Sumário Utilização do marketing político nas eleições do Vereador Wagner Ocimar Balieiro ------- 02 A utilização de expressões folclóricas como estratégia política nas eleições de 2008 em Cuiabá – MT --------------------------------------------------------------------------------------------------- 18 Televisão e política na ditadura militar (1965-1985) ------------------------------------------------ 32 Cartas de princípios de partidos políticos enquanto instrumentos sociais ou produtos de marketing: o caso do Partido Democratas ------------------------------------------------------------- 45 Marketing político em campanhas eleitorias proporcionais: um estudo de estratégicas na eleição 2008 em Mauá – SP ------------------------------------------------------------------------------ 67 A visão estratégica da comunicação política na construção sustentável da imagem pública do ator político ------------------------------------------------------------------------------------------------ 82 Barbeiragens bolivarianas em terra brasilis: o marketing político bolivariano de Lula ----- 95 Recursos literários no texto jornalístico: o exemplo de Colômbia espelho América ------ 103 Do choro ao riso! O poder da propaganda emotiva na disputa eleitoral --------------------- 114 Lobby no Brasil regulamentado e a democracia participativa ---------------------------------- 128 A sedução nos pronunciamentos políticos de Fernando Henrique Cardoso --------------- 139 A tribuna livre na Câmara de Taubaté e o direito à democracia ------------------------------- 158 A interdisciplinaridade aplicada nos projetos experimentais de marketing político e eleitoral ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 178 XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 2 GT 06 – Temas Livres Coordenador Profa. Dra. Monica Franchi Carniello Universidade de Taubaté ([email protected]) UTILIZAÇÃO DO MARKETING POLÍTICO NAS ELEIÇÕES DO VEREADOR WAGNER OCIMAR BALIEIRO Margarete Salles de Oliveira e Rafael Iwanikow . Resumo: Este estudo tem como objetivo verificar de que forma a utilização das estratégias e ferramentas do marketing político podem ser determinantes para o sucesso de uma eleição para vereador, tendo como exemplo o vereador Wagner Ocimar Balieiro, de São José dos Campos – SP. Realizou-se, além de pesquisa bibliográfica sobre o campo da propaganda política, entrevistas semiestruturadas com o próprio vereador e com sua equipe de campanha, o que permitiu a realização de uma análise histórica do político em questão e de sua estratégia de comunicação em épocas pré e pós-eleitorais. A investigação indicou que, apesar de ter duas campanhas vitoriosas, tendo sido reeleito em 2008 com o dobro dos votos da eleição de 2004, Balieiro pode potencializar ainda mais a utilização das estratégias de marketing político para garantir outras vitórias nas urnas. Palavras-Chave: Marketing Político, Campanha Eleitoral, Comunicação Pré E Pós-Eleitoral XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 3 Introdução No Brasil, mesmo nos governos ditatoriais, a comunicação serviu para amparar suas atitudes através da propaganda política. Carlos Eduardo Lins da Silva (2002, p. 18- 19), define marketing político como “o conjunto de planos e ações desenvolvidos por um político ou partido político para influenciar a opinião pública em favor de suas idéias ou atividades. (Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli, Moisés Stefano Barel, organizadores, Marketing político do comício à internet, São Paulo/ABCOP – 2007, p.204 ) Artigo de Moisés Stefano Barel: O marketing eleitoral/político e a ABCOP: história e profissionalização da comunicação política no Brasil. As eleições no Brasil passaram a utilizar as ferramentas do marketing político que conhecemos hoje nas eleições de 1982 (...) O ponto alto deste processo ocorreu em 1989, com a primeira eleição presidencial da Nova república. (...) Essa eleição passou a ser referência na discussão sobre técnicas de marketing político. (Pimentel, Marcelo Tadeu dos Reis, A prática do marketing político, p. 19 e 20) A partir das eleições de 1989 as estratégias de marketing sofreram uma verdadeira revolução para a obtenção de votos definindo de vez o termo “Marketing eleitoral”. Sobre a definição de marketing eleitoral: Podemos defini-lo como um conjunto de atividades realizadas em épocas eleitorais, de modo organizado e planejado, para captar o maior número possível de votos XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 4 para um determinado político, com o intuito de torná-lo vitorioso na competição eleitoral. (Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli, Moisés Stefano Barel, organizadores, Marketing político do comício à internet, São Paulo/ABCOP – 2007, p.203) Artigo de Moisés Stefano Barel: O marketing eleitoral/político e a ABCOP: história e profissionalização da comunicação política no Brasil. Com essa visão sobre o Marketing Político é preciso definir o uso do Marketing Eleitoral, bem como suas ferramentas, durante os processos eleitorais, visando vitórias nos pleitos disputados. São José dos Campos O município de São José dos Campos está localizado no Vale do Paraíba, no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Com população aproximada de seiscentos e dez mil habitantes, é a sétima maior cidade do estado de São Paulo, sendo a segunda maior arrecadadora do estado. Importante pólo tecnológico abriga grandes empresas multinacionais como Generals Motors, Embraer, Petrobrás, Johnson e Johnson, entre outras; abriga também importantes centros de pesquisa e tecnologia como INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), CTA (Comando-geral de Tecnologia Aeroespacial), IP&D (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento), entre outros. No cenário político São José dos Campos é governado desde 1996 pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), quando foi eleito para prefeito o candidato Emanuel Fernandes. Nos pleitos seguintes o PSDB conseguiu se manter no poder tendo reeleito o prefeito Emanuel Fernandes em 2000 e posteriormente, em 2004, eleito o candidato do partido Eduardo Cury, que foi reeleito em 2008. Durante todos esses mandatos do PSDB, o governo construiu uma grande base de apoio com os partidos aliados na Câmara de vereadores. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 5 Na legislatura de 2004 os vereadores considerados de oposição foram somente os três eleitos pelo PT (Partido dos Trabalhadores). E em 2008, os quatro eleitos pelo PT formam a oposição em São José dos Campos. Definição do Personagem Político (Wagner Ocimar Balieiro) Nosso objeto de estudo foi o vereador Wagner Ocimar Balieiro e as duas campanhas para a Câmara Municipal de São José dos Campos que ele participou, sendo eleito em ambas. Nascido em São José dos Campos, em cinco de abril de mil novecentos e setenta e oito, morador desde o nascimento na região da Vila Tesouro. Foi por duas vezes presidente da SAB (Sociedade Amigos de Bairro) da Vila Tesouro, no período de 1997 a 2001, participante de movimento estudantil desde 1999 (sendo presidente do DCE Henfil – UNIVAP) até a conclusão do curso de Engenharia Elétrica da UNIVAP em 2003, além de participação ativa na Igreja Católica da Vila Tesouro, onde participou ativamente da PJ (Pastoral da Juventude), grupos de crisma e Vicentinos. Sobre marketing político e marketing eleitoral nas eleições à vereança em São José dos Campos: (...) Se analisarmos a utilização dessas ferramentas em candidaturas a vereança em São José dos Campos poderemos observar a utilização das duas ferramentas distintamente. Existem candidatos em cumprimento de mandato de mandato utilizando-se do marketing político para viabilização e facilitação do marketing eleitoral, bem como candidatos utilizandose de marketing eleitoral para viabilização de um primeiro mandato. (Valter João de Souza, artigo publicado no Jornal Valeparaibano de 12/03/2009, p.2) XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 6 Primeira Campanha Eleitoral Com base na trajetória do candidato, descrita anteriormente, a equipe coordenadora de sua campanha realizou pesquisas para definição da imagem pública percebida pela comunidade da Vila Tesouro e região sobre o candidato Wagner Balieiro. Na organização de uma campanha é extremamente necessário ter visão clara do candidato, pois toda a estratégia que será elaborada deve ser definida e embasada em suas características. Os materiais de campanha foram então estruturados com base na percepção que a comunidade tinha do candidato: um jovem com participação ativa na comunidade, através da SAB e da igreja, e participação política nos problemas da sociedade, através de sua participação militante pelo Partido dos Trabalhadores. Para definição dos materiais de campanha foi debatido sobre: a marca, o slogan, o jingle e a identidade visual da campanha. Na marca era preciso referenciar o nome do candidato ao PT (Partido dos Trabalhadores), havia definição de utilizar o nome Wagner Balieiro durante a campanha, com apoio profissional criou-se a marca demonstrada na figura 1. Figura1 traduzir, de maneira simples e direta a experiência já adquirida e o caráter comunitário que seria adotado durante a campanha. Foi definido o seguinte slogan: PRA VALER A NOSSA FORÇA! O Jingle de campanha foi criado com base no conceito da campanha, transmitindo as características do candidato e sendo veiculado em todas as ações do candidato e de sua equipe na região alvo. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 7 Na criação do jingle fugiu-se do lugar comum de adaptar uma música conhecida adaptando-se somente a letra para a campanha. Para a identidade visual dos materiais foi definido o uso das cores vermelhas do Partido dos Trabalhadores, mas com uso de fundos brancos e textos leves para transmitir leveza e jovialidade aos materiais e conseqüentemente ao candidato. Definidos os materiais iniciais a coordenação de campanha inovou ao iniciar os trabalhos no primeiro dia de campanha, com um panfleto de apresentação da candidatura. Em entrevista o vereador Wagner Balieiro disse que foi realizada a panfletagem de casa a casa e um cadastramento dos moradores da região alvo através de um pequeno questionário, no qual se tentava: identificar as principais necessidades da região; perceber a receptividade de uma candidatura da região à câmara de São José, quantificar o nível de conhecimento do candidato pela comunidade e identificar possíveis apoios. Nesta ação conseguiu-se um BD (banco de Dados) de aproximadamente quatro mil moradores. O diferencial deste BD foi a forma de obtenção dos dados: não se adquiriu uma base de dados pronta; fez-se o levantamento através das entrevistas e os dados foram tabulados com as autorizações dos moradores e, principalmente, em grande maioria das visitas o candidato estava junto o que trazia mais credibilidade e visibilidade à candidatura. Durante a campanha foi realizado dois tipos de marketing: o concentrado e o diferenciado, com a conseqüente diversificação dos materiais de campanha concentrando-se em alvos definidos. O marketing concentrado foi realizado na região da Vila Tesouro e focado na participação na igreja e na comunidade com atos que eram realizados pelo candidato durante sua rotina fora de campanha, só que agora com mais freqüência do que antes. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 8 Foi montado um comitê de campanha em local de fácil acesso para a população da região e todas as ações de campanha eram centralizadas no comitê eleitoral. O marketing diferenciado foi realizado nas seguintes frentes: - na universidade na qual o candidato participara da vida estudantil ativamente e em outras faculdades da região na tentativa de surgir como um candidato com perfil para defender a situação estudantil; - entre os profissionais do setor energético de SJC, pois o candidato era funcionários da empresa EPTE e mantinha grande contato com funcionários de outras empresas do setor através da participação no sindicato da categoria. Após o resultado da eleição, na qual o candidato foi eleito com 3.618 votos, sendo o candidato mais votado pelo seu partido, foi realizada uma ação de comunicação pós-eleitoral com divulgação de panfleto de agradecimento pelos votos e pelo apoio da região à candidatura. Mais uma vez o candidato participou ativamente dos trabalhos de rua realizados pela sua equipe. Primeiro Mandato Apesar de não haver um profissional voltado exclusivamente à comunicação política, os entrevistados disseram que durante o primeiro mandato o vereador Wagner Balieiro conseguiu comunicar-se com grande efetividade com seu eleitorado. Para tanto utilizou diversas ferramentas tais como: Elaboração do gabinete com membros da comunidade e da equipe coordenadora de campanha: um dos motes da campanha era conseguir um mandato que representasse a comunidade da Vila Tesouro e a montagem do gabinete com pessoas da região foi um passo coerente com a campanha; XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 9 Reuniões de mandatos: realizadas periodicamente com os principais apoios da campanha eleitoral e aberta a comunidade; Prestação de contas: no início do mandado era realizada reunião com objetivos de expor as ações do mandato. As principais ações eram relacionadas e trabalhadas no formato de folheto, entregue nas reuniões e enviado por mala direta e mailing constante da base de dados do mandato; Criação do site do mandato: site da internet onde poderia ser acompanhado as principais ações do mandato e servir como canal de comunicação com o vereador; Mala direta e mailing com ações do mandato: trabalho realizado periodicamente para divulgação das ações do mandato; Uso do site de relacionamento Orkut. Outro fator relevante na comunicação política realizada pelo vereador foi sua inserção nas mídias de São José dos Campos. Suas ações de mandato possibilitaram inserções nas rádios, jornais e televisões da região com freqüência suficiente para ampliar sua exposição na cidade. Durante o mandato o vereador conseguiu quebrar o estigma de “bairrista” que segue a grande maioria dos vereadores no Brasil, pois, apesar de atuar com maior concentração na região que garantiu sua eleição, ele participou ativamente em problemas identificados em outras regiões da cidade de maneira sistemática. Nos dois últimos anos de mandato foi nomeado líder da bancada do PT na Câmara Municipal de São José dos Campos o que possibilitou ampliar sua exposição conseguindo ter expressão regional. Segunda Campanha O planejamento para a segunda campanha foi bem diferenciado com relação à primeira, pois o conceito trabalhado foi diferente. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 10 Enquanto na primeira campanha o desafio era mostrar ser viável como representante da região, nesta segunda seria feito um julgamento do primeiro mandato. A imagem do candidato também sofreu alteração, pois, na primeira candidatura a imagem era de um jovem com experiência e capacidade de inovação para a política da cidade, enquanto que na segunda candidatura o candidato já possuía uma imagem de homem público e o desafio era consolidar seu nome no cenário da política municipal. Atribui-se ao moderno marketing político o sucesso da visibilidade de um determinado candidato e quase sempre a eleição de um candidato que consegue alterar sua imagem junto ao eleitorado. (Adolpho Queiróz, Roberto Gondo Macedo, organizadores. A propaganda política no Brasil Contemporâneo, Cátedra UNESCO / Metodista de Comunicação – São Bernardo do Campo / SP, 2008 - p. 21) Artigo de Daniel Galindo: Do marketing político ao marketing do político Universidade Metodista de São Paulo UMESP E, indo além, era necessário superar a votação do último pleito, pois isto poderia ser encarado como prova cabal da aprovação dos últimos quatro anos. Para atingir estes objetivos utilizou-se as ferramentas desenvolvidas durante a primeira campanha, realizando as adaptações necessárias para uma segunda candidatura. A marca de campanha sofreu mudança gráfica e de cor, ficando conforme vemos na figura 2. Figura 2 XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 11 O slogan de campanha permaneceu o mesmo, pois ainda traduzia os objetivos da campanha. A identidade visual foi alterada para passar a evolução pela qual o candidato passará, indicando a apresentação de um candidato mais experiente do que o da última eleição. Os materiais de campanha foram criados com designer um pouco mais arrojados, mostrando as atuações do primeiro mandato e o novo conceito da identidade visual. O jingle teve alterações suficientes para identificar que era uma nova eleição, mas preservou se o mesmo ritmo e melodia. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 12 Jingle da 1ª campanha Jingle da 2ª campanha Chegou a hora de fazer acontecer, valer a nossa força! Chegou a hora de fazer acontecer, valer a nossa força! Em três de outubro votar em que trabalha e luta. Em cinco de outubro votar em que trabalha e luta. Wagner Balieiro, um jovem lutador. Wagner Balieiro, um jovem lutador. Nós vamos votar, fazê-lo nosso vereador. Nós vamos votar, ele é o nosso vereador. 13200 meu voto é pra você. 13200 é o Wagner do PT. 13200 meu voto é pra você. 13200 é o Wagner do PT. Pra valer a nossa força, pra fazer acontecer. Pra valer a nossa força, pra fazer acontecer. 13200 é fácil e guardar. 13200 com Carlinhos do PT. 13200 é fácil e guardar. 13200 com Carlinhos do PT. Pra aumentar a nossa força nós contamos com você. Pra aumentar a nossa força nós contamos com você. 13200 nele eu vou votar. 13200 é o Wagner do PT. 13200 nele eu vou votar. 13200 é o Wagner do PT. Com as experiências da primeira campanha, avaliando os erros e acertos, foram definidas as estratégias de marketing adotadas para este pleito. Novamente foi realizado o marketing concentrado e marketing diferenciado. No marketing concentrado novamente foi trabalhada a região da Vila Tesouro, agora muito mais amplamente, conseguindo grande adesão dos moradores com relação à campanha, foram fixados banners de apoio a candidatura e ao candidato, mais uma vez foi utilizado a base de dados, que durante o mandato aumentou e contava com 15.000 cadastros. A presença do candidato nas ruas e eventos da região (como feiras e comércio local) não foi visto como ato eleitoreiro, com o objetivo puro e simples XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 13 de pedir voto; pois durante todo o mandato ele utilizou esta forma de contato com a comunidade. No marketing diferenciado foi ampliado, pois através do mandato o candidato conseguiu inserir-se em outras regiões, necessitando ampliar seu horizonte de atuação e marketing eleitoral. Comparações Entre as Duas Campanhas Conforme opiniões do vereador Wagner Ocimar Balieiro e de seu coordenador de campanha Luiz Marcelo Inocêncio Silva Santos, as duas campanhas foram muito parecidas. O know-how do Partido dos Trabalhadores na organização de campanhas ajudou na definição das peças e materiais de campanhas e também no planejamento e estruturação organizacional. O coordenador Luiz Marcelo considera que a maior diferença sentida foi com relação ao tamanho de uma em comparação à outra. Enquanto a primeira candidatura foi estruturada baseada na atuação da militância partidária e do voluntariado, com poucas contratações de pessoal. Na segunda foi necessária a montagem de uma equipe maior de cabos eleitorais para conseguir atingir todos os possíveis eleitores, apesar da militância e do voluntariado ainda serem parte importante da equipe. A segunda campanha foi diferenciada, pois vinha de um mandato que seria avaliado nas urnas, o que gerou muita tensão nos organizadores da campanha. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 14 Resultado das Eleições para Vereador em 2004 e 2008 Eleições 2004 % Votos votos Partido Número Candidato Nominais válidos PMDB 15015 Roberto da Penha Ramos 7.945 2,549 PSB 40100 Walter Katsunori Hayashi 7.201 2,31 PSDB 45699 Cristiano Pinto Ferreira 6.983 2,24 Dulce Rita Chaves de Andrade PSB 40400 Dabkiwicz 6.126 1,965 PFL 25100 Carlos Alberto Macedo Bastos 6.025 1,933 PSB 40636 Valdir Alvarenga 5.941 1,906 PL 22231 Alexandre José da Cunha 5.750 1,845 PPS 23690 Miranda Ueb Machado 5.732 1,839 PFL 25605 Fernando Luiz Isoppo Petiti 5.394 1,73 PSDB 45610 Hélio Nishimoto 5.039 1,616 PSDB 45633 Cristóvão Gomes Gonçalves 3.770 1,209 PSDB 45678 Dilermando Dié Antonio Alvarenga 3.761 1,207 PT 13200 Wagner Ocimar Balieiro 3.618 1,161 PFL 25500 Jose Jorley do Amaral 3.410 1,094 PT 13500 Amelia Naomi Omura 3.349 1,074 PHS 31100 Lino Bispo da Rocha 3.331 1,069 PSDB 45654 Juvenil de Almeida Silvério 3.276 1,051 PMN 33033 José Luís Nunes do Couto 2.433 0,78 PSC 20123 Luiz Carlos Mota 2.340 0,751 PT 13450 Antonio Dutra da Silva 2.276 0,73 Fonte: www.tse.gov.br Eleições 2008 XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 15 % Votos Partido Número Candidato votos Nominais válidos PSDB 45605 Fernando Luiz Isoppo Petiti 7.600 2,31 PPS 23023 Roberto da Penha Ramos 7.318 2,22 PSB 40636 Valdir de Alvarenga 7.227 2,19 PT 13200 Wagner Ocimar Balieiro 6.938 2,11 DEM 25200 Renata Lemes de Paiva 6.733 2,04 DEM 25100 Carlos Alberto Macedo Bastos 6.705 2,03 PSDB 45610 Helio Nishimoto 6.562 1,99 DEM 25500 Luiz Carlos Mota 6.562 1,99 PR 22231 Alexandre José da Cunha 5.831 1,77 Dulce Rita Chaves de Andrade PV 43400 Dabdiwicz 5.816 1,76 PPS 23690 Miranda Ueb Machado 5.592 1,7 PSDB 45699 Cristiano Pinto Ferreira 5.557 1,69 PSB 40100 Walter Katsunori Hayashi 5.540 1,68 PSDB 45678 Dilermando Die Antonio de Alvarenga 5.254 1,59 PT 13500 Amelia Naomi Omura 5.251 1,59 PSDB 45654 Juvenil de Almeida Silverio 4.922 1,49 PSDB 45633 Cristovão Gomes Gonçalves 4.371 1,33 PT 13123 Angela Guadagnin 4.329 1,31 PT 13450 Antonio Dutra da Silva 3.243 0,98 PR 22007 Jairo dos Santos 2.704 0,82 PR 22422 João das Mercês Almeida 2.556 0,78 Fonte: www.tse.gov.br XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 16 Considerações Finais Pudemos perceber que o know-how do Partido dos Trabalhadores, dos principais membros da organização da campanha e do próprio vereador, adquirido em outras eleições, possibilitou certo grau de profissionalismo às candidaturas e ao mandato realizado entre 2004 e 2008. É perceptível que o vereador Wagner Balieiro usou as ferramentas do marketing eleitoral de maneira eficiente para se eleger. Sendo também bem sucedido no uso do marketing político dando visibilidade a seu mandato de vereador na programação de sua vida política entre os pleitos, conseguindo obter na segunda eleição 6.938 votos. Entretanto, é fato que uma assessoria de marketing político agregaria valores e otimizaria os recursos, minimizando os percalços que ocorreram durante o caminho, facilitando o desenvolvimento das campanhas, da comunicação do mandato e do planejamento da carreira política do candidato, possibilitando assim vôos mais altos ao vereador Wagner Ocimar Balieiro. Bibliografia Adolpho Queiróz, Carlos Manhanelli, Moisés Stefano Barel, organizadores. Marketing político, do comício à internet – São Paulo: ABCOP –Associação Brasileira de Consultores Políticos, 2007. Pimentel, Marcelo. A Prática do Marketing Político – Ações de uma campanha eleitoral vitoriosa; Taubaté; Ed. do autor; 2008. Adolpho Queiróz, Roberto Gondo Macedo, organizadores. A propaganda política no Brasil contemporâneo – São Bernardo do Campo/ SP - Cátedra UNESCO / Metodista de Comunicação, 2008. DOMENACH, Jean-Marie. A propaganda política. São Paulo, ed. Difusão Européia do Livro, 1963. - versão para e-book Março 2001 XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 17 Mendonça, Duda – Casos e coisas – São Paulo; Globo, 2001 www.tse.gov.br Pesquisa no Jornal Valeparaibano sobre o tema marketing político durante o ano de 2009. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 18 A UTILIZAÇÃO DE EXPRESSÕES FOLCLÓRICAS COMO ESTRATÉGIA POLÍTICA NAS ELEIÇÕES DE 2008 EM CUIABÁ - MT 1 Débora Cristina Tavares1 e Ramachandra Das Dos Santos Branco1 Resumo: Este artigo propõe algumas reflexões acerca das relações entre comunicação e estratégias políticas nos processos eleitorais. Procura identificar essas estratégias de comunicação política utilizadas na construção da imagem do atual prefeito de Cuiabá, Wilson Santos através da utilização de expressões folclóricas tradicionais cuiabanas e mato-grossenses, em especial do Siriri1 e Cururu1. O artigo parte de uma pesquisa bibliográfica e documental para construir o referencial teórico e analisa materiais coletados a partir da campanha política de 2008, bem como artigos em jornais da cidade e fotografias que representam o objeto de estudo. Palavras-Chave: Comunicação Política, Folkcomunicação, Construção De Imagem Introdução Este artigo traz uma discussão a respeito da relação entre comunicação e estratégias políticas utilizadas nos processos eleitorais. Especificamente trata de alguns artifícios pelos quais os candidatos buscam conquistar a confiança de seus eleitores e, com isso, conseguir o voto, seu principal objetivo. No caso deste artigo, as abordagens focam as estratégias utilizadas pelo então prefeito e candidato à reeleição da cidade de Cuiabá, Wilson Santos. Na abordagem da pesquisa, o principal ponto de entrelaçamento entre as estratégias de marketing político e a campanha do XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 19 candidato está na utilização de elementos de comunicação popular, aqui entendidos como folkcomunicacionais. Esses elementos, como veremos mais adiante, causa o estreitamento das relações entre o povo e o candidato favorecendo-o diante de seus opositores. Para que possamos analisar e discutir a apropriação dos elementos utilizados por Wilson Santos em sua campanha, faz-se necessário uma abordagem explicativa acerca das expressões folclóricas – Cururu e Siriri, característicos da região mato-grossense. Início do século XIII na antiga Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuyabá – Cuyabá, nome emprestado do rio da região – se encontrava muito ouro, não só nesta vila, mas em toda sua redondeza. Estes vilarejos, que posteriormente seriam elevados a categoria de cidades surgiram no ciclo econômico do ouro, no movimento exploratório dos bandeirantes, acompanhados pelos jesuítas. Estes catequizaram os nativos, o que trouxe significativa contribuição aos folguedos regionais marcados pela religiosidade do povo. Lá estavam os índios, servindo como mão-de-obra escrava, depois os mamelucos. Logo chegam, ou melhor, são trazidos os negros para essa tarefa. Nesse processo a economia se articulava em basicamente três pontos: a produção agrícola de subsistência, a produção açucareira para exportação e a exploração do ouro até seu quase esgotamento. Como se percebe, a cultura tradicional cuiabana ou mato-grossense é composta pelo mosaico cultural do país, recebendo influências históricas do período colonial, com destaque para tradição católica. Podemos acrescentar aqui a influência da cultura espanhola pela proximidade fronteiriça e pelos eventos que marcaram as disputas entre os colonizadores e perceber esta proximidade quando em contato com as expressões folclóricas regionais. Neste contexto foram se formando os símbolos culturais que identificam o cuiabano de Tchapa e Cruz1. O petxe1, como é falado, pela proximidade com o rio; as frutas típicas como o cadjú e manga; o trato com a cerâmica, cultura de origem africana; a idéia de povo hospitaleiro, provavelmente para receber bem os bandeirantes. E é claro não podiam faltar as festanças como o Siriri e o Cururu. Manifestações estas ligadas na maioria XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 20 das vezes à religiosidade e que trazem uma grande diversidade de expressões folclóricas nas roupagens, no linguajar puxado e no jeito característico de cantar, nos instrumentos como a Viola-de-Cocho1 e o Ganzá1. Pode-se observar na música de Pescuma, Henrique e Claudinho “É Bem Mato Grosso” (2007) como a simbologia regional é listada: É bem Mato Grosso / Um guaraná ralado / Pacú assado / Manga madura do quintal É bem Mato Grosso / Banho de rio ou cachoeira / Pescaria no Teles Pires / Araguaia ou Pantanal É bem Mato Grosso / Festa de santo / Churrasco piché caju É bem Mato Grosso / Congo viola de cocho / Siriri e Cururu É bem mato grosso / Belas igrejas / Casarões colônias / Festas de rodeios / Praias festivais É bem Mato Grosso / Grandes rebanhos / Plantações fenomenais / Um povo hospiataleiro / Como não se viu jamais É bem Mato Grosso / O sol mais quente que há / Aquela bem geladinha / A morena e a loirinha / Que faz a gente suspirar É bem Mato Grosso / Um bailão de rasqueado / Ninguém fica parado / Até o dia clarear É bem Mato Grosso! Este conjunto de símbolos folclóricos apresentados contempla a fala de Lucena Filho (2007, p.154), quando afirma que: As manifestações da cultura de um povo abraçam não apenas as suas instituições e linguagens. As culturas se expressam via transmissão de múltiplos signos, símbolos e ícones, vivenciados nas suas crenças, danças, na musicalidade, na religiosidade, nas comidas típicas, na literatura, na oralidade, nas suas produções artísticas e nas suas festas. No contexto da citação acima, percebe-se em Cuiabá a variedade de informações, formas e conteúdos vinda das tradições populares e que são XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 21 identificadas por este artigo quando inseridas nos meios de comunicação de massa como estratégias de comunicação política. Folkcomunicação Antes de estabelecer relações entre as expressões folclóricas de Mato Grosso e a utilização delas nas estratégias de marketing político do atual prefeito Wilson Santos, faz-se necessário uma apresentação da área das Ciências da Comunicação da qual tratamos como a Folkcomunicação Primeiramente “Folkcomunicação é a comunicação através do folclore” (LUYTEN apud MARQUES DE MELO, 2005, p. 77). Podemos entender a Folkcomunicação como uma disciplina que estuda os processos pelos quais os símbolos gerados de forma espontânea, pelas culturas denominadas subalternas ou marginalizadas dos meios oficializados da comunicação, passaram e passam atualmente devido às modificações ocorridas na sociedade e principalmente referentes aos impactos midiáticos. Segundo Marques de Melo (2005, p.74), O objeto de pesquisa dessa disciplina situa-se na fronteira entre o Folclore (resgate e interpretação da cultura popular) e a comunicação de massa (difusão industrial de símbolos através dos meios mecânicos ou eletrônicos destinados a audiências amplas, anônimas e heterogêneas). É interessante a forma clara como coloca Hohlfeldt citado por Souza (2007, p.6), A Folkcomunicação é o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, se sociabilizam, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem influência da comunicação massificada e industralizada ou se modificam quando apropriadas por tais complexos. Seguindo adiante é importante observar o momento histórico favorável às manifestações folclóricas caracterizadas pela espontaneidade, como descrito anteriormente de uma sociedade pré-industrial. Esse período pode ser XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 22 compreendido desde os tempos coloniais até meados da década de 1930. Estas sociedades e suas culturas ficaram como que esquecidas pelas sociedades tidas como “mais desenvolvidas”. As manifestações folclóricas surgiram então, da necessidade de interação social dessa gente à margem dos processos oficializados. Em todo mecanismo de formação de cultura, a comunicação representa papel primordial. Como processo social básico, a comunicação representa o próprio motor – da configuração do simbolismo que marca o fenômeno cultural. É através da comunicação que as gerações mais velhas transmitem às gerações mais novas o seu acervo de experiências, os símbolos, as normas, os valores, os mitos. É a comunicação que assegura a sobrevivência e a continuidade de uma cultura no tempo, promovendo, inclusive, a trasformação dos seus símbolos em face dos novos fenômenos que o desenvolvimento aponta. (BREGUÊS, 2003, p.107). As transformações ocorridas daquele momento histórico até a contemporaneidade são diversas, assim como as abordagens para tais transformações. Situaremos agora os momentos históricos posteriores e suas conseqüências mais nítidas nos processos folkcomunicaionais. A influência dos meios de comunicação, o predomínio da cultura de massa, e intensificação do avanço industrial com novas tecnologias, e o turismo como fenômeno de lazer das multidões, novos desafios foram lançados às manifestações folclóricas. (BREGUÊS, 2003, p.107). As festas [aqui podem ser entendidas também como manifestções tradicionais do povo], em geral, vêm sofrendo significativas mudanças em sua organização, no Brasil, resultante da massificação da cultura, da urbanização, da divisão do trabalho e da modalidade da economia capitalista adotada. (BENJAMIN, 2001, p.22). O desenvolvimento urbano-industrial trouxe mudanças significativas à sociedade brasileira. A chegada do “capitalismo tardio” veio estabelecer a produção em grande escala no Brasil, o que sugeriu a padronização dos hábitos de consumo, numa espécie de homogeneização da cultura, ou mesmo XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 23 americanização da cultura. O que só foi possível com o uso estratégico da mass communication. Segundo Ortiz (1991, p.38) “se apontarmos os anos de 1940 como o início de uma „sociedade de massa‟ no Brasil é porque se consolida neste momento o que os sociólogos denominaram de sociedade urbano-industrial”, porém somente nas décadas de 1960 e 1970 ocorreu a consolidação de um mercado de bens culturais. Trazendo para a realidade regional, neste período pudemos constatar certo afastamento das novas gerações às culturas folclóricas tradicionais. Estas gerações buscaram se aproximar da cultura americana ou paulista por influência da indústria cultural, se recusando a receber valores da cultura tradicional das gerações anteriores. O que sugeriu a extinção das manifestações folclóricas. De acordo com Breguêz (2009, p. 108) a extinção do folclore se dá enquanto manifestação cultural espontânea. Vejamos o porquê nas palavras do autor: Com o crescimento da sociedade industrial é inevitável a extinção progressiva do folclore enquanto manifestação cultural espontânea. Isto porque o avanço cada vez mais intenso das relações sociais e industriais engendra também o avanço da indústria cultural que, em geral, se apropria das expressões que vêm do povo imprimindo-lhes novos significados. Considerando as festas tradicionais como um conjunto de manifestações folclóricas, podemos destacar a afirmação de Trigueiro (1998 apud SOUZA, 2007 p.8): Vivemos num mundo de coexistência entre as culturas tradicionais e modernas. A modernização não vem para acabar com o folclore e a cultura popular por ser até mesmo uma de suas estratégias. A incorporação de bens simbólicos modernos nas festas tradicionais não elimina a cultura folk, mas, a trasforma e insere no mercado de consumo dos meios de comunicação de massa. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 24 Atualmente, ano 2009, podemos observar que o cenário é outro, assistimos a consolidação da Globalização. A chamada Pós-modernidade ou Era Digital. Fator fundamental para as mudanças ocorridas foi o rápido progresso tecnológico. Segundo Ortiz (1994, p. 159) houve uma “passagem de uma era mecânica para outra elétrica/eletrônica”. […] os empresários entendem que o capitalismo passou de uma fase de high volume para de high value. Antes, o que importava era produzir o maior volume de produtos para distribuí-los em massa. Resultava disso a necessidade da padronização dos bens de consumo, maneira de se baixar o custo de sua fabricação. O momento atual seria distinto. Não é tanto a produção de massa que conta, mas a fabricação de produtos especializados a ser consumidos por mercados exigentes e segmentados (ORTIZ, 1994, p.148). A partir daí, podemos entender a re-valorização das expressões folclóricas como um modo de especialização dos produtos e serviços, atingindo públicos específicos e segmentados através das expressões que identificam um povo para conquistá-los. As manifestações folclóricas após passarem pelo choque com a indústria cultural, correr o risco da extinção, serem re-significadas aos moldes da cultura de massa, passam agora por uma super-valorização por parte das classes hegemônicas. Estas utilizam de um discurso de tipo esquerdista, revestido de preocupações como a preservação dos saberes populares e justiça social, legitimando a incorporação das expressões folclóricas na aplicação de estratégias de comunicação – destaque aqui para o turismo – ampliando e consolidando mercados e promovendo interesses políticos e econômicos, como pode ser ilustrado pela imagem seguinte: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 25 Fonte: Notícia PAC (2007) Ao pegar a viola de cocho (o violão pantaneiro) nas mãos, Lula disse ser o “Almir Sater do Planalto”, em referência ao cantor, compositor e violeiro natural de Mato Grosso do Sul (Notícia PAC, 2007) Estratégias Políticas Segundo Tavares & Santos (2004, p.5): [...] podemos identificar a folkcomunicação também no campo político, uma vez que, segundo a conceituação de Luiz Beltrão em 1965, a Folkcomunicação pode ser definida como „manifestções artísticas e folclóricas‟ pelas quais „a massa se comunica e a opinião se manifesta‟. Para Lucena Filho (2007, p. 162) a Folkcomunicação também se apresenta no campo político: A fixação de símbolos [...] como imagens definidoras do Nordeste, faz-se em meio a uma multiplicidade de outros fatos exibidos como marcas capazes de dar uma cara à região. Elas são apropriadas e adaptadas, em campanhas políticas ou como estratégias comunicacionais, por organizações em nível mercadológico e institucional, para instrumentaliza [sic] a identidade do nordestino e o sentimento de pertencimento. Tomemos a imagem apresentada – Lula e Wilson Santos em evento para anunciar a liberação do PAC – e as afirmações de Lucena Filho, Tavares & Santos como ponto de partida para a análise dos símbolos que identificam a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 26 cultura regional mato-grossense, com destaque para as expressões do Siriri e Cururu, instrumentalizados como estratégia de comunicação organizacional na campanha política de 2008 e gestão do prefeito de Cuiabá-MT, Wilson Santos. Wilson Santos durante sua campanha para reeleição utilizou em seu discurso a proposta de resgate da cultura cuiabana, se colocando como um candidato que tem conhecimento da história e cultura da comunidade regional, embora ele mesmo seja caracterizado como “pau rodado” – uma expressão local utilizada para referenciar as pessoas que residem na cidade, porém são originárias de outro Estado. Nascido em Dracena, interior de São Paulo, Wilson Santos mudou-se para Cuiabá em meados da década de 60. Para fortalecer seu discurso de conhecimento da história e resgate da cultura cuiabana e reforçar seus laços de identificação entre os eleitores, ele usou de uma série de artifícios, como se apresentar com camisa de estampa florida (imagem 1), característica das festividades mato-grossenses e produzir adesivos de campanha com símbolos regionalistas (imagens 2 e 3), pintados por pintores da região como Adir Sodré e Wender Carlos, seguem as fotos: 1 2 3 Fonte: Galeria de Fotos [2008] Fonte: REIS [2008] Fonte: REIS [2008] No debate entre os candidatos a prefeito, Wilson Santos utilizou mais uma ferramenta para reforçar esta postura de candidato da terra conforme a notícia do debate veiculado no jornal eletrônico 24HorasNews: Na última pergunta do segundo bloco, Wilson Santos escolhe Valternir para responder sobre área cultural e o questiona se ele XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 27 sabe a diferença entre Siriri e Cururu. Valtenir sai pela tangente e não responde qual a diferença, Wilson não perde a chance e pergunta novamente (REDAÇÃO 24HORAS NEWS, 2008). Neste episódio, Wilson Santos mais que dizer que seu adversário não conhece a realidade regional, procura fazer entender que ele próprio conhece a identidade local e por isso terá mais condições de gerir a prefeitura. Artifícios como os citados, instrumentalizam a identidade do cuiabano gerando um sentimento de pertencimento que por fim favorece quem os aplica. Próximo da vitória nas urnas: [Wilson] Santos afirmou ainda que sua vitória representa a vitória do povo cuiabano. A nossa vitória, é a vitória dos cuiabanos, do velho Mato Grosso, do guaraná ralado, da cabeça de pacu, da piraputanga, do siriri e do cururu. A vitória das nossas tradições, da nossa cultura (BORGES, 2008). Mesmo eleito, o prefeito mantém sua imagem de sujeito da terra, pintando e bordando Cuiabá com as cores e formas, ou símbolos folclóricos que caracterizam a região. 1 2 3 Fonte: REIS [2008] Fonte: REIS [2008] Fonte: REIS [2008] A primeira foto mostra uma pintura feita na caixa d‟água do reservatório da cidade, onde foi inaugurado o Museu das Águas. A Pintura mostra uma cena característica da cultura tradicional. A segunda foto destaca a pintura feita XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 28 em um poste, vários postes na cidade foram pintados por artistas locais como pinturas como esta que apresenta o peixe e o caju como símbolos da cultura cuiabana. Na terceira foto a primeira dama da cidade, Adriana Bussiki faz pose para ser fotografada na recém inaugurada Praça Oito de Abril com uma pintura do artista local Adir Sodré ao fundo. 1 2 3 Fonte: REIS [2008] Fonte: REIS [2008] Fonte: REIS [2008] Nestas imagens, a primeira foto retrata a Praça Rachid Jaudy com o destaque para a Viola-de-Cocho, também fazendo referência à cultura cuiabana e mato-grossense assim como o peixe retratado na segunda imagem. O peixe é estruturado em mosaico por ser uma uma arte desenvolvida no período do tradicionalismo local, ou na antiga Cuiabá, como é chamado o período. O peixe, como já mencionado, pela proximidade com o rio, de uma cidade nascida as margens do rio ao qual tomou o nome para si. O peixe é o alimento mais tradicional da região, uma marca da cultura cuiabana. Este mosaico é a logomarca da prefeitura na gestão do segundo mandato do prefeito Wilson Santos. Desenvolvido por um grupo de artistas organizado pela primeira dama. Esta logomarca está espalhada em vários pontos da cidade como praças, postos de saúde, museus, entre outras obras. O ponto de táxi, na terceira imagem, em formato de peixe é mais uma maneira criativa de apresentar a identidade local. Por fim, podemos observar, em algumas das fotos apresentadas as cores utilizadas para pintar a cidade, o verde e o branco. Cores estas que compõem a bandeira da cidade. Conhecida pelo pseudônimo de Cidade Verde, as cores são também exploradas em pinturas de meio fio, XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 29 postes da cidade e prédios que oferecem serviços públicos, como postos de saúde e cursinho para vestibulares. Segue um trecho do texto encontrado no site da prefeitura de Cuiabá na página em que é aprentado o folclore cuiabano: Talvez por sua localização geográfica , que a isolou do resto do país por muito tempo, Cuiabá é uma cidade com personalidade própria. Na arquitetura, na música, na dança, na culinária, no jeito de falar, enfim, em praticamente todas as suas manifestações culturais, um traço genuinamente local pode ser encontrado. Essa riqueza faz do folclore cuiabano uma das principais atrações turísticas da cidade. (FOLCLORE). E é com a identificação dessas manifestações culturais que o candidato e atual prefeito de Cuiabá tem trabalhado suas estratégias de comunicação política. Considerações Finais As estratégias de comunicação política realizadas pelo então candidato a prefeito Wilson Santos e também pela prefeitura de Cuiabá demostram a super-valorização das expressões folclóricas, característica da realidade contemporânea. Essas modificações tornam-se sensíveis quando passamos a enxergar a cultura tradicional como uma ferramenta de persuasão aplicável, na especialização de produtos e serviços, de acordo com realidade do sistema político e econômico adotado. Pode-se perceber que essa apropriação dos elementos folkcomunicacionais pelo candidato em sua campanha política procura suprir o fato dele não ser nascido na cidade e dessa forma, consolidar sua aproximação com o povo cuiabano, bem como tornar sua campanha caracterizada com a identidade cuiabana e fortalecer o sentimento de pertencimento, como diria Lucena Filho (2007). Para tanto, a resposta do público parece-nos favorável a essa abordagem utilizada pelo candidato, pois faz com que se sintam reconhecidos em seu discurso. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 30 Ao tomar esse posicionamento, Wilson Santos se afasta da imagem de figura exógena e se coloca como mediador das causas do povo, procurando instituir a identificação e entendimento de suas mensagens por parte da população de interesse e que são ao mesmo tempo participantes e agentes geradores da cultura popular dentro do seu contexto social. Fazendo isso, Wilson Santos se aproxima de seu eleitorado e, de certa forma faz predominar seu “clima de força”, como estipula Domenach (1963, p. 82) disseminando suas idéias a partir de um discurso que pode ser facilmente compreendido pelo eleitorado e com isso, favorecer sua campanha. Referências Bibliográficas BENJAMIN, Roberto. Festas populares como processos comunicacionais: Revisitando o pensamento de Luiz Beltrão. Comunicação apresentada na IV FOLKCOM, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 26 a 29 de junho de 2001. BORGES , Lúcio Machado. Contexto Político. Eleições 2008: Candidato Wilson Santos (PSDB) diz que momento é de „cautela‟. Disponível em: < http://contextopolitico.blogspot.com/2008/09/eleies-2008-candidato-wilsonsantos.html>. Acesso em: 20 de jun de 2009. BREGUÊZ, Sebastião Geraldo. Os estudos de folkcomunicação hoje no Brasil. Revista Internacional de Folkcomunicação – nº1, p.105-110, 2003. Disponível em: http://www2.metodista.br/unesco/revistafolkcom/Revista.pdf. 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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 32 TELEVISÃO E POLÍTICA NA DITADURA MILITAR (1965-1985) Moacir José dos Santos1 Resumo: A expansão da televisão como principal forma de entretenimento e comunicação do Brasil adquiriu impulso decisivo na década de 1960. Esse trabalho explora a constituição de um sistema de comunicação brasileiro a partir de investimentos estatais e a disputa entre o principal grupo de comunicação do período, sob o controle de Assis Chateaubriand e a nascente Rede Globo de Roberto Marinho. A hipótese principal aponta para a realização de um planejamento estratégico para o setor de telecomunicações sob os governos Jânio Quadros e João Goulart e implantado durante a ditadura militar. O modelo implantado estabeleceu para o Estado a responsabilidade de desenvolver a estrutura necessária para a otimização dos serviços como telefonia e transmissão de dados. E o setor privado passou a controlar o mercado ligado a televisão sob o estimulo propiciado com a estrutura implantada pelo Estado. A pesquisa histórica efetuada para analisar a disputa entre os dois grupos de comunicação verificou que o conflito foi resolvido com a arbitragem dos representantes da ditadura militar em favor do grupo de comunicação considerado mais confiável, liderado por Roberto Marinho. Palavras-Chave: Comunicação; História; Política; Televisão. A compreensão das relações entre a televisão e política na ditadura militar decorre da problematização e compreensão do desenvolvimento do setor de telecomunicações. Esse setor experimentou um significativa expansão nas décadas de 1960 e 1970 e foi objeto de intensa XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 33 disputa entre militares, empresários e políticos mediados no Estado nacional. Diversos pesquisadores, ligados a Comunicação Social (MELO, 1981) e ao Direito (HERZ, 1987), que a partir de problemas específicos as respectivas áreas do conhecimento tentaram investigar a implantação e expansão das telecomunicações no Brasil. Porém, a ausência de uma perspectiva histórica determinou a limitação dos resultados destes trabalhos. Essas pesquisas concentraram-se na constatação da expansão das telecomunicações, em especial a televisão, como resultado da iniciativa da ditadura militar instalada em 1964. Os militares pretenderam, sob essa ótica, criar um sistema de comunicações apto a satisfazer as necessidades geradas com a expansão capitalista dependente de recursos externos e, simultaneamente, aumentar o poder de persuasão sobre a população. A defesa das bases da sociedade consumista e desigual corresponderia a expansão de um sistema de comunicação capaz de gerar apoio ao regime autoritário brasileiro. Entretanto, a afirmação que define a expansão do setor de telecomunicações no Brasil e da televisão apenas após a instalação do regime militar de 1964 não corresponde as características históricas do processo de modernização da comunicação no Brasil. A pesquisa da legislação setorial brasileira anterior a 1964 e a consulta as fontes da imprensa entre as décadas de 1960 e 1970, permitiu detectar um movimento que envolvia políticos, militares e empresários interessados na modernização das telecomunicações antes da implantação do regime autoritário (OLIVEIRA, 1991). A definição de uma política brasileira de telecomunicações foi a ação mais estratégica para a expansão da televisão no Brasil. Os interesses específicos de cada grupo citado estavam conectados na busca da mediação do Estado brasileiro, estratégico para a organização dos serviços de telecomunicações e para a criação das garantias almejadas por empresários da radiodifusão para investir com segurança no setor, em especial na televisão. Outro aspecto importante para os empresários e para a expansão da economia brasileira era a constituição das condições adequadas para o desenvolvimento de uma forte indústria de equipamentos eletrônicos, com destaque para produção de televisores. Este movimento tem seu ponto de inflexão no ano de 1962, quando o estrangulamento do sistema nacional de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 34 comunicações e a homologação do Código Brasileiro de Telecomunicações aceleram o conflito de interesses entre os diversos setores envolvidos, gerando as condições que provocaram a fixação de uma política coordenada por meio do Estado para o setor. O Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, consolidou a principal característica que permeou o desenvolvimento do setor no país até a década de 1990, o monopólio estatal dos serviços (telex, telefonia, telégrafos por exemplo) e a exploração da radiodifusão brasileira. Resultado da luta entre diversos setores, a política brasileira de telecomunicações contemplou a expansão sob o monopólio público associada a satisfação da necessidade de crescimento econômico. Para tanto foi necessária a soma de esforços de militares e políticos ligados a João Goulart, que almejavam a estatização de concessionárias privadas de telefonia. O monopólio dos serviços de telecomunicações unia perspectivas distintas na concepção do Estado como promotor do desenvolvimento nacional. E os confrontos com políticos vinculados a UDN e defensores do capital estrangeiro que surgiram quando da estatização das concessionárias privadas de telefonia, resultaram mais da preocupação destes de combater o governo do presidente João Goulart em todas as frentes políticas existentes na época, do que em implantar um projeto nacional de modernização das telecomunicações diferente do proposto pelo governo federal ou os militares. Por exemplo, quando a elaboração do Código Brasileiro de Telecomunicações foi iniciada em 1961, a UDN controlou a comissão especial encarregada de sua organização, trabalhando em conjunto com os militares indicados pelo então presidente Jânio Quadros para assessorá-la com a sua experiência no setor. O principal item do novo código era exatamente o monopólio público das telecomunicações, objetivo prioritário na perspectiva dos militares para o sucesso da modernização do setor. Esse objetivo dos militares não foi contestado ou rejeitado por parte dos membros da UDN que compuseram a comissão nomeada por Jânio Quadros. A oposição da UDN a estatização das concessionárias dos serviços de telefonia, telégrafo e telex ocorreu em virtude da iniciativa política ocorrer após a renúncia do presidente Quadros, portanto, liderada no âmbito federal por João Goulart. E também com destaque para a ação do governador Leonel Brizola, no Rio XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 35 Grande do Sul. Goulart e Brizola conquistavam prestígio político, naquele momento, por estatizar ineficientes empresas privadas de telefonia, o que, obviamente, não ocorria sob o olhar passivo da oposição representada no seu principal partido político, a UDN ( SANTOS, 2000). A opção por implantar o monopólio estatal no setor de serviços de telecomunicações, por parte dos militares brasileiros, revela a busca do controle de um setor estratégico para o desenvolvimento econômico nacional. Entretanto, a associação ao capital estrangeiro não era rejeitada, mas mediada com divisão da economia entre setores estratégicos para a segurança nacional e setores em que presença do capital externo favorecia a expansão econômica brasileira. Outro fator primordial para a participação decisiva dos militares no setor de telecomunicações foi experiência acumulada desde a década de 1930, quando devido a questões de segurança nacional, assumiram os órgãos do governo federal encarregados de fiscalizar o setor. A segurança nacional permeou todo o envolvimento dos militares com as telecomunicações, norteando cada decisão destinada a maximizar o potencial estratégico do setor, tanto para o crescimento econômico quanto para o controle de fatores que auxiliaram na contenção de elementos hostis a manutenção da estrutura de poder vigente no país. Somente a compreensão do ideal militar de aliar o desenvolvimento econômico e a segurança nacional é possível entender os fatores que impeliram os militares a participar da formação de uma política brasileira de telecomunicações. Essa associação de fatores provocava nos militares brasileiros a necessidade de controlar a expansão das telecomunicações, principalmente por meio da instituição do monopólio público dos serviços aliado à formação e controle dos órgãos de planejamento e controle setorial. Nesta perspectiva, o Código Brasileiro de Telecomunicações resultou do confronto entre os militares, empresários e políticos, principalmente nos combates travados quando da sua homologação em 1962. O principal confronto ocorreu entre o governo federal e os empresários da radiodifusão, que aliaram-se aos adversários políticos do presidente João Goulart. Aliás, nos debates acerca da definição da legislação setorial o monopólio das XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 36 telecomunicações não foi questionado decisivamente. A intensão dos militares em assegurar ao Estado o controle monopolista de um setor estratégico concretizou-se. No entanto, os maiores confrontos foram provocados em razão do conflito sobre o estatuto da exploração privada da radiodifusão. Os empresários lutavam por uma maior proteção da lei a suas atividades, enquanto o governo do presidente João Goulart, estimulado com a intensa polarização política, desejava um controle mais forte sobre as atividades das empresas de rádio e televisão. Os vetos do governo Goulart aos artigos que limitavam a interferência do poder executivo nas empresas de radiodifusão foram derrubados no Congresso Nacional. A derrubada dos vetos de João Goulart indicava o enfraquecimento de seu poder de negociação política, bem como o fortalecimento de seus adversários no momento em que aumentavam os conflitos políticos. A derrota de João Goulart na promulgação do Código Brasileiro de Telecomunicações também significou o fortalecimento do poder político dos empresários da radiodifusão, cuja dependência da expansão do sistema nacional de telecomunicações, sob controle estatal, limitava-se as condições tecnológicas, compensada por sua capacidade de articulação junto aos políticos, somada a possibilidade de atrair o apoio da opinião pública. Presidente João Goulart e o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Fonte: www.google.com/29/09/09. As condições de desenvolvimento da política brasileira de telecomunicações definida no Código Brasileiro de Telecomunicações consolidaram-se no decorrer dos anos. O regime militar brasileiro implantou iniciativas administrativas e jurídicas para desenvolver e aperfeiçoar as XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 37 diretrizes determinadas na legislação setorial, considerando as novas condições de exercício do poder após a instalação do regime autoritário em 1964. Deste modo, o Plano Nacional de Telecomunicações, formulado após a definição da legislação setorial, contemplou a satisfação das necessidades econômicas dos centros dinâmicos do capitalismo brasileiro e de segurança nacional almejada por parte dos militares. E a expansão do setor de telecomunicações realizadas durante os primeiros anos do regime militar conjugou o planejamento econômico estatal do período, o que resultou na superação do estrangulamento gerado com anterior estagnação do setor. O planejamento estatal sob a responsabilidade do Ministério do Planejamento incluía as cidades beneficiadas com a expansão do sistema de telecomunicações, a despeito da definição das prioridades de ligações técnicas ser de competência do CONTEL ( Conselho Nacional de Telecomunicações). A definição dos investimentos públicos ocorria com inclusão do setor de telecomunicações para viabilizar a modernização econômica. No campo administrativo as ações do governo militar implicaram na homologação do Regulamento do CONTEL, que detalhava de maneira específica a competência do orgão. Outra ação estratégia do governo instalado em 1964 e que mantinha o planejamento realizado no inicio da década de 1960 foi a criação do Ministério das Comunicações. Entre as atribuições do novo ministério estava a constituição de uma burocracia para dinamizar a administração de um setor em vertiginosa expansão, reservando ao CONTEL a exclusividade do planejamento, orientação e coordenação da expansão do sistema de telecomunicações. Entretanto, a expansão do setor de telecomunicações foi marcada por uma importante revisão das situações de infração a legislação setorial e as punições previstas. Apesar da constituição da divisão de funções entre o Estado, detentor do monopólio dos serviços de telecomunicações e, o setor privado que controlou a radiodifusão, a arquitetura setorial não impediu a emergência de um importante conflito. O escândalo Globo/Time-Life motivou a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) em 1966. Esse conflito tem como origem a disputa entre empresas do setor para aferir vantagens nas novas condições de desenvolvimento da radiodifusão brasileira, XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 38 a saber, o denunciante, Assis Chateaubriand, líder e proprietário dos Diários Associados, com a TV Globo, de propriedade do empresário Roberto Marinho. O caso não limitava-se a empresas disputando o controle do mercado de televisão, mas indica a luta para conquistar uma posição vantajosa para a exploração eficaz das novas condições de operação possibilitadas com a expansão do sistema nacional de telecomunicações (SANTOS, 2000). A reorganização do sistema de telecomunicações implicou a constituição das condições técnicas para transmissão em rede. A operação em rede significava a redução dos custos, a ampliação do mercado consumidor e aumento da captação ode recursos financeiros. Uma nova fase da história da comunicação no Brasil era inaugurada. A empresa que conquistasse as melhores condições de operação naquele momento poderia garantir a liderança do mercado de televisão, concentrando a audiência e os recursos aplicados com intensa expansão do mercado publicitário (ORTIZ, 1991). O combate férreo ao fortalecimento da TV Globo, propiciada com a associação a norte-americana Time-Life, foi priorizada por várias empresas de comunicação sob a liderança do então principal conglomerado de comunicação brasileiro, os Diários Associados. Todas as empresas do setor envolvidas neste conflito haviam apoiado a deposição do presidente João Goulart e esperavam auferir benefícios com a instalação do regime militar no país. Contudo, o fortalecimento inesperado da Globo com o suporte propiciado mediante a associação a norte-americana Time-Life, desequilibrava a correlação de forças do setor. E a competição política entre as frações de classe no poder para adquirir relevância na escolha do sucessor de Castelo Branco, estimulou o conflito entre o ascendente grupo Globo e os Diários Associados, que experimentavam muitas dificuldades financeiras para manter a liderança do setor de comunicação social no Brasil. Embora contasse com uma estrutura consolidada no rádio e na imprensa, o grupo Diários Associados precisava administrar problemas de gestão que comprometiam a eficiência da empresa e, simultaneamente, a liderança no setor de televisão estava aberta a mudanças com a emergência de novas condições tecnológicas. O advento de um concorrente com forte respaldo financeiro e com apoio da cúpula militar e civil do governo brasileiro, XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 39 constituía uma ameaça grave a condição de líder do setor de radiodifusão. A disputa política interna as frações de classe que ascenderam ao poder com o golpe de 1964, opondo os elementos beneficiados com o exercício autoritário do poder, que participavam do controle do Estado aos indivíduos frustrados em suas expectativas políticas, pois apoiaram a deposição de João Goulart e acreditavam não receber o tratamento adequado por seu apoio político em 1964. É pertinente observar que a própria dinâmica do jogo político contribui para a frustração do adversários da associação da Globo com a norteamericana Time-Life. A intensão dos governos militares em eliminar todas as formas de populismo características do período anterior a 1964, cujo principal expoente no setor de comunicação era exatamente o proprietário das Emissoras e Diários Associados, Assis Chateaubriand, favoreceu um tratamento condescendente que favoreceu a Globo. Assis Chateaubriand. Fonte: upload.wikimedia.org /wikipedia/29/09/2009. A associação entre a Globo e a norte-americana Time-Life constituía grave infração ao Código Brasileiro de Telecomunicações, o que não impediu, entretanto, o favorecimento a empresa de Roberto Marinho. A televisão, no Brasil, foi o principal meio de legitimação do autoritarismo, mas na segunda metade da década de 1960 o domínio do mercado televisivo não estava determinado, o que explica a rivalidade entre a Globo e os Diários Associados. As possibilidades técnicas e econômicas constituídas com a expansão dos sistema nacional de telecomunicações somente poderiam ser aproveitadas por empresas dotadas de expressivo poder financeiro e político, capazes de investir maciçamente em tecnologia, administração e produção de conteúdo XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 40 televisivo. O conflito entre a associação Globo/Time-Life e os Diários e Emissoras Associadas, evidenciou esse processo, ao opor um grupo emergente apoiado em expressivo capital estrangeiro, ao maior complexo de comunicação da América Latina da época(HERZ, 1987). A perspectiva delineada com a constituição do sistema nacional de telecomunicações e nas diretrizes econômicas do regime militar, que apesar de favorecer a concentração de renda propiciou o aumento do consumo, especialmente da classe média brasileira, instigava a expansão e consolidação de empresas rentáveis e dinâmicas de televisão, em dimensão nacional. É importante lembrar que o setor de televisão no Brasil estava regionalizado no inicio da década de 1960, pois as condições técnicas como ausência do vídeo-taipe e de um sistema nacional de telecomunicações implicava na inexistência de transmissão em escala nacional. A criação do vídeo-taipe e do sistema nacional de telecomunicações alterou esse quadro, constituindo as condições técnicas para a operação da televisão em escala nacional. Roberto Marinho e o presidente João Figueiredo. Fonte:www.blogspot.com/29/09/09. Apenas a organização empresarial sólida, com a redução dos custos e a otimização dos lucros, ensejaria as condições para o melhor aproveitamento da nova realidade da comunicação no Brasil. A conquista da audiência e do mercado publicitário orientava o conflito entre a associação Globo/Time-Life e os Diários e Emissoras Associadas. O sucesso da TV Globo em compor as alianças adequadas para eliminar as punições a que estava sujeita se fosse condenada, determinou a constituição de um novo modelo empresarial de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 41 administração das empresas de radiodifusão. A Globo aproveitou o máximo da nova estrutura brasileira de telecomunicações em convergência à técnicas racionalizadas de produção de conteúdo de televisão e administração específica para uma empresa de comunicação. A TV Globo conquistou a audiência e consequentemente captou a maior parte dos recursos publicitários canalizados para a televisão. Em poucos anos a concentração dos investimentos em publicidade na televisão significou a destinação da maior fatia dos recursos a TV Globo (ORTIZ, 1991). O escândalo Globo/Time-Life é fundamental para compreensão do desenvolvimento da radiodifusão brasileira. O confronto entre frações de classe que haviam defendido conjuntamente em 1962 os interesses do empresariado da radiodifusão por ocasião da homologação do Código Brasileiro de Telecomunicações e, apoiado a deposição de João Goulart envolveu esta dupla dimensão: a concorrência comercial e o descontentamento com o governo Castelo Branco. As bases da exploração das telecomunicações estavam estabelecidas desde 1962 e foram aprimoradas durante o governo militar, segundo as diretrizes definidas no Código Brasileiro de Telecomunicações. Embora a exploração privada tenha recebido confirmação e garantias legais, a concorrência entre as empresas estimulava a adoção de posturas agressivas na busca de maior audiência e consequentemente do controle do mercado. A combinação de interesses políticos de indivíduos que sentiam-se lesados e a ameaça de uma nova hegemonia no campo da comunicação, caracterizou o campo da comunicação no pós-1964. A proteção oficial a TV Globo auxiliava a estratégia de redefinição do campo político que apoiou a deposição do presidente João Goulart, com a exclusão do exercício do poder dos descontentes ou considerados inadequados para compor os interesses alojados no interior do Estado. Simultaneamente, favorecia-se uma empresa em situação irregular e limitava-se a atuação política dos críticos do governo Castelo Branco que apoiaram sua ascensão ao poder. Portanto, a partir do Código Brasileiro de Telecomunicações delinearam-se duas premissas fundamentais: o monopólio estatal do sistema de telecomunicações e dos serviços (telefonia, telex e telégrafo) e, a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 42 conservação do modelo de exploração privado do rádio e da TV, conforme as expectativas do empresariado do setor de radiodifusão. A construção de uma concepção ampla sobre o setor, que articulava múltiplos interesses, especialmente nas diferenças entre a prestação de serviços de telecomunicações e a exploração da radiodifusão propiciou a constituição de uma nova fase do setor no país, caracterizada por uma maior interferência do Poder executivo na expansão do sistema e, no aumento da participação social dos meios de comunicação de massa, com destaque para a televisão. Ademais, o próprio termo telecomunicações surge somente com as iniciativas de normatização do setor, o que sugere a necessidade de controle estratégico de uma área dinâmica, diversificada e fundamental para a economia em grande escala. Neste sentido, a política brasileira de telecomunicações foi permeada por elementos fundamentais inerentes ao processo histórico brasileiro, cujo conflito de interesses mediado no Estado fecundou seu desenvolvimento. A partir do envolvimento de políticos, empresários e militares foi traçada uma política setorial controlada e centralizada no Estado, mas conduzida em prol da expansão econômica brasileira. O monopólio estatal foi estratégico para canalizar os recursos necessários para a modernização das telecomunicações e, embora o apoio a essa escolha não contasse com todos os empresários do setor, a aliança dos militares e dos representantes do governo João Goulart decidiu o Estado como principal gestor do sistema de telecomunicações. A política de telecomunicações constituiu-se na perspectiva de potencializar o ideal de desenvolvimento e segurança, que, afinal, mediante a composição de vários interesses, estimulou a indústria de equipamentos, a economia e a expansão do mercado consumidor através da televisão. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 43 Bibliografia BENEVIDES, M. V. A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1989. DREYFUSS, R. A. 1964: a conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe. 6ª ed. Petrópolis: Vozes, 2006. FURTADO, C. A economia latino-americana. 3ª ed. São Paulo: Nacional, 1986. HERZ, D. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Tchê!, 1987. HOBSBAWM, E. A era dos extremos. O breve século XX. São Paulo: Companhia das LENHARO, A. Letras, 1995. A sacralização da política. Papirus/UNICAMP: Campinas, 1986. MELO, J. M. Telemania, anestésico social. São Paulo: Edições Loyola, 1981. OLIVEIRA, D. Estado e mercado: telecomunicações no Brasil. São Paulo: Editora Prephacio, 1991. OLIVEIRA, F. A economia brasileira: crítica à razão dualista. Seleções CEBRAP 1. São Paulo: Brasiliense, 1975. ORTIZ, R. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988. SANTOS, M. J. dos. A construção da política brasileira de telecomunicações (1961-1967). Dissertação de mestrado. FCL-Assis/UNESP: Assis, 2000. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 44 SODRÉ, M. O monopólio da fala. Petrópolis: Vozes, 1977. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 45 CARTAS DE PRINCÍPIOS DE PARTIDOS POLÍTICOS ENQUANTO INSTRUMENTOS SOCIAIS OU PRODUTOS DE MARKETING: O CASO DO PARTIDO DEMOCRATAS Mariana Mendes1 e Vinícius Werneck Barbosa Diniz1 Resumo: A contemporaneidade é profundamente marcada pela mídia de massa. Como consequência, a propaganda assumiu um papel preponderante nas campanhas políticas. Nesse ambiente mediado, há instrumentos tradicionais entre os partidos políticos - quais sejam: cartas de fundação, de princípios etc -, que permanecem pouco alterados. Isso não implica, necessariamente, que o significado desses instrumentos também permaneceu o mesmo. De que maneira cartas de fundação ou de princípios se configuram em um contexto, qualificado por Martin Wattenberg (1991), como intensamente centrado nos candidatos? O artigo analisa a Carta de Princípios do Democratas, antigo PFL, e verifica se o documento assume, de forma mais preponderante, o papel de recurso ideológico ou o de produto de marketing. Utilizando-se de discussões sobre política e textualidade, propõe-se ponderar a densidade ideológica do texto, e, a partir daí, sugerir os interesses sobre os quais talvez tenha sido pautada sua confecção. Palavras-Chave: Representação Política; Subtexto Ideológico; Marketing; Partido Democratas. Introdução Dizer que o mundo é hoje diferente do que foi ontem é, de alguma forma, um lugar-comum. Essa ideia é repetida em todas as épocas, e nunca sem razão. A verdadeira questão se localiza nas perguntas que tentam responder quais XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 46 essas diferenças e suas intensidades, importâncias e consequências. As respostas não são consensuais quanto a isso, embora o sejam para a ideia de que algo mudou. Autores de diversas escolas científicas desenvolveram teorizações sobre o momento atual da história. Stuart Hall acredita que vivemos uma modernidade tardia; Zygmunt Bauman, uma modernidade líquida. Há os que se utilizam do conceito pós-modernidade e há os que defendem a hipermodernidade. Em entrevista ao grupo Cibercidades, da UFBA, Gilles Lipovetsky (2008) sumariza uma das percepções sobre esse debate: Quando eu abordei essa noção de pós-moderno, o fiz numa tentativa de explicar fatos novos e uma nova realidade. Os fatos que eu estava assinalando [...] são bem pontuais: o fim das ideologias, o surgimento de uma nova cultura hedonista, o destino da comunicação e do consumo de massa, o psicologismo, o culto do corpo. Todas essas realidades mostravam que havia um novo capitalismo e também um novo tempo da vida democrática. Foi para marcar essa mudança muito importante que empregamos o conceito de pós-moderno, assinalando, assim, uma bifurcação. A nova sociedade que se implantou durante os anos 1950, 60 e 70 estava mais centrada no presente – no hedonismo, no prazer, no consumo, na liberação sexual, – com o fim das grandes crenças políticas. (LIPOVETSKY, 2008) Após defender o conceito pós-modernidade, Lipovetsky modifica seu percurso teórico e declara que ela nunca existiu: “[...] os fatos estavam certos; foi a conceitualização que não estava correta, pois evidentemente não se era pósmoderno, mas se vivia em uma outra modernidade [...] ou mais exatamente em uma hipermodernidade.” (LIPOVETSKY, 2008) Luiz Nazario, em um ensaio sobre o quadro histórico do pós-modernismo, sugere que a pós-modernidade só faz sentido como uma distopia, a despeito do sentido positivo que o conceito de moderno também carrega. Pós-moderno “não como superação dos males da modernidade [...], mas como superação negativa do sentido negativo do fenômeno observado à luz da teoria crítica”. (NAZARIO, 2005, p. 25) Sejam esses fatos novos e essa nova realidade (conforme as palavras utilizadas por Lipovetsky na entrevista), seja a distópica visão da pósmodernidade em Luiz Nazario, fato é que as mudanças pelas quais passou a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 47 sociedade refletiram nas diversas arenas da vida social - não excluindo nesse caminho aquelas que compõem o foco do artigo, a comunicação e a política. Os partidos políticos constituem um desses objetos em rápida transformação (e diretamente relacionados com os processos de mediatização da política). Logo, trabalhos cujo foco concentrem-se nas reconfigurações partidárias, à luz da relação comunicação e política, representam um local privilegiado para a compreensão das mudanças sociais já aludidas. O objetivo deste artigo é compreender a Carta de Princípios do Democratas (antigo PFL), buscando apontar se ela se apresenta enquanto um instrumento de conquista da adesão popular ou como um protocolo que se formaliza durante a fundação (ou refundação) do partido. Sendo um instrumento de adesão popular ou uma das etapas de formalização burocrática de um partido, como ela se comporta nessa nova ambiência da política, claramente relacionada à comunicação de massa? Contexto Político, Democratas E Linguagem A Nova Ambiência Eleitoral O cientista político Paulo Roberto Figueira Leal defende que, levando-se em conta a realidade do cenário eleitoral contemporâneo, há o que se pode chamar de uma “nova ambiência eleitoral”. Sem dúvida, a preocupação de Leal sobre como os eleitores “apreendem, processam e utilizam as informações que recebem no correr de uma campanha” é fundamental para compreender o que nos propomos. (LEAL, 2002, p. 1) Para Leal, há um conjunto de processos que funcionaram como uma americanização das disputas eleitorais ao redor do planeta, os quais sumariza em quatro elementos: a importância do candidato, a racionalidade do eleitor, o impacto da campanha e a influência do sistema eleitoral. Nessa nova ambiência observa-se uma forte personalização das campanhas. Cada vez mais, os candidatos utilizam da formação de uma imagem própria em detrimento das ideologias partidárias, fato que vem sendo registrado por estudos em Comunicação e em Ciência Política. A importância crescente do voto personalizado, o declínio da identificação partidária e o processo de desalinhamento do eleitorado sinalizam para a prevalência dos fatores de curto prazo como determinantes do voto. Martin Wattenberg (1991: 3) designa o fenômeno como a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 48 “ascensão da política centrada nos candidatos”. [...] Em resumo, ele sustenta que, quando a opinião pública tende à neutralidade sobre os partidos, é o candidato quem polariza o debate. (LEAL; DINIZ, 2005, p. 1 e 2) Dentro desse contexto os meios de comunicação tornam-se fortes instrumentos para a construção das imagens dos candidatos, ganhando espaço o marketing político. Roger-Gérard Schwartzenberg afirma que a personalização do poder acabou favorecida pelo que se denomina política-espetáculo: é a superestrutura da sociedade, é o próprio Estado que se transforma em empresa teatral, em Estado-espetáculo. De uma forma sistemática e organizada. Para melhor divertir e iludir o público de cidadãos. Para melhor distrair e desviar. E mais facilmente transformar a esfera política em cena lúdica, em teatro de ilusão. (SCHWARTZENBERG, 1977, p. 9 apud GROHMANN; FERREIRA, 2009, p. 3) É importante ressaltar que essa nova forma de se fazer política é resultado de diversos fatores, que incluem o desenvolvimento dos meios de comunicação - que afetou os modos de interação social -, mudanças da estrutura social, da economia etc. A partir da necessidade de adaptação da política a esse novo contexto social, a propaganda política adquiriu crucial importância. Jean Marie Domenach, a define como uma empresa organizada para influenciar a opinião pública e dirigi-la (2001 apud LEAL; VIEIRA, 2009, p.1). Nesse ponto deve-se fazer uma distinção entre propaganda e publicidade. Segundo Philip Kotler, economista norte-americano, propaganda é fazer “que o comprador reaja mais favoravelmente às ofertas da empresa” (1980, p. 410). Já a publicidade, conforme ressaltam Leal e Vieira (2009, p. 2), se refere a produtos ou pessoas, não a ideias (como na propaganda). Essa sutil (e fundamental) diferença conceitual favoreceu um entrelaçamento desses conceitos, já que, em resumo, a segunda almeja convencer através dos melhores aspectos do produto e a primeira a divulgar uma idéia. Devido à natureza mercadológica da sociedade consumista pósmoderna, a propaganda política internalizou a lógica da publicidade e se apropriou de seu discurso. Nesse contexto, o processo de decisão do voto acaba tendo as mesmas características do processo de decisão de compra. De acordo XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 49 com Philip Kotler, a decisão ocorre em cinco etapas: o reconhecimento do problema, a busca de informações, a avaliação de alternativas, a decisão de compra e o comportamento pós-compra (KOTLER; KELLER, 2006, p. 188 apud LEAL; VIEIRA, 2009, p. 4). A primeira etapa corresponde à busca de soluções para necessidades; a segunda, à procura por informações sobre as opções de solução disponíveis; a terceira analisa e estabelece os juízos de valor finais; a quarta é a decisão final. Na quinta etapa – o comportamento pós-compra – o eleitor/consumidor irá avaliar se há ou não a proximidade esperada entre suas expectativas e o desempenho do candidato/produto. Da mesma forma que Kotler acredita na racionalidade durante o processo de decisão de compra, Samuel Popkin sugere que aquela é um traço distintivo do eleitor típico dessa nova ambiência eleitoral. Seguindo o caminho da psicologia cognitiva e de Anthony Downs, Popkin parte do pressuposto de que as decisões tomadas pelos eleitores têm por base cálculos racionais. (LEAL, 2002, p. 3) Apesar de ser mais comum nos Estados Unidos, esse eleitor médio é, cada vez mais, aquele encontrado pelo resto do mundo. O terceiro ponto levantado na teorização sobre a “nova ambiência eleitoral” é o impacto das campanhas enquanto fenômenos em mutação nas democracias contemporâneas. Leal traz para o debate a tese de Thomas Holbrook de que existe um “ponto de equilíbrio entre as forças políticas na disputa” e de que “a campanha, em essência, serve para ajustar eventuais disparidades, ajudando o resultado a direcionar-se a este ponto de equilíbrio predeterminado por fatores exógenos”. Uma comunicação política eficiente seria “aquela que ajuda os eleitores a identificarem os candidatos ou partidos como agentes efetivamente capazes de oferecerem respostas para os problemas que realmente os preocupam”. (LEAL, 2002, p.4) O sistema eleitoral é também crucial para se compreender a dinâmica pela qual se dá a disputa eleitoral em um país. No Brasil, um sistema proporcional de lista aberta encontra-se em vigor desde 1945. Nesse sistema os eleitores podem votar em um nome (voto nominal) ou em partido (voto de legenda). As cadeiras obtidas pelos partidos (ou pelas coligações entre partidos) XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 50 são posteriormente ocupadas pelos nomes que mais receberam voto naquela lista única. É importante ressaltar que esta passa a ser compartilhada entre os partidos em caso de coligação. Jairo Marconi Nicolau diz que já na década de 50 o sistema brasileiro passou a receber críticas de políticos e estudiosos: Dois pontos apareceram com mais frequência nestas críticas. O primeiro é que durante a campanha eleitoral, ao invés de cooperarem entre si, os candidatos seriam estimulados a competirem pelas possíveis cadeiras obtidas pelos partidos. O segundo é que os candidatos teriam fortes incentivos para pedir voto para si, mas poucos incentivos para enfatizar a campanha partidária, o que contribuiria para promover a „personalização‟ e enfraquecer os partidos. (NICOLAU, 2007, p. 134) Leal complementa essa discussão com a tese de Barry Ames de que, sob sistemas proporcionais de lista aberta, os candidatos tem “poucos incentivos para utilizar apelos ideológicos (pois estes, no lugar de distingui-los dos outros nomes da lista, os aproxima deles)” (2002, p. 5) Todas essas variáveis alijaram do eleitor médio sustentado por Popkin, a ideia de um cidadão cívico, cônscio de suas responsabilidades frente ao bem comum, para o qual ele contribui desinteressadamente. (LEAL, 2002, p. 3) Buscar informações é um processo que apresenta custos, que não são viáveis frente à ausência de estímulos e incentivos: Como o eleitor não tem incentivos em buscar informações políticas, os dados com os quais ele trabalha são subprodutos de informações advindas de outras atividades – pessoais ou econômicas, por exemplo. As informações que se usa para o cálculo político são indiretas e decorrem de impressões geradas em outros campos da vida cotidiana. (LEAL, 2002, p. 3) A forma como se processa a decisão do voto é um debate constante nas ciências sociais e na ciência política. Em um livro dedicado ao assunto, Marcus Figueiredo (2008, p. 156) defende a teoria da decisão bayesiana como a que melhor sustenta a explicação para o fenômeno da decisão eleitoral. Para ele, a teoria da decisão bayesiana “trabalha fundamentalmente com dois conceitos: desejabilidade e desejabilidade esperada das consequências de ações. O primeiro, estático, define o caminho que realiza melhor o desejo individual; o segundo, dinâmico, pondera os caminhos alternativos pelas chances de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 51 sucesso.” (FIGUEIREDO, 2008, 156) Para a teoria da decisão, ter por base apenas o “grau de desejabilidade é fazer uma opção política sem considerar o estado de natureza”, enquanto “decidir racionalmente [...] é usar procedimentos isto é, ações e cálculos intelectuais - que garantam a máxima desejabilidade esperada.” (FIGUEIREDO, 2009, p. 156) É no contexto dessa nova ambiência eleitoral que se pode discutir as estratégias de comunicação dos partidos políticos - inclusive suas Cartas de Princípios. Certamente um documento partidário não representa uma força isolada, mas sim um dos elementos da comunicação partidária, que se dá naquilo que chamamos aqui de nova ambiência eleitoral, descrita por autores como Wattenberg, Popkin e Holbrook, [que] tem três características principais: supervalorização da figura do candidato; eleitor com racionalidade de baixa informação, auto-centrado e propenso à aceitação de atalhos informativos, que facilitem a decisão através do processamento de informações prévias; e campanhas com capacidade limitada de garantir vitórias, obrigando os atores políticos à consideração de outras estratégias de conexão eleitoral e de comunicação mais duradouras. (LEAL, 2002, p. 5) Análise Histórica do Democratas O Democratas é um partido político brasileiro que se localiza à direita no espectro partidário do país. A legenda foi fundada em março de 2007, quando uma convenção do PFL (Partido da Frente Liberal) aprovou a troca do nome, a nova sigla DEM e o nome de Rodrigo Maia para a presidência. (PFL..., 2007) Em entrevista ao portal de notícias G1, o então presidente do Democratas sugere que a mudança de nome foi uma reação a um novo ciclo de populismo na América Latina. (ENTREVISTA..., 2007) Preocupado com esse ciclo, Maia posiciona “populismo versus democracia”, fazendo uso do que se chama na ciência política de contraconceito assimétrico: o elemento positivo é sempre aquele que se refere à identidade do grupo que nomeia, enquanto o negativo, ao outro (FERES JUNIOR, 2007, p. 99) Da mesma forma, construiu-se na história os clássicos conceitos de cristão versus pagão e de grego versus bárbaro; a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 52 entrevista dada por Maia sugere agora o par populismo versus democracia, este como o elemento positivo e aquele como o negativo - um avesso das qualidades do Eu coletivo. (FERES JUNIOR, 2007, p. 99) Outro motivo aventado para justificar as decisões da convenção de 2007 foi o desempenho eleitoral insatisfatório das últimas eleições, quando o PFL diminuiu a bancada na Câmara dos Deputados e ficou com apenas um governo estadual (PFL..., 2007). Desde sua fundação, o PFL participou da base de apoio de todos os governos até 2002, quando passou para a oposição após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (do Partido dos Trabalhadores). No resumo histórico desenvolvido no site oficial, o Democratas defende que a escolha do nome do partido, substituindo PFL, “reafirma o mesmo espírito criativo e firme da ação política de 1984”. (HISTÓRIA, 2009) Naquela época, quando esboçava-se a transição do regime autoritário para a democracia, o PFL ainda não tinha sido formado. Entretanto, um grupo de parlamentares do PDS (Partido Democrático Social) iniciou um ousado movimento independente da cúpula partidária: Cansada de maltratar leads (o primeiro parágrafo de uma reportagem, que gera o título) com a longa referência aos “deputados do movimento dissidente do PDS” [...], a jornalista Maria Inês Nassif [...] decidiu arranjar uma denominação, ou um carimbo, para definir de forma sucinta e clara o que era aquele movimento. [...] Foi assim que surgiu e se firmou a expressão “Frente Liberal” para designar o grupo de senadores e deputados do PDS que se insubordinavam contra o regime, contra o governo Figueiredo e contra a candidatura Paulo Maluf. (CANTANHÊDE, 2001, p. 86) A Frente Liberal aliou-se então ao PMDB para apoiar um candidato de oposição. O escolhido foi o governador mineiro Tancredo Neves, do PMDB, que teria como vice o senador José Sarney, do PDS. Por exigência da legislação eleitoral, a chapa deveria ser formada por dois integrantes do mesmo partido, o que levou Sarney a filiar-se ao PMDB. A mesma legislação, no entanto, não impediu os integrantes da Frente Liberal, ainda filiados ao PDS, de votarem no candidato da oposição. (SCHMITT, 2000, p. 59 e 60) A formalização da Frente Liberal enquanto partido aconteceu em janeiro de 1985, após a eleição de Tancredo Neves, e foi registrada no TSE em setembro de 1986. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 53 A Sugestividade das Palavras Um artigo que se proponha analisar a Carta de Princípios de um partido político, não poderia renunciar ao uso de discussões acerca da própria textualidade. Conforme Confúcio bem definiu nos Analetos, sem conhecer a linguagem não se pode conhecer o homem. A Carta, apresentada pelo Democratas, contém 20 tópicos nos quais são expostos os princípios que norteariam a prática partidária. São duas páginas, que poderiam ser analisadas a partir de diferentes referenciais teóricos das ciências que trabalham com a linguagem. Kotler, por exemplo, já citado anteriormente, sustenta que “a comunicação persuasiva acontece quando um emitente conscientemente desenvolve sua mensagem no sentido de conseguir um efeito calculado sobre a atitude e/ou no comportamento do público visado”. (1980. p. 381) Claramente, não apenas no marketing a comunicação se dá para alcançar efeitos específicos. O mesmo pode ser dito sobre a fala cotidiana, sobre as relações interpessoais e, certamente, sobre o discurso político. Se habitualmente estruturamos a fala objetivando determinado fim, o discurso político produzido durante a propaganda eleitoral pode ser revelador não apenas das reais intenções discursivas de quem fala, mas também dos valores ideológicos de fundo.