimitadas, precisaram ser organizadas no interior do corpus.
Buscamos em Orlandi (1986) o elemento organizador – o recorte discursivo;
este pressupõe o gesto do analista do discurso que, ao recortar uma seqüência
discursiva, recorta uma porção indissociável de linguagem-e-situação. Cada
recorte discursivo é composto por seqüências discursivas, numeradas em
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continuidade e seguidas de outro número, que indica a que pronunciamento se
referem. Reconhecemos as diferentes representações do sujeito nos
pronunciamentos, por meio do exame de algumas das marcas discursivas que
trazem as várias presenças do outro. Finalmente, mostramos como o sujeito do
discurso se serve da polifonia para obter a adesão do interlocutor, verificando
tanto a eficácia dos argumentos analisados quanto alguns efeitos de sentido
por eles instaurados.
Principais Conceitos e Referenciais Teóricos
A Análise do Discurso, o discurso e o sujeito
Buscamos alguns aspectos da AD; primeiramente seu objeto. A AD tem
por objeto específico o discurso e não a língua. Sua unidade de análise é o
texto e não a frase, sendo texto aqui considerado "não em seu aspecto
extensional, mas qualitativo, como unidade significativa da linguagem em uso,
logo unidade de natureza pragmática"(ORLANDI, 1986, p. 7).
Em seguida, ao tratarmos do discurso, partimos da definição de discurso
apresentada por Coracini (1991a , p.337), que o considera como "o processo
em que o lingüístico e o social se articulam, objeto ao mesmo tempo social e
histórico onde se confrontam sujeito e sistema". Essa definição contempla a
materialidade discursiva, vinculada às suas condições de produção e parte da
noção de um sujeito heterogêneo, múltiplo, determinado pela ideologia, ao
mesmo tempo em que tem a ilusão de ser o "criador onipotente de seu
discurso" (ORLANDI, 1986, p.118-119). A partir da visão de discurso na
perspectiva da AD, redefine-se o conceito de sujeito, que deixa de ser aquele
que tem o controle intencional e consciente de seu dizer. Ele passa a ser visto
como descentrado, descontínuo, determinado ideologicamente por formações
discursivas que o precedem, dentro das quais se constituem as diferentes
posições de sujeito, assim como os sentidos e seus efeitos.
Ao construir o seu dizer, o sujeito incorpora alguns enunciados préconstruídos, que provocam os Esquecimentos 1 e 2 de que nos falam Pêcheux
e Fuchs (1975). Pelo Esquecimento n. 1, o sujeito tem a ilusão de ser a origem
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do que diz, a fonte exclusiva do sentido do seu discurso; pelo n. 2, há a ilusão
do sujeito de que seu discurso reflete o conhecimento objetivo que ele tem da
realidade e, portanto, o que ele diz tem apenas um significado.
Buscamos em Pêcheux (1993) as formações imaginárias; ao abordar
as condições de produção, ele faz uma esquematização, apresentando a
vantagem de colocar em evidência os protagonistas do discurso, bem como
seu referente. Trata, ainda, das condições prévias sustentadoras da produção
do discurso, que envolvem sempre a questão do imaginário, dentre elas, a
imagem que o locutor faz de si mesmo, a imagem que o locutor faz do
destinatário, a imagem que o locutor pressupõe que o ouvinte faz dele.
O dialogismo e a heterogeneidade
Abordamos também as idéias de Bakhtin (1992), o primeiro a expor uma
visão dialógica da linguagem. Segundo ele, nosso discurso está impregnado
das palavras do outro, palavras essas que são modificadas, alteradas em seu
sentido pelos efeitos da nossa compreensão. Para construir seu discurso, um
enunciador necessariamente leva em conta o discurso do outro e esse
dialogismo passa
a ser uma condição constitutiva do sentido do discurso.
Tratamos com as palavras dos outros em nosso discurso, fundimos com elas
nossa voz, com elas reforçamos nossas próprias palavras. O princípio dialógico
permeia a concepção bakhtiniana de linguagem.
O filósofo russo acredita que o dialogismo é a característica essencial da
linguagem e a condição do sentido do discurso. O estudo da relação dialógica
entre o eu e o tu compreende o estudo das relações de persuasão e de
interpretação que se estabelecem no texto, e estas envolvem sistemas de
valores, tanto do enunciador quanto do enunciatário, participantes da
construção dialógica do sentido.
Quanto à heterogeneidade, analisamos a partir das considerações de
Authier-Revuz (1982, 1990), a qual parte da perspectiva social da língua e
propõe a visão da psicanálise, da leitura lacaniana de Freud, que leva à dupla
concepção de uma fala fundamentalmente heterogênea, em que se escuta a
polifonia não intencional de todo discurso. A autora cita Freud, lembra que o
sujeito "não é mais senhor de sua morada" (1990, p.28) e aí é que está a
possibilidade de mascaramento. Os "atos falhos", os chistes e os sonhos
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mostram a existência do inconsciente, sobre o qual não temos controle. A
psicanálise contribui para a teoria do sujeito da AD, pois assume o sujeito na
sua divisão, na sua ilusão. O sujeito é efeito de linguagem, visto como uma
representação dependente das formas de linguagem que ele enuncia e que, na
verdade, o enunciam.
Authier-Revuz apresenta uma concepção particular de sujeito: a de um
sujeito descentrado e interpelado pelo inconsciente que, ao mesmo tempo se
constitui
como
sócio-histórico,
determinado
pela
ideologia.
Considera
teoricamente o conceito bakhtiniano de dialogismo, afirmando que "todo
discurso se encontra constitutivamente atravessado pelos outros discursos e
pelo discurso do Outro" (1982, p.141).1
Ela propõe dois tipos de heterogeneidade, a mostrada, explícita, que
trata das manifestações que inscrevem o outro na seqüência do discurso e
alteram sua aparente unicidade, como o discurso direto, o indireto livre, a
ironia, as aspas, as formas de retoque ou glosa; e a constitutiva, que não é
marcada na superfície, mas possível de ser definida pela interdiscursividade,
pela relação que todo discurso mantém com outros discursos. A autora assume
que em qualquer discurso, o outro está presente.
A Argumentação: a retórica clássica e a nova retórica
Recorremos à argumentação e discutimos os estudos na área da
Retórica Clássica realizados por Aristóteles (1964), apesar de o estranhamento
que isso pode causar à primeira
vista. No entanto, devido à sua grande
influência ainda hoje, verificamos o conceito de Retórica e algumas regras a
serem aplicadas ao se elaborar discursos persuasivos. Ele, inicialmente,
acentua que "a Retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada
caso, pode ser capaz de gerar a persuasão" (ARISTÓTELES, 1964, p. 22).
Mostrou também que, na
fala do orador, não é relevante o conteúdo da
mensagem; o que importa é a sua fala como uma forma de ação, específica e
particular de persuadir, já que é pelo discurso que persuadimos, sempre que
queremos demonstrar a verdade ou o que parece ser a verdade.
Séculos depois, a retórica de Aristóteles foi reformulada por Perelmam e
Tyteca (1996). De acordo com esses dois autores, a argumentação é vista
como
a
busca
da persuasão do alocutário pelo locutor. Enfatizam
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principalmente a noção de auditório, pois é em função dele que qualquer
argumento se desenvolve, sendo o conhecimento de quem se pretende
conquistar a condição primeira para qualquer argumentação eficaz.
Em obra anterior, Perelman (1988) afirma que o orador, se deseja agir
eficazmente por meio de um discurso, deve se adaptar a seu auditório, de
quem possui uma imagem prévia. Assim, é ao auditório que cabe o papel
principal de determinar a qualidade da argumentação e o comportamento dos
oradores. Sendo a variedade de auditório quase infinita, o orador vê-se
confrontado com inumeráveis problemas, por isso o que se busca é uma
técnica argumentativa que se imporia a todos os auditórios indiferentemente.
Ainda ao estudar os recursos argumentativos, procuramos em Koch
(1987) alguns deles, presentes no nível lingüístico fundamental, pois
constitutivos de sentido. A autora cita os indicadores modais, como verbos,
advérbios, expressões, torneios sintáticos; os operadores argumentativos, os
índices de polifonia, as pressuposições, os indicadores ilocucionários, os
advérbios e expressões atitudinais e os tempos verbais.
O Discurso Político
Como nossa proposta é a análise de pronunciamentos de FHC enquanto
presidente, consideramos necessário explicitar o que se entende por discurso
político. Carmagnani (1996, p.292), para caracterizá-lo, apresenta um
enunciado abstrato: "X (o político) faz Y (eleitor, cidadão) acreditar em N (suas
palavras) para obter Z (voto, apoio)". Por meio da linguagem, o político servese do imaginário e tenta construir no interlocutor uma imagem de si próprio,
imagem essa que ele acredita corresponder àquela que o povo deseja. Para a
construção dessa imagem ilusória, o locutor, como recurso de persuasão, traz
para o seu dizer vozes de outros discursos, tais como o pedagógico, o
religioso, o científico, que acabam servindo de argumentos em favor de sua
tese.
Já Osakabe (2002), na sua leitura sobre discurso político, classifica-o em
duas categorias: o Discurso Político-Teórico e o Discurso Político-Militante.
Explica que o primeiro fica no plano da convicção; o segundo visa alcançar no
ouvinte não simplesmente a adesão a uma posição, mas ainda sua
participação ativa nas tarefas necessárias para a afirmação dessa posição;
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utiliza-se da argumentação para a obtenção final de um resultado que,
ultrapassando o nível da convicção, vai atingir o nível da ação, persuadindo,
assim, o interlocutor.
Também Coracini (1991b) trata do discurso político numa visão
argumentativa, e, portanto, subjetiva. Aproxima o discurso Político de
Plataforma do discurso de propaganda em geral, cujo único objetivo é o de
vender o produto, nesse caso, idéias. Afirma que a intenção do político é
persuadir o interlocutor, desejando atingir o nível da ação.
Finalmente, Dugaich (1993), ao estudar o Discurso Político, investiga as
características de um pronunciamento de posse a partir das condições de
produção que o constituem. A autora afirma que, uma vez legitimado pela
instituição, o locutor, homem público eleito, difere do locutor candidato, pois
passa a enunciar do lugar do poder, e seu campo de ação é muito mais
abrangente, mas sempre com o objetivo de obter a adesão do interlocutor à
sua proposta.
A Sedução
Por acreditarmos que o homem público, ao dirigir-se ao seu ouvinte,
confere à fala uma força persuasiva, instauradora de um processo de fascínio
extremamente eficaz, estudamos ainda a sedução, considerando-a como o
encantamento, o fascínio que uma pessoa exerce sobre outra. Seduzir seria
atrair alguém a um encantamento. Verificamos que o sedutor se serve da
dissimulação, recobrindo a armadilha com um aspecto inocente, principalmente
por meio de promessas que, por serem plausíveis, precisam merecer a
confiança dos interlocutores. Embora planejadas, essas estratégias podem
provocar alguns outros sentidos não previstos pelo sedutor.
Análise do Corpus e Discussão dos Resultados
A partir dessas afirmações teóricas, analisamos seis pronunciamentos
de FHC, fazendo emergir a heterogeneidade mostrada e constitutiva por meio
do emprego de algumas técnicas argumentativas utilizadas pelo locutor para
persuadir seus interlocutores.
Servimo-nos de pronunciamentos dirigidos a diferentes interlocutores em
diversas datas, lugares e situações de produção. Acreditamos que, para
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elaborar seu dizer, o homem público seleciona os dados tendo em vista as
diferentes condições de produção de que fazem parte os vários ouvintes. Tal
situação permite o embricamento de inúmeras vozes que se cruzam,
entretecendo o fio do discurso. A partir dos pressupostos teóricos, iniciou-se a
análise dos pronunciamentos, nos quais se verificou a construção da imagem
do então presidente, dos interlocutores e das pessoas a quem ele se refere e
levantou-se o aparecimento de algumas das vozes, das diferentes presenças
que perpassam os enunciados. Observamos que nas elocuções, o outro se
manifesta, explicitamente, em pelo menos três dimensões: o outro 1,2 3.
Vejamos:
a) o outro 1- FHC, com o propósito de construir sua própria imagem.
Neste item, examinamos a voz do sujeito da comunicação. Fizemos a
análise das formações imaginárias do locutor, verificamos como ele se
representa e como se assume, bem como observamos alguns sentido
provocados por essa voz. Nesta parte, retomamos Pêcheux (1993) que afirma
que todo processo discursivo supõe a existência das formações imaginárias.
Dentre elas, optamos por uma expressão para a análise do sujeito FHC: - I
(A). Trata-se da imagem do lugar de
A
questão
subentende
implícita
cuja
"resposta"
A
para o sujeito colocado em (A), e a
a
formação
imaginária
correspondente é: “Quem sou eu para lhe falar assim”? (PÊCHEUX, 1993, p.
83). O exame de tal pergunta possibilitou-nos a identificação de diferentes
imagens que compõem as diversas representações da figura de FHC, dirigida
aos interlocutores. Encontramos, dentre elas, a construção da imagem de um
presidente democrata, com um poder legítimo que lhe foi dado pelo voto. Por
meio dessa imagem, FHC representa o desejo de ir ao encontro do imaginário
de grande parte do povo brasileiro, que acredita na democracia e em suas
instituições. Ele insiste nessa imagem, à medida que se qualifica como
autêntico representante do povo, apoiado por este, pelos partidos e pelo
Congresso. É o que se infere em:
(1) Agradeço sobretudo à força que o povo nos deu para, chegando
1
ao governo, respeitarmos o que o povo quer (E 2).
