CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO KELLY CRISTINA DA SILVA FOUREAUX CARVALHO COMPETÊNCIAS REQUERIDAS DOS GESTORES PARA A EFETIVAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO ÂMBITO DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA Belo Horizonte 2015 KELLY CRISTINA DA SILVA FOUREAUX CARVALHO COMPETÊNCIAS REQUERIDAS DOS GESTORES PARA A EFETIVAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO ÂMBITO DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Administração do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovação, dinâmica organizacional e sociedade. Linha de Pesquisa - Dinâmica Organizacional, Inovação e Sociedade Orientadora - Profª Dra. Cristiana Trindade Ituassu Belo Horizonte 2015 C331c Carvalho, Kelly Cristina da Silva Foureaux Competências requeridas dos gestores para a efetivação do Planejamento estratégico no âmbito de uma instituição Financeira. / Kelly Cristina da Silva Foureaux Carvalho. – 2015. 104f. Orientador: Profa. Dra. Cristiana Trindade Ituassu Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de PósGraduação em Administração. Inclui bibliografia. 1. Instituições financeiras. 2. Planejamento estratégico. I. Ituassu, Cristiana Trindade. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras À minha família, em especial, aos meus pais, pelo esforço contínuo que possibilitou minha caminhada na vida profissional e acadêmica. Ao meu esposo, Leonard, pelo amor, incentivo e apoio irrestritos, sem os quais eu jamais teria chegado até aqui. AGRADECIMENTOS Por várias circunstâncias, é fato ter sido bastante difícil chegar até aqui.. E, neste momento, não há como desconsiderá-lo. Para finalizar mais essa etapa, conciliando a vida profissional com a entrega desta produção acadêmica, foi necessário transcender alguns limites que eu nem imaginava existirem.. Contudo, pude contar com o precioso auxílio de algumas pessoas, com quem tenho o privilégio de conviver. Mãe, você me repassa há muitos anos e não foi diferente, nesta etapa, o melhor ensinamento que todo o Ser Humano deveria receber: ‘Querer é poder e conseguir!’. Ou seja, é preciso acreditar... crer em uma força superior que, em havendo o nosso empenho, nos conduzirá ao caminho desejado, com um significado e propósito maiores para as nossas vidas. Portanto, à você, minha eterna gratidão por esse apoio, sem o qual eu jamais teria chegado até aqui.. Bem, sem dúvida, o conhecimento é o que há de mais valioso que um homem possa transmitir ao outro. É algo que disciplina, valoriza e transforma as nossas vidas. Pai, obrigada por incentivar e demonstrar, desde sempre, a importância do saber como o único caminho para modificar o hoje, para se ter um amanhã melhor sob todos os aspectos... Assim, oportuno lembrar aqui a referência que você nos traz de Antoine de Saint-Exupéry, que não se “deves esquecer. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” Léo, a você, o meu amor e a minha eterna gratidão por ter me conduzido até aqui, sempre acreditando que eu seria capaz, em que pese todas as adversidades encontradas, com um apoio incondicional e uma paciência irrestrita, repassando tamanho conhecimento, o que se tornou fundamental para o alcance de todos os objetivos pretendidos. Mi, obrigada também pela sincera amizade que nos fortalece, tendo-se tornando imprescindível nos momentos de dificuldade encontrados para a conclusão de mais esta etapa tão almejada. E, como já dizia Elbert Hubbard, “[...] a nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma empresa, em que a ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero [...] ante a inabilidade ou falta de disposição [...]. Por tudo isso, assim como feito pelo referido autor, [...] quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros [...]”. Esse homem, a quem aqui me refiro, foi aquele que me concedeu a preciosa oportunidade de conhecer o dinamismo do mundo organizacional, pelo que me encantei, além de ter sido, desde sempre, a minha melhor referência de liderança dentro de uma empresa, considerando todos os desafios profissionais que essa missão traz. Dessa forma, registro o meu agradecimento ao Gerente de Filial com quem tenho o privilégio de aprender diariamente, tamanha a habilidade de que dispõe, o que lhe permite o exercício de uma gestão admirável. Aos colegas entrevistados na agência bancária selecionada, não poderia deixar de reconhecer tamanha gentileza na recepção, toda a disponibilidade dispensada na prestação das informações que foram imprescindíveis ao desenvolvimento desta pesquisa e, ainda, a credibilidade depositada no trabalho que se desenvolvia e nos resultados que se pretendia alcançar a fim de agregar valor à Empresa e aos empregados. Ao gerente geral daquela agência, por ter se mostrado tão receptivo, permitindo total acesso aos entrevistados, tendo sido, portanto, um precioso facilitador nessa tão importante etapa de coleta de dados. À diretora executiva de gestão de pessoas da Organização, jamais encerraria esta etapa sem antes registrar ter sido uma oportunidade magnífica ouvir a direção da Empresa, sem quaisquer restrições, acerca de algo tão importante no contexto corporativo contemporâneo. Tendo tido uma acolhida tão especial, só me resta agora o propósito maior de me valer desta pesquisa para agregar valor à Instituição visto que o valor individual que me foi incorporado é mesmo imensurável. Ao gerente nacional entrevistado, da mesma forma deixo aqui o meu grande agradecimento pela preciosa possibilidade de acesso a quem esteja diretamente envolvido ao tema, dentro da Organização, o que me propiciou, sem dúvida, a melhor compreensão possível acerca do Modelo de Competências vigente na Empresa. À professora Cristiana Ituassu, agradeço por ter envidado esforços, durante toda essa jornada, sempre em prol de conduzir uma pesquisa científica que pudesse ser dotada da maior confiabilidade possível e, portanto, de reconhecimento. Devo registrar que, indubitavelmente, tamanho empenho foi fundamental para que o trabalho obtivesse o formato desejado. Ao professor Poueri, preciso mencionar o meu agradecimento por toda a compreensão e apoio manifestados, principalmente na fase final desta caminhada, em que já estava tomada pela exaustão, mas ao mesmo tempo, reconhecia a necessidade do comprometimento. À professora Iris, que, na qualidade de docente e coorientadora, também não poupou esforços para transmitir tanto conhecimento e preciosa experiência acadêmica, sempre com muito respeito aos dificultadores encontrados. Serei eternamente grata por esse auxílio. A todos os demais professores da Una, visto que, cada um, à sua maneira, contribuiu de forma imensurável para agregar conhecimento e experiência à minha vida profissional e acadêmica. Sem dúvida alguma, chego até aqui muito mais consciente quanto ao valor da pesquisa científica, bem como certa dos novos desafios que me disponho agora a enfrentar, no âmbito organizacional, com o intuito de me tornar uma profissional ainda melhor, capaz de somar valor maior à Empresa. Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) RESUMO O estudo que ora se apresenta desenvolveu-se em uma instituição financeira de grande porte, constituída sob a natureza jurídica de empresa pública de direito privado e com abrangência nacional. A pesquisa propôs-se a analisar os maiores desafios enfrentados pelos gestores da Organização para o efetivo exercício das competências que lhes são requeridas, em alinhamento ao Planejamento Estratégico da Empresa objeto da investigação. No que se refere à metodologia, o presente trabalho valeu-se de uma abordagem de cunho qualitativo e de caráter descritivo. Quanto aos meios, optou-se pelo estudo de caso. Foi definida, como unidade de análise, a maior agência bancária da Instituição no País. Como sujeitos de pesquisa, selecionaram-se cinco gerentes daquela agência, todos responsáveis pelas mesmas atribuições e vinculados ao mesmo superior imediato. Foram ouvidos, também, a diretora executiva de Gestão de Pessoas e o gerente nacional de Competências da Organização, representando a direção da Empresa. A análise realizada demonstrou que os gestores entrevistados associam a competência ao comportamento esperado deles pela Instituição. Por sua vez, os membros da direção da Empresa relacionam o tema a uma modelagem desse comportamento aos objetivos organizacionais estratégicos, remetendo-o a um verdadeiro comportamento de entrega. A pesquisa sinalizou, ainda, que aqueles gestores reconhecem que todas as competências fundamentais de liderança que lhes são exigidas, pela Empresa, são dotadas de significância e que, inclusive, se completam a fim de viabilizar o exercício de uma ‘gestão completa’. Aquela diretora e aquele gerente nacional também ratificaram que as referidas competências são todas importantes. Contudo, destacaram que devam ser exercidas em graus diferenciados, conforme cargo e atribuições exercidos por cada gestor. Dentre os problemas enfrentados pelos gerentes entrevistados para o exercício das competências que lhes são requeridas, foram apontados, com maior relevo, a insuficiência de capacitação, a indisponibilidade de tempo e a complexidade dos manuais normativos adotados pela Empresa. Palavras-chave: competência, gestores e modelo de gestão de competências ABSTRACT The herein presented study was developed in a large financial institution legally organized as a public company under private law at national level. The research was aimed at analyzing the major challenges faced by the Company managers for the effective exercise of their required competences in alignment with the Strategic Planning of the Company under study. With regard to methodology, this study adopted a qualitative and descriptive approach. As for the means, a case study was conducted. The unit of analysis was defined as the largest bank agency managed by the Institution in the country. As research subjects, five managers of that agency were selected, all of them having the same attributions and reporting to the same supervisor. Also, the Human Resources Executive Management and the Manager responsible for Competences in the Organization were interviewed as representing the Company Board. It was found through the conducted analysis that the surveyed managers associate competence to the behavior expected from them by the Institution. Members of the Company management, in turn, relate the theme to an adjustment of such behavior to the organizational strategic goals, thus turning it into a real delivery behavior. The survey also showed that those managers recognize that all key leadership competences that the Company requires from them are endowed with significance and even complement each other in order to facilitate the exercise of 'effective management'. Both the Human Resources Executive Management and the Manager responsible for Competences stated that all the referred competences are important, while highlighting that they must be applied at differentiated degrees based on the positions and attributions taken by each manager. Among the problems faced by the interviewed managers in the exercise of their required competences, the following were pointed out with more emphasis: training deficiency, unavailability, and the complexity of the regulatory manuals adopted by the Company. Keywords: Competence; Managers; Competence Management Model. LISTA DE ILUSTRAÇÕES 1. Lista de figuras Figura 1 - As dimensões da competência .................................................................................31 Figura 2 - Competências...........................................................................................................41 Figura 3 - Categorização da pesquisa e suas respectivas sub-categorias .................................58 2. Lista de quadros Quadro 1 – Identificação dos entrevistados conforme o cargo exercido na organização e o gênero .....................................................................................................................56 Quadro 2 - Síntese da interpretação dos dados.........................................................................80 LISTA DE SIGLAS CHA Conhecimentos, Habilidades e Atitudes P&D Pesquisa e Desenvolvimento PE Planejamento Estratégico UC Universidade Corporativa PSIC Processo Seletivo Interno por Competência SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 15 1.1 Problema de pesquisa ........................................................................................................ 17 1.2 Objetivos da pesquisa ........................................................................................................ 18 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 18 1.2.2 Objetivos específicos....................................................................................................... 18 1.3 Justificativa........................................................................................................................ 19 1.4 Estrutura da dissertação ..................................................................................................... 21 2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................. 22 2.1 A organização da forma de trabalho................................................................................... 22 2.1.1 As concepções taylorista, fordista e toyotista.................................................................. 22 2.2 Competência ....................................................................................................................... 25 2.2.1 A abordagem da competência sob a perspectiva francesa............................................... 27 2.2.2 A abordagem da competência sob a perspectiva norte-americana .................................. 33 2.2.3 Competência e qualificação: uma compreensão em torno das distinções conceituais.....37 2.3 Modelo de gestão de competências e o alinhamento com a estratégia competitiva da Organização .............................................................................................................................. 39 3 METODOLOGIA.................................................................................................................. 48 3.1 Abordagem metodológica .................................................................................................. 48 3.2 Método de coleta e análise de dados .................................................................................. 49 3.3 Delimitação do universo: sujeitos de pesquisa e unidade de análise.................................. 50 4 CONTEXTO DE ESTUDO: O MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS E O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ORGANIZAÇÃO EM ANÁLISE ................... 52 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................................. 55 5.1 Análise de documentos...................................................................................................... 55 5.2 Análise de conteúdo das entrevistas .................................................................................. 56 5.3 Síntese da interpretação dos dados .................................................................................... 79 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 81 6.1 Implicações gerenciais.......................................................................................................83 6.2 Sugestões para estudos futuros ..........................................................................................84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 86 APÊNDICES A - ROTEIRO DE ENTREVISTA (GERENTES) ........................................... 90 APÊNDICES B - ROTEIRO DE ENTREVISTA (DIRETORIA).......................................... 91 APÊNDICES C - PRODUTO TÉCNICO (MANUAL)........................................................... 93 APÊNDICES D - PRODUTO TÉCNICO (PLANO DE CURSO) ........................................ 101 15 1 INTRODUÇÃO Diferente do século XX, em que predominou o paradigma industrial, caracterizado pela previsibilidade e estabilidade, requisição de mão de obra especializada e manutenção do status quo, assiste-se, hoje, à vigência de um outro cenário. Nesse novo panorama, emergente na década de 1990 e caracterizado pela globalização mundial dos mercados, verificam-se a aceleração do progresso tecnológico e a intensificação das mudanças econômicas e sociais. As mudanças que se impuseram no âmbito da organização do trabalho, a partir de meados dos anos 1980, configuraram um mercado produtivo com algumas tendências, quais sejam, a flexibilização da produção com a integração de alguns setores, a reestruturação das ocupações profissionais, a polivalência e multifuncionalidade dos colaboradores, bem como a valorização do saber sem vinculação a tarefas prescritas ou a qualquer certificação (RAMOS, 2006). Diante dessas circunstâncias, face às várias transformações emergentes que contribuíram para um contexto de acirrada competitividade e instabilidade, as organizações foram desafiadas a subsistir com vantagem competitiva sustentável. Em decorrência desse novo desafio, as corporações se viram forçadas a envidar esforços em diversas estratégias, dentre as quais a de customização ou personalização dos serviços, na relação com mercados e clientes. Essa é uma tendência que se manifestou, inclusive, nas instituições financeiras, como aquela que este estudo se prestou a investigar (RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005). Nesse sentido, tem-se a interpretação de Miranda (2010, p.37). Nos últimos anos, os contornos cada vez menos previsíveis (porém, mais surpreendentes) das actuais paisagens competitivas colocaram imperativos de mudança e desafiaram as organizações e os seus activos a trabalhar sob a égide de flexibilidade, adaptabilidade, criatividade e inovação de uma forma sistemática. Quanto maior a customização na fabricação de produtos e prestação de serviços, maior a tendência à imprevisibilidade de eventos nos negócios e atividades. Portanto, esse cenário exige a capacidade de adequada combinação de recursos para o enfrentamento, com êxito, de uma situação inesperada no ambiente de trabalho (RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005). Nesse contexto, em que lidar com o imprevisto se torna um imperativo, emerge a construção da lógica da competência. Perrenoud (1999, p. 20) assim retrata esse novo cenário. A competência [...] seria essa capacidade de continuamente improvisar e inventar algo novo, sem lançar mão de uma lista preestabelecida. Nessa perspectiva, a competência seria uma característica da espécie humana, constituindo-se na capacidade de criar respostas sem tirá-las de um repertório. [...] (grifos da autora da dissertação). 16 Nessa seara, a competência é apreendida como a tomada de iniciativa e a aquisição de responsabilidade face a eventos, situações imprevistas com as quais se depara o profissional. Representa, ainda, uma compreensão acerca dos acontecimentos a enfrentar, pressupondo a existência de conhecimentos prévios que os transformam na proporção do surgimento de situações diversas (ZARIFIAN, 2012). Contudo, destaca-se que o conceito de competência é polissêmico havendo, portanto, definições distintas da escola francesa, que se vê apresentada acima. Outro conceito de competência adotado com grande amplitude é aquele oriundo da escola americana, em que a competência é definida, em linhas gerais, como um conjunto de características que possibilita ao indivíduo apresentar um desempenho superior, tendo como principais estudiosos Boyatzis (1982) e McClelland (1973). Essa mesma perspectiva anglo-saxônica foi apropriada pela literatura brasileira, fazendo-se referência ao conhecido CHA, tripé que reúne as capacidades relacionadas ao conhecimento, habilidades e atitudes do indivíduo que, uma vez dominadas, propiciam melhor resultado à organização. Sobre esse aspecto, Bahry e Tolfo (2004) registram a postura adotada pelas instituições financeiras. Os bancos passaram a propor estratégias de gestão favoráveis ao desenvolvimento, à validação e à mobilização das competências de seus funcionários, com vistas a obter respostas mais rápidas e precisas para as frequentes transformações econômicas, sociais, políticas e tecnológicas do ambiente em que estão inseridas. (BAHRY e TOLFO, 2004, p.41) Nesse modelo de gestão de competências que se passa a adotar, verifica-se nítida preponderância do papel dos gestores, responsáveis pelo alinhamento dos objetivos individuais dos empregados às estratégias organizacionais, bem como pela promoção da adequada mobilização das competências dos colaboradores face a cada evento ou situação específica (CUNHA , 2010). Em torno disso, manifestam-se Prahalad e Hamel (1990, p.57). “As reais fontes de vantagem devem ser encontradas na capacidade da gerência (...) nas habilidades de produzir competências que possibilitem negócios individuais que possam se adaptar rapidamente às oportunidades em mutação.” Contudo, em diversas organizações, vê-se que, não raro, o exercício da gestão se restringe à operacionalização de processos e simples administração das funções individuais, sendo que o papel do gestor deveria contar com maior amplitude, voltando-se, inclusive, para as questões estratégicas. O contexto que se impõe, face ao cenário mundial de constantes 17 mudanças, exige muito mais dessa figura, tornando-se fundamental a análise da posição situacional da empresa no mercado, a verificação das necessidades dos clientes, bem como a promoção do contínuo desenvolvimento das competências individuais dos colaboradores em conformidade com as estratégias da organização (PORTER, 1996). Dessa forma, nota-se o desenvolvimento e a potencialização dos conhecimentos, habilidades e atitudes dos trabalhadores como um grande desafio que se impõe às organizações e aos gestores atuais. Como afirma Cunha (2010), o desafio reside em criar condições propícias para que colaboradores e parceiros desenvolvam competências para atingir o desenvolvimento almejado a partir do alinhamento dos objetivos pessoais, de cada um, aos objetivos organizacionais. A Instituição financeira ora em análise adota o modelo de gestão de competências, em consonância com o planejamento estratégico desenvolvido pela empresa. Contudo, assim como a revisão de literatura realizada nesta pesquisa demonstrou ocorrer, uma série de dificuldades também se apresenta face a essa mobilização de capacidades, bem como ao exercício de demais competências pela figura do gestor. Sob esse aspecto, assim se manifesta Borges e Mourão: Talvez um dos grandes desafios da gestão de pessoas seja fazer da aplicação uma oportunidade de corrigir rumos e aprimorar processos, deixando de ser restrita a uma mera aplicação irrefletida, sustentada na crença ingênua de que a experiência profissional é suficiente para assegurar a competência. (BORGES, Lívia de Oliveira e MOURÃO, Luciana, 2013, p.345). Dessa forma, revela-se a importância de o gestor conduzir os esforços individuais na direção dos objetivos organizacionais estratégicos. 1.1 Problema de pesquisa Assim, assume-se como pergunta de pesquisa a indagação que ora se apresenta: ─ Quais os maiores desafios enfrentados por uma instituição financeira para o efetivo exercício das competências necessárias à efetivação do Planejamento Estratégico Organizacional? 18 1.2 Objetivos da pesquisa 1.2.1 Objetivo geral Como objetivo geral, este estudo se propõe a analisar o modelo de gestão de competências proposto pela organização estudada, identificando sua relação com o Plano Estratégico e os desafios encontrados em sua implementação. 1.2.2– Objetivos específicos Como objetivos específicos, adotam-se: 1. descrever os principais aspectos do planejamento estratégico da organização em estudo no que se refere às competências exigidas dos gestores da empresa; 2. caracterizar as competências exercidas pelos gestores e relacioná-las àquelas requeridas pela organização, em alinhamento ao planejamento estratégico da instituição analisada; 3. identificar os maiores desafios encontrados nesse comparativo; 4. apresentar, como produto técnico, dois materiais, quais sejam: um manual administrativo indicativo dos gap’s apurados na pesquisa, em relação às competências exigidas dos gestores e aquelas efetivamente exercidas, com o apontamento de sugestões visando minimizar essas lacunas. O segundo material é uma proposta de um plano de curso, a ser disponibilizado posteriormente na Universidade Corporativa da instituição, destinado aos gestores em geral, contemplando informações e orientações que possam contribuir para a superação desses desafios, em prol da potencialização das competências individuais e alcance dos objetivos estratégicos da organização. 