Tese_Rogério Benedito da Silva Añez

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E
RECURSOS NATURAIS – PPG BTRN
CURSO DE BOTÂNICA – CBO
ANÁLISE MORFOANATÔMICA DAS FOLHAS E CASCA DE
Aspidosperma nitidum BENTH. E Aspidosperma marcgravianum
WOODSON (APOCYNACEAE) COM ABORDAGEM
FARMACOGNÓSTICA E ETNOFARMACOLÓGICA
ROGÉRIO BENEDITO DA SILVA AÑEZ
Manaus – AM
2009
2
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
ANÁLISE MORFOANATÔMICA DAS FOLHAS E CASCA DE
Aspidosperma nitidum BENTH. E Aspidosperma marcgravianum
WOODSON (APOCYNACEAE) COM ABORDAGEM
FARMACOGNÓSTICA E ETNOFARMACOLÓGICA
ROGÉRIO BENEDITO DA SILVA AÑEZ
Orientadora: Drª. Maria Silvia de Mendonça
Co-orientadora: Drª. Débora Teixeira Ohana Bessa
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação
em Biologia
Recursos
Naturais
Tropical e
do
convênio
INPA/UFAM, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Doutor em
CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS,
concentração em BOTÂNICA.
Manaus - Amazonas
área
de
3 iii
A579
Añez, Rogério Benedito da Silva
Análise morfoanatômica das folhas e casca de Aspidosperma nitidum
Benth e Aspidosperma marcgravianum Woodson (Apocynaceae) com
abordagem farmacognóstica e etnofarmacológica / Rogério Benedito da Silva
Añez.--- Manaus : [s.n.], 2009.
xi, 115 f. : il. color.
Tese (doutorado)-- INPA/UFAM, Manaus, 2009
Orientador : Maria Silvia de Mendonça
Área de concentração : Botânica
1. Aspidosperma. 2. Anatomia vegetal. 3. Carapanaúba. 4. Plantas
medicinais. 5. Etnofarmacologia. I. Título.
CDD 19. ed. 583.72
Sinopse:
O trabalho envolve pesquisa Etnobotânica em duas comunidades da Amazônia, descreve a anatomia da folha e da
casca de Aspidosperma nitidum e Aspidosperma marcgravianum e realiza screening fitoquímico e ensaios para grupos
de alcalóides.
Palavras chave: carapanaúba etnobotânica, anatomia vegetal, plantas medicinais, screening fitoquímico
iv4
Dedicatória
À minha família (Luciana, Lorenzo e Sophia) que fizeram o
doutorado comigo e merecem todo meu crédito
Aos meus pais (Euclides Añez – in memoriam e Maria Izabel) e
minhas irmãs Cyntia e Miriam que lá de longe me ofertaram apoio e
positivas considerações.
À minha orientadora e amiga Dra. Silvia pela vida científica na
Amazônia
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que na sua infinita sabedoria me diz em várias vidas o
aprendizado necessário para meu aprimoramento;
Ao Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, pela oportunidade de
realização do curso de doutorado;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela
concessão da bolsa de doutorado;
A minha orientadora Dra. Maria Silvia de Mendonça Queiroz pela
oportunidade de desenvolvimento do projeto na Amazônia e orientação;
À Banca de qualificação de doutorado em nome da Dra. Débora Teixeira
Ohana Bessa e Dra. Lenise Benarrós Mesquita e dos Doutores Glenn Shepard Jr,
Antonio Carlos Webber, Hiroshi Noda;
À Banca de ‘referees’ examinadores dos resultados do projeto de
doutorado em nome dos Doutores Germano Guarim Neto, Antonio Carlos
Webber, e das Doutoras Maria Cristina de Melo Amorozo, Clélia Hiruma-Lima,
Débora Teixeira Ohana Bessa, Dalva Graciano Ribeiro, Maria de Fátima
Barbosa Coelho;
À UFAM pela cedência de seus laboratórios onde eu tive apoio logístico
para cumprir meus objetivos. A equipe do LABAF Laboratório de Botânica
Agroflorestal em nome da Dra. Silvia Mendonça. A equipe do Laboratório de
Química Farmacêutica em nome da Dra. Maria de Meneses Pereira;
À ESALC (USP) pelo estágio em Microscopia Eletrônica de Varredura
em nome do professor Dr. Kitajima;
À Universidade Federal de Viçosa, em nome da Dra Marília Ventrella e
de todos os que me acompanharam em momento oportuno dentro do laboratório
de Anatomia Vegetal com meu aprendizado, estágio e técnicas iniciais de
captura de imagem e MEV;
vi6
À UNICAMP, em nome da profª. Maria do Carmo Stanislau, pelo uso do
MEV e confecção de minhas imagens, pelo qual agradeço também a Adriane
(Técnica Bióloga) pela metodologia aplicada ao MEV e a Gisele (aluna do
curso) pelo auxilio nos computadores de captura de imagem;
Ao Herbário do INPA pelo auxílio na identificação do material coletado,
principalmente ao mateiro Sr. Dionísio Coelho (seo Dió) pelos ensinamentos no
campo e coleta;
À dona Maria Raimunda, presidente da comunidade, pela qual agradeço a
todos os membros da comunidade de Nossa Senhora de Aparecida do município
de Silves-AM pelos ensinamentos e riqueza de informação distribuídas a mim
sem o menor problema e por reconhecerem a importância da minha pesquisa
dentro das casas deles;
Mestre Gato, pelo qual agradeço a comunidade de Urubuí pela aceitação
de meus questionários inacabáveis e por auxiliar no meu aprendizado dentro da
floresta;
Às secretárias Neide e Gisele apoio logístico do curso;
Às Coordenadoras pelas quais passei nestes anos de doutorado, Dra.
Marlene (in memoriam), Dra. Maitê, Dra. Flávia e Dra. Maria Lúcia.
7 vii
Agradecimentos à Galera
Sem as quais o trabalho não teria sequer saído do papel, sem os quais minha
vida seria fria, chata e apenas mais uma:
Á minha orientadora Dra. Maria Silvia de Mendonça Queiroz que não vou
achar palavras pra dizer a importância dela na minha vida acadêmico-científica e
também na contribuição para meu amadurecimento como ser humano;
Á minha família (Luciana, Lorenzo e Sophia) que me entenderam e me
aceitaram do jeito que eu sou, cheio de manias, vícios e também coração. Por
aceitar meus muitos momentos de ausência e de reflexão em separado. Amo
vocês;
A minha mãe e meu pai (in memorian) que “formaram” comigo nesta vida
doida que escolhi e minha irmãs (Cyntia e Miriam) que incentivaram todos os
dias e compreenderam a ausência causada pela minha formação e que cuidaram
de papai e mamãe quando eu não podia estar aqui, e meu achado irmão
Leonardo que na sua simplicidade tenta entender o que eu faço;
À minha sogra e meu sogro, cunhada e marido que adicionam desejos de
sucessos em tudo que eu faço;
A amizade de Ressiliane Ribeiro Prata e Cássia Hack, uma na floresta e
outra no cerrado (nessa ordem) que seguraram a onda quando eu achei que tinha
me perdido;
Ao Técnico Everaldo pelas coletas iniciais na Reserva Adolpho Ducke;
Aos amigos e técnicos de campo Manoel Bacurau e Chiquinho da Gal,
ambos do LABAF pela amizade, coleta nas comunidades de Silves e Presidente
Figueiredo;
Ao técnico de laboratório Manoel (de novo) pela paciência comigo e pelos
cortes anatômicos cada dia mais finos;
À Tatiana do laboratório de Fitoquímica na primeira parte do trabalho que
eu nem sabia por onde ir;
8 viii
À Fernanda Guilhon do laboratório de Fitoquímica na segunda parte do
trabalho pela paciência, determinação e segurança com a qual me passou as
técnicas da área;
Ao Dr. Alexandre, que virou amigo, e me guiou dentro da anatomia e das
técnicas em laboratório no que ele pode fazer por mim;
Aos amigos do LABAF pelos puxões de orelha, ajuda específica, risadas,
companheirismo que foram fundamentais pra mim na Amazônia: Bárbara BBB,
Andréia, Ely Simone, Anália, Cristina, Tereza Cristina, Gal, Fernanda Ilkiu,
Mahedy, Lucilene, Leitão,
Aos amigos do INPA que começaram comigo e alguns que eu “peguei”
no caminho: Silvia Peruana, Otoniel, Lourdes, Otilene, Eva Atroch, Geisiane,
Welma, Isabel, Zaminelli, Lena, Isabella, Fernanda Mineira, Eleonora, Robson
Aos amigos de fora do meio Botânico mas que me ajudaram e muito a
chegar por aqui: Leodenil (mais uma né amigo?), Sérgio Fernandes, Waldo e
Érica
A todos, meus agradecimentos eternos
9ix
Lista de Quadros, Figuras e Anexos
FIGURAS
Pág.
Capítulo 3
Fig. 1 - Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Silves-AM
34
Fig. 2 – Comunidade Urubuí, Presidente Figueiredo-AM
36
Fig. 3 – Informante da comunidade num momento de coleta de informação, coleta
38
botânica e de relação pesquisador-pesquisado.
Fig. 4 – Informantes da comunidade, indicando a planta, reconhecendo-a no campo e
39
ensinando o reconhecimento morfológico do caule da espécie.
Fig. 5 – Coleta na comunidade
40
Fig. 6 – Folhas de Aspidosperma nitidum coletadas nas comunidades e triadas no campo
40
para encaminhamento ao LABAF/UFAM para herborização e análise estrutural.
Fig. 7 – Comparação entre os entrevistados em relação a participação do gênero
41
(homem e mulher).
Fig. 8 – Tempo de moradia (em anos) dos informantes na comunidade.
42
Fig. 9 - Casca retirada da espécie Aspidosperma nitidum na comunidade N. S.
48
Aparecida, Silves-AM.
Capítulo 4
Fig. 10 – Identificação em campo das carapanaúbas na Reserva Ecológica Adolpho
63
Ducke
Fig. 11 – local de onde se retirava a casca para analise morfológica e anatômica.
63
Fig. 12 – Cortes anatômicos de Aspidosperma nitidum Benth.,
75
Fig. 13 – Detalhe da epiderme de Aspidosperma nitidum Benth. feitas em MEV
76
Fig. 14 – Geral da Nervura Central foliar de Aspidosperma marcgravianum Woodson
77
Fig. 15 – Casca das espécie Aspidosperma nitidum Benth.
78
Fig. 16 – Casca da espécie Aspidosperma marcgravianum Woodson.
79
Fig. 17 – seção longitudinal tangencial de ambas as espécies estudadas.
80
Fig. 18 – Macerado das cascas de Aspidosperma nitidum e A. marcgravianum.
81
x10
Capítulo 5
Fig. 19. Preparação para análise de heterosídeos cianogênicos.
93
Fig. 20 – teste para cumarina observado em câmara escura com lâmpada ultravioleta.
93
Fig. 21 – Screening Fitoquímico da espécie Aspidosperma nitidum Benth.
99
Fig. 22 - Screening Fitoquímico da espécie Aspidosperma marcgravianum Woodson
102
Fig. 23 – Detecção preliminar de alcalóides pelos testes de Bertrand, Hager, Decinormal
103
de Iodo e Mayer
QUADROS
Quadro 1 – Formulário de entrevista para obtenção dos dados relativos ao entrevistado
119
Quadro 2 – Ficha de entrevista para obtenção dos dados relativos à planta
120
Quadro 3. Screening fitoquímica preliminar da espécie conhecida como carapanaúba
122
(Aspidosperma nitidum) – 2008
Quadro 4. Screening fitoquímico preliminar da espécie conhecida como carapanaúba
123
(Aspidosperma marcgravianum) – 2008.
GLOSSÁRIO DE TERMOS REGIONAIS
125
Abreviaturas encontradas na tese
126
xi11
Sumário
1
Introdução geral
15
2.
2.1
19
20
2.5
Revisão Bibliográfica
A humanidade mergulhada na memória e na transmissão do
conhecimento
Potencial de uso das espécies
A família Apocynaceae Lindley – morfologia e fitoquímica
O gênero Aspidosperma – revisão taxonômica, morrfonanatomia e
farmacognosia
As carapanaúbas – uso popular
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
O saber do Amazônida em relação ao uso da carapanaúba
Introdução
Procedimentos metodológicos
A entrada na comunidade
Coleta de Dados Botânicos
Resultados e Discussão
Conclusão
Referências bibliográficas
27
32
33
35
38
41
52
53
2.2
2.3
2.4
4
Aspectos morfoanatômicos de folhas e casca de Aspidosperma
nitidum Benth. e Aspidosperma marcgravianum Woodson
4.1
Introdução
4.2
Material e métodos
4.3
Resultados e discussão
4.3.1 Morfoanatomia da folha e da casca de Aspidosperma nitidum Benth.
4.4
Morfoanatomia da folha e da casca de Aspidosperma marcgravianum
Woodson
4.5
Conclusão
4.6
Referências Bibliográficas
5
21
23
24
25
56
61
62
65
66
70
74
82
5.1
5.2
5.3
5.4
5.5
Screening fitoquímico e detecção de alcalóides em Aspidosperma
nitidum Benth. e Aspidosperma marcgravianum Woodson
Introdução
Material e métodos
Resultados e Discussão
Conclusão
Referências Bibliográficas
84
89
91
98
105
106
6.0
Conclusão geral
109
7.0
Referências Bibliográficas Gerais
Anexos
110
119
12
Resumo
No presente trabalho foi realizado o estudo etnofarmacológico com
Aspidosperma nitidum e A. marcgravianum, conhecidas pelas comunidades
Nossa Senhora Aparecida (Silves-AM) e Urubuí (Presidente Figueiredo-AM)
como “carapanaúba”. Entretanto, os moradores dessas comunidades conhecem e
indicam como carapanaúba apenas Aspidosperma nitidum tendo o seu uso mais
comum para o tratamento de afecções do fígado e do estômago. A casca do
caule é a parte utilizada pelos comunitários para tratar as enfermidades descritas.
Pela proposta elaborada neste estudo, folhas e casca de Aspidosperma nitidum e
Aspidosperma marcgravianum tiveram a anatomia investigada com o objetivo
de identificar estruturas anatômicas e ainda averiguar qual seria dentre elas a
indicada na medicina popular. Amostras da folha e da casca de A. nitidum e A.
marcgravianum foram submetidas ao processo histológico segundo técnicas
usuais de microscopia de luz. Ambas espécies possuem similaridades estruturais
na folha e na casca. Contudo, quanto a coloração do limbo, presença e ausência
de esclereides e conformação do sistema vascular da folha, essas características
podem ser usadas na separação taxonômica entre as espécies estudadas.
Destaca-se a presença de laticíferos na casca e na folha de A. nitidum e A.
marcgravianum. No screening fitoquímico os principais compostos detectados
nas folhas e casca das duas espécies foram cumarinas, taninos condensados,
glicosídeos cardiotônicos e alcalóides. Estudos detalhados para isolamento e
purificação de alcalóides de A. nitidum e A. marcgravianum são recomendados.
Dessa forma, indica-se a continuidade da exploração da casca nas comunidades
tradicionais, como sempre foi feito, e a exploração das folhas pela indústria, nos
trabalhos futuros de bioprospecção.
Palavras-chave: carapanaúba, Amazônia, plantas medicinais, farmacognosia,
etnofarmacologia
13
Abtract
In this present paper was realized a ethnopharmacological study with
Aspidosperma nitidum and A. marcgravianum known as “carapanaúba”at
“Nossa Senhora Aparecida (Silves-AM) community and “Urubuí (Presidente
Figueiredo-AM) community. However, the livers at those communities know
and indicates just A. nitidum using it for treatment of liver and stomach diseases.
The stem bark is the part used by community livers for treatment of this disease
above. For the purpose of this paper, leaves and bark of A. nitidum and A.
marcgravianum were analysed in anatomy studies aiming to identify anatomic
structures and so to verify how specie of the two was indicated in folk medicine.
Samples of leaf and bark of A. nitidum and A marcgravianum were subimmited
to histological process according to usual techniques of optical microscope.
Both of these species have structural similarity in leave and in bark. However,
for the limb coloration, presence or absence of sclereids and the morphology of
mid bundle, these characteristic can be used to separate the
species
taxonomically. Laticifers can be found in bark and leaf of A. nitidum and A.
marcgravianum. In phytochemical screening the main detected compounds at
leaves and bark from two species are cumarina, condensed tannins, cardiotonic
glicosides and alkaloids. Detailed studies for alkaloids isolation and purification
to A. nitidum and A. marcgravianum are recommended. So this way, it can be
indicate barks for communities explorations, as they had done lately, and the
exploration from the leaves for industries, in later study of bioprospection.
Key-words: “carapanaúba”, Amazonia, medicinal plants, pharmacognosy,
ethnopharmacology
14
1
INTRODUÇÃO GERAL
15
1. Introdução Geral
Conhecida como a maior floresta tropical do mundo, ameaçada por
queimadas e desmatamentos, a Amazônia é, também, uma região com alto
potencial de dinamização. Nela está contida metade das espécies vegetais e
animais do globo e um terço das espécies de árvores do planeta – abrange a
maior biodiversidade (Abrantes, 2003). Frente a toda essa riqueza o uso que as
populações fazem das plantas com finalidade medicinal é expressivo, mas de
longe representa um bom percentual, haja vista a totalidade da biota presente na
região
que
merece
estudos
botânicos,
etnobotânicos,
farmacológicos,
anatômicos, farmacognóstico, etc. Levando-se, ainda, em consideração os outros
ecossistemas brasileiros, Ming (1996) diz que menos de 1% da flora nacional
tem sua composição química conhecida.