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Há ainda a construção de outra imagem, a de "salvador da pátria", que
propõe as reformas, promete salvar o povo da situação indigna em que este
se encontra, comprometendo-se ainda com a modernização. É o presidente
que mostra a morte dos problemas passados e o nascimento um Brasil novo.
Vejamos:
(2) Eu sou o presidente de um país revitalizado, um país que está
começando um novo
ciclo prosperidade. Nós acabamos com a
inflação, abrimos a economia, promovemos a nova integração do
Brasil na economia global e começamos a crescer de novo. (E 3)
Essa imagem de salvador é reforçada pelo emprego de alguns verbos e
locuções verbais: "acabamos", "abrimos", "promovemos", "começamos a
crescer", ações essas que passam a imagem de um homem ativo, reformador,
que prometeu em campanha e que realizou suas promessas após a eleição.
Observa-se também o emprego da primeira pessoa do singular e do plural, que
pode levar a um sentido talvez não desejado pelo locutor: o de um homem que
detém o poder, que realiza sozinho aquilo que assegurou previamente.
Em outros momentos, emerge a imagem do presidente que acredita no
mercado, que se abre à privatização:
(3) ... nós privatizamos a Light (E 6).
Observa-se que FHC constrói uma imagem de valorização de si mesmo,
imaginando-se como alguém que resolve os problemas. O verbo “privatizar”
cria o sentido de um presidente moderno, que se preocupa com o bem do país
sob sua responsabilidade.
A imagem do verdadeiro político - aquele que é sensato, nada fazendo
em oposição às leis, contribuindo para que todos sejam felizes - proposta por
Platão (1980), é outra das imagens construídas por FHC. Com base no recorte
apresentado a seguir, consideramos que o locutor presidencial deseja
aproximar-se dela:
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(4) Eu quero que o governo, o Congresso e a Justiça trabalhem em
harmonia para que o Brasil ganhe ( E 1).
Considerando essa imagem construída, propomos que a questão de
Pêcheux “Quem sou eu para lhe falar assim?”, deva, na elocução do então
presidente, ser reformulada para: “Qual imagem de presidente os brasileiros
desejam atualmente?” É a partir daí que o simulacro de imagem de presidente,
de político ideal se constrói; a imagem que o locutor constrói para si é
construída sobre a suposta imagem que os brasileiros têm e desejam de um
bom presidente.
Quanto às diferentes representações do locutor, observamos que FHC
se representa enquanto “eu”, “nós”, “o governo”, “o presidente”. As marcas de
primeira pessoa predominam quando ele se dirige ao povo, centralizando seu
dizer em si mesmo, como no recorte:
(5) Quando veio um projeto demagógico, que não tinha fundos para
pagá-lo, eu vetei. E agora eu mandei outro, correto, com os fundos...
( E 2).
(6) E, hoje, eu não venho à procura da liberdade. Hoje, nós
restauramos a liberdade no Brasil. Hoje, eu vim como presidente do
Brasil, de um país em que seu povo encontrou, de novo, o caminho
de sua verdadeira vocação: a democracia. (E 3)
Nos recortes a seguir, apresenta-se como pessoa autoritária, que
lembra o velho político falando, mas já em outro, ao fazer referência ao
passado e narrar fatos de sua vida, leva o interlocutor a vê-lo como homem
muito experiente, principalmente pela idade:
(7) Antes que muitos de vocês tivessem nascido, eu lutava contra o
regime autoritário no Brasil e pedia liberdade. (E 2)
(8) Eu era exilado porque havia um regime no meu país que
considerava que eu, professor de sociologia, poderia ser um perigo
em relação às liberdades que aqui se defende. (E 3)
É possível que, conscientemente, FHC se represente como herói,
homem que veio salvar o Brasil. O governo militar considerou FHC um homem
tão perigoso que cassou seus direitos políticos; mas hoje, como presidente, ele
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restaurou a liberdade e a democracia no país. O passado de FHC reveste-o da
aura de herói, garantindo-lhe autoridade e reconhecimento atualmente.
Em outros recortes, FHC usa o pronome “nós” para se referir a ele –
presidente – e ao povo, ou a ele e mais alguém, que pode ser a classe
empresarial ou outro dirigente político. Trata-se de mais um recurso
argumentativo: o presidente aproxima-se dos interlocutores, chama-os para o
seu discurso, envolve-os numa tentativa de persuadi-los. É o que se vê em:
(9) Juntos, cada um de vocês e o governo continuaremos a batalha
contra a inflação do dia-a dia para impedir que ela volte (E 1).
(10) Vamos fazer as reformas. Mas, para isso, eu preciso do apoio do
povo brasileiro (E 6).
Essa estratégia constrói no povo uma ilusão de participação nas ações
do presidente. O grau de envolvimento do ouvinte é tão grande que ele pode
ser conduzido, facilmente, à impossibilidade de raciocinar, aceitando
passivamente, sobretudo se for pouco esclarecido, a proposta do locutor, a
quem reconhece o poder da palavra final, verdadeira.
Há a construção consciente de imagens ilusórias pelo locutor, mas
observa-se a construção de sentidos não desejados, como no recorte (5), em
que, inconscientemente, FHC cria sentidos que, certamente, irão indispô-lo
junto aos que questionam seu poder centralizador.
b) o outro 2 - o interlocutor, considerado por FHC como amigo
Novamente retomamos Pêcheux (1993, p. 83-84) e estudamos a
formação que se refere ao que o locutor imagina sobre o interlocutor: - I
A
(B)
“Quem é ele para eu lhe falar assim?” Respondemos a essa questão com o
objetivo de verificar como FHC constrói o conceito e a imagem do aliado, do
povo que o apóia, tendo por base o imaginário. Para tanto, selecionamos
recortes que evidenciam a imagem que o locutor tem do outro 2, imaginado
discursivamente como pessoa amiga, forte; o interlocutor é representado por
meio de itens lexicais genéricos como povo, brasileiro, trabalhador, cidadão,
funcionário, aposentado e, mais do que isso, como o povo que sabe escolher
seus representantes. É o que se pode verificar em:
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(11) O povo sabe quem faz, quem cumpre o que promete ( E 2);
(12) O povo percebeu logo que o que beneficia o povo é a seriedade,
não a demagogia... A força vem da mão do povo. ( E 2)
(13) O povo do Brasil
responsabilidade... ( E 3).
entende
que
nós
devemos
ter
O grande número de ocorrência da palavra povo cria alguns sentidos,
principalmente o de democracia, termo que no Brasil, após anos de regime
militar, tem muito valor. O locutor dá importância ao povo, coloca-o em posição
de destaque, como se o povo tivesse o poder para decidir alguma coisa.
Também cria o sentido de amizade, de envolvimento, com o objetivo de
comover os ouvintes e conquistar a sua simpatia para as idéias que pretende
transmitir. Apesar do efeito de intimidade e afeto, o locutor mantém a relação
de poder, na qual ocupa o lugar hierarquicamente superior ao do interlocutor.
A presença do outro 2 é também marcada por meio de pronomes de
tratamento:
(14) Você sabe o alívio que é viver sem inflação (E 1).
Neste segmento,
o uso do pronome “você” provoca o sentido de
intimidade entre o presidente e o povo. Observamos, ainda, o emprego da
linguagem coloquial, de vocabulário como: "gatos pingados", "conversa fiada,
papo furado", "barganhando", "peteleco", "cesta básica", "escola
pública",
"foguetório", em que FHC tem a preocupação em trazer para o seu enunciado
as palavras do cotidiano do povo, procurando, mais uma vez, uma forma de
aproximação com os ouvintes.
Alguns dos outros diversos recursos são: a repetição
de palavras,
estratégia muito usada no discurso pedagógico, que pretende favorecer a
retenção do conteúdo ensinado na mente do aluno. Tal recurso, nos
pronunciamentos, talvez se explique pela formação de professor de FHC. Há
ainda o uso de alguns slogans e expressões populares, formadas por frases
curtas e fáceis de serem memorizadas, como:
(15) Viva o Brasil (E 2).
(16) ... água mole em pedra dura tanto bate até que fura... (E 4)
(17) ... nem vai resolver aqui, nem na China. (E 4)
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Verificamos a alusão às cifras, que provoca no interlocutor, povo
simples, uma reação de admiração diante de somas inimagináveis que não
possui. É o efeito de persuasão que os números possuem, mas ao mesmo
tempo, ouve-se a voz implícita do locutor, reconhecendo o Brasil como um país
doente, pois, só à área da Saúde é destinada a metade do que o governo
dispõe para o gasto público. Vejamos:
(18) ... porque nós temos disponível para o gasto público não mais do
que R$ 1,2 bilhão por mês. Para todos os gastos do Brasil, e só a
saúde gasta R$ 650 milhões por mês, sobram R$ 600 milhões, R$
550 milhões para as estradas, para as Forças Armadas, para a
agricultura, para a educação (E 6).
Há perguntas que ele mesmo responde e isso lembra estratégias do
discurso didático. O político, assim como o professor, tem a capacidade de
antecipar e de conhecer uma possível dúvida de seus interlocutores. Tudo com
o intuito de facilitar a compreensão do ouvinte, aproximar-se do interlocutor,
impressionar o povo.
c) a voz do outro 3 - a presença do outro 3 pode ser vista sob duas
óticas:
I- o inimigo - é concebido, no imaginário de FHC, como desqualificado,
com um perfil negativo. O adversário é apresentado como uma pessoa com
características que não representam "o bom povo brasileiro". É o que podemos
inferir após a verificação dos recortes (19) a (22), em que encontramos
adjetivos nominalizados:
(19) ... há os pessimistas profissionais... ( E 1)
(20) Os mesmos exploradores de sempre (E 2)
(21) ... pobres de espirito ( E 4)
(22 Coitados, não sabiam de nada ( E 6)
Outros são "bobos", "derrotistas" e, por meio deles, FHC faz com que o
ouvinte fique ciente de como os inimigos são, ou de como ele, locutor, quer que
sejam vistos. Apontamos que em (21) e (22) há semelhança com a voz de
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Jesus. Em (21) percebe-se um trecho do Sermão da Montanha: "Bem
aventurados os pobres de espírito..."( Mateus 5,4). Na Bíblia, esses são as
pessoas desapegadas das riquezas, os humildes, os que têm uma das
condições para entrar no reino de Deus. Na elocução de FHC, têm sentido
negativo, com o intuito de desmerecer o opositor, anulando a possível verdade
contida no que o inimigo fala. Em (22), outra alusão à voz de Jesus que, ao
morrer, disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"(Lucas,
23,34).
Há eufemismos como "gente que pega o papel e não sabe o que está
escrito"; estereótipos em "falsa esquerda", "velha direita carcomida"; discurso
direto, reproduzindo o dizer de outro locutor como em "pregando a
fracassomania" e indireto, "não faltou quem dissesse que ... mal terminadas as
eleições, a inflação voltaria a crescer", além de pronomes indefinidos e
demonstrativos como "aqueles", "alguém", "alguns". Estes últimos criam
sentido de indeterminação, de dúvida, pois nem sempre é possível saber quem
é esse inimigo, que, de tão depreciado, nem merece ser identificado para o
ouvinte.
As negações evidenciam a presença do outro no interior do discurso. É o
temos em:
(23) O povo não é bobo (E 2)
Por meio da negação, o locutor presidente traz a presença do inimigo,
que poderia ter dito ou insinuado que “o povo é bobo”. Geralmente, é a voz do
opositor que carrega o enunciado positivo, e o locutor emprega a negação para
rejeitar tal ponto de vista.
FHC, ao empregar todos esses recursos, tenta mostrar que o outro 3 - o
inimigo - não é digno de credibilidade, mas pode ser uma ameaça para o
locutor e para o interlocutor. Por isso, FHC procura, de todos os modos, anular
o opositor, mesmo que, para isso, tenha que trazer a presença e a voz deste
para a elocução, numa tentativa de diminuí-lo, de silenciá-lo:
(24) ... e calamos a boca dos gatos pingados (E2).
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Apesar disso, o outro 3 acaba dominando o locutor, visto ser aquele que
determina a escolha do tema discursivo, o que pode e o que deve ser dito. Mas
é inegável que, ao mesmo tempo, o outro 3 acaba sendo silenciado, pela
criação de sentido de descrédito pretendido pelo locutor presidente.
II- as demais pessoas - são as citadas por FHC nos pronunciamentos.
O locutor constrói ainda a imagem de outros, trazendo vozes para o seu
dizer. Alguns são caracterizados pela profissão ou pelo cargo que ocupam
ou pelo nome: "ministros", "juízes", "governadores", "o ministro Serra", "o
Tasso", "Kennedy". Outros, por serem considerados nocivos ao país, não são
nomeados, como em: "uma minoria privilegiada".
As referências feitas aos que são nomeados são empregadas como
argumento de autoridade, como em:
(25) O Tasso disse a verdade ( E2).
