AndreA levy - Saúde Metabólica

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Andrea levy
crédito da foto: Manuela Cavadas
Andrea reitera que
os pacientes que
obtiveram informações
detalhadas e corretas,
durante o preparo
para a cirurgia,
evoluem melhor no
pós-operatório
imediato
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A cirurgia
bariátrica é o
melhor tratamento
para a obesidade
Segundo a psicóloga clínica Andrea Levy, o procedimento,
desde que seja bem indicado e acompanhado por uma
equipe multidisciplinar, é ideal no combate a essa doença,
refratária aos outros tratamentos disponíveis atualmente
Por Lucas Vasques
E
star acima do peso hoje é um dos problemas
mais sérios, em termos de saúde pública, que
precisa ser enfrentado de frente pelos especialistas e autoridades no Brasil. De acordo com
pesquisa, o país conta atualmente com mais de 51% da
população com sobrepeso e obesidade, sendo que 18% são
obesos. Inúmeros fatores contribuem para esse cenário.
A cirurgia bariátrica, ao longo dos anos, vem se
constituindo na principal alternativa para o controle
da doença obesidade, desde que seja bem indicada
e acompanhada por uma equipe multidisciplinar especializada no procedimento. Estima-se que cerca
de 4,5 milhões de pessoas tenham indicação formal
para a cirurgia, embora o número anual de procedimento gire em torno de 90 a 95 mil cirurgias.
Andrea Levy, psicóloga clínica e especialista em
Transtornos Alimentares e Obesidade pelo Hospital
das Clínicas da Universidade de São Paulo, embora não faça apologia à cirurgia no sentido de não a
considerá-la um procedimento milagroso, e que vai
imunizar o paciente da obesidade, tem convicção de
que a cirurgia é um tratamento extremamente eficaz
para o controle dessa doença sem cura. “O processo
todo exige um grande empenho do paciente pelo resto da vida. É importante entender que a preservação
da saúde física e mental após a cirurgia dependerá do
comprometimento com o acompanhamento clínico,
nutricional e psicológico por toda a vida, assim como
a suplementação de vitaminas e minerais”, revela.
Andrea é vice-presidente da Coesas-SBCBM 20152016 (Comissão de Especialidades Associadas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), coordenadora do curso de extensão em Cirurgia
Bariátrica para psicólogos no Instituto Psicologia do
Cotidiano em Sorocaba/SP, atua em consultório e
integra equipe multidisciplinar desde 1999. É autora
do livro Cirurgia Bariátrica – Manual de Instruções para
Pacientes e Familiares (2015, Editora MBooks).
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
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Tomar a decisão de se submeter à cirurgia bariátrica não é um passo que
pode ser considerado fácil .
experiência
pessoal
e
Em
sua
profissional ,
quais as principais barreiras psico lógicas que prejudicam os pacientes
que buscam esse tratamento?
Quais
os critérios de avaliação que
um profissional deve ter para che gar à conclusão de que determinado
obeso deve receber a indicação da
cirurgia?
A ndrea: Além dos critérios clínicos de
indicação, o psicólogo e/ou psiquiatra
devem se certificar de que o paciente
tem informações suficientes a respeito do tratamento cirúrgico, bem como
do que ele próprio deverá fazer para
conduzir esse processo para o resto da
vida. Isso é muito importante porque,
afinal de contas, será ele, o paciente, o
responsável por seguir as orientações
para que a cirurgia seja uma ferramenta eficaz que o auxilie a melhorar
a qualidade de vida e a saúde. Além
disso, nós fazemos uma avaliação psicológica para diagnosticar e, se necessário tratar, qualquer psicopatologia
existente para que o paciente vá para
a cirurgia em melhores condições de
saúde física e mental.