19 1.3 Justificativa O presente trabalho justifica-se em decorrência do cenário contemporâneo vivenciado pelas organizações, em que o acirramento da concorrência e a instabilidade constante exigem profissionais polivalentes, capazes de mobilizar adequadamente as suas competências visando à devida tomada de iniciativa face a cada situação singular que se apresenta (RAMOS, 2006). Nessa mobilização de competências para o enfrentamento com êxito de cada evento que se coloca dentro da organização, o papel do gestor assume função de extrema relevância. Assim, tem-se a manifestação de Lívia et al , O setor bancário, que saiu de uma estratégia de aquisição de clientes para uma de cultivo de clientes, faz uma retomada e se utiliza das duas estratégias: tanto busca atrair novos clientes quanto cultivá-los. Para isso, o setor tem lançado mão, desde o final do século passado, da segmentação da clientela e dos produtos. A exploração de todos os nichos de mercado (por exemplo, universitários e pessoas de baixa renda) tem sido uma das formas que o setor encontrou para ampliar seu número de clientes. (LÍVIA et al, , 2012, p.116). A presente análise foi realizada de forma alinhada ao planejamento estratégico da empresa em estudo que visa, dentre outras metas, à excelência na gestão de pessoas e à formação de uma equipe de alta performance. Nesse contexto, uma pesquisa que viabilize a identificação dos aspectos desafiadores ao exercício , pelos gestores, das competências estratégicas requeridas pela instituição pode subsidiar a tomada de decisões organizacionais, visando aprimorar o alcance daqueles objetivos estratégicos. Percebe-se, também, que “[...] a noção de competência aparece como uma das referências mais importantes das atuais práticas empresariais” (RUAS et al., 2005, p.22). Em pesquisa realizada em 2008 com o objetivo de identificar as práticas utilizadas para a gestão de competências no sistema bancário da região do Vale do Paranhana (RS) Vieira et al. (2008), constataram a importância do tema para o contexto organizacional. Foram contempladas sete instituições bancárias, dentre elas, bancos nacionais públicos e privados. O referido estudo destacou que os objetivos estratégicos organizacionais têm sido voltados para o capital humano, com uma ênfase para o modelo de gestão de competências, visando assegurar a vantagem competitiva pretendida no planejamento da empresa. A análise feita apontou considerações interessantes: todos os gestores entrevistados consideraram o processo de gestão de competências muito importante; alguns o têm como uma importante ferramenta para a melhoria dos resultados financeiros; outros, como instrumento necessário ao alinhamento das competências funcionais às decisões estratégicas e administrativas do banco. 20 Em outro estudo, desenvolvido em 2009 com o intuito de avaliar de que forma a gestão de pessoas, baseada na teoria das competências, pode auxiliar na estratégia de uma instituição bancária, constataram, da mesma forma, questões relevantes. O trabalho demonstrou que o ponto de partida para o alcance dos resultados é o alinhamento do planejamento estratégico da organização ao de recursos humanos. A avaliação das competências individuais, conforme apurado, permite a obtenção dos objetivos estratégicos por meio do desenvolvimento das pessoas (BONA PORTON et al., 2009). Não obstante, trata-se de tema que não tem uma uniformidade conceitual, apresentando ainda uma série de divergências e impasses (ZARIFIAN, 2012). Assim esclarecem Ruas et al. (2005): Nesse sentido, uma das expressões mais usadas tanto no meio acadêmico quanto empresarial é que a abordagem das competências encontra-se “em fase de construção” na maior parte das organizações. Não há dúvida disso, mas, em nosso entender, não se trata apenas de uma dificuldade originada do estágio ainda inicial de implantação dos “projetos de competências”. O significado da expressão “em construção” está mais associado à relativa confusão e heterogeneidade no uso dessa noção e de suas referências principais, do que na pouca idade desses projetos (RUAS et al., 2005, p.23). Em outra pesquisa, realizada em 2008 com o objetivo de investigar até que ponto práticas de gestão de pessoas adotadas por uma grande instituição brasileira do setor financeiro se revela suficientes para viabilizar o modelo de competências implementado, também se verificaram aspectos importantes. Por meio da referida, notou-se que os empregados não dispunham, com clareza, de orientações acerca da forma como poderiam colaborar para o alcance dos objetivos estratégicos organizacionais. Percebeu-se, ainda, certa exclusão de determinados segmentos funcionais no processo de elaboração das estratégias corporativas da empresa (CASTRO et al., 2008). Em mais uma pesquisa, realizada em 2012, visando avaliar em que medida a implantação dos sistemas de gestão de competências tem sido objeto de ação sindical, considerando sua adoção por boa parte das grandes organizações e o fato de ser considerada uma ferramenta moderna de gestão organizacional e pessoal, verificaram, de maneira semelhante, questões significativas. Foi percebido, paradoxalmente, que se divulga amplamente que o trabalhador deve ser capaz de lidar com eventos definidos essencialmente por seu caráter de imprevisibilidade e, no entanto, as organizações investem no controle e padronização das ocorrências de trabalho (GONÇALVES DA CRUZ et al., 2012). Dessa forma, visto tratar-se de tema que ainda carece de certa homogeneidade de interpretação, alvo de polêmicas e divergências conceituais, cuja implementação prática 21 envolve tantos desafios, a análise que se almeja com este trabalho pode contribuir, tanto para agregar saberes ao acervo que existe hoje sobre o assunto, contribuindo para construção do conhecimento sobre o tópico, quanto para fornecer algumas orientações de ordem prática, para que se efetivem, concretamente, as intenções da gestão por competências nas empresas. Por todo o exposto, reputa-se de significância o exame que se propõe a desenvolver. 1.4 Estrutura da dissertação A dissertação que ora se apresenta encontra-se estruturada em seis capítulos, quais sejam: a presente introdução, o referencial teórico, a metodologia, o contexto de estudo, a análise de dados, bem como a interpretação dos resultados e as considerações finais. O segundo capítulo, que apresenta o referencial, conta com uma reflexão em torno dos temas relevantes para o desenvolvimento da pesquisa, a saber: a organização da forma de trabalho; a abordagem da competência sob as perspectivas francesa e americana; o modelo de gestão de competências e o alinhamento com a estratégia competitiva da organização. O terceiro capítulo, onde se encontra a abordagem metodológica, apresenta detalhes como a estratégia de pesquisa adotada, a unidade de análise e os sujeitos de pesquisa definidos, as respectivas justificativas que embasaram essas escolhas, assim como as informações sobre os instrumentos de coleta e as técnicas de análise dos dados. Além disso, é mostrado o produto técnico da dissertação, esclarecendo-se em que consiste, como foi desenvolvido e para qual finalidade foi criado. O quarto capítulo traz o contexto de estudo, incluindo informações a respeito da natureza jurídica da Organização, seu âmbito de atuação e principais atribuições desenvolvidas por ela, respeitando, contudo, o sigilo da sua identificação e a restrição em relação a divulgação de algumas informações internas, conforme restou acordado, junto à empresa, para a realização desta pesquisa. O quinto capítulo apresenta a coleta, análise e a interpretação dos resultados. Do sexto capítulo constam as considerações finais, incluindo as implicações gerenciais, limitações da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros. A seguir, são elencadas as referências adotadas, além dos apêndices do trabalho, quais sejam: roteiros de entrevista e produtos técnicos. 22 2 REFERENCIAL TEÓRICO O presente capítulo traz uma abordagem em torno da temática principal deste estudo, qual seja, a competência. Para tanto, faz-se uma contextualização acerca do assunto, descrevendo mudanças ocorridas na organização da forma de trabalho. A seguir, trata-se da competência segundo as duas maiores perspectivas que abordam o tema: a francesa e a norteamericana. Posteriormente, tem-se a diferenciação entre competência e qualificação, visando, principalmente, esclarecer equívocos frequentes em torno da abordagem conceitual dos dois tópicos. Finaliza-se com uma discussão acerca do alinhamento do modelo de gestão de competências adotado pela instituição em relação à estratégia competitiva da organização. 2.1 A organização da forma de trabalho 2.1.1 As concepções taylorista, fordista e toyotista Uma discussão mais estrita em torno da temática da competência não pode prescindir de uma breve abordagem acerca das perspectivas taylorista, fordista e toyotista. Esses foram movimentos que contribuíram diretamente para a transformação do processo de organização da força de trabalho sob a égide do sistema capitalista. E essa evolução é um precedente fundamental para a compreensão da emergência da lógica da competência, como reforçam, por exemplo, Leite e Goulart (2006). Antes de qualquer inferência, contudo, mostra-se necessária a apresentação de uma questão inerente ao modo de produção capitalista – a submissão do trabalho às imposições do capital – e é sob essa perspectiva que Taylor realizou o desenvolvimento da denominada gerencia científica. Taylor objetivava obter o máximo de rendimento de seus empregados com as ferramentas de que dispunha e, para tanto, passou a controlar os tempos e movimentos dos trabalhadores, separou o planejamento da execução, retirando qualquer autonomia que o trabalhador pudesse ter. Rago e Moreira (1985) assim concebem o taylorismo. Método de racionalizar a produção, logo, se possibilitar o aumento da produtividade do trabalho “economizando tempo”, suprimindo gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior do processo produtivo, o sistema Taylor aperfeiçoou a divisão social do trabalho introduzida pelo sistema de fábrica, assegurando definitivamente o controle 23 do tempo do trabalhador pela classe dominante (RAGO e MOREIRA, 1985, p. 10). Asseverava Taylor, mas já em um momento de maior desenvolvimento do sistema capitalista, que o entrave do progresso da produção residia mesmo naquela dependência do capital em relação ao trabalho vivo (MORAES NETO, 1986). Moraes Neto (1986) salienta, ainda, um dos princípios indicados por Taylor para a ruptura daquela submissão do capital em relação à força de trabalho, qual seja, a gerência científica, que consiste principalmente na separação dos atos de concepção e execução das tarefas no processo de organização do trabalho. Segundo Braverman (2011), que parte de uma perspectiva crítica, Taylor trouxe a definição de controle a um nível superior completamente novo, na medida em que preconizou a rígida determinação junto ao trabalhador, em relação à forma como as tarefas deveriam ser executadas como uma necessidade absoluta para uma gerência devida. Ele ainda ressalta que, antes da emergência do taylorismo, existia o controle do trabalho pela gerência. Contudo, restringia-se à indicação de tarefas, sem muita influência direta na maneira como eram executadas pelo operário. O autor esclarece que o resultado do que preconizava Taylor, por sua vez, foi o controle direto e concreto, por parte da gerência, de todas as tarefas executadas, das mais simples às mais complexas. Sob esse aspecto, portanto, Taylor “[...] foi o pioneiro de uma revolução muito maior na divisão do trabalho que qualquer outra havida” (BRAVERMAN, 2011, p. 86). O fordismo, por sua vez, deve ser interpretado como um aprimoramento do movimento taylorista, tendo em vista a premissa de organização do processo de trabalho baseada em uma linha de montagem. Moraes Neto (1986) esclarece que a evolução, em relação à proposta de Taylor, residiu em trazer elementos objetivos do processo, ou o chamado trabalho morto, que ele identifica como aquela referida esteira, para objetivar o elemento subjetivo da organização da produção, ou seja, o trabalho vivo, a força humana. Conforme Antunes (1997), o movimento fordista é compreendido como um processo de organização do trabalho que se consolida no curso do século XX, tendo a produção em massa como principal fator constitutivo, por meio da linha de montagem. No entendimento do autor, a proposta de Ford preservou as premissas tayloristas de controle dos tempos e movimentos e de dissociação das tarefas de elaboração e execução do processo de trabalho, intensificando-as ainda mais. Portanto, sob uma análise de maior amplitude em relação às ideias de Taylor e Ford, pode-se perceber que 24 [...] menos do que um modelo de organização societal, que abrangeria igualmente esferas ampliadas da sociedade, compreendemos o fordismo como o processo de trabalho que, junto com o taylorismo, predominou na grande indústria ao logo deste século (ANTUNES, 1997, p.17). Verifica-se, dessa forma, que, como o taylorismo e o fordismo retiram a autonomia do trabalhador, a iniciativa e o trabalho em equipe eram, portanto, posturas inesperadas do colaborador, visto que o que se esperava era a sua submissão ao trabalho prescrito. Apesar de ter prevalecido ao longo de boa parte do século XX, esse modelo começou a dar sinais de esgotamento. Harvey (1993) aponta que a recuperação do Japão e da Europa, na década de 60, iniciou uma saturação do mercado interno nesses países, bem como apontou a necessidade de exportação das suas indústrias, o que já dava indícios de que o sistema de produção fordista apresentava sérios problemas. Com o aprofundamento da crise mundial na década de 70, incluindo o aumento do preço do petróleo, essas dificuldades são agravadas, criando-se um ambiente favorável ao surgimento de outras formas de organização, a exemplo do toyotismo. A realidade que se impunha prejudicou a capacidade de consumo em massa, condição essencial à subsistência do modelo taylorista/fordista. (ALVES, 2005) Harvey (1993) destaca que esses obstáculos que passaram a desafiar o sistema fordista são oriundos de sua rigidez de investimentos, altos e de longo prazo, em sistemas de produção e consumo em massa em massa, inviabilizando uma flexibilidade de planejamento ou produção. As novas condições de mercado favoreciam a propagação do que o autor denominou acumulação flexível. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 1993, p. 140). Dentre os múltiplos sistemas de produção flexível oriundos da crise, o sistema japonês de produção, que ficou mundialmente conhecido como toyotismo ou onhismo, foi o que se impôs. O toyotismo vinha sendo desenvolvido nas fábricas da Toyota desde o final da Segunda Grande Guerra Mundial. Segundo Wood Jr (1992), em uma visita de Eiji Toyoda1 à fábrica da Ford, em Detroit, em 1950, e, posteriormente, em uma análise conjunta com o Engenheiro Taiichi Ohno, percebeu-se que o sistema fordista não seria viável na realidade japonesa que, àquela época, era composta por um mercado interno pequeno, que necessitava de uma gama de produtos em menores quantidades, não havendo a possibilidade de exportá1 O nome Toyota é derivado do sobrenome da família fundadora da empresa. O nome original da família era Toyoda, mas, por uma questão numerológica, foi adotado o nome Toyota para a empresa. 25 los. Esse cenário propiciou as condições para o desenvolvimento do sistema japonês de produção. Inicialmente, a Toyota, fundada em 1918 por Sakichi Toyoda, era uma indústria têxtil. A produção de automóveis seria iniciada somente na década de 30, sendo alguns dos elementos adotados na fábrica de automóveis oriundos do período de atuação na área têxtil. Segundo Coriat (1993, p. 19), o toyotismo foi desenvolvido a partir de dois princípios norteadores, a saber: “(1) a produção just-in-time e (2) a autoativação da produção”. A autoativação permitia ao indivíduo interromper a linha de produção se detectada alguma falha, evitando a correção apenas quando da avaliação final do produto. Tal procedimento evitava o desperdício de insumos. Segundo Wood Jr (1992), essa autoativação coibiria procedimentos observados na Ford que geravam grandes retrabalhos e aumentavam os custos. O just-in-time, por sua vez, partia do princípio da utilização de estoques mínimos para a produção, evitando-se gastos com grandes volumes de produtos, bem como demanda por espaços extensos necessários ao armazenamento (CORIAT, 1993). Dessa forma, pode-se verificar que, na estruturação do sistema toyota de produção, as atribuições do trabalhador foram expandidas, passando-se a requerer indivíduos com características polivalentes, no sentido de executar diversas operações distintas e com um grau de responsabilidade maior do que o anteriormente observado. Enquanto no sistema taylorista/fordista as tarefas do indivíduo eram rotineiras e prescritas, prescindindo de um comportamento proativo ou da capacidade de trabalho em grupo, o toyotismo já passa a exigir essas características, propiciando de um ambiente que começa a demandar novas formas de gestão dos trabalhadores. Da mesma forma que o taylorismo/fordismo perde espaço, a qualificação, conceito que tem como base o referido modelo e sobre o qual este estudo se debruça posteriormente, também abre espaço para novas formas de gestão, em especial, os modelos baseados no conceito de competência. 2.2 - Competência A apresentação da abordagem conceitual de competência não se traduz em tarefa simples, visto ter sido traçada uma série de definições para o tema, sob perspectivas diversas, além de existirem vários questionamentos em torno do assunto. Como afirma Le Boterf, citado por Fleury e Fleury (2000), trata-se de um conceito em construção. Da mesma forma, tem-se a posição de Perrenoud (1999), que afirma não existir uma definição objetiva acerca da 26 competência, visto que se trata de um termo polissêmico, sem que se possa pretender definilo. Há quem credite essa ausência de unanimidade na conceituação da noção de competência ao caráter dinâmico relacionado ao tema. A heterogeneidade dessa definição não decorreria exclusivamente da dificuldade de compreensão do assunto, mas, sobretudo, do dinamismo dos contextos organizacional e socioeconômico em que a lógica da competência se apóia. (DIAS et al., 2012) Fleury e Fleury (2000) ressaltam esse mesmo dinamismo segundo os autores: a conceituação de competência só demonstra seu poder heurístico quando apreendida no cenário de transformações relacionadas à organização do trabalho, seja no âmbito organizacional ou social. Assim, discorrer acerca da lógica da competência e, principalmente, compreender os fatores que levaram à emergência desse modelo exige, uma análise em torno das mutações ocorridas especificamente nas relações de trabalho, no decorrer do contexto histórico. É de se considerar que, no século XVIII, ocorre a transição do trabalho artesanal para o industrial, em que se assiste à emergência do capitalismo, resultando em profundas transformações sociais. Face a essas modificações, a relação de trabalho passa, então, a ser concebida por meio de algumas particularidades, dentre elas, a implementação de total segregação entre trabalho e trabalhador, bem como a definição do trabalho como uma série de operações elementares passíveis de prévia prescrição, conforme já foi dito. Nesse contexto, não se confere importância à capacidade de iniciativa do trabalhador, mas, sim, ao conjunto de habilidades para a execução daquelas operações. (ZARIFIAN, 2012) Uma observação em torno das circunstâncias sob as quais emergiram as noções de competência permite verificar que, tanto a ênfase conferida ao desempenho superior, premissa maior da perspectiva americana, quanto a importância depositada na formação profissional, diretriz principal da perspectiva francesa, retomam os reflexos decorrentes da relação criada pelo conhecimento, tecnologia e trabalho (LEITE e GOULART, 2006), nesse novo ambiente em que a capacidade criativa do trabalhador passa a ser demandada. Essas inferências vêm ratificar a importância de se ter uma prévia análise em torno da evolução ocorrida na forma de organização do trabalho e seus impactos, principalmente no que se refere à lógica da competência, razão pela qual foi feita uma abordagem anterior acerca das perspectivas taylorista, fordista e toyotista, e motivo por que, a partir de agora, é que se passa a expor as circunstâncias em que a lógica da competência emergiu. 27 Antes de fazê-lo, cabe esclarecer apenas que este estudo aborda a temática da competência sob as perspectivas francesa e norte-americana, que são dois expoentes importantes nessa área, mas que emergiram de formas bastante distintas, gerando correntes que tratam o tema de forma também diferenciada. Nesse debate, a corrente anglo-saxônica traz uma perspectiva mais pragmática, inclusive no que se refere à categorização das tarefas, e uma interferência mais nítida do conceito de qualificação do que a escola francesa, em que se vê uma ampliação das perspectivas conceituais, trazendo uma das maiores contribuições à noção de competência individual. Essa última não se limitaria à formação educacional e/ou profissional, nem mesmo a conhecimentos e capacidades adquiridos, mas reconheceria a necessidade de mobilização de todas as capacidades existentes para aplicação em uma situação singular (RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005). A seguir as duas perspectivas são detalhadas. 2.2.1 A abordagem da competência sob a perspectiva francesa Face ao novo contexto, que enfatiza outros atributos da relação de trabalho, relacionados, principalmente, à produtividade decorrente do momento histórico pós-revolução industrial, Zarifian (2012) pondera se não seria, essa a origem indireta da problemática da competência. Afinal, esse modelo industrial de trabalho que se manifesta no século XVIII, no auge do capitalismo, passa a apresentar sinais de decadência. Dentre os fatores desencadeadores desse processo de desestabilização, encontram-se a globalização dos mercados, avanços tecnológicos e a mudança no perfil do consumidor. Outros autores apontam, ainda, a intensificação da concorrência, uma nova dinâmica de atividades e serviços, uma progressiva instabilidade econômica com baixa previsibilidade dos negócios no contexto dos mercados, bem como a demanda por estratégias de customização visando ao atendimento a clientes com os mais variados perfis. Nessas circunstâncias, o fator evento tem lugar privilegiado, visto que passa a preponderar, tornando-se cada vez mais frequente. (RUAS, ANTONELLO e BOFF, 2005) Entende-se, aqui, por evento, o que ocorre de maneira parcialmente imprevista, inesperada, vindo perturbar o desenrolar normal do sistema de produção, superando a capacidade da máquina de assegurar sua autoregulagem. [...] São as panes, os desvios de qualidade, os materiais que faltam, as mudanças imprevistas na programação de fabricação, uma encomenda repentina de um cliente etc. Em resumo, tudo o que chamamos de acaso (ZARIFIAN, 2012, p.41, grifos da autora da dissertação). 