(LEAL; DINIZ, 2005, p. 3) O discurso político é eminentemente persuasivo, visto que em um contexto democrático como o que se configura no Brasil, o político é alçado à condição de representante através da instituição do voto. Para ele, o grande desafio é apresentar-se, nas campanhas eleitorais, como a opção mais adequada para os eleitores - grupo social que garante sua posição na esfera política. Leal e Diniz sugerem que as manifestações discursivas dos indivíduos reverberam valores dos grupos sociais aos quais pertencem. (LEAL; DINIZ, 2005). Citado pelos dois autores, o linguista José Luiz Fiorin defende uma posição que compartilhamos: A cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva (...). É com essa formação discursiva assimilada que o homem constrói seus discursos, que ele reage XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 54 lingüisticamente aos acontecimentos. (FIORIN, 2004, p. 32 apud LEAL; DINIZ, 2005, p. 4) Não existe texto descomprometido e não há como se evitar a tendenciosidade.(LAGE, 1998) Entretanto, se “esta decorre de interesse, de preconceito, de legítima vontade de compreender ou da intenção maliciosa de enganar é algo de avaliação complicada.” (LAGE, 1998, p 103) Lage defende em sua obra que não apenas a escolha das palavras influi na produção de sentido, mas também o fazem as estruturas argumentativas, os elementos enfatizados e o contexto em que se localiza o discurso. Não decorre daí que haja algum juízo de valor a ser elaborado no presente estudo sobre a comunicação perpetrada pela Carta de Princípios do Democratas. Como adverte Nilson Lage, tal empreitada seria complicada - para não dizer inadequada. Isso não impede que uma análise da linguagem e de sua utilização, sejam ferramentas para compreender um objeto teórico. Textos (orais, escritos ou construídos com qualquer matéria prima de signos verbais ou não verbais) podem ser compreendidos em distintas camadas de significação. Por debaixo da região mais superficial daquilo que está dito, os níveis mais profundos de interpretação podem revelar visões de mundo, perspectivas filosóficas e, fundamentalmente, valores ideológicos. (LEAL; DINIZ, 2005, p. 3) Forma e Conteúdo A Carta de Princípios do Democratas estrutura-se em 20 tópicos que discutem diversos pontos, sobre os quais se pautariam as atuações do partido. Diversas legendas têm sido acusadas de não seguirem seus manifestos fundadores ou suas cartas de princípios, ao longo da trajetória política brasileira. É possível que diversos partidos sequer possam ser reconhecidos a partir da leitura de seus manifestos fundadores, o que não parece alterar muito suas chances de sucesso eleitoral. Entretanto, independente de onde o Democratas se localize nessa discussão sobre a relação entre os partidos e suas cartas de fundação, é interessante notar que, com a refundação da legenda em 2007, a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 55 Carta de Princípios é aquela desejada pelo partido atual. Se a Carta não foi modificada, ela continuava representando o partido e foi respaldada; caso tenha sido alterada, ela estava desatualizada, mas agora se encontra ratificada. Nesse sentido, esse episódio a torna diferente da Carta de outros partidos, e nenhum integrante do Democratas poderia argumentar que tempos novos exigem novas metodologias, e que estas não são contempladas pelos documentos escritos na fundação do partido. Entretanto, como entender essa Carta (bem como Manifestos de Fundação, Programas de governo, Diretrizes partidárias etc) no contexto da nova ambiência eleitoral? Em um cenário no qual o eleitor típico decide seu voto a partir de atalhos e não de uma pesquisa extensa dos atores políticos envolvidos na campanha, uma pergunta, então, se coloca: não seria a Carta de princípios um excelente atalho para a decisão de voto desse eleitor típico? Ao levar em conta as outras variáveis componentes da nova ambiência eleitoral, e não apenas aquela que comenta sobre os atalhos para a decisão do voto, parece-nos que o fenômeno se inverte. Outro elemento importante na nova ambiência descrita por Leal (2002), o aumento da importância dos candidatos em detrimento dos partidos - e consequentemente das qualidades dos candidatos a despeito daquelas possuídas pelos partidos -, indica que um instrumento coletivo como a Carta de Princípios se enfraqueceria enquanto mecanismo de conquista do voto. O adensamento da disputa interna nos partidos (expressa na falta de unidade partidária) também ajudou a deslocar o eixo da discussão para as qualidades dos candidatos e para fatores de curto prazo. Competência, integridade, capacidade de decisão, carisma e atributos pessoais (aparência, idade, religião, saúde etc.) preenchem o espaço deixado vago pela discussão política, sobretudo em disputas pouco ideologizadas, como as norte- americanas. (LEAL; DINIZ, 2005, p. 1 e 2) XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 56 Aliada a outras variáveis dessa nova ambiência eleitoral, a personalização alija do processo eleitoral elementos ideológicos. Essa percepção encontra respaldo também na tese de Barry Ames já identificada anteriormente, pela qual a personalização das campanhas torna desinteressante o uso de argumentos ideológicos, pois estes aproximam os candidatos ao invés de diferenciá-los. Defender uma Carta de princípios coletiva dificultaria a personalização das campanhas, fundamental num sistema eleitoral (outra das variáveis da tese de Leal) como o brasileiro. Não é necessária uma busca ao dicionário para concordarmos que um documento que reúne os princípios de um partido, se propõe a sumarizar os valores, as teses, as crenças bem como as convicções mais caras, às quais a lógica partidária se submeteria. Já no título do presente artigo, aventamos a dúvida sobre o objetivo final de um documento como a Carta de Princípios partidária. Uma das interpretações sugere que ela se configura enquanto um espaço de sincera exposição de informações que a legenda entende como de importante veiculação. Outra, enquanto mero instrumento para fomentar a adesão eleitoral-partidária, subjugando os princípios à dinâmica partidária. Há ainda a hipótese de que a Carta nada mais seria que uma formalização de requisitos burocráticos, necessários no momento da fundação: a mesma ideia se manteria e protocolar também seria seu emprego posterior. Essas hipóteses podem se conjugar de formas e intensidades variadas: um partido, por exemplo, que inicialmente entende a Carta como uma obrigação protocolar, pode, posteriormente, tanto utilizá-la para sincera exposição de suas convicções como para divulgar seus interesses de uma perspectiva puramente pragmática. É provavelmente consensual que o mais adequado para um regime democrático seja o uso da Carta de Princípios enquanto instrumento de divulgação ideológica, que informa o cidadão sobre os reais valores que representam a essência partidária. De nada adiantaria tal documento se, após escrito, não fosse disponibilizado pelos partidos aos cidadãos: torná-lo acessível física ou eletronicamente é, portanto, um passo importante para alcançar seu objetivo final. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 57 Quando se imagina, portanto, a existência de uma Carta de Princípios e sua posterior publicização, há outra variável fundamental que não pode ser esquecida: além do acesso físico, é imprescindível o acesso que se poderia chamar de subjetivo ou intelectual. Desde as iniciais teorias da linguística, um dos requisitos fundamentais para que a comunicação se estabeleça é o compartilhamento de um código. Nesse sentido, a carta não poderia ser escrita em uma língua desconhecida do público alvo (seria criticada, obviamente, se fosse escrita em inglês ou outra língua estrangeira). Mas há códigos que subjazem a própria língua portuguesa, tornando uma forma dialetal incompreensível fora de seu local de uso corrente, da mesma forma que uma norma culta não é compreensível para grande parte dos cidadãos. O público alvo de um partido político brasileiro é claramente heterogêneo, visto que, no país, tem direitos eleitorais todo aquele nascido no Brasil ou naturalizado brasileiro, maior de 16 anos, alfabetizado ou não, não importando gênero, raça, etnicidade, religião, posição social etc. Comunicar com um público tão diversificado é certamente um desafio que não é exclusivo de uma Carta de Princípios. No jornalismo impresso a linguagem também deve receber um cuidado especial para que atenda a um público extenso e diversificado: seja por conta do interesse público (quando o jornalista se esforça para produzir textos acessíveis e claros), seja por conta do interesse econômico (quando para gerar capital a empresa jornalística deve alcançar tiragens cada vez maiores de seus veículos informativos). Nessa busca do texto mais adequado, diversos jornais incluíram no meio jornalístico os manuais de redação. Constituídos de normatizações estéticas (como organizar informações visualmente), gramaticais e mesmo padronizações de um texto com a “cara” do veículo, todos postulam um uso da variante formal da língua aliada à simplicidade e concisão: “O texto de jornal deve ter estilo próximo da linguagem cotidiana, mas sem deixar de ser fiel à norma culta, evitando erros gramaticais, gíria, vulgaridade e deselegância.” (MANUAL..., 2009 XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 58 A) Da mesma forma que Nilson Lage, estudioso da língua e dos processos comunicativos, ressalta em seu livro a importância das escolhas vocabulares, a Folha de São Paulo sugere em seu Manual de Redação o uso de um conjunto lexical que não dificulte a compreensão do texto: Escolha a palavra mais simples e a expressão mais direta e clara possível, sem tornar o texto impreciso. Palavras difíceis e construções rebuscadas dificultam a comunicação e tornam o texto pedante: Ele não sabe quanto saiu a compra é melhor que Ele não dispõe dos custos exatos da transação comercial. (MANUAL, 2009 A) As mesmas recomendações não se restringem aos manuais de veículos de jornalismo impresso, sendo encontradas, por exemplo, no Manual de Redação do Banco do Brasil: a linguagem “deve ser simples, direta e objetiva, que vá direto ao assunto, evitando-se linguagem restrita a determinados grupos”. (MANUAL..., 2009 C, p.3) O jornal do próprio Senado e sua agência de notícias publicou um Manual que tem posicionamento semelhante: As matérias devem ser claras e concisas. O repórter deve optar sem- pre pela simplicidade, escrever de forma direta, em linguagem acessível, e evitar alongar-se sem necessidade. A economia de palavras pode tornar mais fácil a compreensão do texto. (MANUAL..., 2009 D, p.11 e 12) Algumas semelhanças podem ser encontradas, portanto, entre o texto jornalístico e aquele adequado para a redação de um documento partidário destinado ao grande público. Embora possa haver vocabulários específicos de um e de outro objeto, a ideia sustentada pela Folha quando diz que o texto deve ser direto, objetivo e claro, é também necessária para uma democratização do acesso ao texto de uma carta de princípios partidários. Representantes do Democratas (como o já citado Rodrigo Maia) enfatizaram que uma das teses mais importantes para o partido é a democracia. Nesse sentido, o partido não se propõe a falar para elites (quando se analisa a partir da ênfase discursiva oficial promovida pelos líderes partidários), mas para o país e para o povo. Não é, no entanto, o que sugere uma leitura crítica da Carta de Princípios do partido, que usa de uma linguagem profundamente marcada por escolhas lexicais e estruturas textuais rebuscadas. Contrariando a lógica dificilmente XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 59 atacável de que a democratização da informação e da participação exige um cuidado especial com a linguagem, a Carta, por vezes, exige grandes esforços de quem se propõe a entendê-la: o texto “não deve ser redigido com períodos longos e frases intercaladas, que obrigam o leitor a uma ginástica mental para” compreendê-lo. (MANUAL..., 2009 C, p. 12) Mas as escolhas lexicais e estruturais rebuscadas, as frases intercaladas, os períodos longos e a profusão de ideias em um mesmo item estão presentes ao longo do texto. O §12 da Carta de Princípios1, por exemplo, inicia-se com o uso de uma palavra comum, porém a partir de uma acepção pouco usual, e mais à frente emprega um termo que dificilmente faria parte de um texto escrito para um público heterogêneo. Reclamar uma justa distribuição da renda e da riqueza e um crescimento equilibrado das regiões, objetivando a equanimidade no processo de desenvolvimento. (§ 12) Há termos cujo uso é inevitável, pela ausência de correspondentes de mais fácil compreensão. Entretanto, se o tópico em questão fosse reescrito utilizandose dos termos “exigir” (ou buscar, lutar por...) e “igualdade” em lugar de “reclamar” e “equanimidade”, certamente o documento alcançaria um público mais extenso, sem prejuízo do sentido. Esse questionamento feito ao § 12 pode ser estendido a outros 16 itens, excluindo-se, provavelmente, os §§ 3, 5 e 15. Já o § 11, contém em um único período de cinco linhas, múltiplas ideias defendidas a partir de um léxico pouco acessível: Propugnar por um desenvolvimento que vise à realização integral do homem, a partir de um processo de mudança qualitativa nas relações sociais, voltado para a prosperidade econômica, equidade social e equilíbrio regional, assentado em um relacionamento harmonioso com o nosso patrimônio ecológico e consentâneo com nossa cultura. (§11) Palavras ou expressões retiradas do trecho acima, como “propugnar”, “mudança qualitativa”, “assentado”e “consentâneo”, são de difícil compreensão. Pode-se dizer que a dificuldade aumenta quando são utilizadas para tratar de um XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 60 tema complexo como as convicções políticas. Aumenta ainda mais quando empregadas em conjunto e em um período tão longo. O Manual de Redação da Folha de São Paulo trata dessa questão de maneira objetiva: Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizarse das formas mais simples admitidas pela norma culta da língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e que cada frase contenha uma só idéia. (MANUAL..., 2009 B) Todo o documento está permeado de vocabulário que seria classificado pelo Manual da Folha de pouco claro e direto. As conclusões sobre a impropriedade vocabular de termos como os expostos acima são praticamente auto-evidentes, principalmente quando são lidas levando em consideração a realidade socio-educacional brasileira. A despeito dessa auto-evidência, uma análise quantitativa colabora para uma percepção mais apurada da questão. Optamos por uma metodologia que avaliasse a frequência com que as palavras da Carta de Princípios do Democratas seria utilizada nos textos jornalísticos da Folha de São Paulo, conscientemente pensados para serem acessíveis ao grande público. Admitimos a possibilidade de falha do método, enquanto única forma de avaliar a propriedade linguística de um material. Entretanto, aliando os números obtidos ao bom senso indispensável à prática analítica, acreditamos que as conclusões saem fortalecidas. Verificamos, portanto, no sistema de buscas integrado ao site da Folha, o número de ocorrências de cada palavra utilizada para a escritura da Carta de Princípios do Democratas. Cada um desses números, que variaram de 1 (consentâneo) a 613.720 (mais), foram recolhidos e dispostos em tabelas para análise posterior. Fizemos o mesmo com textos jornalísticos, dos cadernos “Dinheiro”, “Educação”, “Cotidiano”, “Brasil” e “Mundo”, por serem provavelmente aqueles que possuem discussões que mais frequentemente tangenciariam aquelas efetuadas pelo documento do Democratas. Obtivemos uma média, por texto, dividindo a soma do número de ocorrências das palavras pela quantidade de palavras; portanto, a média da XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 61 sessão Dinheiro, foi obtida dividindo 2.706.223 por 50 (número de palavras que foram objeto de busca). O resultado, 54.124, é a média encontrada para o caderno. As matérias escolhidas foram sempre as que constavam como as mais lidas de cada sessão.1 A média final das 5 sessões, considerada pelo artigo como a média da FSP é 59.011. A mesma metodologia, utilizada para verificar a Carta de Princípios do Democratas, resultou em uma média final de 21.364, quase 3 vezes abaixo da média da FSP, e quase 4 vezes quando comparada à média do caderno “Cotidiano”. Quando analisadas pela mesma metodologia as 20 palavras mais infrequentes de cada texto, acontece um fenômeno interessante. Enquanto a média, nos textos da Folha de São Paulo, é de 4.743 ocorrências, a média das 20 palavras menos usadas entre aquelas encontradas na Carta de Princípios é de 33. As 20 palavras mais incomuns da Carta são, portanto, 143 vezes menos utilizadas que as 20 menos usadas nos textos da Folha. À essa análise quantitativa pode se somar uma simples análise do bom senso, através da leitura das palavras: consentâneo (1 ocorrência), preeminência (1), perfilhar (2), pugnar (2), propugnar (4), imobilistas (7), equanimidade (8), preconizar (9), consubstanciada (12), consignar (20), legitimada (32), espúrios (35), desfrute (41), primado (51), ascenção (53), harmonioso (52), vise (72), acepção (75), postular (83), inviolável (85). Outras palavras não menos complexas também são encontradas no documento, como ingerência, equidade, pêndulo e cerceamento. Considerações Finais Esse uso da linguagem afasta da possibilidade de entendimento todo aquele que não domina essa variante específica da língua; por sua vez, esse afastamento tem consequências perversas. A primeira - e mais óbvia: nem todos os eleitores têm acesso àquilo que o partido tem por princípios. A segunda também grave: muitos dos cidadãos desejosos em filiarem-se ao partido, serão levados a fazê-lo a despeito da compreensão de um conjunto de princípios que deveriam norteá-lo e com os quais deveria estar de acordo prévio. A terceira - e XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 62 sintomática: se não há desejo ontológico em promover uma compreensão do conjunto de princípios, nem ao eleitor, nem ao possível filiado, conclui-se que a Carta não possui qualquer valor na dinâmica político-eleitoral brasileira; a desideologização das campanhas chegou ao ápice de que um texto contendo um corpo de princípios partidários não necessariamente precisa estar acessível, física e intelectualmente, para o conjunto de todos os membros da pólis ou do demos. Não é só o cidadão comum que está privado de uma discussão dos princípios partidários, mas também muitos políticos. Todos têm o direito de escolher livremente a variante linguística que desejarem, mas é sintomático que uma Carta de Princípios seja um desses textos que se tornam elitizados pelo uso excessivo de determinadas terminologias e estruturas frasais. É possível concluir que, para um partido cuja principal defesa é a democracia, não houve preocupação em divulgar democraticamente as crenças e valores que pautam sua atuação. A Carta - como os demais documentos - poderia ser um instrumento de seminal importância para discussão de visões de representatividade, ideologias partidárias, percepções de democracia e, mesmo, de partido. Não é assim que tem funcionado. Em nossa conclusão, não acreditamos que tal situação se restrinja ao Democratas. A pesquisa apreciou teoricamente a questão e depois verificou seus pontos no estudo de caso sobre o documento do Democratas. Acreditamos, no entanto, que essa situação se repete em grande parte do espectro político-partidário brasileiro: não necessariamente por meio de uma linguagem hermética, no entanto, mas de formas variadas. Quantos eleitores leram, sabem e conhecem as cartas de princípios e manifestos fundadores dos partidos em cujos candidatos votaram nas últimas eleições? A pergunta incluída no título do artigo e refeita algumas páginas acima talvez tenha sim uma resposta: as cartas de princípios - bem como os principais documentos partidários - não são hoje nem peças úteis para o marketing eleitoral, nem documentos de exposição ideológica para conquista de adesão popular. Esses documentos representam um papel burocrático e protocolar. Acreditamos que esse é um dos sintomas da nova ambiência eleitoral. Uma das pesquisas que não foi feita mas provavelmente seria responsável por interessantes resultados, é verificar de que outras formas as cartas de princípios XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 63 alijam os interessados da possibilidade de compreensão e discussão. Uma análise do discurso, seja de matriz francesa ou não, provavelmente demonstraria que as cartas possuem diversos significados sob a óbvia e mais clara camada de significação. Referências Bibliográficas CARTA de Princípios. Partido Democratas. 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Cambridge: Harvard University Press, 1991. 6 ANEXOS 6.1 CARTA DE PRINCÍPIOS DO DEMOCRATAS O Democratas tem por princípios: 1. Defender o primado da democracia, regime político que melhor responde às necessidades e aspirações do homem civilizado, no qual o governo é escolhido pela maioria, respeitados os direitos da minoria e assegurada a alternância do poder. 2. Lutar pela instauração da plenitude democrática, consubstanciada na existência de instituições públicas sólidas e estáveis, e na exigência de que a lei, legitimada pela representação popular, seja efetivamente igual a todos. 3. Advogar o direito que todos tem de expressar, livremente, seus credos religiosos e convicções políticas, como condição fundamental à existência do Estado democrático. 4. Consignar seu repúdio a todas as formas de totalitarismo ou de autoritarismo, reconhecendo contudo que é dever do Estado moderno defender-se da ação dos seus inimigos, dentro da lei, e sem sacrifício das liberdades fundamentais que constituem a essência da democracia. 5. Colocar-se firmemente contra qualquer espécie de discriminação e preconceito, quanto à religião, sexo e raça, bem como defender o direito das minorias. 6. Afirmar sua crença de que os homens são basicamente iguais em direitos e que a pessoa humana é inviolável em sua dignidade, não podendo sofrer quaisquer restrições que não aquelas necessárias à preservação de sua própria integridade e de seu semelhante, e à defesa do bem comum. 7. Proclamar a preeminência e exigir o efetivo exercício dos direitos humanos, em sua acepção moderna e dinâmica, que, além das liberdades públicas fundamentais, abrangem os direitos econômicos, os direitos sociais, os direitos culturais, os direitos ecológicos, e o direito à privacidade. 8. Pugnar pela expansão das perspectivas de vida do cidadão, de modo a permitir que um número cada vez maior de pessoas desfrute de oportunidades cada vez melhores e que os indivíduos possam ser livres para trabalhar e criar segundo suas aptidões, respeitando cada um o direito dos demais. 9. Estimular e promover permanentemente a reorganização e renovação da sociedade brasileira, tornando-a espontânea e pluralista, ampliando as vias de ascensão social e política para as novas gerações e promovendo a valorização da mulher, de modo que sua participação seja efetiva e integral, sem limitações, discriminações, ou preconceitos. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 66 10. Preconizar a mudança social dentro da ordem democrática, recusando soluções violentas incompatíveis com as nossas tradições, e posturas imobilistas, que conflitem com as exigências de transformação da sociedade. 11. Propugnar por um desenvolvimento que vise à realização integral do homem, a partir de um processo de mudança qualitativa nas relações sociais, voltado para a prosperidade econômica, equidade social e equilíbrio regional, assentado em um relacionamento harmonioso com o nosso patrimônio ecológico e consentâneo com nossa cultura. 12. Reclamar uma justa distribuição da renda e da riqueza e um crescimento equilibrado das regiões, objetivando a equanimidade no processo de desenvolvimento. 13. Exigir uma ampla participação da comunidade na formulação e implantação de decisões que aproveitem ao desenvolvimento nacional, bem como na fiscalização dos atos governamentais. 14. Perfilhar o respeito ao direito de propriedade, com reconhecimento das responsabilidades sociais inerentes ao exercício desse direito, tendo em conta que o interesse individual não pode se sobrepor ao interesse coletivo. 15. Reconhecer a livre iniciativa como elemento dinâmico da economia e a empresa privada nacional como agente principal da vida econômica do País. 16. Admitir a ingerência do Estado na economia, nos limites da lei, com a finalidade de promover o desenvolvimento, regular as relações sociais, condicionar o uso da propriedade a seu papel social e evitar a exploração predatória dos recursos naturais, sem que, contudo, em nenhuma hipótese, resulte em constrangimentos espúrios ao livre-mercado ou no cerceamento das liberdades do cidadão. 17. Concorrer para o fortalecimento da organização sindical e o equilíbrio nas relações entre o capital e o trabalho. 18. Postular a modernização permanente das Forças Armadas, como requisito indispensável à defesa da soberania nacional e das instituições democráticas. 19. Propor uma política externa, fundada no princípio da igualdade soberana dos Estados e no respeito à autodeterminação dos povos e a não-ingerência nos assuntos internos dos outros países orientada em favor da paz mundial, do desarmamento, de uma divisão mais justa do poder político e econômico mundial e de um maior acesso dos países em desenvolvimento aos frutos do progresso material e voltada para o estabelecimento de relações com todas as nações que desejem cooperar com o Brasil, à base do respeito mútuo. 20. Empenhar-se em favor de um ordenamento constitucional que resulte da manifestação livre e soberana do povo brasileiro. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 67 MARKETING POLÍTICO EM CAMPANHAS ELEITORIAS PROPORCIONAIS: UM ESTUDO DE ESTRATÉGICAS NA ELEIÇÃO 2008 EM MAUÁ - SP Kelly Cristine Chasci, Débora Alves Pereira E Roberto Gondo Macedo Resumo: As estratégias de comunicação política contemplam todos os níveis do sistema político, porém, quando existe a necessidade de desenvolvimento de campanhas de construção de imagem pública, pré-eleitoral, eleitoral e póseleitoral, o cargo que o ator político ocupa ou pretende ocupar, influencia diretamente nas ações que serão estrategicamente elaboradas com o objetivo de promoção de credibilidade na identidade do político, em suas mais diversas aparições e atividades na sociedade. O objetivo do artigo é descrever a atuação de candidatos nas eleições municipais de 2008 para a conquista de uma cadeira no legislativo do município de Mauá, no estado de São Paulo, cujo universo de votantes aproxima-se de 250 mil eleitores, apontando suas estratégias de campanha, envolvimento do potencial grupo de eleitores e suas opiniões acerca do Marketing Político como ferramental de sucesso nos resultados eleitorais. Palavras-Chave: Marketing Político; Estratégia Eleitoral; Campanha Eleitoral; Voto. Introdução A interpretação da palavra “política” para a sociedade está cada vez mais relacionada e vinculada a processos de ineficiência administrativa e problemas derivados de corrupção em todas as escalas do poder público. Essa XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 68 imagem denegrida influencia diretamente na compreensão, escolha e participação do cidadão em suas obrigações democráticas. O marketing político vem se desenvolvendo continuamente, mas somente após 1945 quando o regime totalitário do governo deu lugar ao poder de escolha que se começou a trabalhar com o auxílio de profissionais, a imagem de forma positiva aos olhos do povo. Com a última eleição direta para presidente em 1960, o Brasil enfrentou o regime militar desde 1964 sob muita opressão e dificuldades, tudo era controlado pelo governo e qualquer manifestação de oposição era sinônimo de forte represaria. Após épocas intercaladas entre democracia (idéia desenvolvida pelos gregos onde as pessoas têm participação ativa em processos decisórios), e ditadura em 1974 o marketing se revela nos meios de comunicação, porém ainda com muita cautela e também limitado pela Lei Falcão que só autorizava em campanhas políticas a apresentação de foto e currículo do candidato. A partir de 1984 com a campanha das “Diretas Já” ressurgiu na população a esperança e coragem de lutar pelos seus direitos, juntamente com outras lideranças como a UNE (União Nacional dos Estudantes), sindicatos como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), artistas, religiosos e intelectuais. Também nesta época o marketing se faz fortemente presente através do rádio e televisão mostrando os comícios, atividades dos candidatos junto à população, emissão das propostas, entre outras manifestações. Entre tantas manifestações dois comícios foram marcantes, um no Rio de Janeiro em 10/04/1984, e outro no dia 16/04/1984 em São Paulo, mais de um milhão de pessoas se reuniram na Praça da Sé, num grandioso evento movido pela esperança e pela sede de democracia. Segundo dados do IBOPE (2006) “em média 85% da população que votam fazem relação entre boa imagem e comunicação com responsabilidade e justiça”, por isso é necessária uma pesquisa complexa e minuciosa quanto às necessidades e expectativas da população seja realizada, a fim de fornecer dados que permitam a tomada de decisão e avaliação das ações já em andamento. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 69 Todo este processo serve como base em prol de novas estratégias ao decorrer da campanha. E inevitável relacionar política ao período eleitoral e tudo o que ele implica para promover a imagem do candidato, pois este mercado eleitoral apresenta características diferentes de qualquer outro, está cercado de desafios como, por exemplo, saber lidar com diferentes públicos nas mais diversas situações, Origem e Conceituação do Marketing Político O marketing político está ligado à evolução da comunicação e dos princípios da democracia, direcionado a idéia de participação das pessoas nos processos decisórios, vindo historicamente desde a época das repúblicas da Grécia, que tinham como referência votar em todos os cargos. As assembléias normalmente aconteciam em períodos de lua cheia, com eleitores maiores de trinta anos e sem manchas em sua reputação, e assim através de aclamações mais imponentes a população elegia seus representantes. Já nesta época o marketing político se fazia presente através de banquetes em honra ao candidato onde se destacavam suas qualidades e benevolência, aplausos calorosos iniciados por seus súditos diretos durantes as assembléias, e também os cânticos comparados atualmente aos jingles de campanha. O marketing político é um conjunto de técnicas e procedimentos que tem como objetivos adequar um (a) candidato (a) ao seu eleitorado potencial, procurando fazê-lo, num primeiro momento, conhecido do maior número de eleitores possível e, em seguida, mostrando-o diferente de seus adversários, obviamente melhor do que eles. (FIGUEIREDO, 1994, p.10). A comunicação vem se adaptando, porém somente isto não basta, a evolução tecnológica veio complementar o marketing no processo eleitoral através do rádio, da televisão, celular, computador, entre outros. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 70 Todas estas modalidades vêm se aprimorando junto com a habilidade de tratar as pessoas que é um fator essencial, e todo este conjunto deve ser continuamente trabalhado por todos os envolvidos em uma campanha política. Segundo Tavares & Torrezam (2007, p.12) “contudo, principalmente na época em questão, os candidatos precisavam se não estar com a população, transmitir sua mensagem e seus ideais para seus eleitores”. Nos Estados Unidos após 1945 a democracia trouxe consigo o acesso às informações e o poder de escolha, porém só se pode ver a ação do marketing político em campanha televisiva no ano de 1952 através da candidatura do General Dwight Eisenhower do partido republicano. O marketing político dava seus primeiros passos no país por intermédio da agência BBDO responsável pela campanha do General, surgia então uma das principais preocupações dos profissionais de marketing político que é a adaptação do discurso do candidato, Após a eleição do General Eisenhower com a contribuição do marketing político, os republicanos reservaram 20 milhões de dólares em investimentos. Com a evolução dos tempos e formas de comunicação, o marketing político se faz extremamente necessário como diferencial competitivo, ele tem como objetivo moldar o candidato, seu discurso, sua postura até mesmo sua imagem de acordo com as expectativas do eleitorado, não somente em campanha eleitoral, mas ao longo dos quatro anos de mandato, que é a essência do marketing político. Há uma diferença entre marketing político e marketing eleitoral, porém ambos se completam, são processos distintos, o marketing eleitoral entra em atividade exatamente nos meses de campanha que antecedem a eleição, já o marketing político é mais complexo, ele é permanentemente trabalhado ao decorrer dos quatro anos, “[...] estamos tratando de uma estratégia permanente de aproximação do partido e do candidato com o cidadão em geral”. (GOMES, 2004, p.27). No processo de marketing político são pesquisadas e reconhecidas as necessidades da população, para que a proposta do candidato se ajuste as expectativas do seu público alvo, há uma diferença entre marketing político e XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 71 marketing eleitoral, porém ambos se completam, são processos distintos, o marketing eleitoral entra em atividade exatamente nos meses de campanha que antecedem a eleição, já o marketing político é mais complexo, ele é permanentemente trabalhado ao decorrer dos quatro anos, durante o período de mandato o político deve ter ciência de tudo o que fala, faz ou não, irá refletir em sua futura campanha, por que conquistar os eleitores não é uma tarefa fácil, ainda mais difícil é torná-lo fiel. Para alcançar este objetivo devem-se conhecer as necessidades das pessoas, pois são elas que irão direcionar a campanha, e proporcionar vantagens cumulativas para que se possa aproveitá-las futuramente em novas plataformas políticas. Além de fidelizar a população, o marketing político tem entre suas metas formar novos eleitores, aproximá-los da política e do candidato. Conforme vão surgindo este novo público, o partido deve se adequar as novas necessidades que vem junto a eles, a plataforma política deve ser flexível para que comporte o maior número possível de eleitores interessados e comprometidos. As diversas atividades políticas no mundo afetam diretamente a sociedade, através do interesse que despertam nas pessoas, provocadas pela criatividade dos profissionais de marketing, é fato que tudo o que é lançado ao público depois de certo tempo se torna corriqueiro, por isso o aperfeiçoamento das atividades políticas é extremamente necessário. Estar com a opinião pública, contar com seu apoio e obter seu reconhecimento são o supremo desejo de quem tem alguma coisa a propor ou a vender a sociedade [...] o fator opinião pública é decisivo. Seu cotidiano envolve o conhecimento das relações do público – reconhecer, sentir, acompanhar e pressenti-las – para trafegar por entre elas como em terreno minado. (FARHAT, 1992, p.08). Por estes motivos cada vez mais o tema está sendo estudado e analisado quanto a possíveis inovações, uso das ferramentas, e, principalmente sua evolução que é base para seu entendimento O conceito de marketing e política é histórico, ao mesmo tempo atual, e proporciona margem à conscientização da importância da junção de suas XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 72 atividades, não só pelos personagens políticos envolvidos, como também pelo povo que se interessa cada vez mais pelo o que os políticos prometem e realizam ao longo dos quatro anos de mandato. A base do marketing eleitoral baseia-se na implantação de técnicas de marketing político e comunicação, com o objetivo de conquistar a confiança e fidelidade do eleitorado. Para a obtenção de êxito é necessário conhecer o que a população precisa e deseja, para então definir as ações que buscaram amenizar as necessidades e conectá-las à plataforma do candidato à plataforma do candidato. Um item de extrema importância nesse processo eleitoral é a propaganda, que visa aumentar a atenção referente à imagem do candidato, persuadindo a população com a melhor proposta baseada na criação e no desenvolvimento de ações sociais para os vários níveis da sociedade, são desenvolvidas as ações de comunicação como, por exemplo, as pesquisas, eventos, vídeos, comerciais e propagandas, entre outras, que devem ser aplicadas com eficácia, não expondo demasiadamente a imagem do candidato. Na busca pelo voto, os candidatos e sua equipe elaboram os planos de campanha com criatividade e baseados em pesquisas que apontam as necessidades da população, porém podemos perceber que as atividades de marketing eleitoral evoluíram com o passar dos tempos e experiências adquiridas. Em exemplos mais recentes, é possível citar a campanha de Fernando Collor de Mello (1989) teve de todos os artífios das campanhas apresentadas até agora, utizou-se todo o tipo de mídia disponível, contou com o apoio de artistas conhecidos e principalmente valorizou a imagem e a proximidade com o povo. Outra marca em evidência desta campanha foi a distribuição de brindes. Itamar Franco (1992/vice) teve uma promoção de imagem relativamente simples como vice candidato de Collor, assumiu a Presidência da República após um processo impeachment e não teve oportunidade de expor sua imagem e plataforma política, além de algumas iniciativas como, por exemplo, o racionamento de energia. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 73 Em uma eleição todos os envolvidos direta ou indiretamente (coordenadores, assessores, cabos eleitorais, entre outros.), devem estar unidos e integrados das atividades em geral, para que as ações estratégicas se desenvolvam de forma eficaz, e para que também haja manobras de defesa quanto aos ataques de adversários diretos e “indiretos” durante a campanha. O candidato através de sua equipe deve se fizer presente em cada canto da região do pleito, ressaltando a importância de sempre haver alguém no respaldo em seu comitê para ações repentinas e providências imediatas, tal qual receber a população que vai até o político expressar seu apoio. O eleitor está à procura de um candidato com as seguintes qualidades: experiência, honestidade, vida limpa e passado decente, assepsia, equilíbrio/ponderação, preparo, coragem/determinação, autoridade (não confundir com autoritarismo). Há uma saturação de perfis antigos, que usam as esteiras da velha política. O eleitor quer ver perfis mais identificados com suas grandes demandas: segurança, saúde, educação, melhoria das condições de vida nas regiões, nos bairros, nas ruas. (TORQUATO, 2009). O candidato tem que passar segurança para o eleitor, tem que tem transmitir a mensagem com clareza e realidade, tem que demonstrar interesse pelos problemas de cada pessoa que vier lhe falar, tem que estar ciente das necessidades da região, saber ouvir para aprender a falar o que o povo quer e precisa ouvir. O comportamento de deixar tudo para última hora é uma regra que não foge às campanhas eleitorais, de dois em dois anos pode-se confirmar essa situação basicamente gerada pela falta de interesse de parte da população nas propostas políticas apresentadas pelos candidatos. Muitos eleitores escolhem seus representantes a partir de um pedido, ao receber um panfleto na rua, utilizando a relação de nomes e legendas no local de votação, ou simplesmente não comparecem as urnas e dispensa seu voto, seu poder de escolha. As pesquisas eleitorais atuais são consideradas relevantes no processo eleitoral, pois através dessa ferramenta é possível avaliar o andamento da XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 74 campanha e quais os resultados parciais quanto à intenção de voto, ela identifica o perfil do eleitorado que automaticamente reflete a plataforma política. Estas atividades devem ser realizadas por profissionais com conhecimento neste ramo, responsabilidade e eficiência, caso contrário o resultado pode ser o oposto ao esperado e acarretar em prejuízo financeiro e de perda de tempo, que é essencial na corrida ao pleito. Cada campanha é única, estratégias e alianças devem ser revistas e aplicadas conforme a necessidade daquele momento deve-se avaliar se a aliança proposta trará consigo mais pontos positivos do que rejeição. Visto que o candidato vai falar ao público que engloba uma grande parte de pessoas humildes, a linguagem deve ser simples, sem muitas palavras técnicas, pois o povo quer entender o que lhe é falado, e quer olhar nos olhos do político e enxergar todas as promessas que acabou de escutar. Período Eleitoral A campanha eleitoral é um conjunto de ações que antecedem o dia da eleição, e embora a maioria das pessoas só a participe durante os três meses de publicidade e exposições dos candidatos, há toda uma estrutura em termos de escolhas, pesquisa, organização e legislação, entre outros fatores para preparar uma plataforma política antes de apresentá-la ao eleitorado. Uma campanha envolve esforços de diversos gêneros e variadas estratégias de comunicação, a fim de facilitar a emissão da mensagem eleitoral. Mesmo com tantos motivos para a descrença na política, é perceptível o interesse que o assunto ainda desperta na população, mas não é uma tarefa fácil manter essa expectativa de forma positiva principalmente com os novos eleitores, que trazem consigo uma ideologia de transformação instantânea do mundo. A campanha deve ser transparente, ousada, flexível e focada na conquista do voto, aproveitando cada oportunidade com senso de realidade para não substimar os concorrentes. É fundamental que o planejamento quanto às ações seja desenvolvido meses antes da campanha, para que a função da mesma que é passar as XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 75 informações sobre a plataforma política consiga seu objetivo no tempo previamente estipulado, definindo as ações, funções dos colaboradores e orçamento, é necessário dividir o projeto em etapas, ou seja, metas que permitam uma avaliação com frequência verificando se houve êxito, ou se existem providencias a tomar para que os erros sejam reparados a tempo e não somente ao final da eleição quando não se há mais nada o que fazer a não ser contemplar a vitória ou comportar a derrota. O candidato ao preparar sua campanha se depara com dois resultados óbvios: ganhar ou perder, talvez o “perder” se torne mais brando se for colocado de forma que, se o indivíduo ao se candidatar pela primeira vez tenha como objetivo apresentar seu nome ao cenário político, para posteriormente concorrer diretamente ao cargo. Assim antes de elaborar o organograma, devem-se ter claro e definido quais os objetivos e necessidades em cada área de uma campanha. Devemos começar um orçamento apurando o tipo de material a ser usado condizente com o segmento que se pretende atingir e dimensionamento a quantidade [...] procuraremos os fornecedores que irão nos suprir do material necessário e os seus custos, vindo a seguir, de preferência, o contrato de fornecimento que deve ser assinado pelas partes [...]