Aproximadamente 25% dos fármacos empregados atualmente nos países
industrializados, advêm direta ou indiretamente de produtos naturais,
especialmente de plantas superiores. Calixto (2001b) reforça esta afirmação
concluindo que a terapêutica moderna, composta por um grande número de
medicamentos com ações específicas sobre receptores, enzimas e canais iônicos,
não teria atingido o grau de desenvolvimento atual se não fosse o auxílio dos
produtos naturais.
No desenvolvimento das plantas, da germinação à senescência, estas
produzem diversas substâncias para si próprias, no entanto, essas substâncias são
ativas em outros organismos podendo neles ser usadas. Nessa premissa foca-se o
estudo da Farmacognosia que, de acordo com Simões et al. (2004), tem como
objetivo central o conhecimento das matérias-primas vegetais de importância
terapêutica. Como ponto de partida às abordagens interdisciplinares de estudo de
vegetais
fornecedores
etnofarmacologia que
de
matérias-primas
pode-se
começar
com
a
é complementada pela quimiossistemática, pela
bioquímica vegetal e pelo emprego de novas metodologias de análise química e
16
farmacológica – que tem gerado novos conhecimentos sobre plantas de emprego
tradicional, que estão obrigando à revisão de seu uso.
Das espécies utilizadas na Amazônia brasileira como medicinais e
indicadas para muitas finalidades, as carapanaúbas (Aspidosperma spp.) estão
entre
estas que passarão
por criterioso
estudo
etnofarmacológico
e
morfoanatômico por conterem alcalóides na sua composição química (Gilbert et
al., 1965; Marques et al., 1996; Brasil, 1976a; Brasil, 1976b) e serem
comumente comercializadas para muitas afecções. Na medicina popular são
utilizadas para tratamento de febres e bronquites (Balbach, s.d.), de afecções dos
rins, fígado e estômago e ainda, para o tratamento de malária (Hidalgo, 2003).
Até a última década houve um aumento de interesse no Gênero
Aspidosperma. Até 1956 apenas quatro alcalóides foram descritos para as
espécies deste gênero, mas desde então não menos de 16 novos alcalóides foram
isolados de diferentes espécies de Aspidosperma, principalmente da casca do
caule (Kulkarni et al., 1973).
Através de pesquisa etnobotânica são revelados dados suficientes para
selecionar
uma
ou
outra
espécie
e
desenvolver
estudos
químicos,
farmacológicos, morfoanatômicos. Muitos autores (Oliveira, 1993, Metcalfe e
Chalk, 1950 e Rio et al., 2002) relatam que esses estudos poderão ampliar o
conhecimento sobre determinada espécie ou agrupamento sistemático vegetal,
servindo de instrumento para taxonomia, inclusive.
A maioria dos alcalóides indólicos, segundo Schripsema et al. (2004), são
encontrados em Apocynaceae, os da classe monoterpênico são todos
encontrados nesta família. A ocorrência destes alcalóides fora da ordem
Gentianales é rara e quando existem são alcalóides indólicos simples.
Explorando trabalhos morfoanatômicos, químicos e farmacológicos com
espécies do gênero Aspidosperma destacam-se resultados como os de Pacheco
(1979) e Marques et al. (1996) revelando alcalóides, Kulkarni et al. (1973) com
aspectos farmacognósticos macro e microscópicos revelando diferenças entre a
17
anatomia das paredes celulares e presença ou ausência de fibras entre as espécies
auxiliando na taxonomia do gênero. Valente e Freire de Carvalho (1974)
encontraram
diferenças
morfoanatômicas
permitindo
elucidar
aspectos
ecológicos baseados em estudos da morfoanatomia vegetal (alterações no
comportamento), já Albuquerque (1971) revelou similaridade em três espécies
com a presença de tanóides.
O estudo das plantas medicinais tem se revelado de grande importância,
uma vez que, através do conhecimento da cultura de um povo, novos
conhecimentos são gerados e através de pesquisas com cunho à Bioprospecção
muitos medicamentos podem ser produzidos atingindo todas as camadas sociais,
auxiliando a manutenção da saúde e condições de vida melhor.
Trabalhos etnobotânicos atingem as comunidades uma vez que recuperam
o conhecimento sobre o uso de plantas (por exemplo, medicinais), permitem
ainda conhecer formas diferenciadas de tratar a natureza e os recursos
provenientes dela. Dessa forma os métodos de abordagem em trabalhos desta
natureza propiciam conhecer e divulgar a cultura e pode ainda oferecer troca no
conhecimento local com outras formas de conhecimento, inclusive àqueles das
universidade e institutos de pesquisas. Pode ainda auxiliar aos pesquisadores a
trabalhar diretamente com as plantas utilizadas em uma dada região (ou
comunidade).
Desta forma, a presente pesquisa foi idealizada para obter informações por
meio de estudo etnobotânico e morfoanatômico nas espécies Aspidosperma
carapanauba Pichon e Aspidosperma marcgravianum Woodson que possam
revelar o resgate do conhecimento popular resguardado nas diferentes gerações
e, ainda, demonstrar aspectos farmacognósticos que permitem evidenciar
constituintes químicos responsáveis pelas atividades terapêuticas, além de
contribuir com informações a sistemática e taxonomia. Assim objetivou-se
trabalhar com os moradores das duas comunidades amazônidas e averiguar o
uso das plantas medicinais conhecidas como carapanaúbas e analisar a
18
morfoanatomia da casca e das folhas das espécies Aspidosperma nitidum Benth.
e Aspidosperma marcgravianum Woodson (Apocynaceae) com abordagem
fitoquímica, farmacognóstica e etnofarmacológica como contribuição ao estudo
de plantas medicinais da região amazônica.
Em razão da abordagem deste estudo encontrar-se dividida em três áreas
diferentes do conhecimento, este trabalho está apresentado em três capítulos
distintos e interligados, correspondentes às áreas investigadas e com
metodologia apropriada para cada temática.
19
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
20
2.1. - A humanidade mergulhada na memória e na transmissão do conhecimento
Desde a pré-história o homem procurou aproveitar os princípios ativos
existentes nos vegetais. É na idade moderna que a Botânica começa a tomar sua
feição própria, porém sempre colaborando com a Medicina. Em todas as partes
do mundo estão sendo reativadas as pesquisas sobre produtos de origem natural.
Há uma demanda cada vez maior de novas fontes naturais de nutrientes e
medicamentos. Para atender a essa procura, a Amazônia brasileira oferece um
apreciável potencial, devido ao grande número de espécies disponíveis, embora
a maioria seja pouco conhecida e ainda não pesquisada. Muitas delas,
empregadas comumente pelas populações amazônicas, não foram identificadas e
seus princípios ativos ainda são desconhecidos o que dificulta uma avaliação de
suas possibilidades medicamentosas e seu aproveitamento econômico (Berg,
1993).
Embora Berg (1993) afirme que os princípios ativos existentes nos
vegetais sempre foram utilizados pela humanidade baseado em descobertas ao
acaso, devemos levar em consideração que além do “acaso” a cultura no uso das
plantas ainda detém observações, experimentação que se somam na construção
do conhecimento de um grupo humano sobre uso e manejo das plantas.
O uso das plantas medicinais tem sido uma prática consagrada em épocas
diversas da história humana, cujo acúmulo de informações, obtido através de
experiências de vários povos, representa milênios de história desde o século III
a.C., quando os únicos recursos medicamentosos disponíveis eram, em grande
parte, provenientes dos vegetais, até o início do século XX quando houve o
advento da síntese química (Ming, 1994). Existem algumas evidências de que o
homem pré-histórico já fazia uso de plantas medicinais para amenizar o
sofrimento de males físicos que lhe acometiam (Castro e Chemale, 1995).
21
Aproximadamente 25% de todos os medicamentos disponíveis entre os
anos de 1959 a 1980, eram direta ou indiretamente derivados de plantas
fanerógamas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, devido à
pobreza e ao precário acesso ao sistema de saúde, cerca de 65 – 80% da
população mundial que vive em países em desenvolvimento depende
essencialmente das plantas para os cuidados básicos da saúde (Ming, 1994;
Calixto, 2000).
O papel das plantas no cotidiano das populações humanas tem sido objeto
de estudos há longo tempo, estes estudos buscam identificar nas comunidades
estudadas espécies vegetais com diferentes usos, que possam ser incorporadas à
economia das sociedades (Silva-Almeida e Amorozo, 1998). Com relação às
plantas medicinais não foi diferente. Seu uso empírico para tratar diversos males
tem proporcionado a descoberta de medicamentos importantes.
2.2. – Potencial de uso das espécies
De acordo com Ming (1996), há uma controvérsia sobre o número de
espécies vegetais fanerogâmicas existentes no Brasil, oriunda, principalmente,
da imprecisão de dados e da falta de pesquisa. Nos diversos biomas brasileiros,
estima-se que existam 55 mil espécies. Desta forma, quanto maior o número de
espécies, maior é o potencial para novos agentes fitoterápicos. No Brasil, este
potencial está quase todo a ser descoberto. Segundo Gottlieb (1981) apud Ming
(1996), não se sabe nada sobre a composição química de 99,6% de nossa flora.
Silva-Almeida e Amoroso (1998) destacam que apenas 10% das espécies
vegetais existentes no planeta foram estudadas do ponto de vista de seu uso
como medicamento. Aproximadamente 25% dos fármacos empregados,
atualmente, nos países industrializados advêm, direta ou indiretamente, de
produtos naturais, especialmente de plantas superiores. No entanto, durante os
últimos 20 anos (Filho e Yunes, 2001), os fármacos de origem natural que
22
apareceram no mercado são, em proporção majoritária, oriundos de pesquisas
científicas realizadas na China, na Coréia e no Japão.
Visando a conservação de espécies e a garantia de produção de recursos
genéticos vegetais, várias instituições de pesquisas vêm efetuando a conservação
da variabilidade genética de espécies autóctones (Primack e Rodrigues, 2001) e
também de espécies medicinais como Psycotria ipecacuanha (poaia) (Assis e
Giulietti, 1999). Neste caso, para que a conservação seja eficiente, torna-se
necessário o conhecimento a respeito da biologia reprodutiva, ecologia, padrão
de distribuição das espécies envolvidas, além de informação prévia da existência
de variabilidade genética nas populações envolvidas e de sua forma de
distribuição, comparadas com outras populações nativas.
Certamente, diz Calixto 2001b, a terapêutica moderna, composta por um
grande número de medicamentos com ações específicas sobre receptores,
enzimas e canais iônicos, não teriam atingido o grau de desenvolvimento atual
se não fosse o auxílio dos produtos naturais, notadamente aqueles derivados das
plantas superiores. Os produtos naturais também são usados como matéria-prima
para síntese de moléculas complexas de interesse farmacológico, e
principalmente como protótipo para o desenvolvimento de novos medicamentos
pelas grandes indústrias.
Percebendo a necessidade de se adquirir melhores informações referentes
a estudos morfológicos, usos terapêuticos e a distribuição geográfica, Nunes et
al. (1991) realizaram pesquisa com Quassia amara L. presente na Amazônia
brasileira destacando esses pontos e informando ainda que “as plantas
medicinais, de um modo geral, vêm despertando interesse científico, devido a
sua baixa toxicidade e custo”.
A gigante Amazônia ainda possui extensa área de densa floresta tropical,
alta diversidade de espécies de animais e vegetais distribuídas numa grande
variedade de ecossistemas terrestres e aquáticos, traduzindo-se assim em um
enorme potencial econômico e de recursos genéticos no presente e para o futuro.
23
Com mais ou menos evidência, os produtos naturais sempre estiveram presentes
na economia da região Amazônica, constituindo-se, muitas vezes, na única
alternativa de sobrevivência (Revilla, 2000).
O estudo do princípio ativo de uma planta pode auxiliar na obtenção de
novas drogas (Di Stasi e Hiruma-Lima, 2002), porém é necessário estudos
fitoquímicos para conhecer quais tipos de produtos estão em atividade na plantas
e ainda que órgão está produzindo este produto. Nas espécies de carapanaúbas
(Aspidosperma spp.) há uma riqueza em alcalóides (Gilbert et alli, 1965) que
merecem estudos e maiores destaques pois estas espécies estão sendo usadas na
medicina popular, particularmente na cidade de Manaus-AM.
2.3. – A família Apocynaceae Lindley – morfologia e fitoquímica
Mabberley (1997) apud Di Stasi e Hiruma-Lima (2002) informa que esta
família inclui 165 gêneros com aproximadamente 1900 espécies tropicais e subtropicais. Hoehne (1978) relata que no porte da família Apocynaceae, do ponto
de vista morfológico, variam os seus representantes desde as menores ervas e
cipós às mais frondosas e majestosas árvores como o são as “perobeiras” e
“guatambus”.
Gemtchújnicov (1976) e Berg (1993) citam que Apocynaceae tem plantas
de todos os portes mas predominando arbustos, ervas e trepadeiras, latescentes
(muitas venenosas), com folhas opostas ou verticiladas, decussadas, simples e
inteiras. As inflorescências são cimosas, raro racemosas, ou solitárias, com
flores pentâmeras simpétalas, de prefloração contorta; androceu isostêmone com
estames inseridos no tubo da corola; gineceu com ovário súpero, geralmente
bilocular, estilete filiforme coroado por um estigma adpresso às anteras; os
frutos indeiscentes ou deiscentes; sementes às vezes aladas ou com pêlos.
Barroso et al. (1999) apontam os frutos de Aspidosperma com
característica proveniente de ovário súpero com cápsula equinada com cerca de
5-6 cm de comprimento, e aproximadamente 3-5 cm de largura, com semente de
24
inserção peltada no funículo mais ou menos longo, com asa não-hialina e núcleo
seminífero liso; sementes com endosperma e embrião espatulado, com eixo
hipocótilo-radícula alongado. As sementes são sem endospermas ou com
endosperma não-ruminado e são comosas e não comprimidas. Apocynaceae
pode conter ainda frutos múltiplos e simples. Na subfamília Plumiroideae
ocorrem os dois tipos de frutos e, na Apocynoideae, apenas os múltiplos estão
representados. As sementes de Aspidosperma são aladas e circulares.
Gemtchújnicov (1976) cita o fruto como seco capsular ou 2 frutícolos cada qual
resultante do desenvolvimento de um carpelo. Sementes aladas ou pilosas com
raras exceções.
Di Stasi e Hiruma-Lima (2002) consideram a família Apocynaceae uma
das mais importantes fontes vegetais de constituintes químicos de utilidade na
medicina moderna. Várias substâncias têm sido isoladas a partir de espécies
dessa família e muitas dessas espécies representam protótipos de classes
farmacológicas distintas de drogas e que fazem parte da história da
Farmacologia e da Terapêutica, informam ainda que espécies de Aspidosperma,
entre outros gêneros, tem sido objeto de estudos como fonte de novas drogas.
2.4. O gênero Aspidosperma – taxonomia, morfoanatomia e farmacognosia
Em relação a biodiversidade da flora nacional, inúmeras espécies vegetais
merecem estudos abrangentes. Neste contexto muitos trabalhos foram realizados
com espécies de Aspidosperma. Duarte (1980), por exemplo, estudou a espécie
A. longipetiolatum Kuhlmann descrevendo-a e comparando com A. australia e
A. olivaceum. Em outro trabalho Duarte (1970) dá uma contribuição para uma
revisão do gênero Aspidosperma trabalhando com a flora extra-amazônica e
destacando três espécies (A. discolor, A. pruinosum e A. compactinervium)
inclusive separando estas duas últimas que anteriormente estavam como
sinônimos botânicos. Ainda Duarte (1978) dá continuidade em seus estudos da
revisão deste gênero e apresenta mais três espécies da flora extra-amazônica.
25
Em seu trabalho com pereiro-preto (Aspidosperma pyrifolium Mart.)
Pacheco (1979) descreve a morfologia, a morfoanatomia e revela, sob aspectos
químicos, a planta como tóxica (anteriormente já indicada pelos populares).
Valente e Freire de Carvalho (1974) apresentam dados de anatomia comparada
da lâmina foliar de A. pyrifolium Mart. var. molle Muell. Arg. trabalhando uma
comparação entre indivíduos desta mesma espécie mas sendo uma cultivada em
região diferente da caatinga e outro indivíduo em seu hábitat natural.
Kulkarni et al. (1973) apresentam dados farmacognósticos ao pesquisar a
casca de algumas espécies de Aspidosperma, trabalhando com características
micro e macroscópicas fornecendo dados morfoanatômicos e revelando aspectos
químicos, como alcalóides presentes nas espécies trabalhadas (sete no total). Já
Albuquerque (1971) relata três espécies (A. carapanauba Pichon., A.
marcgravianum
Woodson,
A.
oblongum
A.
DC.)
fornecendo
dados
histoquímicos e morfoanatômicos das folhas.
2.5. As Carapanaúbas – uso popular
Vários autores (Balbach, s.d.; Correa, 1984; Guarim Neto, 1997 e Tenório
et al., 1991) destacam o potencial medicinal das espécies A. carapanauba
Pichon. e A. nitidum Benth.
