PATRICIA VIEIRA DE PAULA BUSCA ATIVA PARA DIAGNÓSTICO PRECOCE DA DIABETES MELLITUS NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DR. PEDRO MONTEIRO DE ALMEIDA, PONTA PORÃ/MS – RELATO DE EXPERIÊNCIA Ponta Porã/MS 2011 1 PATRICIA VIEIRA DE PAULA BUSCA ATIVA PARA DIAGNÓSTICO PRECOCE DA DIABETES MELLITUS NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DR. PEDRO MONTEIRO DE ALMEIDA, PONTA PORÃ/MS – RELATO DE EXPERIÊNCIA Projeto de Intervenção apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação à nível de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Orientador (a): Profa. Msc. Luiza Helena de Oliveira Cazola. Ponta Porã/MS 2011 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 5 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 6 3. OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 10 4. CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE ............................................ 11 5. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA ................................................................... 15 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 19 7. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 21 3 RESUMO Este trabalho tem por objetivo aumentar os índices do diagnóstico precoce de Diabetes Mellitus na área de abrangência de uma equipe de Saúde da Família. Trata-se de um trabalho de busca ativa, no qual foram selecionadas cem (100) pessoas que estavam dentro do perfil de: obesidade, idade superior a 30 anos, história familiar de Diabetes Mellitus e/ou Hipertensão. Essas pessoas foram triadas, verificando-se a pressão arterial, glicemia capilar em jejum, peso, altura e cintura abdominal. Para as pessoas que no momento estavam com a glicemia superior à 110mg/dl foi solicitado exames laboratoriais (perfil lipídico e glicemia em jejum). Foi utilizada uma tabela para análise dos dados obtidos na triagem. Houve alteração da glicemia capilar em 21 pessoas no momento da triagem. Em exames laboratoriais solicitados foi constatado hiperglicemia em 05 pessoas. Os resultados desta intervenção, portanto confirma a importância da realização da busca ativa em população com idade superior aos 40 anos, hipertensa e com classificação de sobrepeso/obesidade. Contribuindo para que a Estratégia de Saúde da Família aumente a promoção e prevenção em saúde. Palavras- chave: Diabetes Mellitus, Saúde da Família, diagnóstico precoce. 4 1. INTRODUÇÃO Com o envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo (BRASIL, 2006). A expectativa de vida é reduzida em média em 15 anos para o diabetes tipo 1 e em 5 a 7 anos na do tipo 2; os adultos com diabetes têm risco 2 a 4 vezes maior de doença cardiovascular e acidente vascular cerebral; é a causa mais comum de amputações de membros inferiores não traumática, cegueira irreversível e doença renal crônica terminal. No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se que o diabetes ocorria em cerca de 8% da população, de 30 a 69 anos de idade, residente em áreas metropolitanas brasileiras. Essa prevalência variava de 3% a 17% entre as faixas de 30-39 e de 60-69 anos. A prevalência da tolerância à glicose diminuída era igualmente de 8%, variando de 6 a 11% entre as mesmas faixas etárias. Hoje se estima 11% da população igual ou superior a 40 anos, o que representa cerca de 5 milhões e meio de portadores de Diabetes Mellitus (população estimada IBGE 2005). Na Estratégia Saúde da Família (ESF) Dr. Pedro Monteiro de Almeida há cadastrado no Programa de Diabéticos (HIPERDIA) 71 pacientes, o que corresponde a 6% da população acima de 40 anos cadastradas nessa unidade. De um total de 1.162 pessoas acima de 40 anos cadastradas, seriam estimadas 127 pessoas portadoras de Diabetes Mellitus, segundo a estatística do IBGE de 2005. Portanto, há um número inferior ao que se preconiza, por isso, a necessidade de realizar a busca ativa entre as pessoas com fatores de risco. 