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Existem inúmeras barreiras psicológicas que impedem ou atrasam a decisão de se submeter à cirurgia,
desde uma psicopatologia até os medos de mudança
A decisão pela cirurgia
bariátrica é íntima e
solitária, pois as duas
coisas não parecem
agradáveis: nem
permanecer obeso, nem
a ideia de passar por
uma cirurgia. Portanto,
só o paciente é capaz
de decidir qual é o
melhor momento para
tomar essa decisão
Qual
a importância e em que medi-
da o tratamento psicológico auxilia
deve ser feita por um profissional especialista experiente em obesidade e cirurgia bariátrica. Da mesma forma, o acompanhamento pós-cirúrgico geralmente
consiste em encontros mensais para tratarmos de assuntos relativos à evolução
do paciente e orientações atuais e para
as próximas etapas. A psicoterapia exige
encontros mais frequentes, geralmente
semanais, e pode ser indicada pelo profissional de saúde ou ser o desejo do próprio
paciente para se aprofundar e tratar de
suas questões emocionais, não necessariamente relacionadas à cirurgia bariátrica. Todas essas formas de tratamento psicológico são válidas e importantes para
que o paciente evolua da melhor forma.
Sabemos que os pacientes que obtiveram
informações detalhadas e corretas, durante o preparo para a cirurgia, evoluem
melhor no pós-operatório imediato, porque estão mais preparados para passar
pelas etapas da restrição alimentar.
os pacientes antes e , principalmente ,
depois da cirurgia?
Andrea: Existem diferenças grandes
entre a avaliação psicológica, o acompanhamento bariátrico e a psicoterapia. A
avaliação psicológica pré-cirurgia bariátrica é um processo de preparo psicoeducativo relacionado à cirurgia e também
um psicodiagnóstico. Essa avaliação é
um trabalho bastante específico e que
O que as avaliações psicológicas precisam levar em consideração?
Andrea: Como psicóloga bariátrica, procuro sempre entender bastante sobre a
história de vida do paciente e também
sobre a história da doença obesidade e o
grau de sofrimento que as limitações impostas pela doença trazem para a vida de
cada paciente. As motivações para a deciwww.portalcienciaevida.com.br
imagens: 123rf
A ndrea Levy: Eu sempre digo que a
decisão pela cirurgia bariátrica é íntima
e solitária, pois as duas coisas não parecem agradáveis: nem permanecer obeso, nem a ideia de passar por uma cirurgia. Portanto, só o paciente é capaz de
decidir qual é o melhor momento para
tomar essa decisão. As barreiras psicológicas podem ser diversas. Desde uma
psicopatologia não tratada até os próprios medos da mudança inerente ao
emagrecimento acentuado provocado
pela cirurgia. Nesse momento de tomar
a decisão pela cirurgia, os profissionais
especialistas terão fundamental importância, pois é através das informações
passadas por eles e pelo preparo pré-cirúrgico que o paciente terá condições
de decidir.
são pela cirurgia são individuais e devem
ser respeitadas. Uma pessoa com IMC 60
pode ter o mesmo nível de sofrimento psíquico que outra com IMC 40. Isso acontece por causa das diferenças culturais,
ambientais, imagem corporal e de histórias de vida. Precisamos trabalhar sempre
em cima das referências de cada paciente,
para que todas as informações passadas
na orientação e preparo pré-operatório
façam sentido para ele. Outras coisas
importantes a serem avaliadas são as expectativas de cada um a respeito de como
será a vida após a cirurgia. Simplificando
um pouco, a cirurgia bariátrica deve ser
sempre entendida como uma ferramenta
que vem com um manual de instruções
que, para ser bem-sucedida, deve ser seguido por toda a vida.
A
obesidade é constantemente com-
Além dos critérios
clínicos de indicação, o
psicólogo e/ou psiquiatra
devem se certificar
de que o paciente tem
informações suficientes
sobre o tratamento
cirúrgico, bem como
do que ele próprio
deverá fazer para
conduzir esse processo
para o resto da vida
parada a alguns tipos de compulsão,
como o alcoolismo, por exemplo...
Essa
afirmação é correta?
Andrea: A obesidade não é um tipo de
compulsão. Nem todos os obesos apresentam um transtorno de compulsão alimentar, que é uma patologia com critérios
diagnósticos bem específicos. A obesidade é uma doença multifatorial, que pode
ser agravada pela compulsão alimentar,
mas também pelo sedentarismo, pelo estilo de vida, pelo tipo de alimentos consumidos e por outros fatores como genética,
uso de medicações, estresse, privação de
sono etc. Portanto, sabemos que a obesidade é uma doença de difícil tratamento
e sem cura. O que podemos obter através
da cirurgia é o controle da doença e, por
isso, não existe ex-obeso, mas, sim, um
obeso emagrecido. Sabendo disso, certamente entendemos que o cuidado para
não voltar a ganhar peso deve ser feito
através da mudança do estilo de vida, da
alimentação e do acompanhamento multidisciplinar vitalícios.