28 Essas circunstâncias emergem em decorrência da necessidade de envolvimento do trabalhador com novos modelos relacionados à gestão do trabalho, o que exigirá dele a capacidade de mobilizar recursos disponíveis face a situações imprevistas. Percebe-se, dessa forma, a emergência da noção de competência sob a perspectiva dos autores franceses (LEITE e GOULART, 2006), em que se tem uma definição sobre a qual cabe criteriosa análise, até pela sua completude, trazida por Zarifian (2012, p. 68): A competência é o ‘tomar iniciativa’ e ‘o assumir responsabilidade’ do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara. A competência é um entendimento prático de situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e os transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações. A competência é a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações, é a faculdade de fazer com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações, é fazê-los assumir áreas de co-responsabilidade (grifos da autora da dissertação). Cumpre avaliar cada uma das três abordagens trazidas pelo autor. Na primeira delas, Zarifian (2012) sustenta ser a competência o tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara, denotando uma evolução importante, qual seja, o distanciamento da prescrição de tarefas, bem como a aceitação de certa autonomia do indivíduo. No que se refere à tomada de iniciativa, o autor informa existirem duas possibilidades de maior importância. Uma delas envolveria uma vasta opção de regras de conduta a serem aplicadas, devendo-se optar por aquela de maior adequação, face à circunstância prática que se apresenta. A iniciativa, nesse contexto, manifestar-se-ia na definição da norma a ser adotada. A segunda possibilidade configuraria a tomada de iniciativa frente a eventos que, pelo seu caráter peculiar e imprevisível, extrapolariam aquele rol de normas existentes. Nessa situação, tomar iniciativa representaria a criação de solução para o enfrentamento do evento satisfatoriamente. Todavia, ressalta Zarifian (2012) que a referida criação não seria absoluta, visto que mobilizaria conhecimentos preexistentes. Salienta ele, ainda, que a postura de tomar iniciativa pressupõe que o ser humano seja dotado de condições de inovação, que lhe propiciem tratar situações peculiares e improváveis. Cabe, ainda, observar a análise do autor em torno do fator situação. É reconhecida a possibilidade de se anteverem situações categorizadas, relacionadas às respectivas competências. Contudo, também se admite a inviabilidade de previsão de toda a gama de eventos com essa categorização. Sob esse aspecto, verifica-se a ênfase conferida, por Zarifian (2012), ao diferencial que a aprendizagem representa para o desenvolvimento das 29 competências, devendo ser um processo contínuo relacionado ao conhecimento, à habilidade, à atitude e ao comportamento de entrega (LEITE e GOULART, 2006). O ato de assumir responsabilidade, por sua vez, ainda sob a concepção de Zarifian, denota que o indivíduo responde pela análise da situação, bem como pelas atitudes adotadas e suas respectivas consequências. Zarifian (2012, p. 72) afirma, ainda, ser a competência “[...] um entendimento prático de situações que se apóia em conhecimentos adquiridos e os transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações.” Nessa definição, salienta-se a ênfase conferida à dinâmica de aprendizagem que, segundo o autor, é elemento primordial na seara da competência. Percebe-se que, nessa interpretação, o entendimento prático não se limita apenas à utilização de conhecimento preexistente, mas se estende à capacidade de mobilizá-lo acertadamente, face a cada evento enfrentado. No que se refere aos conhecimentos adquiridos, poderão ser aproveitados conforme o grau de analogia que possuírem em relação à nova situação de trabalho que se impõe. Quanto à transformação desses conhecimentos, Zarifian (2012) reconhece uma verdadeira dialética entre a competência e os conhecimentos, de forma que esses sofram modificação frente aos vários eventos práticos, na mesma proporção da sua diversidade, em função da análise da situação, tomada de iniciativas e responsabilidades assumidas. Quanto a essa nova forma de aprendizado, Zarifian (2012) destaca, ainda, que a experiência do indivíduo está relacionada à variedade de situações singulares enfrentadas e que aumentam o repertório de recursos a serem mobilizados em um próximo acontecimento. Nessa perspectiva, a progressão da carreira está vinculada a situações-problema enfrentadas e, não somente, ao tempo de permanência em determinado posto de trabalho. No que se refere ao processo de aprendizagem, no contexto da lógica da competência, Isambert-Jamati (2003) também discute a questão da mobilização de recursos previamente existentes. Compreende o autor que o exercício da competência pressupõe a existência dos saberes, inclusive a utilização de técnicas conhecidas. Contudo, prevalece a possibilidade de alteração de elementos, dentre os previamente disponíveis, de forma a adequar as decisões à situação singular que se impõe. Como terceira abordagem conceitual, Zarifian (2012, p. 74) interpreta a competência como “[...] a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações, é a faculdade de fazer com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações, é fazêlos assumir áreas de corresponsabilidade.” Esse trecho de sua definição, por sua vez, traz a importância da corroboração de experiências e tomada de iniciativas, tendo em vista a 30 insuficiência das competências individuais de um funcionário para tratar as situações mais complexas. Assim, salienta a necessidade de os trabalhadores compartilharem objetivos comuns, sentindo-se igualmente responsáveis face a cada situação, visto que, somente nesse contexto, disponibilizarão suas competências visando exercer um trabalho compartilhado. Zarifian (2012) apresenta ainda a importância do homem, face ao evento, o que a permite a emergência das intervenções humanas mais complexas e importantes. O enfrentamento do evento consiste na análise das soluções disponíveis e no teste das melhores opções aventadas sem, porém, engessá-las em respostas previamente formuladas. Resta, assim, demonstrado que o trabalho humano apresenta um diferencial imensurável em relação ao desempenhado das máquinas, vez que permite a criação de respostas para um contexto social marcado pela complexidade e pela instabilidade. Face ao exposto, vê-se que aquele típico cenário do modelo clássico industrial, em que se segregava o trabalho do trabalhador, preponderava a importância do alto fluxo nas linhas de operações e ainda se exigia a presença conjunta dos operários, com todas as tarefas previamente determinadas, passa a demonstrar sinais de desgaste e superação. Na nova realidade que se impõe, o conceito de trabalho retorna ao trabalhador. Não cabe mais separálos. O trabalho é a ação competente do indivíduo diante de uma situação de evento. Trata-se da emergência de um novo panorama, caracterizado pela instabilidade, em que essas ambivalências enfatizam, ainda mais, a lógica da competência (ZARIFIAN, 2012). De maneira semelhante, Le Boterf (2006) ressalta que o indivíduo deve ser capaz de associar e mobilizar seus recursos de forma pertinente numa situação de trabalho, de modo a solucioná-la e, a partir de tal, refletir sobre os acontecimentos, aumentando a sua variedade de recursos a mobilizar em uma próxima situação problema, conforme demonstrado pela figura 1. 31 Figura 1- As dimensões da competência Fonte - LE BOTERF, 2006, p. 61. No que tange à relação entre os saberes e a competência, verifica-se, sob essa ótica francesa, certa similaridade entre esse novo perfil requerido do trabalhador e o papel anteriormente desempenhado pelo artesão. Tendo em vista a necessidade de mobilização das capacidades para o exercício das competências, nota-se a referida semelhança em relação ao local de trabalho como ambiente de aprendizagem (LEITE e GOULART, 2006). Outra abordagem conceitual acerca da competência, ainda no âmbito da escola francesa, é trazida por Perrenoud (1999). Na concepção do autor, a competência representaria uma permanente capacidade de improviso e inovação, não sendo observadas, nessas circunstâncias, portanto, as tarefas prescritas. Percebe-se, nesse contexto, uma dinâmica segundo a qual o aumento de tarefas propicia a efetiva mobilização dos conhecimentos de forma que, em sendo eventual o crescimento dessas atividades, haverá apenas uma probabilidade de mobilização desse saber e um comprometimento da formação de competências. Registra-se, ainda, curiosa observação de que o exercício da competência promoveria um resgate de vivências anteriores, de forma concomitante ao afastamento dessas lembranças, visando inibir a repetição de atos anteriormente praticados e viabilizar a criação de soluções inovadoras face à peculiaridade de cada situação. 32 Isambert-Jamati (2003), por sua vez, enfatiza a importância da formação profissional na temática da competência, sob a égide do mesmo entendimento, no que se refere à prescrição de tarefas. A autora esclarece que, no cenário organizacional, as competências solicitadas para a designação de certo cargo ou função já não se relacionam mais à formação inicial do profissional. As referidas competências podem advir de experiências profissionais anteriores ou, até mesmo, de atividades desenvolvidas fora do ambiente de trabalho. Dessa forma, destaca-se que a posse dessas competências refere-se a um atributo individual, não sendo inerente, portanto, ao posto de trabalho. De maneira semelhante, Stroobants (2003) afasta a definição de competência dos métodos prescritos pelo taylorismo para o posto de trabalho, esclarecendo que o savoir-faire refere-se a saberes empíricos, relacionados à prática do ofício. Ropé e Tanguy (1997, p. 16) ressaltam importante questão no âmbito dessa discussão. Segundo os autores, “[...] uma das características essenciais da noção de competências: a competência é inseparável da ação.” Entendem eles que a competência representa uma gama de saberes, qualificações e capacidades que permitem traçar as decisões necessárias inerentes à função ou cargo exercido. Salientam, contudo, que o exercício da competência torna-se inviabilizado se aos conhecimentos não forem agregadas as aptidões necessárias à deliberação daquelas decisões. Os autores defendem que essa abordagem conceitual ratifica o fato de a competência depender, inevitavelmente, de uma dada situação para que possa ser apreciada. No entendimento de Stroobants (2003, p.142), “[...] a forma sistemática das ‘competências mobilizadas’ [...] nada mais é do que o trio ‘saberes, savoir-faire, saber-ser’. A rubrica ‘savoir-faire’ designa, antes, as noções adquiridas na prática. [...]. Quanto ao ‘saberser’, engloba uma série de qualidades pessoais (...).” Sob esse aspecto, assim se manifesta Le Boterf (2006, p. 61). Os modelos que não entendem a competência como uma súmula de saberes, de saber-fazer e de saber-estar são insuficientes, até inoperativos, para responder a uma exigência de confiança: valorizam as condições necessárias (os recursos a possuir), mas que se revelam insuficientes (ser detentor dos recursos não garante a pertinência ou eficácia da acção) (grifos da autora da dissertação). Nessa perspectiva, fica ressaltada a importância do agir e saber agir do individuo em uma dada situação singular que, por sua vez, será realizada com base nos conhecimentos ou recursos a serem mobilizados. 33 2.2.2 A abordagem da competência sob a perspectiva norte-americana Sob a perspectiva norte-americana, pode-se considerar que a definição precursora de competência emergiu, de forma mais sedimentada, em 1973, por meio de David McClelland. Conforme previamente exposto, essa é uma abordagem cuja essência visa ao desempenho superior. Buscava-se, à época, uma ferramenta de seleção de pessoal que fosse mais eficiente, dentro das empresas, do que os testes de intelecto. D. McClelland, um dos maiores responsáveis pela introdução do conceito de competências na área de gestão de pessoas, propõe a categorização de inventários de competências, a fim de identificar conhecimentos, habilidades e atitudes típicos de profissionais bem-sucedidos (FERNANDES e HIPÓLITO, 2012). Isso permitiria a utilização desses aspectos como parâmetros de avaliação, embasando decisões de seleção e treinamento. Segundo defendia McClelland (1973), a questão principal residia, obviamente, em torno da validade dos chamados testes de inteligência. Segundo o autor, a utilização dos referidos testes não poderia se justificar, salvo se fossem validados. Sustentava ele, como seus objetivos, a revisão das linhas principais de evidências referentes à validação dos testes de inteligência e atitude. Visava, ainda, levantar inferências dessa revisão que pudessem contribuir para os atributos que os testes de seleção viessem a requerer no futuro. Dessa forma, iniciou-se o debate sobre competência por meio do renomado artigo Testing for competence rather than intelligence, publicado por McClelland, em 1973. McClelland (1973) foi, portanto, responsável por rever os questionamentos primordiais relacionados às evidências dos testes de inteligência utilizados para os processos seletivos. O autor trouxe apontamentos relativos a fatores que pudessem prejudicar a dinâmica daquela testagem, bem como sugeriu propostas para uma avaliação por competência. Diversos impactos prejudiciais foram elencados, quais sejam: que as notas obtidas na escola e o desempenho acadêmico não representassem prognóstico de sucesso profissional; que os testes de inteligência e atitude não prenunciassem êxito na profissão ou em outras questões da vida em geral; que as competências trouxessem melhores indícios relativos a atitudes importantes do que a aplicação dos testes tradicionais. Como sugestão de construção de uma avaliação por competências, McClelland (1973) também trouxe várias propostas, a saber: que o teste ideal fosse a identificação de uma situação-padrão, a que denominava criterion sampling; que devesse ser clara a forma pretendida para o desenvolvimento da característica a ser avaliada; 34 que os testes devessem envolver competências relacionadas a questões da vida em geral e não aquelas pretendidas profissionalmente (LEITE e GOULART; 2006). Essa abordagem propagou-se, em curto prazo, no fomento aos processos avaliativos e programas de desenvolvimento profissional. Na sequência, outro expoente em relação à lógica de competência foi Boyatzis (1982) que, na década de 1980, passou a categorizar as funções existentes na organização em relação às ações ou posturas almejadas para cada um daqueles respectivos cargos. Nesse momento, já se manifesta uma preocupação quanto à qualidade da interação do indivíduo com o meio de trabalho (FISCHER, FLEURY e URBAN., 2012). Fleury e Fleury (2001) interpretam que, sob a concepção de McClelland (1973), a competência é reconhecida como um atributo inerente à pessoa que, eventualmente, se relaciona a um desempenho superior na execução de determinada atribuição. Ainda segundo os autores, já na década de 1980, Boyatzis (1982), revendo estudos relativos às competências gerenciais, elencou uma série de características que configurariam um desempenho superior. Fleury e Fleury (2001) destacam a grande contribuição trazida por McClelland (1973) e Boyatzis(1982) para a literatura americana no que se refere à competência. E é sob a mesma concepção que definem o tema, a saber: [...] nesta perspectiva, o conceito de competência é pensado como conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é, conjunto de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho, acreditando-se que os melhores desempenhos estão fundamentados na inteligência e personalidade das pessoas. Em outras palavras, a competência é percebida como estoque de recursos que o indivíduo detém.(FLEURY; FLEURY, 2001, p.185, grifos da autora da dissertação). No que se refere a essa abordagem conceitual adotada pela concepção norteamericana, Leme (2005) reconhece haver definições diversas. Empreende, contudo, que contemplam uma essência única. Esclarece o autor que se pode extrair dos vários conceitos os chamados “pilares das competências”, que compõem a reconhecida composição (CHA) de três capacidades, quais sejam: conhecimento, habilidade e atitude. Ainda segundo o autor, o conhecimento representaria o saber, que consistiria no aprendizado agregado nas escolas, nas universidades e no trabalho; a habilidade configuraria o saber fazer, que nada mais seria do que a utilização, na prática diária, dos conhecimentos adquiridos. A atitude seria a representação do querer fazer, podendo ser interpretada como o impulso que conduz ao exercício da habilidade por meio da utilização de conhecimento adquirido (LEME, 2005). Ruas (2003), por sua vez, no que tange a essa abordagem conceitual de competência, salienta existir, tanto uma corrente anglo-saxônica, em que se tem um caráter mais 35 pragmático, quanto uma vertente originária da escola francesa, em que se verifica uma perspectiva que busca uma integração de elementos da sociologia e da economia do trabalho. O autor é incisivo ao mencionar mais de uma concepção no que se refere à composição das competências individuais “[...] os recursos que vão ser mobilizados para que ela possa ser expressa por uma capacidade de ação [mas, da mesma forma que Leme (2005), entende que] mesmo essa variação não impede que os recursos se concentrem em torno do conhecido CHA: conhecimentos, habilidades e atitudes” (RUAS, 2003, p. 9) Contudo, em que pese a inexistência de uma uniformidade conceitual acerca da lógica da competência, nessa abordagem norte-americana, verificam-se elementos comuns em torno dessa definição. A competência é identificada, via de regra, como um compêndio de requisitos – saberes, aptidões, habilidades - passíveis de gerar ações. (SANT’ANNA, MORAES e KILIMNIK, 2005) Apresentada essa reflexão em torno da definição referente à temática da competência, no âmbito da perspectiva norte-americana, cumpre destacar as críticas e restrições a que a literatura lhe dirige. Fleury e Fleury (2001) ressaltam que, embora a ênfase da análise seja o indivíduo, a maior parte dos autores norte-americanos demonstra a necessidade de alinhamento das competências ao que lhe é requerido pelo cargo ou função no ambiente organizacional. Dessa forma, eles compreendem que, tanto na academia, quanto na organização, a definição de competência volta-se para o conjunto de atribuições exigido pelo cargo. Os autores entendem que, no que tange a esse aspecto, a gestão por competência nada mais é do que uma versão moderna para gerir um cenário organizacional ainda consolidado princípios tayloristas e fordistas, que não teriam, portanto, sido superados. Da mesma forma, Leme (2005) empreende que, no que se refere à gestão por competências, o que tem sido relevante é a identificação das competências organizacionais demandadas, em detrimento das individuais, e a verificação das capacidades de que o colaborador dispõe, de forma que o gap existente nesse comparativo possa ser mitigado por meio de investimentos em desenvolvimento. O autor ainda classifica o conhecimento e a habilidade como competências técnicas e a atitude como competência comportamental, pontuando a grande necessidade, mas também dificuldade, de se desenvolverem aquelas comportamentais. Ele esclarece que as competências técnicas envolvem a transmissão de conhecimentos, o que se mostra mais simples. Todavia, o aprimoramento das competências 36 comportamentais exige uma alteração de culturas, crenças e princípios, o que se revela mais custoso e demanda maior prazo. Parcela significativa dos autores brasileiros identifica-se com a escola norte-americana e, portanto, é nessa linha que têm conduzido a discussão acerca da temática da competência dentro das organizações. Fleury e Fleury (2001, p. 186) assim interpretam a influência das correntes anglo-saxônica e francesa no Brasil. No caso brasileiro, este debate emerge na discussão acadêmica fundamentado inicialmente na literatura americana, pensando-se competência como algo input, algo que o indivíduo tem. A introdução de autores franceses como Le Boterf, Zarifian, [...] contribuem para o enriquecimento conceitual e empírico, gerando novas perspectivas e enfoques. Os autores entendem que a lógica da competência permanece relacionada à definição de qualificação, geralmente associada aos atributos demandados pela posição ou pelo cargo e que essa interpretação já não mais atende à realidade de uma organização complexa, instável, inserida em um cenário de globalização. Ou seja, aqueles recursos individuais voltados ao exercício de cada posto de trabalho não são mais suficientes face ao panorama de mudanças e flexibilidade que se apresenta às empresas. Segundo eles, a abordagem conceitual em torno da temática da competência que emerge da literatura francesa, na década de 1990, em especial o posicionamento de Philippe Zarifian, buscava um avanço além daquela definição de qualificação (Fleury e Fleury, 2004). Ruas (2003) destaca, da mesma maneira, que a categorização das competências observa o modelo clássico referente aos recursos individuais, quais sejam, conhecimentos, habilidades e atitudes. Na concepção do autor, o grande desafio consiste justamente na dificuldade de se basear em uma perspectiva voltada para as competências coletivas. E esclarece que, em que pese ser nítida a demanda por uma estratégia que identifique as capacidades necessárias para sustentar os posicionamentos competitivos das empresas, verifica-se que ainda não se adotam, de forma incisiva, os conceitos e diretrizes associados à competência organizacional. 37 2.2.3 Competência e qualificação: uma compreensão em torno das distinções conceituais Um estudo que visa analisar o exercício das competências, no âmbito de uma organização, não pode prescindir também de uma breve ponderação em torno da temática da qualificação, bem como do estabelecimento das suas dimensões em relação à seara da competência. Segundo Manfredi (2006), qualificação e competência são termos que configuram conceitos polissêmicos. A autora salienta, ainda, que são constructos passíveis de serem percebidos em manifestações específicas, emergentes em contextos diferentes, seja no âmbito histórico ou político. De qualquer maneira, esclarece que representam definições distintas e que decorrem de matrizes diversas. Sob esse entendimento, a noção de qualificação estaria relacionada ao acervo teórico das ciências sociais, enquanto a lógica da competência encontraria amparo histórico nas definições de capacidades e habilidades decorrentes das ciências humanas. Zarifian (2003, p. 35) assim apresenta os dois temas: “[...] chamamos de ‘qualificação’ o que sobressai dos recursos (em conhecimento, habilidade, comportamento...) adquiridos por um indivíduo, seja por formação ou por exercício de diversas atividades profissionais. E de ‘competência’, a utilização desses recursos na prática”. Esclarece o autor, ainda, que a qualificação é um constructo que visa posicionar o assalariado tanto quanto à expectativa do seu desempenho no cenário da organização do trabalho, bem como em relação à determinação de níveis salariais, e que a competência seria uma nova vertente da qualificação. Segundo essa concepção, o assalariado sofre uma dupla classificação, qual seja: quanto ao seu posicionamento na hierarquia de salário existente e no que se refere à produção de resultado no contexto da relação de trabalho (ZARIFIAN, 2003). Há também a interpretação de que a competência tenha sido apreendida, em um primeiro momento, como um constructo que viria a substituir a qualificação, tendo sido posteriormente interpretada como algo novo. Essa percepção decorre das circunstâncias sob as quais o conceito de qualificação foi construído, bastante associadas às diretrizes e requisitos técnicos do posto de trabalho, aspectos esses que poderiam ser validados por uma certificação gerada por uma instituição (LEITE e GOULART, 2006). Em relação aos dois conceitos, Fleury e Fleury (2000) entendem a qualificação como uma definição relacionada aos requisitos referentes ao posto ou cargo, ou ao acervo de conhecimentos do indivíduo, que podem ser, nas duas situações, categorizados e registrados em diploma ou certificação. Segundo os autores, a competência, por sua vez, não se restringe 38 aos conhecimentos teóricos ou práticos adquiridos pela pessoa, tão pouco pode ser identificada no contexto de um trabalho prescrito. A competência configura-se como uma espécie de inteligência prática para o enfrentamento dos eventos, balizando-se em conhecimentos adquiridos e os modificando na mesma proporção em que se aumenta a complexidade das situações com as quais se depara. Ramos (2006), por sua vez, compreende que, sob a égide dos modelos taylorista e fordista de organização do trabalho, a definição de qualificação restringiu-se à formação, com os respectivos certificados, bem como aos códigos das profissões. Ainda segundo a autora, essas dimensões da qualificação são, hoje, objeto de severas críticas face ao cenário de instabilidade de oferta de emprego, bem como à emergência de uma gestão flexível no contexto da organização do trabalho. Isso se deve ao fato de a qualificação estar diretamente associada a parâmetros de certa forma estáveis, que seriam os postos de trabalho estáticos, relacionados a profissões bem definidas, bem como aos diplomas, que não são suscetíveis de questionamentos. (RAMOS, 2006) A mesma autora converge no que se refere ao estabelecimento da relação entre as temáticas da qualificação e da competência, se comparada à interpretação de P. Zarifian. Ela esclarece que a lógica da competência, relacionada ao panorama de instabilidade, contribui para a desestabilização do equilíbrio referente ao cenário taylorista-fordista. Dessa forma, sob esse aspecto, os dois tópicos - competência e qualificação - assumem conotações diversas. (RAMOS, 2006) Outra referência importante, nesse comparativo entre qualificação e competência, são os conceitos construídos por Laudares e Tomasi (2003). O entendimento dos autores acerca da abordagem conceitual de qualificação apresenta-se como um tema em contínuo processo de construção, até pelo fato de se constituir em torno das noções de trabalho e de educação, dois constructos polissêmicos e que estão em constante evolução. No que se refere à definição de competência, a interpretação daqueles autores em torno do tema refere-se à execução de atribuições de alta complexidade e organização, relacionadas a uma atividade intelectual, sendo que o indivíduo competente não se refere àquele que cria as técnicas, mas que as sabe mobilizar devidamente, estando preparado para eventos imprevisíveis no contexto de trabalho. Laudares e Tomasi (2003) esclarecem, ainda, que a análise relativa ao tema da qualificação manifesta-se, de forma mais evidente, na França, principalmente no pósSegunda Grande Guerra mundial, tendo tido como principal expoente inicial a obra de Friedmann (1946), construída sobre uma base eminentemente sociológica. No que tange à 39 apreciação em torno da competência, aqueles autores informam que o termo surgiu na década de 1970. Contudo, caracterizado por uma heterogeneidade conceitual, sendo que, somente a partir da década de 1980, construiu-se o significado que se tem hoje. Mello e Silva (2002) ponderam que um dos questionamentos mais recorrentes, em torno da abordagem da competência, refere-se àquele constructo como um fator que propicia o enfraquecimento de negociações coletivas, na medida em que se propõe a uma avaliação individual do empregado. Eles entendem que aquela corrente que estabelece um contraponto da temática da competência em prol da qualificação aponta, via de regra, o referido questionamento como justificativa para tanto. Ressaltam, ainda, que essa manifestação decorre mesmo de autores que não associam a qualificação diretamente a um posto de trabalho prescrito. 