A. marcgravianum é denominada de carapanaúba do baixio é uma árvore
de até 60m de altura, da mata primária de terra firme de solo argiloso ou
raramente argilo-silicoso, úmido; de tronco lamelado, casca escamosa com cerca
de 3mm de espessura. Floresce de agosto a outubro e frutifica em fevereiro a
março. Tem como área de dispersão o Amazonas, Pará, Suriname e Bolívia
(Albuquerque, 1971)
Para A. nitidum Benth. usam-se as folhas para fazer chá e também a
maceração da entrecasca do caule que é usada internamente para o tratamento de
bronquites e diabetes (Tenório et al., 1991). Encontra-se desde as Guianas até o
Mato Grosso, no Brasil. Possui porte arbóreo 15-25m com tronco canelado.
26
Segundo informações dos vendedores de plantas medicinais do mercado
municipal Adolpho Lisboa (em Manaus) esta espécie serve para o tratamento de
afecções do fígado (e aumenta bastante a procura em épocas festivas), serve para
curar malária e pedaços pequenos da casca servem para tratamento dos rins. Foi
ainda revelado seu uso para tratamento do estômago.
As espécies a seguir foram encontradas com a mesma denominação
vernacular de carapanaúba: Aspidosperma nitidum, A. marcgravianum, A.
carapanauba, A. oblongum, A. auriculatum (Corrêa, 1984; Lorenzi, 1992 e
1998; Barbosa, Tavares e Soares, 2003)
27
3
O saber do Amazônida em relação ao uso da
carapanaúba
28
Resumo
A Etnobotânica aplicada ao estudo de plantas medicinais, como vem
sendo praticada modernamente, trabalha com outras disciplinas correlatas, como
por exemplo, a etnofarmacologia, anatomia, fitoquímica. Com o intuito de
realizar estudo Etnobotânico nas comunidades Nossa Senhora Aparecida
(Silves-AM) e Urubuí (Presidente Figueiredo-AM), foi enfocado o uso das
chamadas
carapanaúbas
(Aspidosperma
nitidum
e
Aspidosperma
marcgravianum) na medicina popular daquelas localidades. A coleta de dados
Etnobotânicos ocorreu na moradia de 58 entrevistados, com a anuência prévia de
cada um. Inicialmente foi procurada uma pessoa de destaque nas comunidades e
as demais eram indicadas pelos próprios entrevistados. Houve coleta de material
botânico com os próprios informantes nas suas localidades. Cada pessoa das
comunidades entrevistadas que se dispusesse a participar da coleta indicava a
planta e demonstrava a maneira correta de coletar e usar. Foram coletadas folhas
e também casca dos mesmos indivíduos. A espécie usada nas duas comunidades
é reconhecida por alguns informantes ainda no estágio de plântula. As pessoas
das comunidades conhecem e indicam a carapanaúba como planta medicinal,
contudo apenas uma das espécies é indicada (A. nitidum). O uso mais comum da
espécie é para tratamento de afecções do fígado e estômago. É comum ainda a
indicação para profilaxia contra a malária e também para seu tratamento
sintomático. A planta ainda é reconhecida como contraceptiva e poucas vezes
foi indicada como abortiva. A casca do caule é a parte utilizada nas
comunidades, na forma de chá com poucas citações ou diretamente na água sem
fervura. Pela proposta as folhas foram coletadas para análise laboratorial para
posterior estudos anatômicos e fitoquímicos. As pessoas da comunidade fazem
uso e se preocupam com a diminuição desta espécie na floresta uma vez que
29
dependem dela para alguns tratamentos. Os jovens estão deixando as
comunidades indo para a cidade e as informações podem ser perdidas, segundo
relato dos mais velhos.
Palavras-chave: Plantas medicinais, Amazônia, comunidades, etnofarmacologia
30
The Amazonian knowledge in relation to the usage of ‘carapanaúba’ plant
Abstract
The Ethnobotany apllied to medicinal plants study, as being practiced actually,
works directly with others disciplines, for example, ethnopharmacology,
anatomy, phytochemistry. Aiming to realize ethnobotany studies at “Nossa
Senhora Aparecida (Silves-AM) and Urubuí (Presidente Figueiredo-AM)
communities, was focused the usage of “carapanaúba” plant (Aspidosperma
nitidum and Aspidosperma marcgravianum) in folk medicine at that place. The
ethnobotany data collection occurred at the
informant house with their
authorization. There were botany material collection with the same informant at
their locality. Each person at the interviewed community that wants to
participate of the collection indicated the plant and could show the correct way
to collect and use. Leaves and barks were collect of the same individuals. The
specie used at the community is recognized by some informants even at lower
stage of age. People ate the communities know and indicate the “carapanauba”
as medicinal plant, although just one species is indicated (A. nitidum). The most
common usage of this species was to treat affections of liver and stomach. It’s
still common the people indicate to prophylaxis against malaria and also its
symptomatic treatment. The plant is also known as contraceptive and just
sometimes was indicated as abortive. The stem bark is the part of the plant used
as tea at the communities in some citation and directly in the water without boil.
For the purpose of this work the leaves were collected for lab analyses for later
anatomic and phytochemical studies. People at the communities use the species
and are worried about with plant forest decreasing once they depend on it for
31
some treatment. Youngers are leaving the communities changing them by the
city and the informations can disappear, according to the olders.
Key-words: Medicinal plants, Amazônia, communities, ethnopharmacology
32
3.1. – Introdução
Albuquerque (2002) informa que inicialmente a Etnobotânica era uma
área entendida como o estudo do uso de plantas por aborígenes, porém a partir
de meados do século XX, passou a ser compreendida como o “estudo das interrelações entre povos primitivos e plantas”, acrescentando-se um componente
cultural a sua interpretação pelo engajamento cada vez maior de antropólogos.
Com essa ampliação e a colaboração da antropologia cultural, bem como de
outras ciências relacionadas (fitoquímica, ecologia, economia e lingüística),
ocorreu ainda uma maior diversificação de objetivos e métodos.
Em relação aos estudos farmacognósticos, com base nos enfoques
etnobotânicos e etnofarmacológicos, Di Stasi (1996) esclarece que as plantas
medicinais sempre foram objeto de estudo, a que diferentes profissionais
passaram a desenvolver dentro dessa área. A Farmacognosia ocupa-se dos
estudos voltados para examinar e caracterizar as
drogas ou bases
medicamentosas de origem natural com menor ênfase na ação (Di Stasi, 1996;
Robbers et al., 1997), e ao lado da Farmacologia e Química Farmacêutica tem,
então, realizado estudos de plantas medicinais (Robbers et al., 1997).
Dentre as etapas importantes na obtenção de um medicamento, a seleção
da planta medicinal é de extrema importância e deve-se levar em conta vários
passos, dentre eles o emprego de conhecimento etnofarmacológico. Utilizando
informações
corretas
da
etnofarmacologia,
é
possível
aumentar,
significativamente, a probabilidade de encontrar plantas com boa atividade
farmacológica (Calixto, 2001a).
As plantas medicinais, em especial as suas associações, são muito usadas
em diversas afecções. Toda vez que se aborda uma comunidade alvo de estudos
etnobotânicos, descobre-se a relação que os povos detém em relação ao
ambiente em que estão inseridos, seja para problemas do corpo ou do espírito.
33
Uso das plantas para tratar doenças do trato digestório, para infecções em geral e
também para doenças da mulher (por exemplo problemas de parturientes,
aborto, infecções genitais) é comum em comunidades tradicionais. Na floresta
amazônica o contato direto das pessoas com a flora permite conhecer partes da
planta ou ela toda como medicamento para esses e outros problemas do dia-adia.
Com a finalidade de se conhecer como os membros de duas comunidades
da Amazônia (em Silve e em Presidente Figueiredo) lidam com a planta
denominada popularmente de carapanaúba foi proposta uma investigação
etnobotânica que abordaria a forma de interação entre pessoas com a planta
estudada nas duas comunidades, seu uso, manejo e manutenção do
conhecimento dentro da comunidade.
3.2. – Procedimentos Metodológicos
Áreas de Estudo
O universo de estudo foram os moradores das comunidades “Nossa
Senhora de Aparecida” no município de Silves – AM e “Urubuí” em Presidente
Figueiredo – AM.
A) Comunidade Nossa Senhora de Aparecida
A cidade de Silves está localizada na posição geográfica 02º50’20”
latitude sul e 58º12’33” de longitude oeste, estando a 46 metros de altitude com
cerca de 8.400 habitantes (Brasil, 2007). Neste município encontra-se a
comunidade Nossa Senhora de Aparecida (Fig. 1), que sofre influência política
do município de Itacoatiara, pela proximidade espacial entre as duas localidades.
A comunidade dista da capital do estado cerca de 300 km, sendo a maior parte
por asfalto, contudo 50 km do percurso são feitos em estrada de chão, muitas
vezes de estrada precária por onde circulam veículos pesados que retiram
madeira da região.
34
Na comunidade, os homem trabalham na extração da madeira como meio
de sobrevivência. Ás mulheres são destinados os trabalhos domésticos e o
cuidado com os filhos. Algumas famílias trabalham na agricultura de
subsistência e poucas espécies são comercializadas entre os moradores.
A plantação do cupuaçu existia nas casas de alguns entrevistados, mas não
era a prioridade dos trabalhos uma vez que eles não tinham onde estocar o
produto e o destino da polpa ficava limitado a apenas um comprador local.
Muitas vezes esta matéria prima era desperdiçada pela grande quantidade
disponível e pouco uso local.
Fig. 1 – Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Silves-AM. A) Acesso por asfalto, B) entroncamento
para entrada ao acesso a comunidade, C) e D) acesso por estrada de chão, E) Centro comunitário,
Escola e Centro de saúde, F) Uma das casas da comunidade “mergulhada” na floresta Amazônica, G)
frente da casa, igarapé local, H) Um dos moradores entrevistado em sua residência, I) local de estadia
na comunidade.
35
B) Comunidade Urubuí
A cidade de Presidente Figueiredo dista 110km da capital amazonense,
com um número de 25.500 habitantes (Brasil, 2007). Encontra-se uma situação
mais privilegiada que a outra comunidade se for levado em consideração o
acesso a cidade, pois todo percurso é feito por estrada asfaltada, contudo a
comunidade Urubuí (Fig. 2) está nas margens do setor urbano sofrendo as
influências mais diretas da cultura urbana. A cidade é de alto potencial turístico
na região, conhecidas por suas corredeiras e cachoeiras que atraem todos os anos
um número imensurável de turistas de várias partes do Brasil e do mundo. A
comunidade encontra-se margeada por toda essa mistura de saberes, os locais e
os “vindos de fora”, e ainda detém particularidades do conhecimento sobre
plantas medicinais estocado na memória dos moradores locais.
Os comunitários mesmo vivendo no setor urbano ainda têm o privilégio
de estarem circundados por parte da floresta Amazônica de onde usam dos
recursos da fauna e da flora para sua subsistência e algumas vezes retiram
sustento da família com a venda de produtos cultivados em seus quintais, roças
ou plantações. Algumas famílias vivem da produção de carvão com a retirada de
madeira local.
3.3. – A entrada na comunidade
O fato de estas comunidades terem sido escolhidas deu-se em decorrência
da análise da literatura de outros trabalhos nela desenvolvidos anteriormente. Na
comunidade Nossa Senhora de Aparecida houve trabalho de levantamento
etnobotânico (França, 2006) onde indicou os nomes vulgares das espécies alvo
deste trabalho. A comunidade Urubuí de Silves-AM, foi selecionada por
indicação de pessoas que já trabalharam com assuntos etnobotânicos em
36
momentos anteriores (Hidalgo, 2003) e indicaram também o nome vulgar das
espécies tratadas.
Fig. 2 – Comunidade Urubuí, Presidente Figueiredo-AM. A) Acesso por asfalto até a chegada na
comunidade, B) Entrevista com um dos informantes, C) Área de plantio de um dos informantes da
pesquisa, D) Um dos momentos da entrevista, E) Uma das casas da comunidade “mergulhada” na
floresta Amazônica, F) Detalhe da moradia de um dos informantes, G) Percurso com informante na
área de coleta da planta estudada, H) Coleta nas proximidades da comunidade, I) local de estadia na
comunidade.
37
Antes de iniciar a pesquisa nas comunidades, membros dentro dela foram
anteriormente contatados para explanação do projeto de pesquisa e posterior
autorização da entrada do pesquisador na comunidade.
A
investigação
nas
comunidades
trabalhadas
foi
acompanhada,
inicialmente, de um líder comunitário que indicou as pessoas que manejam
espécies vegetais com finalidade medicinal. Estas pessoas foram convidadas a
participar de entrevistas e questionadas quanto ao uso destas espécies, objeto
desta pesquisa. Dentre os moradores das comunidades foram procuradas as
pessoas que usavam e indicavam plantas medicinais no local e, geralmente,
esses eram os mais velhos na localidade ou ainda seus filhos.
A coleta de informações etnobotânicas foi precedida de pesquisa de
campo com questionário pré-estabelecido com perguntas abertas e semiestruturadas para as entrevistas, de acordo com pressupostos metodológicos de
Martin (1995), Alexiades (1996), Amorozo (1996) e Albuquerque et al. (2008).
Houve ainda observação participativa (efetuada nos momentos cotidianos da
comunidade) e, quando permitido, o uso de gravador, assim como estudos
realizados por França (2006) na mesma comunidade em Silves.Foi
imprescindível o acompanhamento dos informantes nas áreas de coleta das
plantas.
As primeiras visitas nas comunidades serviram de etapa pré-teste da
pesquisa uma vez que redirecionaram as argüições postas nos formulários e
dirigiram o pesquisador a perguntas pontuais. O uso dos formulários com
perguntas abertas permitiu livre resposta dos entrevistados e atendeu aos
objetivos da pesquisa etnobotânica, revelando o conhecimento cultural em
relação às plantas nestas comunidades (Quadro 1 e 2, nos Anexos). Os
pressupostos metodológicos foram similares aos empregados por Guarim Neto
(1996), Souza (1998), Añez (1999), Noda (2000).
38
O conhecimento cultural bem como as informações sociais foram obtidos
através de entrevistas (Quadro 1) onde se conheceu a pessoa que detinha o
conhecimento das espécies estudadas e ainda como a mesma aprendeu a lidar
com a planta, inclusive para o tratamento da saúde. Os formulários guia das
entrevistas (Quadro 1 e Quadro 2), direcionaram salientando a maneira como a
espécie carapanaúba é usada, quando e por quem.
Os dados das entrevistas foram compilados ao mesmo tempo e estão
apresentados nos resultados.
3.4. – Coleta de Dados Botânicos
O material botânico foi coletado nas próprias comunidades onde foram
obtidas as informações etnobotânicas e foi, sempre, indicado pelos informantes
locais. As cascas coletadas foram retiradas pelos próprios informantes
demonstrando a maneira correta para permanecer com a espécie vegetal sempre
presente (Fig. 3 e 4). As folhas (Fig. 6) foram retiradas por técnicos que
utilizaram rapel, gancho (garra) ou peconha para tal finalidade (Fig. 5)
Fig. 3 – Informante da comunidade num momento de coleta de informação, coleta botânica e
de relação pesquisador-pesquisado. O sr. Zé Gomes demonstrando a maneira da retirada da
casca com uso do terçado.
39
Na Reserva Florestal Adolpho Ducke (INPA, Manaus-AM) foram
selecionados três indivíduos, de cada espécie estudada, onde foram coletados
para estudos em laboratório, os mesmos estavam etiquetados e registrados sob o
número 181832 para A. nitidum e sob o número 180516 para A. marcgravianum,
ambas no herbário do INPA. Destacamos que para a espécie A. marcgravianum
foi imprescindível a coleta na Reserva Ducke uma vez que, por não ter sido
citada nas comunidades envolvidas, não foi coletada pelos informantes e o
pesquisador.
No momento da coleta nas comunidades a participação dos entrevistados,
na pesquisa etnobotânica, foi primordial. Os indivíduos coletados apresentavamse na fase adulta de desenvolvimento, contudo fora coletado um indivíduo
jovem por ser indicado por um informante da comunidade de Silves-AM como
sendo a espécies utilizada por eles.
As coletas realizadas na Reserva Ducke serviram para comparação com as
coletas realizadas nas comunidades de Silves e de Presidente Figueiredo donde
foram coletados 03 indivíduos em cada uma das comunidades envolvidas.
As cascas foram retiradas com auxílio de terçado, tanto na reserva Ducke
como
com
os
próprios
informantes nas comunidades
estudadas.
Todo
material
foi
preparado ainda no campo e uma
parte era depois levada para
estufa do LABAF/UFAM para
procedimentos
finais
de
herborização.
Fig. 4 – Informantes da comunidade, indicando a
planta, reconhecendo-a no campo e ensinando o
reconhecimento morfológico do caule da espécie.
40
As cascas foram mantidas em sacos de papel etiquetados. As folhas eram
divididas em duas proporções: algumas armazenadas em sacos de plástico em
geladeira para desidratação e outras eram mantidas em FAA 50% por 24h e
estocadas em álcool 70% até os procedimentos rotineiros de anatomia vegetal.