(26) E vamos àquela famosa pergunta do Kennedy: o que é que nós
estamos fazendo pelo Brasil? ( E 6)
Tais recortes levam à construção de sentido de verdade e, como são
pessoas conhecidas, FHC sabe que o interlocutor acredita nelas; por isso,
torna-se inquestionável o que se afirma ou se exemplifica.
Há ainda inúmeros outros recursos que se revelam elementos
importantes na organização argumentativa, por trazerem outras vozes.
Entretanto, acreditamos que apontamos os mais relevantes para o objetivo a
que nos propusemos, qual seja, o de mostrar algumas das diversas vozes que
emergem das elocuções de Fernando Henrique Cardoso.
Resultados Finais
A análise desses recortes de elocuções de FHC mostrou-nos que, além
da voz marcante do presidente, o outro 1, há mais vozes - a do outro 2 - o
aliado, e a do outro 3 - o opositor, além da presença do discurso pedagógico,
religioso e publicitário Isso comprova que o discurso político não é objetivo,
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pois tais vozes, em determinados instantes se completam, em outros se
contradizem, apesar de compartilharem do mesmo espaço discursivo.
Em todos os pronunciamentos, o locutor pretendeu obter a adesão dos
interlocutores e, ao tomar a palavra, ele o fez não só como presidente, mas
também como sujeito perpassado por uma ideologia. Essa tomada da palavra
manifesta-se por meio de diversas formas de representação, de modo que o
sujeito do discurso encontra-se bastante disperso e fragmentado: é o
presidente ora democrata, ora "salvador da pátria", ora autoritário, o qual traz
vozes que produzem sentidos - nem sempre pretendidos pelo locutor - de
promessa, de democracia, de justiça, de igualdade. Tais sentidos são
instaurados a partir das presenças das vozes dos outros 1,2,3, vozes essas
que o sujeito enunciador acredita serem suas, visto ter a ilusão de onipotência,
de que é a fonte e a origem do seu dizer.
Em nossa análise, trabalhamos com um tipo de discurso político
necessário para a preservação de um sistema. A partir daí que abordamos a
sedução provocada pelas elocuções de FHC: seu dizer soa como o canto de
uma sereia e, ao ouvi-lo, o interlocutor se deixa encantar por ele, nele
acreditando sem questionamento, sem desconfiança. Fato que comprovou tal
sedução foi a reeleição de FHC, em 1988, com mais de 50% dos votos, em
primeiro turno.
Salientamos que a persuasão do interlocutor é feita por meio do apelo
de FHC ao povo - imaginado e tratado como amigo - para que participe das
decisões sociais e políticas do país. Essa preocupação, envolvimento e
aparente sensibilidade constituem formas de sedução. No entanto, ao permitir
que o povo, por viver num país agora democrático, possa "fazer tudo, dizer
tudo", FHC acaba por calá-lo, não lhe dando voz, num silenciamento imposto
que funciona como uma forma de dominação, opondo-se à postulação de
igualdade pretendida pelo locutor.
Finalmente, lançamos um olhar sobre o ensino da Língua Portuguesa,
mais especificamente sobre a situação da leitura na escola, sem a pretensão
de propor mudanças na metodologia. Sabemos que a sala de aula tem como
característica a homogeneização, principalmente nas aulas de leitura, já que a
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156
maioria dos professores espera que todos os alunos cheguem a uma única
resposta, depois de lerem e de interpretarem um texto.
É muito importante a contribuição do aluno-leitor na constituição do
significado, visto que um texto possibilita mais de um sentido, sentidos esses
que dependem daquele que lê. Assim, é preciso que se abandone, em sala de
aula, a tendência à homogeneização e que se conceda espaço próprio para
que o aluno possa se posicionar como ser pensante e crítico no mundo. O
professor não pode mais ser o dono do saber. Ele deve, sim, criar condições de
discussão para que o aluno se perceba como sujeito, como enunciador, para
que possa exercer sua capacidade de questionar, refutar, problematizar.
Queremos, por último, lembrar que se faz necessário, hoje, que a escola
não abafe as diversas vozes dos alunos (se é que eles têm vozes!). É preciso
abrir espaço para a produção de diferentes sentidos, para que cada um possa
produzir sentido(s) a partir de suas experiências, crenças, valores e que não se
aceite passivamente um texto ou a leitura do professor como verdade
irrefutável. Se essa sugestão for, pelo menos, questionada pelos professores,
teremos dado um pequeno passo que contribuirá para as tão necessárias
reflexões sobre a leitura em sala de aula.
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TAUBATÉ – SP BRASIL
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A TRIBUNA LIVRE NA CÂMARA DE TAUBATÉ E O DIREITO À
DEMOCRACIA
Camilla Fernanda Carvalho Taddeo, Letícia Faria Silva e Prof. Dr. Fábio Ricci
Resumo:
A democracia pressupõe participação. O Estado se fortalece quando
incorpora as necessidades da comunidade em suas ações. É tema corrente a
modernização na relação entre o parlamento e a sociedade. A Tribuna Livre,
utilizada nas sessões ordinárias realizadas semanalmente na Câmara
Municipal de Taubaté, é uma oportunidade para o munícipe se manifestar.
Cada um dos dois oradores, inscritos previamente, tem cinco minutos para
suas considerações, as quais devem se ater aos assuntos de interesse público.
O objetivo do presente trabalho é analisar o uso da Tribuna Livre na Casa
Legislativa de Taubaté e relacionar a participação dos munícipes e os temas
tratados. A partir da análise por coleta de dados das atas das sessões
ordinárias, da 125ª a 163ª, realizadas entre o período de doze de fevereiro a
nove de dezembro de 2008, foi traçado um perfil da utilização da tribuna pela
sociedade civil. As conclusões preliminares indicam que nesse espaço os
munícipes, de maneira democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam,
entre outras ações que podem contribuir na relação cidadão e governo.
Palavras-Chave: Comunicação; Política; Democracia.
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Abstract:
Democracy presupposes participation. The State strengthens itself when
it incorporates the needs of the community into its actions. The modernization of
the relationship between the parliament and the society is a constant subject.
The Open Tribune, which happens in Ordinary Sessions weekly, in Taubaté‟s
town hall, is an opportunity to citizens to express themselves. Each one of the
two orators, previously registered, has 5 minutes to speak about public matter
issues.
The aim of this paper is to analyze the usage of the Open Tribune in
Taubaté‟s Legislative House and to investigate the participation of citizens and
the issues they talk about. Through the analysis of data gathered from the
Ordinary Sessions, from the 125th to the 163rd minutes that occurred between
February 12th and December 9th, in 2008, a profile of the usage of the Tribune
by the society was drawn. The preliminaries conclusions indicate that the
citizens, in a democratic way, demand what they need, denounce irregularities,
and take action that can contribute to the relationship between citizens and
government.
Key-Words: Communication, Politics, Democracy.
Introdução
“Em suma, é impossível compreender a economia de uma cidade sem
situá-la no contexto da rede urbana à qual ela pertence, e sem determinar as
funções especializadas que ela exerce. É o número e a importância de tais
funções que determinam o tamanho da cidade, o vigor de sua economia e suas
perspectivas de desenvolvimento.” (SINGER, 1998).
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A democracia pressupõe participação. O Estado se fortalece quando
incorpora as necessidades da comunidade em suas ações. É tema corrente a
modernização na relação entre o parlamento e a sociedade.
As funções legislativas envolvem a fiscalização, controle, colaboração e
julgamento dos atos do Poder Executivo e das entidades da Administração
indireta, além da prática de atos de administração interna.
A Câmara Municipal de Taubaté fundada em cinco de dezembro de 1645,
quando Taubaté se elevou à categoria de Vila, teve sua primeira sessão
realizada no dia 1º de janeiro de 1646. Atualmente a Câmara de Taubaté está
em sua 15ª Legislatura (2009-2012).
Até 1779 não existem as Atas, documento em que se relatavam as
reuniões. Até a 20ª sessão (oito de junho de 1948) as Atas eram manuscritas.
A partir daí, começaram a ser datilografadas. Com o registro das Atas, é
possível ter acesso a informações e dados para pesquisas que envolvam a
história da cidade e dos munícipes.
A
Tribuna
Livre,
utilizada
nas
sessões
ordinárias
realizadas
semanalmente na Câmara Municipal de Taubaté, é uma oportunidade para o
munícipe se manifestar. A Tribuna Livre foi instituída em 19 de novembro de
1990 na Casa, e passou a vigorar com a redação da resolução número 128, de
cinco de dezembro de 2007, que destina dez minutos, durante as sessões
ordinárias, para que o cidadão possa manifestar-se sobre assuntos de
interesse público obedecendo aos seguintes termos:
O interessado em utilizar a Tribuna Livre deverá fazer sua inscrição
informando nome completo, endereço, telefone, documento de
identificação, número do título eleitoral e transcrição de inteiro teor
do pronunciamento;
O pedido de inscrição será protocolado e autuado;
A inscrição cujo pronunciamento contenha ofensa pessoal será
indeferida;
Compete ao presidente deliberar sobre a inscrição e dar
publicidade de sua decisão;
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161
Uma cópia do pronunciamento poderá ser disponibilizada aos
interessados;
Cada orador terá o prazo de cinco minutos, sem apartes, para se
pronunciar, prorrogável por igual período, a critério do presidente,
quando da ausência de um segundo inscrito;
Caso o orador não se atenha ao conteúdo do pronunciamento
protocolado, será cassada a palavra e ele ficará impedido de fazer
uso da Tribuna Livre por doze meses.
O presente trabalho tem por objetivo analisar o uso da tribuna livre na
Câmara de Taubaté no ano de 2008, relacionando a participação dos
munícipes e os temas tratados para traçar um perfil da utilização desse recurso
pela sociedade civil.
As conclusões indicam que nesse espaço os munícipes, de maneira
democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam, entre outras ações que
podem contribuir na relação cidadão e governo.
Desenvolvimento
Descrição da Pesquisa
A pesquisa teve como delimitação a utilização da Tribuna Livre pelos
cidadãos de Taubaté. Por meio das Atas das sessões ordinárias de 2008 foram
analisados os trechos em que é registrada a participação da população na
Tribuna Livre. O levantamento dessa documentação foi realizado junto à
Câmara Municipal de Taubaté, que disponibilizou o acesso às Atas. Sendo
assim foi traçado um perfil da utilização da Tribuna Livre em 2008.
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162
Metodologia
Com o método de coleta de dados documentais, verificou-se o conteúdo
das Atas das sessões ordinárias de 2008, da 125ª a 163ª, realizadas no
período de 12 de fevereiro a nove de dezembro. Posteriormente foram
analisados os usuários, bem como os assuntos e as abordagens tratados.
Além das fontes documentais, as fontes bibliográficas deram base para
pesquisa, que foi realizada com o agrupamento de tais conteúdos, como a
reunião de dados relativos à política, economia, sociedade, urbanização, entre
outros que ofereceram maior embasamento para a compreensão do sistema
político “isolado” e municipal, como o de âmbito nacional. Além disso, a
experiência das pesquisadoras como estagiárias da Câmara de Taubaté foi
importante para uma melhor compreensão do funcionamento do Legislativo.
Com a análise dos dados coletados foi produzido um gráfico que reproduz
estatisticamente o tipo de abordagem, sendo assim relacionando a utilização
da Tribuna Livre.
Análise dos Resultados
Elaboramos uma tabela com os principais dados analisados na pesquisa
realizada sobre a utilização da Tribuna Livre em 2008:
Sessã
Data
Orador
Tema/Assunto
o
Abordagem
Principal
Denúncia
Reclamação
Reivindicação
Prestação de
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163
Contas
Agradeciment
o
Divulgação de
evento
Divulgação de
atividade
125ª
12/2/2008
Reforma política
Reivindicação
José Vicente
Estatística anual do
Prestação de
Morgado
Conselho Tutelar
Contas
Adherbal de
Moura Bastos
126ª
19/2/2008
Sobrinho
127ª a
x
x
x
x
8/4/2008
Jurandir
Atualização das
Reivindicação
Campos
aposentadorias e
132ª
133ª
pensões
134ª
15/4/2008
Fátima
2ª Campanha de
Divulgação de
Aparecida
Doação de Medula
evento
Mangolim
Óssea
Guedes
Oliveira
135ª
22/4/2008
José Vicente
Estatística trimestral
Prestação de
Morgado
do Conselho Tutelar
Contas
Sobrinho
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164
136ª a
Reivindicação
João Marcos
Redução da jornada
Vidal
de trabalho
x
x
x
x
3/6/2008
José Viana
Trabalhos realizados
Reivindicação
Werneck de
no Jardim Paulista
140ª
141ª
Oliveira
142ª
10/6/2008
Angela Soares
Semana da Adoção
Agradecimento
da Cruz
Conceição
143ª
x
x
x
x
144ª
24/6/2008
Rodrigo (da
Núcleo jovem
Divulgação de
Mogimpex)
empreendedor de
atividade
Taubaté – FIESP e
CIESP de Taubaté
145ª
146ª
5/8/2008
12/8/2008
Reclamação
José Vicente
Estatísticas do
Morgado
Conselho Tutelar de
Sobrinho
Taubaté
Indalécio
A importância dos
Divulgação de
Santos Dias
Valores na Família
evento
Maurício
Atividades
Prestação de
Fernandes de
desenvolvidas pelo
contas
Faria
Instituto Cidadão no
1º semestre de 2008
Maria Lúcia
Curso de
Divulgação de
Neves Letra
capacitação e
evento
seleção de
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voluntários do
Samaritanos/Taubat
é (CVV)
147ª a
x
x
x
x
16/9/2008
Jurandir
Correção do valor
Reivindicação
Campos
dos benefícios
150ª
151ª
pagos aos
aposentados e
pensionistas
152ª
153ª e
23/9/2008
Luciana Mara
8ª Campanha de
Divulgação de
de Souza
Doação de Órgãos e
evento
Aguiar
Tecidos de Taubaté
x
x
x
14/10/200
Poliana
8
Oliveira
x
154ª
155ª
de Controle da dengue
Divulgação de
atividade
Ventura
Paula Ramos
Problemas na Unitau Reclamação
–
representand
o os
estudantes da
Unitau
156ª
21/10/200
Pedro Luiz S.