2.3 Modelo de gestão de competências e o alinhamento com a estratégia competitiva da organização Compreendida a competência como o exercício da devida mobilização de capacidades para o enfrentamento com êxito de dada situação no contexto de trabalho, a gestão por competências torna-se relevante ferramenta de gestão organizacional. “Gestão por Competências é o processo de conduzir os colaboradores para atingirem as metas e os objetivos da organização através de suas competências técnicas e comportamentais” (LEME, 2005, p.2). Sob essa concepção, o autor ressalta a importância de a organização ter a sua visão, ou a sua pretensão para o futuro, muito bem definida a fim de que possa viabilizar a existência de um modelo de gestão de competências. Bressan et. al. (2007) esclarecem que as transformações ocorridas no mercado têm desafiado as organizações a criar produtos e serviços dotados de um potencial de distinbilidade. E, dentre os vários esforços dispensados nesse sentido, pelas empresas, está a adoção do modelo de gestão de competências visto promover um alinhamento entre missão, visão, valores e estratégia do negócio. Segundo Tadeu (2006), a gestão por competências constitui-se por algumas etapas, quais sejam, a identificação das competências demandadas por uma função; o levantamento das competências de que o colaborador dispõe e a verificação do gap existente, no comparativo dessas competências, visando ao aprimoramento dos funcionários. Esclarece ele que, dessa maneira, a gestão por competências permite que seja conferida ênfase à ação, bem 40 como propicia o desenvolvimento da organização por intermédio dos empregados (LEME, 2005). Da mesma maneira, Ruas (2003) reconhece que a lógica da competência tem sido um forte referencial na aplicação das práticas de gestão dentro das organizações brasileiras. Coadunando ainda com a interpretação de Leme (2005), o autor entende que, no âmbito organizacional, as competências estão relacionadas à visão, missão e intenção da empresa, que configuram elementos de estratégia competitiva da organização. Fleury e Fleury (2004), nesse sentido, entendem que a empresa apresenta diversos níveis de competências, sendo em maior âmbito as competências organizacionais, dentre as quais, algumas são consideradas essenciais (aquelas que diferenciam a organização por lhe assegurar vantagem competitiva sustentável no mercado). Segundo os autores, essas competências organizacionais são constituídas por uma combinação dos recursos de que a empresa disponha com as competências individuais que se encontram em outro nível. Eles destacam, ainda, a importância da correlação entre esses diferentes níveis de competência. Esclarecem que as competências organizacionais são construídas tendo em vista o mapeamento dos recursos da empresa e das competências individuais, bem como a partir da avaliação dos fatores externos. Dessa maneira, emerge um sistema de aprendizagem que configura novas competências individuais por meio de um processo virtuoso, como se verifica pela figura 2. 41 Figura 2 - Competências Fonte - FLEURY e FLEURY, 2004, p.50. Ainda que de forma similar, Ruas (2003) percebe aquele mesmo processo virtuoso mencionado por Fleury e Fleury (2004) quando empreende que, no âmbito das competências individuais, surge a possibilidade de aprimoramento das competências em todos os níveis, visto ser a partir daquelas competências que se alcança a dimensão das competências organizacionais. No que tange à questão das competências essenciais, Prahalad e Hamel (1990) já destacavam a importância, no âmbito organizacional, de se identificarem, conservarem e desenvolverem essas competências, entendidas como aquelas que propiciam um diferencial que seja notado pelo cliente, no produto final, como forma de obtenção de vantagem competitiva sustentável para a empresa. As reais fontes de vantagem devem ser encontradas na capacidade da gerência em consolidar tecnologias no âmbito corporativo e nas habilidades de produzir competências que possibilitem negócios individuais que possam se adaptar rapidamente às oportunidades em mutação. (PRAHALAD E HAMEL, 1.990, p.57, grifos da autora da dissertação). 42 Ainda conforme os autores, pode-se apreender como competências corporativas ou essenciais todos os recursos coordenados e priorizados de que a organização dispõe, todo o aprendizado coletivo da empresa, principalmente no que se refere à orientação das diversas habilidades de produção. Essas habilidades que, juntas, compõem a competência essencial, devem emergir em torno dos indivíduos de forma que eles não tenham o seu empenho reduzido ou o seu foco estreitado, mas que, antes disso, tenham condições de perceber as oportunidades de combinação de suas capacidades com as dos demais (PRAHALAD e HAMEL, 1990). Assim, da mesma forma que Ruas (2003), os autores percebem que a estratégia articulada de gestão das competências individuais dos empregados com a mobilização das competências corporativas também se mostra fundamental no âmbito organizacional. De forma semelhante, Tadeu (2006) salienta a importância de a organização identificar previamente a sua core competence, analisando a razão da existência da empresa, bem como o seu público-alvo, a fim de verificar a partir de qual tipo de estratégia a organização pretende ser reconhecida. Verifica-se, ainda, que o emprego da lógica da competência, em que as atitudes face à situação concreta passam a ter maior valor em relação aos conhecimentos e experiências específicas certificadas pelo currículo, pode ser notado em vários processos de gestão. Essa nova postura tem prestado uma contribuição significativa para a revisão dos princípios e procedimentos de avaliação de desempenho. E essa nova dinâmica tem representado uma revolução considerável nas práticas de gestão (RUAS, 2003). Nesse sentido, Bahry e Tolfo (2004) destacam que, por meio da gestão de pessoas por competências, a demanda organizacional passa a ser, cada vez mais, por colaboradores dotados de iniciativa, com um perfil polivalente, multifuncional, capazes de atuar de forma cooperativa e corresponsável, bem como avançar além das atividades prescritas, manifestando domínio pelas novas formas de trabalho. As autoras salientam que a gestão de competências tem propiciado a subsistência de muitas organizações, no mercado, com vantagem competitiva sustentável, visto voltar-se para o desenvolvimento das competências individuais dos profissionais, com o intuito de mobilizar conhecimentos, habilidades e criatividade ao invés de apenas gerir saberes, o que pode trazer melhores resultados para a empresa. Ainda sob esse aspecto, quanto à utilização da noção de competência, no meio organizacional, Sant’anna, Moraes e Kilimnik (2005) a entendem como um conceito que sofreu uma valorização em decorrência de processos de reestruturação da produção, intensificação das mudanças econômicas, bem como da situação de imprevisibilidade do 43 mercado, consequências, principalmente, do processo de globalização. Os autores fizeram um estudo, junto a 654 profissionais da área da administração, visando, dentre outros objetivos, investigar o construto relacionado às “competências individuais requeridas”. Como resultado, foi selecionado um elenco de quinze competências reiteradamente apontadas, a saber: [...] domínio de novos conhecimentos técnicos associados ao exercício do cargo ou função ocupada; capacidade de aprender rapidamente novos conceitos e tecnologias; criatividade; capacidade de inovação; capacidade de comunicação; capacidade de relacionamento interpessoal, capacidade de trabalhar em equipes; autocontrole emocional; visão de mundo ampla e global; capacidade de lidar com situações novas e inusitadas; capacidade de lidar com incertezas e ambiguidades; iniciativa de ação e decisão; capacidade de comprometer-se com os objetivos da organização; capacidade de gerar resultados efetivos e capacidade empreendedora (SANT’ANNA, MORAES e KILIMNIK , 2005, p. 4. Assim, verifica-se tratar de um elenco que denota a demanda pela polivalência e multifuncionalidade do empregado, bem como pela capacidade de iniciativa para lidar com situações novas, sem prévia prescrição de tarefas. Ruas e Comini (2007), por sua vez, entrevistaram trezentos alunos e desenvolveram uma análise em programas de pós-graduação com formação gerencial, visando à avaliação de adequabilidade do conteúdo desses cursos em relação às competências gerenciais cuja mobilização e desenvolvimento são requeridos no ambiente de trabalho. Nesse estudo, autores destacam, como fatores de maior visibilidade no ambiente organizacional, a instabilidade e a baixa previsibilidade. Salientam, ainda, que, sob essas circunstâncias, em que há uma contínua demanda por novas tecnologias, novos produtos, outras expectativas dos clientes, as empresas não conseguem subsistir da forma como faziam em um passado relativamente recente. E ressaltam que, em um cenário tão competitivo e suscetível a mudanças, a figura do gestor acaba por sofrer um grande reflexo. Os autores esclarecem que as funções gerenciais como análise de cenários, de situações e de problemas, o relacionamento e a negociação com clientes e colaboradores, além dos processos de tomada de decisões, tornam-se mais complexos face ao contexto de grande instabilidade e competitividade. E, dessa situação, decorre uma grande expectativa da organização em torno do desempenho dos gestores. As organizações bancárias, em especial, têm se manifestado acerca desse panorama de acirrada competitividade por meio de grandes modificações, em seus processos, desde o final do século XX. As instituições financeiras passaram a adotar estratégias de gestão em direção à mobilização e ao desenvolvimento das competências dos seus empregados, visando obter soluções mais adequadas face a tantas mudanças no âmbito econômico e sociopolítico em que estão inseridas, conforme se demonstra a seguir. 44 Bahry e Tolfo (2004, p. 50) trazem um clássico exemplo desse cenário, a saber: [...] o novo profissional bancário deverá ter novas qualificações e um perfil profissional caracterizado pela polivalência e pela capacidade de criar e inovar no trabalho. Exemplo dessa demanda por profissionais com perfis diferenciados já pode ser observado na Caixa Econômica Federal. Por meio do Programa Gestão por Competências Caixa, são definidas as competências requeridas dos gestores da organização: orientação ao cliente, orientação aos resultados, negociação, gestão de pessoas e especialização. Essas competências demonstram que habilidades para negociação e para lidar com pessoas, que no passado não eram consideradas relevantes, atualmente são imprescindíveis. As autoras mencionam, ainda, a criação de universidade corporativa como um reflexo do interesse das organizações bancárias no desenvolvimento do conhecimento, bem como das atitudes e habilidades dos empregados que compõem o seu quadro funcional. “A criação de Universidades Corporativas representa o investimento das organizações bancárias para alcançar vantagem competitiva sustentável por meio dos talentos que fazem parte de seus quadros funcionais” (BAHRY e TOLFO, 2004, p.51). Por outro lado, em que pese ser reconhecidamente necessária uma perspectiva estratégica em relação às capacidades importantes para o alcance dos diferenciais competitivos, grande parte das organizações não fazem o devido emprego dos conceitos associados à competência organizacional. E, quando o fazem, a base conceitual utilizada é muito mais voltada para as definições em torno da competência individual do que da coletiva. Portanto, um desafio inerente às organizações no emprego da lógica de competência, como um dos princípios norteadores da gestão, é o tratamento da questão de maneira estrategicamente articulada, voltada para o desenvolvimento da empresa, bem como das pessoas. Apesar disso, verifica-se, ainda, nas organizações, a predominância de uma ênfase na competência individual (RUAS, 2003). Prahalad e Hamel (1990) ressaltam, também, que a alta gerência das empresas, via de regra, verifica, continuamente, a qualidade e os preços dos produtos ofertados pelas organizações concorrentes. Contudo, não compreende devidamente as competências a serem implantadas pela organização que dirigem a fim de viabilizar o alcance da liderança no mercado. Salientam, ainda, que o desenvolvimento de competências essenciais não significa dispensar maior custo, em relação aos concorrentes, com pesquisa e desenvolvimento. E ponderam que não há como uma organização firmar uma estratégia inteligente se não feita antes a definição em torno de qual competência pretende desenvolver ou privilegiar, a fim de obter a liderança. Assim, as empresas devem se valer de um diagnóstico estratégico, em que se verificam as circunstâncias atuais da organização, a qualidade do produto e/ou serviço 45 entregue, bem como seus recursos financeiros, tendo em vista a visão da instituição, a fim de propiciar a avaliação quanto às ferramentas a serem implementadas para a garantia da competitividade (TADEU, 2006). Para o autor, essa análise exige uma clara compreensão acerca da política de mercado referente à oferta e demanda de produtos e/ou serviços, sendo uma atribuição da direção da empresa tornar o processo estratégico inovador, a fim de se obter vantagem competitiva. Contudo, Sant’anna, Moraes e Kilimnik (2005) ponderam que, em que pese as organizações manifestarem-se favoráveis ao processo de aprendizagem contínuo, trabalho em equipe e tomada de iniciativa, ainda se verifica um ambiente organizacional com a predominância de um caráter autoritário e hierarquizado, o que evidencia a necessidade de uma mudança comportamental, que permita estruturas mais horizontais e descentralizadas e conceda maior autonomia e envolvimento dos trabalhadores. Porter (1996) também comenta a importância da tomada de decisões estratégicas. Face ao dinamismo do mercado, à grande mutabilidade das tecnologias e à acirrada competência que se instala, a eficácia operacional e o posicionamento estratégico passam a ser diferenciais para um desempenho organizacional superior. A eficácia operacional consiste na execução de tarefas de mesma natureza, porém com melhor desempenho. O posicionamento estratégico, por sua vez, pressupõe o desenvolvimento de atividades distintas daquelas desempenhadas pelos concorrentes ou, ainda, a execução de atividades similares, mas de maneira diversa. Essa estruturação estratégica da organização é uma formulação que há muito está sob o comando da alta gerência das empresas. Nas circunstâncias atuais, vê-se que, via de regra, grande parte das pessoas desconhece a missão das organizações a que pertencem. Nesse contexto, a figura do gestor é de crucial importância, na medida em que detém controle sobre os processos que sustentam as bases estratégicas das organizações e que propicia a formação de fortes relações vinculadas a um propósito organizacional maior. Trata-se, pois, de compreender a gestão com um papel fundamental de conversão dos membros de uma entidade econômica em colaboradores de uma instituição comprometidos com um propósito superior, aproximando-se do perfil de liderança que se pretende ter dentro das empresas (BARLETT e GOSHALL, 1994). Vê-se, hoje, portanto, que um dos grandes desafios da organização é tornar-se apta à disputa competitiva de mercado por meio das suas capacidades. Para tanto, os gerentes - aqui entendidos como líderes - desempenham função primordial no intuito de perceber as capacidades estratégicas das empresas, identificar os processos fundamentais ao atendimento das demandas dos clientes, bem como implementar as modificações que se fizerem 46 necessárias para assegurar o desenvolvimento competitivo sustentável da empresa baseado nas capacidades de que ela disponha (STALK, EVANS e SHULMAN, 1992). Pode-se concluir, assim, que cabe principalmente à figura do gestor atuar nessa atribuição de conhecer as competências individuais que são estratégicas para a organização, identificar aquelas de que os empregados disponham e desenvolvê-las, de forma a aproximálas às expectativas da empresa. “Um dos grandes desafios atuais para as organizações e para os seus gestores é o desenvolvimento e a potencialização dos conhecimentos, habilidades e atitudes de seus funcionários” (BAHRY, TOLFO, 2004). Face ao exposto, torna-se necessário, ainda que de forma breve, recorrer à literatura no que se refere à temática da liderança. Isso porque a Academia destaca a importância da figura do líder, no processo de influência do grupo, no alcance das metas traçadas pela organização. Contudo, analisar a liderança, principalmente no contexto organizacional, exige, antes de qualquer inferência, compreender os elementos que a definem. E, nesse aspecto, tem-se o entendimento de Bryman (2012, p.257, grifos da autora da dissertação). Em primeiro lugar, a liderança é vista com um processo de influência pelo qual o líder tem impacto sobre outros ao induzi-los a se comportar de certo modo. Em segundo lugar, o processo de influência é conceituado com base em seu surgimento no contexto de um grupo. [...] Em terceiro lugar, o líder influencia o comportamento dos membros do grupo na direção das metas estabelecidas para o grupo. A liderança efetiva [...] será aquela que alcance as metas do grupo. Nessa seara, as pesquisas em torno da temática da liderança desenvolvidas no decorrer dos anos contribuíram para a emergência de várias abordagens, dentre as quais, duas contam com maior destaque, hoje, na literatura da administração, quais sejam: a perspectiva transacional e a perspectiva transformacional. Essa distinção não trata de algo sutil ou de pouca relevância. Muito antes ao contrário, têm-se, nessa situação, duas perspectivas bastante diferentes, tanto no meio corporativo, quanto no ambiente acadêmico, e que têm sido as mais frequentes nas últimas décadas (BERGAMINI, 1994; FONSECA, PORTO e BARROSO, 2012). Diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas, demonstrando a importância da referida distinção. Bryman (2012) menciona que, em que pese a existência de várias ideologias relacionadas à abordagem da liderança, a sua maior referência decorre, em geral, das pesquisas realizadas por James McGregor Burns, em 1978, mentor da liderança política, que traz duas manifestações clássicas e distintas acerca da Liderança, quais sejam: a transacional e a transformacional. O estilo transacional de liderança visa assegurar o atendimento imediato das necessidades particulares apresentadas pelos colaboradores, sob uma lógica utilitarista de 47 recompensa e punição. A perspectiva transformacional, por seu turno, promove o desenvolvimento moral dos liderados fomentando o envolvimento com valores e interesses da coletividade em que se encontram inseridos, em um processo de transcendência dos objetivos individuais em prol dos objetivos organizacionais (VIZEU, 2011). A abordagem transacional pressupõe uma transação simplória que envolve benefícios e sanções de caráter notadamente extrínseco. Nesse sentido, o líder transacional terá a sua legitimidade sobre os seguidores prejudicada na medida em que não puder contar com o permissivo de concessão de vantagens e imposição de sanções (BERGAMINI, 1994). A perspectiva transformacional, por sua vez, é apontada como uma liderança de desempenho superior. É reconhecida quando os líderes elevam os interesses dos seus seguidores, enfatizam os objetivos e missão da coletividade, bem como quando estimulam os liderados a convergir seus interesses individuais aos interesses da organização (BASS, 1985). Corroborando o autor, nota-se, na literatura, o entendimento de que “[...] o estilo transformacional refere-se aos comportamentos gerenciais que transformam os liderados e os inspiram a ir além das expectativas, transcendendo o interesse pessoal pelo bem da organização” (FONSECA, PORTO e BARROSO, (2012, p. 128). Mudanças no mercado de trabalho, bem como na força produtiva, têm apontado para a necessidade de os líderes adotarem posturas cada vez mais transformacionais, em detrimento da liderança transacional, sob pena de perda da efícácia na atuação profissional (BASS, 1999). A liderança transformacional tem sido, assim, uma referência para as organizações na medida em que tem contribuído para um desenvolvimento superior dos liderados (VIZEU, 2011). Gallon et al(2013) ressalta que os líderes transformacionais são capazes de propiciar um ambiente mais adequado ao processo de aprendizagem dos empregados do que aqueles com características transacionais. Por todo o exposto acerca das perspectivas transacional e transformacional, essas foram as abordagens adotadas neste trabalho para subsidiar uma melhor compreensão em torno dos desafios enfrentados pelos gestores da instituição objeto da pesquisa, frente às competências que lhes são requeridas pela empresa. 48 3 METODOLOGIA A metodologia é a etapa fundamental da pesquisa e destina-se a descrever os passos a serem percorridos para o alcance dos objetivos delineados. Segundo Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p.159), os procedimentos metodológicos são importantes para o planejamento do estudo, bem como para a identificação de possíveis dificuldades a serem vencidas e, para tanto, devem contemplar “[...] as etapas de desenvolvimento da pesquisa, a descrição do contexto, o processo de seleção dos participantes, os procedimentos e o instrumental de coleta e análise de dados”. 3.1 Abordagem metodológica No que se refere à abordagem, o presente estudo valeu-se de uma análise de cunho qualitativo. Minayo (1996, p.24) destaca que a pesquisa qualitativa “[...] é aquela que não se preocupa em quantificar, mas sim em compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos”. Nos termos de Godoy (1995), a pesquisa qualitativa foca, fundamentalmente, a análise do mundo empírico em situação prática. Dessa forma, verifica-se a importância da abordagem qualitativa para o estudo aqui proposto, tendo em vista que a pesquisa visou, principalmente, à compreensão das complexas interações sociais cotidianas firmadas pelos gestores, bem como à análise das competências que lhes são requeridas e das dificuldades para que sejam exercidas, face aos objetivos estratégicos definidos pela instituição financeira que foi objeto dessa análise. Quanto aos fins, a pesquisa descritiva revelou-se como a mais adequada para este trabalho, visto que “[...] observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a maior precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e suas características” (CERVO, BERVIAN e SILVA, 2007, p.61). Em relação aos meios, a estratégia de pesquisa que se mostrou mais acertada para esta análise foi o estudo de caso. Pretendeu-se analisar eventuais dificuldades, encontradas pelos gestores, na mobilização de competências em alinhamento ao planejamento estratégico de uma instituição financeira de grande abrangência, onde se desenvolve uma complexa rede de relações sociais. O estudo de caso mostra-se adequado a uma pesquisa em que se pretende investigar um fenômeno contemporâneo em seu contexto real. Verifica-se a adoção recorrente do estudo 49 de caso nas pesquisas organizacionais, visto trazer grandes contribuições para a compreensão das circunstâncias relacionadas ao indivíduo e à organização. Essa estratégia caracteriza-se por investigar uma unidade específica, situada em seu contexto, escolhida conforme critérios predeterminados e usando múltiplas fontes de dados, para se atingir uma visão holística do fenômeno estudado (MAZZOTTI, 2006). 3.2 – Métodos de coleta e análise de dados Relativamente ao método de coleta de dados, optou-se por uma análise documental de todo o material atinente à gestão de competências que foi disponibilizado pela empresa, para a realização da pesquisa, incluindo manuais, cartilhas e planejamentos. Foram realizadas, ainda, entrevistas semiestruturadas junto aos gestores. Definiu-se pelo referido método visando o acesso à real percepção dos sujeitos de pesquisa em relação aos assuntos que seriam analisados, visto que, se inquiridos por meio de questionários, talvez não se obtivesse o grau de riqueza de informações que se pretendia obter quanto aos desafios enfrentados por eles para o exercício das competências que lhes são requeridas pela organização. Verificou-se que as entrevistas permitiram que os sujeitos se expressassem com maior liberdade sob esse aspecto. No contato com a diretoria e gerência nacional consultadas, recorreu-se, de forma semelhante, às entrevistas semiestruturadas pela mesma razão. De acordo com Triviños (1987, p.146), “[...] entrevista semiestruturada, em geral, é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa”. As entrevistas foram realizadas com base nos roteiros que constam dos Apêndices A e B. Esses foram elaborados a partir dos objetivos do estudo, da análise do referido acervo documental, bem como do levantamento bibliográfico sobre o assunto. Aqueles roteiros visaram estabelecer uma diretiva a ser seguida, permitindo ao entrevistador alterar a ordem das perguntas ou incluir questionamentos, a fim de melhor esclarecer ou se aprofundar em determinado tema. Nesse aspecto, um dos grandes diferenciais empíricos do estudo de caso como estratégia de pesquisa é justamente a possibilidade de contar com uma grande variedade de evidências, sejam os documentos disponíveis ou mesmo as entrevistas que, em tal situação, foram realizadas junto aos gestores, bem como à diretoria e gerência nacional responsáveis pelo assunto na empresa. Nesta análise, a consulta aos documentos e a realização de entrevistas mostraram-se suficientes nesse sentido. 