Fig. 5 – Coleta na comunidade. Uso de material de campo. Em A) material de rapel, B) lançamento
das cordas para apreender numa árvores suporte, C) subida em árvore suporte para coleta na copa, D)
uso do cinto de segurança para subida direta, E) a árvore suporte, F) escalada em árvore suporte, G)
preparo dos equipamentos – garra - para subida, H) escalada com garra.
Fig. 6 – Folhas de Aspidosperma nitidum coletadas nas comunidades e triadas no campo para
encaminhamento ao LABAF/UFAM para herborização e análise estrutural.
41
3.5. – Resultados e Discussão
3.5.1. – Dados Sócio-culturais
Foram incluídas nas pesquisas etnobotânicas, das duas comunidades, um
total de 58 entrevistados com diferenças nas relações de gênero dentro das
localidades-alvo.
Desta forma a Fig. 7 demonstra
O Gênero
que o número de homens supera o de
mulheres, contradizendo muitas outras
Homens
pesquisas de campo semelhantes e em
Mulheres
outras localidades (Añez, 1999; Souza,
1998; França, 2006) perfazendo um total
de 34 homens (59%) e 24 mulheres
41%
59%
(41%).
Fig. 7 – Comparação entre os entrevistados em
relação a participação do gênero (homem e
mulher). O número de homens nas entrevistas
ficou em torno de 59% para 41% de mulheres.
As visitas foram realizadas em muitos horários diferentes e nas entrevistas
o homem quase sempre esteve presente. Muitas vezes os informantes eram
abordados logo no café da manhã e as entrevistas eram agendadas para uma
nova oportunidade ou realizadas no mesmo instante caso os moradores
pudessem colaborar.
O fato das entrevistas serem agendadas pode ter feito a diferença entre os
dados numéricos entre os gêneros nas comunidades. Uma vez que a
42
responsabilidade do lar ficava a cargo da mulher, assim como as tarefas com
filhos, o manejo da horta caseira; e para o homem ficavam os trabalhos dentro
da floresta, o esperado era que o número de mulheres fosse superior, contudo os
homens estavam nas casas nos momentos das argüições.
No de Pessoas/ Ano na comunidade
25
21
20
Fig. 8 – Tempo de moradia
15
(em anos) dos informantes
15
12
na comunidade.
10
6
4
5
0
6-10 anos
11-15 anos
16-20 anos
21-25 anos
26-30 anos
As comunidades possuem moradores com mais de 30 anos no local de
origem. Os filhos geralmente são nascidos na própria comunidade. O tempo
relativo das pessoas nas comunidades variou um pouco, mas apresentando uma
concentração entre 11 a 15 anos (36%) e entre 16 e 20 anos (26%) conforme a
Fig. 8.
A grande maioria (77%) dos entrevistados disse ser do estado do
Amazonas e os municípios variavam entre Itacoatiara, Manaus, Maués, Nova
Olinda, Borba, Presidente Figueiredo e Tefé. Os demais vieram de fora do
estado (23%).
3.5.2. – Os estudos em comunidades
Assim como os apontamentos de Albuquerque e Andrade (2002) para as
regiões semi-áridas é provável que para os amazônidas “a manipulação de
plantas depende de vários fatores que vão desde a disponibilidade temporal dos
recursos até o grau de interesse por um recurso em especial”.
43
Estudos de caso em etnobotânica são importantes para proporcionar
trabalhos futuros na área e examinar como a etnobotânica pode atualmente
contribuir para a análise do sistema de manejo comunitário, particularmente nos
recursos de plantas medicinais. O impacto das mudanças sócio-culturais,
econômicas e ambientais nos usos tradicionais é discutido, como são as
possibilidades para projetos futuros que poderiam beneficiar o desenvolvimento
e a conservação da comunidade na região (Aumeeruddy-Thomas e Peishengji,
2003).
Nas situações apresentadas acima diversas são as plantas que são
manipuladas pelos ‘povos da Amazônia’ onde os mesmos, com sua sabedoria
advinda da transmissão oral do passado bem longínquo, manejam, usam e
recomendam diversas formas de interação com a flora (e por que não com a
fauna) da região. Vale, ainda, ressaltar que a tradição no uso das plantas
medicinais também sofre influência de conhecimentos adquiridos mais
recentemente e se incorporam a “tradição” e é atualizado a todo momento.
As diferentes espécies de plantas, incluindo as carapanaúbas estudadas
durante a execução do trabalho, são ricamente exploradas na região e de maneira
impar continuam a ser usadas e recomendadas, pois os conhecedores locais
sabem a maneira correta de retirar as partes da planta, como usar com
finalidades medicamentosas e também como fazer com que o conhecimento
perpetue na memória dos moradores.
Sobre o conhecimento permanecer da comunidade para a comunidade é
transparente a preocupação dos mais velhos quando dizem que “os mais novos
estão saindo da comunidade, eles vão estudar fora e às vezes não voltam, não
querem mais aprender as coisas que os antigos tem a ensinar”.
Contudo, foi percebido que os mais novos ainda detém o conhecimento
sobre “a mata” uma vez que eles acompanham os adultos em caminhadas e/ou
coletas e também na caça. Quando uma das crianças da comunidade Nossa
Senhora de Aparecida foi questionada sobre o reconhecimento da carapanaúba
44
no local a mesma disse conhecer a planta e depois mostrou em campo um dos
indivíduos.
Muitas vezes foram encontradas as mulheres, donas de casa, usando a
‘casca’ da carapanaúba, mas todas as vezes foi dito que os homens reconheciam
a planta por trabalhar na mata (maridos, filhos e parentes).
A predominância dos homens contradiz a justificativa encontrada por
Pereira et al. (2005) se considerarmos que ao longo da história, nas várias
sociedades, têm sido designadas às mulheres a responsabilidade com as tarefas
domésticas e os cuidados das crianças. Elas são as principais responsáveis pelo
tratamento caseiro das doenças mais simples, seja através do uso de plantas,
como mostram os dados catalogados, seja através de medicamentos indicados
anteriormente por profissionais de saúde e cujo uso foi aprendido.
O uso indicado na literatura (Barbosa et al., 2003; Pereira et al., 2005;)
apontava a carapanaúba para tratamento de afecções do fígado. Ambas as
comunidades reconhecem esse uso também, mas indicam para várias outras
finalidades. O uso freqüente era para tratamento de doenças do estômago e do
fígado, em seguida eram apontadas outras afecções cujos sintomas também eram
localizados no fígado, tais como anemia e malária, por exemplo. Algumas das
utilizações eram indicadas pelas mulheres como contraceptivos se tomados
regularmente e em certa dose, pois o uso abusivo era indicado como abortivo
(mesmo que muita vezes não fosse falado com essas palavras).
3.5.3. – Do povo e da planta
A seguir estão apresentadas falas ‘na íntegra’ relatando o conhecimento
sobre as carapanaúbas. Para essas situações os informantes disseram que:
- “tem que deixar a árvore em pé, se for cortá é uma perversidade, ...já
não é tão fácil de achar carapanaúba” (Dona Mocinha);
45
- Conhece pouco, mas conhece porque já fez o uso da planta. Serve para
o fígado e pra malária junto com outras plantas, serve também pra infecção
urinária da mulher e do homem (Mestre Gato);
- “conheço com o nome de paracanaúba e você não pode usar demais
porque é um produto tóxico” (Sr. Raimundo);
- é bom pra enxaqueca, fígado, inflamação para homem e mulher (útero),
mas pouca porque senão fica muito amargo, tem que ser limitado (Dona
Mocinha);
- serve pra infecção e diabetes (Sr. Sebastião);
- “Se serve pra malária? Serve, é remédio amargoso” (Sr. Raimundo) e
“tudo que é amargo faz bem pro fígado” (Mestre Gato);
- “ela é de terra firme, é muito forte, pra mulher serve pra asseio e fica
um ano sem pegá filho” (Cabo F. Bentes);
- eu usava pra evitar filho aí tive problema de visão e interrompi. Eu
comecei a usar em Itacoatiara-AM (D. Maria Raimunda);
- é boa pra gastrite, ela levanta do chão, corta o efeito (Sr. Antônio
Felipe);
- essa planta serve pra sará operação, e é amarga então serve para
qualquer infecção (D. Estela);
- serve pra “quem bebe” e pra lavar ferida (Sr. Raimundo Corrêa);
- “usar demais essa planta faz mal pra vista” (D. Deusdete);
- essa planta tem 17 tipos de antibióticos, se tomar muito intoxica, é
amarga que só o fel (Sr. Raimundo Corrêa);
- é ruim, faz mal pra quem tem problema do coração, pressão alta,
porque ela é amarga então afeta o coração (Sr. Raimundo Corrêa).
O conhecimento da morfologia da planta e também ecologia
(etnoecologia) ficou implícito em algumas falas:
46
- “tem a carapanaúba e a quina-quina, mas são diferentes. Eu conheço as
duas”;
- você pode tirar casca da carapanaúba, mas se cortá o miolo que mata
ela. Ela não dá na beira do igarapé e não é pau de achar fácil, não;
- todo mundo conhece carapanaúba, mas só sei de um tipo;
- ela parece com canela-velha e acariquara;
- eu reconheço só de um tipo mas ocorre na beira d’água e na terra
firme;
- não dá no baixio, só na terra firme, o tronco tem quina e a folha é mais
fina e a casca, dentro dela é vermelha e pra dentro esbranquiçada;
-essa planta pequena aí é filha desta (Alfredo, filho da D. Neide)
(referindo-se a um individuo ainda jovem de carapanaúba);
- parece com a quina-quina, só que essa é outra;
- a casca da carapanaúba é mais grossa que de quina-quina;
- conheço dois tipo, a preta que a casca não solta fácil e a branca que
solta fácil, a diferença tá na casca;
- conheço dois tipos, parece com acariquara e quina-quina. Já vi uma
medonha que tinha 6m de roda;
- essa planta tem quina, mas não confunde não. Ela tem beirando a
montanha na terra firme (Sr. Aloísio, D. Deusdete).
Tanto na comunidade Nossa Senhora de Aparecida, em Silves, como na
de Urubuí, em Presidente Figueiredo, os informantes usavam somente a casca
para os tratamentos descritos, onde os homens coletavam e entregavam para as
mulheres fazerem os preparados.
As folhas da carapanaúba foram investigadas para averiguar a semelhança
de princípios ativos em comparação com a casca, pois esta era a parte da planta
indicada pelos comunitários. As folhas foram coletadas em todos os indivíduos
vegetais que eram indicados pelos informantes.
47
A única estrutura vegetal indicada foi a casca. Em nenhum momento as
pessoas recomendavam ou pelo menos comentavam o uso das folhas destas
espécies. Possivelmente o desconhecimento das folhas para tratamento possa
estar ligado ao fato de as carapanaúbas (A. nitidum) possuírem alturas superiores
a 25m quando adultas e dificultar a coleta e também o reconhecimento desse
órgão como útil para os tratamentos de saúde. Ainda que A. marcgravianum
não fosse reconhecida, então não coletada, esta espécie também apresentou
altura superior a 25m e foi coletada em outra localidade sem os informantes.
Não obstante, quando as pessoas eram argüidas sobre o uso das folhas
para tratamento da saúde, ou elas diziam não saber para que servia ou eram
enfáticas ao informar que das folhas não se fazia remédio.
A família Apocynaceae tem como característica ser latescente no caule e,
principalmente, nos ramos novos e folhas, contudo pelo não contato das pessoas
com a parte superior das árvores o desconhecimento do látex na folha foi
comum:
“Eu nem sabia que essa planta tinha
leite”
(Mestre
Gato,
comunidade
Urubuí) e “essa é a folha da planta?”
(Sr.
Zé
Ramos,
comunidade
N.S.
Aparecida).
Todos os informantes disseram fazer uso de plantas como remédio
independente do gênero, idade ou ocupação e também todos aprenderam com os
parentes a usar pelo menos uma planta para algum tratamento de saúde.
48
Nenhum dos informantes entrevistados disse reconhecer diferentes
espécies de carapanaúba. Ainda que por insistência do pesquisador em querer
saber se havia outra planta com o mesmo nome no local ou fora dele apenas
duas pessoas informaram que já ouviram o nome da planta numa região próximo
do baixio (perto da água) mas que eles não viram a planta então não saberiam
reconhecê-la (N.S. Aparecida, Silves).
A parte utilizada era sempre
a casca que era retirada com
auxílio do terçado, na altura dos
olhos ou do peito, pela facilidade
de coleta. Era quase unânime a
informação de que a planta não
exsudava ‘leite’ (látex), mesmo as
vezes
sendo
observado
pelo
pesquisador uma quantidade baixa
de látex escorrendo um momento
após o corte da casca (Fig. 9)
Fig. 9 - Casca retirada da espécie
Aspidosperma nitidum na comunidade N.
S. Aparecida, Silves-AM. Observar pouca
quantidade de látex ao redor de onde se retirou a casca.
Em ambas as comunidades a casca foi utilizada de maneiras diferentes.
Alguns moradores diziam usar a casa tão logo ela fosse coletada enquanto outros
diziam que a casca poderia ficar “guardada” em casa porque “não perdia o
efeito”. Não obstante as pessoas tinham exemplares da casca de coletas
anteriores a visita do pesquisador, concluindo que o órgão podia ser
‘consumido’ de maneira fresca ou seca.
49
O uso mais indicado foi para o tratamento do sistema digestório, incluindo
aí o estômago e o fígado. Porém o uso apresentou variadas formas como para
tratamento de infecção, diabetes, contraceptiva, entre outras formas e uso.
O preparo mais freqüente da casca para as afecções era “pegar um
pequena parte (um ou dois dedos, conforme indicação dos informantes) e
colocar diretamente na água que se tornaria amarelada após alguns minutos”.
O sabor era amargo e para alguns esse é o problema no consumo principalmente
quando se tratava crianças no local.
Como aponta Montenegro (2001) apud Albuquerque et al. (2008) houve
momentos de informações cruzadas onde eram argüidos os informantes cujas
respostas variaram do rotineiro. Para estas ocasiões um informante era argüido
sobre o uso da carapanaúba e sua maneira de consumo, enquanto um informante
fornecia a maneira de usar outro informante ‘retrucava’ seu modo de uso. A
forma de uso como chá teve uma baixa indicação e algumas vezes momento de
conflitos entre os informantes quando estes se encontravam juntos no momento
da entrevista:
“... eu nunca ouvi falar de fazer chá
dessa casca, você já viu?” “... você
não sabe usar não, ninguém usa
ferver essa casca, fica mais amarga
ainda”.
Com a afirmação acima um dos informantes indicava uma maneira
diferente do que a maioria ensinava sobre a maneira correta de usar a planta
estudada.
O uso com bebidas alcoólicas foi timidamente relatado (apenas duas
indicações) e apenas pelos homens que diziam usar na cachaça e que o efeito era
como estimulante sexual.
50
Não houve muita diferença entre as receitas de uso entre os gêneros em
nenhuma das comunidades principalmente na quantidade usada. Todos usavam
uma quantidade mínima da planta num copo ou no máximo em um litro de água.
A unanimidade foi de que ‘muita casca’ deixa o conteúdo muito amargo o que
dificultava o consumo. E muitos litros para se tomar durante o dia era
desperdício.
Garrafadas, ou uso com outras plantas, não era muito freqüente pois o
‘amargor’ desta espécie não permitia freqüente utilização consorciada com
outras espécies de planta ou remédio alopático.
Quando questionados se usam açúcar ou outro adoçante para o uso da
casca da carapanaúba ambas as comunidades foram unânimes em afirmar que
não é possível tirar o sabor amargo que fica no preparado por mais açúcar que se
coloque. Quanto as doses ficam por conta do medicando, “quanto mais se
tomar, mais rápido se cura”, e se toma em temperatura ambiente, o dia todo, até
“ficar sarado”, aplicado para mulheres, homens ou crianças de todas as idades,
sem restrições de uso, a não ser em caso de gravidez.
Ninguém citou efeitos colaterais para esta espécie uma que vez que
mesmo a planta sendo abortiva eles reconheciam seu uso e maneira correta para
esta finalidade não evidenciando então um efeito adverso, mas desejado se fosse
o caso.
Uma das doenças mais citadas para o tratamento com a casca da
carapanaúba foi a malária uma vez que muitos dos informantes (homens,
mulheres ou crianças) já tiveram a doença mais de uma vez e a cura foi indicada
por todos que fizeram uso: “não tem uma planta melhor do que essa pra curar
malária”.
O que se pode concluir é que os comunitários ainda usam dos recursos
vegetais no ambiente ao seu entorno, não só como uma fonte de recurso mas
muitas vezes a única. No caso dos moradores de Silves o socorro está a uma
distância muito grande e todos recorrem ao que se tem mais imediato. Os
51
moradores de Presidente Figueiredo estão inseridos mais próximos da parte
urbana sofrendo menos com a distância para o socorro imediato.
Outro ponto de destaque é que o uso de plantas medicinais ainda se faz
presente na vida das pessoas, principalmente do homem e da mulher amazônica
que vivem no local de maior diversidade vegetal do planeta.
Ainda que os mais velhos percebam que o conhecimento sobre a
utilização das plantas esteja diminuindo ano após anos ainda foi percebido pelo
pesquisador que através da transmissão oral e das caminhadas na mata o
conhecimento ainda circula na memória de todas as faixas etárias.