cientização de que a obesidade é uma
doença refratária aos tratamentos disponíveis atualmente e que necessariamente
deve existir a mudança no estilo de vida
para que os resultados de emagrecimento sejam duradouros. Muitos pacientes,
cansados de tratamentos malsucedidos,
chegam pra nós com discursos como:
“Eu sou sem-vergonha mesmo, não consigo parar de comer, não tenho força de
vontade”. Veja como nessa fala existem
componentes preconceituosos, sentimentos de fracasso e de impotência
diante da obesidade. Portanto, em um
tratamento bem-sucedido, o que percebemos que realmente muda na cabeça
do paciente é a consciência de que ele
tem uma doença sem cura e que deve ser
tratada e acompanhada por toda a vida.
A ferramenta cirúrgica é, sem dúvida, o
tratamento mais eficaz que temos para o
controle da doença atualmente.
Alguns
estudos apontam a obesidade
como consequência de doença psicosso-
Efetivamente, o que muda na cabeça do
obeso após uma cirurgia bem-sucedida?
mática.
A ndrea: O ideal é que o início desse processo de mudanças comece com a cons-
Andrea: Vários estudos mostram que
a obesidade é muito mais causadora de
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Em sua opinião, é correto fazer
essa relação?
psicopatologias do que o contrário. Por
exemplo, é mais fácil deprimir sendo obeso, e dando conta de todos os transtornos
e dificuldades que a obesidade traz, do
que engordar porque se está deprimido.
Por ser uma doença complexa e multifatorial, não podemos de forma alguma generalizar e muito menos confundir a obesidade com uma somatização. Devemos
ter muito cuidado com essa visão, pois
estigmatiza ainda mais o paciente obeso.
É claro que fatores psíquicos e momentos
psicologicamente difíceis da vida podem
desencadear processos de ganho de peso,
mas não é a regra geral.
As
terapias cognitivo-comportamen-
tais podem ter sucesso no acompanhamento de pacientes pós-operados?
A ndrea: Sem dúvida que todas as
abordagens teóricas reconhecidas pela
Psicologia têm sua validade e podem
ajudar o paciente nesse processo de
grandes mudanças geradas pelo emagrecimento. É muito importante que
o profissional seja bem formado e bem
preparado para conduzir o tratamento
e que tenha profundos conhecimentos
sobre a cirurgia bariátrica.
Podemos dizer que a obesidade está relacionada com algum vazio existencial
preenchido pela saciedade da comida?
A ndrea: Hoje, vivemos em um mundo
em que é proibido se frustrar. Parece que
vivemos em uma grande competição e
que as redes sociais são incríveis para
conectar pessoas, mas também servem
como grandes vitrines de falsas vidas
perfeitas. Existe uma cobrança para que
todos sejamos lindos, felizes, magros e
bem- sucedidos profissionalmente. Sabemos que vidas perfeitas não existem
e que todas essas cobranças só servem
para nos sentirmos mais frágeis e vulneráveis. Todas essas frustrações abrem
portas para comportamentos aditivos e
de compensação, mas, como dissemos,
não podemos relacionar a obesidade e a
compulsão alimentar simplesmente a vazios existenciais.
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Por
observação, é possível notar que
existem muitos casos de pessoas operadas que voltam a engordar.
Existe
o registro de uma porcentagem desses
casos e por que acontecem?
Andrea: Na literatura, não existe consenso sobre a porcentagem de sucesso na
cirurgia bariátrica. O que é considerado
sucesso para um autor não o é para outro. De qualquer forma, sabemos que pode
existir um ganho de peso fisiológico que
ocorre por volta de dois anos após a cirurgia e que representa cerca de 10% do peso
emagrecido. Consideramos que a recuperação de cinco quilos por um paciente
que emagreceu 50 quilos pode representar
uma acomodação do próprio corpo após
o emagrecimento acentuado. Engordar
mais que isso não deve ser considerado
fisiológico e exige a intervenção multidisciplinar para que o paciente consiga persistir na mudança comportamental e no
estilo de vida, que é, afinal, o que vai possibilitar a manutenção do peso. Em minha
opinião, o que é mais importante é que
a grande maioria dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica melhora ou cura
doenças associadas à obesidade, como o
diabetes tipo 2, hipertensão, doenças articulares e muitas outras, além da qualidade
de vida, da autoestima e autoimagem.