. (MANHANELLI, 1988 p.46). O conceito de opinião pública pode variar de acordo com quem a analisa, pode representar uma vontade ou ação coletiva, ou, também ser representada por resultados em especial os das pesquisas onde comumente é associada. Este processo acaba se tornando um círculo, o candidato desenvolve táticas para interferir na opinião pública, que por sua vez fornece os resultados, e os mesmos consequentemente retornam a posição (fortalecida é claro) para influenciar as pessoas. A opinião pública é principalmente influenciada por emoções, basta uma atitude que seja caracterizada como negativa ou afronta ao que se considera correto, para que o conceito sobre o candidato seja abalado, por isso em ações de campanha salientando os meios de comunicação, o equilíbrio á essencial. Conscientes da força da opinião, muitos candidatos lançam mão de fatos e boatos com o intuito de denegrir imagens, e assim provocar alguma reação XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 76 negativa no eleitorado com relação aos seus adversários, parem é válido ressaltar que esta atitude pode ter efeito contrário, no caso da segunda opção (boato) se comprovada esta ação, ela pode comprometer a confiança de eleitores ainda indecisos, e não se pode agregar mais este risco, pois cada voto é importante. Um grande entrave no conceito de Marketing Político é de que se o político não comunicar com a imprensa, seja através de seu departamento ou de empresas especializadas, nada conseguirá mostrar a sociedade, mesmo que tenha realizado fatos significativos. (MACEDO, 2007, p.92). A Internet é um meio de comunicação que vem crescendo expressivamente com o passar dos anos, por intermédio da interação entre pessoas ela cria condições favoráveis na exposição de produtos e idéias. No cenário político a situação não é diferente, os cabos eleitorais virtuais utilizam à internet e todas as suas ferramentas como meio de transmissão da plataforma política do candidato, devido à agilidade proporcionada pelo World Wild Web (WWW), são lançadas informações na rede com grande frequência na rede, mas nem sempre verdadeiras, como qualquer meio de comunicação a internet também é passível de propagandas negativas, porém em contra partida devido à mesma agilidade é possível interagir em tempo real e expor noticias esclarecedoras e que auxiliam e reflexão do eleitor. A aderência de novas tecnologias pela população principalmente na política reforça o perfil que a internet exerce grande influência na sociedade, a facilidade que ela proporciona ao usuário em acompanhar em tempo real passo-a-passo seu candidato reflete a vantagem sobre os outros meios de comunicação. Como o objetivo da propaganda política é atingir a massa, a internet se revela grande aliada na tarefa da comunicação, salientando a estratégia do uso dos blogs que permitem a interação e expressão de idéias sobre acontecimentos em tempo real. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 77 Análise de Caso A pesquisa metodológica tem como base entrevistas realizadas com candidatos das eleições municipais ao cargo de vereador em 2007. Com ênfase nas ações de marketing político e eleitoral foram aplicadas questões semelhantes a ambos os candidatos, para uma futura comparação e compreensão de suas idéias referente ao tema abordado, e analise das suas perspectivas futuras dentro do cenário político da região. Considerado ator político A, Atila Cesar Monteiro Jacomussi é natural de Mauá – SP tem 35 anos, é divorciado e tem um filho. Foi coordenador de campanha do pai Atila Jacomussi durante 12 anos, e elegeu-se vereador pela primeira vez através do PPS (Partido Popular Socialista). Foi eleito pela segunda vez consecutiva em 2007 - o vereador mais votado da região do ABC - através do PV (Partido Verde) partido que permanece filiado atualmente. Considerado ator político B, José Rogério Moreira Santana natural do Estado de Alagoas e reside em Mauá há 25 anos, casado e tem dois filhos. Fiado ao PT (Partido dos Trabalhadores) há 23 anos onde se elegeu vereador por três vezes consecutivas, sendo a última vez no ano de 2007, e atualmente é presidente da câmara de vereadores de Mauá. Considerado ator político C, Alvarino Lemes tem 64 anos é casado, pai de três filhos e sócio em uma corretora de imóveis, já participou do Plano Diretor e do Conselho de Planejamento Urbano da cidade, atualmente faz parte do Conselho de Segurança de Mauá. Já foi filiado ao PMDB, PTB e PT, porém foi através do PSDC (Partido Social Democrata Cristão) que disputou as eleições de 2007 –candidato não foi eleito - partido no qual permanece filiado. Como ator político D, José Luiz Cassimiro é professor de história, casado, tem uma filha, e reside em Mauá há 26 anos. Na década de 70 militou pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e UPE (União Paulista dos Estudantes), foi fundador do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) na qual exerceu a presidência regional que abrange o ABC, Suzano e Litoral Norte. Em 1997 foi secretário de governo, em 2000 elegeu-se vereador pela primeira vez, porém licenciou-se para dar continuidade aos projetos da secretaria. No ano de 2004 reelegeu-se vereador desempenhando os quatro XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 78 anos de mandato, e atualmente é secretário do governo de Osvaldo Dias, ressaltando que todas as atividades políticas sempre foram ligadas ao PT partido que é filiado desde sua fundação. Até a década de 1930, toda a região conhecida hoje atualmente como ABC Paulista, englobando sete municípios, pertencia a apenas o município de São Bernardo. A sua sede de fato, era no atual centro de São Bernardo do Campo. Em 1934 Mauá torna-se Distrito de Paz, ou seja, passa a dispor de um Juiz de Paz, cinco anos depois, o município de São Bernardo passa a se chamar Santo André, e sua sede passa para a região da Estação Ferroviária de Santo André. Devido ao progressivo aumento da população, e à crescente industrialização de Mauá, surge o desejo de emancipação do então distrito, já que seus habitantes se ressentiam da pouca atenção da Prefeitura de Santo André aos problemas locais. Em 1947 foi criada a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá, formada principalmente por representantes do comércio e da indústria de Mauá. Ela seria a principal articuladora da emancipação. O município foi instalado a 01/01/1954, mas esse foi um período de transição até que se escolhesse prefeito e vereadores de Mauá. O eleitor de Mauá em sua maioria está na periferia, e uma pequena parte considerada formadora de opinião habita em bairros com melhores condições. Atualmente 35% dos eleitores aptos têm idade entre 26 a 40 anos, e deste total 50% são jovens da periferia. Por isso os programas de desenvolvimento para esta faixa etária são prioridades para a maioria dos políticos. Resultados das Entrevistas em Profundidade Um dos itens solicitados para a abordagem inicial das entrevistas foi o fator motivacional que levou cada entrevistado a ingressar na concorrência eleitoral por um cargo público eletivo. O ator público A justificou o interesse pelo fato de possuir envolvimento familiar acentuado, o ator B já evidenciou XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 79 que um dos fatores de influência foi o contato com o ambiente religioso. O entrevistado C e D justificaram o interesse pelo fato de envolvimento em movimento de bairro, sindicais e organizações não governamentais, reportando o interesse em representatividade política das comunidades locais. Quando o tópico foi referente ao posicionamento acerca da importância das ações de Marketing Político para a carreira de um homem público, de maneira unânime, os entrevistados ressaltaram a relevâncias das ações mercadológicas, bem como a preocupação constante de planejamento adicionais os períodos eleitorais. Como a abordagem da pesquisa ocorreu com candidatos proporcionais a cargos de vereança, alguns pontos foram ressaltados por todos, principalmente quanto a períodos eleitorais, como a necessidade de contato com a população de modo presencial, sempre atuante nas reuniões de bairro e grupos de moradores, com o objetivo de manter sempre forte e satisfeita as bases de eleitores, garantindo a sustentabilidade da gestão do ator político. A participação dos partidos políticos na campanha também foi questionada, tendo como resultado apontado por todos que os partidos dificilmente suprem todas as necessidades do candidato, portanto, o mesmo deve planejar sua campanha da melhor forma possível, visando potencializar ao máximo os recursos, financeiros e de pessoal, com vistas a conseguir sucesso no pleito eleitoral. Um dos pontos apontados na pesquisa foi o nível de interação com a equipe de campanha dos candidatos. Os atores políticos A e B, explanaram que consideram como estratégico e necessário o acompanhamento direto das ações promovidas pela equipe de campanha, principalmente quando se trata de agendamento de compromissos, elaboração, produção e distribuição de material de divulgação. Os atores C e D consideraram importante o processo, mas evidenciaram que é importante possuir uma equipe de suporte eficiente, pois somente com essa sustentação é possível a atuação de campo, no contato direto com as pessoas, de modo mais intenso e interacionista. O último ponto que foi levantado pelos candidatos foram os fatores que poderiam ser considerados cruciais para a construção de uma carreira se XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 80 sucesso na vida pública. Os pontos apresentados por todos versaram sobre o desenvolvimento de um governo participativo, com acompanhamento nas bases de apoio nas comunidades, contribuindo para uma imagem forte para as eleições futuras. A importância do planejamento pós eleitoral também foi apontado como representativo, visto que para alcançar novos patamares eleitorais, é necessário manter a base conquistada e sempre buscar amplia-la, caso contrário a futura e potencial candidatura pode surgir comprometida. Considerações Finais Partindo da premissa que o marketing busca a satisfação das necessidades dos clientes, no marketing político a criação da plataforma eleitoral é realizada com base em pesquisas que identifiquem as necessidades da população, é importante salientar que a campanha política é preparada meses antes do seu lançamento definindo planejamento e delegando tarefas aos colaboradores. As ferramentas de comunicação têm como objetivo facilitar o desenvolvimento do marketing, criando uma ligação entre o eleitor e o candidato, e consequentemente uma vantagem competitiva sobre os demais adversários. O marketing político e eleitoral são atividades que disponibilizam ações e esforços diferenciados, porém, ambos se completam durante o pleito, e arte de se comunicar de forma eficaz através da mídia e diante do eleitor exige uma minuciosa pesquisa quanto às expectativas e principalmente necessidades da população. As atividades de marketing eleitoral como comícios, panfletagens, reuniões residenciais e em associações, passeatas e carreatas, entre outras, compõem o conjunto de ferramentas de comunicação a disposição de cada candidato, o diferencial é saber usá-las com organização e flexibilidade que exige o momento. A plataforma política é extremamente importante, porém o que se deve fazer é criar condições favoráveis à interpretação do eleitor independente da classe social, sexo, idade ou qualquer gênero de classificação, a emissão da XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 81 mensagem deve englobar ética, responsabilidade e discernimento para que a adesão aconteça de forma espontânea e se torne fiel. As entrevistas com os candidatos não podem ser consideradas como padrão de comportamento a todos os atores políticos, principalmente por não apresentar uma ordem metodológica de grande abrangência nacional. Todavia apresentou pontos representativos que contribuíram para a interação com a fundamentação teórica dos conceitos de comunicação política. A amostra demonstrou-se preocupada com a evolução da carreira na vida pública e apontam o planejamento de marketing político, pré, eleitoral e pós como parte de um processo evolutivo contínuo, fundamental para o sucesso na carreira de um político, seja nos cargos eletivos ou de confiança nas diversas modalidades de gestão pública. Referências Bibliográficas FARHAT, Said. O fator opinião pública: como se lida com ele. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992. FIGUEIREDO, Rubens. O que é Marketing Político. São Paulo: Brasiliense, 1994. GOMES, Neusa Demartini. Formas persuasivas de comunicação política: propaganda política e publicidade eleitoral. 3. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2004. IBOPE. Pesquisa sobre a opinião dos eleitores brasileiros. Disponível em <www.ibope.com.br/historico/pesquisas/opiniaoeleitores>. Acesso em 12 set.2009. MACEDO, Roberto G. A importância da assessoria de imprensa no marketing político. In: QUEIROZ, A; MANHANELLI, C; BAREL, M. S. São Paulo: ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos, 2007. MANHANELLI, Carlos Augusto. Estratégias eleitorais – Marketing político. São Paulo: Summus, 1988. TAVARES, Débora; TORREZAM, Alexandre. Uma eleição na velocidade do telégrafo. In: QUEIROZ, A; MANHANELLI, C; BAREL, M. S. São Paulo: ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos, 2007. TORQUATO, G. Que perfil mais conquista o eleitor? Disponível em <http://www.assessoriapolitica.com>. Acesso em 17 de jun. 2009. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 82 A VISÃO ESTRATÉGICA DA COMUNICAÇÃO POLÍTICA NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL DA IMAGEM PÚBLICA DO ATOR POLÍTICO Carla Cachone, Marília Cardoso e Roberto Gondo Macedo Resumo: Diante do sistema eleitoral brasileiro, é possível identificar dois principais grupos políticos, o primeiro formado por um grupo de famílias tradicionais em regiões brasileiras, cujo impacto e poder nas campanhas eleitorais é de relevante impacto e naturalmente migra de geração em geração a permanência nos mais diversificados cargos públicos eletivos. O segundo grupo é formado por atores sociais provenientes de diversos segmentos da sociedade que não possuem tradição no ambiente político, mas por intermédio de diversos canais de comunicação conseguiram vitórias nos pleitos proporcionais e majoritários. A proposta deste artigo é demonstrar como a dinâmica eleitoral permite a seleção desses dois grupos antagônicos e como as carreiras políticas são construídas nos dois ambientes. Para fortalecimento da fundamentação é descrita a trajetória e principais estratégicas de comunicação do atual Deputado Estadual pelo estado de São Paulo, Orlando Morando, com atuação política mais incisiva na região do ABC Paulista. Palavras-Chave: Imagem Pública; Inserção Política; Marketing Político; Orlando Morando. Introdução Política é um assunto que tem despertado cada vez menos o interesse dos jovens. Já acostumados com escândalos de corrupção, eles preferem XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 83 acreditar que são todos iguais e votam praticamente apenas por obrigação e não por idealismo. Neste sentido, a disputa por cargos eletivos no legislativo e executivo ficam para os candidatos de sempre, sem grandes chances de renovação no quadro de atores políticos. Além do desinteresse pelo assunto, outro fator que desmotiva a inserção dos jovens para a vida pública é a necessidade de um forte apadrinhamento que os ajude a conquistar votos. No entanto, o objetivo deste artigo é mostrar que política não é coisa apenas para a minoria, mas sim para todos que demonstrarem interesse em trabalhar em causas pró-sociedade. O desafio é grande, mas com determinação e ferramentas inteligentes de comunicação e marketing para campanhas eleitorais, o distante sonho da carreira pública pode se tornar uma realidade. Compreender as técnicas de comunicação política pode ser um grande diferencial para o aspirante a cargos públicos eletivos, pois, independente dos recursos financeiros disponíveis, potencializar a arrecadação para a disposição das ações de campanha pode auxiliar no equilíbrio das diferenças dos demais candidatos concorrente a re-eleição de mandato e de grupos políticos tradicionais. As ações de comunicação política permitem a equipe gestora do candidato promover abordagens que direcionem as características de credibilidade e fidelização de eleitores, criando assim um vínculo que pode contribuir para a formação de um núcleo (base) estratégica do candidato naquela região. Criar uma equipe multidisciplinar com o decorrer dos anos permite ao político múltiplos olhares nas ações estratégicas que possivelmente pode desenvolver, diminuindo consideravelmente as chances de fracasso nas aplicações em campo. Segundo Ferrari (2007) cada dia mais políticos precisam melhorar a capacidade de se comunicar eficazmente para assegurar a sua XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 84 representatividade junto aos seus públicos. Da mesma forma, para que o governo possa assegurar a sua representatividade e legitimidade, os cidadãos devem ser informados tanto sobre os acontecimentos, como sobre sua necessidade, interpretação e análise dos programas políticos. Rompendo as dificuldades da primeira eleição, o ator político conquista a oportunidade de fixar suas diretrizes de trabalho para a sociedade, possuindo condições reais de fortalecer a sua imagem pública, permitindo planejar novas ações na carreira política. O Estereótipo dos Atores Políticos Fazendo uma breve análise sobre o cenário político brasileiro podemos notar um estereótipo comum para a grande maioria dos atores políticos. Em geral, os que se candidatam a cargos públicos no legislativo ou no executivo possuem anos de experiência na vida pública ou então um histórico político familiar, onde seus pais ou avós representaram a política em âmbito nacional ou regional em alguma fase de suas vidas. Desta forma, basicamente os atores políticos estão divididos em duas alas. De um lado estão os que passaram por grandes momentos da história nacional, acumulando anos de experiência na vida pública. De outro, os jovens políticos que em sua maioria absoluta são descendentes dos que fizeram carreira em cargos públicos. A comunicação política vai além da comunicação governamental, comunicação eleitoral ou marketing político. Por outro lado, a comunicação pública se articula com a comunicação política na esfera pública, como local de interação social de todos os agentes e interesses envolvidos. Nesta esfera, transitam os recursos humanos (cidadãos, políticos e eleitores), físicos (suporte de comunicação massiva, tecnologias interativas e convergentes), econômicos (capital, ativos em geral), comunicacionais (discursos, debates, diálogos estruturados dentro e XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 85 fora das mídias massivas e recursos interativos). (MATOS, 2006). O eleitor se vê em meio a duas opções completamente distintas. Dividido entre a experiência (que lhe exprime uma sensação de que as coisas continuarão da mesma forma, mesmo que não estejam boas) e a juventude (que lhe transmite a sensação de algo novo, porém sem grandes convicções de que haverá maturidade para enfrentar os desafios impostos pela vida pública). Essa sensação foi experimentada em 1989, ano da primeira eleição direta para presidente desde o regime militar. A disputa ocorreu entre o exmetalúrgico Luís Inácio Lula da Silva e o jovem bem aparentado Fernando Collor de Mello. Collor vencia como símbolo da renovação política brasileira. Um voto de confiança dos eleitores à juventude política. Segundo Manhanelli (2001), além de redigir e administrar os textos e pré-pautas da comunicação política, o profissional da área deve procurar manter abertos todos os canais de comunicação, realizando um verdadeiro trabalho de relações públicas, permanentemente com os jornalistas, sempre pronto a prestar informações e dar declarações e sem jamais falseá-las, podendo quando muito, omiti-las. Em menos de três anos, após inúmeros escândalos de corrupção, um impeachment tirou o presidente eleito do poder. Desde então, o eleitor brasileiro passou a olhar os jovens políticos com desconfiança, revivendo as más experiências de Collor a cada eleição que apresentasse candidatos de pouca idade. Paralelamente, os inúmeros crimes políticos contribuíram para a criação de um arquétipo ruim e desinteressante para o surgimento de novos atores políticos no país tanto em esferas municipais quanto estaduais e federais. Política tornou-se algo que incita boicotes. Neste cenário, a renovação da política nacional fica restrita praticamente apenas a descendentes de políticos consagrados que despertam interesse pela vida pública. A possibilidade de iniciar uma carreira política apenas por idealismo fica cada vez mais escassa. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 86 Para o sucesso em uma jornada eleitoral é necessário planejamento prévio, na visão de Kuntz (2000, p.18) A definição prévia de quem vai participar, e como, da formulação da estratégia de comunicação de uma campanha eleitoral é importantíssima para garantir a sua agilidade, equilíbrio e objetividade, elementos imprescindíveis para assegurar eficácia nos resultados e praticidade da sua execução. Ao eleitor resta apenas optar entre o que ele julga velho (já conhecido e passivo para aceitar seus erros) e o novo (que lhe parece nem tão novo assim, já que vem carregado de valores já conhecidos e que parecem apenas querer seguir os passos de seus antepassados sanguíneos). Assim, o eleitor assume uma postura de votar apenas porque é obrigatório. Ele não acredita no poder transformador da política e prefere incorporar à sua fala os típicos dizeres que insistem em colocar os atores políticos como todos sendo “farinha do mesmo saco”. Comunicação Política e Estratégias de Imagem Eleitoral A comunicação política não pode ser considerada uma ciência condensável em fórmulas exatas e imutáveis, sua evolução é dinâmica, acompanha os processos de convergência de outras áreas do conhecimento que de certo modo fundem-se com os procedimentos utilizados nas aplicações nos mais diversos níveis da relação política e sociedade. Alguns princípios provêm tanto da ciência como da estética, e sua aplicação estratégica se mistura entre planejamentos estratégicos e estudos e pesquisa sobre comportamento do eleitor para formulações de atividades de comunicação de massa. Neste contexto que a análise do discurso de fundamenta como recurso sine qua non na proposta de comunicação política, pois oferece conceitos de análise comunicacional extremamente pertinentes nos planos de fixação da imagem e atos do ator político. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 87 Segundo Domenach (1950) a propaganda confundese com a publicidade, pois procura criar, transformar certas opiniões, empregando, em parte, meios que lhe pede emprestados; distingue-se dela, contudo, por não visar objetos comerciais e, sim, políticos: a publicidade suscita necessidades ou preferências visando a determinado produto particular, enquanto a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos que, amiúde, modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas. Por conseguinte, a propaganda influencia a atitude fundamental do ser humano. Sob esse aspecto, aproxima-se da educação; todavia, as técnicas por ela empregadas habitualmente, e sobretudo o desígnio de convencer e de subjulgar sem amoldar, fazem dela a antítese. A análise do discurso e o poder da palavra, por intermédio de diversos autores demonstram que a comunicação e o discurso aplicados de forma correta, remete o ator político a aceitação pela massa envolvida pela mensagem. Na análise de Domenach no processo de comunicação e propaganda política de Hitler, precede o estudo do envolvimento de massa como centro de todo o processo dominador de império conquistado pelo terceiro reich. Além do discurso, a construção da imagem do candidato é tida como essencial em tempos de convergência tecnológica e com grande quantidade de mídia de exposição dos atos realizados pelos políticos nas diversas escalas de poder. Manter-se sempre presente com a comunidade que elege o político permite que em segundo momento, isto é, eleições posteriores o trabalho de comunicação política para a conquista dos votos necessários para a vitória sejam mais direcionados e com maior chance de retorno e fidelização. Torquato (1985) explana que o extraordinário progresso experimentado pelas técnicas de comunicação de 1970 para cá, representa para a humanidade uma conquista e um desafio. Conquista, na medida em que se propicia possibilidades de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 88 difusão de conhecimentos e de informações em uma escala antes inimaginável. Desafio, na medida em que o avanço tecnológico impõe uma séria revisão e reestruturação dos pressupostos teóricos de tudo que se entende por comunicação. A comunicação política integra um vasto repertório de informações, teorias e estratégias, consideradas pela ciência política a linguagem do poder, sendo que cada sistema político possui uma linguagem, porém, é fato que todas as ações são desenvolvidas e aplicadas em prol de um único objetivo, o alcance, a manutenção e a permanência no poder. Orlando Morando: A Inserção na Vida Pública Diante do cenário descrito anteriormente, além de haver pouco interesse na vida pública aqueles que o tem sentem-se sufocados e pressionados por um círculo completamente fechado. A falta de apoio estratégico e de um apadrinhamento tornam as eleições uma conquista altamente utópica para os cidadãos comuns. Desta maneira, o círculo político permanece praticamente intacto, sem grandes opções de mudanças de ideais. Curiosamente, há um case recente que contraria essa realidade. Em 1996, aos 21 anos de idade, o filho de um comerciante do bairro Batistini, em São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, ingressou para a vida pública pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Orlando Morando era um líder comunitário que lutava por melhorias em seu bairro. Outros comerciantes da região o incentivaram a se candidatar vereador para que assim pudesse trazer conquistas para sua comunidade que, na época, não tinha saneamento básico, iluminação pública, segurança e educação adequados para a população local. Com um investimento de seis mil reais arrecadados pelos comerciantes do bairro, Orlando criou sua campanha eleitoral. Suas ferramentas de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 89 marketing foram panfletos rodados em mimeógrafos, muros pintados e principalmente o boca a boca com a população. A estratégia rendeu a ele 1.523 votos, tornando-se o primeiro suplente a vereador e assumindo o cargo após apenas quinze dias do mandato vigente. Seu histórico político era praticamente inexistente até então. Cerca de 20 anos antes seu pai disputou uma eleição para vereador, mas jamais vencera. Seus únicos atributos eram o tradicional comércio da família no bairro, o que o deixava próximo aos eleitores. Segundo ele mesmo, esta sempre foi sua maior estratégia eleitoral, afinal depois de eleito, as pessoas saberiam onde encontrá-lo e cobrá-lo. O interesse pela política foi repentino. Morando sabe que a grande maioria dos jovens tem antipatia pela política, que eles julgam ser todos iguais. Entretanto, seu senso de indignação diante de escândalos políticos e de superfaturamento de gestões passadas, o impulsionaram a abraçar o desafio e se lançar candidato. Foi este seu grande estímulo para entrar para a vida pública. Os desafios foram enormes e o preconceito também. Em inúmeras ocasiões foi considerado imaturo para tal cargo. No entanto, com determinação e boa vontade, ele foi conquistando seu espaço na política regional e estadual. Atualmente Orlando Morando está com 35 anos de idade. Em 2000 foi reeleito vereador por São Bernardo do Campo conquistando um número de votos quatro vezes maior que na primeira eleição disputada, sendo o terceiro mais votado no município. Em 2002 interrompeu seu mandato para concorrer a uma vaga como deputado estadual e venceu tornando-se o mais jovem eleito para este cargo, aos 26 anos. Em 2006 foi reeleito como o deputado estadual mais votado da história do grande ABC, com 70.131 votos no estado de São Paulo. O segredo para suas conquistas pode estar no cuidado que Morando tem com a sua imagem pública. Para ele o fato de dar respostas à comunidade, independentemente delas serem positivas ou não, é algo XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 90 essencial. Sua marca consiste em estar presente, fazer corpo a corpo não apenas em períodos eleitorais, sempre com foco na pesquisa de opinião. As pesquisas eleitorais atuais são um item muito importante, através delas pode-se avaliar o andamento da campanha e quais os resultados parciais quanto à intenção de voto, ela identifica o perfil do eleitorado que automaticamente reflete a plataforma política, ou seja, “independentemente de [...] métodos de procedimentos seus objetivos são levantar opiniões, anseios, motivos ou sensações para interferir no processo de comunicação com o público”. (SANTOS, 2007, p. 68). A preocupação com o seu marketing pessoal e com o marketing de suas campanhas sempre foi priorizada. Atualmente ele possui uma equipe de assessores formada por 14 profissionais de áreas diferentes, entre elas jornalistas, advogados, administradores, líderes comunitários e até psicólogos. As campanhas, que começaram apenas com panfletos rodados em mimeógrafos e muros, ganharam novos investimentos e se modernizaram. Em 2000, Orlando Morando fez uso de carro de som, showmício com artistas locais e melhorou seu material gráfico. Em 2002, na disputa para deputado estadual, a campanha ganhou um site e uma série de mimos em especial para as eleitoras com a distribuição de brindes como mini-hidratantes, lixas e batons. Em 2006, com a vigência de uma nova lei para campanhas eleitorais que proíbe a distribuição de brindes e a realização de showsmício, o candidato, agora pelo Partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB), investiu no corpo a corpo. As passeatas pela rua cumprimentando e ouvindo os eleitores lhe custaram um emagrecimento de oito quilos. A comunicação sonora, baseada na criação de jingles, também foi forte e as músicas são lembradas até hoje pelos eleitores. A Campanha mais Cara da História do País Com a experiência adquirida nos mandatos como vereador e deputado estadual, Orlando Morando foi apontado por seu partido como o candidato mais XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 91 indicado a disputar a prefeitura de São Bernardo do Campo nas eleições de 2008. A primeira pesquisa do Ibope, realizada em agosto, apontava 35% das intenções de voto para Morando, contra apenas 9% para o segundo candidato, o petista Luiz Marinho. Mas o que parecia o prenuncio de uma vitória, acabou se transformando numa desgastante campanha e numa inesperada derrota. A campanha de Morando teve um investimento pouco superior a 4 milhões de reais. A de Luiz Marinho foi três vezes maior, passando dos 12 milhões, caracterizando-se como a campanha mais cara da história do país. São Bernardo do Campo possui cerca de 560 mil eleitores e este valor representa algo em torno de 50 reais por eleitor. O cenário era contundente. Há 20 anos a cidade de São Bernardo era administrada pelo PSDB. Contraditoriamente, o município foi o berço da criação do Partido dos Trabalhadores, marcada pelas lutas sindicais lideradas por Luís Inácio Lula da Silva, então presidente do Brasil em seu segundo mandato e com o maior índice de aprovação de seu governo (superior a 80%). Ter a cidade administrada pelo PT era uma questão de honra para o partido que não mediu esforços para vencer a eleição. A campanha foi marcada por escândalos e boatos acompanhados dia a dia pela imprensa local e nacional. Para Morando, a campanha que era para ser municipal, acabou se tornando federal. Lula declarou seu apoio a Luiz Marinho abertamente. Esteve presente em cinco comícios do candidato. Apenas a título de comparação, nas eleições para a capital a disputa era entre Gilberto Kassab, do Democratas, e Marta Suplicy, do PT, e Lula só esteve presente em dois comícios. Quando Lula não estava fisicamente presente, sua voz era amplamente divulgada nas ruas da cidade com dizeres que traziam a mensagem de que dentro de dois anos, quando terminar seu mandato como presidente da república, voltará a morar em São Bernardo do Campo e que seu candidato traria o progresso para a cidade. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 92 Enquanto isso, Morando foi alvo de inúmeros boatos sobre sua vida pessoal, inclusive que teria sido preso durante a campanha. O final da eleição deu a vitória a Luiz Marinho por 56% a 44% dos votos no segundo turno. Encerrada a campanha, Morando entrou com um processo de difamação, calúnia e injúria e ainda de abuso de poder econômico contra o PT. A Preocupação com a Imagem e o Futuro Político Logicamente, a campanha de 2008 não será uma das melhores lembranças para Morando, que voltou para cumprir seu mandato como deputado estadual até o final de 2010, porém no âmbito político, nem sempre uma derrota pode significar uma derrocada na carreira, mas sim na preparação de novos desafios eleitorais. Ao avaliar sua estratégia de campanha, ele não consegue apontar falhas e prefere se colocar como vítima da campanha mais cara da história do país. Seu único apontamento seria para a foto de campanha que, a seu ver, estava um pouco séria demais (preocupação que sempre se fez presente em função da pouca idade). Os cuidados com a imagem serão os mesmo, mas sem exageros segundo ele. Vestir-se adequadamente para cada ocasião e preservar-se de exposições públicas em bares com os amigos são restrições inevitáveis em sua opinião. Sobre o futuro político, Morando diz que ainda é cedo para fazer planos, mas sua meta é concluir o mandato como deputado estadual e defender São Bernardo do Campo. Mais que como opositor, ele fiscalizará o governo de Luiz Marinho como um cidadão do município. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 93 Considerações Finais O processo de construção das imagens públicas está assentado em uma lógica interacional que inclui sujeitos ativos. A imagem dos políticos não é uma construção que ocorre no isolamento, mas um processo que se dá em uma situação de disputa pública de sentidos, que envolve diversos atores e interesses específicos. A imposição da imagem dos candidatos sempre acontece em um campo de forças, no qual sua construção e desconstruções fazem parte do jogo, principalmente através do embate comunicativo. Na sociedade contemporânea, boa parte desta luta ganha expressão e se realiza através dos meios de comunicação. A imagem de Lula na cena pública, por exemplo, tem a participação da mídia nesse processo. As mensagens inseridas pelos políticos nos veículos de comunicação não se impõem por si, uma vez que são submetidas a outras interpretações presentes no espaço mais amplo da mídia. Além de empreender esforços para criar uma imagem adequada aos seus propósitos, os políticos precisam desenvolver recursos para monitorá-la permanentemente e, assim, lidar com o que é feito dele na cena pública. Assim é possível detectar as tensões que surgem no chamado campo de visibilidade midiática. Evidencia-se o modo pelo qual, na disputa pela imposição da imagem pública, no contexto político das eleições, o ator político tem que lidar não só com as estratégias dos adversários, mas, também, com as estratégias da mídia que participa ativamente na disputa pela imposição da imagem pública. O planejamento eficaz de uma campanha ocorre quando existe previamente uma preocupação nas ações de comunicação com a comunidade regional, visando um bom convívio e consequentemente uma visão de credibilidade concisa e coerente. A nova geração de atores políticos que XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 94 compreenderem essa relevância certamente conquistará parâmetros de competitividade acentuados e positivos. Referências DOMENACH, J. M. La propagande politique. Série “Que sais-je?, 448, Paris: Presses Universitaires de France, 1950. FERRARI, M. A. Relações públicas e a opinião pública no composto do marketing político. In. Opinião Pública & Marketing Político. Bauru: FAAC, 2007. HABERMAS, J. Political communication in media society: does democracy still enjoy na epistemic dimension? The impact of normative theory on empirical research. Communication Theory, v.16, 2006. KUNTZ, Ronald A. Marketing Político: Manual de Campanha Eleitoral. 8. ed. São Paulo: Global, 2000. MANHANELLI, C. A. Marketing Pós Eleitoral. São Paulo: Summus, 2001. MATOS, H. G. de. Comunicação Política e Comunicação Pública. Revista Organicom. ECA/USP. São Paulo. Ano 3, n04, 2006. SANTOS, Célia M. R. G. A pesquisa de opinião na construção da imagem política. In: QUEIROZ, A; MANHANELLI, C; BAREL, M. S. São Paulo: ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos, 2007. TORQUATO, F. G. R. Marketing Político e Governamental. São Paulo: Summus, 1985. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 95 BARBEIRAGENS BOLIVARIANAS EM TERRA BRASILIS: O MARKETING POLÍTICO BOLIVARIANO DE LULA Roberta Garcia Squarcine Barreira Resumo: No dia 13 de novembro de 2008, durante a visita do presidente Lula ao Papa Bento XVI, um acordo entre a Santa Sé e o Brasil foi assinado. Nele, a ratificação da incorporação do ensino religioso nas escolas públicas. Ainda em tramitação no Senado Federal, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (PDS - Projeto de Decreto Legislativo, Nº 716 de 2009. Relator: Sen. Fernando Collor de Mello) o documento dividido em 20 artigos, assinado entre Lula e o Vaticano, diverge opiniões sobre uma maior autonomia do Estado e sua política de privilégios, que esbarram nos limites da religião e na laicidade proposta pela Constituição Federal de 1988. Palavras-Chave: Acordo Santa Sé, Bolivarianismo, Política X Religião, Público x Privado. ___________________ Artigo produzido para o VIII Congresso Brasileiro de Marketing Político – Politicom 2009 Universidade Presbiteriana Mackenzie Taubaté, SP – Outubro/2009 E-mail: [email protected] Introdução Este trabalho visa analisar uma recente medida adotada pelo Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o acordo Brasil - Santa Sé. Assinado em novembro de 2008, o tratado retoma iniciativas que visam a implantação do estudo religioso em grade disciplinar de todas as escolas de rede pública XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 96 brasileira. O antigo documento, que data de 1890 entre o País e a Igreja Católica era ultrapassado, e, portanto um novo acordo foi ratificado, mas não houve a alteração do que se considerava uma sociedade de privilégios ao catolicismo, embora o documento afirme: “o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental". Atualmente o tratado está sendo analisado pelo Senado. Mais que um marketing político a um ano das eleições presidenciais, este acordo revela uma semelhança entre o governo Lula e o governo de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. O primeiro fator – marketing – fica evidente quando analisado por uma perspectiva de conquista de popularidade do presidente Lula com a maior parte dos brasileiros, representado pelo catolicismo, como também pelo “agrado” realizado aos seguidores de outras religiões. Segundo dados divulgados pela FGV em 2005, os brasileiros que seguem a doutrina católica representam 74% da população no país. Esse vínculo estabelecido entre o presidente e o Vaticano significa o aumento de popularidade interna e externa do presidente, o que conseqüentemente o fortalece e o mantém na política (capítulo I). Para o Vaticano esta medida política representa uma contenção do aumento de seguidores não católicos. Quanto à semelhança de governos entre Lula e Chávez, pode-se apontar que recentemente o presidente venezuelano anunciou mudanças no sistema de ensino do país, cujas escolas devem adotar o modelo bolivariano de ensino. Entre outras medidas, visa-se a retirada obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas do país. À primeira vista, estas duas medidas podem parecer contraditórias. Entretanto, um estudo mais detalhado revela que tanto a Lei Orgânica de Educação (modelo adotado por Hugo Chávez) como o acordo da Santa Sé, convergem a um mesmo objetivo. Seria esta inserção do ensino religioso apenas um marketing político do atual presidente do Brasil, ou seria Luiz Inácio Lula da Silva um apreciador não assumido de Simón Bolívar? XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 97 Definição de Marketing Político É de interesse primeiro à compreensão deste trabalho um breve entendimento sobre Marketing Político. Para o autor Rego (2002) e Kotler (1978), apud Mattielo e Ribeiro (2006), a prática do Marketing Político torna-se indispensável em uma campanha eleitoral, pois é através desta que haverá a bombardeio de informação, manipulação e persuasão da opinião pública. Segundo Rego (1985), a expressão define-se por: “[...] marketing político é um esforço planejado para se cultivar a atenção, o interesse e a preferência de um mercado de eleitores, é o caminho seguro para o sucesso de quem deseja vencer na política”. (REGO, 1985, p.13). O autor ainda define oito conceitos básicos à prática política. Sendo o principal deles o valor de legitimidade. Segundo o autor: “O conceito de legitimidade é fundamental para a prática política. Por legitimidade, deve-se compreender o processo pelo qual os eleitores ou governados consideram os valores políticos compatíveis com seus valores. Mas, para chegar à legitimidade na política, o interessado deve percorrer uma longa rota. Trata-se do caminho para chegar à posição de mando e conquista” (REGO, 1985, p.13). Sobre esta conquista do poder, Kotler (1978) apud Mattielo e Ribeiro (2006), afirma que para um cidadão que sai do anonimato e torna-se eleito, sua manutenção no poder depende de seu carisma e de uma apropriada retórica, virtudes que encontram-se em nosso atual presidente. Público e Privado A distinção entre estas duas esferas – a pública e a privada – torna-se ferramenta chave para a discussão sobre Política e Religião (capítulo III). Assim sendo, segundo o autor alemão Jürgen Habermas (1984) apud Terra (2006), no decorrer dos séculos, há diferentes definições sobre o que é o XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 98 espaço público em contraste ao espaço privado. Na Grécia Antiga três conceitos distintos explicavam a diferença: o primeiro deles definia que espaço público eram as pólis, onde ocorriam os debates de interesse coletivo; o segundo significado dizia respeito ao privado, que se restringia a uma família; e o terceiro conceito caracterizava a esfera íntima. Na Idade Média, a definição do que é público, passa a interligar-se com a vida da nobreza. Isto é, um fato público era aquele que estivesse intimamente relacionado à vida dos nobres, incluindo a vida do Rei. Muitas transformações sociais e econômicas mudaram o conceito da esfera pública e da esfera privada ao longo dos anos. Mas a assimilada em uma sociedade contemporânea, traz a idéia do autor Thompson (1998), apud Terra (2006), que diz que a esfera pública é constituída por pessoas com vidas e valores privados, cuja intenção é a discussão sobre assuntos referentes ao Estado. Estado x Religião Uma vez esclarecida a relação e a tênue linha que separa o público do privado, torna-se possível evidenciar e argumentar sobre o envolvimento do estado e da religião na sociedade. O objetivo central é promover a reflexão da existência deste vínculo entre dois extremos. Ou seja, para o autor Ferrari (1999) apud Burity (2001), estes dois princípios que tecem a vida em sociedade, nunca deixaram de caminhar juntos. Entretanto, ele não defende a necessidade deste vínculo, apenas o evidencia como fator natural. A despeito disto, o autor diz: “A idéia de que o espaço público deve estar totalmente destituído de conotações religiosas (a 'praça pública desnuda', evocada por Neuhaus), como pré-requisito para a igualdade e liberdade de seus cidadãos, parece mais frágil hoje do que há alguns anos atrás" (FERRARI, 1999. p. 14 apud BURITY, 2001). Assim como o Ferrari (1999) apud Burity (2001), alguns cidadãos também compartilham a idéia da existência deste vínculo, seja por acreditarem nele, ou apenas pela descrença de ambos os papéis em nossa sociedade. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 99 Dessa forma, uma discussão promovida pelo portal de notícias do UOL intitulada “Política e religião podem andar juntas?” apresenta os seguintes resultados: 15% das pessoas defendem e dizem acreditar neste vínculo; 17,5% acreditam que este vínculo é formado porque tanto a política quanto a religião são representativos de corrupção; 7,5% não acreditam que isso seja possível no Brasil; mas o resultado predominante é aquele que se refere às pessoas que não defendem e tampouco acreditam que política e religião deveriam andar juntas: um total de 60%. Ratificando o pensamento popular, Burity (2001) aponta três normas que definem o papel concernente à política e o papel a ser desempenhado pela religião. Segundo o autor, a primeira norma afirma que “assuntos e convicções religiosas (ou a expressão de valores últimos) dizem respeito à esfera privada dos grupos e indivíduos, mantendo aí sua legitimidade”. Ainda segundo Burity (2001), o estado deve manter-se neutro, sem favorecer um grupo religioso em detrimento de outro. Por fim, a terceira norma diz que deve haver uma separação entre igreja e estado, sendo que um não deve sobrepor-se ao outro, princípio esse, da laicidade. Embora não explícita pela Constituição Federal de 1988, é de livre escolha a religião ou doutrina a ser seguida pelos cidadãos em nosso país. O que se pode observar no Brasil é que há uma violação deste direito de se permanecer laico. Ou seja, está escrito no 19º artigo da Constituição Federal: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçarlhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. A Doutrina Bolivariana de Ensino Hugo Chávez assinou em novembro deste ano, a Lei Orgânica da Educação. Nela, o político adota duas polêmicas medidas, consideradas por XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 100 seus opositores como uma maior autonomia do Estado na sociedade venezuelana. O primeiro artigo diz respeito à censura de liberdade de expressão à imprensa. Ou seja, segundo a nova lei, nenhum artigo que se oponha ao governo chavista deve ser divulgado pela mídia do país. O segundo item concerne ao direito à laicidade nas escolas da Venezuela. O artigo de número 50, único ítem, afirma: “La educación religiosa se impartirá a los alumnos hasta el sexto grado de educación básica, siempre que sus padres o representantes lo soliciten. En este caso, se fijarán dos horas semanales dentro del horario escolar”. Diferentemente do Brasil, que a intenção é a de implantar a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, a Venezuela terá a retirada obrigatória do mesmo. Ou seja, assim como Chávez (que segue o modelo bolivariano de ditatorialismo), Lula também intervém em assuntos não concernentes ao Estado, e sim a uma vida privada (capítulo II e III). Considerações Finais O presente artigo, analisado por dois distintos e complementares assuntos, evidencia a enumeração de dois principais itens: I. a) Sendo, portanto, o Brasil um país cuja laicidade pode ser inferida e legitimada pela Constituição Federal de 1988, há transgressão desse direito ao povo brasileiro. b) A religião e práticas de cultos, missas e seitas, dizem respeito à vida privada de cada indivíduo em sociedade. Não devem, portanto, sofrerem quaisquer intervenções do Estado, mesmo que essa intervenção seja para separação entre política e religião, haja visto o caso venezuelano. Toda e qualquer ingerência do Estado em assuntos concernentes a religião tem cunho intervencionista, no sentido pejorativo do termo, pois esse papel é esperado dos agentes sociais por si só. c) A intervenção do Estado brasileiro na religião, pode impulsionar a segmentação social e fortalecer grupos específicos. II. a) O modelo político para a construção de um Estado “forte”, que interfere em XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 101 assuntos concernentes ao comportamento do indivíduo em sociedade, pode ser definido como ditatorial. Neste caso especificamente, espelha a ditadura de Simón Bolívar (caso em que não há respeito entre as barreiras da política e da religião). Referências Bibliográficas BURITY, Joanildo. Religião e Política na Fronteira: desinstitucionalização e deslocamento numa relação historicamente polêmica. Universidade Pontífica de São Paulo, 2001 .Disponível em: http://www.pucsp.br/rever/rv4_2001/t_burity.htm#nota2. Acessado em: 29 de set de 2009. MATTIELO e RIBEIRO, Camila Murari, Maria de Fátima. A importância do marketing político e eleitoral no processo decisório do voto: análise das campanhas eleitorais dos deputados Sidney Beraldo e Simão Pedro. Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino, 2006. 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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 103 RECURSOS LITERÁRIOS NO TEXTO JORNALÍSTICO: O EXEMPLO DE COLÔMBIA ESPELHO AMÉRICA Bruno Ravanelli Pessa Resumo: Em Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez, viagem pelo sonho da integração latino-americana, Edvaldo Pereira Lima aproveitou sua passagem pelo país para explorar a temática da integração continental a partir do diálogo com personagens e do contato com cenários que marcam o passado e o presente colombianos. Neste livro-reportagem-viagem, os recursos e técnicas utilizadas se aproximam do exercício do jornalismo literário. A pesquisa almeja, a princípio, identificar, explicar e discutir as características literárias presentes no livro Colômbia espelho América. Por fim, intenta desvendar as potencialidades do livro-reportagem. Palavras-Chave: Jornalismo Literário, Jornalismo Narrativo, Livro-Reportagem, Colômbia, América Latina Introdução O livro Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez, viagem pelo sonho da integração latino-americana foi produzido em 1987 por Edvaldo Pereira Lima e lançado pelas editoras Perspectiva (para a coleção Debates) e Edusp dois anos depois. Tendo viajado à Colômbia por ocasião de um congresso de ensino de comunicação, o jornalista brasileiro estendeu sua estada no país sul-americano para coletar dados para o livro. Seu desembarque foi na capital Bogotá; depois, passou por Villa de Leyva, onde XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 104 aconteceu o supracitado congresso, Tunja, novamente Bogotá, Barranquilla, Santa Marta, Aracataca, Santa Marta de novo e Cartagena, de onde embarcou “de volta para casa”. Antes de conceber a obra, o jornalista já sabia o que queria alcançar: um livro-reportagem-viagem, a fim de enriquecer sua pesquisa sobre livroreportagem, que redundaria na tese de doutorado O livro-reportagem como extensão do jornalismo impresso: realidade e potencialidade, apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 1990. Por sua vez, a citada tese foi o ponto de partida para o livro Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura, lançado pela primeira vez em 1995, pela editora Manole, e que se tornaria referência nacional sobre o tema. Para identificar, explicar e discutir as características literárias presentes no livro Colômbia espelho América, este estudo lança mão da análise de conteúdo da obra citada e de pesquisa bibliográfica sobre jornalismo literário e livro-reportagem, tendo em vista tanto os aspectos quantitativos (freqüência das características do conteúdo) quanto os qualitativos (presença ou ausência de características do conteúdo, passíveis de interpretação), principalmente, que a análise de conteúdo inclui (BARDIN, 1977, p. 21). O presente trabalho faz parte do desenvolvimento do projeto de pesquisa Colômbia espelho América: um livro-reportagem paradigmático, desenvolvido no nível mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, sob orientação da Professora Doutora Sandra Reimão. Este pesquisador travou contato pessoal e freqüente com Edvaldo Pereira Lima por ocasião do curso de especialização lato sensu em Jornalismo Literário oferecido pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL) nos anos de 2006 e 2007. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 105 Esclarecimentos Necessários Primeiramente, situemos o que se entende por jornalismo literário. O mesmo Edvaldo Pereira Lima publicou este conceito no site oficial da Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL): Jornalismo literário é a modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela) literatura. Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, metáforas), digressão uso e de símbolos humanização. (inclusive Modalidade conhecida também como Jornalismo Narrativo. Felipe Pena, outro estudioso do tema, lista diversos atributos deste modo de se fazer jornalismo: O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os recursos do Jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos (PENA, 2008, p. 13). Faz-se necessário, para melhor compreensão do conceito, o esclarecimento do que não venha a ser jornalismo literário: nem todo jornalismo sobre literatura e nem todo jornalismo publicado em livro, por exemplo. Jornalismo com toques de ficção ou ficção com recursos de jornalismo também são formatos diferentes, que não se encaixam no conceito. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 106 Há quem considere as expressões jornalismo literário e new journalism sinônimas, mas esta não é a visão deste estudo, que identifica o primeiro como modalidade de jornalismo independente de um contexto histórico circunscrito e entende o segundo como movimento localizado em espaço e período histórico específicos (LIMA, 1993, p. 51), a saber, os Estados Unidos da década de 1960. Por mais persistente que seja a ressonância do new journalism ao longo do tempo, inclusive no Brasil, não se pode afirmar que ele seja equivalente ao jornalismo literário. Agora, focalizemos o objeto desta análise. Colômbia espelho América é um livro-reportagem, ou seja, um veículo de comunicação impressa nãoperiódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. Por grau de amplitude superior, se entende maior ênfase ao tratamento do tema em foco nos aspectos extensivo e intensivo (LIMA, 2004, p. 26). Como oportunamente destaca Eduardo Belo, quem investe em livro-reportagem no Brasil o faz, entre outros motivos, pela “necessidade de contar histórias que atualmente não cabem em outros veículos – por força de limitações técnicas ou das circunstâncias” (BELO, 2006, p. 36). Conforme seus objetivos particulares e a natureza do tema abordado, o livro-reportagem pode assumir diferentes aspectos. Entre as diversas vertentes existentes, a obra aqui estudada pode ser definida como um livro-reportagemviagem, pois toma a viagem a uma região geográfica específica como pretexto para trabalhar vários aspectos de caráter sociológico, humano, cultural e histórico do local. Ele difere do relato turístico e romantizado por se preocupar com pesquisa, coleta de dados e exame de conflitos, sem fechar os olhos para determinadas observações e pontos negativos. Não se trata de um livro de viajante apaixonado, mas de repórter (LIMA, 2004, p. 51 e 302). De fato, o autor aproveitou uma passagem pela Colômbia para reunir dados municiadores do livro, que transita por um cenário complexo “sem excessivo aprofundamento, mas o suficiente para estabelecer um grau de solidez e de costura entre os diferentes fragmentos da realidade do real” (LIMA, 2004, p. 304). Inspirado em alguns modelos de livros de viagem, de escritores XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 107 como Paul Theroux e Bruce Chatwin, Lima escolheu a Colômbia por se tratar, no seu ponto de vista, de um país que representava as aspirações latentes de uma integração continental (a latino-americana) e as frustrações desse ideal. Assim, ao se falar de uma situação local, inevitavelmente se permitia a discussão de aspectos de um contexto mais amplo, em âmbito regional. Símbolos, Dinâmicas e Vozes Colômbia espelho América lança mão de cinco símbolos colombianos relacionados à temática da integração latino-americana. O primeiro é composto pelas estratégicas características geográficas do país, o único da América do Sul com costas para os oceanos Pacífico e Atlântico. O segundo seria a cidade portuária de Cartagena, por onde passava o tesouro que a Espanha explorava no continente. Alvo histórico de pilhagens, Cartagena seria palco da resistência espanhola diante dos seus inimigos, abrigando grandes fortificações militares. Em terceiro lugar, está o mito de El Dorado, paraíso repleto de ouro imaginado pelos conquistadores séculos atrás. Por fim, duas figuras humanas: Simón Bolívar, líder venezuelano que chega a reunir três Estados sob o nome de GrãColômbia, e Gabriel García Márquez, escritor colombiano que transforma sua terra natal Aracataca na mítica Macondo, “microuniverso que plasma as realidades surrealistas (...) de todo um continente” (LIMA, 2004, p. 311). Tendo como fio condutor o relato da própria viagem do jornalista, a narrativa se vale deste deslocamento para introduzir novos níveis espaciais e dimensões temporais no texto, como, por exemplo, quando relaciona dois episódios ocorridos no mesmo cenário que estão separados pelo momento de eclosão. Neste sentido, o livro comete a ousadia de viajar para o futuro em um trecho específico e demarcado, exercitando a ficção científica, prática nada comum para obras jornalísticas. No caso, se trata de um passeio por uma Amazônia Continental no ano de 2051, quando os rios da região são administrados de forma integrada pelos países que os abrigam (LIMA, 1989, p. 19-21). XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 108 Embora a narração se desenrole na perspectiva do autor, ela se mostra maleável à pluralidade de vozes que travam contato com Lima, quando este cede espaço para a manifestação de figuras de notável reconhecimento social e pessoas anônimas, seja em falas na primeira pessoa ou em depoimentos tratados na terceira pessoa onisciente, do autor. O uso de distintas funções de linguagem varia o ritmo narrativo, enriquecido também com o livre escoar dos pensamentos dos personagens, tratados de forma humanizada. Exemplo: no diálogo – muito mais em tom de conversa do que de entrevista - com Germán Vargas Cantillo, amigo próximo de García Márquez, as declarações do entrevistado são longas, mescladas a comentários do entrevistador que acrescentam informações e introduzem o próximo tema abordado, dispensando as indagações do tradicional esquema perguntaresposta. O resultado é um texto mais fluente e coeso, que respeita o raciocínio do interlocutor (LIMA, 1989, p. 103-107). O tratamento dos personagens preferencialmente pelo primeiro nome e não pelo sobrenome, ao longo do livro, é um traço humanizador que revela a disposição do jornalista para se aproximar das pessoas com quem interage. Sempre que fala de si, sem receio de expressar sua voz autoral, e se abre para trocas afetuosas, o autor evidencia o contraste com o típico distanciamento pregado pelo jornalismo tido como objetivo, neutro e imparcial. O cuidado de Lima em humanizar seus personagens é tamanho que até elementos da natureza e acidentes geográficos ganham contornos de seres humanos. Quando descreve o principal rio colombiano de ligação para o mar, por exemplo, tem-se a impressão de que o mesmo possui vontade e esforço próprios nesta frase: “O Magdalena consegue a proeza de evitar a Amazônia exatamente porque as duas cadeias de montanhas que sobem para o norte e nordeste formam paredão de proteção, empurrando o rio para o Caribe” (LIMA, 1989, p. 28). XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 109 Na obra, não se identificam traços de imersão na realidade apenas na exploração de paisagens e cenários, mas também no interesse por fatos coincidentes ao transitar do jornalista pela Colômbia – como o desempenho de um ciclista do país em um torneio de destaque internacional, transmitido dia após dia via rádio – e na sua postura de se deixar levar pelas contingências que o obrigaram a mudar de planos, aceitando novas situações que lhe foram apresentadas para poder convertê-las em novas possibilidades de descobertas e conclusões inesperadas. Digressões e Documentação, sem Perder a Leveza Como já mencionado acima, Colômbia espelho América alterna dimensões temporais conforme o autor se locomove pelo país. A técnica da digressão conduz o leitor do tempo presente, a viagem de avião de Lima em maio de 1987, para o ano de 1560, quando os espanhóis adentram as mesmas selvas que o Boeing que o conduz avista, instigados pela busca do ouro dos indígenas. Faz o mesmo quando o jornalista aporta em Cartagena, e da descrição das heranças de sua arquitetura e construção parte para a origem de tantas fortificações militares, desde a fundação da cidade no século XVI, passando pela prosperidade do domínio espanhol, os ataques de piratas ingleses e franceses – inclusive o capitaneado pelo notável Francis Drake -, o comércio de escravos negros e a resistência do Forte San Felipe de Barajas ao pior dos cercos estrangeiros, no século XVIII. O resgate de tantos fatos históricos obviamente demandou a Lima um trabalho extenso de investigação e documentação, para que os dados utilizados no seu texto fossem os mais precisos possíveis. Mesmo quando certas informações se confundem com lendas, e não se consegue separar claramente o real e o mágico, é preciso ter ciência disso e dizê-lo ao leitor, como se nota no livro (LIMA, 1989, p. 130). O grande risco de se construir um XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 110 longo recorrido histórico é transformar o texto em um relato “pesado”, cansativo e enfadonho para quem o lê, preocupação que o autor identifica quando defende a linguagem jornalística baseada na fundamentação combinada com a fluidez, de modo que a leitura transcorra com leveza e naturalidade por várias páginas. Nesse sentido, a diminuição da distância temporal entre os acontecimentos passados e o momento da leitura, por meio da colocação dos verbos no tempo presente, colabora para a atualização do relato. O procedimento, padronizado no texto jornalístico convencional, não é desprezado em Colômbia espelho América. No exemplo abaixo, Lima narra um evento ocorrido no século XVI como se ele tivesse acabado de acontecer: Aguirre começa a espalhar boatos de que traz muitas pedras preciosas. Até que o governador da ilha, Juan Villandrando, decide visitar esse desconhecido misterioso que desperta em todos a ilusão de El Dorado. Cai na armadilha: Aguirre o prende, rouba os cofres reais, saqueia a população. E quando parte de seus homens se rebelam, fugindo para o continente, a fúria sanguinária de Aguirre rompe os últimos bloqueios internos que lhe impediam a total loucura. Numa carnificina avassaladora, manda decapitar alguns de seus oficiais, bem como várias personalidades importantes da ilha. O governador é enforcado (LIMA, 1989, p. 24). Convites ao Leitor Desde as primeiras páginas, Lima lança mão, com bastante freqüência, de uma estratégia claramente identificada com a preocupação em atrair o leitor para o percurso do texto e as reflexões plantadas nesse caminhar. Trata-se de indagações que encerram parágrafos ou sucedem descrições, convidando o XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 111 leitor a ficar alerta e se posicionar sobre o tema que é questionado. Nos casos em que o autor expõe pensamentos e julgamentos, a subseqüente pergunta no texto desponta, para aquele que o lê, como se lhe dissesse “você concorda comigo ou discorda do que acabei de escrever?” ou então “o que você teria a dizer sobre isso?”. Dois exemplos desta “artimanha” encontram-se nos excertos abaixo: O espanhol perseguia as lendas de ouro, submetia nações inteiras para obtê-lo pela cruz e pela espada. E o inglês, o francês vinham acossar o tesouro espanhol, propriedade espúria, para pilhar e destruir e matar e construir a grandeza deles... Piratas, bucaneiros e corsários com o aval da nobreza para roubar. Abutres sobre abutres? (LIMA, 1989, p. 23) Não é preconceito. Nem querer impor modelo de fora. Mas por que nós, latinos, não conseguimos ser – enquanto povo, nação, conjunto, eficientes? Por que nossas sociedades não andam? Por que não conseguimos estabelecer uma civilização dos trópicos que seja de efetiva qualidade social, tecnológica, administrativa, empresarial, humana? (LIMA, 1989, p. 2627) Este último fragmento, não por coincidência, é significativo porque revela outro recurso generalizado de inclusão do leitor: a colocação do pronome na primeira pessoa do plural – “nós”, ou seja, “eu, autor, e você, leitor” -, que no caso deste trecho se reforça por estar acompanhado de um adjetivo partilhado por ambos os sujeitos envolvidos no processo – “latinos”, que se refere a quem escreve e a quem lê. Uma indagação do tipo “Por que nossas sociedades não XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 112 andam?” se insere em uma outra proposta do autor, ainda mais abrangente: levar o leitor a exercitar sua condição de ser social e refletir sobre a coletividade que o cerca e do qual ele faz parte, evidenciando o papel social que o livro-reportagem é capaz de assumir. Considerações Finais Convém mencionar que esta investigação encontra-se em estágio inicial e, portanto, parte considerável do conteúdo de Colômbia espelho América ainda será analisada com maior detalhe e atenção. Entretanto, já foi possível detectar a existência de inúmeros recursos literários no livro-reportagemviagem de Edvaldo Pereira Lima, bem como suas contribuições para que a obra pudesse ser tomada como caso bem trabalhado de texto que explora as potencialidades do jornalismo literário em seu formato mais enriquecedor, justamente o livro-reportagem. Referências Bibliográficas BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Contexto, 2006. LIMA, Edvaldo Pereira. Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez, viagem pelo sonho da integração latino-americana. São Paulo: Perspectiva e Edusp, 1989. LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo: Brasiliense, 1993. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 113 LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 2.ed. São Paulo: Manole, 2004. LIMA, Edvaldo Pereira. CONCEITOS. Academia Brasileira de Jornalismo Literário. Disponível em: <http://www.abjl.org.br>. Acesso em 16 jun. 2009. PENA, Felipe. Jornalismo literário. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 114 DO CHORO AO RISO! O PODER DA PROPAGANDA EMOTIVA NA DISPUTA ELEITORAL Marcela Nabuco dos Santos Resumo: Neste trabalho pretende-se apresentar uma análise do poder da propaganda emotiva na disputa pelo eleitorado durante a trajetória de sua campanha na utilização das mídias televisiva e radiofônica. Será demonstrada a diferença entre uma propaganda racional e emotiva e seus efeitos de causa, trazendo aos eleitores uma “realidade” e caracterização de personagens desenvolvidas por seus coordenadores de campanha com o intuito de vender sempre a melhor imagem dos seus clientes e a mais próxima da qual o povo deseja naquele ano eleitoral. Serão empregadas reflexões de artigos científicos desenvolvidos por Margarete Bin, Gustavo Alves, que fazem uma análise do discurso político na propaganda eleitoral gratuita para deputados estaduais-PR-2006 e um artigo de Rosane da Conceição intitulado de „Propaganda: Um romance quase perfeito‟. Falar-se-á do poder de emocionar, de persuasão, citando exemplos, falando do Acórdão de n.1.649/2008 e sobre a preocupação da imagem do político, desde visual até a sua base familiar, regionalidade, valores e crenças, tudo feito com exclusividade para atrair eleitores e, consequentemente, “garantir” a vitória dos seus “clientes”. Com este artigo, o objetivo é propor uma análise e reflexão do poder de emocionar com risos ou lágrimas e de se fazer vencer um candidato através delas, muitas vezes transformando-os em verdadeiros “heróis do povo”. Palavra-Chave: Propaganda Emotiva; Persuasão; Vitória; Imagem. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 115 THE CRY OF LAUGHTER! THE EMOTIONAL POWER OF ADVERTISING IN ELECTIONS Marcela Nabuco dos Santos Abstract: In this paper we present an analysis of the emotive power of advertising in the race by electorate during the course of his campaign on the use of television and radio media. The difference between a rational and emotional propaganda and its effects in question, bringing managers in order to sell when the best picture of their customers closer to what people want that election year. Employ ideas of scientific papers developed by Margarete Bin, Gustavo Alves makes us an analysis of political discourse in electoral propaganda for state legislators- PR-2006 and an article by Rosane da Conceição titled Propaganda: An almost perfect novel. We talked about the emotional power of persuasion, we cite examples, we speak of Case n.1.649/2008 and concern about the image of a politician from visual to his family background, regionality, values and beliefs, all made exclusively to appeal to voters respectively and “ensure” the victory of their “clients”. With this paper we propose an analysis and reflection of the power of emotion to laughter of tears and make a candidate win through them, often turning them into real “heroes of the people”. Key Words: Propaganda Emotional, Persuasion; Victory; Image. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 116 Introdução Emoção- significa abalo moral ou afetivo; perturbação, geralmente passageira, provocada por algum fato ao nosso espírito (boa ou má notícia, surpresa, perigo). Significado com encaixe perfeito para o que pretendemos tratar nesse trabalho, colocando em debate o poder que a propaganda emocional exerce na disputa eleitoral e da sua persuasão em seduzir o eleitor a favor dos candidatos presentes na disputa. A propaganda emocional tem como uma das suas principais funções a de emocionar e provocar sensações a quem a assiste. Por diversas vezes representa uma “realidade”, que é desejada pelos eleitores e provocada a ser desejada pelos seus coordenadores de campanha. Ex: No ano de eleição X, a população sofreu com a crescente morte por dengue. Qual a realidade? A morte, qual o desejo do povo?A solução para o problema “dengue”. E qual é o desejo dos coordenadores de campanha? Provocar a indignação, aumentando o desejo de mudança e logo em seguida mostrando a solução como algo árduo mais simples de se tratar que durante o tempo da gestão atual não foi realizado pelo candidatado no poder, mas que com “boa vontade e esforço” o adversário certamente dará a solução. Indignação, raiva, medo, esperança e felicidade são sentimentos provocados em um único exemplo em que ao final podemos constatar o poder da propaganda emotiva. Uma realidade teatralizada com personagens bem arrumados, alinhados e sempre desejosos por mudanças de vida para o seu “eleitorado sofrido” com as causas atuais do ano eleitoral. Jingles fácies de cantar e principalmente de decorar a “musiquinha” e que cai no gosto das pessoas, melodias legais com ritmos que identificam o candidato e na televisão cenas fortes, outros que se familiarizam com a realidade vivida pelas pessoas e um candidato que mais do que uma pessoa normal é colocada em cena como um super herói sem capa e sem poderes sobrenaturais, mas com poderes reais de solução para se não todos os problemas, a grande parte deles. O eleitorado, ou seja, o povo precisa acreditar que o poder está nas mãos deles e que eles delegam a quem achar mais conveniente o que não XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 117 deixa de ser verdade, mas conveniente para quem? Se a fantasia se mistura com a atualidade e o desejo de cada um que deposita seu voto na urna, muito provável que o mais conveniente seja para aquele que melhor trace seu plano de campanha eleitoral. Acreditando nesse poder que se encontra em suas mãos, o eleitorado vota no candidatado X e repassa para ele o domínio, confiando que a mágica será feita e a mudança acontecerá. Sobre esse trecho citado, podemos utilizar como exemplo um trecho do jingle da Campanha de Reeleição do Lula para presidente no ano de 2006, quando ele dizia: “É Lula de novo com a força do povo”, mostrando-nos que a realidade debatida até agora em que o eleitorado possui o poder em suas mãos e que o candidato tendo a certeza disso precisa mostrar ao público que ele não quer tomar para si o que é do povo e sim pela força deles e com total autorização dos mesmos, governa aquele local para a melhoria deles, ou seja, a população. É de grande importância a utilização do poder de persuasão para convencer o eleitorado do que se está sendo tratado. No programa eleitoral é necessário que se demonstre segurança e confiança nas palavras ditas e os argumentos precisam ser convincentes e positivos para que sejam bons aliados nas argumentações. O poder da palavra e como a utilizamos é outra questão eficaz para a vitória nas eleições. Palavra tem poder... Emocionar nem sempre significa chorar, podemos também utilizar dos risos para ganhar as eleições, por muitas vezes observamos nas pesquisas eleitorais que candidatos que nomeamos de “ridículos” ganharam eleições ou ficaram perto da vitória, por tratarem a política como uma diversão e através deles podemos constatar um ponto que diverge do primeiro debatido por nós até o momento. No primeiro momento debatemos o poder de emocionar aos eleitores que depositam total confiança e crença nos seus candidatos, mas através dessas “figuras políticas” podemos verificar outro tipo de candidato que também se utiliza da emoção, mas para se indignar com os fatos ocorridos e acabam votando nessas “figuras” para representá-los, por não confiar na política e por acreditar que votando em políticos que se vestem de Robin é uma forma de demonstrar essa indignação diante dos problemas atuais ou XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 118 simplesmente por diversão, porém mesmo assim podemos ver o poder da propaganda emotiva na vitória do candidato, seja por risos ou por choros o que referenda, sobremodo, o que colocamos até o presente momento. Desenvolvimento A propaganda eleitoral é uma das formas que mais aproxima o eleitor do seu candidato, pois podemos entrar nas suas casas sem a permissão dos seus donos e ali temos todo o direito de deixar a mensagem que queremos passar naquele momento, criando laços afetivos e gerando diversos sentimentos com os discursos bem elaborados que se fazem entendidos por todos os assistidos. O candidato precisa encontrar uma imagem certa e mais próxima do seu povo para que a identificação possa existir com o público. Veremos ao desenvolver desse trabalho que o emocional atrai muito mais do que o racional, e por isso no cenário atual político brasileiro podemos observar claramente a mudança por propagandas emotivas, deixando mais de lado as racionais ou as simplesmente informativas, pois essas não colaboram com a vitória na disputa eleitoral, um indicativo de que a reflexão, a análise, o pensar, doem, causam e se opta sempre pela mensagem simplista, reducionista, que manipula as massas, pois “cria” vínculos pretensamente “afetivos”. Racional x Emotiva Partiremos agora da diferença entre propaganda emotiva e racional, a primeira como citamos diversas vezes ela é criada para emocionar e criar vínculos com o público e a segunda é informativa, foi feita para passar a mensagem, funções e especialidades que estão sendo comunicadas naquele momento. E qual a função da propaganda eleitoral? Não é justamente informar os planos de governo? Deixar claro para o eleitorado quais as pretensões na sua gestão política? Se for verdade, por que então estamos debatendo que a propaganda emotiva convence mais que a racional? XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 119 Pela simplicidade do fato de como as informações nos são passadas de maneira milimetricamente trabalhada, aonde, mas do que informar ao eleitor de seus projetos, o candidato precisa confiar no que está dizendo e transmitir através de suas palavras toda essa certeza fazendo com que se acredite nele. As pessoas não querem assistir ou ouvir candidatos didáticos e sem expressão, alguém que se comunique “friamente” com eles, e sim de “laços e amigos” que saibam chegar até o ouvinte através da televisão ou do rádio, porém esse “alguém” não pode simplesmente apresentar o programa eleitoral de bermuda ou pronunciar palavras erradas para se aproximar dos eleitores, claro que não, primeiro pelo fato de termos um eleitorado instruído que também vota e decide nas urnas e segundo porque a população menos favorecida não está querendo um candidato igual a eles, e sim um que lute por eles, alguém que os entenda, porém com “mais capacidade” para governar a cidade, estado ou país. Imagem e Discurso Segundo Andrade (1996), a imagem certa é aquela que o eleitor identifica num candidato, homem ou mulher, como o político enfim, capaz de atender ao que ele exige, satisfazer as suas necessidades porque o eleitor confia na impressão que tem dele, na intuição de ser aquele o melhor candidato para ganhar o seu voto. A imagem certa é a imagem vencedora. Conforme Andrade (ibidem) nos fala, a imagem do político precisa identificá-lo e trazê-lo para mais próximo do seu eleitorado; é necessário que se construa a imagem e não apenas a visual, mas como um todo, na qual se envolve crenças, valores e ideologias a fim de convencer ao eleitor. O político bem vistoso, sorridente e simpático, que sabe se comportar em frente às câmeras utiliza-se bem da linguagem e corresponde às expectativas dos eleitores através da imagem exposta por eles, afinal a imagem certa é a imagem vencedora. Para cada local uma forma de se comportar e se expressar. Em passeatas o candidato mantém a linha mais informal e participa no meio da população; já em propagandas eleitorais ele volta à formalidade e com jeito XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 120 mais sereno de quem possui a solução para os problemas atuais, a imagem é a mesma, porém ela adapta-se ao meio vivido. O candidato cria uma identidade própria e diferente e a sua imagem é agregada a propaganda emotiva de forma positiva e bem trabalhada. Em seu artigo Propaganda: Um romance quase perfeito, Rosane da Conceição nos diz que “Os publicitários lançam mão do discurso com um “exercício do poder” das palavras mesmas, em vista de promoção de idéias próprias a um pensamentos da representação”; assim podemos afirmar que o discurso está associado a imagem e à realidade que nos é apresentada de uma maneira familiar e bem próxima ao que o eleitorado deseja. Em seu artigo, Rosane cita Zilda Knoploch (mestra em antropologia) que afirma: “A propaganda é um poderoso meio de difusão de hábitos de consumo, não só de produtos industriais e serviços, como também de conceitos e idéias”. Nada mais plausível para as propagandas políticas que cria grandes conceitos e ideais sobre os seus candidatos, afinal é muito provável que o candidato ganhe simplesmente porque apresentou os melhores projetos para a cidade, mas tem muito mais vantagem eleitoral aquele que sabe como apresentar seu plano governamental, não é o que se quer dizer e sim o que o povo quer ouvir do jeito certo. A propaganda emotiva compreende fatores de apelo emocional na imagem, no texto e na dicção, formulando idéias e criando conceitos em quem assiste ou ouve o horário eleitoral, tudo feito com o mesmo destino: o de convencer e persuadir o público, assim nos fala Rosane, quando cita: “Ele, em nosso caso o eleitor, é seduzido por uma espécie de romance preparado para satisfazer suas expectativas já existentes, quando muito reelaboradas, representadas.” (Artigo Propaganda: Um romance quase perfeito, p.5) É importante também destacarmos o grande efeito que o discurso tem na construção da imagem do candidato e de como o eleitor projeta as cenas diante do que se está ouvindo, criando concepções imaginárias. O discurso político é elaborado de forma exclusiva para cada programa de acordo com que vai ser apresentado no dia pelo candidato, forma-se o que podemos chamar de conjunto de procedimentos, utilizados para privar o adversário e ganhar a vitória nesse grande jogo político. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 121 No artigo Análise do discurso político na propaganda eleitoral gratuita para deputados estaduais- PR-2006, os autores citam Alves (2006) que diz que o discurso é uma arma na disputa política porque é um texto que contém a busca por posições sociais e políticas onde o sujeito lida com posições sociais, discursivas e políticas que já foram anteriormente construídas ou tencionadas por ele mesmo e por outros sujeitos visando ou destruí-las ou reformulá-las, ou ainda, retomá-las, num processo de fixação parcial de sentidos e do estabelecimento de uma hegemonia. Podemos considerar a importância do discurso político na criação da imagem do candidato e de como bem apresentado torna o mesmo aceito pela população, pois suas propostas de governo ganham mais força perante o eleitorado, mais credibilidade, passa confiança e ganham legitimidade perante quem assiste ou ouve os programas eleitorais. Com o discurso político, o candidato ganha força também para manifestar a sua indignação perante a gestão atual ou glorificar o que fez até agora pela população e explana de forma positiva o que pretende fazer mais ainda depois do ganho eleitoral; também pode defender-se ou acusar, tornando-se o porta-voz do eleitorado e tudo isso ganha mais força quando colocado nas propagandas emotivas, que aqui poderemos chamar de “propagandas eleitorais emotivas”, aonde utiliza-se dos recursos sonoros, da imagem certa e frases bem construídas, o que provoca identificação e, posteriori, projeção (o eleitor projeta-se no candidato, “faz parte” dele e do que defende) O discurso reforça idéias, direciona opiniões, contrasta elementos e cria realidades e como disse Bourdieu (1998), o que dá poder às palavras é a crença na legitimidade delas ou daquele que as pronuncia, esse pensamento avigora a idéia de que um discurso é mais um instrumento favorável na busca da vitória. Outro trecho que podemos retirar do artigo que reforça toda a idéia desse trabalho é a que na política hoje o candidato se mostra como aquele cidadão disposto a atender os desejos dos seus eleitores, e na televisão o seu discurso torna-se fortalecido, pois é o contato com o eleitor aparentemente XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 122 frente a frente, dando a oportunidade dele mostrar que tem condições de atender a vontade do povo.Cria-se a ilusão da empatia de fato. Com todos esses feitos podemos observar que a maior finalidade é a produção da melhor imagem através das estratégias positivas, seduzir e garantir os votos e o poder político, porque o candidato ele constrói o seu personagem e a sua “marca”. Podemos finalizar, seguindo Ruth Amossy (2005) que todo ato de tomar palavra envolve a construção de uma imagem de si. Mas para isso não é preciso que o locutor pormenorize suas qualidades, pois seu estilo, suas competências lingüísticas e suas crenças implícitas são suficientes para construir uma representação de sua pessoa. Assim, o locutor efetua em seu discurso uma apresentação de si. Propagandas Emotivas Todos esses argumentos citados até agora, colaboram para o sucesso das propagandas eleitorais e claro que como decorrência a vitória política do candidato; contudo, a propaganda emotiva é o nosso foco nesse artigo e por isso podemos afirmar que a construção da imagem, o poder de persuasão, veemências dos discursos, entre outros consolidam a propaganda emotiva como a preferida dos coordenadores de campanha porque é a que mais fala por todos esses recursos, quer dizer ela é formada por esses recursos e como dito anteriormente ela pode levar a emoção do choro ou dos risos. Exemplificamos com as eleições de 2008 na cidade de Aracaju, estado de Sergipe, aonde podemos encontrar uma dessas tais “figuras políticas” que de uma forma irreverente tentam ganhar a simpatia e votos eleitorais: o senhor Jaelson Gomes Mota, candidato a vereador, em sua Campanha vestia-se de Robin e andava de jipe pelas cidades, carreatas e até mesmo passeatas políticas do seu partido. Em torno dele muitas histórias foram contadas como a que seu melhor amigo se vestia de Batman e junto com ele nos finais de semana saiam pela cidade em busca de diversão e da sua tristeza quando ele faleceu, mas nesse exemplo podemos verificar a emoção através dos sorrisos, das pessoas pedindo para tirar foto com ele e seu “batmóvel”. E quem não o XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 123 conheceu ou comentou sobre ele naquele ano de eleição? Nesse ano de 2008, concorreram 234 candidatos a vereador e o candidato em questão ficou em 65, totalizando 1.170 votos. Notabilizou-se, pois, o tipo criado. Seguindo sequência de exemplificação, vamos colocar em questão a Campanha Política para governo no ano de 2006, onde venceu em primeiro turno o atual governador do estado de Sergipe Marcelo Déda que tem como mote de governo: “Sergipe de Todos”. Um candidato de boa aparência física, agradável, simpático, sorridente e de perfeita oratória, nunca perdeu nenhuma eleição e derrubou uma hegemonia governamental no estado. Sua campanha foi voltada para a informação com toda a emoção envolvida, slogan aonde a bandeira sergipana corta o coração, mote que reflete o desejo do povo que naquele momento era de um governo que pensasse no coletivo e não apenas nas classes mais favorecidas, que falasse por todos e que criasse projetos para os mesmos. Propagandas Eleitorais com jingles que emocionavam e que envolviam sentimento; o tempo todo trabalhou- se a emoção e não falou-se mal dos governos anteriores, apenas rebatia-se quando o candidato adversário resolvia insultar de alguma forma, mas tudo feito com muita classe e principalmente o candidato passava clareza nas suas intenções quando ditas nos programas eleitorais, e para finalizar esse exemplo cito que no dia da sua vitória, ele encontrava-se vestido com a blusa de São Jorge que é conhecido por ser um santo guerreiro e também extremamente popular, é um dos santos mais próximos do povo e ele ressaltou a blusa que usava, ao povo e a cor do seu partido. A imagem que criou-se do Marcelo Déda foi gerada nas pessoas como a de um herói aquele que iria solucionar todos os problemas existentes e que seria a “salvação” para o sofrimento do “povo”. O messianismo manipulador se presentificou, como é comum no cenário político nacional. A questão da propaganda política é antiga, e é fato claro que precisa-se utilizar de técnicas e métodos para difundir o candidato e suas idéias. Uma das proibições no Código Eleitoral (Cód. Eleitoral art. 242) diz que é proibido empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais e passionais. Porém como podemos XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 124 avaliar se a Campanha Política ultrapassou os limites do emocional? Afinal a Propaganda Emotiva é didática e estudada em tempos escolares. Em setembro de 2008 os juízes que compunham o Tribunal Regional Eleitoral do Acre, por unanimidade julgaram improcedente a representação movida pelo recorrente a Coligação Frente Popular das Comunidades que argumentou da prática de propaganda eleitoral irregular, ocorrida na manhã do dia 05 de setembro de 2008, durante o horário eleitoral gratuito, onde a recorrente afirma que seu adversário utilizou de uma roupagem de matéria jornalística; de consulta popular com o intuito eleitoral, onde é possível identificar o entrevistado, de indução do eleitorado a crer que a cobrança do IPTU é prática ilegítima; de utilização de artifício para criar estado emocional nos eleitores, com musicas dramáticas e pessoas chorando; do uso de truncagem, montagem e utilização de recursos gráficos com o intuito de degradar a imagem do candidato majoritário da recorrente; da difusão de propaganda com o intuito de degradar e ridicularizar o candidato majoritário da Coligação recorrente. No relato final do julgamento, chegam à conclusão que a exibição do choro, sem exploração sensacionalista, não configura meio publicitário que crie artificialmente na opinião pública estados mentais, emocionais ou passionais, proibidos pela legislação eleitoral. Foi esse o entendimento do egrégio tribunal... Considerações Finais É fato que a propaganda emotiva precisa ser de bom-gosto e bom tom e disfarçadamente demonstrar o seu candidato, não há mal nenhum em fazer as pessoas se emocionarem, rirem ou cantarem “musiquinhas”, afinal naquele momento em que os eleitores sentam na frente da televisão elas querem ver algo novo e principalmente querem acreditar que esse “novo” pode virar realidade, não simplesmente assistir a mais um tele-jornal aonde as notícias já ajudam na descrença de que as coisas podem melhorar, então no ano eleitoral os horários políticos são a válvula de escape para todos os fatores ocorridos XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 125 naquele dia, porque nela o eleitorado tenta encontrar o perfil do candidato que ele espera que possa resolver alguns dos tantos problemas demonstrados nos jornais. Por isso a propaganda emotiva faz companhia aos candidatos políticos se articulando com toda a linhagem de boa imagem em toda a sua amplitude. A propaganda precisa valorizar idéias e seus candidatos promovendo o encontro do seu candidato com os desejos do povo, por isso a necessidade de criar e produzir símbolos, jingles, motes, cores e todo tipo de material condizente com o público-alvo, que envolva emocionalmente. Contudo, vimos que a propaganda, especificamente a eleitoral, tem na sua vertente mais seguida pelos coordenadores de campanha a emotiva, pois uma das suas principais funções é a de emocionar e provocar sensações nas pessoas, também observamos que a realidade dela é teatralizada com o objetivo de oferecer ao eleitorado o que eles desejam do seu candidato naquele ano eleitoral. O eleitorado necessita acreditar na mudança e o seu candidato precisa demonstrar que se pode confiar nele, o poder está nas mãos do primeiro, mas este deposita inteiramente no segundo, basta acreditar. Há candidatos que emocionam com lágrimas e outros que nos fazem rir com as situações, mas em ambos os casos podemos afirmar que a emoção fala mais alto, e é através da propaganda eleitoral que o candidato se aproxima do eleitor, pois entra nas casas sem pedir permissão e ali deixa sua mensagem, ou seja seus planos de governo acompanhados de uma misto de discursos bem elaborados e de uma imagem bem alinhada no vídeo.O candidato precisa encontrar a imagem certa e criar a sua própria identidade, a imagem que lhe dará votos na eleição. Segundo Manuel Castells “o ambiente influi e muito” (CASTELLS,1999,p.361), pois geralmente os eleitores assistem à televisão nas suas casas, no horário de descanso: de manhã antes de ir trabalhar, na hora do almoço e à noite quando estão bem descansados. E nesse momento as propagandas eleitorais são absorvidas com maior tranqüilidade, por isso precisamos pensar na imagem do candidato como um todo, e não apenas no visual. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 126 Finalizando, citamos o título do livro de Carlos Augusto Manhanelli: “Eleição é guerra!” E como toda guerra, por mais dolorida que seja tem lágrimas quando se perde um ente querido e tem risos quando ele consegue voltar para casa, mas um registro é certo: ali sempre haverá emoção, sempre haverá choro e riso! Referências Bibliográficas DE ANDRADE, Sérgio “Arapuã”. Como vencer eleições usando TV e rádio. São Paulo: Editora Nobel,1996. GARCIA, Nélson Jahr. Sadismo, Sedução e Silêncio. São Paulo: Editora Loyola,1990. MANHANELLI, Carlos Augusto. Eleição é Guerra. São Paulo: Editora Summus, 1992. MATOS, Heloiza; RUBIM, Antônio C.; PORTO, Mauro; RAMOS, Murilo C.; SOARES, Murilo C.; HALLIDAY, Tereza L.; LIMA, Venício A.; PINTO, Virgílio B. Noya; GOMES, Wilson. Mídia, Eleições e Democracia. São Paulo: Editora Página Aberta Ltda, 1994. Propaganda: Um romance quase perfeito. PEREIRA, Rosane da Conceição. Disponível em: http://www.uff.br/mestcii/rosane4.htm. Acessado no dia 10 de setembro de 2009. Uma abordagem sobre a propaganda eleitoral. BERNANDI, Jorge. Disponível em: http://www.paranaeleitoral.gov.br/artigo_impresso.php?cod_texto=109. Acessado no dia 10 de setembro de 2009. Análise do discurso político na propaganda eleitoral gratuita para deputadosPR- 2006. BIN, Margarete Maria Soares; ALVES, Gustavo Biasoli. Disponível em: www.//cacphp.unioeste.br/eventos/seminariolhm/anais/Arquivos/Artigos/Simposio/simposi o_add_7_pdf. Acessado no dia 09 de setembro de 2009. Acórdão N.1.649/2008. Disponível: http://www.treac.gov.br/julgados/2008/internas/acordao/page/Denise_Bonfim/ac ordao1649-recursoeleitoral(Representacao)301-classe30.htm. Acessado no dia 11 de setembro de 2009. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 127 Propaganda Eleitoral. Disponível: www.ptb.org.br/?page=VerarquivoPage&cod=32. Acessado no dia 11 de setembro de 2009. BORDIEU. Uma abordagem sobre a propaganda eleitoral. BERNANDI, Jorge, p.05 Disponível em: http://www.paranaeleitoral.gov.br/artigo_impresso.php?cod_texto=109. Acessado no dia 10 de setembro de 2009. CASTELLIS. Uma abordagem sobre a propaganda eleitoral. BERNANDI, Jorge, p.09 Disponível em: http://www.paranaeleitoral.gov.br/artigo_impresso.php?cod_texto=109. Acessado no dia 10 de setembro de 2009. Amossy,Ruth. Uma abordagem sobre a propaganda eleitoral. BERNANDI, Jorge, p.10 Disponível em: http://www.paranaeleitoral.gov.br/artigo_impresso.php?cod_texto=109. Acessado no dia 10 de setembro de 2009. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 128 LOBBY NO BRASIL REGULAMENTADO E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA Rose Mara Vidal de Souza1 Resumo: O artigo apresenta uma reflexão sobre o lobby e legalização da profissão no Brasil. A partir do pluralismo - entendido como uma tradição de pensamento e ao mesmo tempo um conjunto de valores públicos que implicam respeito, diversidade e tolerância -, discute o lobby como uma forma de exercício da política pluralista, mas que acarreta graves desequilíbrios na representação política. O artigo perpassa pelo conceito de origem inglesa e norte-americana . Na parte final, trata dos grupos de pressão e de interesse, além da importância da democracia no seu contexto. Conclui que a sociedade deve, obrigatoriamente, estar mobilizada para influenciar o poder público, que, afinal de contas, a representa e por ela foi eleita, assim como empresas, entidades, sindicatos e movimentos sociais devem lutar pelos seus direitos, sendo o lobby uma dessas representações. Palavras-Chave: Lobby, Marketing Político, Comunicação Introdução Na sociedade contemporânea, pós-industrial e norteada pelas regras do capital, parte do que somos, sentimos ou pensamos decorre do partilhamento de conteúdos aos quais não temos acesso a partir de nossas relações com os XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 129 outros e com o mundo ou das práticas sociais cotidianas, mas do universo mediado pelos meios de comunicação. Assim, nossas relações com o mundo estão cada vez articuladas e condicionadas à forma como somos vistos, fator que tem tornado a divulgação de nossas ações algo imprescindível para a imagem, o desenvolvimento e o crescimento de qualquer natureza jurídica ou física. Fazem parte destas ações de comunicação diversas áreas, como a assessoria de imprensa, a publicidade e propaganda, a fotografia, o marketing e as relações públicas. Esta última faz as vezes de um profissional que não é regulamentado no Brasil: o lobista. Segundo Nassar (2007) é preciso deixar claro que não há lobby “do bem” ou “do mal”. Existem ações iniciadas por um indivíduo ou um grupo para influenciar a opinião de um representante ou um setor do governo em prol de apoio a sua causa -que é o lobby. Para Maquiavel não havia um bem, por maior que fosse, que pudesse ser avaliado como um bem sem restrições, principalmente na política (Maquiavel, 2008). Existe a construção de uma estratégia de argumentação com o objetivo de defender uma causa -que é a “advocacy”. E existe o processo de gerenciamento de ações estratégicas com o intuito de influenciar políticas públicas -que são as relações governamentais. Todas praticadas com técnicas de relações institucionais ou relações públicas. No Brasil o “lobby” é muito utilizado no meio político. Infelizmente, grande parte da população possui uma concepção errônea do significado da palavra. O lobista está atrelado a corrupção, ao suborno e a falta de ética. Neste artigo, além de exemplificarmos o que é lobby vamos sugerir este debate com a sociedade, principalmente o uso do lobby em campanhas eleitorais. Levando em conta que as questões éticas relacionadas à promiscuidade entre público e privado não são novas nem exclusivas. Devem ser enfrentadas à luz da atualidade: um mundo aberto, interligado em redes, sociedades mais informadas, mais conscientes, desejosas de participação (NASSAR, 2007). Persuasão e democracia XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 130 Lóbi (também grafado lobby) ou grupo de pressão é um grupo de pessoas ou organização que tem como atividade buscar influenciar, aberta ou secretamente, decisões do poder público, especialmente do poder legislativo, em favor de determinados interesses privados. Pressões e manipulações exercidas por lobbies também são observadas em outras instâncias do poder público (Executivo, Judiciário), e também sobre os meios de comunicação. Fazer um lobby é algo muito natural, feito por todos nós. Entre alguns exemplos de lobbyes, podemos citar a ocasião de um filho tentar convencer seu pai a comprar um vídeo game ou quando um sindicato discute melhorias nas condições de trabalho com uma empresa. A palavra lobby tem origem inglesa e significa salão, hall, corredor. Segundo alguns estudiosos, o fato de várias articulações políticas acontecerem nas ante-salas (lobby) de hotéis e congressos, fez nascer a expressão “lobbying” (lobismo) para designar as tentativas de influenciar decisões importantes tomadas pelo poder público, sobretudo aquelas relacionadas a questões legislativas, de acordo com interesses privados de alguns grupos ou setores inteiros da sociedade (DANTAS, on line). Nos Estados Unidos a palavra foi adotada com o mesmo sentido, mas a referência era o vestíbulo onde se hospedavam os presidentes eleitos antes de tomar posse e passar a morar na casa Branca. Ali ficavam os postulantes à espera da oportunidade de apresentar seus pleitos aos futuros ministros, assessores e outros altos funcionários da nova administração. Por ali até passavam também membros da Câmara dos Representantes, ou do Senado, em visita ao futuro presidente, os quais podeiam, por sua vez, ser portadores ou apoiadores do pretendido pelos solicitantes (FARHAT, p.50). Uma das principais ferramentas do lobismo é a persuasão. De acordo com Citelli (1997), para existir persuasão é necessário que certas condições se façam presentes: a mais óbvia é a livre circulação de idéias. Em uma ditadura, em um regime que censura, fica um pouco estranho falar em persuasão, visto que inexistem idéias em choque. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 131 Não há pluralidade de mensagens e, portanto é possível que o discurso nem chegue à sua fase persuasiva permanecendo nos mais baixos extratos civilizatórios. O discurso do tirano é único, daí se está recoberto de mentiras ou engodos, ninguém sabe, ninguém viu. Ademais é frenquente nas ditaduras a dispensa da sutileza da palavra e a adoção do argumento do chicote, da tortura, da pura violência física (CITELLI, 1997, p. 68). Partindo destes pressupostos podemos entender que Lobby só existe em democracias. Ou seja, são atividades legítimas, lícitas e necessárias. Para o bem delas mesmas, dos envolvidos e dos interessados e, especialmente, do fortalecimento da nossa democracia, a regulamentação do lobby é bem vinda no Brasil. De acordo com Bueno (on line), em princípio, o lobby é considerado normal em um regime democrático, porque os grupos organizados (empresas, entidades ou movimentos sociais) têm o direito (e até o dever) de se empenhar na defesa dos interesses que defendem ou das idéias que professam. Infelizmente, dada a fragilidade da classe política (com uma conduta ética quase sempre reprovável) e o jogo do Governo (que se rende a grupos para obter vantagens), o lobby, enquanto prática, tem sido desvirtuado, identificado como abuso de poder (econômico, sobretudo), corrupção e tudo o que há de mais deplorável no relacionamento humano e comercial. Seguindo o raciocínio de Bueno, no Brasil (e isso vale para qualquer outra nação), os grupos organizados têm assento, de maneira representativa, no Parlamento, como é o caso, por exemplo, da bancada ruralista, em nosso país, ou mesmo dos representantes das instituições de ensino ou da medicina privada. Os produtores agrícolas franceses e as siderúrgicas americanas fazem o mesmo, pressionando os respectivos governos para fazer valer os seus privilégios. João Bosco Lodi, consultor na área da administração, com trabalhos também sobre o Lobby, defende a tese de que não se deve confundir lobby com Relações Públicas e explica: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 132 "Estas últimas consistem em Comunicação com os diversos públicos que integram a sociedade, um dos quais é o Poder Público. O LOBBY restringe-se a uma ação junto ao poder público, um ato de influenciar sobre a decisão, enquanto Relações Públicas realiza apenas a comunicação em si. Desta forma, não existe LOBBY junto à opinião pública, como não existe lobby junto à imprensa" (BUENO apud LODI, on line). Em uma sociedade democrática, os tomadores de decisão são confrontados com uma complexa rede de interesses e se valem das idéias e opiniões dos grupos de pressão para subsidiarem suas decisões. Os grupos de pressão fornecem informações confiáveis e comprováveis aos tomadores de decisão e os mesmos transformam esses grupos em interlocutores, convidando-os a emitir sua opinião quando necessário. A atividade inclui a coleta de informações, propostas políticas, estratégias apropriadas para dar suporte a tais demandas, confecção de pesquisas e a procura por aliados. O lobbying proporciona a troca de informações e de idéias entre governo e partes privadas, capazes de infundir nas políticas públicas conhecimento de causa e realismo consciente. Seu último estágio é a pressão, momento em que o lobista deve se valer de seu poder de comunicação e persuasão (Graziano, 1994). Sendo assim, podemos conceber o lobbying como saber especializado e representação técnica, pois enquanto representam interesses especiais, os lobistas são o sustentáculo da informação de um especialista técnico-político (Graziano, 1994). Regime Militar O lobby no Brasil o seu desenvolvimento ocorreu quando o país ainda estava sob o regime militar. Apesar de não haver muito espaço para que os grupos de pressão participassem, já que o Congresso foi extremamente enfraquecido e o atendimento de demandas, assim como a formulação de políticas públicas, havia se tornado atribuição do poder Executivo, a mídia XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 133 passou a chamar de lobbying qualquer atitude que tivesse alguma relação com influência e convencimento, sem se importar com o caráter da representação de interesses. Por desconhecimento da mídia, a palavra acabou sendo confundida com compra de lealdade, o lobby só passou a existir de fato depois do processo de redemocratização. Vinte anos se passaram desde então e a atividade nunca foi regulamentada. E não foi por falta de projeto. Ex-vice presidente da República, o senador Marco Maciel (PFL-PE) tenta há duas décadas aprovar projeto para regulamentar a profissão de lobista. „„É leviana a argumentação segundo a qual quem propõe regulamentação defende o lobby. O que eu quero é acabar com o lado obscuro dessa atividade, que permite o tráfico de influência. Se houver uma disciplina, há como se punir as desobediências‟‟, comenta o senador. O texto foi aprovado no Senado em 1989 e, desde então, aguarda análise da Câmara (ROTHENBURG & CERATTI, on line). Lobby regulamentado Em outros países a profissão de lobista é reconhecida oficialmente, sendo até regulamentada por lei. O lobby chega a ser reconhecido como uma importante parte do processo político. EUA, União Européia e parte da América Latina, por exemplo, têm mecanismos reguladores das atividades de lobby. No Brasil não. O Congresso nacional mantém parado seis projetos que regulam o lobby no Brasil. O mais antigo deles, de 1989, é de autoria do senador Marco Maciel. Ainda de acordo com Nasser (2007), não é uma tarefa simples normatizar essa atividade, que é muito complexa, envolve múltiplos interesses e ainda há muita nebulosidade. O lobby nos EUA tem a “Federal Regulation of Lobbying Act of 1946", que o regulamenta. Essa lei foi atualizada em 1995 por causa de uma grande crise ética, que envolveu alguns membros e vários funcionários do Congresso XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 134 e do Executivo, entre os quais o lobista Jack Abramoff, o centro do escândalo de extensiva corrupção em Washington. Ele usou várias entidades políticas e corporativas para ganhar dinheiro, pagar viagens e outros presentes para funcionários e autoridades do governo federal. Foi apanhado, julgado e condenado a passar mais de cinco anos na cadeia (NASSER, 2007). Não foi o único a pagar pelo crime. Lá, nos EUA, além da lei federal, cada Estado e muitos municípios têm legislações próprias, que dão transparência às relações com o poder. A jovem União Européia discutiu amplamente a atividade de lobby. Enquanto isso, adotou documentos que estabeleceram princípios gerais para a conduta dos lobistas. Em 2006, foi introduzido o “Green Paper on a European Transparency Initiative”, oferecendo mais transparência e regras definidas para os 15 mil lobistas, ONGs e outros grupos que pretendem influenciar os decisores da UE. Ao mesmo tempo, o tema foi debatido em audiências públicas. Alguns de nossos vizinhos -Argentina, Chile, Colômbia, México, Perutêm leis de lobby ou de ética pública. O Brasil precisa colocar entre as prioridades de sua agenda a regulamentação do lobby, que deverá servir para toda a administração pública federal -Executivo, agências reguladoras, estatais, Legislativo e Judiciário-, deverá ser parâmetro a ser aplicado aos Estados, capitais e aos municípios com mais de 200 mil eleitores. Deverá abranger os setores público e privado, o terceiro setor, os sindicatos, as associações, as confederações, as empresas, as consultorias etc. O fundamental é que, pela regulamentação, se possa identificar quem representa quem, quais são os interesses em jogo no processo de formação das políticas públicas e se existe abuso do poder econômico. Também, o controle dos gastos diretos e indiretos envolvidos nesse trabalho. Muitos autores ligam a palavra lobby, grupo de pressão ou mesmo grupo de interesses comum a só situação, no entanto há diferenças entre os conceitos, como podemos exemplificar a seguir. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 135 De acordo com Azambuja (2003), os grupos de pressão como qualquer grupo social, permanente ou transitório, que, para satisfazer seus interesses próprios, procure obter determinadas medidas dos poderes do Estado e influenciar a opinião pública. Qualquer grupo social pode ser um grupo de pressão, quando procuram influenciar o poder público decisões de seus interesses. Já para Bastos (2004), a maior diferença entre essa ação reside no fato de que os partidos visam assumir o governo para que nele possam ser implantados os programas políticos já os lobistas, pelo contrario, não visam assumir o poder, mas sim pressioná-lo num determinado sentido, podendo depois de adquiridos seus interesses se desfazerem. Na realidade, os grupos de pressão devem ser analisados como estruturas que integram o sistema político. Não são institucionais - como as que compõem o Executivo, o Legislativo e o Judiciário - e sim informais constituídas por setores organizados da sociedade. Contrariamente aos partidos políticos, os grupos de pressão não se propõem a conquistar o poder formal. Seu objetivo é influir nas decisões, seja para promover seus interesses, seja para evitar que decisões que os contrariem sejam aprovadas. Grupos de pressão situam-se no espaço localizado entre os indivíduos isoladamente considerados de um determinado segmento social e os órgãos de governo. Trata-se de uma estrutura de articulação de interesses, em contraste com os partidos políticos, que são estruturas de agregação de interesse. Grupos de pressão, portanto, são porções sociais organizadas, reunindo indivíduos que compartilham interesses e desenvolvem ações com a intenção de inspirar decisões de governo. Para Castro (2004), o conceito de grupo de interesses são as forças sociais que emergem num grupo total, organizam se e atuam objetivando vantagens e benefícios de acordo com a natureza do grupo. Os grupos de interesse podem ser profissionais, econômicos, religiosos, ou ligados a qualquer outra função social. Não raro, eles podem converte-se em grupo de pressão. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 136 Um exemplo interessante para distinguir esse grupo foi informado por Farhat (2007) em que ele cita os monarquistas brasileiros constituem um grupo de interesses, mas não de pressão. Havendo inscrito no art. 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias a previsão de um plebiscito, a fim de permitir que o eleitorado decidisse sobre a forma monárquica ou republicana de governo, os partidários da volta do Império permaneceram no quase-anonimato. Nada fez, e pouco disse, para divulgar e promover sua causa, até os dias e semanas de propaganda, imediatamente antes do plebiscito, no rádio e na TV, no começo de 1993. Considerações Finais O lobby pode ser realizado sem violar as leis do país. Esta ressalva é importante, porque a interação dos atores sociais com os atores do poder público durante processos decisórios pode assumir uma forma degenerada, criminosa – a corrupção. É o que ocorre quando está em jogo a obtenção de vantagens ilícitas para ambas as partes; por exemplo, quando atores sociais oferecem dinheiro e/ou outros benefícios aos tomadores de decisão, em troca de diversos tipos de recompensas ilegais. Naturalmente, detectar e investigar os episódios de corrupção, assim como punir os culpados, são atitudes da maior importância para a defesa do interesse público. A mídia brasileira tem oferecido uma contribuição muito valiosa neste sentido, ao denunciar e acompanhar diariamente numerosos eventos de corrupção. Além disso, como irei argumentar em seguida, essa parcela das atividades de defesa de interesses pode e deve ser submetida a mecanismos que a tornem mais transparente e acessível aos diversos segmentos sociais – portanto, que a tornem mais compatível com valores democráticos. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 137 Qualquer que seja, no entanto, a conceituação (no processo de regulamentação do lobby no Brasil, em curso no Brasil, os profissionais de Relações Públicas, num determinado momento, defenderam - e alguns continuam defendendo até hoje - a atividade como privativa da categoria), o certo é que o lobby, em si, não merece o caráter pejorativo com que é distinguido. Concordo com Bueno (on line) quando diz que a sociedade deve, obrigatoriamente, estar mobilizada para influenciar o poder público, que, afinal de contas, a representa e por ela foi eleita, assim como empresas, entidades, sindicatos e movimentos sociais devem lutar pelos seus direitos. O limite para a aceitação do lobby, enquanto prática, está no uso adequado (democrático, transparente, ético) dos instrumentos utilizados para esta influência. Com certeza, uma boa comunicação é fundamental no sentido de favorecê-la e as empresas, grupos sociais ou entidades devem sempre valer-se dela. A corrupção, a propina e outros procedimentos não éticos devem ser vistos sob a perspectiva policial ou da Justiça e nada tem a ver com lobby ou comunicação. Referências Bibliográficas AZAMBUJA, Darcy. Introdução a Ciência Política: 15ª Edição. São Paulo: Globo, 2003. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política: 6ª Edição .SãoPaulo: Celso Bastos Editora, 2004. BUENO, Wilson da Costa. Conceito de Lobby. Comunicação Empresarial on line. Disponível XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL em 138 <http://www.comunicacaoempresarial.com.br/comunicacaoempresarial/conceito s/lobby.php>. Acesso em 12 de abril de 2009. CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de; FALCÃO, Leonor Peçanha. Ciência Política: Uma Introdução. São Paulo: Atlas, 2004 DANTAS, Thiago, Lobby. Disponível em < http://www.brasilescola.com/politica/lobby.htm>. Acesso em 10 de maio de 2009. FARHAT, Said. Lobby: O que é, como se faz. Editora Peirópolis. São Paulo: 2007. GRAZIANO, Gigi. Lobbying, Troca e Definição de Interesses - Reflexões sobre o Caso Americano in: DADOS, Rio de Janeiro, vol. 37, nº 2, 1994, pp.317-340. PORTUGAL, Adriana C. & BUGARIN, Maurício. Financiamento Público de Campanhas Eleitorais: Efeitos sobre o bem-estar social e representação partidária no legislativo. 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XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 139 A SEDUÇÃO NOS PRONUNCIAMENTOS POLÍTICOS DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Ariádne Castilho de Freitas Resumo: Este trabalho consiste em uma análise para identificar as diversas vozes que tecem e se entrecruzam em seis pronunciamentos de FHC enquanto presidente do Brasil. A Análise do Discurso de linha francesa, a proposta dialógica bakhtiniana e os pressupostos da argumentação forneceram os subsídios teóricos para a análise. A partir do estudo de diferentes formas de heterogeneidade, verificou-se a manifestação explícita do “outro” em pelo menos três dimensões: o outro 1, 2, 3 e, dessa forma, questiona-se a visão monológica da linguagem, enfatizando-se o caráter argumentativo e, portanto, heterogêneo do pronunciamento político. Os resultados apontam para a criação de sentidos muitas vezes não desejados pelo locutor; defende-se, ainda, que o dizer de FHC é extremamente sedutor. Palavras-Chave: Pronunciamento Político - Heterogeneidade - Manifestação do “Outro”- Argumentação - Sedução Introdução Como professora de Língua Portuguesa há muitos anos, deparamo-nos com inúmeros problemas, principalmente o que se refere ao trabalho com textos. Verificamos que o texto é usado como pretexto para o ensino da gramática, do vocabulário e da ortografia; a leitura do professor predomina; o XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 140 aluno, na maioria das vezes, aceita passivamente a leitura imposta pelo professor, sem questionamento; o leitor- aluno não é visto como um produtor de sentidos, o que reflete a uniformidade pretendida pela escola. Além disso, observamos que muitos professores não apresentam, nas aulas, a leitura de outros gêneros discursivos, como o pronunciamento político, por exemplo, o que poderia ser explicado pela falta de interesse que predomina entre os brasileiros em relação à política de um modo geral. A existência desses fatos é preocupante, pois o aluno deve ser sensibilizado para ler criticamente os diversos tipos de mensagem, e entre elas, o pronunciamento político, que apresenta rico material para ser discutido criticamente, para ser refletido. O trabalho com esse gênero tem importância para o exercício da cidadania, para que o aluno compreenda as diferentes posturas públicas e assuma uma posição que lhe permita contribuir para a construção da história de seu país. O pronunciamento político é fortemente argumentativo, heterogêneo e se abre à disseminação de sentidos. Por isso, as pessoas devem ter um posicionamento mais crítico para a conscientização política, observando o que está por detrás do que é dito, ou até mesmo do que não é dito, para não serem enganadas por alguns políticos. Resolvemos analisar o discurso político à luz da Análise do Discurso de linha francesa na medida em que esperamos contribuir para a sensibilização do professor e do aluno no que diz respeito à leitura desse gênero discursivo. Estabelecemos os seguintes objetivos para o trabalho: contribuir para a reflexão sobre o pronunciamento político como material alternativo para o ensino em língua materna e analisá-lo enquanto texto argumentativo. Temos como ponto de partida a hipótese de que a heterogeneidade constitui, no pronunciamento político, um recurso de persuasão. Metodologia Escolhemos seis elocuções proferidas em 1995 e 1996 por Fernando Henrique Cardoso, no seu primeiro mandato como presidente da república. Os pronunciamentos são: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 141 Quadro 1 - Identificação das elocuções: No 1 ONDE QUANDO INTERLOCUTOR ASSUNTOS Brasília 3/2/95 povo brasileiro queda da inflação, reforma constitucional 2 Ceará 24/3/95 povo brasileiro aposentadoria, salário mínimo, reforma agrária 3 Washington 20/4/95 Bill Clinton liberdade, amizade Brasil/EUA 4 Brasília 25/8/95 ministros, políticos reconstrução das formas de Estado 5 Belo 4/3/96 povo brasileiro educação. previdência, política Horizonte 6 Brasília social 22/5/96 empresários reforma constitucional, política econômica Discutimos as noções teóricas que embasaram o trabalho, consideramos o contexto sócio-histórico (abordamos assuntos determinantes para a manifestação lingüística como a inflação, a educação, a saúde, a violência, o trabalho, o salário e a concentração de renda); o locutor: o então presidente Fernando Henrique Cardoso, vencedor das eleições logo no primeiro turno com quase 55% dos votos, sociólogo, professor universitário da USP, aposentado compulsoriamente em 1969, militante da oposição ao regime militar e os interlocutores: o povo brasileiro, difícil de ser caracterizado, tendo em vista a heterogeneidade que o constitui. Identificamos seqüências discursivas, definidas por Courtine (1981, p. 25) como “seqüências orais ou escritas de dimensão superior à frase”, que, uma vez delimitadas, precisaram ser organizadas no interior do corpus. Buscamos em Orlandi (1986) o elemento organizador – o recorte discursivo; este pressupõe o gesto do analista do discurso que, ao recortar uma seqüência discursiva, recorta uma porção indissociável de linguagem-e-situação. Cada recorte discursivo é composto por seqüências discursivas, numeradas em XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 142 continuidade e seguidas de outro número, que indica a que pronunciamento se referem. Reconhecemos as diferentes representações do sujeito nos pronunciamentos, por meio do exame de algumas das marcas discursivas que trazem as várias presenças do outro. Finalmente, mostramos como o sujeito do discurso se serve da polifonia para obter a adesão do interlocutor, verificando tanto a eficácia dos argumentos analisados quanto alguns efeitos de sentido por eles instaurados. Principais Conceitos e Referenciais Teóricos A Análise do Discurso, o discurso e o sujeito Buscamos alguns aspectos da AD; primeiramente seu objeto. A AD tem por objeto específico o discurso e não a língua. Sua unidade de análise é o texto e não a frase, sendo texto aqui considerado "não em seu aspecto extensional, mas qualitativo, como unidade significativa da linguagem em uso, logo unidade de natureza pragmática"(ORLANDI, 1986, p. 7). Em seguida, ao tratarmos do discurso, partimos da definição de discurso apresentada por Coracini (1991a , p.337), que o considera como "o processo em que o lingüístico e o social se articulam, objeto ao mesmo tempo social e histórico onde se confrontam sujeito e sistema". Essa definição contempla a materialidade discursiva, vinculada às suas condições de produção e parte da noção de um sujeito heterogêneo, múltiplo, determinado pela ideologia, ao mesmo tempo em que tem a ilusão de ser o "criador onipotente de seu discurso" (ORLANDI, 1986, p.118-119). A partir da visão de discurso na perspectiva da AD, redefine-se o conceito de sujeito, que deixa de ser aquele que tem o controle intencional e consciente de seu dizer. Ele passa a ser visto como descentrado, descontínuo, determinado ideologicamente por formações discursivas que o precedem, dentro das quais se constituem as diferentes posições de sujeito, assim como os sentidos e seus efeitos. Ao construir o seu dizer, o sujeito incorpora alguns enunciados préconstruídos, que provocam os Esquecimentos 1 e 2 de que nos falam Pêcheux e Fuchs (1975). Pelo Esquecimento n. 1, o sujeito tem a ilusão de ser a origem XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 143 do que diz, a fonte exclusiva do sentido do seu discurso; pelo n. 2, há a ilusão do sujeito de que seu discurso reflete o conhecimento objetivo que ele tem da realidade e, portanto, o que ele diz tem apenas um significado. Buscamos em Pêcheux (1993) as formações imaginárias; ao abordar as condições de produção, ele faz uma esquematização, apresentando a vantagem de colocar em evidência os protagonistas do discurso, bem como seu referente. Trata, ainda, das condições prévias sustentadoras da produção do discurso, que envolvem sempre a questão do imaginário, dentre elas, a imagem que o locutor faz de si mesmo, a imagem que o locutor faz do destinatário, a imagem que o locutor pressupõe que o ouvinte faz dele. O dialogismo e a heterogeneidade Abordamos também as idéias de Bakhtin (1992), o primeiro a expor uma visão dialógica da linguagem. Segundo ele, nosso discurso está impregnado das palavras do outro, palavras essas que são modificadas, alteradas em seu sentido pelos efeitos da nossa compreensão. Para construir seu discurso, um enunciador necessariamente leva em conta o discurso do outro e esse dialogismo passa a ser uma condição constitutiva do sentido do discurso. Tratamos com as palavras dos outros em nosso discurso, fundimos com elas nossa voz, com elas reforçamos nossas próprias palavras. O princípio dialógico permeia a concepção bakhtiniana de linguagem. O filósofo russo acredita que o dialogismo é a característica essencial da linguagem e a condição do sentido do discurso. O estudo da relação dialógica entre o eu e o tu compreende o estudo das relações de persuasão e de interpretação que se estabelecem no texto, e estas envolvem sistemas de valores, tanto do enunciador quanto do enunciatário, participantes da construção dialógica do sentido. Quanto à heterogeneidade, analisamos a partir das considerações de Authier-Revuz (1982, 1990), a qual parte da perspectiva social da língua e propõe a visão da psicanálise, da leitura lacaniana de Freud, que leva à dupla concepção de uma fala fundamentalmente heterogênea, em que se escuta a polifonia não intencional de todo discurso. A autora cita Freud, lembra que o sujeito "não é mais senhor de sua morada" (1990, p.28) e aí é que está a possibilidade de mascaramento. Os "atos falhos", os chistes e os sonhos XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 144 mostram a existência do inconsciente, sobre o qual não temos controle. A psicanálise contribui para a teoria do sujeito da AD, pois assume o sujeito na sua divisão, na sua ilusão. O sujeito é efeito de linguagem, visto como uma representação dependente das formas de linguagem que ele enuncia e que, na verdade, o enunciam. Authier-Revuz apresenta uma concepção particular de sujeito: a de um sujeito descentrado e interpelado pelo inconsciente que, ao mesmo tempo se constitui como sócio-histórico, determinado pela ideologia. Considera teoricamente o conceito bakhtiniano de dialogismo, afirmando que "todo discurso se encontra constitutivamente atravessado pelos outros discursos e pelo discurso do Outro" (1982, p.141).1 Ela propõe dois tipos de heterogeneidade, a mostrada, explícita, que trata das manifestações que inscrevem o outro na seqüência do discurso e alteram sua aparente unicidade, como o discurso direto, o indireto livre, a ironia, as aspas, as formas de retoque ou glosa; e a constitutiva, que não é marcada na superfície, mas possível de ser definida pela interdiscursividade, pela relação que todo discurso mantém com outros discursos. A autora assume que em qualquer discurso, o outro está presente. A Argumentação: a retórica clássica e a nova retórica Recorremos à argumentação e discutimos os estudos na área da Retórica Clássica realizados por Aristóteles (1964), apesar de o estranhamento que isso pode causar à primeira vista. No entanto, devido à sua grande influência ainda hoje, verificamos o conceito de Retórica e algumas regras a serem aplicadas ao se elaborar discursos persuasivos. Ele, inicialmente, acentua que "a Retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão" (ARISTÓTELES, 1964, p. 22). Mostrou também que, na fala do orador, não é relevante o conteúdo da mensagem; o que importa é a sua fala como uma forma de ação, específica e particular de persuadir, já que é pelo discurso que persuadimos, sempre que queremos demonstrar a verdade ou o que parece ser a verdade. Séculos depois, a retórica de Aristóteles foi reformulada por Perelmam e Tyteca (1996). De acordo com esses dois autores, a argumentação é vista como a busca da persuasão do alocutário pelo locutor. Enfatizam XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 145 principalmente a noção de auditório, pois é em função dele que qualquer argumento se desenvolve, sendo o conhecimento de quem se pretende conquistar a condição primeira para qualquer argumentação eficaz. Em obra anterior, Perelman (1988) afirma que o orador, se deseja agir eficazmente por meio de um discurso, deve se adaptar a seu auditório, de quem possui uma imagem prévia. Assim, é ao auditório que cabe o papel principal de determinar a qualidade da argumentação e o comportamento dos oradores. Sendo a variedade de auditório quase infinita, o orador vê-se confrontado com inumeráveis problemas, por isso o que se busca é uma técnica argumentativa que se imporia a todos os auditórios indiferentemente. Ainda ao estudar os recursos argumentativos, procuramos em Koch (1987) alguns deles, presentes no nível lingüístico fundamental, pois constitutivos de sentido. A autora cita os indicadores modais, como verbos, advérbios, expressões, torneios sintáticos; os operadores argumentativos, os índices de polifonia, as pressuposições, os indicadores ilocucionários, os advérbios e expressões atitudinais e os tempos verbais. O Discurso Político Como nossa proposta é a análise de pronunciamentos de FHC enquanto presidente, consideramos necessário explicitar o que se entende por discurso político. Carmagnani (1996, p.292), para caracterizá-lo, apresenta um enunciado abstrato: "X (o político) faz Y (eleitor, cidadão) acreditar em N (suas palavras) para obter Z (voto, apoio)". Por meio da linguagem, o político servese do imaginário e tenta construir no interlocutor uma imagem de si próprio, imagem essa que ele acredita corresponder àquela que o povo deseja. Para a construção dessa imagem ilusória, o locutor, como recurso de persuasão, traz para o seu dizer vozes de outros discursos, tais como o pedagógico, o religioso, o científico, que acabam servindo de argumentos em favor de sua tese. Já Osakabe (2002), na sua leitura sobre discurso político, classifica-o em duas categorias: o Discurso Político-Teórico e o Discurso Político-Militante. Explica que o primeiro fica no plano da convicção; o segundo visa alcançar no ouvinte não simplesmente a adesão a uma posição, mas ainda sua participação ativa nas tarefas necessárias para a afirmação dessa posição; XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 146 utiliza-se da argumentação para a obtenção final de um resultado que, ultrapassando o nível da convicção, vai atingir o nível da ação, persuadindo, assim, o interlocutor. Também Coracini (1991b) trata do discurso político numa visão argumentativa, e, portanto, subjetiva. Aproxima o discurso Político de Plataforma do discurso de propaganda em geral, cujo único objetivo é o de vender o produto, nesse caso, idéias. Afirma que a intenção do político é persuadir o interlocutor, desejando atingir o nível da ação. Finalmente, Dugaich (1993), ao estudar o Discurso Político, investiga as características de um pronunciamento de posse a partir das condições de produção que o constituem. A autora afirma que, uma vez legitimado pela instituição, o locutor, homem público eleito, difere do locutor candidato, pois passa a enunciar do lugar do poder, e seu campo de ação é muito mais abrangente, mas sempre com o objetivo de obter a adesão do interlocutor à sua proposta. A Sedução Por acreditarmos que o homem público, ao dirigir-se ao seu ouvinte, confere à fala uma força persuasiva, instauradora de um processo de fascínio extremamente eficaz, estudamos ainda a sedução, considerando-a como o encantamento, o fascínio que uma pessoa exerce sobre outra. Seduzir seria atrair alguém a um encantamento. Verificamos que o sedutor se serve da dissimulação, recobrindo a armadilha com um aspecto inocente, principalmente por meio de promessas que, por serem plausíveis, precisam merecer a confiança dos interlocutores. Embora planejadas, essas estratégias podem provocar alguns outros sentidos não previstos pelo sedutor. Análise do Corpus e Discussão dos Resultados A partir dessas afirmações teóricas, analisamos seis pronunciamentos de FHC, fazendo emergir a heterogeneidade mostrada e constitutiva por meio do emprego de algumas técnicas argumentativas utilizadas pelo locutor para persuadir seus interlocutores. Servimo-nos de pronunciamentos dirigidos a diferentes interlocutores em diversas datas, lugares e situações de produção. Acreditamos que, para XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 147 elaborar seu dizer, o homem público seleciona os dados tendo em vista as diferentes condições de produção de que fazem parte os vários ouvintes. Tal situação permite o embricamento de inúmeras vozes que se cruzam, entretecendo o fio do discurso. A partir dos pressupostos teóricos, iniciou-se a análise dos pronunciamentos, nos quais se verificou a construção da imagem do então presidente, dos interlocutores e das pessoas a quem ele se refere e levantou-se o aparecimento de algumas das vozes, das diferentes presenças que perpassam os enunciados. Observamos que nas elocuções, o outro se manifesta, explicitamente, em pelo menos três dimensões: o outro 1,2 3. Vejamos: a) o outro 1- FHC, com o propósito de construir sua própria imagem. Neste item, examinamos a voz do sujeito da comunicação. Fizemos a análise das formações imaginárias do locutor, verificamos como ele se representa e como se assume, bem como observamos alguns sentido provocados por essa voz. Nesta parte, retomamos Pêcheux (1993) que afirma que todo processo discursivo supõe a existência das formações imaginárias. Dentre elas, optamos por uma expressão para a análise do sujeito FHC: - I (A). Trata-se da imagem do lugar de A questão subentende implícita cuja "resposta" A para o sujeito colocado em (A), e a a formação imaginária correspondente é: “Quem sou eu para lhe falar assim”? (PÊCHEUX, 1993, p. 83). O exame de tal pergunta possibilitou-nos a identificação de diferentes imagens que compõem as diversas representações da figura de FHC, dirigida aos interlocutores. Encontramos, dentre elas, a construção da imagem de um presidente democrata, com um poder legítimo que lhe foi dado pelo voto. Por meio dessa imagem, FHC representa o desejo de ir ao encontro do imaginário de grande parte do povo brasileiro, que acredita na democracia e em suas instituições. Ele insiste nessa imagem, à medida que se qualifica como autêntico representante do povo, apoiado por este, pelos partidos e pelo Congresso. É o que se infere em: (1) Agradeço sobretudo à força que o povo nos deu para, chegando 1 ao governo, respeitarmos o que o povo quer (E 2). XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 148 Há ainda a construção de outra imagem, a de "salvador da pátria", que propõe as reformas, promete salvar o povo da situação indigna em que este se encontra, comprometendo-se ainda com a modernização. É o presidente que mostra a morte dos problemas passados e o nascimento um Brasil novo. Vejamos: (2) Eu sou o presidente de um país revitalizado, um país que está começando um novo ciclo prosperidade. Nós acabamos com a inflação, abrimos a economia, promovemos a nova integração do Brasil na economia global e começamos a crescer de novo. (E 3) Essa imagem de salvador é reforçada pelo emprego de alguns verbos e locuções verbais: "acabamos", "abrimos", "promovemos", "começamos a crescer", ações essas que passam a imagem de um homem ativo, reformador, que prometeu em campanha e que realizou suas promessas após a eleição. Observa-se também o emprego da primeira pessoa do singular e do plural, que pode levar a um sentido talvez não desejado pelo locutor: o de um homem que detém o poder, que realiza sozinho aquilo que assegurou previamente. Em outros momentos, emerge a imagem do presidente que acredita no mercado, que se abre à privatização: (3) ... nós privatizamos a Light (E 6). Observa-se que FHC constrói uma imagem de valorização de si mesmo, imaginando-se como alguém que resolve os problemas. O verbo “privatizar” cria o sentido de um presidente moderno, que se preocupa com o bem do país sob sua responsabilidade. A imagem do verdadeiro político - aquele que é sensato, nada fazendo em oposição às leis, contribuindo para que todos sejam felizes - proposta por Platão (1980), é outra das imagens construídas por FHC. Com base no recorte apresentado a seguir, consideramos que o locutor presidencial deseja aproximar-se dela: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 149 (4) Eu quero que o governo, o Congresso e a Justiça trabalhem em harmonia para que o Brasil ganhe ( E 1). Considerando essa imagem construída, propomos que a questão de Pêcheux “Quem sou eu para lhe falar assim?”, deva, na elocução do então presidente, ser reformulada para: “Qual imagem de presidente os brasileiros desejam atualmente?” É a partir daí que o simulacro de imagem de presidente, de político ideal se constrói; a imagem que o locutor constrói para si é construída sobre a suposta imagem que os brasileiros têm e desejam de um bom presidente. Quanto às diferentes representações do locutor, observamos que FHC se representa enquanto “eu”, “nós”, “o governo”, “o presidente”. As marcas de primeira pessoa predominam quando ele se dirige ao povo, centralizando seu dizer em si mesmo, como no recorte: (5) Quando veio um projeto demagógico, que não tinha fundos para pagá-lo, eu vetei. E agora eu mandei outro, correto, com os fundos... ( E 2). (6) E, hoje, eu não venho à procura da liberdade. Hoje, nós restauramos a liberdade no Brasil. Hoje, eu vim como presidente do Brasil, de um país em que seu povo encontrou, de novo, o caminho de sua verdadeira vocação: a