A divisão de trabalho entre os gêneros ainda é percebida ficando as
mulheres muitas vezes com o cuidado da casa e outras tarefas domésticas (como
cuidar dos filhos, da roça, do preparo das plantas medicinais) assim como para o
homem ainda permanecem as tarefas de trabalho fora, de caça, de busca de
matéria prima e também de “plantas medicinais”.
As folhas das espécies estudadas apresentaram resultados positivos para
princípios ativos que podem indicar atividade medicamentosa, contudo o
pesquisador não repassou a informação para a comunidade porque a mesma usa
tradicionalmente a casca para o tratamento indicado pelos informantes. Outro
impasse com o uso das folhas pela comunidade seria a coleta das mesmas
porque os indivíduos adultos de ambas as espécies ultrapassam 25m de altura o
que dificultaria seu conhecimento e introdução na cultura local. Ainda assim, as
folhas podem servir de exploração nos trabalhos de bioprospecção, mas para
isso recomenda-se à indústria farmacêutica que detém outro tipo de tecnologia
de coleta e manipulação desses órgãos.
52
3.6. – Conclusão
A comunidade detém o conhecimento da espécie (A. nitidum Benth.)
conhecida como carapanaúba. Eles utilizam a casca para muitos problemas de
saúde, principalmente afecções do fígado ou do estômago, inclusive no
tratamento de malária, uma doença que acomete muitos moradores que tem
como uma das poucas alternativas o uso destas espécies no tratamento
sintomático ou profilático.
A cultura do uso da espécie ainda se mantém viva dentro da comunidade
atravessada por gerações por transmissão oral. O reconhecimento da espécie no
campo muitas vezes ficou limitada aos homens que lidam diretamente com a
floresta.
A espécie A. marcgravianum Woodson não foi indicada pelos informantes
na pesquisa, contudo a coleta foi feita.
O conhecimento permanece na comunidade, mas está se perdendo na
memória dos mais novos. A comunidade está preocupada com a perda da
memória cultural sobre o uso das plantas e com a possível perda de material
biológico da floresta. Segundo informações os jovens migram para a cidade, ou
não retornam ou não tem interesse no aprendizado com a floresta.
53
3.7. – Referências Bibliográficas
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54
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Mestrado. Programa de pós graduação em Saúde e Meio Ambiente. ISC/UFMT.
Cuiabá. 212p.
56
4
Aspectos morfoanatômicos das folhas e casca
de Aspidosperma nitidum Benth. e
Aspidosperma marcgravianum Woodson
57
Resumo
Várias são as espécies arbóreas conhecidas como carapanaúba na Amazônia,
algumas pertencentes ao mesmo gênero e outras até de famílias distintas. Em
comunidades tradicionais da Amazônia algumas dessas espécies têm seu uso
indicado principalmente para o tratamento de afecções do intestino. Folhas e
casca de Aspidosperma nitidum e Aspidosperma marcgravianum tiveram a
anatomia investigada com o objetivo de identificar estruturas anatômicas e ainda
averiguar qual seria dentre elas a indicada na medicina popular. Folhas com o
limbo completamente expandido foram coletadas de três indivíduos de A.
nitidum na comunidade Nossa Senhora de Aparecida (Silves-AM) e três na
comunidade Urubuí (Presidente Figueiredo-AM). Outros três indivíduos, de A.
marcgravianum, foram coletados na Reserva Adolpho Ducke para análise
morfoanatômica uma vez que nas comunidades não foi indicado. Seções da
folha foram submetidas a técnicas usuais de microscopia de luz. Somente A.
nitidum, segundo informações de membros da comunidade, é utilizada na
medicina popular. A folha de A. nitidum é hipoestomática, com estômatos
anomocíticos. Epiderme unisseriada, células quadrangulares a retangulares na
face adaxial e papilosa na face abaxial. Cutícula delgada e tricomas tectores
unicelulares e multicelulares. O mesofilo é dorsiventral com parênquima
paliçádico formado por 1-2 camadas de células e lacunoso com até 10 camadas.
Inúmeros esclereídes colunares estão dispersos no mesofilo e em menor número
na nervura central. Laticíferos e idioblastos cristalíferos encontram-se dispersos
no limbo foliar. A nervura central possui parênquima de preenchimento
homogêneo, fibras isoladas e agrupadas, feixe bicolateral em forma de arco. A
folha de A. marcgravianum é hipoestomática, os estômatos são do tipo
anomocítico, e encontram-se totalmente recobertos pela cutícula. Epiderme é
unisseriada, células quadrangulares a retangulares na face adaxial e papilosas na
face abaxial. Cutícula espessa e tricomas tectores unicelulares. Não contém
58
esclereídes colunares. Os laticíferos estão disperso pelo limbo exceto na
epiderme e possuem paredes primárias espessadas. Mesofilo apresenta
parênquima paliçádico variando de 1-2 camadas de células e lacunoso com até
10 camadas. São encontrados idioblastos cristalíferos em todo o limbo, porém
mais freqüentemente na nervura central. Esta por sua vez apresenta cutícula
mais espessa em ambas as faces da epiderme, parênquima de preenchimento
homogêneo.
O cilindro vascular é bicolateral e tem formato de arco
pronunciado em U ou V e abundantes idioblastos com compostos fenólicos, que
possivelmente justificam a indicação medicamentosa. A casca de ambas as
espécies por sua vez apresenta peridermes seqüenciais com felema variando de
10 a 40 camadas de células de formas variadas. Ritidoma persistente porém com
esfoliamento não aparente e de 3 a 7 camadas. Feloderme pouco desenvolvida.
Não há lenticelas. Floema secundário não estratificado e com agrupamento de
células esclerenquimáticas. Elementos de tubo crivado solitários ou agrupados
com 1-2 células companheiras. As características morfoanatômicas das folhas
são indicativos para diferenciação taxonômicas das espécies estudadas o que não
ocorre com a casca pela similaridade de suas células e tecidos.
Palavras-chave: Plantas medicinais, Amazônia, carapanaúba
59
Leaves and bark Morphoanatomy of Aspidosperma nitidum Benth. and
Aspidosperma marcgravianum Woodson (Apocynaceae)
Abstract
Several tree species are known as “carapanaúba” in Amazonia, some of them are
of the same genus and others are from completely different family. In
Amazonian traditional communities some of these species are indicated, mainly,
for liver treatment. Leaves and bark of Aspidosperma nitidum and Aspidosperma
marcgravianum were studied in anatomy aiming to identify anatomical
structures and also to see which of them would be indicated in folk medicine.
Completely expanded leaves were collected from three individuals of A. nitidum
at “Nossa Senhora de Aparecida (Silves-AM) community and three individuals
at Urubuí (Presidente Figueiredo-AM). Other three individuals, from A.
marcgravianum,were collected in Adolpho Ducke Reserve for anatomical
analyses. Leave regions were submitted to a photonic microscope usual
techniques. Only A. nitidum, as communities members informations, was used in
folk medicine. The A. nitidum leave is hipostomatic, with anomocytic stomata.
Epidermis is uniseriate, square and rectangular cells at upper face and papils at
lower face. Thin cuticule and unicelullar and multicellular tector hairs.
Dorsiventral mesophyll with palisade parenchyma formed by 1-2 layers of cells
and spongy parenchyma with 10 layers over. Many colunar sclereids are
dispersed in mesophyll but in low number at midrib. Laticifers and crystal
idioblasts are found dispersed for all extension of the leave. The midrib has a
homogeneous fill parenchyma, isolated fibers or in groups, bicolateral bundles
in arc shape. A. marcgravianum leave is hipostomatic, stomata are anomocytic
and are found completely recovered by cuticule. Epidermis is uniseriate, square
and rectangular cells in upper face and papils in lower face. Thicked cuticule
and unicellular tector hairs. There’s no columnar sclereids. Laticifers are
60
dispersed in all the leave but epidermis and they have primary thick-walled
cells. Mesophyll has palisade parenchyma varying in 1-2 layers of cells and
spongy parenchyma with 10 layers over. There are crystalifer idioblasts in all
the leave, however they’re frequently at nidrib. The midrib present thick cuticule
in both faces of epidermis, homogeneous fill parenchyma. Bicolateral bundles
like-U or V arc shape and many phenolic compounds in idioblasts that can
justify the medicamentous indication. Barks of both species present sequential
periderms with cork varying from 10 to 40 layers of cells with different shapes.
Persistent rhytidome but it can’t be seen falling down the tree and it has from 3
to 7 layers. Pheloderm consisting of a few layer. There aren’t lenticels.
Secondary pheloderm not stratified and sclerenchymatic cells in group. Sieve
tube element isolated or in group with 1-2 companion cells.
Key-words: Medicinal plants, Amazônia, “carapanaúba”
61
4.1. – Introdução
De acordo com Endress e Bruyns (2000) Apocynaceae contém 424
gêneros. Somando-se o número de representantes das famílias Asclepiadaceae e
Apocynaceae encontradas em Joly (1979) que hoje estão unidas pelo sistema de
classificação filogenético, encontraremos um total de 425 gênero com mais de
3500 espécies. Segundo Barroso (1991), no Brasil a família está representada
por 41 gêneros e 376 espécies. A família é rica em látex presente em todas as
estruturas vegetativas e reprodutivas. Para Metcalfe e Chalk (1950) a
característica anatômica de maior destaque é a ocorrência de canais laticíferos
com conteúdo de cores variadas e floema intraxilemático.
O látex pode conter metabólitos secundários (Simões et al., 2004)
indicando a planta com potencial econômico, medicinal ou tóxica e fornecendo
proteção contra herbívoros (Metcalfe e Chalk, 1950; Fahn, 1979).
Após investigação etnobotânica com pessoas que trabalham no mercado
municipal Adolpho Lisboa, na cidade de Manaus, foi encontrada uma espécie de
Apocynaceae muito consumida, indicada e recomendada como medicinal, a
carapanaúba. Esta planta foi citada pelos vendedores de raiz daquela localidade
e ficou em primeiro lugar nas indicações, tanto para quem vende como para
quem compra o produto. Dessa forma fica registrada mais uma espécie da
megadiversidade amazônica com potencialidade para estudos em diversas áreas
do conhecimento, inclusive em morfoanatomia.
As muitas espécies, com nome vulgar de carapanaúba, fazem parte do
Gênero Aspidosperma e corroboram mais uma vez às indicações de que espécies
da família Apocynaceae são ricas em metabólitos secundários capazes de
possuírem atividades medicinais.
Seguindo
critérios etnobotânicos e
após
investigação
em
duas
comunidades da Amazônia foram escolhidas duas espécies, Aspidosperma
62
nitidum, citada pelos informantes das comunidades estudadas, e Aspidosperma
marcgravianum uma das carapanaúbas encontradas na literatura.
Dessa forma objetivou-se analisar a morfoanatomia da casca e das folhas
de ambas as espécies abrindo possibilidade de trabalhos na área da fitoquímica e
auxiliando as análises taxonômicas em outros tipos de trabalho.
4.2. – Material e métodos
4.2.1. – Análise Morfológica
As coletas do material vegetal foram realizadas na comunidade Nossa
Senhora de Aparecida (Silves-AM) e Comunidade Urubuí (Presidente
Figueiredo-AM).
Os exemplares coletados foram identificados por comparação com os
registros existentes no herbário do INPA que se encontram sob o número de
registro 181832 para A. nitidum e 180516 para A. marcgravianum. Os
indivíduos escolhidos para coleta na Reserva Ducke estão devidamente
identificados e com plaquetas enumeradas na área de coleta (Fig. 10).
As coletas nas comunidades limitaram-se a espécie A. nitidum uma vez
que era a única citada e reconhecida como medicinal. Dessa forma foram
realizadas novas coletas na Reserva Ducke, inicialmente para coletar a espécie
A. marcgravianum e para confirmação da identificação de A. nitidum coletadas
nas comunidades.
Para análise morfológica e medições do limbo foliar e pecíolo foi usado
paquímetro digital indicando comprimento do pecíolo, comprimento e maior
largura do limbo.
Para as descrições morfológicas da folha e da casca (Fig. 11) foram
realizados registros fotográficos com máquina digital Samsung 5.0 MPixels.
Casca e folhas de três indivíduos de cada uma das espécies foram
coletados para as análises em laboratório.
63
Fig. 10 – Identificação em campo das carapanaúbas na Reserva Adolpho Ducke. Detalhe das árvores
etiquetadas com número de referência das exsicatas depositadas no herbário do INPA.
Fig. 11 – Região do caule de onde se retirava a casca para
analise morfológica e anatômica.
64
4.2.2. - Estudo anatômico
Dez folhas com o limbo completamente expandido foram coletadas
aleatoriamente dos três indivíduos das espécies estudadas e que estivessem em
boas condições fitossanitárias. Amostras da porção mediana do limbo foram
fixadas em FAA 50% por 24 horas e preservados em álcool etílico 70%.
As folhas foram retiradas do álcool 70% e passaram por desidratação em
duas etapas etílicas (álcool 85% e 95%) por duas horas em cada uma delas
(Feder e O’brien, 1968). Na etapa seguinte o material foi colocado em solução
mista de álcool 95% e resina, na proporção de 1:1, até cobrir o mesmo, ficando
de duas a quatro horas. Após esse período o material foi incluído em resina
metacrilato pura e líquida e ficou a noite toda nessa reação (overnight). O tempo
na resina de pré-inclusão podia ser superior ao acima citado chegando a ficar até
quatro dias na solução. Quando o material estivesse incluído e encontrava-se no
fundo do frasco a próxima etapa era inclusão em resina mais endurecedor
(sólida) onde material era emblocado. Em todas as etapas envolvendo álcool e
resina líquida foi usada a bomba à vácuo para acelerar o processo de infiltração
nos tecidos vegetais.
O material emblocado foi cortado em micrótomo rotativo Leica RM2145,
com navalha descartável e os cortes tinham espessuras variando de 4 a 7 µm. Os
cortes foram distendidos em água destilada a 30 ºC e colocados sobre lâmina de
vidro e em seguida levados a chapa aquecedora (20 ºC) para melhor fixação.
Após o resfriamento, o material foi corado com azul de toluidina por
aproximadamente 10 minutos, em seguida coberto com lamínula e montada com
Permount.
As microfotografias foram realizadas em Microscópio Axioscop 50
(Zeiss) com máquina digital para captura de imagem, Power Shot A620,
7.1MPixel (Canon).
65
As escalas das figuras foram obtidas através de lâmina micrométrica
fotografada nas mesmas condições ópticas das demais ilustrações.
As cascas foram coletadas dos mesmos indivíduos de onde as folhas
foram retiradas (três amostras para cada espécie). Foram realizados cortes da
casca por 4 métodos histológicos: 1) corte a fresco do material (a mão livre e em
micrótomo de mesa); 2) corte do material incluído em parafina líquida; 3) corte
do material incluído em resina sintética e 4) corte do material incluído em PEG
(Polietilenoglicol 1500 e/ou 2000).
Os melhores resultados foram obtidos com PEG, onde o mesmo era
derretido em estufa e aplicado diretamente sobre os cortes já preparados em
formas de plástico para tal finalidade. Os blocos eram formados e após o
resfriamento mantidos em geladeira.
Os cortes foram realizados nas seguintes espessuras: 20µm, 30µm e
40µm. O material seccionado foi colocado em lâminas de vidro coberto com
lamínula sobre glicerina e realizada análise.
A descrição anatômica da casca segue a padronização proposta por
Richter et al. (1996) e critérios de descrição para comparação de casca de
Machado et al. (2005).
4.2.3. – Macerado
Amostras da casca do caule foram maceradas em mistura de volume igual
de ácido acético e peróxido de hidrogênio a 60° C (Johansen, 1940) por 12 to 24
horas. O material foi corado com safranina aquosa a 1%.
4.3. – Resultados e Discussão
Os indivíduos são árvores medindo até 25 metros, cujo caule não
evidenciou ritidoma perceptível nem foram encontradas lenticelas. O diâmetro
do caule a altura do peito variou muito, sendo encontrados indivíduos com 1m
66
de diâmetro.
Não há complicação para a retirada da casca, que é a parte
procurada pelas comunidades para uso medicinal.
As espécies possuem tronco acanalado, com casca marrom externamente
e amarelo-avermelhada internamente (A. nitidum) e marrom escura pela visão
externa e vermelho-amarronzada internamente (A. marcgravianum). Superfície
rígida de espessura variando em média de 0,5cm a 1,0cm. Comumente
encontram-se briófitas, líquenes e algas aderidos externamente à casca (Fig. 10).
A presença de canais laticíferos é comum nas partes estudadas (folhas e
casca) para as duas espécies, contudo a retirada da casca das duas espécies
exsuda pouco látex. Nos ramos superiores o exsudato possui maior volume tanto
nos ramos caulinares mais novos como nas folhas.
Ambas as espécies possuem similaridade nas estruturas e disposição dos
órgãos e tecidos.
4.3.1. – Morfoanatomia da folha e da casca de Aspidosperma nitidum Benth.
A FOLHA é oblonga e apresenta ápice arredondado, base acuminada e
margem lisa, ondulada ou sinuosa curto-peciolada (medindo até 0,5 cm) e
comprimento total em média 10 cm e 6,5 cm na maior largura do limbo. Sua
superfície é verde, concolor e hipoestomática revelando diferenças entre as duas
faces da epiderme,
Na face adaxial a epiderme apresenta cutícula espessada (Figs. 12A e
12E) não ornamentada tendo células com tamanhos semelhantes. O formato das
células varia entre quadrangulares a retangulares e o núcleo é periférico,
Pacheco (1979) encontrou resultados similares quando avaliou a mesma região
em Aspidosperma pyrifolium. Tricomas tectores curtos e esparsos distribuem-se
por todo o limbo em maior número na região onde a epiderme recobre as
diferentes nervuras. Estas informações foram encontradas na epiderme abaxial
67
por Pacheco (1979). A maior presença de tricomas na região da nervura
contradizem os dados de Valente e Carvalho (1974) para a espécie
Aspidosperma pyrifolium var. molle, em estudos anteriores.