5 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia crônica e distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas. Também é associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sangüíneos. É decorrente de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros (BRASIL, 2006). O Diabetes Mellitus pode ser classificado de acordo com a etiologia em Diabetes tipo 1, Diabetes tipo 2 e Diabetes Gestacional (estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal) (BRASIL, 2006). O Diabetes do tipo 1 (DM tipo 1) resulta primariamente da destruição das células beta pancreáticas. Nesse tipo é necessária a administração de insulina para prevenir cetoacidose, coma e morte. Esse tipo ocorre em cerca de 5 a 10% dos diabéticos. Inclui casos decorrentes de doença autoimune e aqueles nos quais a causa da destruição das células beta não é conhecida (BRASIL, 2001). O Diabetes do tipo 2 (DM tipo 2) resulta em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e de deficiência relativa de secreção de insulina. Denomina-se resistência à insulina o estado no qual ocorre menor captação de glicose por tecidos periféricos (especialmente muscular e hepático), em resposta à ação da insulina. (BRASIL, 2001). O Diabetes Gestacional caracterizado pela diminuição da tolerância à glicose, de magnitude variável, diagnosticada pela primeira vez na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Abrange os casos de DM e de tolerância à glicose diminuída, detectados na gravidez (BRASIL, 2001). Outros tipos específicos de diabetes menos freqüentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes (BRASIL, 2006). 6 Cerca de 50% da população com diabetes não sabe que são portadores da doença, algumas vezes permanecendo não diagnosticados até que se manifestem sinais de complicações (BRASIL, 2006). Se presumirmos que alterações vasculares geralmente aparecem, em média, 10 anos após o início da doença, fica bem claro a importância do seu diagnóstico precoce (2002). É possível por meio do rastreamento da diabetes nas pessoas com elevação dos níveis pressóricos (acima de 135/80 mmHg) reduzir a incidência de mortalidade e dos eventos cardiovasculares, por meio de um rigoroso controle da pressão arterial (BRASIL, 2010). Por isso, testes de rastreamento são indicados em indivíduos assintomáticos que apresentem maior risco da doença (BRASIL, 2006). Fatores indicativos de maior risco são listados a seguir: • Idade maior de 45 anos. • Sobrepeso (Índice de Massa Corporal IMC >25). • Obesidade central (cintura abdominal >102 cm para homens e >88 cm para mulheres, medida na altura das cristas ilíacas). • Antecedente familiar (mãe ou pai) de diabetes. • Hipertensão arterial (> 140/90 mmHg). • Colesterol HDL d”35 mg/dL e/ou triglicerídeos e”150 mg/dL. • História de macrossomia ou diabetes gestacional. • Diagnóstico prévio de síndrome de ovários policísticos. • Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida. A obesidade é um dos fatores de risco mais importantes para outras doenças não transmissíveis, com destaque especial para as cardiovasculares e diabetes. Muitos estudos demonstram que obesos morrem relativamente mais de doenças do aparelho circulatório, principalmente de acidente vascular-cerebral e infarto agudo do miorcádio, que indivíduos com peso adequado (BRASIL, 2001,2006). A obesidade pode ser definida, de forma resumida, como o grau de armazenamento de gordura no organismo associado a riscos para a saúde, devido a sua relação com várias complicações metabólicas (BRASIL, 2006). O índice de massa corporal (IMC) é o índice recomendado para a medida da obesidade em nível populacional e na prática clínica. Este índice é estimado pela 7 relação entre o peso e a estatura, e expresso em kg/m 2 (FRANCISCHI, R. P. P. et AL, 2000). Em alguns estudos foi constatado que o diabetes mellitus e a hipertensão ocorrem 2,9 vezes mais freqüentemente em indivíduos obesos do que naqueles com peso adequado e, embora não haja uma associação absolutamente definida entre a obesidade e as doenças cardiovasculares, alguns autores consideram que um indivíduo obeso tem 1,5 vezes mais propensão a apresentar níveis sanguíneos elevados de triglicerídeos e colesterol (BRASIL, 2006). A combinação do IMC com outros fatores, como por exemplo, tabagismo, hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus, pode levar a riscos diferentes de adoecer. Da mesma forma, o excesso de peso resultante da combinação do baixo consumo de frutas, legumes e verduras, fonte de fibras e substâncias antioxidantes, alto consumo de gorduras saturadas, açúcares e álcool associado à pouca atividade física pode apresentar diferentes conseqüências em relação ao desenvolvimento de dislipidemias 2 e doença coronariana, em virtude da pré-disposição genética (FRANCISCHI, 2000). Segundo alguns autores a Diabetes mellitus (DM) é entendida mais como um fator de risco cardiovascular, pois essa é a principal causa de morte do paciente diabético. Isso é tão presente que essa patologia é considerada como equivalente coronariano e merece tratamento intensivo em termos de meta para controle da pressão e dos níveis de colesterol (BRASIL, 2010). Ainda conforme recomendações de rastreamento é necessário avaliar o nível de colesterol em todos os pacientes portadores de Diabetes mellitus. O diabetes mellitus (DM) tipo 2 ou a tolerância à glicose diminuída é, hoje, considerado parte da chamada síndrome metabólica ou de resistência à insulina, que tem ainda os seguintes componentes: hiperinsulinemia, obesidade central / abdominal, hipertensão arterial, dislipidemia, microalbuminúria, etc. O quadro de DM se desenvolve em obesos após período de intolerância à glicose, quando a glicemia se mostra acima dos valores normais, o que conduz, na maioria dos casos, a um estado de hiperinsulinemia (BRASIL, 2006). A alimentação saudável para todas as pessoas com sobrepeso e obesidade tem por objetivos melhorar o bem-estar, possibilitar a proteção da saúde, prevenindo 8 e controlando as co-morbidades e permitindo o alcance do peso adequado. (BRASIL,2009). Atualmente com tudo isso há um grande impacto das Doenças Crônicas NãoTransmissíveis (DCNT) no perfil de morbimortalidade na população brasileira, trazendo um desafio para o sistema público de saúde: a garantia de acompanhamento sistemático dos indivíduos identificados como portadores desses agravos, assim como o desenvolvimento de ações referentes a Promoção de Saúde e a prevenção das Doenças Crônicas não Transmissíveis, em especial para DM e HAS é um dos objetivos primordiais das Equipes de Saúde da Família (BRASIL,2001). A identificação precoce dos casos e o estabelecimento do vínculo entre os portadores e as Equipes de Saúde são elementos imprescindíveis para o sucesso do controle desses agravos (BRASIL,2009). O acompanhamento e controle da HA e DM na esfera da atenção básica poderá evitar o surgimento e a progressão das complicações, reduzindo o número de internações hospitalares devido a estes agravos, bem como a mortalidade por doenças cardiovasculares (BRASIL,2001). Em um estudo que foi avaliado a influência do tempo de adesão à ESF sobre a incidência de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares entre idosos cadastrados em uma ESF de Florianópolis/SC identificaram que: quanto maior o tempo de adesão à ESF, menor a incidência de eventos agudos, demonstrando efetividade da mesma. Dessa forma é possível perceber a importância da Equipe de Saúde no controle e prevenção de complicações decorrentes de DCNT (André Junqueira et AL, 2008). 9 3. OBJETIVO GERAL Realizar busca ativa em uma população, pertencente à área de abrangência da ESF Dr. Pedro Monteiro de Almeida, de hipertensos e/ou obesos para aumentar diagnóstico precoce de diabetes mellitus. 10 4. CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE Em 1912 criou-se o Município de Ponta Porã que foi instalado em 25 de março de 1913, assumindo como intendente o Sr. Ponciano de Mattos Pereira. O município de Ponta Porã está localizado sobre a Serra de Maracajú, a Sudoeste do Estado do Mato Grosso do Sul, compreende um território de 5.359 Km², com densidade demográfica de 11,4 hab/Km 2. Fronteiriço com o município de Pedro Juan Caballero, capital do Distrito de Amambay pertencente à República do Paraguai. A distância da capital, Campo Grande é de 258 km (PNUD, 2000). Com relação à cidade de fronteira, os principais problemas estão associados ao tipo de fronteira de conurbação binacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero (PY). Apresentam-se, com livre trânsito entre as cidades, porém com sobrecarga de atendimento nos serviços sociais e de saúde, por parte de Ponta Porã. A Estratégia Saúde da Família (ESF) parte integrante da Atenção Básica, têm por objetivo aproximar os profissionais ao ambiente do usuário dos serviços de saúde, visando prestar uma assistência de forma integral e continua, ao núcleo domiciliar de uma determinada população, através de uma equipe multiprofissional, que deverá se responsabilizar por aquela comunidade assegurando os princípios básicos do Sistema Único de Saúde – SUS promovendo a promoção, a