50 As entrevistas ocorreram em datas diversas, tendo sido realizadas em dezembro de 2014, pela própria pesquisadora, nas dependências da Empresa, durante o horário de expediente dos empregados selecionados, conforme a manifestação de disponibilidade de cada um deles. No que se refere ao método de análise dos dados, as respostas às entrevistas foram gravadas, transcritas e objeto de posterior análise de conteúdo. Segundo Bardin (1977, p.38), “[...] a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens”. A intenção, com a adoção da técnica de análise de conteúdo, é deduzir, de forma lógica, informações acerca do emissor da mensagem ou do meio que o cerca. Essa é uma técnica, portanto, que, por meio de um processo dedutivo ou inferencial, permite que o analista possa identificar outras realidades por meio das mensagens no sentido do texto (BARDIN, 1977). Dessa forma, a utilização da análise de conteúdo, nesta pesquisa, permitiu a captação das percepções dos gestores acessados em relação aos desafios enfrentados para o exercício das competências que lhes são requeridas, visando à efetivação do planejamento estratégico da organização, assim como o entendimento da interpretação feita pela direção da empresa em torno do mesmo assunto. 3.3 Delimitação do universo: sujeitos de pesquisa e unidade de análise Quanto aos sujeitos de pesquisa, mostrou-se adequado, no estudo proposto, considerar os empregados da própria instituição que figurem como gestores, a fim de propiciar uma análise em torno dos desafios enfrentados por eles para o exercício das competências requeridas segundo o planejamento estratégico da organização. Optou-se por abordar cinco empregados que ocupassem cargos de gerência, que se encontrassem sob as mesmas circunstâncias, ou seja, que estivessem na mesma posição hierárquica, no mesmo segmento de atendimento de uma agência, e que atuassem sob a vinculação de um mesmo imediato superior, no caso, o gerente geral daquela unidade bancária. Dessa forma, foram verificadas percepções de gestores que estavam submetidos a condições semelhantes em termos de atribuições e subordinação, evitando-se que aspectos peculiares relacionados ao contexto organizacional particular de cada empregado interferissem no resultado que se pretendia alcançar. 51 Como unidade de análise, definiu-se pela maior agência bancária da Instituição no País, situada em Belo Horizonte, selecionada em função do seu grande porte, visto que, nesse contexto, a expectativa era de se contar com uma ampla rede de interações sociais, firmada entre empregados e clientes, bem como entre gestores e sua equipe. Com isso, pretendeu-se propiciar a an[alise das mais variadas demandas diárias por produtos e serviços e os prováveis desafios daí emergentes. De forma complementar, o trabalho envolveu entrevistas à diretoria executiva de gestão de pessoas e à gerência nacional de competências da organização em análise, lotadas fisicamente na matriz da Empresa, em Brasília. A diretoria executiva de gestão de pessoas esteve responsável pela elaboração da Cartilha do Modelo de Competências da Organização, editada em 2014, em parceria com a vice-presidência da Instituição, com o intuito de melhor orientar todos os empregados, principalmente, os gestores. A gerência nacional de competências, por sua vez, tem se manifestado favorável à potencialização das competências fundamentais de liderança como forma de melhor alcançar os objetivos estratégicos organizacionais. As referidas diretoria executiva e gerência nacional são, hoje, diretamente responsáveis pela elaboração e divulgação das diretrizes em torno da mobilização de competências exigidas dos gestores, em âmbito nacional, dentro da Empresa. Portanto, a expectativa era de que, por meio dessas entrevistas, fosse viável obter-se acesso à visão da direção da Empresa em relação aos temas que são abordados nesta pesquisa. 52 4 UMA AVALIAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS ADOTADO PELA ORGANIZAÇÃO EM ANÁLISE EM RELAÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA EMPRESA Alguns conhecimentos sobre a organização pesquisada, com muitas das suas peculiaridades, tornam-se de grande relevância para este estudo. Trata-se de uma instituição financeira constituída sob a natureza jurídica de empresa pública de direito privado, atuante em todos os municípios brasileiros, seja diretamente, com a presença de unidade bancária, ou indiretamente, por meio de correspondente bancário. Foi escolhida, em especial, pela posição relevante que ocupa no cenário contemporâneo brasileiro, liderando, no mercado, grande parcela dos serviços prestados no seu âmbito de atuação, além de se tratar de organização que se encontra em franco processo de expansão com o intuito de estar, a médio prazo, entre os três maiores bancos do País. Aliado a esses fatores, contribuiu para essa escolha o fato de competências ligadas ao trabalho dos gestores, mais diretamente aquelas relacionadas à liderança, estarem sendo reconhecidas pela diretoria executiva de gestão de pessoas e gerência nacional de competências da Instituição como um fator relevante para a aproximação das potencialidades das pessoas às possibilidades da Empresa, em alinhamento ao planejamento estratégico da Organização, visando o alcance dos resultados pretendidos. Nesse sentido, a compreensão acerca das competências exigidas dos gestores, assim como as maiores dificuldades para o seu exercício, torna-se especialmente importante para a empresa, o que faz deste estudo, também, uma contribuição interessante para a Organização. No curso desta pesquisa, foi possível compreender a abordagem conceitual acerca do modelo de competências na concepção da instituição financeira analisada. Contudo, visando assegurar o sigilo de informações da Empresa, será apresentado um detalhamento desse modelo tão somente com dados imprescindíveis ao desenvolvimento da análise que, aqui, se empreendeu. Conforme os documentos consultados, a organização objeto desta investigação informa conceber o modelo de competências como um instrumento de gestão e desenvolvimento das pessoas, em estreito alinhamento às estratégias organizacionais. Afirma considerar, ainda, que o domínio de determinas competências conduz a Empresa a um desempenho superior em relação aos concorrentes de mercado, uma vez que é capaz de potencializar os resultados sustentáveis da organização. A Instituição manifesta ter criado o referido modelo visando ao alcance da missão, visão e objetivos da Organização, além de fomentar ações relacionadas à gestão de pessoas. 53 Divulga, também, que considerou a missão e a visão, bem como o plano estratégico, para a definição das competências corporativas. Menciona reconhecer que se faz necessária a adoção do modelo nos diferentes níveis da Organização, assim considerados o individual, o coletivo e o organizacional. Pode-se perceber que a Instituição Financeira que este trabalho se propôs a investigar distingue, com clareza, as competências corporativas das competências pessoais. Aquelas são identificadas, pela Empresa, como um complexo de elementos dos quais a organização dispõe ou necessita desenvolver e cuja utilização deve ser feita de forma coordenada e direcionada a fim de se obterem, com êxito, os seus objetivos estratégicos. As competências pessoais, por sua vez, são interpretadas, pela Instituição, como resultado da combinação de três elementos, quais sejam, o Conhecimento, a Habilidade e a Atitude (CHA) que, uma vez reunidos, seriam capazes de gerar desempenho, comportamento de entrega e produzir resultados no âmbito organizacional, agregando valor ao empregado e à Instituição. A Empresa empreende o conhecimento como a apreensão, armazenagem e resgate de dados e informações recebidos; a habilidade como uma proficiência para a realização de ações motoras e/ou mentais e, a atitude, como uma predisposição para a realização daquelas ações. Essa concepção acerca das competências individuais demonstra uma grande proximidade com a perspectiva anglo-saxônica de competência que, da mesma forma, visa à categorização de competências com o intuito de identificar conhecimentos, habilidades e atitudes que conduzam a um desempenho superior, no que McClelland (1973) e Boyatzis (1982) foram precursores. A Instituição Financeira ora em estudo também denota estreita relação com a literatura brasileira que, por sua vez, está alinhada a essa perspectiva americana. A fundamentação desses modelos encontra-se no marco teórico desta dissertação. De maneira similar à abordagem adotada pela Organização, Fleury e Fleury (2001) propõem a identificação de um conjunto de capacidades, composto de conhecimentos, habilidades e atitudes que justifiquem um alto desempenho. De forma semelhante, Leme (2005) ressalta que, dos diversos conceitos, pode-se extrair o que ele intitula como os pilares da competência compostos, também, pelo mencionado CHA. Ruas (2003) informa haver inúmeras concepções referentes aos elementos que compõem as competências individuais. Contudo, ressalta, também, que essa variação não impede que esses recursos se concentrem em torno do referido CHA. A Organização evidencia, ainda, que as competências pessoais sustentam as competências corporativas e, também, que as competências das pessoas desdobram-se em competências fundamentais de liderança, fundamentais de equipe e competências específicas. 54 A Organização demonstra que as competências fundamentais de liderança, que se encontram diretamente relacionadas ao objeto deste trabalho, visto serem exigidas dos empregados detentores de atribuições com características de gestão, configuram uma expectativa da Empresa visando à efetivação do plano estratégico da Instituição. E, como tal, são divulgadas as referidas competências, quais sejam: a liderança pelo exemplo, que se traduz em influenciar e inspirar as pessoas de forma favorável; o domínio dos assuntos necessários ao desempenho das atividades pelas quais responde, que visa propiciar a análise da situação e proposição da devida ação pelo gestor, pressupondo um largo conhecimento negocial e mercadológico; o desenvolvimento próprio e da equipe, identificando as necessidades de desenvolvimento, a fim de viabilizar o contínuo aprimoramento dos empregados, visando direcionar esforços para o alcance dos objetivos estratégicos organizacionais; o foco no cliente, criando soluções para assegurar um atendimento qualificado e tempestivo, conferindo absoluta prioridade ao cliente; e o incentivo e prática à inovação, que configuram a promoção de um ambiente cooperativo, que propicie novas soluções, sempre voltadas a resultados positivos para os produtos, serviços e processos da Empresa. Faz-se importante, também, para o trabalho que ora se apresenta, conhecer os objetivos que constam do Plano Estratégico (PE) da Organização, no que se refere, especialmente, às competências relacionadas às atribuições de liderança requeridas de seus gestores. Dentre esses objetivos do referido PE, a Instituição elenca o reconhecimento como uma das empresas em excelência nas práticas de gestão de pessoas, a existência de uma cultura organizacional voltada para o resultado estratégico, a existência de competências demandadas pela estratégia e a construção de uma equipe de alta performance, dentre outros. Visando ao alcance desses propósitos, torna-se relevante o desempenho satisfatório de cada empregado, para o que é fundamental o efetivo exercício e desenvolvimento das competências que dele são esperadas. 55 5- ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Conforme mencionado, a análise dos resultados fez-se por meio de dois procedimentos, quais sejam: a análise documental e a análise de conteúdo das entrevistas. 5.1 Análise de documentos Foram submetidos à análise os seguintes documentos fornecidos pela Instituição bancária estudada: manual normativo da empresa; PE da Organização, que compreende o período de 2012 a 2022; cartilha referente ao modelo de competências adotado pela Empresa, elaborada em 2014, sob a organização da diretoria executiva de gestão de pessoas e vicepresidência de gestão de pessoas. A análise dos referidos documentos permitiu compreender a abordagem conceitual da Organização em relação ao tema deste estudo, mostrando-se suficiente para esclarecer o modelo de competências que adota. Visando assegurar o sigilo das informações da Instituição, a apresentação desse modelo restringiu-se aos dados imprescindíveis ao desenvolvimento da análise pretendida, tendo-se adotado a denominação de Banco Alpha para a Empresa, em respeito ao acordo de confidencialidade por ela estabelecido para a pesquisa. Os documentos consultados permitiram descrever o contexto deste estudo, ou seja, características e objetivos que guiaram as decisões do Banco na determinação de seu modelo de competências. Maiores detalhes acerca das informações obtidas a partir da análise documental realizada constam da seção deste trabalho intitulada contexto de estudo. Em linhas gerais, por meio dessa análise documental, pôde-se perceber uma série de aspectos significativos. São eles: que a Instituição, em tese, confere importância ao tema ao considerar que o domínio de determinadas competências leva o Banco a uma performance superior; que concebe o modelo de competências como instrumento de desenvolvimento de pessoas; que o elaborou focando a missão, visão e planejamento estratégico da Empresa; que distingue competências corporativas e individuais; que compreende essas últimas como a combinação de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA) do sujeito, em coerência com a perspectiva norte-americana de competências; que essas competências individuais se desdobram em competências específicas, de equipe e de liderança; que essas últimas, mais diretamente relacionadas ao presente estudo, incluem liderança pelo exemplo, domínio dos assuntos necessários ao desempenho de suas atividades, desenvolvimento próprio e da equipe, foco no cliente e incentivo à inovação. 56 A análise documental realizada também permitiu identificar, dentre os objetivos estratégicos da Organização, em especial, a intenção de ser reconhecida como uma das empresas em excelência na prática de gestão de pessoas, além da construção de uma equipe de alta performance. Para tanto, é importante que os funcionários desempenhem satisfatoriamente as competências que lhes são requeridas – aspecto para o qual esta pesquisa visa trazer algumas contribuições. 5.2 Análise de conteúdo das entrevistas Nesta etapa da análise, os entrevistados receberam denominações compatíveis com os cargos que exercem, a fim de se manter o sigilo de suas identidades. Os gestores, que são lotados em Belo Horizonte, foram identificados por G1, G2, G3, G4 e G5, enquanto os membros da direção da Empresa receberam as designações D1 e D2, conforme discriminado a seguir no quadro 1. Quadro 1 – Identificação dos entrevistados conforme o cargo exercido na organização e o gênero Sujeito Cargo Gênero G1 Gerente Pessoa Física Feminino G2 Gerente Pessoa Física Feminino G3 Gerente Pessoa Física Masculino G4 Gerente Pessoa Física Feminino G5 Gerente Pessoa Física Feminino D1 Gerente Nacional Masculino D2 Diretora Executiva Feminino Fonte - Elaborado pela autora da dissertação. Para a elaboração de cada uma das categorias de análise, consideraram-se, a priori, os objetivos da pesquisa, os dados coletados por meio de fonte documental, bem como os próprios roteiros que conduziram os questionamentos junto aos entrevistados. A partir disso, foram definidas quatro categorias, quais sejam: a abordagem conceitual de competência, as competências prioritárias para o alcance de objetivos do PE da Organização, as competências efetivamente exercidas pelos gestores e os dificultadores que se impõem para o exercício das competências exigidas dos gestores conforme aquele P.E. 57 A primeira categorização feita, que foi a definição em torno do conceito de competência, justificou-se pela necessidade de se identificar a concepção dos funcionários da Empresa em relação ao tema, bem como de se investigar a existência, ou não, de um alinhamento conceitual, dentro da Organização, no que se refere a essa temática, objeto principal do estudo. No que diz respeito à verificação de uniformidade desse conceito, surgiu, inclusive, o interesse de se averiguar, por meio da pesquisa, a existência de posicionamentos coincidentes ou divergentes dos gestores, dos quais as competências analisadas são exigidas, em relação aos membros da direção da Instituição, que foram responsáveis pela definição daquelas competências. A segunda categoria criada, que se refere às competências prioritárias para o alcance do PE, foi definida pela importância de se verificar se as competências fundamentais de liderança, determinadas pela direção da Organização analisada, são efetivamente conhecidas pelos gestores da empresa e com que grau de valoração são por eles consideradas. A terceira categoria, que envolve as competências efetivamente exercidas pelos gestores, foi concebida com a pretensão de se investigar se as capacidades dos gestores da Organização convergiam ao encontro das competências fundamentais de liderança definidas pela direção da empresa e cujo exercício lhes é exigido. A importância dessa categorização residiu na oportunidade de se apurar, por meio da pesquisa, lacunas existentes entre as competências requeridas dos gestores e aquelas que vêm sendo hoje, de fato, por eles exercidas. Esse é um levantamento que talvez possa contribuir, de alguma forma, para o incremento das ações de gestão por competências da Instituição Financeira analisada. A quarta categoria selecionada, que diz respeito aos dificultadores existentes para o exercício daquelas competências fundamentais de liderança exigidas dos gestores da Organização, visou identificar a existência de eventuais desafios, sob esse aspecto, que possam prejudicar o alcance dos objetivos correlatos que constam do PE do Banco Alpha. A figura 3 representa, visualmente, a categorização ora descrita, com cada uma de suas subcategorias criadas e que serão mais bem esclarecidas em seguida. 58 Figura 3 - Categorização e subcategorização da pesquisa Fonte - Elaborado pela autora da dissertação. Uma vez realizada a leitura das entrevistas e a internalização das respostas pela pesquisadora, foram selecionados os trechos das mesmas que respondiam as questões propostas e se enquadravam nas categorias predefinidas. Categoria 1 – Conceito de competência A primeira questão dizia respeito ao conceito de competência e as respostas dos entrevistados se mostraram diferenciadas, algumas delas correspondendo diretamente ao conceito enunciado pelos autores citados no referencial teórico e outras resultantes de inferências feitas pelos sujeitos de pesquisa. “Competência é primeiramente você estar apto a exercer uma atividade e se aprimorar aquilo, estudar, entender como aquilo funciona para que você tenha noções de exercer aquilo que te é demandado da melhor maneira possível. O meu conceito de competência é mais ou menos isso.”Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) 59 A conceituação do entrevistado G3 tende a se aproximar da anterior “Competência é saber executar alguma atividade, seja ela qual for .... Enfim, você tem que ter aquela capacidade de executar uma determinada tarefa . Eu vejo dessa maneira, competência é isso, para o nosso trabalho aqui a gente tem que ter diversas competências em níveis bons, elevados.” Entrevistado G3 (grifos da autora da dissertação) Analisando esses conceitos emitidos por dois gerentes, verifica-se uma ênfase em torno da execução das tarefas, do saber-fazer ou do estado de aptidão para a realização de uma atividade. O primeiro entrevistado acaba por se estender um pouco mais ao mencionar a necessidade de entender como aquilo funciona, o que pode caracterizar o conhecimento necessário. Os componentes da competência individual – conhecimentos, habilidades e atitudes -, entretanto, não chegam a ser todos explicitados nos dois relatos mencionados, como propõem Fleury (2006), Ruas (2007) e outros autores. Contudo, para a execução de uma tarefa, o empregado deve apresentar habilidades sem, porém, prescindir de conhecimentos e atitudes definidas, como destaca a corrente anglo-saxônica; ou deve contar com o savoirfaire, mas sem desconsiderar os atributos do saber e do saber-ser, conforme menciona a corrente francesa. O entrevistado G4 elabora uma abordagem conceitual também em estreito alinhamento com a concepção dos gestores já mencionados, apresentando, de forma ainda mais incisiva, a habilidade como elemento central diretamente relacionado à competência. “Eu entendo competência como uma questão relacionada com as habilidades que o profissional deve ter. E a meu ver muito relacionada com a parte das habilidades que a gente pode construir a partir do estudo, a partir do desejo das pessoas. A competência, na minha perspectiva, ela tem a ver com isso, com as habilidades esperadas. Por exemplo, no contexto do Banco Alpha, com o exercício de uma atividade. Para mim competência é habilidade.” Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Pode-se perceber, todavia, que, apesar de a fala do entrevistado também relaciona a competência com as habilidades, denota uma nítida preocupação em relação às atitudes, visto que identifica o conceito com a construção de habilidades esperadas, decorrentes do desejo das pessoas. Vê-se, ainda, que essa é uma manifestação que vai ao encontro da definição traçada, pela Organização investigada, de atitude como uma predisposição para a realização 60 das ações, o que está muito claro na Cartilha de Competências elaborada pela Empresa, conforme já mencionado. “Eu entendo por competência aquilo que faz parte do meu dia a dia, o que me compete: me compete fazer o que na empresa? O que que a empresa espera de mim e o que que eu me preparo, o que que eu me moldo, o que eu leio, o que eu aprendo”. Entrevistado G2 (grifos da autora da dissertação) O entrevistado G2, confirmando essa tendência de valorizar a competência organizacional, também leva em conta a expectativa da Empresa sobre o que lhe compete fazer, indo ao encontro, portanto, dessa modelagem de comportamento esperado pela Organização. Essa conceituação, contudo, de certa forma, desconsidera o indivíduo, no que compõe seu quadro de conhecimentos, habilidades e atitudes, supervalorizando a expectativa da Empresa. “Competência ... é conhecimento, ... não só conhecimento, é um conjunto, assim cultura, está envolvida habilidade das pessoas, atitude também eu acho que está bem inserida no conjunto de competências. Não adianta um só então”.Entrevistado G5 (grifos da autora da dissertação) Nota-se, pelo relato, portanto, que o gestor constrói uma abordagem conceitual acerca da competência bem mais completa do que a dos demais entrevistados, demonstrando ter clara noção de se tratar de um conjunto de capacidades composto pelos elementos conhecimento, habilidade e atitude, que não se bastam por si só. De forma distinta, os outros gestores, cujos depoimentos foram expostos, restringiram o conceito de competência à tão somente uma capacidade, qual seja, a habilidade ou a atitude. Dessa maneira, no relato obtido junto ao entrevistado G5 restou evidenciado total alinhamento com a concepção em torno do tema adotada pela Instituição bancária analisada, em que se prima pelo CHA, conforme expresso naquela cartilha de competências elaborada pela diretoria executiva e pela vicepresidência de gestão de pessoas da Empresa. Tomando-se, por seu turno, o depoimento dos entrevistados D1 e D2, verifica-se uma aproximação conceitual em relação à abordagem de competência organizacional, o que, certamente, condiz com o cargo que ocupam na diretoria e gerência nacional da Empresa. “Competência nesse sentido que a gente usa na empresa tem a ver com espécie de modelagem de comportamento esperado por parte da empresa em relação aos empregados, colaboradores, tendo em vista o objetivo empresarial a ser 61 atingido, a missão, a visão do banco Alpha. Então, o banco Alpha parte sempre do Planejamento Estratégico”. Entrevistado D1 (grifos da autora da dissertação) “A gente está trabalhando um pouco mais focado no objetivo de sintetizar competência como entrega mesmo, comportamentos de entrega . A gente estabeleceu o estilo de liderança que tem que agregar ... competências que a gente identificou como as prioritárias para o nosso momento, para o alcance dos objetivos estratégicos da empresa “.Entrevistado D2 (grifos da autora da dissertação) Analisando a produção científica relativa aos principais resultados do debate sobre competências, Ruas (2005) avaliou doze artigos orientados para os temas organizacionais, revelando que a articulação das competências com a estratégia compreende duas grandes interações. A interação estratégica, que trata da adaptação e definição do portfolio de competências organizacionais à estratégia a fim de sustentá-la, e a interação operacional entre as competências organizacionais definidas como estratégicas e as competências de grupos e pessoas nas atividades