Na face abaxial a epiderme é papilosa com cutícula espessa (Fig. 12E) e
presença de cera epicuticular (Fig. 13 C). Os estômatos são paracíticos e as
células guardas estão levemente abaixo do plano das outras células epidérmicas
e a cutícula recobre o complexo estomático dificultando a visualização dos
mesmos. Para melhor visualização dos estômatos foi necessária a utilização de
microscopia eletrônica de varredura (MEV) e um estômato pode ser observado
(Fig. 13D) com a cutícula margeando-o. Esta face apresenta células de tamanho
variado, com núcleo marginal. O tamanho das células não difere muito da face
adaxial e os tricomas tectores são unicelulares (Fig. 13A) .
O mesofilo é dorsiventral com parênquima paliçádico contendo células
grandes e em até duas camadas sendo que a segunda camada contém células de
tamanho menor (Fig. 12A). Entremeadas ao paliçádico ocorrem esclereídes
colunares cujo comprimento pode atingir de um lado ao outro das faces da
epiderme (Fig. 12E). A quantidade de cloroplastos no parênquima paliçádico é
bastante variada por célula. O parênquima lacunoso pode ter até dez camadas de
células de formato variado e com grandes espaços intercelulares (Fig. 12C e
12D). Presença de idioblastos cristalíferos em número reduzido. No parênquima
lacunoso podem ocorrer esclereídes colunares de tamanhos variados e alguns
ramificados bífidos ou trífidos (Fig. 12E). Ocorrem feixes vasculares colaterais
de variados calibres em todo o mesofilo e nos menores a endoderme é percebida
com maior nitidez (Fig. 12C). Presença de fibras gelatinosas em alguns pontos e
dispersas por todo o mesofilo (Fig. 15 B e D).
Laticíferos não articulados são vistos dispersos em todo o mesofilo (Fig.
12D), abaixo do paliçádico ou imerso no lacunoso de comprimento e
ramificações bastante variados, com conteúdo celular.
68
A nervura central em corte transversal apresenta epiderme com células
de tamanhos similares às encontradas no restante do limbo. O formato varia um
pouco deixando as células quadrangulares. O cilindro central é bicolateral semifechado apenas apresentando uma pequena abertura onde adentram células
parenquimáticas. Na região da epiderme que recobre nervura central o número
de tricomas tectores é maior que no restante do limbo e contém 1 ou 2 células.
Colênquima angular (Fig. 12B) presente em uma ou duas camadas,
parênquima de preenchimento é homogêneo com células de formato
isodiamétrico e pequenos espaços intercelulares. Há idioblastos com parede
primária espessada indicando laticífero (Fig. 12B – seta). Fibras isoladas e
agrupadas são encontradas no parênquima de preenchimento bem como outros
idioblastos de cristais prismáticos, que segundo Metcalfe e Chalk (1950) são
comuns para a família e pode servir de caráter taxonômico.
O pecíolo é cilíndrico ou levemente achatado dorsalmente, com células
epidérmicas de formato isodiamétrico e cutícula espessa apresentando ainda
tricomas tectores unicelulares. Ocorre uma hipoderme secretora contínua em
todo o pecíolo (melhor evidenciada na Fig. 12G). A hipoderme é descrita para a
família como uma característica marcante (Metcalfe e Chalk, 1950; Gomes,
2008) e pode conter compostos fenólicos corados pela safranina (Fig. 12G).
Pacheco (1979) cita hipoderme não no pecíolo mas na nervura principal da
folha. O córtex apresenta células isodiamétricas no parênquima com
braquiesclereídes dispersos (Fig. 12F e G).
A CASCA apresenta coloração marrom (alguns indivíduos com a
entrecasca avermelhada) e as amostras coletadas da casca puderam ser
mensuradas antes mesmo do corte cujo procedimento era facilitado, pois a casca
soltava-se sem maiores problemas.
A periderme é constituída por unidades seqüenciais (peridermes
seqüenciais) onde o felema variou entre 10 a 40 camadas de células (Fig. 15A).
A forma das células variou de regulares a hexagonais. São encontradas fileiras
69
radiais de células, com espessamento de suberina nas paredes periclinais. O
ritidoma é persistente e está constituído de parênquima e esclerênquima. O
esfoliamento não é aparente e o número de camadas encontradas na casca que
formavam o ritidoma variou de 3 a 7.
Kulkarni et al. (1973) encontraram de 20-40 camadas de células no que
denominaram de súber e o floema constituindo cerca de 50% da espessura da
casca em Aspidosperma olivaceum.
A feloderme é pobremente desenvolvida e os testes histoquímicos
revelaram presença de compostos fenólicos em, praticamente, todas as células.
Não ocorrem lenticelas.
O floema secundário é do tipo não estratificado com agrupamento de
células esclerenquimática de distribuição difusa em secção transversal (Fig.
15C). O parênquima axial possui de 5 a 13 células intercalados a elementos de
tubos crivados. As células tem formato retangular com parede delgada sem
espaço intercelular na região mais interna da casca. Na porção mais externa o
parênquima tem algumas células que se esclerificam.
Os elementos de tubo crivado são encontrados solitários ou agrupados
(Fig. 17A, B, C) e em cada unidade é possível encontrar 1-2 células
companheiras e estão dispersos em células de parênquima. As medidas do
elemento de tubo variaram no comprimento e o diâmetro. As células possuem
placa crivada inclinada (Fig. 17B) composta com áreas crivadas proeminentes
(Fig. 17C) com média de 15-30 áreas por célula de padrão escalariforme.
70
4.3.2. – Morfoanatomia da folha e da casca de Aspidosperma marcgravianum
Woodson
A FOLHA é oblonga e apresenta ápice agudo, base ovada e margem lisa,
sinuosa, curto-peciolada (até 0,5cm). O limbo é alongado e elíptico de
comprimento em média de 8cm de comprimento e 5cm na maior largura do
limbo. Sua superfície é predominantemente verde intensa e brilhosa na face
adaxial e esbranquiçada na face abaxial (discolor). Ocorre uma intensa formação
de tricomas tectores unicelulares na face abaxial o que confere a coloração
diferente entre as faces da epiderme. A textura é herbáceo-coriácea variando
entre os indivíduos coletados, contudo, em comparação com A. nitidum as folhas
desta espécie podem ser consideradas mais “delicadas” (fina) o que é perceptível
inclusive nos corte a mão livre.
Folha hipoestomática com a cutícula recobrindo inclusive as células
guardas. As células-guarda apresentam-se mais coradas que as outras células
epidérmicas quando utilizado o azul de toluidina como corante. Na dissociação
da epiderme a dificuldade de visualização dos estômatos é pela cobertura do
complexo estomático pela cutícula. As células guardas estão levemente abaixo
do plano das outras células epidérmicas e a cutícula recobre o complexo
estomático dificultando a análise dos tipos de estômatos que são do tipo
paracítico.
Ocorrem laticíferos em praticamente todos os órgãos da planta. O látex é
produzido em laticíferos não articulados, como anteriormente observado por
Albuquerque (1971) para espécies deste gênero. A maioria das espécies de
Apocynaceae (sobretudo Aspidosperma) possui laticíferos não articulados como
células que se alongam com o crescimento da planta (Metcalfe e Chalk, 1950;
Fahn, 1979). Os resultados apontados em Demarco et al. (2006) confrontam as
71
indicações de Fahn (1979) para o gênero apontando novos registros em
Apocynaceae indicando a espécie Aspidosperma australe com laticíferos
articulados e anastomosados, sendo originados por fusão de células com
dissolução rápida da parede celular entre elas.
Na face adaxial da epiderme a cutícula é espessada com células de
diferentes tamanhos, variando de quadrangulares a retangulares com núcleo
parental (Fig. 14B e 14C). Tricomas tectores e unicelulares são encontrados em
número reduzido na face adaxial da epiderme e em número maior na face
abaxial. A região da epiderme que recobre as diferentes nervuras possui número
maior de tricomas tectores. Nesta espécie os tricomas são tectores e unicelulares,
diferentes daqueles apresentados por Valente e Carvalho (1974) para
Aspidosperma pyrifolium var. molle que são pluricelulares e não freqüentes onde
a epiderme recobre nervuras.
A face abaxial possui células de tamanhos similares e é papilosa (Fig.
13C) e em formato de gota (Fig. 14D) com núcleo periférico. A cutícula é
espessada, indumentada com cera epicuticular (Fig. 13C). Em comparação com
a face adaxial as células não variam muito de tamanho. Os tricomas são
formados de uma única célula com núcleo grande e encurvados em relação a
linha de orientação da epiderme (Fig. 13A).
O mesofilo é dorsiventral, anteriormente citado por Albuquerque (1971),
com parênquima paliçádico de células grandes de 1-2 camadas sendo que a
segunda camada contém células de tamanho menor (Fig. 14D). Abaixo do
parênquima paliçádico são encontrados freqüentemente laticíferos (Fig. 14D)
que também são freqüentes entre o parênquima esponjoso. A quantidade de
cloroplastos no parênquima paliçádico é uniforme. O parênquima lacunoso pode
conter até 10 camadas de células. São encontrados idioblastos de cristais
poliédricos em número muito reduzido e às vezes próximo dos feixes vasculares.
Ocorrem feixes vasculares colaterais de variados calibres em todo o mesofilo e
72
nos mais finos a endoderme é percebida com mais nitidez bem como a presença
de fibras.
A nervura central apresenta as células epidérmicas semelhantes às
demais células da epiderme, tendo algumas um formato levemente alongado. A
cutícula é mais espessada nesta região. O colênquima angular apresenta parede
espessada (Fig. 14F). O parênquima de preenchimento é homogêneo com
células de formato isodiamétrico e pequenos espaços intercelulares com
laticíferos de parede primária espessada.
O cilindro vascular é um arco pronunciado no formato de V ou U. Os
feixes são bicolaterais e há idioblastos com compostos fenólicos. Presença
maior de cristais prismáticos como idioblastos são encontrados na nervura
central.
O pecíolo é cilíndrico ou achatado dorsalmente, com tricomas tectores
circundando externamente a epiderme. Ocorre uma hipoderme secretora
contínua em toda circunferência do pecíolo que pode ser evidenciada em
vermelho (Fig. 14E). A hipoderme já foi anteriormente descrita para
Aspidosperma (Rio et al., 2005) e foi encontrada também nas flores e frutos
deste gênero (Appezzato-da-Glória e Estelita, 2000) e pode conter compostos
fenólicos que são corados de vermelho pela safranina (Fig. 12G). No córtex
ocorrem células do parênquima de formatos bem distintos. Percebe-se
braquiesclereides dispersos por todo o parênquima (Fig. 14F).
O cilindro vascular é um arco contínuo na região proximal até
aproximadamente a altura do nível médio do comprimento do pecíolo. Os
mesmos resultados foram encontrados por Albuquerque (1971) indicando ainda
que “estes dados evidenciam características suscetíveis de auxiliar a
identificação específica” (Albuquerque, 1971).
A CASCA apresenta coloração variando de marrom a acinzentada. Há
uma certa resistência dos tecidos da casca para se desprender da madeira. Nos
73
momentos de coleta a casca não se soltou facilmente precisando ser retirada em
porções menores.
A periderme está constituída de fileiras radiais de células. O
espessamento variou de duas formas algumas células tinham espessamento
evidente em formato de U em algumas faixas da periderme e outras possuíam
espessamento uniforme periclinal. Em ambas as situações as células
apresentaram suberina nas paredes.
O felema variou de 10 a 40 camadas de células que revelaram uma grande
variação na forma indo de retangulares a hexagonais (Fig. 16A).
O ritidoma é persistente mas o esfoliamento também não é aparente (Fig.
16A) como a outra espécies descrita anteriormente e está constituído de
parênquima e esclerênquima. O número de camadas de células que forma a
periderme variou de quatro a sete. A feloderme apresentou-se pobremente
desenvolvida e também revelou compostos fenólicos em todas as células. Não
ocorrem lenticelas.
O floema secundário é não estratificado e com agrupamento de células
esclerenquimáticas com distribuição difusa em secção transversal (Fig 16B). O
parênquima axial contém de sete a 13 células intercalados a elementos de tubos
crivados e raios (Fig. 16B e 16C). As células são retangulares de parede delgada
sem espaço intercelular na região mais interna da casca e na porção mais externa
o parênquima tem algumas células que se esclerificam.
Os elementos de tubo crivado são encontrados solitários ou agrupados
(Fig. 16B e 17B) e em cada unidade é possível encontrar uma a duas células
companheiras. Os elementos de tubo apresentam distribuição difusa por todo o
parênquima. As medidas de comprimento e diâmetro do elemento de tubo
variaram. Os elementos de tubo possuem placa crivada inclinada composta com
áreas crivadas proeminentes com 15-30 áreas por célula de padrão
escalariforme.
74
Ambas as espécies de carapanaúba revelaram na constituição do
esclerênquima muitos fibroesclereídes de formato fusiforme e braquiesclereides.
Através da técnica do macerado foi possível observá-las isoladamente (Fig. 18).
4.5 Conclusão
Apesar da semelhança externa existente em ambas as espécies, por
exemplo tronco acanalado e a coloração externa, as estruturas internas podem
auxiliar na separação taxonômica entre elas.
A casca não é a melhor estrutura para garantir essa separação taxonômica
uma vez que, em ambas as espécies, diferenciou mais a estrutura morfológica
externa, principalmente a coloração, do que a análise anatômica.
Através da morfoanatomia foliar é nítida a diferenciação entre as espécies
estudadas. A presença de esclereídes colunares por todo o mesofilo em
Aspidosperma nitidum revela a diferença com a outra espécie onde os
esclereides não são encontrados. Por essa característica os indivíduos podem ser
reconhecidos taxonomicamente como espécies distintas
Caso seja necessária uma identificação, ainda no estágio de plântula, ou
em qualquer fase do desenvolvimento da planta, as folhas são indicadas para
estudos anatômicos entre estas duas espécies para garantir a separação
taxonômica.
A presença de laticíferos em todos os órgãos da planta pode indicar sua
ação medicamentosa uma vez que a literatura indica que o gênero possui látex
rico em alcalóides indólicos e possivelmente tenham ação farmacológica.
75
Fig. 12 – Cortes anatômicos de Aspidosperma nitidum Benth., em A) panorâmica da Nervura Central
revelando o cilindro vascular em arco semi-fechado com feixes menores voltados para a posição
adaxial da folha; B) detalhe da Nervura central na posição abaxial indicando laticíferos (seta) próximo
a fibras e esclereides. C) detalhe do mesofilo mostrando a epiderme adaxial (EPD), o parênquima
paliçádico (PP) e o parênquima lacunoso (PL), um esclereide colunar (EC), um feixe vascular de
menor calibre (FV) e a face abaxial da epiderme (EPB); em D) detalhe do mesofilo indicando um
laticífero em visão longitudinal (LT); em E) detalhe da cutícula (seta) e de esclereides colunares (EC);
em F) panorama geral do pecíolo evidenciando o córtex (CT) e o cilindro vascular (CV); em G) um
detalhe do pecíolo com um braquiesclereide (BQ) e a hipoderme em vermelho.
Legenda: A, B, E, F e G coradas com Safrablau e C e D com azul de toluidina. A escala das barras
indica na Figura acima estão assim determinadas, A (100µm); B e E (25 µm); C, D e G (50 µm) e F
(200 µm)
76
Fig. 13 – Epiderme foliar de Aspidosperma nitidum Benth. em MEV. A) tricoma tector na face
adaxial; B) Número mais acentuado de tricomas na região da epiderme que recobre a nervura; C) Face
abaxial indicando tricoma (seta) e cera epicuticular (cabeça de seta); D) Estômato recoberto pelas
ceras na face abaxial da epiderme.
Legenda: A, C e D (10 µm) e B (100 µm)
77
Fig. 14 – Nervura central foliar de Aspidosperma marcgravianum Woodson, A) Cilindro vascular em
arco aberto com formato de V; B) detalhe da nervura central revelando cutícula espessa (seta); C)
região da nervura central indicando colênquima (CO) e epiderme (EP) com parede espessada; D)
epiderme adaxial (EPD), parênquima paliçádico (PP), laticífero (LT), parênquima lacunoso (PL) e
epiderme abaxial; E) panorama geral do pecíolo mostrando o córtex (CT) e o cilindro vascular (CV);
F) Epiderme seguida de hipoderme e colênquima (CO) e braquiesclereide (BQ); G) tricoma tector e
cutícula espessa da epiderme.
Legenda: A, B, C, E, F e G – safrablau, D – azul de toluidina. A (100 µm), B, F e G (50 µm),C e D (25
µm) e E (200 µm)
78
A)
Fig. 15 – Casca de Aspidosperma nitidum Benth.. A) periderme (PE), córtex (CT) e floema secundário
(FS); B) detalhe do córtex evidenciando fibras gelatinosas (FG) e laticíferos (LT); C) periderme (PE) ,
córtex (CT) e floema secundário (FS); D) detalhe do córtex indicando fibra gelatinosa (FG) e
laticíferos (LT); E) detalhe do córtex indicando braquiesclereide.