8
Santos
Síndrome de Down
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Agradecimento
166
157ª
29/10/200
José Fernando
Escola Municipal de
Divulgação de
8
de Lacerda
Ciências
atividade
Machado
Aeronáuticas –
EMCA
158ª
159ª
4/11/2008
Urbano Reis
Processo Eleitoral
Prestação de
Patto Filho
de 2008
contas
11/11/200
Carlos Alberto
Aumento das
Denúncia
8
da Silva Jr.
Mensalidades na
UNITAU
160ª
x
x
x
x
161ª
25/11/200
Júlio Fernando
Eleições 2008
Agradecimento
8
Pinheiro de
Disque-Denúncia
Divulgação de
Lemos
162ª
2/12/2008
José Vicente
atividade
Morgado
Sobrinho
Leila de
Campanha 16 dias
Divulgação de
Almeida
de ativismo pelo fim
atividade
Ramos
da violência contra a
mulher
163ª
9/12/2008
Carlos
de Secretarias,
Arruda
Orçamento 2009 e
Camargo
agro negócio
Fernando
Secretarias,
Bindel
Orçamento 2009 e
agro negócio
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Reivindicação
Reivindicação
167
A abordagem, o principal elemento analisado, indica o objetivo da
utilização do espaço. Em alguns casos, ela foi dúbia, ou seja, mais de um tipo
de abordagem por orador. Por exemplo: Abordagem: Divulgação de evento.
Mas isso não significa que o orador não tenha feito divulgação de atividade,
agradecimento ou reclamação, porém o objetivo principal da utilização da
tribuna livre foi a divulgação de determinado evento. Sendo assim, a
abordagem foi priorizada dessa maneira.
Por meio das considerações dos oradores, as quais foram utilizadas
para a análise da abordagem, foram selecionadas os trechos que justificam o
critério de avaliação:
7 oradores – Reivindicação
125ª S. O - “...estou vindo aqui porque os senhores e as senhoras têm
condições de discutir sobre isso muito mais do que eu e exercer o seu poder
político com os seus senadores, com os seus deputados para que discutam
com relação a isso.
133ª S. O - “Nesse sentido é que requeremos a Vossas Excelências um pedido
de Moção, consubstanciada no seguinte: Taubaté, 8 de abril de 2008.
Excelentíssimo senhor Presidente da Câmara Municipal de Taubaté. A união
dos Aposentados e Pensionistas de Taubaté, entidade estabelecida na praça
da Monção, nº 21, bairro da Monção, inscrita no CNPJ 53321915/0065, por
intermédio do seu presidente, senhor Eugênio Rodrigo Bernardo, vem mui
respeitosamente a presença de V. Exa. para apresentar um pedido de moção
de apelo ao Senado Federal para que, por intermédio de todos os senadores,
aprovem, em caráter de urgência urgentíssima o Projeto de Lei 58/2003, que
dispõe sobre a atualização das aposentadorias e pensões pagas pela
Previdência Social e pela União dos seus inativos e pensionistas, consoante o
arrazoado abaixo descrito”.
135ª S. O - (2º orador) “Então, Presidente, eu venho aqui a essa tribuna pedir
apoio aos senhores vereadores e deixar, se me permite, uma cópia de um
abaixo-assinado que as seis centrais sindicais buscam um projeto de lei e
iniciativa popular junto ao Congresso que via ser lançado no dia 1º de maio.
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TAUBATÉ – SP BRASIL
168
Tem uma cópia do abaixo-assinado, é muito simples, tem quatorze cópias aqui.
Eu pediria, se assim entendessem os nobres vereadores, cada um ter uma
cópia disso e multiplicar em várias cópias para tomarmos assinatura para isso.
141ª S. O - “Está protocolado e pediria à Pollyana, a quem estarei
encaminhando, e aos demais vereadores da casa que também apóiem isso
aqui porque são taubateanos que lá residem, construíram suas casas e tiveram
elas destruídas por obra não feita pela Prefeitura porque não foi seguido”.
151ª S. O - “Eu peço vênia a V. Exa. pra que amanhã esteja na mão aqui todo
o projeto e toda a documentação, para que vocês preparem a Moção e seja
enviada ao Senado Federal. Os aposentados e pensionistas do Brasil
certamente agradecem mais esse passo que vocês dão. Nós já demos três
passos nesse projeto. Um, na Comissão de Cidadania, falta só na Comissão de
Ação Social. Aprovado pela Comissão de Ação Social, ele vai direto para a
Câmara, não vai mais ser deliberado no Senado Federal”.
163ª S. O - (1º orador) “Então é esse o pedido que nós estamos fazendo, o
apoio dessa casa a esse projeto que nós já encaminhamos, já fizemos pedido
ao prefeito, que seja elaborada essa secretaria especifica para agro negócio”.
(2º orador) “O Carlos Arruda falou bastante no aspecto econômico, do
interesse da criação dessa secretaria ou dessa diretoria. E eu vim aqui falar um
pouco mais do aspecto humano, que é mais tangível quando a gente trata da
Associação de Amigos dos Moradores”
4 oradores - Prestação de contas
126ª S. O - “O nosso horário é de 24 horas por dia, tendo um plantonista na
sede em horários comerciais e um plantonista na rua durante o dia e outro
durante a noite e finais de semana. Mesmo assim está sendo impossível que
apenas um Conselho Tutelar dê conta, uma vez que só em 2007 nós
recebemos 1197 denúncias, isto é, 4,86 denúncias por dia, sendo que tivemos
246 dias úteis. Essas denúncias não estão aqui juntas as recebidas dos
plantões de rua ou plantão noturno, só no plantão de sede”.
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135ª S. O - (1º orador) “Denúncias de violência física nós tivemos doze.
Atendimentos em delegacia tivemos cinco. Atendimento no PSI, PSA e hospital
24. Atendimento externo, aquele atendimento que fazemos no plantão noturno
porque o Conselho Tutelar funciona das oito da manhã as dezoito horas, no
horário comercial e das dezoito as oito da manhã no plantão noturno e sábado
e domingo vinte e quatro horas. Só no plantão noturno foram feitos duzentos e
dezessete atendimentos”.
146ª S. O - “A nossa participação hoje na Tribuna Livre é prestar contas do
trabalho desenvolvido pela nossa instituição que é uma OSCIP, registrada no
Ministério da Justiça em Brasília e que desenvolve projetos na área de
assistência social e educação pra crianças e adolescentes, moradores de rua,
catadores
de
reciclados
e
famílias
carentes
atendidas
na
Avenida
Desembargador, centro, por essa casa”.
158ª S. O - “...acho que é um dever de todos os agentes políticos da cidade
prestar contas do processo eleitoral e falar do que aconteceu, quais são as
posições do partido e como as coisas andaram. Viemos aqui pra isso, para
primeiramente agradecer a todos aqueles que nos ajudaram nesse processo
político em Taubaté que PPS participou e se desempenhou”.
4 oradores - Divulgação de evento
134ª S. O - ”Informo aos membros desta casa e a população em geral, que
será realizado no Município de Taubaté a 2ª Campanha de Doação de Medula
Óssea. Será o dia 17 de maio, às 9 horas na quadra coberta da Vila São
Geraldo, na Praça São Paulo”.
“Hoje, estou aqui para solicitar apoio da imprensa falda e escrita, Prefeitura,
Câmara Municipal e população para tão importante evento”.
145ª S. O – “Esse evento então dia 12 de agosto, uma terça-feira, as 19h30m,
no salão da igreja da paróquia Sagrado Coração de Jesus”.
“...estamos dentro da Semana Nacional da Família, que vai começar no
próximo domingo...”
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146ª S. O – (2° orador) “Nós temos um curso que estará aberto a partir agora
do dia 16, sábado e domingo, dia 19, às 19h30min. É um trabalho muito bonito
que visa o emocional. Nós trabalhamos com o emocional”.
“E esse curso vai ser nos finais de semanas, dia 16, a partir das 14 horas, não
é 14h30min porque temos horário pra começar e horário pra terminar. Não é
porque ele é um voluntário que chega a qualquer hora e sai a qualquer hora”.
152ª S. O - “Venho convidar a todos a participar da 8ª Campanha de Doação
de Órgãos e Tecidos de Taubaté, que teve início ontem e vai até o dia 28 de
setembro, de acordo com a programação que você pode conferir em nosso
site, que é www.aprev.org.br”.
3 oradores – Agradecimento
142ª S. O - “E com essa intenção a gente esteve realizando aqui de 22 a 24 de
maio a I Semana da Adoção, aqui na Câmara Municipal. E para o grupo foi
muito importante esse evento, foi o primeiro que nós estivemos realizando
assim, mais divulgado e tudo”.
“O grupo agradece especialmente ao excelentíssimo senhor Dr. Otto Rodrigues
de Albuquerque Júnior, Diretor Geral...”.
156ª S. O - “O Dia Municipal das Pessoas com Síndrome de Down, foi um
Projeto Lei nº 81/2006, de autoria do vereador Ângelo Filippini, aprovado nesta
casa pelos vereadores no dia 29 de agosto de 2006 e sancionado pelo Prefeito
Municipal Roberto Peixoto”.
“Uma grande salva de palmas que comemoramos nossas conquistas e
principalmente o Dia Municipal da Síndrome de Down, que será agora no
próximo dia 24 de outubro.”
161ª S. O - “Tomei a decisão de ocupar a Tribuna Livre desta Câmara para
agradecer a todos aqueles de quem obtive os votos e que advindos de diversas
urnas da cidade, representaram para mim o voto de eleitores que me
conhecem e por isso conhecem o trabalho que eu poderia realizar como
membro desse colegiado legislativo de Taubaté”.
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5 oradores - Divulgação de atividade
144ª S. O - (1° orador) “E um dos assuntos a serem abordados aqui a respeito
do núcleo já nesse trabalho de quatro meses que nós já viemos participando de
outros eventos no Estado de São Paulo e já estamos podendo ver algumas
coisas que vêm acontecendo em outras regiões que não vemos acontecer na
cidade de Taubaté e no Vale do Paraíba. Então estivemos num evento em
Campinas, onde a região está extrapolando em negociação com as empresas
para atraírem elas para o pólo industrial de Campinas, Jundiaí, Indaiatuba, toda
aquela região”.
155ª S. O - (1° orador)
“A SUCEN está a disposição para fazer esse
treinamento, para treinar os municípios. Nós temos treinando ultimamente mais
de 15 municípios, que estão treinados, afiados para entrar em campo matando
o mosquito em um risco de epidemias. Então deixar bem claro que cabe a
SUCEN, ela tem parceria com os municípios há anos. A capacitação, os
treinamentos, inclusive com o bv costal para matar o mosquito usando o
inseticida, o município tem que conseguir isso com a SUCEN”.
157ª S. O - “Em vista disso, solicitei a Tribuna Livre para trazer a conhecimento
dos senhores o que se tem feito na área de aeronáutica aqui na cidade de
Taubaté. Para isso, nós temos uma pequena apresentação, rápida, de cinco
minutos, para que os senhores possam ter uma idéia desse trabalho que está
sendo desenvolvido desde 2004. A escola tem quatro anos de existência e
duas turmas formadas e terão oportunidade de apreciar os resultados
alcançados até o momento”. – Nesse momento foi exibido um vídeo sobre o
funcionamento da EMCA –“.
venho hoje ocupar esse importante espaço democrático para lhes falar sobre a
Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher. Por que
os 16 dias?“.
162ª S. O - (1° orador) “É desnecessário um novo disque-denuncia, embora o
projeto, nós estávamos lendo, muito bom, teria que ter uma pessoa específica
lá dentro do Conselho que funcionaria até onze horas. Aí vem o
questionamento e das 23 horas em diante, não tem denúncia na cidade? Então
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pra isso nós já temos o celular do Conselho que também durante a noite
recebemos ligações a cobrar, que é o 97831780. E o que a gente queria
questionar e convidar sempre os senhores vereadores, que participem um
pouquinho mais das nossas reivindicações da nossa cidade para estar
ajudando que o Conselho Tutelar desenvolva melhor seu trabalho”.