operacionais da empresa. Ou, se quisermos, a interação com o dia a dia a partir da qual se desenvolve o projeto de gestão de pessoas por competência. (RUAS et al., 2008, p.19) Percebe-se, na fala dos entrevistados D1 e D2, a busca dessas modalidades de interação e nota-se que eles falam do lugar que ocupam na organização – diretoria executiva de gestão de pessoas e gerência nacional de gestão de competências. Considerando esse contexto, é possível compreender por que os gerentes falam em comportamento esperado, enquanto D1 e D2 prefiram se referir aos termos modelagem de comportamento ou comportamento de entrega. Ao que se imagina, o comportamento esperado remete, a princípio, a algo mais superficial, talvez relacionado apenas ao desempenho de tarefas e atividades prescritas para uma determinada função. A ideia do comportamento de entrega, por sua vez, parece pressupor um envolvimento maior, uma dedicação e um comprometimento mais amplos, que resultem no fato de o funcionário doar-se inteiramente, confiar e comportarse, nas palavras do próprio Banco, como dono do negócio. Dessa forma, face a todos os relatos, pôde-se perceber que os gerentes fizeram referência aos componentes do CHA, mesmo que sem mencionar todos os seus elementos, como abordagem conceitual da competência, ao mesmo tempo em que associaram o conceito ao que a empresa espera deles. Contudo, verifica-se que essa associação foi feita sem maiores 62 inferências em torno da questão. Por esse motivo, os depoimentos desses gestores foram enquadrados na subcategoria criada sob a identificação de CHA/Comportamentos esperados. A alta direção da Empresa, por sua vez, que inclusive esteve responsável pela elaboração da cartilha de competências da Organização, em que o tema se encontra expressamente definido sob os pilares do CHA, demonstra, por meio dos depoimentos já mencionados, uma nítida associação da temática da competência a uma modelagem desse comportamento esperado dos empregados tendo em vista os objetivos organizacionais a serem alcançados, com um efetivo comportamento de entrega dos colaboradores para alcance das estratégias da Empresa. Dessa forma, as manifestações dos membros da direção foram reunidas na subcategoria criada sob a denominação de CHA/Comportamentos de entrega. É importante realçar que o planejamento estratégico leva em consideração o que a Empresa espera realizar, identificando de forma bem clara qual o plano da organização para um determinado período. Entretanto, não se pode perder de vista que esse plano depende das pessoas e das competências desenvolvidas por elas. Por esse motivo, deve-se dar relevo aos conhecimentos, habilidades e atitudes que os sujeitos precisam desenvolver para que os objetivos da empresa sejam atingidos sem prejuízo dos objetivos pessoais. Categoria 2 - Competências prioritárias para o exercício do PE A categoria 2 detém-se nas respostas dadas pelos entrevistados em torno de quais seriam as competências prioritárias para o exercício do PE da Empresa. No que se refere a essa categorização, cumpre salientar, antes de qualquer inferência, conforme já exposto, que a cartilha correspondente ao modelo de competências do Banco Alpha definiu quais são as competências fundamentais de liderança adotadas pela Organização, assim entendidas como aquelas que serão esperadas dos empregados detentores de função gratificada com característica de gestão, quais sejam: liderança pelo exemplo, domínio dos seus assuntos, desenvolvimento próprio e da equipe, foco no cliente, bem como o incentivo e prática à inovação. Ainda nessa categorização, devido à percepção de respostas bem destoantes, julgou-se necessária a criação de duas subcategorias, quais sejam: aquela subcategoria que contempla relatos que mencionam não existirem prioridades dentro do âmbito de competências analisado, visto entenderem os entrevistados que todas elas compartilham de significância, não havendo uma competência de maior importância que as demais, e que, inclusive, se completam; e aquela subcategoria que considera relatos que destacam algumas competências 63 como prioritárias naquele mesmo âmbito de avaliação. Na primeira situação, enquadram-se as falas dos entrevistados G1, G3, G4, D1 e D2, que não apontam prioridade alguma. Na segunda, enquadram-se os relatos dos entrevistados G2 e G5, sendo que aquele prioriza o foco no cliente e este, o foco no cliente, a liderança pelo exemplo e o desenvolvimento próprio e da equipe. Sob esse aspecto, cabe observar o relato de um dos diretores da empresa. “Então para ter sustentabilidade nesse nosso ramo tem que desenvolver essas. Eu daria conta de decorar até seis, sete, cinco, mais que isso não. Tinha quinze, né!? É muita coisa. Cada uma tinha não sei quantos desdobramentos. Era muita coisa para ser observada e aí eu acho que pode se perder. Acho que a gente tem que simplificar. Parece que para a estratégia que a gente vem fazendo, a estratégia que foi colocada, do jeito que está, está de bom tamanho”. Entrevistado D1 (grifos da autora da dissertação) O esclarecimento do diretor evidencia ter havido uma evolução no modelo de competências da Empresa, bem como denota que isso se deu em função da percepção da Organização quanto à dificuldade de se exigir um grande número de competências dos gestores. Dessa forma, ao serem indagados acerca do eventual reconhecimento de competências prioritárias, os entrevistados foram investigados no âmbito de exercício daquelas cinco já referidas, que constam da cartilha da Organização e são exigidas dos gestores da Empresa. Uma das respostas dadas pelos gerentes inquiridos foi a seguinte: “Todas são muito importantes. Na verdade, o conjunto que compõe a Gestão Completa.” (G1) (grifo da autora) Essa manifestação nega o reconhecimento de prioridade de uma ou algumas das competências e, ao referir-se ao conjunto que compõe a ‘gestão completa’, o relato demonstra que esse gestor está voltado para as competências organizacionais e não chega a mencionar as competências individuais dos trabalhadores da Organização estudada. Outro posicionamento que indica não ser admitida, pelo profissional, a existência de competências que a organização trate com mais relevância que as demais foi dado pelo entrevistado G3: “para o nosso trabalho aqui a gente tem que ter diversas competências em níveis bons, elevados.” (grifo da autora) Essa resposta não evidencia a priorização de uma competência, não esclarece se faz referência à competência organizacional ou individual, nem mesmo identifica quais seriam aquelas requeridas, tão pouco em que níveis seriam desejáveis. Em uma linha de compreensão similar àquela manifestada pelos gestores G1 e G3, tem-se a posição do entrevistado G4. 64 “Se você fizer uma leitura do modelo como um todo você vai ver que cada competência dessa tem a sua importância, e diante de uma deficiência dessas competências você vai ter algum prejuízo no seu trabalho”. Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Da mesma forma que o relato dos entrevistados G1 e G3, a fala do gerente G4 não aponta existir uma competência de maior importância dentre aquelas que foram objeto da entrevista. De maneira semelhante ao que também salientou G1, a mesma fala faz referência ao caráter de completude de cada uma das mencionadas competências que, se não observado, prejudicará o resultado em âmbito profissional. Contudo, diferentemente da interpretação trazida pela manifestação do entrevistado G3, que se limita a mencionar a necessidade de diversas competências, a fala do gerente G4 destaca que cada competência tem a sua relevância particular, a sua parcela de significância. De forma similar, assim se manifesta o entrevistado D1. “São essas competências atreladas uma a outra. O líder, ele tem o estilo, então ele tem que ter todas. E aí eu vou avaliar o ponto geral do estilo dele. O que importa é o desenvolvimento do conjunto da obra. . Então, eu vou agregar outra palavra que é assim, para que haja sustentabilidade o gestor tem que atuar nesse conjunto de competências. Então, não é para ter uma competência mais importante, não existe isso. Entrevistado D1 (grifos da autora da dissertação) Ainda em relação à essa categoria, tem-se a posição do entrevistado D2. “A gente estabeleceu o estilo de liderança que tem que agregar no mínimo as competências que a gente identificou como as prioritárias para o nosso momento, para o alcance dos objetivos estratégicos da empresa. A gente está trabalhando no sentido de, estabelecendo o que a gente está chamando de estilo de liderança , desenvolver em todos os nossos gestores essas competências, cada uma delas se abrem alguns comportamentos, como uma graduação, com complexidades diferentes. Toda liderança tem que ter esses elementos evidenciados, mas em níveis diferenciados de acordo com as suas atribuições, a sua função, o seu papel na organização”. Entrevistado D2 (grifos da autora da dissertação) A resposta desse membro da direção da Empresa evidencia sua identificação com o PE, bem como com as competências que o líder deve apresentar. Esse tipo de identificação se torna muito relevante, nesse caso, visto que a expectativa é de que um diretor de uma 65 organização tenha clareza sobre o que ela define como estilo de liderança e sobre as competências que esse estilo requer. Verifica-se, pelos relatos, que todos os gerentes acima referidos compreendem não existir uma competência, em especial, de maior relevância que as demais e, ainda, reconhecem que se completam em um conjunto imprescindível ao exercício da gestão. Da mesma maneira, esse é o entendimento dos entrevistados D1 e D2, o que denota um alinhamento sob esse aspecto, de uma forma geral, dos gestores em relação à direção da organização. Esse conjunto de manifestações, portanto, veio a formar a subcategoria identificada sob a designação de Todas as competências, que traz a noção de que todas as cinco competências são igualmente importantes para o exercício da gestão, quais sejam: o foco no cliente, a liderança pelo exemplo, o desenvolvimento próprio e da equipe, o domínio dos conhecimentos, bem como o incentivo à prática da inovação. Já o entrevistado G2 emite a seguinte resposta. “Eu entendo que esses cinco temas, esses cinco assuntos, eles estão alinhavados. Então eles se completam. Eu acho assim, que de todos eles, se eu tivesse que definir um mais importante seria o foco no cliente. Quando você tem o foco no cliente, o resto vem naturalmente. Quando eu sento com o cliente, ouço o que ele tem para me falar, ouço qual que é a perspectiva dele, qual que é a expectativa dele do produto, se eu presto o atendimento completo de entender o que o cliente quer, oferecer o produto é um segundo passo. Então eu preciso entender qual que é a necessidade, é ouvir o cliente, é ver o que ele está esperando da empresa”.Entrevistado G2 (grifos da autora da dissertação) O entrevistado G5, por sua vez, ao ser questionado acerca de eventuais competências prioritárias, assim se manifestou. “Eu acho que desenvolvimento próprio e da equipe seja uma prioridade, isso é constante né, então a gente tem que passar isso para a equipe, não só eles tem que aprender, a gente também. De tão dinâmico que é o processo, a gente está sempre aprendendo né, tem que estimular nesse desenvolvimento da equipe também; Liderança pelo exemplo hoje também é indispensável, que se você não conseguir passar confiança, credibilidade, comprometimento com a equipe, como vai atingir as metas, sair o resultado... E foco no cliente, hoje a própria política da empresa está voltada para isso e não no produto, que já foi uma época que 66 era no produto. E atualmente, assim, a gente está trabalhando com foco no cliente, conhecer o cliente para oferecer os produtos certos, trazer o cliente mais para cá, para aumentar o relacionamento, a reciprocidade. Então, vou conhecendo o cliente, tenho um relacionamento com ele e naturalmente as coisas veem, porque o banco Alpha, com certeza, tem os melhores produtos”. Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) Retomando a cartilha elaborada pela Organização, verifica-se que as cinco competências requeridas para o exercício da gerência são apresentadas em bloco, sem a valorização maior de uma delas. Esses últimos dois gestores, ao priorizarem o foco no cliente, em especial, bem como a liderança pelo exemplo e o desenvolvimento próprio e da equipe (no caso do entrevistado G5), tornam evidente uma visão particular de gerência, segundo a qual o cliente merece um tratamento especial que leve à sua satisfação em relação à Empresa, além da preocupação com o aprimoramento da equipe. Tomando-se os depoimentos dos gestores G2 e G5 e relacionando-os ao estilo de liderança, pode-se afirmar que esses posicionamentos aproximam-se da perspectiva de liderança transacional, aquela que leva o sujeito a buscar os objetivos a partir da valorização das normas da empresa. Esses dois últimos depoimentos, que levam ao entendimento de que algumas competências podem se mostrar, ainda que circunstancialmente, mais relevantes que as demais, contribuíram para gerar a subcategoria intitulada Seleção de algumas competências, em oposição àquela que envolve os relatos segundo os quais as cinco competências prioritárias seriam igualmente importantes, ao que se designou Todas as competências. Pode-se perceber, ainda, pelos relatos de D1 e D2, gerente nacional e diretora executiva da Empresa, respectivamente, que a direção da Organização converge para o mesmo entendimento levantado junto a maior parte dos gerentes entrevistados de que, dentre as cinco competências requeridas, não há que se considerar uma com maior importância que as demais. Contudo, verifica-se que a fala daquela direção esclarece que todos os gestores devem desenvolver as cinco competências priorizadas pela Empresa, mas em níveis de graduação diferenciados conforme as atribuições exercidas e o cargo ocupado pelo gestor, o que é definido hoje, pela Organização, por meio de estilos de liderança. Em que pese o esclarecimento da direção da Empresa ser bastante coerente, nenhum dos entrevistados demonstrou, porém, conhecer esses diferentes graus de prioridade sob o qual devam ser exercidas, por eles, aquelas cinco competências analisadas, conforme as funções desempenhadas, tão pouco manifestaram compreensão acerca do empenho da 67 Organização pela definição daqueles estilos de liderança. Assim, essa talvez possa ser uma lacuna importante a ser trabalhada, pelo Banco Alpha, visando o incremento da implementação do modelo de gestão de competências. Categoria 3 - Competências exercidas conforme o PE Ressalte-se que, para essa categorização, considerou-se o rol das cinco competências requeridas dos gestores, pelo Banco Alpha, e que constam do modelo de gestão de competências da Empresa, conforme já referido. Nessa categoria, devido à obtenção de respostas bastante divergentes, novamente julgou-se oportuna a criação de subcategorias, quais sejam: uma subcategoria que reúne os relatos que identificam o foco no cliente como competência prioritária, nomeada foco no cliente; uma segunda, cujos depoimentos consideram a liderança pelo exemplo como uma prioridade, identificada como liderança pelo exemplo; uma terceira, cujas falas manifestam a interpretação de ser o auto-desenvolvimento e o da equipe a competência de maior relevância; aqui denominada desenvolvimento próprio e da equipe; uma quarta subcategoria, chamada graduações de competência/estilos de liderança, em que estão contempladas falas em que se mostra nítido o entendimento quanto à imprescindibilidade do exercício daquelas cinco competências por todos os gestores, mas sendo ressaltada a necessidade de haver níveis de graduações para cada uma delas, o que configuram os estilos de liderança. Por fim, tem-se a subcategoria intitulada outros, em que foram consideradas respostas que diferiam do acima exposto, visto tratarem de questões ligadas ao domínio dos assuntos, bem como à inovação. Na primeira situação, enquadram-se falas dos entrevistados G1 e G2. Na segunda e na terceira subcategorias, enquadram-se relatos dos entrevistados G1 e G3. Na quarta subcategoria, foram considerados relatos dos entrevistados D1 e D2, que compõem a alta direção da Empresa. Na quinta, foram contempladas respostas apenas do gerente G1. Questionado acerca da eventual necessidade de desenvolvimento pela Organização, em especial, de uma ou mais daquelas cinco competências fundamentais de liderança, o entrevistado D1, responsável por gerir, em âmbito nacional, o modelo de competências da Instituição analisada, assim se manifestou. “Eu não tenho esse panorama. Daqui a seis meses provavelmente, nós vamos saber qual a competência, qual o estilo em que o empregado está mais desenvolvido e outros nem tanto. A gente vai conseguir ter essa visão. É o que vai ser 68 tratado como uma das consequências da avaliação de desempenho” Entrevistado D1 (grifos da autora da dissertação) Assim esclareceu melhor aquele gerente nacional. “Ah, ele tem muito estilo e tem pouco resultado, então precisa ser desenvolvido algo que remete mais ao resultado. Ah ele tem muito resultado e baixo estilo, então ele precisa de um desenvolvimento que remeta mais à melhoria do estilo porque esse resultado bom alcançado por ele não será sustentado”. Entrevistado D1 Pelo relato exposto, nota-se que há uma pretensão, por parte da direção da Organização, de apurar as competências que estão sendo adequadamente exercidas pelos gestores da Empresa, bem como aquelas que carecem de um aprimoramento. Vê-se, ainda, que já se definiu que esse levantamento se dará em decorrência de procedimento de avaliação de desempenho e por meio da apreciação dos estilos de liderança apresentados pelos empregados, visando assegurar os resultados sustentáveis do Banco Alpha. De forma similar, a entrevistada D2, que também está na alta direção, ocupando uma diretoria executiva da Empresa, informou existir a mesma preocupação em torno do exercício das competências requeridas dos gestores e mencionou, também, aquele referido trabalho voltado para o desenvolvimento dos empregados, relacionado a desempenho e estilos de liderança. “A gente agora está trabalhando um pouco mais focado no objetivo de sintetizar competência como comportamento de entrega. E a liderança requer alguns comportamentos de entrega, algumas competências. Então, a gente estabeleceu o estilo de liderança que tem que agregar no mínimo as competências que a gente identificou como prioritárias para o nosso momento, para o alcance dos objetivos estratégicos da empresa. Então, a gente está trabalhando no sentido de, estabelecendo o que a gente está chamando de estilo de liderança do Banco Alpha, desenvolver em todos os nossos gestores essas competências e cada uma delas se abre em alguns comportamentos, como uma graduação com complexidades diferentes”. Entrevistado D2(grifos da autora da dissertação) A diretora esclareceu, ainda, a necessidade de se tratar as mesmas competências com graduações diferenciadas. “Porque eu exijo de um gerente, um gestor de unidade, por exemplo um gerente geral de agência, essas competências mas 69 em um grau X e eu exijo de um gerente de relacionamento as mesmas competências em um grau Y. Então, ela tem uma graduação que varia de acordo com a função exercida. Toda liderança tem que ter esses comportamentos evidenciados, mas em níveis diferenciados, de acordo com as suas atribuições, a sua função, o seu papel na organização”. Entrevistado D2 (grifos da autora da dissertação) Ao ser indagada, no curso da entrevista, acerca de todos os questionamentos que constam do roteiro previamente elaborado, pôde-se perceber que a gestora G1 tem uma clareza muito grande quanto à demanda da Instituição pelo desenvolvimento de todas aquelas cinco competências fundamentais de liderança, objeto desta pesquisa. “Eu sou uma gestora, digamos assim, que eu bato muito no princípio da capacitação da minha equipe, então eu estou sempre incentivando os meninos a estudar, procurar o conhecimento, porque eu acho que, a partir disso, a gente tem uma boa gestão de pessoas e consegue dar ao cliente o foco necessário, atendendo a necessidade dele. Então talvez essa questão da equipe, o desenvolvimento e o nosso autoconhecimento para estar passando para eles também”. Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) Percebe-se que, no mesmo relato, a gerente menciona o domínio do conhecimento, o foco no cliente, bem como o autodesenvolvimento e o da equipe como competências necessárias e interligadas. Em um outro momento, a mesma gestora comenta acerca de mais uma competência definida como fundamental pela Empresa: “Então liderar pelo exemplo eu sempre falo com os meus colegas aqui dentro do meu segmento que eu espero deles o que eu espero de mim mesma, então eu tento ser o que eu seria se eu tivesse ali onde eles estão.” Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) Pela fala extraída, nota-se que a gerente declara o cuidado de tornar a liderança pelo exemplo uma prática constante, o que vai ao encontro das premissas da Organização, que define, também essa, como uma competência fundamental. No que se refere ao incentivo à prática da inovação, ela assim se manifesta. “Tudo que a gente vê de novidade a gente está compartilhando, teve uma ideia traz.” Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) 70 Por todo o exposto, percebe-se um alinhamento da postura da gerente, em relação ao posicionamento da direção da Empresa, no que se refere à necessidade de os gestores desenvolverem todas aquelas cinco competências fundamentais de liderança objeto deste estudo. Contudo, por tudo o que foi falado pela entrevistada, não restou evidenciado que a gerente tenha a noção necessária de que aquelas competências devam ser exercidas pelos gestores em graus diferenciados, conforme a sua função desempenhada na Instituição. Tão pouco foi demonstrado, por essa gestora, alinhamento com a política de desenvolvimento de estilos de liderança definida pela Organização, que visa exatamente aprimorar o desenvolvimento das referidas competências na medida certa. No momento da coleta de dados, o entrevistado G2, por sua vez, demonstrou encontrar bastante dificuldade para o exercício de praticamente todas aquelas competências fundamentais de liderança. Em relação ao foco no cliente, assim se manifestou. “O foco no cliente é o que desencadeia tudo isso. Se eu não tenho cliente, para que eu vou liderar? Se eu não tenho cliente, para que que eu tenho equipe? O sentido da existência da empresa, da nossa atividade, é o cliente”. Entrevistado G2 (grifos da autora da dissertação) Pelo exposto, é nítida a noção da gerente quanto à importância conferida, pela Empresa, para a competência relacionada ao foco no cliente. No que se refere às demais competências, esse foi o posicionamento daquela gestora. “Não adianta também eu me informar, ler, saber o que é o produto tecnicamente, entender todo o normativo, saber de cor e salteado, se quando o cliente está na minha mesa eu não sei ouvir e não sei entender que é aquele produto que ele quer. A liderança pelo exemplo eu acho que envolve até um pouco de caráter. Eu acho que está mais ligado ao perfil, porque não adianta falar, adianta mostrar. Vai da pessoa. Eu posso falar para você o tempo inteiro o que que é certo, mas se você não fizer não adianta. Mudança nunca é fácil. Ninguém fala assim: ‘Nós vamos mudar”. Entrevistado G2 (grifos da autora da dissertação) É notório que, diferentemente da outra gestora, a competência relacionada ao domínio dos conhecimentos necessários não é percebida com a mesma importância por essa gerente G2. Da mesma forma, neste relato, fica evidenciada a compreensão da liderança pelo exemplo como algo que ultrapassa as questões técnicas, envolvendo traços de caráter do indivíduo. 