democracia. (E 3) Nos recortes a seguir, apresenta-se como pessoa autoritária, que lembra o velho político falando, mas já em outro, ao fazer referência ao passado e narrar fatos de sua vida, leva o interlocutor a vê-lo como homem muito experiente, principalmente pela idade: (7) Antes que muitos de vocês tivessem nascido, eu lutava contra o regime autoritário no Brasil e pedia liberdade. (E 2) (8) Eu era exilado porque havia um regime no meu país que considerava que eu, professor de sociologia, poderia ser um perigo em relação às liberdades que aqui se defende. (E 3) É possível que, conscientemente, FHC se represente como herói, homem que veio salvar o Brasil. O governo militar considerou FHC um homem tão perigoso que cassou seus direitos políticos; mas hoje, como presidente, ele XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 150 restaurou a liberdade e a democracia no país. O passado de FHC reveste-o da aura de herói, garantindo-lhe autoridade e reconhecimento atualmente. Em outros recortes, FHC usa o pronome “nós” para se referir a ele – presidente – e ao povo, ou a ele e mais alguém, que pode ser a classe empresarial ou outro dirigente político. Trata-se de mais um recurso argumentativo: o presidente aproxima-se dos interlocutores, chama-os para o seu discurso, envolve-os numa tentativa de persuadi-los. É o que se vê em: (9) Juntos, cada um de vocês e o governo continuaremos a batalha contra a inflação do dia-a dia para impedir que ela volte (E 1). (10) Vamos fazer as reformas. Mas, para isso, eu preciso do apoio do povo brasileiro (E 6). Essa estratégia constrói no povo uma ilusão de participação nas ações do presidente. O grau de envolvimento do ouvinte é tão grande que ele pode ser conduzido, facilmente, à impossibilidade de raciocinar, aceitando passivamente, sobretudo se for pouco esclarecido, a proposta do locutor, a quem reconhece o poder da palavra final, verdadeira. Há a construção consciente de imagens ilusórias pelo locutor, mas observa-se a construção de sentidos não desejados, como no recorte (5), em que, inconscientemente, FHC cria sentidos que, certamente, irão indispô-lo junto aos que questionam seu poder centralizador. b) o outro 2 - o interlocutor, considerado por FHC como amigo Novamente retomamos Pêcheux (1993, p. 83-84) e estudamos a formação que se refere ao que o locutor imagina sobre o interlocutor: - I A (B) “Quem é ele para eu lhe falar assim?” Respondemos a essa questão com o objetivo de verificar como FHC constrói o conceito e a imagem do aliado, do povo que o apóia, tendo por base o imaginário. Para tanto, selecionamos recortes que evidenciam a imagem que o locutor tem do outro 2, imaginado discursivamente como pessoa amiga, forte; o interlocutor é representado por meio de itens lexicais genéricos como povo, brasileiro, trabalhador, cidadão, funcionário, aposentado e, mais do que isso, como o povo que sabe escolher seus representantes. É o que se pode verificar em: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 151 (11) O povo sabe quem faz, quem cumpre o que promete ( E 2); (12) O povo percebeu logo que o que beneficia o povo é a seriedade, não a demagogia... A força vem da mão do povo. ( E 2) (13) O povo do Brasil responsabilidade... ( E 3). entende que nós devemos ter O grande número de ocorrência da palavra povo cria alguns sentidos, principalmente o de democracia, termo que no Brasil, após anos de regime militar, tem muito valor. O locutor dá importância ao povo, coloca-o em posição de destaque, como se o povo tivesse o poder para decidir alguma coisa. Também cria o sentido de amizade, de envolvimento, com o objetivo de comover os ouvintes e conquistar a sua simpatia para as idéias que pretende transmitir. Apesar do efeito de intimidade e afeto, o locutor mantém a relação de poder, na qual ocupa o lugar hierarquicamente superior ao do interlocutor. A presença do outro 2 é também marcada por meio de pronomes de tratamento: (14) Você sabe o alívio que é viver sem inflação (E 1). Neste segmento, o uso do pronome “você” provoca o sentido de intimidade entre o presidente e o povo. Observamos, ainda, o emprego da linguagem coloquial, de vocabulário como: "gatos pingados", "conversa fiada, papo furado", "barganhando", "peteleco", "cesta básica", "escola pública", "foguetório", em que FHC tem a preocupação em trazer para o seu enunciado as palavras do cotidiano do povo, procurando, mais uma vez, uma forma de aproximação com os ouvintes. Alguns dos outros diversos recursos são: a repetição de palavras, estratégia muito usada no discurso pedagógico, que pretende favorecer a retenção do conteúdo ensinado na mente do aluno. Tal recurso, nos pronunciamentos, talvez se explique pela formação de professor de FHC. Há ainda o uso de alguns slogans e expressões populares, formadas por frases curtas e fáceis de serem memorizadas, como: (15) Viva o Brasil (E 2). (16) ... água mole em pedra dura tanto bate até que fura... (E 4) (17) ... nem vai resolver aqui, nem na China. (E 4) XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 152 Verificamos a alusão às cifras, que provoca no interlocutor, povo simples, uma reação de admiração diante de somas inimagináveis que não possui. É o efeito de persuasão que os números possuem, mas ao mesmo tempo, ouve-se a voz implícita do locutor, reconhecendo o Brasil como um país doente, pois, só à área da Saúde é destinada a metade do que o governo dispõe para o gasto público. Vejamos: (18) ... porque nós temos disponível para o gasto público não mais do que R$ 1,2 bilhão por mês. Para todos os gastos do Brasil, e só a saúde gasta R$ 650 milhões por mês, sobram R$ 600 milhões, R$ 550 milhões para as estradas, para as Forças Armadas, para a agricultura, para a educação (E 6). Há perguntas que ele mesmo responde e isso lembra estratégias do discurso didático. O político, assim como o professor, tem a capacidade de antecipar e de conhecer uma possível dúvida de seus interlocutores. Tudo com o intuito de facilitar a compreensão do ouvinte, aproximar-se do interlocutor, impressionar o povo. c) a voz do outro 3 - a presença do outro 3 pode ser vista sob duas óticas: I- o inimigo - é concebido, no imaginário de FHC, como desqualificado, com um perfil negativo. O adversário é apresentado como uma pessoa com características que não representam "o bom povo brasileiro". É o que podemos inferir após a verificação dos recortes (19) a (22), em que encontramos adjetivos nominalizados: (19) ... há os pessimistas profissionais... ( E 1) (20) Os mesmos exploradores de sempre (E 2) (21) ... pobres de espirito ( E 4) (22 Coitados, não sabiam de nada ( E 6) Outros são "bobos", "derrotistas" e, por meio deles, FHC faz com que o ouvinte fique ciente de como os inimigos são, ou de como ele, locutor, quer que sejam vistos. Apontamos que em (21) e (22) há semelhança com a voz de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 153 Jesus. Em (21) percebe-se um trecho do Sermão da Montanha: "Bem aventurados os pobres de espírito..."( Mateus 5,4). Na Bíblia, esses são as pessoas desapegadas das riquezas, os humildes, os que têm uma das condições para entrar no reino de Deus. Na elocução de FHC, têm sentido negativo, com o intuito de desmerecer o opositor, anulando a possível verdade contida no que o inimigo fala. Em (22), outra alusão à voz de Jesus que, ao morrer, disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"(Lucas, 23,34). Há eufemismos como "gente que pega o papel e não sabe o que está escrito"; estereótipos em "falsa esquerda", "velha direita carcomida"; discurso direto, reproduzindo o dizer de outro locutor como em "pregando a fracassomania" e indireto, "não faltou quem dissesse que ... mal terminadas as eleições, a inflação voltaria a crescer", além de pronomes indefinidos e demonstrativos como "aqueles", "alguém", "alguns". Estes últimos criam sentido de indeterminação, de dúvida, pois nem sempre é possível saber quem é esse inimigo, que, de tão depreciado, nem merece ser identificado para o ouvinte. As negações evidenciam a presença do outro no interior do discurso. É o temos em: (23) O povo não é bobo (E 2) Por meio da negação, o locutor presidente traz a presença do inimigo, que poderia ter dito ou insinuado que “o povo é bobo”. Geralmente, é a voz do opositor que carrega o enunciado positivo, e o locutor emprega a negação para rejeitar tal ponto de vista. FHC, ao empregar todos esses recursos, tenta mostrar que o outro 3 - o inimigo - não é digno de credibilidade, mas pode ser uma ameaça para o locutor e para o interlocutor. Por isso, FHC procura, de todos os modos, anular o opositor, mesmo que, para isso, tenha que trazer a presença e a voz deste para a elocução, numa tentativa de diminuí-lo, de silenciá-lo: (24) ... e calamos a boca dos gatos pingados (E2). XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 154 Apesar disso, o outro 3 acaba dominando o locutor, visto ser aquele que determina a escolha do tema discursivo, o que pode e o que deve ser dito. Mas é inegável que, ao mesmo tempo, o outro 3 acaba sendo silenciado, pela criação de sentido de descrédito pretendido pelo locutor presidente. II- as demais pessoas - são as citadas por FHC nos pronunciamentos. O locutor constrói ainda a imagem de outros, trazendo vozes para o seu dizer. Alguns são caracterizados pela profissão ou pelo cargo que ocupam ou pelo nome: "ministros", "juízes", "governadores", "o ministro Serra", "o Tasso", "Kennedy". Outros, por serem considerados nocivos ao país, não são nomeados, como em: "uma minoria privilegiada". As referências feitas aos que são nomeados são empregadas como argumento de autoridade, como em: (25) O Tasso disse a verdade ( E2). (26) E vamos àquela famosa pergunta do Kennedy: o que é que nós estamos fazendo pelo Brasil? ( E 6) Tais recortes levam à construção de sentido de verdade e, como são pessoas conhecidas, FHC sabe que o interlocutor acredita nelas; por isso, torna-se inquestionável o que se afirma ou se exemplifica. Há ainda inúmeros outros recursos que se revelam elementos importantes na organização argumentativa, por trazerem outras vozes. Entretanto, acreditamos que apontamos os mais relevantes para o objetivo a que nos propusemos, qual seja, o de mostrar algumas das diversas vozes que emergem das elocuções de Fernando Henrique Cardoso. Resultados Finais A análise desses recortes de elocuções de FHC mostrou-nos que, além da voz marcante do presidente, o outro 1, há mais vozes - a do outro 2 - o aliado, e a do outro 3 - o opositor, além da presença do discurso pedagógico, religioso e publicitário Isso comprova que o discurso político não é objetivo, XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 155 pois tais vozes, em determinados instantes se completam, em outros se contradizem, apesar de compartilharem do mesmo espaço discursivo. Em todos os pronunciamentos, o locutor pretendeu obter a adesão dos interlocutores e, ao tomar a palavra, ele o fez não só como presidente, mas também como sujeito perpassado por uma ideologia. Essa tomada da palavra manifesta-se por meio de diversas formas de representação, de modo que o sujeito do discurso encontra-se bastante disperso e fragmentado: é o presidente ora democrata, ora "salvador da pátria", ora autoritário, o qual traz vozes que produzem sentidos - nem sempre pretendidos pelo locutor - de promessa, de democracia, de justiça, de igualdade. Tais sentidos são instaurados a partir das presenças das vozes dos outros 1,2,3, vozes essas que o sujeito enunciador acredita serem suas, visto ter a ilusão de onipotência, de que é a fonte e a origem do seu dizer. Em nossa análise, trabalhamos com um tipo de discurso político necessário para a preservação de um sistema. A partir daí que abordamos a sedução provocada pelas elocuções de FHC: seu dizer soa como o canto de uma sereia e, ao ouvi-lo, o interlocutor se deixa encantar por ele, nele acreditando sem questionamento, sem desconfiança. Fato que comprovou tal sedução foi a reeleição de FHC, em 1988, com mais de 50% dos votos, em primeiro turno. Salientamos que a persuasão do interlocutor é feita por meio do apelo de FHC ao povo - imaginado e tratado como amigo - para que participe das decisões sociais e políticas do país. Essa preocupação, envolvimento e aparente sensibilidade constituem formas de sedução. No entanto, ao permitir que o povo, por viver num país agora democrático, possa "fazer tudo, dizer tudo", FHC acaba por calá-lo, não lhe dando voz, num silenciamento imposto que funciona como uma forma de dominação, opondo-se à postulação de igualdade pretendida pelo locutor. Finalmente, lançamos um olhar sobre o ensino da Língua Portuguesa, mais especificamente sobre a situação da leitura na escola, sem a pretensão de propor mudanças na metodologia. Sabemos que a sala de aula tem como característica a homogeneização, principalmente nas aulas de leitura, já que a XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 156 maioria dos professores espera que todos os alunos cheguem a uma única resposta, depois de lerem e de interpretarem um texto. É muito importante a contribuição do aluno-leitor na constituição do significado, visto que um texto possibilita mais de um sentido, sentidos esses que dependem daquele que lê. Assim, é preciso que se abandone, em sala de aula, a tendência à homogeneização e que se conceda espaço próprio para que o aluno possa se posicionar como ser pensante e crítico no mundo. O professor não pode mais ser o dono do saber. Ele deve, sim, criar condições de discussão para que o aluno se perceba como sujeito, como enunciador, para que possa exercer sua capacidade de questionar, refutar, problematizar. Queremos, por último, lembrar que se faz necessário, hoje, que a escola não abafe as diversas vozes dos alunos (se é que eles têm vozes!). É preciso abrir espaço para a produção de diferentes sentidos, para que cada um possa produzir sentido(s) a partir de suas experiências, crenças, valores e que não se aceite passivamente um texto ou a leitura do professor como verdade irrefutável. Se essa sugestão for, pelo menos, questionada pelos professores, teremos dado um pequeno passo que contribuirá para as tão necessárias reflexões sobre a leitura em sala de aula. Referências Bibliográficas ARISTÓTELES. Arte Retórica. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. AUTHIER-REVUZ,J. Hétérogénéité montrée et hétérogénéité constitutive: éleménts pour une approche de l'autre dans le discours. DRLAV: Revue de Linguistique, Centre de Recherches de L'Université de Paris. n.26, p. 91151,1982. ______. Heterogeneidades Enunciativas. 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Cada um dos dois oradores, inscritos previamente, tem cinco minutos para suas considerações, as quais devem se ater aos assuntos de interesse público. O objetivo do presente trabalho é analisar o uso da Tribuna Livre na Casa Legislativa de Taubaté e relacionar a participação dos munícipes e os temas tratados. A partir da análise por coleta de dados das atas das sessões ordinárias, da 125ª a 163ª, realizadas entre o período de doze de fevereiro a nove de dezembro de 2008, foi traçado um perfil da utilização da tribuna pela sociedade civil. As conclusões preliminares indicam que nesse espaço os munícipes, de maneira democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam, entre outras ações que podem contribuir na relação cidadão e governo. Palavras-Chave: Comunicação; Política; Democracia. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 159 Abstract: Democracy presupposes participation. The State strengthens itself when it incorporates the needs of the community into its actions. The modernization of the relationship between the parliament and the society is a constant subject. The Open Tribune, which happens in Ordinary Sessions weekly, in Taubaté‟s town hall, is an opportunity to citizens to express themselves. Each one of the two orators, previously registered, has 5 minutes to speak about public matter issues. The aim of this paper is to analyze the usage of the Open Tribune in Taubaté‟s Legislative House and to investigate the participation of citizens and the issues they talk about. Through the analysis of data gathered from the Ordinary Sessions, from the 125th to the 163rd minutes that occurred between February 12th and December 9th, in 2008, a profile of the usage of the Tribune by the society was drawn. The preliminaries conclusions indicate that the citizens, in a democratic way, demand what they need, denounce irregularities, and take action that can contribute to the relationship between citizens and government. Key-Words: Communication, Politics, Democracy. Introdução “Em suma, é impossível compreender a economia de uma cidade sem situá-la no contexto da rede urbana à qual ela pertence, e sem determinar as funções especializadas que ela exerce. É o número e a importância de tais funções que determinam o tamanho da cidade, o vigor de sua economia e suas perspectivas de desenvolvimento.” (SINGER, 1998). XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 160 A democracia pressupõe participação. O Estado se fortalece quando incorpora as necessidades da comunidade em suas ações. É tema corrente a modernização na relação entre o parlamento e a sociedade. As funções legislativas envolvem a fiscalização, controle, colaboração e julgamento dos atos do Poder Executivo e das entidades da Administração indireta, além da prática de atos de administração interna. A Câmara Municipal de Taubaté fundada em cinco de dezembro de 1645, quando Taubaté se elevou à categoria de Vila, teve sua primeira sessão realizada no dia 1º de janeiro de 1646. Atualmente a Câmara de Taubaté está em sua 15ª Legislatura (2009-2012). Até 1779 não existem as Atas, documento em que se relatavam as reuniões. Até a 20ª sessão (oito de junho de 1948) as Atas eram manuscritas. A partir daí, começaram a ser datilografadas. Com o registro das Atas, é possível ter acesso a informações e dados para pesquisas que envolvam a história da cidade e dos munícipes. A Tribuna Livre, utilizada nas sessões ordinárias realizadas semanalmente na Câmara Municipal de Taubaté, é uma oportunidade para o munícipe se manifestar. A Tribuna Livre foi instituída em 19 de novembro de 1990 na Casa, e passou a vigorar com a redação da resolução número 128, de cinco de dezembro de 2007, que destina dez minutos, durante as sessões ordinárias, para que o cidadão possa manifestar-se sobre assuntos de interesse público obedecendo aos seguintes termos: O interessado em utilizar a Tribuna Livre deverá fazer sua inscrição informando nome completo, endereço, telefone, documento de identificação, número do título eleitoral e transcrição de inteiro teor do pronunciamento; O pedido de inscrição será protocolado e autuado; A inscrição cujo pronunciamento contenha ofensa pessoal será indeferida; Compete ao presidente deliberar sobre a inscrição e dar publicidade de sua decisão; XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 161 Uma cópia do pronunciamento poderá ser disponibilizada aos interessados; Cada orador terá o prazo de cinco minutos, sem apartes, para se pronunciar, prorrogável por igual período, a critério do presidente, quando da ausência de um segundo inscrito; Caso o orador não se atenha ao conteúdo do pronunciamento protocolado, será cassada a palavra e ele ficará impedido de fazer uso da Tribuna Livre por doze meses. O presente trabalho tem por objetivo analisar o uso da tribuna livre na Câmara de Taubaté no ano de 2008, relacionando a participação dos munícipes e os temas tratados para traçar um perfil da utilização desse recurso pela sociedade civil. As conclusões indicam que nesse espaço os munícipes, de maneira democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam, entre outras ações que podem contribuir na relação cidadão e governo. Desenvolvimento Descrição da Pesquisa A pesquisa teve como delimitação a utilização da Tribuna Livre pelos cidadãos de Taubaté. Por meio das Atas das sessões ordinárias de 2008 foram analisados os trechos em que é registrada a participação da população na Tribuna Livre. O levantamento dessa documentação foi realizado junto à Câmara Municipal de Taubaté, que disponibilizou o acesso às Atas. Sendo assim foi traçado um perfil da utilização da Tribuna Livre em 2008. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 162 Metodologia Com o método de coleta de dados documentais, verificou-se o conteúdo das Atas das sessões ordinárias de 2008, da 125ª a 163ª, realizadas no período de 12 de fevereiro a nove de dezembro. Posteriormente foram analisados os usuários, bem como os assuntos e as abordagens tratados. Além das fontes documentais, as fontes bibliográficas deram base para pesquisa, que foi realizada com o agrupamento de tais conteúdos, como a reunião de dados relativos à política, economia, sociedade, urbanização, entre outros que ofereceram maior embasamento para a compreensão do sistema político “isolado” e municipal, como o de âmbito nacional. Além disso, a experiência das pesquisadoras como estagiárias da Câmara de Taubaté foi importante para uma melhor compreensão do funcionamento do Legislativo. Com a análise dos dados coletados foi produzido um gráfico que reproduz estatisticamente o tipo de abordagem, sendo assim relacionando a utilização da Tribuna Livre. Análise dos Resultados Elaboramos uma tabela com os principais dados analisados na pesquisa realizada sobre a utilização da Tribuna Livre em 2008: Sessã Data Orador Tema/Assunto o Abordagem Principal Denúncia Reclamação Reivindicação Prestação de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 163 Contas Agradeciment o Divulgação de evento Divulgação de atividade 125ª 12/2/2008 Reforma política Reivindicação José Vicente Estatística anual do Prestação de Morgado Conselho Tutelar Contas Adherbal de Moura Bastos 126ª 19/2/2008 Sobrinho 127ª a x x x x 8/4/2008 Jurandir Atualização das Reivindicação Campos aposentadorias e 132ª 133ª pensões 134ª 15/4/2008 Fátima 2ª Campanha de Divulgação de Aparecida Doação de Medula evento Mangolim Óssea Guedes Oliveira 135ª 22/4/2008 José Vicente Estatística trimestral Prestação de Morgado do Conselho Tutelar Contas Sobrinho XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 164 136ª a Reivindicação João Marcos Redução da jornada Vidal de trabalho x x x x 3/6/2008 José Viana Trabalhos realizados Reivindicação Werneck de no Jardim Paulista 140ª 141ª Oliveira 142ª 10/6/2008 Angela Soares Semana da Adoção Agradecimento da Cruz Conceição 143ª x x x x 144ª 24/6/2008 Rodrigo (da Núcleo jovem Divulgação de Mogimpex) empreendedor de atividade Taubaté – FIESP e CIESP de Taubaté 145ª 146ª 5/8/2008 12/8/2008 Reclamação José Vicente Estatísticas do Morgado Conselho Tutelar de Sobrinho Taubaté Indalécio A importância dos Divulgação de Santos Dias Valores na Família evento Maurício Atividades Prestação de Fernandes de desenvolvidas pelo contas Faria Instituto Cidadão no 1º semestre de 2008 Maria Lúcia Curso de Divulgação de Neves Letra capacitação e evento seleção de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 165 voluntários do Samaritanos/Taubat é (CVV) 147ª a x x x x 16/9/2008 Jurandir Correção do valor Reivindicação Campos dos benefícios 150ª 151ª pagos aos aposentados e pensionistas 152ª 153ª e 23/9/2008 Luciana Mara 8ª Campanha de Divulgação de de Souza Doação de Órgãos e evento Aguiar Tecidos de Taubaté x x x 14/10/200 Poliana 8 Oliveira x 154ª 155ª de Controle da dengue Divulgação de atividade Ventura Paula Ramos Problemas na Unitau Reclamação – representand o os estudantes da Unitau 156ª 21/10/200 Pedro Luiz S. 8 Santos Síndrome de Down XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL Agradecimento 166 157ª 29/10/200 José Fernando Escola Municipal de Divulgação de 8 de Lacerda Ciências atividade Machado Aeronáuticas – EMCA 158ª 159ª 4/11/2008 Urbano Reis Processo Eleitoral Prestação de Patto Filho de 2008 contas 11/11/200 Carlos Alberto Aumento das Denúncia 8 da Silva Jr. Mensalidades na UNITAU 160ª x x x x 161ª 25/11/200 Júlio Fernando Eleições 2008 Agradecimento 8 Pinheiro de Disque-Denúncia Divulgação de Lemos 162ª 2/12/2008 José Vicente atividade Morgado Sobrinho Leila de Campanha 16 dias Divulgação de Almeida de ativismo pelo fim atividade Ramos da violência contra a mulher 163ª 9/12/2008 Carlos de Secretarias, Arruda Orçamento 2009 e Camargo agro negócio Fernando Secretarias, Bindel Orçamento 2009 e agro negócio XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL Reivindicação Reivindicação 167 A abordagem, o principal elemento analisado, indica o objetivo da utilização do espaço. Em alguns casos, ela foi dúbia, ou seja, mais de um tipo de abordagem por orador. Por exemplo: Abordagem: Divulgação de evento. Mas isso não significa que o orador não tenha feito divulgação de atividade, agradecimento ou reclamação, porém o objetivo principal da utilização da tribuna livre foi a divulgação de determinado evento. Sendo assim, a abordagem foi priorizada dessa maneira. Por meio das considerações dos oradores, as quais foram utilizadas para a análise da abordagem, foram selecionadas os trechos que justificam o critério de avaliação: 7 oradores – Reivindicação 125ª S. O - “...estou vindo aqui porque os senhores e as senhoras têm condições de discutir sobre isso muito mais do que eu e exercer o seu poder político com os seus senadores, com os seus deputados para que discutam com relação a isso. 133ª S. O - “Nesse sentido é que requeremos a Vossas Excelências um pedido de Moção, consubstanciada no seguinte: Taubaté, 8 de abril de 2008. Excelentíssimo senhor Presidente da Câmara Municipal de Taubaté. A união dos Aposentados e Pensionistas de Taubaté, entidade estabelecida na praça da Monção, nº 21, bairro da Monção, inscrita no CNPJ 53321915/0065, por intermédio do seu presidente, senhor Eugênio Rodrigo Bernardo, vem mui respeitosamente a presença de V. Exa. para apresentar um pedido de moção de apelo ao Senado Federal para que, por intermédio de todos os senadores, aprovem, em caráter de urgência urgentíssima o Projeto de Lei 58/2003, que dispõe sobre a atualização das aposentadorias e pensões pagas pela Previdência Social e pela União dos seus inativos e pensionistas, consoante o arrazoado abaixo descrito”. 135ª S. O - (2º orador) “Então, Presidente, eu venho aqui a essa tribuna pedir apoio aos senhores vereadores e deixar, se me permite, uma cópia de um abaixo-assinado que as seis centrais sindicais buscam um projeto de lei e iniciativa popular junto ao Congresso que via ser lançado no dia 1º de maio. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 168 Tem uma cópia do abaixo-assinado, é muito simples, tem quatorze cópias aqui. Eu pediria, se assim entendessem os nobres vereadores, cada um ter uma cópia disso e multiplicar em várias cópias para tomarmos assinatura para isso. 141ª S. O - “Está protocolado e pediria à Pollyana, a quem estarei encaminhando, e aos demais vereadores da casa que também apóiem isso aqui porque são taubateanos que lá residem, construíram suas casas e tiveram elas destruídas por obra não feita pela Prefeitura porque não foi seguido”. 151ª S. O - “Eu peço vênia a V. Exa. pra que amanhã esteja na mão aqui todo o projeto e toda a documentação, para que vocês preparem a Moção e seja enviada ao Senado Federal. Os aposentados e pensionistas do Brasil certamente agradecem mais esse passo que vocês dão. Nós já demos três passos nesse projeto. Um, na Comissão de Cidadania, falta só na Comissão de Ação Social. Aprovado pela Comissão de Ação Social, ele vai direto para a Câmara, não vai mais ser deliberado no Senado Federal”. 163ª S. O - (1º orador) “Então é esse o pedido que nós estamos fazendo, o apoio dessa casa a esse projeto que nós já encaminhamos, já fizemos pedido ao prefeito, que seja elaborada essa secretaria especifica para agro negócio”. (2º orador) “O Carlos Arruda falou bastante no aspecto econômico, do interesse da criação dessa secretaria ou dessa diretoria. E eu vim aqui falar um pouco mais do aspecto humano, que é mais tangível quando a gente trata da Associação de Amigos dos Moradores” 4 oradores - Prestação de contas 126ª S. O - “O nosso horário é de 24 horas por dia, tendo um plantonista na sede em horários comerciais e um plantonista na rua durante o dia e outro durante a noite e finais de semana. Mesmo assim está sendo impossível que apenas um Conselho Tutelar dê conta, uma vez que só em 2007 nós recebemos 1197 denúncias, isto é, 4,86 denúncias por dia, sendo que tivemos 246 dias úteis. Essas denúncias não estão aqui juntas as recebidas dos plantões de rua ou plantão noturno, só no plantão de sede”. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 169 135ª S. O - (1º orador) “Denúncias de violência física nós tivemos doze. Atendimentos em delegacia tivemos cinco. Atendimento no PSI, PSA e hospital 24. Atendimento externo, aquele atendimento que fazemos no plantão noturno porque o Conselho Tutelar funciona das oito da manhã as dezoito horas, no horário comercial e das dezoito as oito da manhã no plantão noturno e sábado e domingo vinte e quatro horas. Só no plantão noturno foram feitos duzentos e dezessete atendimentos”. 146ª S. O - “A nossa participação hoje na Tribuna Livre é prestar contas do trabalho desenvolvido pela nossa instituição que é uma OSCIP, registrada no Ministério da Justiça em Brasília e que desenvolve projetos na área de assistência social e educação pra crianças e adolescentes, moradores de rua, catadores de reciclados e famílias carentes atendidas na Avenida Desembargador, centro, por essa casa”. 158ª S. O - “...acho que é um dever de todos os agentes políticos da cidade prestar contas do processo eleitoral e falar do que aconteceu, quais são as posições do partido e como as coisas andaram. Viemos aqui pra isso, para primeiramente agradecer a todos aqueles que nos ajudaram nesse processo político em Taubaté que PPS participou e se desempenhou”. 4 oradores - Divulgação de evento 134ª S. O - ”Informo aos membros desta casa e a população em geral, que será realizado no Município de Taubaté a 2ª Campanha de Doação de Medula Óssea. Será o dia 17 de maio, às 9 horas na quadra coberta da Vila São Geraldo, na Praça São Paulo”. “Hoje, estou aqui para solicitar apoio da imprensa falda e escrita, Prefeitura, Câmara Municipal e população para tão importante evento”. 145ª S. O – “Esse evento então dia 12 de agosto, uma terça-feira, as 19h30m, no salão da igreja da paróquia Sagrado Coração de Jesus”. “...estamos dentro da Semana Nacional da Família, que vai começar no próximo domingo...” XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 170 146ª S. O – (2° orador) “Nós temos um curso que estará aberto a partir agora do dia 16, sábado e domingo, dia 19, às 19h30min. É um trabalho muito bonito que visa o emocional. Nós trabalhamos com o emocional”. “E esse curso vai ser nos finais de semanas, dia 16, a partir das 14 horas, não é 14h30min porque temos horário pra começar e horário pra terminar. Não é porque ele é um voluntário que chega a qualquer hora e sai a qualquer hora”. 152ª S. O - “Venho convidar a todos a participar da 8ª Campanha de Doação de Órgãos e Tecidos de Taubaté, que teve início ontem e vai até o dia 28 de setembro, de acordo com a programação que você pode conferir em nosso site, que é www.aprev.org.br”. 3 oradores – Agradecimento 142ª S. O - “E com essa intenção a gente esteve realizando aqui de 22 a 24 de maio a I Semana da Adoção, aqui na Câmara Municipal. E para o grupo foi muito importante esse evento, foi o primeiro que nós estivemos realizando assim, mais divulgado e tudo”. “O grupo agradece especialmente ao excelentíssimo senhor Dr. Otto Rodrigues de Albuquerque Júnior, Diretor Geral...”. 156ª S. O - “O Dia Municipal das Pessoas com Síndrome de Down, foi um Projeto Lei nº 81/2006, de autoria do vereador Ângelo Filippini, aprovado nesta casa pelos vereadores no dia 29 de agosto de 2006 e sancionado pelo Prefeito Municipal Roberto Peixoto”. “Uma grande salva de palmas que comemoramos nossas conquistas e principalmente o Dia Municipal da Síndrome de Down, que será agora no próximo dia 24 de outubro.” 161ª S. O - “Tomei a decisão de ocupar a Tribuna Livre desta Câmara para agradecer a todos aqueles de quem obtive os votos e que advindos de diversas urnas da cidade, representaram para mim o voto de eleitores que me conhecem e por isso conhecem o trabalho que eu poderia realizar como membro desse colegiado legislativo de Taubaté”. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 171 5 oradores - Divulgação de atividade 144ª S. O - (1° orador) “E um dos assuntos a serem abordados aqui a respeito do núcleo já nesse trabalho de quatro meses que nós já viemos participando de outros eventos no Estado de São Paulo e já estamos podendo ver algumas coisas que vêm acontecendo em outras regiões que não vemos acontecer na cidade de Taubaté e no Vale do Paraíba. Então estivemos num evento em Campinas, onde a região está extrapolando em negociação com as empresas para atraírem elas para o pólo industrial de Campinas, Jundiaí, Indaiatuba, toda aquela região”. 155ª S. O - (1° orador) “A SUCEN está a disposição para fazer esse treinamento, para treinar os municípios. Nós temos treinando ultimamente mais de 15 municípios, que estão treinados, afiados para entrar em campo matando o mosquito em um risco de epidemias. Então deixar bem claro que cabe a SUCEN, ela tem parceria com os municípios há anos. A capacitação, os treinamentos, inclusive com o bv costal para matar o mosquito usando o inseticida, o município tem que conseguir isso com a SUCEN”. 157ª S. O - “Em vista disso, solicitei a Tribuna Livre para trazer a conhecimento dos senhores o que se tem feito na área de aeronáutica aqui na cidade de Taubaté. Para isso, nós temos uma pequena apresentação, rápida, de cinco minutos, para que os senhores possam ter uma idéia desse trabalho que está sendo desenvolvido desde 2004. A escola tem quatro anos de existência e duas turmas formadas e terão oportunidade de apreciar os resultados alcançados até o momento”. – Nesse momento foi exibido um vídeo sobre o funcionamento da EMCA –“. venho hoje ocupar esse importante espaço democrático para lhes falar sobre a Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher. Por que os 16 dias?“. 162ª S. O - (1° orador) “É desnecessário um novo disque-denuncia, embora o projeto, nós estávamos lendo, muito bom, teria que ter uma pessoa específica lá dentro do Conselho que funcionaria até onze horas. Aí vem o questionamento e das 23 horas em diante, não tem denúncia na cidade? Então XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 172 pra isso nós já temos o celular do Conselho que também durante a noite recebemos ligações a cobrar, que é o 97831780. E o que a gente queria questionar e convidar sempre os senhores vereadores, que participem um pouquinho mais das nossas reivindicações da nossa cidade para estar ajudando que o Conselho Tutelar desenvolva melhor seu trabalho”. (2° orador) “Aos colegas educadores que incluam na anuência da convivência pedagógica as questões de gênero para a melhora do aprendizado das diferenças. À imprensa de Taubaté, que está feliz, sorrindo, em especial a TV Câmara, que divulgue a campanha, propondo ao público consumidor o enfrentamento à violência, pois construir a igualdade também requer acesso a informações e dados sobre a mulher no município. Aos homens dignos, que assinem no site o www.homenspelofimdaviolencia.com.br, o pacto de comprometimento com o fim dessa terrível prática.” 2 oradores – Reclamação 144ª S. O - (2° orador) “A partir de hoje o Conselho Tutelar não está mais fazendo atendimento ao público na sede. Nós estamos apenas em três conselheiros, estamos com dois conselheiros afastados e não subiram os suplentes. É humanamente impossível que três conselheiros dêem conta do atendimento na sede e o atendimento de rua”. “Acreditamos que talvez em quinze dias no máximo normalize toda essa situação, até porque só atendimento telefônico nesse mês recebemos 1615 telefonemas, fora os telefonemas externos”. 155ª S. O - (2° orador) “A bandeira maior desse movimento maior é sem dúvida a federalização dessa universidade, ela tem que ser pública e gratuita, mas essa casa tem que se posicionar em relação a isso, principalmente em relação ao orçamento da Unitau que está nessa casa, que prevê um aumento abusivo das mensalidades e que não tem que ser aprovado. Nós conseguimos congelar durante 4 anos, depois abaixaram as mensalidades e agora aumenta? Tem que cobrar da reitora que ela se posicione e que ela enfim converse com estudantes”. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 173 1 oradores - Denúncia 159ª S. O - ”Se existe uma lei, existe um respaldo. Se existe esse respaldo e essa lei é respaldada eu acho que deve ser cumprida. E por tal motivo estou aqui hoje pra pedir a colaboração de vocês para que a gente comece, para que possamos começar uma investigação, estar em cima da Prefeitura porque isso é uma vergonha, isso é palhaçada”. “A bolsa é cedida de forma aleatória, como no final desse ano foi cedida a várias pessoas em troca de voto. Eu posso falar isso porque tenho prova, ta?”. Resultados Finais A pesquisa teve como delimitação a utilização da Tribuna Livre por parte dos cidadãos da cidade de Taubaté, bem como os assuntos tratados e abordagens manifestados. As conclusões indicam que nesse espaço os munícipes, de maneira democrática, reivindicam, prestam contas, denunciam, divulgam eventos, entre outras ações que contribuem na relação cidadão e governo. Em um total de 39 Sessões realizadas em 2008 não houve oradores inscritos em 19 Sessões Ordinárias (127ª – 132ª; 136ª - 140ª; 143ª; 147ª – 150ª; 153ª; 154ª; 160ª e 163ª). Ou seja, em 48,72% das Sessões realizadas foi notada a ausência de oradores inscritos na Tribuna Livre. Em 20 Sessões Ordinárias (125ª, 126ª, 133ª – 135ª, 141ª, 142ª, 144ª – 146ª, 151ª, 152ª, 155ª – 159ª, 161ª, 162ª e 163ª), ou seja, 51,28%, a Tribuna Livre foi utilizada por 26 oradores, sendo todos eles, identificados como representantes: PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) - Adherbal de Moura Bastos; Conselho Tutelar – José Vicente Morgado Sobrinho; União dos Aposentados e Pensionistas de Taubaté – Jurandir Campos; XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 174 Associação de Pais e Amigos dos Doentes com Leucemia - Fátima Aparecida Mangolim Guedes Oliveira; Conselho Nacional da Juventude – João Marcos Vidal; Associação dos Moradores do Jardim Paulista – José Viana Werneck de Oliveira; Grupo Convivência de Apoio à Adoção Infância e Juventude – Ângela Soares da Cruz Conceição; Núcleo Jovem Empreendedor de Taubaté/ FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) – Rodrigo da Mogimpex; Comissão Diocesana da Pastoral Familiar e da Pastoral da Paróquia Sagrado oração de Jesus - Indalécio Santos Dias; Instituto Cidadão – Maurício Fernandes de Faria; Samaritano CVV Valorização à Vida - Maria Lúcia Neves Letra; APREV (Associação dos Pacientes Renais do Vale do Paraíba) – Luciana Mara de Souza Aguiar; SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias) - Poliana de Oliveira Ventura Estudantes da UNITAU (Universidade de Taubaté) - Paula Ramos Associação para Síndrome de Down de Taubaté – Pedro Luiz S. Santos; EMCA (Escola Municipal de Ciências Aeronáuticas) - José Fernando de Lacerda Machado; PPS (Partido Popular Socialista) - Urbano Reis Patto Filho; DCE (Diretório Central dos estudantes) - Carlos Alberto da Silva Jr.; Candidato a pelo Partido Progressista - Júlio Fernando Pinheiro de Lemos; ACEASPP (ONG) - Leila de Almeida Ramos XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 175 Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural - Carlos de Arruda Camargo; Associação de Amigos dos Bairros Rurais - Fernando Bindel. Outro ponto a ser destacado é o fato de 2008 ter sido ano eleitoral, sendo assim, a frequência de assuntos e abordagens relacionadas às eleições foi notória. Conclui-se que a Tribuna Livre foi mais utilizada para a promoção de atividades e eventos (33%), representando que espaço acabou servindo mais de palanque de informes do que de discussão de temas polêmicos que envolvessem os vereadores. As Reivindicações ocuparam 25% do quadro de abordagens e as Prestações de Contas 17%. Agradecimentos, Reclamações e Denúnicas totalizaram 25%. O gráfico estatístico a seguir demonstra os tipos de abordagem mais utilizados: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 176 Este é um levantamento inicial e o presente estudo servirá como referência para pesquisas posteriores na área. Referências Bibliográficas Atas das Sessões Ordinárias (125ª - 163ª). Câmara Municipal de Taubaté, 2008. ABREU, M. M. Taubaté: De Núcleo Irradiador de bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba. Aparecida: Santuário,1985. CARLOS, A. F. A.; LEMOS; A. I. G. Dilemas Urbanos: novas abordagens sobre a cidade. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2005. DALLARI , D. A. Elementos de teoria geral do estado. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 2006 . DALLARI , D. A. O que é participação política. 1 ed. São Paulo : Brasiliense, 1984. FERREIRA, T. L. História da Civilização Brasileira. São Paulo: Biblos, 1959. FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 30 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001. RODRIGUES, I. de O. et al. Médio Vale do Paraíba do Sul: Estado, “Políticas Públicas” e Organização do Espaço: 1930-1980. in: Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: IBGE, Vol. 54, nº 2, abr./jun. 1992. pp. 57-82. SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2004. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 6. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Record, 2004. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 177 SIMÃO, A. Sindicato e Estado. São Paulo: Dominus/ EDUSP, 1966. SINGER, P. Economia Política da Urbanização. São Paulo: Contexto, 1998. TERCI, Eliana Tadeu. A Cidade na Primeira República: Imprensa, Política e Poder em Piracicaba. Tese de Doutorado em História, São Paulo, FFLCH/USP,1997. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 178 A INTERDISCIPLINARIDADE APLICADA NOS PROJETOS EXPERIMENTAIS DE MARKETING POLÍTICO E ELEITORAL. Carlos Fernando Bosco1, Cristiane Peixoto Nabarretti2 e Msc. Paulo César D´Elboux3 Resumo: O trabalho desenvolvido por meio de projetos interdisciplinares proporciona uma vivência diferenciada aos alunos e professores, que deixam a prática costumeira e tradicional, para se envolver num trabalho coletivo que fortalece a educação, o projeto de vida do aluno, bem como colabora na formação integral do mesmo. O Projeto Interdisciplinar de marketing político e eleitoral que se apresenta é desenvolvido no 6º semestre do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara pertencente a Anhanguera Educacional e tem como objetivo apresentar aos alunos o caráter empírico das campanhas eleitorais. Assim, este artigo irá estudar e ponderar tal prática, por meio de uma investigação junto aos alunos matriculados no 6º semestre do curso, alunos do 8º semestre do curso, que já desenvolveram o trabalho, e professores envolvidos. 1 Docente do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Anhanguera de Santa Barbara e do Isca Faculdades de Limeira. 2 Docente do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e do Curso de Marketing da Faculdade Anhanguera de Santa Barbara e do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Anhanguera de Limeira. 3 Coordenador do curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e do Curso de Marketing da Faculdade Anhanguera de Santa Barbara. Docente do curso de Comunicação Social na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara e Faculdade Claretianas de Rio Claro. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 179 Palavras-Chave: Comunicação, Propaganda Política, Marketing Político, Interdisciplinaridade, Projeto Interdisciplinar. Introdução Esse artigo visa demonstrar o diferencial que os projetos interdisciplinares têm proporcionado à educação, à medida que oferece uma ação pedagógica mais efetiva e, conseqüentemente, melhor compreensão da teoria abordada em sala de aula. Qualquer teoria quando contextualizada na prática, fortalece o processo ensino-aprendizagem, torna-o mais prazeroso para os alunos e, ainda, os estimula a buscar o conhecimento além dos muros institucionais. Como reflexão teórica aborda-se o trabalho por projetos e a interdisciplinaridade, para se chegar ao projeto interdisciplinar de marketing político e eleitoral desenvolvido no 6º semestre do curso de Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda, da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara, pertencente à Anhanguera Educacional S.A. O que se espera é propiciar aos professores uma experimentação pedagógica que vai além da aula convencional e aos alunos, uma vivência na área, já visando a prospecção de um mercado, que é altamente competitivo. Espera-se um profissional comprometido, atento à qualidade, enfim, um agente de transformação e capaz de planejar grandes, e vencedoras, campanhas eleitorais. O Trabalho com Projetos O trabalho por meio de projetos envolve uma re-estruturação de conteúdos a serem trabalhados, para que estes sejam adequados ao desenvolvimento das atividades que se pretende. Para tanto, há a necessidade do envolvimento de alunos, professores, coordenadores, todos com o mesmo objetivo: buscar a contextualização, melhorar a qualidade do ensino, ajudar na formação integral do indivíduo, formar o aluno de comunicação social, considerando suas competências e habilidades. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 180 Rios (1994, p.75) afirma que um projeto para ser elaborado necessita considerar, de forma crítica, “os limites e as possibilidades do contexto de trabalho, definindo os princípios norteadores da ação, determinando o que queremos conseguir, estabelecendo caminhos e etapas para o trabalho e avaliando continuamente o processo e os resultados”. Ainda segundo a autora: Quando se projeta, tem-se sempre em mente um ideal. Quando proponho como ideal uma escola que desenvolva um trabalho coletivo e participante, por exemplo, tenho como pressuposto (parto de, tomo como princípio) que o trabalho que se realiza com a participação responsável de cada um dos sujeitos envolvidos é o que atende de forma mais efetiva às necessidades concretas da sociedade em que vivemos (RIOS, 1994, p.74). O ganho do trabalho por projetos é que o aluno aprende participando, tomando atitudes e buscando soluções para as questões problematizantes que emergem do próprio projeto. Os projetos, ao modificar o trabalho pedagógico, contribuem para a formação integral dos alunos, uma vez que estes passam a ser agentes de transformação. Nesse sentido, é preciso um planejamento das ações que serão desenvolvidas para que todos os envolvidos possam se sentir parte do processo. Além disso, no trabalho com projetos faz-se forte a questão interdisciplinar, à medida que os projetos, em sua maioria, envolvem diversas disciplinas do currículo. Por essa razão, a reflexão contempla a interdisciplinaridade como eixo que norteia o trabalho desenvolvido no 6º semestre do curso de Comunicação Social da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara. A Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade tem sido considerada um marco na educação, pois tem possibilitado rever alguns paradigmas e inovar na proposta educativa, ou seja, abrir-se ao novo, às novas oportunidades de aquisição de conhecimento e de descobertas. apresentadas algumas reflexões de Para melhor autores, interdisciplinaridade. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL que compreendê-la, dialogam sobre são a 181 Segundo Fazenda (1993, p.30), “[...] o conhecimento interdisciplinar deve ser uma lógica da descoberta, uma abertura recíproca, uma comunicação entre os domínios do saber, uma fecundação mútua”. Considerando o pensamento de Fazenda (1993), a interdisciplinaridade favorece a troca de experiências entre os professores das diversas disciplinas e oportuniza as contribuições numa parceria entre a teoria e a prática. Ainda com relação ao professor, ele é fundamental no trabalho interdisciplinar e no avanço do seu aluno. Para Tavares (2005, p.30) “é o professor quem pode captar as necessidades do aluno e o que a educação lhe proporcionar. A interdisciplinaridade do professor pode envolver e modificar o aluno quando ele assim o permitir”. Contudo, não podemos deixar de ressaltar o pensamento de Ferreira (2005, p.34) quando enfatiza que a caracterização da prática interdisciplinar se dá “pelo sentimento intencional que ela carrega”. Não há interdisciplinaridade se não há intenção consciente, clara e objetiva, por parte daqueles que a praticam. Não havendo a intenção de um projeto podemos dialogar, inter-relacionar e integrar sem no entanto estarmos trabalhando interdisciplinarmente” (FERREIRA, 2005, p.34-35). Nas contribuições de Luck (2007, p.67-68) encontram-se algumas questões sobre a interdisciplinaridade, inclusive que ela se estabelece por meio de um “[...] processo contínuo e interminável de elaboração do conhecimento, (...) com o objetivo de apreendê-la e apreender-se nela, visando muito menos a possibilidade de descrevê-la e muito mais a necessidade de vivê-la plenamente”. Segundo a autora, há contribuições da interdisciplinaridade no campo da ciência e no campo do ensino. Este último vem representado pela “melhoria da qualidade do ensino”, ao superar a “fragmentação do ensino, uma vez que este orienta a formação global do homem” (LUCK, 2007, p.71). No pensamento da autora, existem dois planos no campo do ensino: o plano imediato e o plano mediato. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 182 1. No plano imediato, a formação integral ocorre na medida em que os educadores estabelecem: a) o diálogo entre suas disciplinas, eliminando as barreiras artificialmente postas entre os conhecimentos produzidos; b) a interação entre o conhecimento e a realidade concreta, as expressões de vida, que sempre dizem respeito a todas as áreas de conhecimento. 2. No plano mediato, a melhoria da qualidade de ensino corresponde a uma melhoria da qualidade de vida, uma vez que possibilita ao aluno uma visão global de mundo e de si mesmo no mundo, que pode permitir o enfrentamento da realidade e a superação do sentido de fragmentação, de dúvida negativa, de medo de erro na escolha da profissão, etc (LUCK, 2007, p.71). Salienta-se que são vários os trabalhos interdisciplinares que estão sendo realizados na Publicidade, contudo, cabe mencionar o trabalho de pesquisa que é desenvolvido no Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Linguagem Publicitária (Nielp), da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP) (BARBOSA, 2005). O Projeto Interdisciplinar do curso de Comunicação Social: Publicidade e Propaganda Para melhor compreensão da estruturação do projeto interdisciplinar, faz-se a caracterização da cidade, da instituição e do curso, tomando como base a Proposta Pedagógica vigente. A Anhanguera Educacional S.A A Anhanguera Educacional S.A é resultado da integração das mantenedoras das seguintes instituições: “Centro Universitário Anhanguera Unidade Leme e Unidade Pirassununga, as Faculdades de Valinhos, a Faculdade Politécnica de Jundiaí, a Faculdade Comunitária de Campinas (Unidades 1, 2 e 3) e a Faculdade Politécnica de Matão”. Integração que teve como objetivo racionalizar a estrutura organizacional e transformar as XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 183 entidades anteriores numa única empresa educacional - uma sociedade anônima - nos moldes previstos no atual Código Civil Brasileiro4. Tem como Missão: Promover o ENSINO de forma eficiente, com um grau de qualidade necessário ao bom desempenho das futuras atividades profissionais dos educandos, para que, de forma competente e ética, possam desenvolver seus PROJETOS DE VIDA como cidadãos conscientes dos seus direitos, deveres e responsabilidades sociais. Tem como Filosofia Gerencial: Delegar AUTORIDADE e RESPONSABILIDADE aos Diretores, Coordenadores e Professores, para que possam cumprir os objetivos e planos institucionais aprovados, com incentivo ao TRABALHO SÉRIO E COMPROMETIDO com resultados. Caracterização da Cidade e da Instituição O município de Santa Bárbara D‟Oeste possui uma área total de 272,2 Km², sendo que seu perímetro urbano é de 60 Km² e a sua área rural possui 212,2 Km². Geograficamente a cidade está localizada a 535 metros acima do nível do mar, com Latitude S 22°45'00" e Longitude O 47°24'45", e fica a 130Km de distância da Capital São Paulo. Segundo dados projetados pelo censo do IBGE, a população estimada do município de Santa Bárbara d‟Oeste no ano de 2004 é de 174.246 pessoas, sendo 87.030 homens (49,95%) e 87.216 mulheres (50,05%). A Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara está localizada no Município de Santa Bárbara d‟Oeste/SP, na Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1450, Distrito Industrial II. Possui aproximadamente 4200 alunos, freqüentando os seguintes cursos de graduação: Administração, Biomedicina, Ciência da Computação, Ciências Contábeis, Enfermagem, Fisioterapia, Letras (Português/Inglês), Pedagogia, Tecnologia em Marketing, Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Tecnologia em Recursos Humanos, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia de Controle e 4 Informações obtidas disponíveis em http://www.unianhanguera.edu.br/institucional/marca.php. Acesso em 25 mar 2007. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 184 Automação. Tecnologia em Logística e o curso em questão Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda. Conta, atualmente, com aproximadamente 155 profissionais no seu quadro docente. O Curso de Comunicação Social O curso é autorizado pela Port. MEC. nº 493/06, DOU 13/02/06, tem respaldo nas Diretrizes Curriculares Nacionais e busca demonstrar as variáveis norteadoras das ações pedagógicas para a formação do Publicitário. Está organizado em 8 séries, possui 16 docentes e uma clientela com 215 alunos.O curso foi Reconhecido pelo MEC no ano de 2008,obtendo a Nota 4,0. A orientação e fundamentação que norteiam a formação do profissional que o curso almeja, leva em consideração as necessidades regionais que influenciam na elaboração do projeto pedagógico do curso. Entre elas se pode citar: - apresenta uma realidade econômico-social polarizada entre núcleos urbanos intensamente industrializados; - regiões de baixa densidade industrial, exigindo profissionais de Publicidade e Propaganda com amplo espectro de atuação; - setor de serviços em desenvolvimento, em especial na área de Publicidade e Propaganda e prestação de serviços especializados, orientando a formação de profissionais que tenham conhecimentos específicos; - elevado número de pequenos empresários que buscam, no mercado de trabalho, profissionais que demonstrem possuir espírito empreendedor para atuar como potencializadores internos dos negócios. O currículo do curso possui um conjunto de atividades acadêmicas que são avaliadas interna e externamente, num processo constante. Cabe ressaltar que as disciplinas componentes do Curso de Comunicação Social foram elaboradas pelo DDE - Departamento de Desenvolvimento Educacional, pela Supervisão e pelos Coordenadores dos cursos de Comunicação Social da Anhanguera Educacional S.A, com a colaboração do Colegiado docente do Curso, buscando um trabalho interdisciplinar em seus diversos níveis (horizontal e vertical) e períodos. Interdisciplinaridade que vai além da justaposição de disciplinas ou de temáticas comuns de trabalho. Para tanto a coordenação do curso realiza, periodicamente, reuniões de reflexão e discussão sobre o andamento do curso, sobre os conteúdos, os procedimentos a serem utilizados e as avaliações, contudo, sempre considerando as características de cada turma. No caso específico da XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 185 habilitação em Publicidade e Propaganda há que se ter uma ligação entre: planejamento, criação, difusão e gestão da comunicação publicitária. Da mesma forma, conforme contido na proposta pedagógica do curso, as competências e habilidades que os alunos devem desenvolver, também comportam dois níveis, um geral, no campo da Comunicação, e um específico, na área de Publicidade e Propaganda, ou seja, intenciona-se, prioritariamente, a formação do publicitário competente e atualizado, adequado à complexidade e velocidade do mundo contemporâneo, à assimilação dos avanços tecnológicos e mercadológicos. O curso possui vários objetivos, contudo, sintetizando, almeja formar profissionais aptos à atenderem às demandas da realidade tanto nacional quanto regional, empreendidos em esforços que visam ao cumprimento do Projeto Pedagógico amplamente discutido com o intuito de igualmente cumprir o objetivo da instituição no atendimento do projeto de vida do aluno. O Projeto Interdisciplinar O Projeto Interdisciplinar é desenvolvido por meio de atividades práticas nos setores da publicidade e propaganda para aplicação e exercício dos conceitos aprendidos. Proporcionam uma visão do mercado em que o curso está inserido e oportuniza tomar conhecimento do trabalho que é desenvolvido na região. O Projeto Interdisciplinar de Marketing Político e Eleitoral O Projeto Interdisciplinar de Marketing Político e Eleitoral se justifica por demonstrar a importância do profissionalismo da propaganda política. Queiroz (2006, p. 20) evidencia que “Na América Latina, em razão dos vários períodos de ditadura vividos em países que a compõem, o desenvolvimento das ações profissionais, bem como da pesquisa científica, sofreu as pressões e indiferenças peculiares aos tipos de regimes implantados: do jornal Granma do partido único de Cuba, passando pelo período de ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, quando os jornais publicavam receitas de bolo e poemas para preencher os espaços de matérias censuradas, coube ao jornalismo engajado a primazia de oferecer suporte profissional aos políticos para a realização de campanhas eleitorais diferenciadas. Só algum tempo depois é que publicitários, XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 186 relações-públicas e sociólogos, com suas pesquisas de opinião pública, empresários de segmentos como gráficas e fábricas de brindes, além de compositores populares, passaram a prestar atenção à propaganda política como atividade de mercado. (20) Assim, ao passo que a propaganda política passa a ser vista como atividade mercadológica, o projeto interdisciplinar aplicado pela Faculdade Anhanguera é capaz de difundir tal importância. Queiroz (2006, p.21) afirma que além de outros fatores indispensáveis para a propagação da profissionalização da propaganda política “o universo virtual oferece hoje artigos especializados, referências a cursos de marketing político, notícias, debates, difusão de atividades partidárias que têm incentivado a troca de idéias e o repensar das atividades neste campo”. O Projeto Interdisciplinar é capaz de incentivar a troca de idéias e conceitos a cerca do marketing político e eleitoral. Tal prática é fundamental para o entendimento do tema. QUEIROZ (2006, p. 22) afirma que “a compreensão teórica do marketing político no Brasil inicia-se pela publicação de estudos especialistas na área, jornalistas e publicitários, que começaram a colocar no papel experiências profissionais vivenciadas”. Sob o aspecto científico, o marketing político configura-se como uma atividade multidisciplinar (QUEIROZ, 2006, p. 30). Assim sendo, torna-se ao projeto da Faculdade Anhanguera, obrigatória a integração de todas as disciplinas e envolvê-las no processo de pesquisa, planejamento e execução. Assim, cabe apresentar as disciplinas envolvidas no 6º semestre do Curso de Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda. São elas: Mídia, Linguagem e Produção em TV, Administração e Planejamento de Marketing, Novas Tecnologias em Comunicação, Agências Experimentais 01, 02 e 03 e Propaganda Política. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 187 Sobre o tema do trabalho A idéia principal é proporcionar ao aluno uma aproximação ao cotidiano profissional, permitindo-lhe participar de ações de campanha, a fim de capacitá-lo teórica e tecnicamente para a realização do Projeto Experimental a ser desenvolvido no oitavo semestre do curso. O projeto tem como proposta básica a contextualização das atividades de comunicação política e eleitoral na cidade de Santa Bárbara d´Oeste, permitindo ao aluno um conhecimento mais aprimorado das técnicas de campanha eleitoral, envolvendo neste processo a propaganda, a publicidade, a promoção, o marketing e a construção de imagem pública. Trata-se, portanto, de uma campanha nos moldes profissionais, envolvendo todos os procedimentos normais de uma campanha publicitária, tendo como foco, entretanto, a eleição de um candidato a Prefeito. Com a realização do trabalho espera-se proporcionar ao aluno um contato com o mercado profissional, capacitá-lo para o desenvolvimento do Projeto Experimental, demonstrar e torná-lo capaz de desenvolver técnicas de campanha na área política e eleitoral, bem com para a construção e formatação de campanhas publicitárias eleitorais. O trabalho interdisciplinar de marketing político e suas regras: A classe é dividida no máximo em 7 (sete) agências experimentais, com no mínimo 6 e no máximo 8 alunos, respeitando-se, preferencialmente, as agências formadas no quinto semestre do curso. O número de integrantes das agências pode sofrer variação de acordo com o número de alunos matriculados no sexto semestre. O professor da disciplina Propaganda Política é quem define os partidos a serem trabalhados com as agências. Cada agência deve definir um nome com o qual será identificada. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 188 As agências que perderem os prazos para a gravação dos trabalhos ou excederem estes prazos perderão nota na avaliação continua, ou ficarão com nota zero nas disciplinas de produção envolvidas com a atividade. O trabalho final é, ao final, apresentado em forma de seminário e entregue em cópias impressas e digitais (briefing, pesquisa, planejamento de campanha, planejamento de mídia, desenvolvimento das peças e identidade visual), em vídeo (dos filmes editados) e em áudio (dos spots, jingles e testemunhais). Todas as referências bibliográficas das disciplinas ministradas no semestre deverão, obrigatoriamente, embasar o trabalho escrito. Roteiro do Trabalho Todas as agências seguem um roteiro único, apresentado a seguir detalhadamente: Etapa A – Avaliação Introdução Fazer uma breve apresentação da agência e o porquê do trabalho a ser realizado. Falar das competências do trabalho de equipe e um breve resumo do candidato e suas necessidades e expectativas básicas. Análise Política (Mercado) - Descrição do Macroambiente (Falar sobre a situação política nacional Aponte dados do Brasil, políticos, problemas sociais e econômicos, etc...) - Descrição do Microambiente (Falar sobre a situação política local, onde o candidato irá atuar. Aponte dados da cidade, políticos, problemas sociais e econômicos, etc...) - Descrição de como o seu candidato está inserido neste contexto e suas particularidades no mercado. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 189 Partido Político (Empresa) Ficha Cadastral (Nome do partido, endereço, telefone, contato) Histórico do partido (Brasil e local) Logomarca Principais representantes Dados e fatos marcantes que mostram a trajetória do partido ao longo do tempo O Candidato (Produto) - Descreva detalhadamente seu candidato. Apresente-o, sua vida, família, história e, ainda: Nome/idade Currículo profissional Currículo político (deve conter todos os mandatos, bem como suas benfeitorias) Plano de governo Imagem do candidato perante a sociedade Características diferenciadoras Pontos positivos e negativos do candidato É importante, a partir deste momento, a aplicação de pesquisas quantitativas e qualitativas. Etapa B Pesquisas - Quantitativa (principais resultados) - Qualitativa (principais resultados) - Recomendações Após analisar mercado, empresa e produto, analise o momento político atual: Análise do momento político atual XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 190 Chances de o candidato se eleger devido ao seu passado político e ao atual Fatos políticos da cidade que favorecem o candidato Fatos políticos da cidade que desfavorecem o candidato Comparação com a concorrência Após a realização das pesquisas, a comparação com a concorrência se torna indispensável. É por ela que todas as possíveis interferências são analisadas. Kuntz (2006, p. 79) é categórico ao afirmar que: Por meio de cuidadosos estudos e etapas técnicas, o planejamento da campanha tem, por objetivos centrais, o de reunir toda informação existente ou possível de se obter sobre aliados, adversários, o histórico dos fatos eleições passadas, forças sociais que possam interferir no processo eleitoral e tudo o que for possível para estabelecer um balanço dos pontos fortes e vulnerabilidades próprias, de aliados e adversários. (79) - Defina como seu candidato se encontra perante os principais concorrentes. - Defina quem são os concorrentes indiretos (de menor relevância) - Defina quem são os diretos (de maior relevância) - Escolha quantos achar necessário e faça uma descrição breve de cada um, seu histórico, atuação e peculiaridades - Elabore uma tabela comparativa entre o seu candidato e seus principais concorrentes - Faça uma conclusão de como o seu candidato se encontra perante os concorrentes. Definição de Problemas e Oportunidades - Descreva de uma maneira geral todos os problemas a serem resolvidos e as oportunidades encontradas para serem exploradas. - Escolha os principais e detalhe melhor no que este pode prejudicar ou auxiliar o seu candidato na eleição. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 191 Posicionamento do Candidato no mercado - Descreva de uma maneira geral qual a importância de ter uma marca bem posicionada no mercado eleitoral. - Descreva como seu candidato é visto perante o eleitor. Reafirme ou, se necessário, faça uma proposta de reposicionamento (promessa básica / justificativa / atributos complementares). Nesta etapa do planejamento KUNTZ (2006, p. 90) diz que para se obter um planejamento confiável, é preferível ser pessimista a ser otimista nas respostas, pois é melhor o candidato se preparar para o pior do se manter num posicionamento otimista. Qualquer falha poderá custar-lhe o desmoronamento da campanha. Definição do Público-Alvo (Eleitor) - Defina por que e para quem a campanha será direcionada (se necessário, dependendo da campanha, defina mais de um target). Detalhe características específicas deste target: - Demográficos: Sexo, idade, estado civil, local da residência, instrução) - Socioculturais: Classe social, grupos profissionais, artísticos, esportivos. - Econômicos: Classe econômica, renda. - Religiosos: Religião, seitas, crenças. - Psicológicos: Atitudes, opiniões, motivações. - Hábitos: Compra, uso, consumo, estilo de vida. Ainda Número de eleitores na cidade (fontes oficiais) Quantidade de votos necessários para eleger o candidato XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 192 Perfil geral, psicográfico e sócio-econômico do eleitor pretendido Atitudes dos eleitores em relação ao candidato O que eleitor espera do candidato Objetivos - De marketing - De comunicação Etapa C – Busca de Soluções Aqui, cabe ressaltar a importância do Planejamento numa campanha de marketing eleitoral. KUNTZ (2006, p. 79) afirma que qualquer tipo de planejamento, ainda que involuntário ou mecânico, implica o conhecimento prévio do cotidiano (conjuntura), a antecipação dos fatos (previsão), o estabelecimento um objetivo maior, com várias etapas ou objetivos intermediários. Ao mesmo tempo em que planejamento, nos vemos obrigados a pensar sobre como iremos atingir nossos propósitos (estratégia) e como contornaremos eventuais problemas hipotéticos e previsíveis (revisão & estratégias alternativas”. Objetivos e Estratégias de Criação - OBJETIVO: Descreva o que a campanha criada deseja alcançar com sua mensagem junto ao eleitor. - ESTRATÉGIA: Descreva como será desenvolvida a campanha, sob os aspectos: - Problema a ser resolvido pela campanha - Posicionamento do Produto / Serviço / Marca - Tema da Campanha - Slogan do Candidato XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 193 Objetivos e Estratégias de Mídia - OBJETIVO: Descreva o alcance e a freqüência na programação de mídia planejada (alto, médio ou baixo). Considere os aspectos de continuidade, períodos da programação e cobertura geográfica. - ESTRATÉGIA: Descreva os meios de comunicação a serem utilizados na campanha, considerando: o eleitor, postura da campanha, área geográfica, aspectos sazonais, verba, criação, concorrência, perfil de compra e utilização do produto/serviço, necessidades de meios de apoio, etc... OBS: Justifique cada meio escolhido e suas vantagens. Ações de Comunicação - Descreva, baseado na estratégia de Criação e de Mídia adotadas, as ações de comunicação a serem realizadas. Poderão ser organizadas em: - Mídia Impressa - Mídia Eletrônica - Promoção de Vendas - Merchandising - Relações públicas - Eventos - Mídias Alternativas - Outros... Anexe as peças publicitárias e roteiros confeccionados. Etapa D – Orçamento e cronograma Orçamento - Discriminar a verba por item no planejamento: Mídia (maior parte da verba), produção, ponto-de-vista, relações públicas, merchandising, agência, etc... XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 194 Cronograma - Descreva em forma de tabela, cronologicamente, todas as etapas do planejamento, criação de veiculação da campanha. Anexos - Anexe ao planejamento todo o material pesquisado, ex: briefings, sites, livros, textos, artigos, entrevistas, pesquisas, etc... - Anexe também outros materiais que acreditarem ser relevantes para consulta. Ao término das 04 etapas apresentadas, o aluno deve-se colocar no papel do candidato, conforme sugere Kuntz (2006, p. 84-90) ao dizer que “as perguntas que seguem são formuladas como se fosse o candidato a fazê-las, e suas respostas consistem na execução de um planejamento global de sua campanha”. 1. Qual é o potencial de votos em cada bairro, cidade, município, região ou estado onde concorro? 2. Quantos votos eu já tenho? 3. Onde estão? 4. Quantos votos me faltam? 5. Qual a margem de segurança necessária para assegurar a minha eleição? 6. Onde tenho mais chance de ir busca-los? 7. Quem são meus concorrentes? 8. Qual é a situação deles em relação ao eleitorado? 9. Qual a situação de meu partido e a dos outros partidos? 10. Quem poderiam ser os meus aliados? 11. Onde eles atuam e qual a situação? 12. Quantos votos poderia transferir-me esta aliança? 13. Qual a melhor maneira de manter os meus votos e conseguir os votos que me faltam? 14. Quanto me custaria essa conquista? 15. Quanto eu tenho para gastar? XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 195 16. Quais os recursos humanos de que disponho? 17. Quanto me falta? 18. Como e onde conseguir? 19. Quanto tempo eu levaria para isso? 20. Quais são as minhas chances? 21. Quais os temas que deverão constar de minha plataforma? 22. Qual o melhor símbolo e slogan para minha campanha? 23. Qual o melhor visual para minha campanha? 24. Que outros serviços contratar? 25. Com quem efetivas as alianças? 26. Como compatibilizar a minha estratégia com as adotadas pelos aliados? 27. Quando e onde eu devo estar presente? 28. Quais os outros meios de atingir os eleitores? 29. Como controlar, selecionar, coordenar e utilizar todas as informações que me chegam? 30. Qual a qualificação da equipe a ser contratada? 31. Como orientar e treinar esse pessoal? 32. Como e quando reformular as estratégias por mim adotadas na campanha? A função de cada disciplina no projeto interdisciplinar: Cada disciplina envolvida no trabalho interdisciplinar é responsável por orientações específicas: A disciplina de Propaganda Política é responsável por orientar as fases do projeto, dando suporte teórico-prático para o entendimento da campanha em suas várias etapas. A pesquisa qualitativa também é de responsabilidade da disciplina. A disciplina de Planejamento e Administração de Marketing dá suporte para o planejamento das ações de comunicação da campanha, servindo, inclusive como elo entre as disciplinas de Mídia, Linguagem e Produção em TV, Novas Tecnologias em Comunicação e Agências Experimentais, no sentido XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 196 de permitir a visualização da interseção destas disciplinas dentro do plano de comunicação e marketing. A disciplina de Administração e Planejamento de Marketing é, ainda, responsável pelo desenvolvimento das ações de marketing da campanha (inclusive a agenda do candidato) juntamente com as disciplinas de Agências Experimental 1 e 2, que também são responsáveis pelas definições das ações promocionais da campanha. A disciplina de Mídia oferece subsídios para que as agências desenvolvam pesquisa junto aos veículos e fornecedores além de orientar a concretização do plano de comunicação, indicando os veículos a serem utilizados e os períodos de inserções e de distribuição de materiais. A disciplina de Novas Tecnologias em Comunicação orienta as agências para a definição da identidade visual dos candidatos e elaboração das peças gráficas com os quais estarão trabalhando. Todas as peças gráficas da campanha, a utilização da internet, além de símbolos e ícones são definidos e orientados com o apoio deste disciplina que, ainda, dá à produção gráfica dos materiais. A disciplina Agência Experimental 3 orienta o Briefing de Criação, o texto das peças gráficas, a construção de slogans e peças de Rádio e Televisão. A disciplina de Linguagem e Produção em TV trabalha em conjunto com a disciplina de Novas Tecnologias em Comunicação, a fim de que todas as peças de cada agência sigam a mesma identidade visual e linguagem também nos meios eletrônicos. As agências devem produzir programa de televisão e de rádio com o tempo determinado de acordo com o partido ou coligação, spot de TV de 30 segundos, spot de rádio de 30 segundos e jingle de 30 segundos. Os tempos devem ser respeitados. O não cumprimento acarreta na perda de pontos da nota. Ainda, o tempo de utilização dos estúdios ou equipamentos de externa XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 197 deverá ser considerado no orçamento da campanha, de acordo com os valores praticados no mercado regional. Processo de Avaliação: Os alunos são avaliados individualmente e coletivamente nas orientações de cada disciplina. A nota do projeto é equivalente a, no mínimo, 40% da nota do 1º bimestre, ou seja valerá até 4,0 (quatro) pontos na qualificação e, no 2º bimestre, também valerá até 4,0 (quatro) pontos na apresentação final, , em cada disciplina. Apresentação Final: Todas as agências apresentam suas campanhas para uma banca composta por docentes do curso de Comunicação Social da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara e, em alguns casos, para convidados externos. o O grupo definirá qual(is) integrante(s) fará(ão) a apresentação em forma de seminário. o A banca definirá (na hora da apresentação) a qual(is) aluno(s) dirigir observações ou perguntas para esclarecer dúvidas referentes ao trabalho. o Portanto todos os componentes do grupo devem estar preparados para a apresentação, bem como presentes no dia da apresentação, podendo, a ausência, implicar em diminuição da nota final do trabalho. Os grupos tem a disposição no mínimo 20 minutos e, no máximo, 25 minutos para a apresentação do trabalho na qualificação. E no trabalho final o tempo, incluindo a apresentação das peças publicitárias, é de 30 minutos, no mínimo, e de 35 minutos, no máximo. Os limites de tempo da apresentação podem sofrer alterações de acordo com as necessidades do curso. Geralmente, todos os grupos apresentam o trabalho no mesmo dia. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 198 Cronograma de atividades Para que todas as etapas sejam cumpridas dentro do prazo de um semestre, é necessária a aplicação de um cronograma capaz de gerenciar este processo de desenvolvimento, orientação e apresentação do trabalho. O mesmo é elaborado levando em consideração os principais acontecimentos: ETAPAS Entrega do projeto para os alunos para a formação das Agências Identidade Visual das Agências Definição dos partidos/coligações Escolha do candidato de planejamento apresentado. acordo com o Entrega da autorização de uso da imagem do candidato Pesquisa Quantitativa Contextualização do ambiente da campanha e descrição do candidato Pesquisa Qualitativa Planejamento de comunicação Ações de marketing Ações promocionais Briefing de Criação Pré-roteiros dos programas de rádio e TV Proposta de identidade visual das peças gráficas Mídias a serem utilizadas Entrega de 1 cópia do trabalho impresso e uma digital XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 199 Qualificação Identidade visual e peças gráficas (inclusive texto) Planejamento de mídia da campanha Gravação e edição do material em vídeo e áudio Entrega da versão final – 1 cópia impressa + 1 cópia em CD Apresentação Tabela 1 – Cronograma de Atividades Avaliação dos professores e alunos sobre o Projeto Interdisciplinar na Faculdade Comunitária de Santa Bárbara Para avaliar a aplicação do Projeto Interdisciplinar na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara, foram registradas as opiniões de alunos e professores envolvidos no projeto em questão. A metodologia para a coleta de dados foi a entrevista (inquérito) pessoal, através de questionários estruturados com perguntas abertas. As questões solicitadas aos docentes abordavam questões sobre a importância da realização de trabalhos interdisciplinares de marketing político e eleitoral, se agregam informações relevantes na formação dos alunos do curso de Comunicação Social com habilitação em publicidade e propaganda e quais principais dificuldades enfrentadas durante a realização do trabalho. Entre os docentes que emitiram suas opiniões houve unanimidade no relato da importância desse tipo de projeto para o desenvolvimento pessoal e profissional do aluno de Comunicação, como relata o professor Demarchi: O contato com os trabalhos interdisciplinares tira o aluno de sua rotina acadêmica, tornando em um indivíduo que pensa no coletivo, ficando notório um aumento do seu senso de responsabilidade. É de extrema importância que os alunos vivenciem essa experiência. É um nicho de mercado que além de empregar muitos profissionais de XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 200 comunicação, pode despertar o encanto e o desejo de engajamento na vida política. O professor Dias destaca a importância da aplicação das teorias aprendidas em sala de aula e aplicadas ao contexto do trabalho interdisciplinar. Através do T.I e das atividades a ele relacionadas, podemos observar a evolução do conhecimento prático dos discentes na elaboração das estratégias e das campanhas políticas e a importância da relação interdisciplinar, já que os mesmos pesquisam embasados em teorias aplicadas em sala de aula e colocam em prática na campanha propriamente dita. Focando o projeto pedagógico do curso a professora Mendes enfatiza a questão do mercado profissional: Com os trabalhos interdsiciplinares, o aluno consegue enxergar o que é o curso como um todo, entender o projeto pedagógico do curso, já que precisa não apenas compreender o conteúdo de cada disciplina, mas ir além, pesquisar, refletir e criar novo conhecimento referente ao objeto de estudo. O trabalho interdisciplinar é uma importante ferramenta de estudo, interação e prática de pesquisa que prepara o aluno para o projeto de conclusão de curso e para o mercado profissional. O trabalho interdisciplinar de mkt político e eleitoral é importante no sentido de o aluno seguir todos os passos de uma campanha, agregando conhecimento de todas as disciplinas e conhecendo a realidade política da cidade. Assim ele se aproxima de mais um nicho de mercado em que poderá atuar como profissional durante e após sua formação. Com relação aos conceitos agregados à formação dos alunos do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda os professores são enfáticos em afirmar que as contribuições para a carreira profissional do discente são inúmeras: Em sua vida profissional o futuro publicitário terá grande chance de vir a trabalhar em uma empresa onde esta tenha em seu portfólio o marketing político. Então um aluno que esteja iniciando ou estagiando em uma XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 201 empresa que se encontre em algum pleito político, ele pode compartilhar o conhecimento adquirido no curso, que será de extrema valia para sua ascensão dentro desta empresa. (DEMARCHI) Ele proporciona ao aluno uma experiência fiel ao que é praticado no mercado, fazendo com que o discente seja preparado para a realização da campanha e tenha principalmente vantagem competitiva frente aos concorrentes numa vaga de trabalho. É também importante ao exercício do planejamento estratégico, já que em uma campanha política o dinamismo diário faz com que o planejamento estratégico seja constante. (DIAS) Além da inter-relação do conteúdo das disciplinas, facilitando a assimilação de conhecimento e criação de novos conceitos com a vivência, um aspecto importante é o relacionamento profissional, o contato direto com o público e prática da pesquisa, do estudo do público-alvo e da formação da imagem pública. O aluno consegue entender como é pensar e agir com estratégia, técnica e como é importante a teoria apreendida em sala de aula. (MENDES) Já quanto ao corpo discente do Curso de Comunicação Social foram ouvidos os alunos do 6º e 8º semestre, sendo que os alunos do 6º semestre estão realizando o trabalho em questão e os alunos do 8º semestre realizaram no primeiro semestre do ano de 2008. As questões solicitadas aos discentes abordavam questões sobre a importância da realização de trabalhos interdisciplinares de marketing político e eleitoral, pontos fortes da realização do trabalho e oportunidades de melhoria, maiores dificuldades para a realização do trabalho e como cidadão, quais aspectos o trabalho despertou nos discentes. Dentre as diversas opiniões dos alunos destacamos o do aluno Linha: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 202 O TI político foi fundamental para a quebra de alguns paradigmas. Antes de realizar este projeto eu nem sonhava em atuar no ramo da política, mas descobri que é um mundo de competição muito gostoso de atuar, também a experiência de saber reposicionar, lançar e desenvolver o candidato foi de extrema importância para o meu desenvolvimento como aluno. O aluno Cardozo, salienta a questão da descoberta de afinidades para a escolha da especialização após a faculdade: Durante a graduação, vários alunos vão descobrindo suas afinidades com as áreas da propaganda, e o trabalho sobre o marketing político também nos serviu de base para a escolha da especialização, além de nos deixar preparado para lidar com situações reais no mercado de trabalho. Para o aluno Zaniboni, como cidadão as contribuições obtidas foram: Acredito que como cidadão criei um compromisso de avaliar melhor a campanha (de marketing político) dos candidatos, pois é muito fácil passar uma imagem, mas fazer render um conteúdo e disfarçar defeitos, é algo fácil pra quem edita tudo e constrói o herói. O difícil é manter a população consciente das verdadeiras intenções de um candidato. Ainda como cidadão do aluno Souza destaca: Ser um cidadão que tem o conhecimento e sabe o que fala, é de fato algo que mostra a transformação que faz a realização de um trabalho deste cunho e com este tema. Despertar a curiosidade e motivação sobre o assunto. Levando em consideração que as informações agregadas e os conhecimentos múltiplos obtidos, por nós, serão carregados por toda a vida. (...). Com relação ao pontos positivos da realização deste trabalho interdisciplinar, os alunos destacam: A reação aos novos fatos acredito que seja o principal, pois a cada dia um novo detalhe se apresentava e com XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 203 isso novas estratégias e táticas eram adicionadas ao projeto. (LINHA) Simular uma campanha com um candidato real, é sem dúvida um fator diferencial para o aluno. Torna o trabalho, muito próximo ao real. (CARDOZO) O próprio tema, e o fato de que temos uma matéria específica sobre ele já auxilia bastante e estimula muito. é um marketing muito gostoso de se estudar. (ZANIBONI) Ganhos em experiência: - Aprofundamento em pesquisas; - Elaboração de estratégias e ações para que a pessoa ganhe novas características e torne-se de certa forma um personagem, que não ganha Oscar mas sim uma eleição; - Um aprofundado conhecimento que se adquire ao lidar com esse assunto, proporcionando novos conhecimentos e certos domínios onde antes não existia. (LUCIANNE) Necessidade de trabalho em equipe; Pesquisa realizadas; Embasamento Teórico; Forte proximidade com a realidade de mercado; Orientação extra (3 professores por semana); Outra visão sobre o assunto em questão; Desenvolvimento de senso-crítico (próprio); Argumentação e forte embasamento para discussões e redação necessária (e futura); Amplitude na diversidade de conhecimento. (SOUZA) O ponto forte que posso destacar é a pesquisa que foi aplicada, pois nos proporciona um enorme contato e crescimento profissional, e nos permite saber a fundo a opinião das pessoas sobre um assunto tão delicado como a Política. Achei muito interessante os DOIS Focus Group que foram feitos bem como a pesquisa quantitativa, pois os resultados, na minha opinião, foram surpreendentes, mais pelo aspecto do desconhecimento das pessoas em relação a seus governantes. (NUNES) Podemos notar que os alunos destacam o fato de realizar pesquisas reais acerca dos candidatos, além das estratégicas de marketing embasadas pela disciplina de propaganda política que está na grade curricular do semestre em questão. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 204 Não podemos deixar as oportunidades de melhoria sugeridas pelos alunos, porém é importante salientar que a maioria dos entrevistados coloca como fator de maior dificuldade o prazo para realização do trabalho. Entre as opiniões dos entrevistados destacamos o de Nunes que diz: Um dos pontos que acredito que pode ser melhorado nesse trabalho é fazer um cronograma mais coerente. (...) acredito que nas próximas edições do TI o cronograma possa ser mais bem avaliado, em especial procurando evitar chocar com a nossa semana de provas. Fica evidente a preocupação dos discentes com o cronograma do trabalho, porém ele deve ser executado no calendário do semestre letivo, o que impossibilita um prazo maior para o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. Acerca de todas as contribuições de docentes e discentes, o que podemos observar é que o projeto interdisciplinar de marketing político e eleitoral é um grande instrumento de ensino e aprendizado aplicado no 6º semestre do curso de comunicação social com habilitação em publicidade de propaganda da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara. Neste sentido notamos também que os discentes reconhecem a importância deste instrumento, o que permite que a aprendizagem saia da esfera da sala de aula para o âmbito mercadológico. Considerações O projeto Interdisciplinar que vem sendo desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da FAC, tem trazido significativa contribuição à toda a comunidade educativa. Suas atividades vêm proporcionando aos alunos o conhecimento da teoria, a aplicação da teoria na prática, o desenvolvimento da criatividade e da criticidade, bem como suas habilidades e competências. XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MARKETING POLÍTICO – 2009 TAUBATÉ – SP BRASIL 205 Aos professores o projeto vem proporcionando um trabalho diferenciado que vai além da sala de aula convencional, oportunizando melhor conhecer os seus alunos e suas potencialidades. O trabalho interdisciplinar ao permear o conteúdo das diferentes disciplinas possibilita o desdobramento de muitos temas, de modo dinâmico e prazeroso, enriquecendo a prática. O agrupamento dos alunos, por meio de Agências tem favorecido a integração e os relacionamentos interpessoais, quesitos de suma importância para o exercício do trabalho coletivo. É possível observar, ainda: o amadurecimento progressivo dos alunos, a socialização do grupo, a revisão de postura dos docentes e o repensar de sua prática, entre outros. Contudo, o mais importante deles é o processo de construção do conhecimento do aluno que, em muito, influenciará e definirá o seu Projeto de Vida. Assim, é possível, por meio do Projeto Interdisciplinar estreitar as relações teoria-prática, professor-aluno, aluno-aluno, professor-professor, numa troca de competências que transforma a história de cada um ao oferecer uma visão mais global do curso, do mercado, da região, do mundo. Por essa razão, o projeto é avaliado a cada semestre buscando correção de rumos e aprimoramento. Referências ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. Disponível em http://www. unianhanguera.edu.br. Acesso em 25 mar 2007. 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