(2° orador) “Aos colegas educadores que incluam na anuência da convivência
pedagógica as questões de gênero para a melhora do aprendizado das
diferenças. À imprensa de Taubaté, que está feliz, sorrindo, em especial a TV
Câmara, que divulgue a campanha, propondo ao público consumidor o
enfrentamento à violência, pois construir a igualdade também requer acesso a
informações e dados sobre a mulher no município. Aos homens dignos, que
assinem no site o www.homenspelofimdaviolencia.com.br, o pacto de
comprometimento com o fim dessa terrível prática.”
2 oradores – Reclamação
144ª S. O - (2° orador) “A partir de hoje o Conselho Tutelar não está mais
fazendo atendimento ao público na sede. Nós estamos apenas em três
conselheiros, estamos com dois conselheiros afastados e não subiram os
suplentes. É humanamente impossível que três conselheiros dêem conta do
atendimento na sede e o atendimento de rua”.
“Acreditamos que talvez em quinze dias no máximo normalize toda essa
situação, até porque só atendimento telefônico nesse mês recebemos 1615
telefonemas, fora os telefonemas externos”.
155ª S. O - (2° orador) “A bandeira maior desse movimento maior é sem
dúvida a federalização dessa universidade, ela tem que ser pública e gratuita,
mas essa casa tem que se posicionar em relação a isso, principalmente em
relação ao orçamento da Unitau que está nessa casa, que prevê um aumento
abusivo das mensalidades e que não tem que ser aprovado. Nós conseguimos
congelar durante 4 anos, depois abaixaram as mensalidades e agora aumenta?
Tem que cobrar da reitora que ela se posicione e que ela enfim converse com
estudantes”.
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1 oradores - Denúncia
159ª S. O - ”Se existe uma lei, existe um respaldo. Se existe esse respaldo e
essa lei é respaldada eu acho que deve ser cumprida. E por tal motivo estou
aqui hoje pra pedir a colaboração de vocês para que a gente comece, para que
possamos começar uma investigação, estar em cima da Prefeitura porque isso
é uma vergonha, isso é palhaçada”.
“A bolsa é cedida de forma aleatória, como no final desse ano foi cedida a
várias pessoas em troca de voto. Eu posso falar isso porque tenho prova, ta?”.
Resultados Finais
A pesquisa teve como delimitação a utilização da Tribuna Livre por parte
dos cidadãos da cidade de Taubaté, bem como os assuntos tratados e
abordagens manifestados.
As conclusões indicam que nesse espaço os munícipes, de maneira
democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam, divulgam eventos, entre
outras ações que contribuem na relação cidadão e governo.
Em um total de 39 Sessões realizadas em 2008 não houve oradores
inscritos em 19 Sessões Ordinárias (127ª – 132ª; 136ª - 140ª; 143ª; 147ª –
150ª; 153ª; 154ª; 160ª e 163ª). Ou seja, em 48,72% das Sessões realizadas foi
notada a ausência de oradores inscritos na Tribuna Livre.
Em 20 Sessões Ordinárias (125ª, 126ª, 133ª – 135ª, 141ª, 142ª, 144ª –
146ª, 151ª, 152ª, 155ª – 159ª, 161ª, 162ª e 163ª), ou seja, 51,28%, a Tribuna
Livre foi utilizada por 26 oradores, sendo todos eles, identificados como
representantes:
PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) - Adherbal de Moura
Bastos;
Conselho Tutelar – José Vicente Morgado Sobrinho;
União dos Aposentados e Pensionistas de Taubaté – Jurandir Campos;
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Associação de Pais e Amigos dos Doentes com Leucemia - Fátima Aparecida
Mangolim Guedes Oliveira;
Conselho Nacional da Juventude – João Marcos Vidal;
Associação dos Moradores do Jardim Paulista – José Viana Werneck de
Oliveira;
Grupo Convivência de Apoio à Adoção Infância e Juventude – Ângela Soares
da Cruz Conceição;
Núcleo Jovem Empreendedor de Taubaté/ FIESP (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) – Rodrigo da Mogimpex;
Comissão Diocesana da Pastoral Familiar e da Pastoral da Paróquia Sagrado
oração de Jesus - Indalécio Santos Dias;
Instituto Cidadão – Maurício Fernandes de Faria;
Samaritano CVV Valorização à Vida - Maria Lúcia Neves Letra;
APREV (Associação dos Pacientes Renais do Vale do Paraíba) – Luciana Mara
de Souza Aguiar;
SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias) - Poliana de Oliveira
Ventura
Estudantes da UNITAU (Universidade de Taubaté) - Paula Ramos
Associação para Síndrome de Down de Taubaté – Pedro Luiz S. Santos;
EMCA (Escola Municipal de Ciências Aeronáuticas) - José Fernando de
Lacerda Machado;
PPS (Partido Popular Socialista) - Urbano Reis Patto Filho;
DCE (Diretório Central dos estudantes) - Carlos Alberto da Silva Jr.;
Candidato a pelo Partido Progressista - Júlio Fernando Pinheiro de Lemos;
ACEASPP (ONG) - Leila de Almeida Ramos
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Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural - Carlos de Arruda Camargo;
Associação de Amigos dos Bairros Rurais - Fernando Bindel.
Outro ponto a ser destacado é o fato de 2008 ter sido ano eleitoral, sendo
assim, a frequência de assuntos e abordagens relacionadas às eleições foi
notória.
Conclui-se que a Tribuna Livre foi mais utilizada para a promoção de
atividades e eventos (33%), representando que espaço acabou servindo mais
de palanque de informes do que de discussão de temas polêmicos que
envolvessem os vereadores. As Reivindicações ocuparam 25% do quadro de
abordagens e as Prestações de Contas 17%. Agradecimentos, Reclamações e
Denúnicas totalizaram 25%. O gráfico estatístico a seguir demonstra os tipos
de abordagem mais utilizados:
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Este é um levantamento inicial e o presente estudo servirá como
referência para pesquisas posteriores na área.
Referências Bibliográficas
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FFLCH/USP,1997.
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A INTERDISCIPLINARIDADE APLICADA NOS PROJETOS
EXPERIMENTAIS DE MARKETING POLÍTICO E ELEITORAL.
Carlos Fernando Bosco1, Cristiane Peixoto Nabarretti2 e Msc. Paulo César
D´Elboux3
Resumo:
O trabalho desenvolvido por meio de projetos interdisciplinares
proporciona uma vivência diferenciada aos alunos e professores, que deixam a
prática costumeira e tradicional, para se envolver num trabalho coletivo que
fortalece a educação, o projeto de vida do aluno, bem como colabora na
formação integral do mesmo. O Projeto Interdisciplinar de marketing político e
eleitoral que se apresenta é desenvolvido no 6º semestre do curso de
Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, da Faculdade
Anhanguera de Santa Bárbara pertencente a Anhanguera Educacional e tem
como objetivo apresentar aos alunos o caráter empírico das campanhas
eleitorais. Assim, este artigo irá estudar e ponderar tal prática, por meio de uma
investigação junto aos alunos matriculados no 6º semestre do curso, alunos do
8º semestre do curso, que já desenvolveram o trabalho, e professores
envolvidos.
1
Docente do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade
Anhanguera de Santa Barbara e do Isca Faculdades de Limeira.
2
Docente do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e do Curso de
Marketing da Faculdade Anhanguera de Santa Barbara e do curso de Comunicação Social com
Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Anhanguera de Limeira.
3
Coordenador do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e do
Curso de Marketing da Faculdade Anhanguera de Santa Barbara. Docente do curso de Comunicação
Social na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara e Faculdade Claretianas de Rio Claro.
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Palavras-Chave: Comunicação, Propaganda Política, Marketing Político,
Interdisciplinaridade, Projeto Interdisciplinar.
Introdução
Esse artigo visa demonstrar o diferencial que os projetos
interdisciplinares têm proporcionado à educação, à medida que oferece uma
ação pedagógica mais efetiva e, conseqüentemente, melhor compreensão
da teoria abordada em sala de aula. Qualquer teoria quando contextualizada
na prática, fortalece o processo ensino-aprendizagem, torna-o mais
prazeroso para os alunos e, ainda, os estimula a buscar o conhecimento
além dos muros institucionais. Como reflexão teórica aborda-se o trabalho
por projetos e a interdisciplinaridade, para se chegar ao projeto
interdisciplinar de marketing político e eleitoral desenvolvido no 6º semestre
do curso de Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e
Propaganda, da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara, pertencente à
Anhanguera Educacional S.A.
O que se espera é propiciar aos professores uma experimentação
pedagógica que vai além da aula convencional e aos alunos, uma vivência
na área, já visando a prospecção de um mercado, que é altamente
competitivo. Espera-se um profissional comprometido, atento à qualidade,
enfim, um agente de transformação e capaz de planejar grandes, e
vencedoras, campanhas eleitorais.
O Trabalho com Projetos
O trabalho por meio de projetos envolve uma re-estruturação de
conteúdos a serem trabalhados, para que estes sejam adequados ao
desenvolvimento das atividades que se pretende. Para tanto, há a
necessidade do envolvimento de alunos, professores, coordenadores, todos
com o mesmo objetivo: buscar a contextualização, melhorar a qualidade do
ensino, ajudar na formação integral do indivíduo, formar o aluno de
comunicação social, considerando suas competências e habilidades.
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Rios (1994, p.75) afirma que um projeto para ser elaborado
necessita considerar, de forma crítica, “os limites e as possibilidades do
contexto de trabalho, definindo os princípios norteadores da ação,
determinando o que queremos conseguir, estabelecendo caminhos e etapas
para o trabalho e avaliando continuamente o processo e os resultados”.
Ainda segundo a autora:
Quando se projeta, tem-se sempre em mente um
ideal. Quando proponho como ideal uma escola que
desenvolva um trabalho coletivo e participante, por
exemplo, tenho como pressuposto (parto de, tomo
como princípio) que o trabalho que se realiza com a
participação responsável de cada um dos sujeitos
envolvidos é o que atende de forma mais efetiva às
necessidades concretas da sociedade em que
vivemos (RIOS, 1994, p.74).
O ganho do trabalho por projetos é que o aluno aprende
participando, tomando atitudes e buscando soluções para as questões
problematizantes que emergem do próprio projeto. Os projetos, ao modificar
o trabalho pedagógico, contribuem para a formação integral dos alunos, uma
vez que estes passam a ser agentes de transformação. Nesse sentido, é
preciso um planejamento das ações que serão desenvolvidas para que
todos os envolvidos possam se sentir parte do processo. Além disso, no
trabalho com projetos faz-se forte a questão interdisciplinar, à medida que os
projetos, em sua maioria, envolvem diversas disciplinas do currículo. Por
essa razão, a reflexão contempla a interdisciplinaridade como eixo que
norteia o trabalho desenvolvido no 6º semestre do curso de Comunicação
Social da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara.
A Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade tem sido considerada um marco na educação,
pois tem possibilitado rever alguns paradigmas e inovar na proposta educativa,
ou seja, abrir-se ao novo, às novas oportunidades de aquisição de
conhecimento
e
de
descobertas.
apresentadas algumas reflexões de
Para
melhor
autores,
interdisciplinaridade.
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que
compreendê-la,
dialogam sobre
são
a
181
Segundo Fazenda (1993, p.30), “[...] o conhecimento interdisciplinar
deve ser uma lógica da descoberta, uma abertura recíproca, uma comunicação
entre os domínios do saber, uma fecundação mútua”.
Considerando o pensamento de Fazenda (1993), a interdisciplinaridade
favorece a troca de experiências entre os professores das diversas disciplinas
e oportuniza as contribuições numa parceria entre a teoria e a prática. Ainda
com relação ao professor, ele é fundamental no trabalho interdisciplinar e no
avanço do seu aluno.
Para Tavares (2005, p.30) “é o professor quem pode captar as
necessidades do
aluno
e
o
que
a
educação
lhe
proporcionar.
A
interdisciplinaridade do professor pode envolver e modificar o aluno quando ele
assim o permitir”.
Contudo, não podemos deixar de ressaltar o pensamento de Ferreira
(2005, p.34) quando enfatiza que a caracterização da prática interdisciplinar se
dá “pelo sentimento intencional que ela carrega”.
Não há interdisciplinaridade se não há intenção
consciente, clara e objetiva, por parte daqueles que
a praticam. Não havendo a intenção de um projeto
podemos dialogar, inter-relacionar e integrar sem no
entanto estarmos trabalhando interdisciplinarmente”
(FERREIRA, 2005, p.34-35).
Nas contribuições de Luck (2007, p.67-68) encontram-se algumas
questões sobre a interdisciplinaridade, inclusive que ela se estabelece por meio
de um “[...] processo contínuo e interminável de elaboração do conhecimento,
(...) com o objetivo de apreendê-la e apreender-se nela, visando muito menos a
possibilidade de descrevê-la e muito mais a necessidade de vivê-la
plenamente”. Segundo a autora, há contribuições da interdisciplinaridade no
campo da ciência e no campo do ensino. Este último vem representado pela
“melhoria da qualidade do ensino”, ao superar a “fragmentação do ensino, uma
vez que este orienta a formação global do homem” (LUCK, 2007, p.71).
No pensamento da autora, existem dois planos no campo do ensino: o
plano imediato e o plano mediato.