71 Pode-se perceber, ainda, uma resistência da própria gerente em relação às inovações, cujo incentivo lhe é exigido pela Organização. Essa análise denota um distanciamento maior da gestora em relação à premissa da direção da Empresa, quanto à imprescindibilidade de desenvolvimento das cinco competências fundamentais de liderança por todos os gestores da organização, mesmo que em graus diferenciados. Trata-se de um diagnóstico que talvez possa contribuir para que o Banco Alpha desperte o interesse de averiguar se, em âmbito global, as competências fundamentais de liderança estão bem disseminadas dentro da Instituição. No curso da conversa realizada com o entrevistado G3, ao se questionar a respeito do domínio dos conhecimentos necessários, essa foi a manifestação do gerente. “Se chegar uma pessoa aqui querendo saber sobre um monte de coisas, no atendimento comercial a gente não necessariamente tem que saber tudo, mas a gente tem que ter também a capacidade e o discernimento de direcionar. Isso tem a ver com a competência da pessoa também, resolver todos os problemas até aquele nosso limite de conhecimento e, em um segundo momento, direcionar a demanda para quem possa atender a pessoa”. Entrevistado G3 (grifos da autora da dissertação) Esse relato denota uma consciência quanto à importância das informações, mas, mais que isso, sugere atitude, definida como um elemento do CHA, dentro da perspectiva norteamericana, ou saber-ser, como elemento da concepção francesa de competência. Dessa forma, no que se refere à competência relacionada ao domínio dos conhecimentos, a compreensão do gestor demonstra alinhamento com as premissas da Organização analisada, que se aproxima daquela primeira perspectiva. Em outro questionamento, assim se posiciona o mesmo gerente. “Às vezes, a pessoa acha que não tem capacidade porque não tem a função, aí você tem que fazer os meninos desapegarem disso. Se você tenta resolver e não conseguiu, aí fala que você vai passar para o seu superior, mas não fala que você vai passar para o seu gerente porque você não sabe. A não ser que seja uma coisa de outro mundo, que você vai pegar a demanda e depois a gente resolve junto. Nunca diga ‘aquele ali é o gerente’ porque se não você vai perder toda a confiabilidade do cliente, você vai perder todo o respeito que os outros clientes tem e dos seus colegas, uma vez que eu já te dei toda a prerrogativa”. Entrevistado G3 (grifos da autora da dissertação) 72 Essa manifestação evidencia a prática do desenvolvimento da equipe, por sua vez também competência fundamental de liderança exigida de todos os gestores da Empresa, o que denuncia um estreitamento em relação às diretrizes organizacionais. Ao ser indagado em torno da competência relacionada à liderança pelo exemplo, essa foi a manifestação do gestor. “A melhor maneira de a pessoa aprender é se espelhando no gestor dele. (...) a gente tenta orientar, tenta mostrar o caminho correto das coisas e a pessoa vai pegar o que realmente for de melhor. Eu, pelo menos, faço questão de deixar bem claro o que eu estou fazendo e falo o que eu não faço”. Entrevistado G3. Essa interpretação demonstra clara percepção do gerente em relação à importância da liderança pelo exemplo nas práticas ordinárias da Instituição, convergindo, portanto, para a concepção do Banco Alpha. No que se refere à competência relacionada ao incentivo à inovação, assim esclareceu o entrevistado. “Inovação mesmo a gente vai vendo no mercado, lendo em revista e tal e a gente tenta aplicar dentro do Banco Alpha na medida do nosso normativo.” Entrevistado G3 O relato demonstra observância, por esse gerente, de mais uma competência fundamental de liderança exigida pela Organização. De uma forma geral, o gerente acima referenciado mostrou-se em bastante consonância com as premissas da empresa, em que pese também não ter demonstrado reconhecimento de graduações diferenciadas, no âmbito de uma mesma competência, para gestores que ocupam posições distintas no Banco. Da mesma maneira, também não demonstrou conhecer a política da empresa no que se refere à definição de estilos de liderança. Ao ser indagado em torno do exercício da competência relacionada ao foco no cliente, o entrevistado G4 ponderou certo desafio. “Na perspectiva da empresa, esse foco no cliente está direcionado para aquilo que você consegue tirar de melhor em termos de lucro, em termos de rentabilidade, e, às vezes, na perspectiva do cliente, aquele que está querendo o serviço, está querendo o serviço, procurando um atendimento, a perspectiva dele é outra, a perspectiva dele não é dar lucro para a empresa. Esse relacionamento tem que ser balanceado. Tem uma tensão nisso aí, nesse relacionamento com o 73 cliente.Você não pode deixar de atender àquelas demandas do cliente, mas ao mesmo tempo não pode deixar de alcançar os resultados que a empresa se propõe a alcançar.” Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Verifica-se, pelo relato, que a gerente G4 demonstra o aspecto desafiador em se priorizar o foco no atendimento, na perspectiva do cliente, sem, contudo, deixar de alcançar os resultados almejados pela Organização, voltados para a obtenção de lucro e rentabilidade. No que se refere ao desenvolvimento próprio e de equipe, assim se manifestou o gestor G4. “Eu até acho que por ser empresa pública, ela tem criado oportunidades tanto de graduação, de incentivo à graduação, incentivo à pós-graduação, de incentivo a curso de idiomas, inclusive uma quantidade muito maior do que alguns anos trás, e isso permite, sim, o desenvolvimento próprio, o desenvolvimento de equipe. A minha leitura do ambiente empresarial atual é de que esse desenvolvimento ele fica muito a cargo do sujeito. É claro que a empresa, ela oferece as questões todas que eu não deixei de mencionar, só que acho que ela restringe um pouco nesse sentido. Ainda que o empregado tenha interesse de fazer uma atividade que vai exigir um pouco mais dele em relação ao horário, eu entendo que a empresa não tem essa flexibilidade.” Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Vê-se, por essa manifestação, que, na concepção da gerente, o exercício das competências relativas ao desenvolvimento próprio e da equipe encontra restrições no meio organizacional. Ao ser questionado em relação ao foco no cliente, o entrevistado G5 denotou certa familiaridade em torno dessa competência. “Hoje a própria política da empresa tá voltada para isso... foco no cliente... e não no produto. Conhecer o cliente... pra oferecer os produtos certos... e trazer o cliente mais pra cá... para aumentar o relacionamento... a reciprocidade. Então vou conhecendo o cliente.. tenho um relacionamento com ele e naturalmente as coisas veem porque o Banco Alpha com certeza tem os melhores produtos.. Entrevistado G5 (grifos da autora da dissertação) Nota-se, portanto, pelos depoimentos expostos, não ter havido a manifestação de uma subcategoria de forma mais incisiva, em detrimento das demais, tendo cada uma delas reunido o posicionamento dos gestores ou diretores de forma relativamente uniforme. 74 Categoria 4 - Desafios para o exercício das competências conforme o planejamento Nesta categorização, tendo em vista também terem-se apurado manifestações bastante divergentes, definiu-se pela criação de cinco subcategorias, quais sejam: aquela que aponta o insuficiência de capacitação como dificultador, nomeada capacitação; a que considera as questões normativas da organização bem como o enorme volume de mensagens recebidas como desafio, intitulada por meios de comunicação/informação; a que indica a indisponibilidade de tempo como outro entrave, denominada tempo; a que trata da submissão dos procedimentos do Banco Alpha às normas do direito público, nomeada legislação; e, por fim, uma subcategoria reconhecida por outros, dentro da qual consideraram-se demais fatores. Na primeira subcategoria, relacionada à capacitação, enquadraram-se falas dos entrevistados G1, G2 e G3. Na segunda, referente aos meios de informação e comunicação, em que se trataram questões relacionadas aos manuais normativos da Organização, bem como aquelas referentes ao volume de mensagens eletrônicas recebidas, enquadraram-se depoimentos dos gestores G1 e G5. Na terceira, correspondente à questão do tempo, enquadraram-se relatos dos empregados G1, G4 e G5. Na quarta, que diz respeito à natureza de empresa pública sob a qual a organização é constituída, sujeita a entraves diversos inerentes à legislação do direito administrativo, enquadraram-se manifestações dos entrevistados D2 e G4. Na quinta subcategoria, que se refere a fatores diversos, intitulados como outros, foi enquadrada a resposta do empregado D2, que se manifesta, em especial, quanto ao grande corpo de gerentes novos, decorrente da expansão da rede de agências e consequente necessidade de contratação de pessoal. Ao responderem sobre os desafios inerentes ao exercício das competências gerenciais, a referência a esses entraves pode ser compreendida, de uma forma mais ampla, a partir do comentário feito pelo diretor 2, que atua em nível hierarquicamente mais elevado na Empresa. “A gente tem um caminho longo, porque hoje nós estamos trabalhando com uma equipe grande e uma equipe jovem, e com a nossa expansão de agências e o próprio quadro de empregados, nós temos hoje uma situação que a gente está com gerentes muito jovens, novos de gerência. Tem valores corporativos que têm que ser seguidos e que têm na sua base a questão do ente público. Tem restrições inclusive de fazer negócios. A gente é submetido à Lei 8.666, a gente tem um monte de restrições, de limitadores da nossa atuação. Eu acho que esse é o grande desafio que eu vejo”. Entrevistado D2 (grifos da autora da dissertação) 75 O primeiro desafio apontado por esse diretor diz respeito à expansão da Instituição bancária, atualmente composta por muitas agências, o que exigiu um aumento significativo no quadro de empregados e levou a Organização à tendência atual de um grande corpo de gerentes mais jovens. Esse desafio requer investimentos no processo de socialização, por meio do qual os valores corporativos sejam repassados, de modo a preservar a cultura da empresa e garantir a unidade do comportamento de todos os funcionários, incluindo o comportamento relacionado diretamente às competências que o Banco Alpha estabeleceu para os empregados como fundamentais visando o alcance de seus objetivos. Trata-se de uma necessidade que deve integrar o PE, uma vez que a definição de objetivos e metas exige esse processo de formação e desenvolvimento dos componentes do grupo, sejam quais forem os níveis em que se encontrem. Mas essa é uma questão para a qual a Organização em análise aponta estar voltada. “Conforme já mencionado no referencial desta pesquisa, constam do PE do Banco Alpha objetivos como Ter cultura organizacional voltada para o resultado estratégico, Ter empregados conscientes da estratégia, Ter as competências demandadas pela estratégia”, “Ser equipe de alta performance”, dentre outros. Um segundo desafio realçado é a submissão à Lei n. 8.666/93, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos, no âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. A referida legislação traz uma série de exigências a serem observadas que, certamente, impõem alguns entraves à Instituição em estudo. Exemplo disso é a exigência inequívoca prévia para a licitação de serviços e obras, de projeto básico aprovado pela autoridade competente, orçamento detalhado, previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das obrigações assumidas para aquele exercício financeiro, bem como que o produto decorrente da contratação esteja contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, quando for o caso, entre outros. Firmados os contratos administrativos de que trata a mencionada lei, esses serão regulados pelas cláusulas e preceitos de direito público, aplicando-lhes, apenas de forma supletiva, as disposições do direito privado. Essa é uma situação que impõe ao Banco Alpha uma série de restrições, especialmente em relação aos limites dos valores de contratação e alterações contratuais, mesmo que necessariamente comprovadas. O entrevistado G4 também percebe a submissão da Organização ao direito público como um fator que traz limitações. “E a gente vai fazendo as coisas de um determinado modo, seguindo determinado estilo, e chega num ponto que aquilo para de funcionar e você tem que experimentar outras saídas. Isso é 76 fácil. Agora, o incentivo à inovação no sentido de você gerar novas ideias, novos processos numa empresa que é pública, isso não é muito criativo, você tem ali a necessidade de criar, no seu cotidiano, saídas diferentes para os problemas que você enfrenta, mas eu não acho que a inovação seja uma coisa irrestrita. A melhor palavra seria essa inovação exercida com certa restrição”. Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Nota-se, pelo relato do entrevistado, que o fato de a organização constituir-se, legalmente, em empresa pública acaba por gerar uma restrição ao exercício da competência relativa ao incentivo e à prática da inovação. Dessa forma, sendo essa uma das competências fundamentais requeridas dos gestores, talvez seja interessante uma apuração criteriosa da Organização em torno da questão, a fim de levantar os entraves existentes e tentar minimizálos assegurando, assim, maior eficácia no exercício da referida competência. Os desafios percebidos pelos gerentes foram expressos em relação às ações necessárias ao preparo dos colaboradores para o exercício das funções previstas nas competências organizacionais. Nesse contexto, o entrevistado G1 mencionou a insuficiência de devida capacitação como um dos grandes dificultadores. “Então o que eu sinto é que a gente aprende muito mais na prática do que na teoria. E aqui a gente chegou a desenvolver, digamos assim, um projetinho educacional porque chegaram muitos técnicos bancários novos e eles já entram sendo engolidos pelo processo. Tem os cursos básicos na universidade que eles têm que concluir num prazo tal, mas às vezes são cursos mais abrangentes, que não estão voltados para aquela área que eles estão hoje. Às vezes, a gente faz curso de coisa que não tem nada a ver, então é fazer cursos mais direcionados, um curso presencial” Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) Da mesma maneira, o entrevistado G2 aponta certa inadequação na capacitação como um desafio significativo para o exercício das competências que lhes são requeridas pela Organização. “Porque aqui tudo é autoformação. É assim: você é gerente a partir de amanhã. Você vai assumir na agência tal. Está aqui o seu carimbo. Vai com Deus. E quando você senta e vai ver com o cliente... aí você vai pegar o normativo, vai ler para poder atender aquele cliente. (...) “Porque às vezes a gente não sabe onde começa e a gente vai aprender com um colega ..., ou vai ler o normativo, levar para casa, estudar e contar com o auxílio de alguém. Eu acho que a gente ainda não está no primeiro lugar entre os maiores bancos acho que por causa 77 disso, porque você fica vendo o subsídio de outros bancos, eles vão duas, três vezes para a Matriz fazer treinamento, alinhar o crescimento”. Entrevistado G2 (grifos da autora da dissertação) Vê-se que, em especial, a passagem de um funcionário que ocupe cargo inicial à situação de função gerencial foi mencionada como um fator que determina estresse, o que impede as pessoas de se preparem adequadamente para o exercício da nova função devido, sobretudo, à carência por treinamento. O entrevistado G3 é outro exemplo disso, quando também menciona a insuficiência de capacitação como desafio: “Tem muitos colegas que tem certas dificuldades mesmo. Eu acho que às vezes a pessoa tem dificuldades de lidar com certas situações, aqui tem muita situação de estresse e as pessoas não estão preparadas. Não existe um treinamento para isso. Tem aquela questão, às vezes a pessoa acha que não tem capacidade porque não tem a função, aí você tem que fazer os meninos desapegarem disso. Se você tenta resolver e não conseguiu, aí fala que você vai passar para o seu superior, mas não fala que você vai passar para o seu gerente porque você não sabe”. Entrevistado G3 (grifos da autora da dissertação) Outro fator que se impõe ao exercício das competências, pelos gestores, encontra-se relacionado à linguagem dos manuais normativos da Empresa. Nesse sentido, tem-se a declaração do entrevistado G1. “A linguagem normativa, ela podia ser um pouco mais simplificada, termos normativos mais claros para que entenda melhor a rotina nossa aqui. Porque às vezes a pessoa que faz o normativo, ela não tem ideia do que acontece na agência, e a gente se preparou por um módulo que está travando um pouco sobre o negócio.” Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) Em alinhamento com a interpretação acima, manifestou-se o entrevistado G5 “os Manuais mudam constantemente... então o ideal é olhar mesmo... olhar junto”. Outro fator que se apresentou como obstáculo foi a quantidade excessiva de mensagens eletrônicas recebidas e a gestão inadequada em torno da distribuição desses emails. Quanto a isso, esclareceu o entrevistado G1. “ “Agora, outra coisa que eu acho que dificulta a Gestão também é caixa meio, a má gestão do caixa meio. Às vezes, a gente recebe milhares de mensagens desnecessárias enviadas de vários locais”. Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) 78 A questão da disponibilidade de tempo também foi mencionada como um desafio. Dessa forma, manifesta-se o entrevistado G1. “Porque a falta de tempo estava sendo um entrave, essa questão da gestão de hora extra. Porque antigamente a gente ficava 15, 20 minutinhos depois do horário, isso era permitido. Hoje em dia não pode mais”. Entrevistado G1 (grifos da autora da dissertação) O entrevistado G4 aborda maiores detalhes acerca desse problema, já mais relacionado à questão do desenvolvimento das pessoas. “Essa questão do desenvolvimento próprio, às vezes a pessoa até deseja esse desenvolvimento. É a mesma coisa para um trabalhador que exerce oito horas de serviço com mais uma hora de almoço. Se você for pensar, nove horas do seu dia está aqui no ambiente empresarial. Então esse desenvolvimento próprio, esse desenvolvimento da equipe, às vezes você até estimula, mas tem uma série de condições que vão determinar esse desenvolvimento próprio que tem a ver com o tempo, tem a ver com a disponibilidade, tem a ver com o cansaço”. Entrevistado G4 (grifos da autora da dissertação) O entrevistado G5 também comenta a respeito. “São todos muito comprometidos, mas a dificuldade é para todos, eu acho que é porque é muita informação que a gente tem, então, às vezes, a gente não vê tudo que deveria, não tem a oportunidade”. Entrevistado G5 (grifos da autora da dissertação) O entrevistado D1, por sua vez, não se posicionou em relação à dificultadores. Dessa forma, verifica-se, pelos relatos apresentados, ter havido a manifestação mais recorrente das subcategorias relacionadas à deficiência de capacitação e indisponibilidade de tempo. Esse é um resultado que pode contribuir para que a Organização invista no sentido de minimizar os fatores que estão sendo considerados como desafios, pelos gestores, para o exercício das competências que lhes estão sendo requeridas. 79 5.3 Síntese da Interpretação dos Dados Feito o exposto e visando elucidar, de forma sintética, o resultado da interpretação a que se chegou por meio desta pesquisa, tem-se os apontamentos que ora se apresentam. No que se refere ao modelo de competências adotado pela Organização em análise, verificou-se que a Empresa menciona, expressamente, o referido CHA, salientando, portanto, as capacidades relacionadas ao conhecimento, habilidades e atitudes, no que se aproxima bastante do modelo norte-americano, bem como de autores brasileiros. Quanto à categoria de análise relacionada à abordagem conceitual de competência, a subcategoria CHA/comportamentos esperados mostrou-se mais relevante, envolvendo um maior número de depoimentos e sinalizando que os entrevistados definem a competência de forma balizada aos pilares do CHA, em que se reconhece a necessidade das capacidades de conhecimento, habilidade e atitude para o exercício das competências. Pelos depoimentos, pode-se verificar, ainda, que os gestores associam o conceito de competência aos comportamentos que a empresa espera deles, sem, contudo, fazer maiores inferências em torno disso. A diretora e o gerente nacional entrevistados, por sua vez, associam a definição do CHA a uma espécie de modelagem daqueles comportamentos, uma atitude mesmo de entrega, sempre em prol dos objetivos estratégicos da Empresa. De forma geral, no que se refere à categoria relativa às “competências prioritárias, a subcategoria todas foi a que se mostrou mais frequente nas respostas. Essa verificação indicou que os gerentes entrevistados denotam reconhecer a importância do exercício concomitante das cinco competências fundamentais de liderança, definidas pela Organização para o modelo de gestão de competências e expressas por meio da cartilha de competências, elaborada sob a organização da diretoria executiva e vice-presidência de gestão de pessoas da Empresa. Esse resultado denota estreito alinhamento dos gestores com a política organizacional. Contudo, ao mesmo tempo, a análise realizada deixou evidente que a necessidade de atribuição de graus diferenciados de importância para cada uma daquelas competências, conforme a função gerencial ocupada e as suas respectivas atribuições, ao que a direção da empresa nomeia estilos de liderança, não se mostrou muito familiar aos gerentes entrevistados. Talvez esse seja um diagnóstico que possa sugerir à Organização a importância de um trabalho mais incisivo sob esse aspecto. Quanto à categoria competências exercidas, a análise permitiu perceber uma referência de todos os gestores entrevistados em torno do foco ao cliente, resultado esperado de uma instituição financeira que, em que pese a sua natureza jurídica pública, que lhe impõe alguns 80 entraves legais, tem como visão estar entre os três maiores bancos do País, para o que o atendimento qualificado se torna uma importante estratégia. Foco no cliente foi, portanto, a subcategoria cuja presença se mostrou mais forte nos relatos dos gerentes. Em relação à última categoria, intitulada dificultadores, as subcategorias capacitação e insuficiência de tempo foram as que envolveram o maior número de depoimentos: os gestores apontaram, em sua maioria, a insuficiência de capacitação como um desafio para o exercício das competências que lhes são requeridas. Outro problema apurado de forma bastante incisiva foi a indisponibilidade de tempo. Dois outros fatores significativos apresentaram-se, mas com menor relevo dentro desta categoria: a alta complexidade dos manuais normativos e o distanciamento desses documentos em relação às situações práticas ordinárias que se impõem, diariamente, nas agências, além dos diversos entraves legais a que se sujeita a Empresa pela natureza pública de sua constituição jurídica. Essas, também, talvez possam ser manifestações que também venham a contribuir para o aprimoramento da implementação do modelo de gestão de competências da Empresa. O quadro 2 retrata cada categoria utilizada nessa análise, assim como as subcategorias que se mostraram mais importantes, no processo de interpretação dos dados. Quadro 2 - Síntese da Interpretação dos Dados CHA / Competências esperadas CHA / Comportamentos de entrega Todas Competências prioritárias Seleção de algumas Foco no cliente Liderança pelo exemplo Competências exercidas Desenvolvimento próprio e da equipe Graduação de competências/estilo de liderança Outros (conhecimento/inovação) Capacitação Meios de informação/comunicação Dificultadores Tempo Legislação Outros Fonte - Elaborado pela autora da dissertação. Abordagem conceitual Nessa representação visual, as subcategorias de maior relevo aparecem em cores mais fortes, facilitando a identificação dos aspectos que, segundo os relatos apurados, respondem de forma mais efetiva às questões da pesquisa. 81 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo contou com uma abordagem introdutória, em que se situou o contexto temporal ao qual se referiu a pesquisa, bem como as circunstâncias econômicas e sociais envolvidas. Sob esse aspecto, mencionou-se que, em divergência ao século XX, quando se assistiu à predominância de um paradigma industrial, identificado pela previsibilidade e estabilidade em geral, bem como pela requisição de mão de obra especializada, nota-se, contemporaneamente, um cenário diferenciado. Nesse novo panorama, que surge a partir da década de 1980, verifica-se a globalização mundial dos mercados, bem como uma aceleração do progresso tecnológico e a intensificação de mudanças econômicas e sociais. Impuseram-se, também, modificações em torno da forma de organização do trabalho, de modo que algumas práticas tornaram-se recorrentes, a exemplo da flexibilização da produção, da reestruturação das ocupações profissionais, da exigência de empregados polivalentes e multifuncionais, bem como da valorização do conhecimento de forma desvinculada da prescrição de tarefas e/ou de qualquer certificação. Face à emergência dessas várias transformações, as organizações viram-se desafiadas a subsistir em um mercado de acirrada competitividade e instabilidade. Nessa perspectiva, tornou-se imperativa a adoção de estratégias voltadas para a customização ou personalização dos serviços prestados, para o que se atentaram, também, as instituições financeiras. Nesse contexto, a introdução da pesquisa destacou a emergência da lógica da competência no meio organizacional, como forma de lidar com o imprevisto, com a situação inesperada no ambiente de trabalho. Ressaltou-se, também, a adoção do Modelo de Gestão de Competências, principalmente pelos bancos, em que se nota nítida preponderância do papel da liderança, inclusive no alinhamento dos objetivos individuais às metas da Empresa. Essa abordagem inicial é finalizada com a observação de que a potencialização das competências individuais torna-se, na atualidade, um dos grandes desafios que se impõe às organizações e suas lideranças, inclusive ao Banco Alpha, objeto deste trabalho. Ainda nessa fase introdutória, foi apresentado o objetivo geral do estudo que se pretendia realizar: analisar o modelo de gestão de competências proposto pela organização estudada, identificando sua relação com o Plano Estratégico e os desafios encontrados em sua implementação. 