Você
mesma já disse que não se deve
fazer apologia da cirurgia, pois cada
caso é único e deve ser avaliado criteriosamente.
A
popularização da cirur-
gia não pode ser considerada perigosa?
Olhando os dois lados da moeda, quais
são os benefícios e riscos disso?
Andrea: Afirmo que não devemos fazer
apologia à cirurgia no sentido de não a
considerarmos um procedimento milagroso e que vai imunizar o paciente da
obesidade. Devemos considerar a cirurgia como um tratamento extremamente
eficaz para o controle de uma doença
sem cura, mas que exige um grande empenho do paciente pelo resto da vida. É
importante entender que a preservação
da saúde física e mental após a cirurgia
dependerá do comprometimento com o
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Parece assustador que
uma pessoa se submeta
à cirurgia sem ter a
real compreensão do
que pode ocorrer em
termos nutricionais,
psicológicos e sistêmicos
acompanhamento clínico, nutricional e
psicológico por toda a vida, assim como
a suplementação de vitaminas e minerais.
Ainda assim, não considero a popularização da cirurgia perigosa, pois a grande
maioria dos pacientes se beneficia muito
dos resultados do emagrecimento e aumenta a expectativa de vida com qualidade após a cirurgia.
No Brasil, o número de cirurgias passou de 16 mil em 2003 para 95 mil em
2015, ampliando a atuação do psicólogo e do psiquiatra na seleção do paciente. Em sua avaliação, esse aumento
é em função da descoberta da eficácia
do tratamento ou tem muita gente
sendo operada sem a real necessidade?
A ndrea: Após décadas de cirurgias bariátricas feitas no Brasil, sabemos que,
além de ser um procedimento seguro,
é atualmente o tratamento mais eficaz
e duradouro para a obesidade. Segundo
dados da pesquisa Vigitel, do DATASUS,
o Brasil tem hoje mais de 51% de sua população com sobrepeso e obesidade, sendo que 18% são obesos. Ainda com base
nessa fonte, estima-se em 4,5 milhões
o número de brasileiros com indicação
formal para cirurgia bariátrica. Levando
em conta a perspectiva atual de número de cirurgias bariátricas realizadas de
aproximadamente 90 a 95 mil cirurgias
por ano, seriam necessários 50 anos para
operar todos os que têm indicação, sem
contar o outro grupo que desenvolverá
a obesidade mórbida ao longo dos anos.
Esses dados nos mostram um panorama
assustador de que ainda operamos muito
menos do que a demanda real.
É
possível definir quais os efeitos co -
laterais físicos já estudados em relação à cirurgia?
E também efeitos emo -
cionais associados?
A ndrea: Os efeitos mais preocupantes
no longo prazo da cirurgia são causados
pela desnutrição, que pode ocorrer quando o paciente não segue as orientações
adequadas de alimentação e suplementação de vitaminas e minerais. Isso é bem
sério, porque muitas pessoas deixam de
tomar os suplementos por se sentirem
bem e não entenderem que essa é uma
medida preventiva. A falta de alguns nutrientes, que têm sua absorção prejudicada pela cirurgia, pode causar anemias,
osteoporose precoce e até distúrbios
neurológicos e psiquiátricos.
A cirurgia bariátrica ajuda na qualidade de vida de adolescentes obesos? Aliás, existe um limite mínimo ou máximo
de idade para sua indicação?
Andrea: De acordo com o Consenso Bariátrico, que é um documento que norteia as
diretrizes da cirurgia bariátrica no Brasil, a
cirurgia é indicada para pacientes entre 16
e 65 anos de idade. Porém, na prática, indicamos a cirurgia a quem tiver indicação
clara e possa se beneficiar dela. No caso de
adolescentes, com menos de 16 anos, deve
haver a indicação da equipe multidisciplinar, do pediatra e, é claro, a concordância
e participação ativa da família.
O
que é imagem corporal distorcida,
por quais motivos ela se dá e como tratar esse problema?