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1. No plano imediato, a formação integral ocorre na
medida em que os educadores estabelecem:
a) o diálogo entre suas disciplinas, eliminando as
barreiras
artificialmente
postas
entre
os
conhecimentos produzidos;
b) a interação entre o conhecimento e a realidade
concreta, as expressões de vida, que sempre
dizem respeito a todas as áreas de conhecimento.
2. No plano mediato, a melhoria da qualidade de
ensino corresponde a uma melhoria da qualidade
de vida, uma vez que possibilita ao aluno uma
visão global de mundo e de si mesmo no mundo,
que pode permitir o enfrentamento da realidade e
a superação do sentido de fragmentação, de
dúvida negativa, de medo de erro na escolha da
profissão, etc (LUCK, 2007, p.71).
Salienta-se que são vários os trabalhos interdisciplinares que estão sendo
realizados na Publicidade, contudo, cabe mencionar o trabalho de pesquisa
que é desenvolvido no Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Linguagem
Publicitária (Nielp), da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da
Universidade de São Paulo (USP) (BARBOSA, 2005).
O Projeto Interdisciplinar do curso de Comunicação Social: Publicidade
e Propaganda
Para melhor compreensão da estruturação do projeto interdisciplinar,
faz-se a caracterização da cidade, da instituição e do curso, tomando como
base a Proposta Pedagógica vigente.
A Anhanguera Educacional S.A
A Anhanguera Educacional S.A é resultado da integração das
mantenedoras das seguintes instituições: “Centro Universitário Anhanguera Unidade Leme e Unidade Pirassununga, as Faculdades de Valinhos, a
Faculdade Politécnica de Jundiaí, a Faculdade Comunitária de Campinas
(Unidades 1, 2 e 3) e a Faculdade Politécnica de Matão”. Integração que
teve como objetivo racionalizar a estrutura organizacional e transformar as
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entidades anteriores numa única empresa educacional - uma sociedade
anônima - nos moldes previstos no atual Código Civil Brasileiro4.
Tem como Missão:
Promover o ENSINO de forma eficiente, com um
grau de qualidade necessário ao bom desempenho
das futuras atividades profissionais dos educandos,
para que, de forma competente e ética, possam
desenvolver seus PROJETOS DE VIDA como
cidadãos conscientes dos seus direitos, deveres e
responsabilidades sociais.
Tem como Filosofia Gerencial:
Delegar AUTORIDADE e RESPONSABILIDADE
aos Diretores, Coordenadores e Professores, para
que possam cumprir os objetivos e planos
institucionais aprovados, com incentivo ao
TRABALHO SÉRIO E COMPROMETIDO com
resultados.
Caracterização da Cidade e da Instituição
O município de Santa Bárbara D‟Oeste possui uma área total de 272,2
Km², sendo que seu perímetro urbano é de 60 Km² e a sua área rural possui
212,2 Km². Geograficamente a cidade está localizada a 535 metros acima do
nível do mar, com Latitude S 22°45'00" e Longitude O 47°24'45", e fica a
130Km de distância da Capital São Paulo. Segundo dados projetados pelo
censo do IBGE, a população estimada do município de Santa Bárbara d‟Oeste
no ano de 2004 é de 174.246 pessoas, sendo 87.030 homens (49,95%) e
87.216 mulheres (50,05%).
A Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara está localizada no
Município de Santa Bárbara d‟Oeste/SP, na Avenida Juscelino Kubitschek de
Oliveira, 1450, Distrito Industrial II. Possui aproximadamente 4200 alunos,
freqüentando os seguintes cursos de graduação: Administração, Biomedicina,
Ciência da Computação, Ciências Contábeis, Enfermagem, Fisioterapia, Letras
(Português/Inglês), Pedagogia, Tecnologia em Marketing, Tecnologia em
Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Tecnologia em Recursos Humanos,
Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia de Controle e
4
Informações obtidas disponíveis em http://www.unianhanguera.edu.br/institucional/marca.php. Acesso
em 25 mar 2007.
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Automação. Tecnologia em Logística e o curso em questão Comunicação
Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda. Conta, atualmente, com
aproximadamente 155 profissionais no seu quadro docente.
O Curso de Comunicação Social
O curso é autorizado pela Port. MEC. nº 493/06, DOU 13/02/06, tem
respaldo nas Diretrizes Curriculares Nacionais e busca demonstrar as variáveis
norteadoras das ações pedagógicas para a formação do Publicitário. Está
organizado em 8 séries, possui 16 docentes e uma clientela com 215 alunos.O
curso foi Reconhecido pelo MEC no ano de 2008,obtendo a Nota 4,0.
A orientação e fundamentação que norteiam a formação do profissional
que o curso almeja, leva em consideração as necessidades regionais que
influenciam na elaboração do projeto pedagógico do curso. Entre elas se pode
citar: - apresenta uma realidade econômico-social polarizada entre núcleos
urbanos intensamente industrializados; - regiões de baixa densidade industrial,
exigindo profissionais de Publicidade e Propaganda com amplo espectro de
atuação; - setor de serviços em desenvolvimento, em especial na área de
Publicidade e Propaganda e prestação de serviços especializados, orientando
a formação de profissionais que tenham conhecimentos específicos; - elevado
número de pequenos empresários que buscam, no mercado de trabalho,
profissionais que demonstrem possuir espírito empreendedor para atuar como
potencializadores internos dos negócios.
O currículo do curso possui um conjunto de atividades acadêmicas que são avaliadas
interna e externamente, num processo constante. Cabe ressaltar que as disciplinas componentes do
Curso de Comunicação Social foram elaboradas pelo DDE - Departamento de Desenvolvimento
Educacional, pela Supervisão e pelos Coordenadores dos cursos de Comunicação Social da
Anhanguera Educacional S.A, com a colaboração do Colegiado docente do Curso, buscando um
trabalho interdisciplinar em seus diversos níveis (horizontal e vertical) e períodos. Interdisciplinaridade
que vai além da justaposição de disciplinas ou de temáticas comuns de trabalho.
Para tanto a coordenação do curso realiza, periodicamente, reuniões
de reflexão e discussão sobre o andamento do curso, sobre os conteúdos, os
procedimentos a serem utilizados e as avaliações, contudo, sempre
considerando as características de cada turma. No caso específico da
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habilitação em Publicidade e Propaganda há que se ter uma ligação entre:
planejamento, criação, difusão e gestão da comunicação publicitária.
Da mesma forma, conforme contido na proposta pedagógica do curso, as competências e
habilidades que os alunos devem desenvolver, também comportam dois níveis, um geral, no campo
da Comunicação, e um específico, na área de Publicidade e Propaganda, ou seja, intenciona-se,
prioritariamente, a formação do publicitário competente e atualizado, adequado à complexidade e
velocidade do mundo contemporâneo, à assimilação dos avanços tecnológicos e mercadológicos.
O curso possui vários objetivos, contudo, sintetizando, almeja formar profissionais aptos à
atenderem às demandas da realidade tanto nacional quanto regional, empreendidos em esforços que
visam ao cumprimento do Projeto Pedagógico amplamente discutido com o intuito de igualmente
cumprir o objetivo da instituição no atendimento do projeto de vida do aluno.
O Projeto Interdisciplinar
O Projeto Interdisciplinar é desenvolvido por meio de atividades
práticas nos setores da publicidade e propaganda para aplicação e exercício
dos conceitos aprendidos. Proporcionam uma visão do mercado em que o
curso está inserido e oportuniza tomar conhecimento do trabalho que é
desenvolvido na região.
O Projeto Interdisciplinar de Marketing Político e Eleitoral
O Projeto Interdisciplinar de Marketing Político e Eleitoral se justifica
por demonstrar a importância do profissionalismo da propaganda política.
Queiroz (2006, p. 20) evidencia que
“Na América Latina, em razão dos vários períodos
de ditadura vividos em países que a compõem, o
desenvolvimento das ações profissionais, bem
como da pesquisa científica, sofreu as pressões e
indiferenças peculiares aos tipos de regimes
implantados: do jornal Granma do partido único de
Cuba, passando pelo período de ditadura militar no
Brasil, de 1964 a 1985, quando os jornais
publicavam receitas de bolo e poemas para
preencher os espaços de matérias censuradas,
coube ao jornalismo engajado a primazia de
oferecer suporte profissional aos políticos para a
realização de campanhas eleitorais diferenciadas.
Só algum tempo depois é que publicitários,
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relações-públicas e sociólogos, com suas pesquisas
de opinião pública, empresários de segmentos
como gráficas e fábricas de brindes, além de
compositores populares, passaram a prestar
atenção à propaganda política como atividade de
mercado. (20)
Assim, ao passo que a propaganda política passa a ser vista como
atividade mercadológica, o projeto interdisciplinar aplicado pela Faculdade
Anhanguera é capaz de difundir tal importância. Queiroz (2006, p.21) afirma
que
além de
outros fatores indispensáveis para
a
propagação
da
profissionalização da propaganda política “o universo virtual oferece hoje
artigos especializados, referências a cursos de marketing político, notícias,
debates, difusão de atividades partidárias que têm incentivado a troca de idéias
e o repensar das atividades neste campo”.
O Projeto Interdisciplinar é capaz de incentivar a troca de idéias e
conceitos a cerca do marketing político e eleitoral. Tal prática é fundamental
para o entendimento do tema. QUEIROZ (2006, p. 22) afirma que “a
compreensão teórica do marketing político no Brasil inicia-se pela publicação
de estudos especialistas na área, jornalistas e publicitários, que começaram a
colocar no papel experiências profissionais vivenciadas”.
Sob o aspecto científico, o marketing político configura-se como uma
atividade multidisciplinar (QUEIROZ, 2006, p. 30). Assim sendo, torna-se ao
projeto da Faculdade Anhanguera, obrigatória a integração de todas as
disciplinas e envolvê-las no processo de pesquisa, planejamento e execução.
Assim, cabe apresentar as disciplinas envolvidas no 6º semestre do
Curso de Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda.
São elas: Mídia, Linguagem e Produção em TV, Administração e Planejamento
de Marketing, Novas Tecnologias em Comunicação, Agências Experimentais
01, 02 e 03 e Propaganda Política.
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187
Sobre o tema do trabalho
A idéia principal é proporcionar ao aluno uma aproximação ao cotidiano
profissional, permitindo-lhe participar de ações de campanha, a fim de
capacitá-lo teórica e tecnicamente para a realização do Projeto Experimental a
ser desenvolvido no oitavo semestre do curso.
O projeto tem como proposta básica a contextualização das
atividades de comunicação política e eleitoral na cidade de Santa Bárbara
d´Oeste, permitindo ao aluno um conhecimento mais aprimorado das
técnicas
de
campanha
eleitoral,
envolvendo
neste
processo
a
propaganda, a publicidade, a promoção, o marketing e a construção de
imagem pública. Trata-se, portanto, de uma campanha nos moldes
profissionais, envolvendo todos os procedimentos normais de uma
campanha publicitária, tendo como foco, entretanto, a eleição de um
candidato a Prefeito.
Com a realização do trabalho espera-se proporcionar ao aluno um
contato com o mercado profissional, capacitá-lo para o desenvolvimento
do Projeto Experimental, demonstrar e torná-lo capaz de desenvolver
técnicas de campanha na área política e eleitoral, bem com para a
construção e formatação de campanhas publicitárias eleitorais.
O trabalho interdisciplinar de marketing político e suas regras:
A classe é dividida no máximo em 7 (sete) agências experimentais,
com no mínimo 6 e no máximo 8 alunos, respeitando-se, preferencialmente, as
agências formadas no quinto semestre do curso. O número de integrantes das
agências pode sofrer variação de acordo com o número de alunos matriculados
no sexto semestre.
O professor da disciplina Propaganda Política é quem define os
partidos a serem trabalhados com as agências.
Cada agência deve definir um nome com o qual será identificada.
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188
As agências que perderem os prazos para a gravação dos trabalhos ou
excederem estes prazos perderão nota na avaliação continua, ou ficarão com
nota zero nas disciplinas de produção envolvidas com a atividade.
O trabalho final é, ao final, apresentado em forma de seminário e
entregue em cópias impressas e digitais (briefing, pesquisa, planejamento de
campanha, planejamento de mídia, desenvolvimento das peças e identidade
visual), em vídeo (dos filmes editados) e em áudio (dos spots, jingles e
testemunhais).
Todas as referências bibliográficas das disciplinas ministradas no
semestre deverão, obrigatoriamente, embasar o trabalho escrito.
Roteiro do Trabalho
Todas as agências seguem um roteiro único, apresentado a seguir
detalhadamente:
Etapa A – Avaliação
Introdução
Fazer uma breve apresentação da agência e o porquê do trabalho a ser
realizado. Falar das competências do trabalho de equipe e um breve resumo
do candidato e suas necessidades e expectativas básicas.
Análise Política (Mercado)
- Descrição do Macroambiente (Falar sobre a situação política nacional Aponte
dados do Brasil, políticos, problemas sociais e econômicos, etc...)
- Descrição do Microambiente (Falar sobre a situação política local, onde o
candidato irá atuar. Aponte dados da cidade, políticos, problemas sociais e
econômicos, etc...)
- Descrição de como o seu candidato está inserido neste contexto e suas
particularidades no mercado.