prevenção, à atenção básica a saúde, o tratamento, a reabilitação de agravos com a participação de todos para uma melhor qualidade de vida (BRASIL, 2006). A ESF desenvolve programas para garantir a assistência por grupos, entre eles existe o HIPERDIA – Programa de cadastro e acompanhamento de Hipertensos e/ou Diabéticos. Um dos objetivos principais desse programa está o diagnóstico precoce, acompanhamento para controle e redução de complicações dessas doenças. E assim tentar proporcionar uma melhora na qualidade de vida desses pacientes. Em Ponta Porã/MS, a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) têm por objetivo aumentar a cobertura da Atenção Básica por meio das Unidades de ESF, com a finalidade de redução da hospitalização, racionalização dos custos na área da saúde levando os profissionais da saúde a vivenciar uma assistência junto à 11 realidade da comunidade de maneira a atuar com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da população. Nessa perspectiva a estratégia era implementar as equipes em bairros distantes, garantido o acesso a saúde para essa população. Em 2008, foi implantada a décima primeira (11ª) Equipe de Saúde da Família com equipe de saúde bucal na área, segmento urbano, na região do Bairro da Granja, denominada ESF do Jardim Aeroporto. A equipe era composta por uma médica, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, sete agentes comunitários de saúde. A equipe de saúde bucal composta por um odontólogo e um auxiliar de saúde bucal. Os ACS tinham cadastrados ao total de 906 famílias. A Unidade de Saúde inicialmente estava em prédio locado e adaptado provisoriamente. Em dezembro de 2009, foi inaugurada sede própria para a Unidade de Saúde da Família localizado no Bairro da Granja. A partir desta data, a equipe passou a ser denominada ESF Dr. Pedro Monteiro de Almeida – homenagem prestada a um importante médico do município. Ao lado da Unidade há uma pequena escola municipal: Anselmo Soares que atende crianças que estudam até a 4º Ensino Fundamental e, próximo a unidade, há o Aeroporto Internacional da cidade. Hoje a equipe é composta pela mesma quantidade inicial de profissionais, com uma funcionária administrativa (recepção e faturamento) e uma auxiliar de serviços gerais. Atualmente a equipe está com a quarta (4) enfermeira coordenadora. A ESF Dr. Pedro Monteiro de Almeida tem cadastrado famílias residentes em três bairros: Bairro da Granja, COHAB e Jardim Aeroporto. Na área há alguns mercados, três escolas públicas e uma escola particular. Há também duas igrejas e nenhuma indústria. A renda na maior totalidade é devido ao comércio e outros serviços autônomos, como prestação de serviço. A escolaridade predominante é o ensino fundamental. A equipe desenvolve ações dos programas de saúde: Saúde da Criança, Programa de Tuberculose/Hanseníase, Saúde da Mulher, Saúde do Adolescente e Saúde do Idoso que contém o programa HIPERDIA (Hipertensos e Diabéticos). O programa HIPERDIA é desenvolvido por meio do cadastro de hipertensos e diabéticos que realizam consultas de enfermagem e médica. O acompanhamento é 12 realizado pela equipe para controle e diminuição das complicações destas doenças. Este acompanhamento é realizado mensalmente pela enfermagem e de acordo com a classificação de risco é agendado a consulta médica. A equipe segue o Protocolo de acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos do Ministério da Saúde/2001 que tem por objetivos: Incentivar atividades de promoção em saúde através de hábitos alimentares saudáveis para prevenir obesidade, HAS e DM; promover atitudes e práticas sobre alimentação adequada e atividade física; prevenir o excesso de peso; manter a glicemia em níveis adequados, através do balanceamento da ingestão de alimentos, doses de insulina ou antidiabéticos orais e intensidade da atividade física; manter o perfil lipídico desejado. Ainda de acordo com o Protocolo, os pacientes estáveis e com controle satisfatório podem ser avaliados pela equipe multidisciplinar a cada três ou quatro meses. A pesquisa das complicações crônicas deve ser feita anualmente. Pacientes instáveis e com controle inadequado devem ser avaliados mais freqüentemente, de acordo com a necessidade. Dessa forma, o controle dos Diabéticos nesta unidade, é realizada de acordo com a classificação de risco para complicações e