82 Em seguida, o desenvolvimento do trabalho foi contemplado com o referencial teórico, detalhes acerca da metodologia adotada, bem como a apresentação e a interpretação dos dados coletados. No referencial, foram abordadas as formas de organização de trabalho nas concepções taylorista, fordista e toyotista, em que se apresentou a transformação de um modelo de trabalho prescrito e sem qualquer autonomia para uma outra concepção na qual se tornaram necessárias a polivalência e a capacidade de iniciativa do profissional. Mencionou-se, também, a temática da competência sob as perspectivas francesa e norte-americana, além de se ter sido feita referência aos autores brasileiros que tratam do assunto. Naquela primeira abordagem, conferiu-se destaque à lógica da competência, em que se evidencia a capacidade de lidar com a situação singular, imprevista, no que Philippe Zarifian e G. Le Boterf foram os autores de relevo apresentados. No que se refere à corrente anglo-saxônica, por sua vez, em que se tem a competência composta pelo tripé dos elementos conhecimento, habilidade e atitude, o referenciado CHA, ressaltou-se a possibilidade de um desempenho superior do indivíduo. Nessa perspectiva, D. C. McClelland e R.E. Boyatzis foram os expoentes mencionados. Ainda no âmbito do desenvolvimento da pesquisa, apresentou-se o entendimento da literatura acerca do modelo de gestão de competências, com as suas respectivas dimensões, bem como se demonstrou sua estreita relação com o alcance dos objetivos estratégicos organizacionais. Na metodologia, explicitou-se que a pesquisa consiste num estudo de caso de cunho qualitativo, descritivo e que se debruçou sobre uma instituição bancária, aqui denominada Alpha. Como método de coleta de dados, foram realizadas uma análise documental em manuais, normativos e cartilha da Instituição, assim como entrevistas semiestruturadas com cinco gestores da maior agência da Empresa, no País, bem como com uma diretora executiva e um gerente nacional da Organização. As razões que embasaram cada uma dessas decisões encontram-se devidamente detalhadas ao longo do trabalho. Após a abordagem dos aspectos metodológicos adotados, descreveu-se o contexto de estudo da pesquisa, em que foi esclarecida, respeitando-se o acordo de confidencialidade firmado com a Organização, a forma como o modelo de competências é adotado pelo Banco, em alinhamento com as estratégias que constam do PE da Empresa. A partir daí, apresentou-se a interpretação dos dados coletados, gerada por meio da análise de conteúdo realizada, conforme prescreve Bardin (1977). Por meio dela, pôde-se inferir uma série de aspectos relevantes em cada uma das categorias avaliadas. No que se refere à categoria relacionada à abordagem conceitual de competências, verificou-se, pelos documentos analisados, que a empresa menciona, expressamente, o 83 referido CHA, salientando as, portanto, as capacidades relacionadas ao conhecimento, habilidades e atitudes, no que se aproxima bastante do modelo norte-americano, bem como daquele de autores brasileiros. Notou-se, ainda, pelos depoimentos, que a direção da Empresa associa essa definição a uma efetiva atitude de entrega dos colaboradores junto ao Banco, em consonância com os objetivos estratégicos organizacionais. Os gestores entrevistados, por seu turno, relacionam o conceito aos comportamentos que a Empresa espera deles, sem, contudo, fazerem maiores inferências em torno disso, voltados também para os elementos do tripé do CHA. Quanto à categoria relativa às competências prioritárias, os relatos coletados demonstraram maior tendência dos gerentes entrevistados, assim como interpreta a direção da Empresa, por reconhecer a importância do exercício concomitante das cinco competências fundamentais de liderança, definidas para o modelo de gestão de competências adotado pela Organização, sem, contudo, detalhar essas questões. Esse resultado evidencia um alinhamento dos gestores com a política organizacional. Todavia, a análise realizada deixou notório que a direção da Empresa atribui graus de diferente relevância para cada uma daquelas competências conforme a função gerencial ocupada, o que não se mostrou muito claro para os gerentes entrevistados. Em relação à categoria competências exercidas, a análise permitiu perceber uma ênfase dos gestores entrevistados em torno do foco ao cliente, enquanto, no que tange à categoria dificultadores, os gestores apontaram, em sua maioria, a insuficiência de capacitação e a indisponibilidade de tempo, como barreiras ao efetivo exercício das competências que lhes são requeridas. Além disso, a alta complexidade dos manuais normativos e o distanciamento desses documentos em relação às situações práticas ordinárias que se impõem, nas agências, foram vistos como desafios adicionais a esse exercício. 6.1 Implicações gerenciais Os resultados levantados sugerem algumas inferências que podem contribuir, junto ao Banco Alpha, no intuito de minimizar os desafios apurados para o exercício das competências fundamentais de liderança, pelos gestores, consideradas imprescindíveis ao alcance dos objetivos que constam do PE da Empresa. Os gerentes entrevistados demonstraram reconhecer a importância do exercício concomitante das cinco competências fundamentais de liderança definidas pela Organização, resultado esse que evidenciou uma conformidade com a política organizacional. Todavia, a 84 análise feita permitiu identificar que a direção da Empresa vislumbra a necessidade de atribuição de graus diferenciados de importância para cada uma daquelas competências, conforme a função gerencial ocupada e as suas respectivas atribuições, mas os gestores interrogados não demonstraram conhecimento em torno dessa interpretação. Talvez, esse seja um diagnóstico que possa sugerir à Instituição a importância de se fazer uma divulgação e um esclarecimento mais incisivos no intuito de disseminar a concepção da Empresa acerca desse aspecto. Outra percepção interessante se deu em relação aos dificultadores apresentados, nos relatos dos gerentes entrevistados, para o exercício das competências fundamentais de liderança. Os gestores destacaram a insuficiência de capacitação como um grande desafio para o exercício das competências que lhes são requeridas. Salientaram dificuldade para a prestação de um atendimento qualificado ao cliente se não recebido, pelo empregado, um treinamento adequado, na medida em que, nessa situação, o aprendizado surge com a prática, o que expõe o gestor a um maior risco de incorreções. Essa manifestação pode contribuir para demonstrar a importância de um investimento da Organização nesse sentido. Pôde-se apurar, ainda, a alta complexidade dos manuais normativos da empresa, bem como o distanciamento desses documentos em relação as situações práticas ordinárias que se impõem, diariamente, nas agências, como outro desafio significativo para o exercício daquelas competências requeridas dos gestores. Esses apontamentos sugerem a necessidade de uma avaliação da Empresa em torno da possibilidade de uma efetiva alteração desses manuais, de forma a torná-los mais claros e mais alinhados à prática das ações que regulam. Vislumbera-se que todas as contribuições possam agregar, de alguma forma, no aprimoramento da implementação do modelo de gestão de competências da Organização bancária objeto do estudo. 6.2 Sugestões para estudos futuros Finalizado o estudo, notou-se que uma análise com o intuito de verificar se os modelos de gestão de competências adotados pelas empresas propiciam um efetivo desenvolvimento das capacidades dos empregados, nos níveis necessários à subsistência da Organização com vantagem competitiva sustentável, possa ser uma contribuição interessante nos âmbitos acadêmico e organizacional. Ou seja, a intenção seria avaliar se o modelo adotado estaria compatível com os objetivos estratégicos da Empresa. 85 Estudos futuros que estabeleçam um comparativo entre a realidade de diferentes organizações, no que compete aos problemas enfrentados, na prática, para a concretização de seus objetivos estratégicos por meio do desenvolvimento das competências dos funcionários podem, também, vir a agregar o acervo de conhecimento sobre o assunto, permitindo que se identifiquem desafios comuns a serem transpostos e, portanto, que se vislumbrem, em conjunto, soluções para demandas complexas como a que esta pesquisa se propôs a analisar. Outra sugestão envolva estender os resultados deste trabalho, desenvolvendo uma pesquisa que contemple uma gama maior de funcionários, para verificar se as questões que aqui se mostraram relevantes valem, também, para todo o universo de empregados do Banco. Ressalta-se, contudo, que isso só se faz possível a partir dos resultados descritos nesta pesquisa, de modo que um esforço como o que este trabalho empreendeu, visando ao entendimento dos desafios enfrentados pelos gestores para o exercício das competências que lhes são requeridas, mostra-se passo fundamental na construção do conhecimento sobre esse assunto. Acredita-se que o desenvolvimento concomitante dessas pesquisas vá consolidando o saber sobre esse tema tão relevante no cenário contemporâneo organizacional. Assumindo isso como propósito é que foram envidados os esforços que permitiram a realização desta pesquisa. 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Giovanni. Trabalho, corpo e subjetividade: toyotismo e formas de precariedade no capitalismo global. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, set. 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-7746200500020000 9&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em 16/01/2014. ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?. 13. ed. 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Qual seria? 6) Você encontra, no ambiente organizacional, condições desfavoráveis para a prática e o incentivo da inovação junto à equipe? Comente essas condições. 7) Percebe qualquer dificultador para manter o foco no cliente? Se sim, dê algum exemplo. 8) A Empresa oferece facilitadores que contribuam para o alcance dos objetivos estratégicos da Organização? 9) Você consegue identificar aspectos/condições que a Empresa poderia agregar para facilitar o exercício dessas competências (domínio dos assuntos necessários, desenvolvimento próprio e da equipe, liderança pelo exemplo, incentivo à inovação e foco no cliente)? Descreva suas sugestões nesse sentido, se for o caso. 91 APÊNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA A-) Diretoria executiva de gestão de pessoas 1) O que você entende por competência? 2) Na sua percepção, no que consiste o exercício da liderança? 3) Quais foram as maiores evoluções sofridas pelo modelo de competências, dentro da Instituição, desde a sua implementação em 2000? 4) Em que consiste esse modelo hoje vigente na Empresa e quais as suas maiores contribuições para a Organização? 5) Explique qual a relação que você identifica entre a gestão de competências e o PE da Organização. 6) Você verifica divergências entre as competências hoje requeridas pelo PE da instituição e aquelas exercidas pelos empregados que atuam nos cargos de liderança? Poderia identificá-las? 7) Você percebe qualquer dificultador, em especial para o pleno exercício, pelos líderes, das competências fundamentais referentes ao domínio dos assuntos necessários, à capacidade de desenvolvimento próprio e da equipe, à habilidade de liderar pelo exemplo, a iniciativa de praticar e incentivar a inovação, bem como à atitude de manter o foco no cliente? 8) Quais seriam os maiores desafios identificados para a correção daquelas divergências e desses dificultadores? 9) Há alguma proposta da Organização para a capacitação dos líderes visando transpor esses desafios específicos? Há algum trabalho sendo desenvolvido por esta diretoria, em parceria com a diretoria de organização estratégica, nesse aspecto? 92 B-) Gerência nacional de competências 1) O que você entende por competência? 2) Na sua percepção, no que consiste o exercício da liderança? 3) Em que consiste o modelo de gestão de competências hoje vigente na Empresa e quais as suas maiores contribuições para a Organização? 4) Explique qual a relação que você identifica entre a gestão de competências e o PE da Instituição. 5) Dentre as competências indicadas pelo PE da Organização, indique as que você considera prioritárias para o pleno exercício da liderança em conformidade com os objetivos estratégicos da Empresa. Explique o motivo dessa indicação. 6) Você verifica divergências entre as competências hoje requeridas pelo PE da Instituição e aquelas exercidas pelos empregados que atuam nos cargos de liderança? Poderia identificá-las? 7) Você percebe qualquer dificultador, em especial para o pleno exercício, pelos líderes, das competências fundamentais referentes ao domínio dos assuntos necessários à capacidade de desenvolvimento próprio e da equipe, à habilidade de liderar pelo exemplo, à iniciativa de praticar e incentivar a inovação, bem como à atitude de manter o foco no cliente? 8) Quais seriam os maiores desafios identificados para a correção daquelas divergências e desses dificultadores? 9) Há alguma proposta da Organização para a capacitação dos líderes visando transpor esses desafios específicos? Há algum trabalho sendo desenvolvido por esta diretoria, em parceria com a diretoria de gestão de pessoas nesse aspecto? 93 APÊNDICE C – PRODUTO TÉCNICO Um dos objetivos a que esta pesquisa se propôs residiu na intenção de propiciar a aplicação empírica, no âmbito organizacional, dos resultados da análise realizada. Afinal, trata-se de um estudo empreendido no escopo de um Mestrado Profissional em Administração, caracterizado, dentre outras coisas, pelo maior compromisso e proximidade com a realidade cotidiana das organizações. A Instituição Financeira objeto deste estudo dispõe de uma Universidade Corporativa (UC), em que é ofertada uma série de cursos, visando ao aprimoramento do desempenho do empregado, em diversas áreas de atuação, com a indicação, inclusive, do público-alvo. Ressalte-se, ainda, que a realização desses cursos, pelos empregados, é valorada, por meio de horas de capacitação, principalmente nos Processo Seletivo Interno por Competências(PSIC). Tendo em vista o posicionamento da literatura no que se refere à importância da Universidade Corporativa, identificando-a como “[...] uma estrutura capaz de gerar resultados sustentáveis e percebendo que o investimento no desenvolvimento das competências dos funcionários transformou-se em prioridade para muitas organizações bancárias” (BAHRY e TOLFO, 2004, p. 52), torna-se extremamente interessante o aproveitamento, por meio da referida ferramenta, dos resultados do estudo ora apresentado. Dessa forma, foi elaborado um material instrucional que pode vir a compor um curso daquela UC e que contempla um direcionamento aos gestores da empresa, visando mitigar as dificuldades encontradas, nesta pesquisa, para o exercício das competências que lhes são requeridas a fim de alcançarem os objetivos previstos no PE da Instituição. E, com o propósito de melhor contribuir para a composição daquele curso, foi criado o referido manual que compilou dados como os objetivos que constam do PE da Organização, no que se refere ao exercício das competências relacionadas à liderança, inclusive aquelas definidas para alcançá-los, além da apresentação dos resultados da pesquisa com a indicação dos gap’s verificados entre as capacidades requeridas, pela empresa, e aquelas efetivamente realizadas pelos gestores. O mesmo documento traz sugestões de ações a fim de que se minimizem ou se suprimam essas lacunas. 94 MANUAL ADMINISTRATIVO: O EXERCÍCIO DAS COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS DE LIDERANÇA EM ALINHAMENTO AO PE DA EMPRESA Maio/2015 95 FOLHA DE ROSTO (ficha catalográfica no verso) 96 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS PE – Plano Estratégico UC – Universidade Corporativa PSIC – Processo Seletivo Interno por Competência 97 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO DO MANUAL.......................................................................98 2 CONTEÚDO .........................................................................................................98 2.1 Atividades prioritárias desenvolvidas pela organização........................................98 2.2 Objetivos principais do PE da empresa .................................................................98 2.3 Competências requeridas dos gestores para alcance do PE ..................................99 2.4 Desafios para o exercício das competências requeridas dos gestores ...................99 2.5 Ações sugeridas .................................................................................................. 100 98 APRESENTAÇÃO DO MANUAL O Manual Administrativo que ora se apresenta traz uma contextualização em torno da natureza jurídica, bem como das atividades prioritárias desempenhadas pela organização a que se destina. O material também se presta à indicação dos principais objetivos estratégicos pretendidos pela Instituição Financeira visada, no que se refere ao âmbito da gestão de pessoas. Sob esse aspecto elenca, ainda, as competências requeridas dos gestores para o alcance do PE organizacional. Com o intuito de se ter a melhor aplicação prática possível desse Manual, são abordados os desafios mais significativos, apurados para o exercício das referidas competências. E, visando trazer efetiva contribuição por meio deste produto técnico, são sugeridas ações que venham a mininizar os dificultadores em torno do exercício daquelas competências pelos gestores. Visando compor esse material, reúnem-se, a seguir, os dados pretendidos, a saber: 1 CONTEÚDO DO MANUAL: 2.1 Atividades prioritárias desenvolvidas pela organização Trata-se de Instituição Financeira constituída sob a natureza de empresa pública de direito privado atuante em todos os municípios, seja por meio de agência bancária ou correspondente bancário. Dentre as atribuições prioritárias da Organização, encontram-se o fomento ao saneamento básico, as políticas públicas e aos programas sociais, além de forte atuação no Sistema Financeiro Habitacional, na gestão do FGTS(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e no Financiamento Estudantil. Além de todo o papel social, a Empresa zela por disputar a posição de ser um dos três maiores bancos do Pais, o que lhe exige um desempenho sempre focado nas metas que constam do Plano Estratégico da Instituição. 2.2 Objetivos principais do PE da empresa, no que se refere ao exercício das competências relacionadas à liderança: • ser reconhecida com uma das empresas em excelência nas práticas de gestão de pessoas; • ter cultura organizacional voltada para o resultado estratégico; 99 • contar com empregados conscientes da estratégia; • garantir que tenham as competências demandadas pela estratégia, no que tange a conhecimentos, habilidades e atitudes; • constituir equipes de alta performance, no que tange a esses conhecimentos, habilidades e atitudes. 2.3 Competências fundamentais de liderança requeridas, dos gestores, para o alcance do PE: • domínio dos assuntos necessários; • desenvolvimento próprio e da equipe; • liderança pelo exemplo; • foco no cliente; • incentivo às práticas de inovação. 2.4 Desafios para o exercício das competências requeridas dos gestores. • Sinalizada, pelos gestores entrevistados, a necessidade de otimização de procedimentos de capacitação para o alinhamento de todas as informações fundamentais ao domínio dos assuntos necessários. • Demonstrada, também pelos gerentes selecionados, certa dificuldade imposta pelos manuais normativos que trazem informações e/ou diretrizes essenciais da Empresa, a serem observadas nas mais variadas práticas diárias das agências. Salientada a complexidade da linguagem desses manuais, bem como um distanciamento das orientações trazidas por esses documentos em relação às ocorrências vivenciadas pelas unidades bancárias. • Manifestada, pela direção da Empresa, uma preocupação em torno do fato de o corpo gerencial da organização ser hoje constituído, em sua maioria, por empregados novos, com menor experiência. • Relatada, pela direção da Empresa, a necessidade de cada uma das competências fundamentais de liderança serem exercidas de forma concomitante, mas em graus diferenciados, conforme o cargo ocupado pelo gestor e as respectivas atribuições desempenhadas por ele. • Percebida que essa graduação pretendida no exercício das competências, em coerência com a função exercida pelo empregado, não parece internalizada pelos gestores. 100 2.5 Ações sugeridas • Investir, de forma mais incisiva, na capacitação dos empregados, tanto por meio de cursos presenciais, quanto por meio daqueles disponibilizados pela UC. • Na hipótese dos cursos presenciais, uma sugestão interessante talvez seja ministrá-los por empregados com a maior experiência possíveis, em cada um dos assuntos objeto do treinamento, de forma a poder subsidiar os treinandos até mesmo naquelas situações mais peculiares que se apresentam nas agências bancárias. • No caso dos cursos disponibilizados pela UC, o ideal é que cada um sejam o mais completo possível, de forma a alcançar o objetivo de efetivamente dotar os gestores dos conhecimentos necessários. A seguir apresenta-se o plano de curso proposto com o intuito de mitigar as dificuldades encontradas, nesta pesquisa, para o exercício das competências que são requeridas aos gestores a fim de alcançar os objetivos previstos no PE da Instituição. A seguir, apresenta-se o plano proposto. 101 APÊNDICE – D PLANO DE CURSO • Tema/Disciplina: o exercício das competências fundamentais de liderança • Público-alvo: gestores em geral • Carga-horária: 20 horas-aula • Período de realização: 20 dias Ementa: • Descrição e esclarecimento acerca de cada uma das competências fundamentais de liderança; • consolidação da compreensão em torno da necessidade do exercício de todas as competências fundamentais de liderança pelos gestores; • esclarecimento da importância do exercício das competências fundamentais de liderança em graus diferenciados, conforme as atribuições e funções desempenhadas por cada gestor; • estabelecimento da relação entre o desenvolvimento das competências fundamentais de liderança e o alcance dos objetivos estratégicos organizacionais. Objetivos: Despertar a capacidade crítica do gestor, estimulando-o a refletir acerca da importância do exercício das competências fundamentais de liderança por todos os gestores. Problematizar a atuação do líder, dentro do contexto organizacional, de forma a gerar uma reflexão em torno da relevância do seu papel dentro da equipe; Provocar uma análise em relação à eficácia do exercício das competências fundamentais de liderança para a implementação do plano estratégico da empresa. 102 Critérios de avaliação: • Presença e participação em sala de aula ...................................................................08 • Trabalhos em grupo/equipe ......................................................................................60 • Avaliação final ..........................................................................................................22 • Resenha crítica...........................................................................................................10 • Total .........................................................................................................................100 Metodologia de ensino: Aulas expositivas, bem como práticas de grupo contando com reflexões e discussões acerca de situações ordinárias recorrentes, na empresa, de forma a melhor elucidar todas as questões objeto da ementa. Resultados esperados: Ao final da disciplina, o aluno deve ser capaz de compreender a importância do exercício das competências fundamentais de liderança com consciência, em especial, da relevância do papel do gestor para o desenvolvimento da equipe. Deve, ainda, ter condições de entender a necessidade de desenvolvimento dessas competências para a efetivação dos objetivos estratégicos organizacionais. BIBLIOGRAFIA BÁSICA FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. Revista de Administração Contempornâea, Curitiba, v. 5, n. spe, mês 2001. McCLELLAND, D. C. Testing for competence rather than for “intelligence”. American Psychologist, cidade, v. 28, n. 1, p. 1-14, Jan. 1973. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. PORTER, Michael E. Criando clareza estratégica: torne-se um parceiro estratégico. Cidade: Editora,1996; PRAHALAD, C.K; HAMEL, G.. A competência essencial da corporação, Maio-Junho 1990, p. 53-78(incompleto) 103 RUAS, Roberto. Gestão por competências: uma contribuição à perspectiva estratégica da gestão de pessoas.In: N. CONGRESSO DA ENAMPAD N. ano, cidade. Anais... Cidade:ANPAD, 2003. RUAS, Roberto; ANTONELLO, Claudia Simone; BOFF, Luiz Henrique. Aprendizagem organizacional e competências. Cidade: Artmed 2005. ZARIFIAN, P. O modelo da competência: trajetória histórica, desafios atuais e propostas. São Paulo: Editora Senac, 2003. ZARIFIAN, Philippe. Objetivo. Competência. Por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2012. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BAHRY, Carla Patricia; TOLFO, Suzana da Rosa. A gestão de competências e a obtenção de vantagem competitiva sustentável em organizações bancárias. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 5, n. 2, mês, 2004. BOYATZIS, R. E. The competent manager. New York: John Wiley 1982. Disponível em <http://babel.hathitrust.org/. Acesso em: 20 ago.2014. DIAS, G. B.; BECKER, G. 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