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Partido Político (Empresa)
Ficha Cadastral (Nome do partido, endereço, telefone, contato)
Histórico do partido (Brasil e local)
Logomarca
Principais representantes
Dados e fatos marcantes que mostram a trajetória do partido ao longo
do tempo
O Candidato (Produto)
- Descreva detalhadamente seu candidato. Apresente-o, sua vida, família,
história e, ainda:
Nome/idade
Currículo profissional
Currículo político (deve conter todos os mandatos, bem como suas
benfeitorias)
Plano de governo
Imagem do candidato perante a sociedade
Características diferenciadoras
Pontos positivos e negativos do candidato
É importante, a partir deste momento, a aplicação de pesquisas quantitativas e
qualitativas.
Etapa B
Pesquisas
- Quantitativa (principais resultados)
- Qualitativa (principais resultados)
- Recomendações
Após analisar mercado, empresa e produto, analise o momento político atual:
Análise do momento político atual
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Chances de o candidato se eleger devido ao seu passado político e ao
atual
Fatos políticos da cidade que favorecem o candidato
Fatos políticos da cidade que desfavorecem o candidato
Comparação com a concorrência
Após a realização das pesquisas, a comparação com a concorrência se torna
indispensável. É por ela que todas as possíveis interferências são analisadas.
Kuntz (2006, p. 79) é categórico ao afirmar que:
Por meio de cuidadosos estudos e etapas técnicas, o
planejamento da campanha tem, por objetivos centrais, o
de reunir toda informação existente ou possível de se
obter sobre aliados, adversários, o histórico dos fatos
eleições passadas, forças sociais que possam interferir no
processo eleitoral e tudo o que for possível para
estabelecer um balanço dos pontos fortes e
vulnerabilidades próprias, de aliados e adversários. (79)
- Defina como seu candidato se encontra perante os principais concorrentes.
- Defina quem são os concorrentes indiretos (de menor relevância)
- Defina quem são os diretos (de maior relevância)
- Escolha quantos achar necessário e faça uma descrição breve de cada um,
seu histórico, atuação e peculiaridades
- Elabore uma tabela comparativa entre o seu candidato e seus principais
concorrentes
- Faça uma conclusão de como o seu candidato se encontra perante os
concorrentes.
Definição de Problemas e Oportunidades
- Descreva de uma maneira geral todos os problemas a serem resolvidos e as
oportunidades encontradas para serem exploradas.
- Escolha os principais e detalhe melhor no que este pode prejudicar ou auxiliar
o seu candidato na eleição.
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Posicionamento do Candidato no mercado
- Descreva de uma maneira geral qual a importância de ter uma marca bem
posicionada no mercado eleitoral.
- Descreva como seu candidato é visto perante o eleitor.
Reafirme ou, se necessário, faça uma proposta de reposicionamento
(promessa básica / justificativa / atributos complementares).
Nesta etapa do planejamento KUNTZ (2006, p. 90) diz que
para se obter um planejamento confiável, é preferível ser
pessimista a ser otimista nas respostas, pois é melhor o
candidato se preparar para o pior do se manter num
posicionamento otimista. Qualquer falha poderá custar-lhe
o desmoronamento da campanha.
Definição do Público-Alvo (Eleitor)
- Defina por que e para quem a campanha será direcionada (se necessário,
dependendo da campanha, defina mais de um target).
Detalhe características específicas deste target:
- Demográficos: Sexo, idade, estado civil, local da residência, instrução)
- Socioculturais: Classe social, grupos profissionais, artísticos, esportivos.
- Econômicos: Classe econômica, renda.
- Religiosos: Religião, seitas, crenças.
- Psicológicos: Atitudes, opiniões, motivações.
- Hábitos: Compra, uso, consumo, estilo de vida.
Ainda
Número de eleitores na cidade (fontes oficiais)
Quantidade de votos necessários para eleger o candidato
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Perfil geral, psicográfico e sócio-econômico do eleitor pretendido
Atitudes dos eleitores em relação ao candidato
O que eleitor espera do candidato
Objetivos
- De marketing
- De comunicação
Etapa C – Busca de Soluções
Aqui, cabe ressaltar a importância do Planejamento numa campanha de
marketing eleitoral.
KUNTZ (2006, p. 79) afirma que
qualquer tipo de planejamento, ainda que involuntário ou
mecânico, implica o conhecimento prévio do cotidiano
(conjuntura), a antecipação dos fatos (previsão), o
estabelecimento um objetivo maior, com várias etapas ou
objetivos intermediários. Ao mesmo tempo em que
planejamento, nos vemos obrigados a pensar sobre como
iremos atingir nossos propósitos (estratégia) e como
contornaremos eventuais problemas hipotéticos e
previsíveis (revisão & estratégias alternativas”.
Objetivos e Estratégias de Criação
- OBJETIVO: Descreva o que a campanha criada deseja alcançar com sua
mensagem junto ao eleitor.
- ESTRATÉGIA: Descreva como será desenvolvida a campanha, sob os
aspectos:
- Problema a ser resolvido pela campanha
- Posicionamento do Produto / Serviço / Marca
- Tema da Campanha
- Slogan do Candidato
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Objetivos e Estratégias de Mídia
- OBJETIVO: Descreva o alcance e a freqüência na programação de mídia
planejada (alto, médio ou baixo). Considere os aspectos de continuidade,
períodos da programação e cobertura geográfica.
- ESTRATÉGIA: Descreva os meios de comunicação a serem utilizados na
campanha, considerando: o eleitor, postura da campanha, área geográfica,
aspectos sazonais, verba, criação, concorrência, perfil de compra e utilização
do produto/serviço, necessidades de meios de apoio, etc...
OBS: Justifique cada meio escolhido e suas vantagens.
Ações de Comunicação
- Descreva, baseado na estratégia de Criação e de Mídia adotadas, as ações
de comunicação a serem realizadas. Poderão ser organizadas em:
- Mídia Impressa
- Mídia Eletrônica
- Promoção de Vendas
- Merchandising
- Relações públicas
- Eventos
- Mídias Alternativas
- Outros...
Anexe as peças publicitárias e roteiros confeccionados.
Etapa D – Orçamento e cronograma
Orçamento
- Discriminar a verba por item no planejamento: Mídia (maior parte da verba),
produção, ponto-de-vista, relações públicas, merchandising, agência, etc...
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Cronograma
- Descreva em forma de tabela, cronologicamente, todas as etapas do
planejamento, criação de veiculação da campanha.
Anexos
- Anexe ao planejamento todo o material pesquisado, ex: briefings, sites, livros,
textos, artigos, entrevistas, pesquisas, etc...
- Anexe também outros materiais que acreditarem ser relevantes para consulta.
Ao término das 04 etapas apresentadas, o aluno deve-se colocar no papel
do candidato, conforme sugere Kuntz (2006, p. 84-90) ao dizer que “as
perguntas que seguem são formuladas como se fosse o candidato a fazê-las, e
suas respostas consistem na execução de um planejamento global de sua
campanha”.
1. Qual é o potencial de votos em cada bairro, cidade, município, região ou
estado onde concorro?
2. Quantos votos eu já tenho?
3. Onde estão?
4. Quantos votos me faltam?
5. Qual a margem de segurança necessária para assegurar a minha
eleição?
6. Onde tenho mais chance de ir busca-los?
7. Quem são meus concorrentes?
8. Qual é a situação deles em relação ao eleitorado?
9. Qual a situação de meu partido e a dos outros partidos?
10. Quem poderiam ser os meus aliados?
11. Onde eles atuam e qual a situação?
12. Quantos votos poderia transferir-me esta aliança?
13. Qual a melhor maneira de manter os meus votos e conseguir os votos
que me faltam?
14. Quanto me custaria essa conquista?
15. Quanto eu tenho para gastar?
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16. Quais os recursos humanos de que disponho?
17. Quanto me falta?
18. Como e onde conseguir?
19. Quanto tempo eu levaria para isso?
20. Quais são as minhas chances?
21. Quais os temas que deverão constar de minha plataforma?
22. Qual o melhor símbolo e slogan para minha campanha?
23. Qual o melhor visual para minha campanha?
24. Que outros serviços contratar?
25. Com quem efetivas as alianças?
26. Como compatibilizar a minha estratégia com as adotadas pelos aliados?
27. Quando e onde eu devo estar presente?
28. Quais os outros meios de atingir os eleitores?
29. Como controlar, selecionar, coordenar e utilizar todas as informações
que me chegam?
30. Qual a qualificação da equipe a ser contratada?
31. Como orientar e treinar esse pessoal?
32. Como e quando reformular as estratégias por mim adotadas na
campanha?
A função de cada disciplina no projeto interdisciplinar:
Cada disciplina envolvida no trabalho interdisciplinar é responsável por
orientações específicas:
A disciplina de Propaganda Política é responsável por orientar as fases
do projeto, dando suporte teórico-prático para o entendimento da campanha
em suas várias etapas. A pesquisa qualitativa também é de responsabilidade
da disciplina.
A disciplina de Planejamento e Administração de Marketing dá suporte
para o planejamento das ações de comunicação da campanha, servindo,
inclusive como elo entre as disciplinas de Mídia, Linguagem e Produção em
TV, Novas Tecnologias em Comunicação e Agências Experimentais, no sentido
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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de permitir a visualização da interseção destas disciplinas dentro do plano de
comunicação e marketing.
A disciplina de Administração e Planejamento de Marketing é, ainda,
responsável pelo desenvolvimento das ações de marketing da campanha
(inclusive a agenda do candidato) juntamente com as disciplinas de Agências
Experimental 1 e 2, que também são responsáveis pelas definições das ações
promocionais da campanha.
A disciplina de Mídia oferece subsídios para que as agências
desenvolvam pesquisa junto aos veículos e fornecedores além de orientar a
concretização do plano de comunicação, indicando os veículos a serem
utilizados e os períodos de inserções e de distribuição de materiais.
A disciplina de Novas Tecnologias em Comunicação orienta as
agências para a definição da identidade visual dos candidatos e elaboração
das peças gráficas com os quais estarão trabalhando. Todas as peças gráficas
da campanha, a utilização da internet, além de símbolos e ícones são definidos
e orientados com o apoio deste disciplina que, ainda, dá à produção gráfica dos
materiais.
A disciplina Agência Experimental 3 orienta o Briefing de Criação, o
texto das peças gráficas, a construção de slogans e peças de Rádio e
Televisão.
A disciplina de Linguagem e Produção em TV trabalha em conjunto
com a disciplina de Novas Tecnologias em Comunicação, a fim de que todas
as peças de cada agência sigam a mesma identidade visual e linguagem
também nos meios eletrônicos.
As agências devem produzir programa de televisão e de rádio com o
tempo determinado de acordo com o partido ou coligação, spot de TV de 30
segundos, spot de rádio de 30 segundos e jingle de 30 segundos. Os tempos
devem ser respeitados. O não cumprimento acarreta na perda de pontos da
nota. Ainda, o tempo de utilização dos estúdios ou equipamentos de externa
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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deverá ser considerado no orçamento da campanha, de acordo com os valores
praticados no mercado regional.
Processo de Avaliação:
Os alunos são avaliados individualmente e coletivamente nas
orientações de cada disciplina.
A nota do projeto é equivalente a, no mínimo, 40% da nota do 1º
bimestre, ou seja valerá até 4,0 (quatro) pontos na qualificação e, no 2º
bimestre, também valerá até 4,0 (quatro) pontos na apresentação final, , em
cada disciplina.
Apresentação Final:
Todas as agências apresentam suas campanhas para uma banca
composta por docentes do curso de Comunicação Social da Faculdade
Anhanguera de Santa Bárbara e, em alguns casos, para convidados externos.
o O grupo definirá qual(is) integrante(s) fará(ão) a apresentação em
forma de seminário.
o A banca definirá (na hora da apresentação) a qual(is) aluno(s) dirigir
observações ou perguntas para esclarecer dúvidas referentes ao
trabalho.
o Portanto todos os componentes do grupo devem estar preparados
para a apresentação, bem como presentes no dia da apresentação,
podendo, a ausência, implicar em diminuição da nota final do
trabalho.
Os grupos tem a disposição no mínimo 20 minutos e, no máximo, 25
minutos para a apresentação do trabalho na qualificação. E no trabalho final o
tempo, incluindo a apresentação das peças publicitárias, é de 30 minutos, no
mínimo, e de 35 minutos, no máximo. Os limites de tempo da apresentação
podem sofrer alterações de acordo com as necessidades do curso.
Geralmente, todos os grupos apresentam o trabalho no mesmo dia.