avaliada de acordo com o controle glicêmico mensal. Assim que há o diagnóstico médico de Diabetes Mellitus, o paciente é cadastrado no Programa HIPERDIA pela enfermeira. Nesta consulta de enfermagem o “novo” diabético recebe orientações: sobre controle glicêmico; conseqüência do Diabetes descompensado; complicações agudas e crônicas; importância de atividade física acompanhada por profissional, orientações dietéticas e outros. Assim esse paciente deve procurar a unidade mensalmente para avaliação antropométrica, controle glicêmico e pegar os medicamentos prescritos. A cada três meses esse paciente passa por consulta de enfermagem para avaliar o pé diabético; avaliar o controle do Diabetes e suas complicações. Com isso o Enfermeiro se necessário agenda consulta médica e também conta com o auxilio do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), que neste município é composto pelos profissionais: Nutricionista, Psicólogo, Homeopata, Fisioterapeuta e Ginecologista. 13 Com o envelhecimento da população brasileira e o importante aumento do número de idosos nas últimas décadas, nos mostra indicadores positivos de melhora na expectativa de vida da população (BRASIL, 2009). A transição epidemiológica caracterizada pelo processo de mudança nos padrões de morbimortalidade da população caracteriza-se pela substituição das doenças infectocontagiosas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e causas externas, com maior adoecimento de extratos mais idosos da população e maior sobrevida de pacientes doentes, sendo que atualmente no Brasil observa-se redução das doenças infecciosas e parasitárias com aumento concomitante das DCNT, como doenças cardiovasculares, neoplasias e diabetes (BRASIL, 2009). Neste contexto é importantíssimo a atuação do NASF contribuindo com o envelhecimento saudável, diminuindo as eventuais morbidades da idade promovendo a saúde através da educação, alimentação saudável, atividade física, saúde mental, reabilitação e inserção social. A Estratégia de Saúde da Família tem como característica do processo de trabalho a definição do território de atuação e a responsabilização por determinada clientela, em que se analisa a situação de saúde, considerando os aspectos sociais, econômicos, culturais, demográficos e epidemiológicos. A territorialização possibilita diagnóstico mais preciso das condições de saúde da comunidade e também a construção de um planejamento local de saúde (BRASIL,2009). 14 5. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA A intervenção ocorreu no final do mês de maio e no mês de junho de 2011, com a distribuição de convites para 100 pessoas que foram selecionadas por apresentarem obesidade e/ou hipertensão arterial e, que não tinham o diagnóstico de Diabetes Mellitus. Essa seleção foi realizada pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e pela Enfermeira. Foram excluídas as pessoas que já realizaram exames laboratoriais no período passado de menos de 1 ano. Os critérios de inclusão foram: o paciente ter acima de 30 anos e obesidade ou sobrepeso; podendo ter hipertensão e fatores de risco para a Diabetes Mellitus. Com a seleção foi realizado triagem com verificação da glicemia capilar em pacientes em jejum, cintura abdominal, peso, altura e Índice de Massa Corporal (IMC). Essa ação foi realizada em sete dias, uma vez por semana, começando na última quinta - feira de maio pela manhã e no mês de junho de 2011, em todas as quintas- feiras no período da manhã. Para cada dia da ação foram convidados de 20 a 35 pessoas e em cada dia da ação foi trabalhado apenas 1 microárea/1 ACS. Em pacientes com hiperglicemia no momento da coleta, foram solicitados exames laboratoriais: glicemia em jejum e exames de perfil lipídico (colesterol total e frações; triglicérides). Para os pacientes que ficaram após a triagem, foi realizado orientações com rodas de conversa sobre os fatores de riscos, causas e consequências da Diabetes Mellitus; incentivando e promovendo também a atividade física sob orientação profissional. No total foram triadas 100 pessoas, sendo que 21 delas apresentaram alteração no teste de glicemia capilar; com resultado acima de 110 mg/dl. Desses pacientes foram 17 mulheres (81%) e 04 homens (19%). Para essas pessoas foram solicitados os exames já citados. 