Legenda: A e C (100 µm), B, D e E (25 µm)
79
Fig. 16 – Casca de Aspidosperma marcgravianum Woodson. A) corte transversal indicando periderme
múltipla evidenciando ritidoma (RT), braquiesclereíde (BQ) no córtex; B) corte transversal da casca
indicando célula do raio (RA) no floema secundário (FS); C) seção longitudinal tangencial revelando
grupamento de esclereides; D) seção longitudinal radial, evidenciando raios floemáticos e
grupamentos de esclereides. Em todas as imagens a coloração usada foi safrablau.
Legenda: A (100 µm), B (25 µm), C e D (50 µm)
80
Fig. 17 – seção longitudinal tangencial da casca de Aspidosperma nitidum Benth e
Aspidosperma
marcgravianum Woodson. A) raios, parênquima e elementos de tubo crivado em Aspidosperma
nitidum e em B) Aspidosperma marcgravianum, elemento de tubo crivado (ETC) e placa crivada
(seta), raios (RA) e área lateral crivada na parede do elemento de tubo crivado; C) detalhe da área
lateral (seta) e D) detalhe de um raio floemático e grupamento de esclereide.
Legenda: A (100 µm), B, C e D (25 µm)
81
Fig. 18 – O macerado das cascas de Aspidosperma nitidum e A. marcgravianum com
semelhança nas estruturas apresentadas. A) fibroesclereíde; B) detalhe das pontoações do
fibroesclereíde; C) braquiesclereíde. Legenda: A (100 µm), B e C (50µm)
82
4.6 Referências Bibliográficas
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Endress, M. E. e Bruyns, P. V. 2000. A revised classification of the
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foliar de Aspidosperma pyrifolium Mart. var. molle Muell. Arg. Brasil Florestal
5(20):43-56.
84
5
Screening fitoquímico e detecção de alcalóides
em
Aspidosperma
nitidum
Benth.
e
marcgravianum Woodson (Apocynaceae)
A.
85
Resumo
Apocynaceae reúne várias espécies medicinais na região Amazônica, conhecidas
como fontes importantes de substâncias com atividade farmacológica. O gênero
Aspidosperma é um dos mais importantes da América do sul e tem em sua
composição química a presença de alcalóides. Os alcalóides formam sais e
usualmente são obtidos na forma de precipitados permitindo desta maneira a sua
caracterização em plantas medicinais. Dessa forma foi proposto screening
fitoquímico com ensaios específicos para detecção geral para alcalóides nas
folhas e cascas de Aspidosperma nitidum e A. margravianum conhecidas como
carapanaúba. A espécie A. nitidum é utilizada como medicinal nas comunidades
Nossa Senhora Aparecida (Silves-AM) e Urubuí (Presidente Figueiredo-AM).
Folhas e casca de ambas as espécies foram secas e pulverizadas para análise e
procedimentos usuais para screening fitoquímico e ensaios gerais com
alcalóides. Os resultados do screening fitoquímico revelaram que as folhas e a
casca de Aspidosperma nitidum apresentaram resultados positivos para
cumarinas, taninos condensados e foram reativas para glicosídeos cardiotônicos,
e apenas a folha revelou resultados positivos para antocianinas, flavonóis,
esteróides livres e triterpenóides pentacíclicos livres. As folhas e casca de A.
marcgravianum revelaram em seus compostos a presença de bases quaternárias
e glicosídeos cardiotônicos. Analisando a folha desta espécie isoladamente a
mesma apresentou resultados positivos para antocianinas, flavonóis, esteróides
livres e triterpenóides pentacíclicos livres. Os resultados para análise isolada da
casca desvendou a presença de cumarinas e taninos condensados. Nas folhas e
casca de ambas as espécies detectou-se a presença de alcalóides. Estudos
detalhados para isolamento e purificação de alcalóides destas espécies para
analisar o grupo dos alcalóides são recomendados. Estes resultados obtidos
fornecem conhecimento para novos trabalhos desenvolverem pesquisas com a
86
casca e as folhas das espécies aqui trabalhadas. Dessa forma, amparados nos
resultados obtidos pode-se indicar a continuidade da exploração da casca nas
comunidades tradicionais, como sempre foi feito, e a exploração das folhas pela
indústria, nos trabalhos futuros de bioprospecção.
Palavras-chave: carapanaúba, Amazônia, plantas medicinais, farmacognosia
87
Phytochemical screening and detection of alkaloid in Aspidosperma nitidum
Benth. e A. marcgravianum Woodson (Apocynaceae)
Abstract
Apocynaceae join many Amazonian medicinal species, known as an important
source of substance with pharmacological activities. Genus Aspidosperma is one
of the most important from South America and it has in its chemical
composition presence of alkaloids. This alkaloids form salts and usually they are
gotten for a precipitated form allowing so this way their caracterization in
medicinal plants. So, was purposed a phytochemical study from leaves e barks
from Aspidosperma nitidum and A. marcgravianum species known as
“carapanaúbas” and used in “Nossa Senhora Aparecida” community in SilvesAM and Urubuí community in Presidente Figueiredo-AM where were realized a
phytochemical screening and chemical assays to detect alkaloids in general.
Leaves an barks from both species were dried and powdered to analyses and
usual proceedings for phytochemical screening and general assays with
alkaloids. The screening results revealed that leaves and barks from A. nitidum
showed positive for cumarines, condensed tanins and was reactive for
cardiotonic glicosides. Still in this species just leaves presented positive results
for antocianin, flavonoids, free steroides and free pentacyclic triterpenoids.
Leaves and barks from A. marcgravianum indicated in its compounds the
presence of quaternaria bases and cardiotonic glicosids. Analysing isolated the
leaf from this species it presented positive results for antocianin, flavonoids, free
steroids e free pentacyclic triterpenoids. The results to an isolated analyses for
the bark indicates the presence of cumarins and condensed tanins. Leaves and
barks from both specie indicated alkaloids in the tissues of these species.
Detailed study for isolating and purification the alkaloids of these species to
analyze the group of the alkaloid is recommended. This results present known
88
for new works to develop researches with barks and leaves from species here
worked. In this way, supported in obtained results we can indicate the
continuing for exploration of the bark at the traditional communities, as usual,
and the exploration from the leaves by industry, at a future study of
bioprospection.
Key-words: “carapanaúba”, Amazônia, medicinal plants, pharmacognosy
89
5.1. – Introdução
A diversificada flora do Brasil tem grande potencial como fornecedora de
compostos secundários, os quais, em razão de suas propriedades farmacológicas,
têm larga aplicação comercial como aditivos alimentares, cosméticos e
agroquímicos. Entretanto, menos de 10% de todas as plantas conhecidas foram
estudadas quimicamente, e pouco tem sido pesquisado em relação à sua
atividade biológica (Pletsch et al., 1995 apud Castro et al., 2004).
Na procura por novos fármacos, as modernas indústrias farmacêuticas
estão investindo maciçamente em sistemas de “screening” de alta escala, em
síntese por química combinatória, em inventários automatizados de compostos.
Atualmente, existe uma grande quantidade de pesquisas em busca de moléculas
ativas de plantas, daí a importância e necessidade de estudos fitoquímicos
guiados pelos bioensaios, seja in vivo ou in vitro (Filho e Yunes, 2001).
Para Di Stasi e Hiruma-Lima (2002) a família Apocynaceae reúne várias
espécies medicinais na região Amazônica, conhecidas como fontes importantes
de substâncias com atividade farmacológica. Dentro dessa família destacam-se
vários gêneros de grande importância, como exemplo, podemos citar
Aspidosperma, que se caracteriza quimicamente pela ocorrência freqüente de
alcalóides indólicos, principalmente monoterpênicos (BOLZANI et al., 1987;
HENRIQUES et al., 2001; SCHRIPSEMA et al., 2001) e que tem sido
recentemente objeto de intensos estudos na busca de novas drogas. Contudo, há
também informações de que essa família inclui um grande número de espécies
tóxicas. Para Metcalfe e Chalk (1950) o gênero Aspidosperma é um dos mais
importantes da América do sul.
Gilbert et al. (1965) apresentam compilação de estudos fitoquímicos com
alcalóides e Gilbert (1966) apresenta resultados fitoquímicos com espécies de
90
Aspidosperma, estudando 33 delas isolou 100 alcalóides indólicos diferentes,
respectivamente.
5.1.1. Alcalóides
Apesar da relevância farmacológica e fitoquímica dos alcalóides, existem
outros componentes ativos que merecem destaques em A. nitidum e A.
marcgravianum que serão analisados mais adiante. Ainda assim, tratar os
alcalóides separadamente reforça a vasta literatura sobre os alcalóides
encontrados nas espécies do gênero Aspidosperma.
Alcalóides
são
compostos
de
caráter
alcalino,
nitrogenados
e
farmacologicamente ativos, encontrados predominantemente nas angiospermas
(Henriques et al., 2003; Robbers et al., 1997). Dentre as angiospermas, as
famílias que se destacam na produção de alcalóides são Apocynaceae,
Papaveraceae, Ranunculaceae, Rubiaceae, Solanaceae e Berberidaceae (Robbers
et al., 1997).
Em relação aos alcalóides Schripsema, Dagnino e Gosmann (2003)
informam que estes têm importante atividade biológica e econômica devido às
suas atividades farmacológicas. Citam a vimblastina e vincristina (Cataranthus
roseus – Apocynaceae) como antineoplásicos importantes, a ergotamina como
fármaco usado contra a enxaqueca, a ioimbina, em distúrbios do fluxo sangüíneo
e a reserpina como antidepressivo. De acordo com sua classificação distinguemse três tipos de alcalóides indólicos monoterpênicos: ioimbinóide, iboga e
aspidosperma. Aspidosperma quebracho-blanco Schltdl. tem como alcalóide
majoritário a quebrachina, cujo extrato da casca do caule é empregado na
medicina tradicional como afrodisíaco para tratamento da impotência
(Argentina, Bolívia e Brasil). Esse alcalóide é idêntico à ioimbina, descrito na
espécie Pausinystalia yohimbe (K. Schum.) Pierre ex Beille (Rubiaceae), com a
mesma indicação tradicional na República de Camarões, Gabão e Congo.
91
Em relação aos princípios ativos encontrados, a literatura relata diversos
alcalóides distribuídos nas várias espécies do gênero Aspidosperma, porém os
mais citados são: hidrocorinanteol – e suas variações químicas – aspidocarpina,
uleina, aparaciana, reserpina, olivacina, ioimbina, aspidospermina e quebrachina
(Gilbert et al., 1965; Marques et al., 1996; Brasil, 1976a; Brasil, 1976b).
Os alcalóides formam sais e usualmente são obtidos na forma de
precipitados (Henriques et al., 2003; Farias, 2003) permitindo desta maneira a
sua caracterização em plantas medicinais. No estudo fitoquímico das folhas e
casca das espécies de Aspidosperma, aqui tratadas, foram realizados ensaios
com os reativos gerais para alcalóides, conforme método empregado em Brasil
(1988), Henriques et al. (2003) e Robbers et al. (1997).
Objetivou-se neste trabalho comparar os compostos fitoquímicos
encontrados nas folhas e na casa de Aspidosperma nitidum e Aspidosperma
marcgravianum pelo com atenção especial à detecção de alcalóides.
5.2.– Material e métodos
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Química Farmacêutica, da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas.
Folhas
e
casca
das
espécies
Aspidosperma
marcgravianum
e
Aspidosperma nitidum foram coletadas nas comunidades Nossa Senhora
Aparecida (Silves-AM) e Urubuí (Presidente Figueiredo-AM) nos anos de 2006,
2007 e 2008.
As folhas foram desidratadas em geladeira e as cascas em temperatura
ambiente e depois foram moídas em pulverizador elétrico em malha de aço fina.
O material foi armazenado em frascos de vidro com tampa e encaminhados ao
laboratório para triagem fitoquímica (screening fitoquímico para detecção de
grupos químicos totais e análise fitoquímica para alcalóides).
92
A matéria prima vegetal (MPG) após dessecação foi estocada em frasco
de vidro devidamente etiquetado e pesado. A MPG foi pesada em balança
analítica e os valores expressos em gramas.
Os testes laboratoriais estão apresentados em duas etapas. Para o
screening fitoquímico foi preparado extrato hidroalcoólico das folhas e da casca
das duas espécies estudadas. Para o screening com atenção especial ao grupo de
alcalóides foram preparados extratos com dois tipos de solvente orgânico
(clorofórmio e éter) para as folhas e casca das duas espécies. Os métodos
específicos para cada tratamento estão explicitadas em cada sub-item a seguir.
5.2.1. – Screening Fitoquímico
Foram realizados testes para heterosídeos cianogênicos, cumarinas, bases
quaternárias, fenóis e taninos, antocianinas, antocianidinas, chalconas e auronas,
saponinas e triterpeno.
Testes para alcalóides também foram realizados, contudo em análises
separadas, pois a literatura indica o grupo em todos os órgãos de praticamente
todas as espécies de Apocynaceae.
Paa
análise
dos
Heterosídeos
cianogênicos,
pesou-se,
separadamente, 10,0g das folhas e das cascas secas e pulverizadas, transferiu-se
para um erlenmeyer de 250ml com tampa esmerilhada. Adicionou-se 50ml de
água destilada. Prendeu-se uma fita de papel de picrato de sódio, previamente
preparada à tampa do erlenmeyer, evitando seu contato com o líquido (Fig 19).
Deixou-se em banho-maria a uma temperatura de 60 °C por duas horas.
Para o Extrato hidroalcoólico das folhas e casca de ambas
espécies, preparou-se previamente um extrato hidroalcoólico a 5%. O material
foi filtrado e completado o volume a 100ml com etanol a 70%. Distribui-se em 7
tubos de ensaio devidamente etiquetados e reservou-se algum preparado para o
teste de cumarinas.
93
Fig. 19. Preparação para análise de heterosídeos cianogênicos.
Para o teste de cumarinas, aplicou-se duas gotas do extrato
hidrofílico em papel filtro, adicionou-se uma gota de solução de hidróxido de
potássio (KOH) 1N sobre uma delas e observou-se a formação de manchas sob
lâmpada ultravioleta (λ360) Fig. 21 e 22.
Fig. 20 – teste para cumarina observado em
câmara escura com lâmpada ultravioleta.
Com o extrato hidroalcoólico realizaram-se vários testes. Para os
testes realizados nos tubos de ensaios cada qual foi etiquetado e, na descrição a
seguir, encontram-se apenas com números (de 1 a 7).
No tubo de ensaio 1, realizou-se teste para fenóis e taninos com
cloreto férrico. O referencial era vermelho e azul para fenóis, azul
escuro para taninos hidrolisáveis e verde para taninos condensados;
No tubo 2 foi realizado teste para Flavonóides (antocianinas,
antocianidinas, chalconas e auronas) e o pH ajustado foi de 3,0 com
ácido sulfúrico. O referencial foi coloração vermelha;
94
no tubo 3 foi realizado teste para flavonóides (antocianinas e
antocianidinas), o pH foi ajustado para 8,5 com hidróxido de sódio a
1%, com coloração lilás como referencial;
no tubo 4 foi realizado teste para flavonóides com pH ajustado para
11,0 e padrões de referência assim determinados: para antocianinas e
antocianidinas azul-púrpura; para flavonas, flavonóis e xantonas
coloração amarela; para chaconas e auronas vermelho-púrpura e para
flavononas o padrão foi vermelho e laranja;
No tubo 5 o pH foi ajustado com ácido clorídrico ficando entre 1,0 e
3,0 que evidencia os padrões de vermelho para leucoanticanidina e
pardo-amarelada para catequinas;
No tubo 6 com pH em 11,0 e com hidróxido de sódio, o padrão fica
vermelho ou laranja e indica, quando positivo, flavononas;
No tubo 7 foi realizado teste para flavanóis, flavanonas, flavanonóis
e xantonas com magnésio metálico granulado e ácido clorídrico.
Observa-se, quando positivo, coloração vermelha.
Outros três testes usando do mesmo extrato hidroalcoólico foram
realizados e aqui estão designados pela letra “A” e números seqüenciais:
Em A1 realizou-se teste para esteróides livres e triterpenóides
pentacíclicos livres; em A2 e A3 realizou-se teste para saponinas.
Nos testes para identificação de esteróides livres extraiu-se resíduo
do béquer usado no extrato alcoólico com cerca de 2,0 ml de clorofórmio. A
solução foi filtrada, gota a gota, em algodão coberto com decigramas de sulfato
de sódio anidro (Na2SO4) para um tubo de ensaio seco e etiquetado. O processo
foi realizado mais duas vezes e reunido no mesmo frasco. Adicionou-se 1,0 ml
de anidrido acético, agitou-se e adicionou-se três gotas de ácido sulfúrico
(H2SO4). Observou-se rapidamente o desenvolvimento de cores e o resíduo
insolúvel foi usado nos testes A2 e A3.
95
Para os testes com saponinas (A2) ressuspendeu-se o resíduo do
teste A1 em 5-10ml de água destilada, filtrado para um tubo de ensaio e agitado
fortemente por 5 minutos. A formação de espuma foi observada e quando
persistente por mais de 5 minutos no repouso era considerada a presença de
saponinas na solução.