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198
Cronograma de atividades
Para que todas as etapas sejam cumpridas dentro do prazo de um
semestre, é necessária a aplicação de um cronograma capaz de gerenciar este
processo de desenvolvimento, orientação e apresentação do trabalho. O
mesmo é elaborado levando em consideração os principais acontecimentos:
ETAPAS
Entrega do projeto para os alunos para a formação
das Agências
Identidade Visual das Agências
Definição dos partidos/coligações
Escolha do candidato de
planejamento apresentado.
acordo
com
o
Entrega da autorização de uso da imagem do
candidato
Pesquisa Quantitativa
Contextualização do ambiente da campanha e
descrição do candidato
Pesquisa Qualitativa
Planejamento de comunicação
Ações de marketing
Ações promocionais
Briefing de Criação
Pré-roteiros dos programas de rádio e TV
Proposta de identidade visual das peças gráficas
Mídias a serem utilizadas
Entrega de 1 cópia do trabalho impresso e uma
digital
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Qualificação
Identidade visual e peças gráficas (inclusive texto)
Planejamento de mídia da campanha
Gravação e edição do material em vídeo e áudio
Entrega da versão final – 1 cópia impressa + 1 cópia
em CD
Apresentação
Tabela 1 – Cronograma de Atividades
Avaliação dos professores e alunos sobre o Projeto Interdisciplinar na
Faculdade Comunitária de Santa Bárbara
Para avaliar a aplicação do Projeto Interdisciplinar na Faculdade
Anhanguera de Santa Bárbara, foram registradas as opiniões de alunos e
professores envolvidos no projeto em questão. A metodologia para a coleta de
dados foi a entrevista (inquérito) pessoal, através de questionários estruturados
com perguntas abertas.
As questões solicitadas aos docentes abordavam questões sobre a
importância da realização de trabalhos interdisciplinares de marketing político e
eleitoral, se agregam informações relevantes na formação dos alunos do curso
de Comunicação Social com habilitação em publicidade e propaganda e quais
principais dificuldades enfrentadas durante a realização do trabalho.
Entre os docentes que emitiram suas opiniões houve unanimidade no
relato da importância desse tipo de projeto para o desenvolvimento pessoal e
profissional do aluno de Comunicação, como relata o professor Demarchi:
O contato com os trabalhos interdisciplinares tira o aluno
de sua rotina acadêmica, tornando em um indivíduo que
pensa no coletivo, ficando notório um aumento do seu
senso de responsabilidade. É de extrema importância que
os alunos vivenciem essa experiência. É um nicho de
mercado que além de empregar muitos profissionais de
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
200
comunicação, pode despertar o encanto e o desejo de
engajamento na vida política.
O professor Dias destaca a importância da aplicação das teorias
aprendidas em sala de aula e aplicadas ao contexto do trabalho interdisciplinar.
Através do T.I e das atividades a ele relacionadas,
podemos observar a evolução do conhecimento prático
dos discentes na elaboração das estratégias e das
campanhas políticas e a importância da relação
interdisciplinar, já que os mesmos pesquisam embasados
em teorias aplicadas em sala de aula e colocam em
prática na campanha propriamente dita.
Focando o projeto pedagógico do curso a professora Mendes enfatiza
a questão do mercado profissional:
Com os trabalhos interdsiciplinares, o aluno consegue
enxergar o que é o curso como um todo, entender o
projeto pedagógico do curso, já que precisa não apenas
compreender o conteúdo de cada disciplina, mas ir além,
pesquisar, refletir e criar novo conhecimento referente ao
objeto de estudo. O trabalho interdisciplinar é uma
importante ferramenta de estudo, interação e prática de
pesquisa que prepara o aluno para o projeto de conclusão
de curso e para o mercado profissional. O trabalho
interdisciplinar de mkt político e eleitoral é importante no
sentido de o aluno seguir todos os passos de uma
campanha, agregando conhecimento de todas as
disciplinas e conhecendo a realidade política da cidade.
Assim ele se aproxima de mais um nicho de mercado em
que poderá atuar como profissional durante e após sua
formação.
Com relação aos conceitos agregados à formação dos alunos do curso
de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda os
professores são enfáticos em afirmar que as contribuições para a carreira
profissional do discente são inúmeras:
Em sua vida profissional o futuro publicitário terá grande
chance de vir a trabalhar em uma empresa onde esta
tenha em seu portfólio o marketing político. Então um
aluno que esteja iniciando ou estagiando em uma
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
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empresa que se encontre em algum pleito político, ele
pode compartilhar o conhecimento adquirido no curso,
que será de extrema valia para sua ascensão dentro
desta empresa. (DEMARCHI)
Ele proporciona ao aluno uma experiência fiel ao que é
praticado no mercado, fazendo com que o discente seja
preparado para a realização da campanha e tenha
principalmente vantagem competitiva frente aos
concorrentes numa vaga de trabalho. É também
importante ao exercício do planejamento estratégico, já
que em uma campanha política o dinamismo diário faz
com que o planejamento estratégico seja constante.
(DIAS)
Além da inter-relação do conteúdo das disciplinas,
facilitando a assimilação de conhecimento e criação de
novos conceitos com a vivência, um aspecto importante é
o relacionamento profissional, o contato direto com o
público e prática da pesquisa, do estudo do público-alvo e
da formação da imagem pública. O aluno consegue
entender como é pensar e agir com estratégia, técnica e
como é importante a teoria apreendida em sala de aula.
(MENDES)
Já quanto ao corpo discente do Curso de Comunicação Social foram
ouvidos os alunos do 6º e 8º semestre, sendo que os alunos do 6º semestre
estão realizando o trabalho em questão e os alunos do 8º semestre realizaram
no primeiro semestre do ano de 2008.
As questões solicitadas aos discentes abordavam questões sobre a
importância da realização de trabalhos interdisciplinares de marketing político e
eleitoral, pontos fortes da realização do trabalho e oportunidades de melhoria,
maiores dificuldades para a realização do trabalho e como cidadão, quais
aspectos o trabalho despertou nos discentes.
Dentre as diversas opiniões dos alunos destacamos o do aluno Linha:
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
202
O TI político foi fundamental para a quebra de alguns
paradigmas. Antes de realizar este projeto eu nem
sonhava em atuar no ramo da política, mas descobri que
é um mundo de competição muito gostoso de atuar,
também a experiência de saber reposicionar, lançar e
desenvolver o candidato foi de extrema importância para
o meu desenvolvimento como aluno.
O aluno Cardozo, salienta a questão da descoberta de afinidades para
a escolha da especialização após a faculdade:
Durante a graduação, vários alunos vão descobrindo suas
afinidades com as áreas da propaganda, e o trabalho
sobre o marketing político também nos serviu de base
para a escolha da especialização, além de nos deixar
preparado para lidar com situações reais no mercado de
trabalho.
Para o aluno Zaniboni, como cidadão as contribuições obtidas foram:
Acredito que como cidadão criei um compromisso de
avaliar melhor a campanha (de marketing político) dos
candidatos, pois é muito fácil passar uma imagem, mas
fazer render um conteúdo e disfarçar defeitos, é algo fácil
pra quem edita tudo e constrói o herói. O difícil é manter a
população consciente das verdadeiras intenções de um
candidato.
Ainda como cidadão do aluno Souza destaca:
Ser um cidadão que tem o conhecimento e sabe o que
fala, é de fato algo que mostra a transformação que faz a
realização de um trabalho deste cunho e com este tema.
Despertar a curiosidade e motivação sobre o assunto.
Levando em consideração que as informações agregadas
e os conhecimentos múltiplos obtidos, por nós, serão
carregados por toda a vida. (...).
Com relação ao pontos positivos da realização deste trabalho
interdisciplinar, os alunos destacam:
A reação aos novos fatos acredito que seja o principal,
pois a cada dia um novo detalhe se apresentava e com
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
203
isso novas estratégias e táticas eram adicionadas ao
projeto. (LINHA)
Simular uma campanha com um candidato real, é sem
dúvida um fator diferencial para o aluno. Torna o trabalho,
muito próximo ao real. (CARDOZO)
O próprio tema, e o fato de que temos uma matéria
específica sobre ele já auxilia bastante e estimula muito. é
um marketing muito gostoso de se estudar. (ZANIBONI)
Ganhos em experiência: - Aprofundamento em pesquisas;
- Elaboração de estratégias e ações para que a pessoa
ganhe novas características e torne-se de certa forma um
personagem, que não ganha Oscar mas sim uma eleição;
- Um aprofundado conhecimento que se adquire ao lidar
com esse assunto, proporcionando novos conhecimentos
e certos domínios onde antes não existia. (LUCIANNE)
Necessidade de trabalho em equipe; Pesquisa realizadas;
Embasamento Teórico; Forte proximidade com a
realidade de mercado; Orientação extra (3 professores
por semana); Outra visão sobre o assunto em questão;
Desenvolvimento de senso-crítico (próprio);
Argumentação e forte embasamento para discussões e
redação necessária (e futura); Amplitude na diversidade
de conhecimento. (SOUZA)
O ponto forte que posso destacar é a pesquisa que foi
aplicada, pois nos proporciona um enorme contato e
crescimento profissional, e nos permite saber a fundo a
opinião das pessoas sobre um assunto tão delicado como
a Política. Achei muito interessante os DOIS Focus Group
que foram feitos bem como a pesquisa quantitativa, pois
os resultados, na minha opinião, foram surpreendentes,
mais pelo aspecto do desconhecimento das pessoas em
relação a seus governantes. (NUNES)
Podemos notar que os alunos destacam o fato de realizar pesquisas
reais acerca dos candidatos, além das estratégicas de marketing embasadas
pela disciplina de propaganda política que está na grade curricular do semestre
em questão.
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
TAUBATÉ – SP BRASIL
204
Não podemos deixar as oportunidades de melhoria sugeridas pelos
alunos, porém é importante salientar que a maioria dos entrevistados coloca
como fator de maior dificuldade o prazo para realização do trabalho. Entre as
opiniões dos entrevistados destacamos o de Nunes que diz:
Um dos pontos que acredito que pode ser melhorado
nesse trabalho é fazer um cronograma mais coerente. (...)
acredito que nas próximas edições do TI o cronograma
possa ser mais bem avaliado, em especial procurando
evitar chocar com a nossa semana de provas.
Fica evidente a preocupação dos discentes com o cronograma do
trabalho, porém ele deve ser executado no calendário do semestre letivo, o que
impossibilita
um
prazo
maior
para
o
desenvolvimento
do
trabalho
interdisciplinar.
Acerca de todas as contribuições de docentes e discentes, o que
podemos observar é que o projeto interdisciplinar de marketing político e
eleitoral é um grande instrumento de ensino e aprendizado aplicado no 6º
semestre do curso de comunicação social com habilitação em publicidade de
propaganda da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara. Neste sentido
notamos também que os discentes reconhecem a importância deste
instrumento, o que permite que a aprendizagem saia da esfera da sala de aula
para o âmbito mercadológico.
Considerações
O projeto Interdisciplinar que vem sendo desenvolvido pelo curso de
Comunicação Social da FAC, tem trazido significativa contribuição à toda a
comunidade educativa.
Suas atividades vêm proporcionando aos alunos o conhecimento da
teoria, a aplicação da teoria na prática, o desenvolvimento da criatividade e da
criticidade, bem como suas habilidades e competências.
XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009
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205
Aos
professores
o
projeto
vem
proporcionando
um
trabalho
diferenciado que vai além da sala de aula convencional, oportunizando melhor
conhecer os seus alunos e suas potencialidades.
O trabalho interdisciplinar ao permear o conteúdo das diferentes
disciplinas possibilita o desdobramento de muitos temas, de modo dinâmico e
prazeroso, enriquecendo a prática.
O agrupamento dos alunos, por meio de Agências tem favorecido a
integração e os relacionamentos interpessoais, quesitos de suma importância
para o exercício do trabalho coletivo.
É possível observar, ainda: o amadurecimento progressivo dos alunos,
a socialização do grupo, a revisão de postura dos docentes e o repensar de
sua prática, entre outros. Contudo, o mais importante deles é o processo de
construção do conhecimento do aluno que, em muito, influenciará e definirá o
seu Projeto de Vida.
Assim, é possível, por meio do Projeto Interdisciplinar estreitar as
relações teoria-prática, professor-aluno, aluno-aluno, professor-professor,
numa troca de competências que transforma a história de cada um ao oferecer
uma visão mais global do curso, do mercado, da região, do mundo. Por essa
razão, o projeto é avaliado a cada semestre buscando correção de rumos e
aprimoramento.
Referências
ANHANGUERA
EDUCACIONAL
S.A.
Disponível
em
http://www.
unianhanguera.edu.br. Acesso em 25 mar 2007.
BARBOSA, Ivan Santo (org) Os sentidos da publicidade: estudos
interdisciplinares. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
FAZENDA, Ivani C.A. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria.2ª ed. São
Paulo: Loyola, 1993.
FAZENDA, Ivani C.A. (org). Práticas interdisciplinares na escola. 10 ª ed. São
Paulo: Cortez, 2005.
FERREIRA, Sandra L. Introduzindo a noção de interdisciplinaridade. In.
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IBGE
KUNTZ, Ronald A. Marketing Político: Manual de campanha. 11ª Ed. São
Paulo: Global, 2006.
LAKATOS, Eva M; MARCONI, M. Fundamentos da Metodologia Científica. São
Paulo: Atlas, 2003
LUCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos.
14ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
PROPOSTA PEDAGÓGICA DA FACULDADE COMUNITÁRIA DE SANTA
BÁRBARA. Ano 2007. Curso Comunicação Social: Publicidade e Propaganda.
QUEIROZ, Adolpho. Na arena do Marketing Político. São Paulo: Summus,
2006.
RIOS, Terezinha A. Ética e Competência. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.
TAVARES, Dirce E. Aspectos da história deste livro. In. FAZENDA, Ivani C.A.
(org). Práticas interdisciplinares na escola. 10 ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
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