15 Gráfico 1. Realização dos exames solicitados por gênero Fonte: Autora Esses resultados demonstram que há certa resistência masculina à atenção primária. Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral, por parte do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. A doença é considerada como um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de risco (BRASIL, 2008). A faixa etária dessas pessoas foi de 40 a 75 anos, sem idade prevalente. Após um período aproximado de um (1) mês foi constatado que: 17 pacientes (72,85%) realizaram os exames solicitados de um total de 21 Pacientes, sendo dois Homens (9,52%) e 15 Mulheres (71,43%) e quatro pacientes (19,05%), não realizaram, conforme demonstrado no Gráfico 2. 16 Gráfico 2. Pacientes que realizaram os exames solicitados Fonte: Autora Desses pacientes que realizaram os exames laboratoriais cinco (5), apresentaram glicemia em jejum superiores a 126 mg/dl; foram todas mulheres, entre elas uma Hipertensa (em uso de medicamento) e outras quatro apresentaram pressão arterial acima de 140 x 90 mmHg, o que confirma a recomendação de rastreamento de diabetes em adultos assintomáticos com PA sustentada maior que 135/80 mmHg, não se aplicando a outros critérios como obesidade, história familiar nem faixa etária. É possível por meio do rastreamento da diabetes nas pessoas com elevação dos níveis pressóricos (acima de 135/80 mmHg) reduzir a incidência de mortalidade e dos eventos cardiovasculares, por meio de um rigoroso controle da pressão arterial (BRASIL,2010). Dessas cinco mulheres com hiperglicemia em exames laboratoriais, foi medida cintura abdominal e constatado que todas estavam acima de 88 cm. A obesidade central para mulheres é classificada como medida abdominal acima de 88 cm na altura das cristas ilíacas. O excesso de gordura abdominal representa maior risco do que o excesso de gordura corporal por si só (BRASIL, 2006). Com isso é recomendado que após um teste de glicemia em jejum superiores a 126 mg/dl, realizar confirmação do resultado com nova glicemia de jejum, para, dependendo do segundo resultado, serem diagnosticadas com Diabetes mellitus (BRASIL, 2010). Do total de 21 pessoas com glicemia capilar alterada avaliou-se que 17 quatro pessoas (19,05%) estão dentro do peso adequado, oito pessoas (38,10%) estão classificadas como pré-obeso, 05 pessoas (23,80%) classificadas como obesidade grau I, 04 pessoas (19,05%) classificadas como obesidade grau II. Esta classificação está conforme a Tabela 1. TABELA 1. Classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) Classificação IMC (kg/m2 ) Baixo Peso < 18,5 Peso Adequado 18,5 – 24,9 Sobrepeso > 25 Pré-obeso 25,0 – 29,9 Obesidade Grau I 30,0 – 34,9 Obesidade Grau II 35,0 – 39,9 Obesidade Grau III > 40,0 Fonte: WHO, 1998; BRASIL, 2006b Os pacientes com glicemia capilar alterada (acima de 110mg/dl) foram classificados de acordo com o IMC e está representado no Gráfico 3. Gráfico 3. Classificação dos pacientes conforme IMC Fonte: Autora 18 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados obtidos nesta ação revelaram que 18 das pessoas pesquisadas eram homens e 82 pessoas eram mulheres, mesmo havendo convite pelos ACS igualmente por gênero. A faixa etária dessas pessoas foi de 40 a 75 anos, sem idade prevalente. Foi constatado que 17 pacientes (72,85%) realizaram os exames solicitados de um total de 21 Pacientes - 02 Homens (9,52%) e 15 Mulheres (71,43%), e ainda: 04 pacientes não realizaram (19,05%). Desse total de 21 pessoas com glicemia capilar alterada avaliou-se que 04 pessoas (19,05%) estão dentro do peso adequado, 08 pessoas (38,10%) estão classificadas como pré-obeso, 05 pessoas (23,80%) classificadas como obesidade grau I, 04 pessoas (19,05%) classificadas como obesidade grau II. Desses pacientes que realizaram os exames laboratoriais cinco apresentaram glicemia em jejum superiores a 126 mg/dl; todas mulheres, entre elas uma hipertensa (em uso de medicamento); as outras 04 apresentaram pressão arterial acima de 140 x 90 mmHg. Também foi medida cintura abdominal e constatado que todas estavam acima de 88 cm. Com a avaliação das pessoas, identificou-se que 5% tiveram o diagnóstico médico de Diabetes Mellitus e iniciou-se o tratamento e acompanhamento. Isso revela percentual aproximado da estimativa de diabéticos em uma população característica (BRASIL, 2008). Diante desta intervenção é possível inferir que o