A ndrea: A imagem corporal é a representação mental que temos do nosso
corpo e pode ser influenciada por fatores psicológicos, culturais, sociais, familiares e outros. A distorção da imagem
corporal, como o próprio nome diz, é
uma visão muito alterada e distante que
temos do nosso corpo real e provoca
grande sofrimento. Geralmente, ocorre fortemente em muitos obesos, mas
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estivessem obesas. Após cerca de um ano
e meio da cirurgia, a paciente estará liberada para engravidar com segurança. A
cirurgia bariátrica é, sem dúvida, uma das
opções de tratamento para quem deseja
engravidar, porque emagrecimento diminui as chances de a mulher desenvolver
diabetes gestacional, eclampsia e de não
levar a gestação até o final.
Quais
os cuidados físicos e emocionais
que uma mulher que pretende engravidar após a cirurgia precisa ter atenção?
A cirurgia controla a doença, mas os cuidados para não voltar a ganhar peso passam por mudança de
estilo de vida, alimentação e acompanhamento vitalícios
também em indivíduos que apresentam
transtornos alimentares como anorexia e
bulimia. O tratamento deve ser feito por
equipe multidisciplinar, principalmente
por psicólogo, psiquiatra e nutricionista
especialistas no assunto.
A nsiedade
e depressão são aspectos
bem comuns em pacientes com sobre peso.
Como
lidar com essa questão e
de que forma é possível evitar a continuidade do problema mesmo após a
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cirurgia bariátrica?
A ndrea: Sabemos que quando há a
melhora do quadro geral da obesidade,
acontece uma melhora geral da condição psicológica e psiquiátrica da pessoa.
Tanto isso é verdade que a depressão foi
recentemente incluída no rol de comorbidades que indicam o paciente para a cirurgia bariátrica. É claro que uma pessoa
que apresente transtornos de humor ou
de ansiedade deve ser acompanhada por
psiquiatra. Porém, pode fazer a cirurgia
com segurança se estiver com a doença
estabilizada. É importante ressaltar que
esses transtornos tendem a melhorar
após a cirurgia e o emagrecimento, mas
podem existir por uma predisposição do
indivíduo, independentemente da obesidade. Sendo assim, em alguns casos,
não temos como evitar o problema após
a cirurgia, mas, sim, devemos oferecer
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Sabemos que a
obesidade é uma doença
de difícil tratamento
e sem cura. O que
podemos obter através
da cirurgia bariátrica
é o controle da doença e,
por isso, não existe
ex-obeso, mas, sim,
um obeso emagrecido
tratamento psicológico e psiquiátrico
adequado para estabilizar a doença, paralelamente ao tratamento bariátrico.
Obesidade e transtornos psiquiátricos
podem ter mecanismos fisiopatológicos
comuns, mas são patologias distintas.
Há
riscos na gravidez após a realiza-
ção da cirurgia?
Andrea: A obesidade pode causar disfunções hormonais em algumas mulheres
e até mesmo a infertilidade. Muitas mulheres procuram a cirurgia bariátrica justamente para conseguirem engravidar e
ter uma gestação mais saudável do que se
Andrea: Além dos cuidados habituais que
toda mulher deve ter quando pretende engravidar, para que ocorra uma condição
favorável para a gestação após a cirurgia
é importante que a mulher já esteja com
o peso estável e que o acompanhamento
nutricional esteja em ordem. Isso é importante para que não haja prejuízo tanto
para a saúde da mãe quanto para a formação do bebê. Também é preciso ressaltar que algum método anticoncepcional
deve ser utilizado para que não aconteça a
gestação antes da hora. Esse método não
deve ser via oral, pois pode haver prejuízo
na absorção da pílula e provável falha no
efeito contraceptivo.
o paciente tem a compreensão exata
sobre os riscos do procedimento e cuidados necessários na fase pós- operató ria imediata e de longo prazo?
A ndrea: Uma das principais razões que
me motivaram a escrever o livro Cirurgia Bariátrica – Manual de Instruções para
Pacientes e Familiares foi a percepção de
que muitas pessoas iam para a cirurgia
despreparadas, ou mesmo apareciam
em meu consultório alguns anos após a
cirurgia sem entender muito das repercussões físicas e psicológicas pós-operatórias. Levando-se em conta que a participação do paciente é de fundamental
importância para que se mantenham o
peso e a saúde no longo prazo, parece
assustador que uma pessoa se submeta à
cirurgia sem ter a real compreensão do
que pode ocorrer em termos nutricionais, psicológicos e sistêmicos.
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