rastreamento para diagnóstico precoce das DCNT, principalmente da Diabetes Mellitus é fundamental. Ações de busca ativa deve ser implementada com certa freqüência fazendo parte da rotina da equipe. Dessa forma pode ser implantado um protocolo municipal que indique o rastreamento do Diabetes preconizando testes rápidos (glicemia capilar) para hipertensos e pessoas classificadas em sobrepeso/obesidade com frequência no mínimo anual, conforme já é indicado pelo Ministério da Saúde. Assim a Equipe de Saúde da Família Dr. Pedro Monteiro de Almeida continuará realizando ações de busca ativa anualmente priorizando os homens e pessoas com os fatores de risco já relatados. 19 Também é importante destacar a pequena participação dos homens revelando que os paradigmas como o da invulnerabilidade masculina ainda prevalece, há com isso a necessidade da implementação da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, acolhendo e fazendo que o homem se sinta parte integrante da saúde. Segundo um estudo foi evidenciado que é elevada a prevalência de diabetes na população masculina demonstrando assim a necessidade da busca ativa para o gênero masculino associados aos outros fatores de risco (GOLDENBERG, Paulete; SCHENKMAN, Simone et al, 2003). Os resultados desta intervenção, portanto confirma a importância da realização da busca ativa em população com idade superior aos 40 anos, hipertensa e com classificação de sobrepeso/obesidade. Com isso é possível promover ações de saúde com foco na prevenção das DCNT, melhorando a qualidade de vida desta população contribuindo com os objetivos da Estratégia de Saúde da Família. 20 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Diabetes Mellitus. Brasília 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Diretrizes do NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família. Brasília 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica: Prevenção Clínica de Doença Cardiovascular, Cerebrovascular e Renal Crônica. Brasília 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Politica Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Brasilia 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão Arterial Sistêmica - HAS e Diabetes Mellitus - DM PROTOCOLO. Brasília 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Obesidade. Brasília 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus. Brasília 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Portaria n. 648/GM de 28 de março, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Rastreamento. (Série A. Normas e Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Primária, n. 29). Brasília 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. VIGITEL BRASIL 2007. Brasília 2008. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=29793&janela=1 CRUZ FILHO, Rubens A. et al . O papel da glicemia capilar de jejum no diagnóstico precoce do diabetes mellitus: correlação com fatores de risco cardiovascular. Arq Bras Endocrinol Metab, São Paulo, v. 46, n. 3, jun. 2002 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000427302002000300007& lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 mar. 2011. doi: 10.1590/S000427302002000300007. 21 FRANCISCHI, R. P. P. et al. Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Revista de Nutrição, Campinas, v. 13, p. 17-28, 2000. GOLDENBERG, Paulete; SCHENKMAN, Simone; FRANCO, Laércio Joel. Prevalência de diabetes mellitus: diferenças de gênero e igualdade entre os sexos. Rev. bras. epidemiol., São Paulo, v. 6, n. 1, Apr. 2003 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415790X2003000100004 &lng=en&nrm=iso>. access on 21 Mar. 2011. doi: 10.1590/S1415790X2003000100004. SMELTZER, S.C.; BARE, B. G. Brunner & Suddarth. Enfermagem médicocirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2005. v. 2 XAVIER, André Junqueira et al . Tempo de adesão à Estratégia de Saúde da Família protege idosos de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares em Florianópolis, 2003 a 2007. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 5, out. 2008 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232008000500019&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 19 set. 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232008000500019. BRASIL. Ministério da Saúde. 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