Para confirmação de saponinas (A3) adicionou-se 2,0 ml de ácido
clorídrico (HCl) ao tubo A2 e deixou-se o tubo em banho-maria a 60 ºC por uma
hora. Após o banho-maria a solução foi neutralizada ajustando-se o pH em 7,0.
agitou-se o frasco novamente e observou-se a formação de espuma ou
precipitado. A ausência de espumas ou a formação de precipitados indicava
saponinas na solução.
Para análise das Bases quaternárias, preparou-se um extrato por
decocção a partir de 1,0 g da matéria prima vegetal (MPV) que neste estudo
foram pó da casca e das folhas. Juntou-se com 20ml de ácido clorídrico a 10%;
filtrou-se o preparado num funil de separação; alcalinizou-se o extrato obtido até
pH 11,0 com hidróxido de amônio; adicionou-se 10ml de éter etílico e agitou-se;
deixou repousar até separação das fases. Retirou-se a fase etérea; acidulou-se a
fase aquosa com ácido clorídrico a 10%. A fase aquosa foi distribuída em quatro
tubos de ensaio de 10ml e a três deles acrescentou-se algumas gotas dos
reagentes de Mayer, Bertrand, e Dragendorff, respectivamente, observando a
formação de precipitados. O tubo sem reagente externo foi usado para
comparação (tubo controle). A presença de precipitado floculoso nos tubos
indica a existência de bases quaternárias.
Para teste de glicosídeo cardioativos, ferveu-se 2g da amostra
pulverizada com 20ml de etanol a 50 % e 10ml da solução de acetato de chumbo
a 10%, por 2 minutos; centrifugou-se; transferiu-se sobrenadante para um funil
de separação; adicionou-se 15ml de clorofórmio, agitou-se e centrifugou-se para
a separação das fases; distribui-se alíquotas de 5ml em 5 tubos de ensaio. Em
96
banho-maria a solução evaporou até à secura. Submeteu-se os tubos às reações a
seguir: Reação de Libermann-Burchard, Kedde, Legal, Baljet e KellerKiliani.
A reação de Liebermann-Burchard foi preparada utilizando-se 5 ml
de anidrido acético numa mistura com 1 ml de ácido sulfúrico concentrado.
Dissolveu-se o resíduo proveniente do banho-maria, anteriormente preparado,
com esta solução e observou-se o aparecimento de cores no tubo de ensaio 1.
A reação de Kedde foi preparada dissolvendo-se, no momento do
uso, 100 mg de ácido 3,5-dinitrobenzóico em 10 ml de álcool comum. Em
seguida, no tubo de ensaio 2, adicionou-se 2ml do álcool a 50% juntamente com
2ml de água destilada e a reação de Kedde com 2ml de hidróxido de potássio
(KOH) 1N. Aguardou-se em torno de 5 minutos e observou-se o
desenvolvimento de cores na solução.
A reação de Legal foi preparada utilizando-se 30mg de
nitroprussiato de sódio em 9,9ml de água. No tubo de ensaio 3 adicionou-se 1ml
de piridina ao resíduo proveniente do banho-maria juntamente com 0,5ml de
água, 0,5 ml da solução de hidróxido de sódio a 10% e 0,5ml da reação de
Legal. Observou-se o desenvolvimento de cor.
Para a preparação da reação de Baljet foi utilizado 1g de ácido
pícrico em 100ml de álcool a 50%. A solução foi levada ao tubo de ensaio 4 e
observou-se formação de cor.
A reação de Keller-Kiliani foi preparada no momento do uso
misturando-se 6ml da solução de ácido acético glacial em 0,2ml da solução de
cloreto férrico a 9%. 3ml. A reação foi dissolvida no tubo de ensaio 5 e em
seguida transferida cuidadosamente para outro tubo contendo 3ml de ácido
sulfúrico concentrado sem agitar onde se observou o aparecimento de cores na
zona de contato dos dois líquidos.
97
Os testes do screening para alcalóide, como é conhecido para espécies da
família (Apocynaceae) e principalmente para espécies do gênero Aspidosperma,
foram realizados separados do restante do Screening. Dessa forma são
apresentadas duas etapas para o ensaio neste grupo específico.
Ensaios preliminares para alcalóides
Nos ensaios preliminares foram usados os reativos de Bertrand (Matos,
1997), Mayer (Costa, 1982) e Hager (Matos, 1997), a mistura de ÉterClorofórmio (Matos, 1997) e a solução de Iodo Decinormal (Matos, 1997).
A matéria prima vegetal (MPV) que neste caso foram folhas e casca de 2
espécies
de
carapanaúba
(Aspidospema
nitidum
e
Aspidosperma
marcgravianum), foram maceradas separadamente em cadinho de porcelana até
a pulverização. Foram selecionados seis tubos de ensaio e etiquetados (cinco
para os reativos acima descritos e um para controle) para cada amostra
separadamente. No total houve 24 tubos de ensaios sendo seis para casca e seis
para folhas da primeira espécie e da mesma forma seis para folhas e seis para
casca da segunda espécie.
Alguns gramas do fármaco pulverizado foram misturados com 40ml de
HCl diluído e aquecido até a fervura. O resultante foi filtrado e o liquido foi
dividido em seis tubos de ensaio. Em cada tubo fora colocadas três gotas dos
reagentes (Dragendorff, Mayer, Bertrand, Hager e Iodo). Apenas no controle
não se adicionou reativos para que servisse de comparação com o precipitado
que por ventura fosse formado nos outros cinco tubos.
Ensaios decisivos para alcalóides
Os reagentes utilizados neste ensaio foram: ácido clorídrico diluído,
aproximadamente 2N; amônia diluída a 1:1 (v/v); solventes puros: éter isento de
peróxido e clorofórmio lavado e destilado a calor brando. Os reativos foram os
de Dragendorff e Mayer, ambos de acordo com Matos, 1997.
98
Para a técnica final aqueceu-se à fervura, cerca de 1g do fármaco
grosseiramente pulverizado e 20ml de HCl diluído; deixou-se arrefecer e filtrouse o preparado. O filtrado foi lançado numa ampola de decantação, alcalinizado
com amônia diluída e agitado com éter. Depois de repouso conveniente separouse a solução etérea que foi agitada numa ampola de decantação, com 10ml de
HCl diluído. A solução ácida foi separada, dividida em seis tubos de ensaio onde
foram juntadas três gotas de cada um dos reagentes gerais referidos: o
aparecimento de precipitados confirmou a existência de alcalóides.
5.3. – Resultados e Discussão
A espécie A. nitidum é a planta indicada na comunidade para fins
medicinais. A outra espécie (A. marcgravianum) não foi citada nas entrevistas,
contudo foram realizados ensaios fitoquímicos para ambas as espécies (nas suas
folhas e casca).
Apesar da casca de A. nitidum ser a única estrutura indicada como
medicinal nas comunidades, foram encontrados alcalóides nas folhas e casca de
ambas as espécies. Pacheco (1979) também encontrou alcalóides na folha de
Aspidosperma pyrifolium conhecida como pereiro-preto e Verpoorte et al.
(1982) apud Barbosa et al. (2003) constataram atividade antimicrobiana para A.
marcgravianum também advinda de alcalóide indólico. Campos et al. (2005)
estudando o efeito erétil em pênis de ratos encontraram resultados positivos
advindo do uso de alcalóides da casca da raiz da espécie A. ulei.
Folhas e casca de A. nitidum e A. marcgravianum passaram por triagem
fitoquímica, realizada em dois métodos distintos, evidenciando grupos químicos
presentes nos tecidos vegetais.
A seguir serão apresentados nos Quadros 3 e 4, dos Anexos, os resultados
do screening fitoquímico, amparados metodologicamente em Matos (1997). Os
99
resultados registrados para A nitidum e A. marcgravianum podem ser
observados nas figuras 21 e 22, respectivamente.
Fig. 21 – Screening Fitoquímico de Aspidosperma nitidum Benth. A-C, teste para
cumarina, em B) e C) visualização em luz ultravioleta, sendo B) as folhas e C) a casca; em D)
observa-se formação de solução levemente esverdeada e em E) intensamente esverdeada
ambas nos tubos da direita; em F) sem alteração aparente e em G) mudança da cor padrão
para vermelho intenso; H) alteração no padrão cor do ‘branco’ para o amarelo mais
acentuado; I) solução trifásica revelando vermelho e verde além do padrão; J) detalhe da
solução trifásica.
100
Observa-se na Fig. 21 I e J o início da formação de um halo avermelhado
na porção superior do frasco (seta fina) e logo abaixo a solução apresenta
coloração esverdeada. Em comparação com o controle fica nítido informar que a
folha de Aspidosperma nitidum possui esteróides e triterpenóides. Nota-se em
(J) um detalhe em momento mais adiantado que em (I) – solução trifásica. A
casca não revelou nenhum destes compostos.
Tanto Aspidosperma nitidum como A. marcgravianum revelaram
cumarina nos seus tecidos. Pela Fig. 21B e Fig. 22A, é possível observar que na
luz fluorescente foi formada uma mancha amarelada que indica presença de
cumarinas. Este grupo é amplamente encontrado em angiospermas e pode ser
encontrado em praticamente todos os órgãos das plantas.
Kuster e Rocha (2004) informam que as cumarinas são derivadas do
metabolismo da fenilalanina e que seus subprodutos encontram-se em fase de
experimentação como promissores para o tratamento do câncer, impotência
sexual masculina, como antiinflamatórios, vasodilatadores e anticonvulsivantes
entre outros tratamentos.
Para estes mesmos autores (ib idem) as diferentes estruturas das
cumarinas são encontradas em famílias específicas, contudo os grupos das
xantonas não apresentam grande interesse taxonômico.
Na carapanaúba indicada pelas comunidades estudadas (Aspidosperma
nitidum), os resultados revelaram taninos condensados, tanto nas folhas quanto
na casca.
Aspidosperma marcgravianum também revelou taninos na sua
composição, contudo apenas a casca revelou esta substância. A coloração da
casca, de ambas as espécies e da folha em A. nitidum em contraste com o grupo
controle (branco), revelou presença de taninos destacando-se a coloração verde
clara. Na Fig. 21J observa-se a intensidade da coloração verde na folha da
espécie Aspidosperma nitidum em comparação ao controle (esquerda) e também
da casca de A. marcgravianum (Fig. 22F).
101
De acordo com Santos e Mello (2004), os resultados aqui mencionados
sustentam-se porque estes compostos são encontrados, na sua maior parte, em
plantas lenhosas e são utilizados na medicina tradicional para tratamento de
problemas estomacais (azia, náuseas, gastrite e úlcera gástrica) protegendo a
mucosa. Robbers et al. (1997) informam que estes compostos são usados como
adstringentes do tubo digestivo e em escoriações cutâneas além de possuírem
propriedades antioxidantes muito eficazes que funcionam como lixeiros de
radicais livres.
Taninos são substâncias solúveis em água, especialmente encontrados em
células do parênquima, derivados dos fenóis e dos fenóis ácidos. Podem,
também, ser freqüentes em células da epiderme, freqüentes em espécies de clima
temperado e em regiões secas podem auxiliar contra o risco de dissecação e
atuar contra o ataque de organismos parasitas (McNair, 1930).
Entre as partes vegetais analisadas, as folhas de ambas as espécies
revelaram a presença de antocianina conforme a coloração avermelhada indicada
na Fig. 21G e Fig. 22B.
As antocianinas fazem parte do grupo de flavonóides, importantes para as
plantas superiores e de acordo com Zuanazzi e Montanha (2004) não está claro
que também sejam importantes para o homem, contudo pesquisas sugerem que
alguns flavonóides são responsáveis por ação antitumoral considerável, agindo
como antiinflamatórios e antioxidantes.
Flavonas, flavonóis e xantonas, também fazem parte do grupo dos
flavonóides. As folhas da espécie Aspidosperma nitidum apresentaram estes subgrupos de flavonóides. Os flavonóides podem apresentar cores e são usados
como pigmentos. Algumas de suas aplicações conferem cor e valor nutricional
para alguns alimentos, são reconhecidos ainda como antivirais (Zuanazzi e
Montanha).
102
Fig. 22 - Screening fitoquímico de Aspidosperma marcgravianum. A) presença de cumarina
em luz fluorescente; B) diferença na coloração (vermelho) para tanino; C) presença de
antocianina (amarelado); D) flavonóides; E) triterpenóides pentaciclicos; F) esteróides livres
(verde); G) saponina; H) base quaternária; I) glicosídeo cardiotônico
103
Fig. 23 – Detecção preliminar de alcalóides pelos testes de Bertrand, Hager, Decinormal de Iodo e
Mayer. A-D Aspidosperma nitidum, E-H Aspidosperma marcgravianum. A) Análise da casca:
Controle, Bertrand e Hager; B) Análise da casca: Controle, D Iodo e Mayer; C) Análise da folha:
Controle, Bertrand e Hager; D) Análise da folha:: Controle, D Iodo e Mayer; E) Análise da casca:
Controle, Bertrand e Hager; F) Análise da casca: Controle, Iodo e Mayer; G) Análise da folha:
Controle, Bertrand e D Iodo; H) Análise da folha: Controle, Mayer e Hager
O screening fitoquímico realizado com as folhas e cascas das espécies em
estudo confirmou os relatos de Di Stasi e Hiruma-Lima (2002) onde informam
que o gênero Aspidosperma é rico em alcalóides.
104
O reativo de Dragendorff foi utilizado e respondeu positivamente para
todos os exames, significando que tanto nas folhas quanto na casca de ambas as
espécies são encontrados alcalóides.
Sugere-se estudos mais aprofundados para isolamento e purificação desse
grupo de compostos, realização de testes biológicos para identificação de suas
atividades biológicas e/ou possíveis efeitos tóxicos e, por fim, utilização na
fabricação de fármacos.
Através da Fig. 23 pode-se observar que em todas as situações houve
precipitado, que é característico na detecção deste grupo, assim como fizeram
Carvalho et al. (2006) para Nasturtium officinale. Nas Fig. 23 A – D, demonstrase que em Aspidosperma nitidum a presença de alcalóide foi confirmada pelos
reativos de Bertrand, Hager, Iodo e Mayer, tanto presentes na casca como nas
folhas. A presença de alcalóides na casca já era conhecido e os moradores das
comunidades estudadas também fazem indicação dessa parte do vegetal. A
presença de alcalóides nas folhas de ambas as espécies não foi encontrado na
literatura até o momento.
A espécie A. marcgravianum também revelou alcalóides nos dois órgãos
vegetais estudados, a casca e a folha, e pelos mesmos reativos (Bertrand, Hager,
Iodo e Mayer). Os resultados para esta espécie podem ser confirmados pelas Fig.
23 E-H.
Estes
resultados
fornecem
conhecimento
para
novos
trabalhos
desenvolverem pesquisas com a casca e as folhas das espécies aqui trabalhadas.
Dessa forma, amparados nos resultados obtidos podemos indicar a continuidade
da exploração da casca de Aspidosperma nitidum nas comunidades tradicionais,
como sempre foi feito, e a exploração das folhas pela indústria, nos trabalhos
futuros de bioprospecção. Para a espécie Aspidosperma marcgravianum ficam
sugeridos os mesmos estudos aprofundados, uma vez que a mesma não é citada
nas comunidades estudadas nem a literatura relatou estes apontamentos.
105
5.4. Conclusão
As duas espécies apresentam semelhanças nas classes de compostos
químicos observadas (já que não foram isoladas substâncias). As cascas, que são
indicadas na terapia tradicional, revelaram componentes ativos, o que sugere que
estudos promissores para medicamentos devem ser seguidos. A folha, que não é
mencionada como medicinal, deverá ser analisada pois traz consigo
componentes ativos similares e também diferentes daqueles encontrados na
casca.
O fato de se conhecer a presença dos alcalóides nas estruturas vegetais
destas espécies e, sabendo que os mesmos são farmacologicamente ativos, vale
ressaltar os cuidados e cautela no uso destas espécies, seja como fitoterápico,
seja como fitofármaco, ainda que em seus usos tradicionais.
106
5.5 – Referências Bibliográficas
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auriculatum Stand. Rev. Bras. Farmacogn. 13(supl.), p. 06-08. ISSN 0102-69
Campos, A. R.; Lima Jr., R. C. P.; Uchoa, D. E. A.; Silveira, E. R.; Santos, F.
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Aspidosperma ulei root. Journal of Ethnopharmacology 104: 240-244.
Carvalho, J. L. S. ; Cunico, M. M. ; Miguel, M. D. ; Miguel, O. G. .
SCREENING FITOQUÍMICO DO Nasturtium officinale R. Br.:. Visão
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Castro, H. G.; Ferreira, F. A.; Silva, D. J. H.; Mosquim, P. R. 2004.
Contribuição ao estudo das plantas medicinais – Metabólitos Secundários. 2
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Di Stasi, L. C.; Hiruma-Lima, C. A. 2002. Plantas medicinais na Amazônia e
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Filho, V. C.; Yunes, R. A. 2001. Estudo químico de plantas medicinais
orientado pra análise Biológica. Obtenção, determinação e modificação
estrutural de compostos bioativos. In Yunes, R. A.; Calixto, J. B. 2001.
Plantas medicinais – sob a ótica da Química Medicinal Moderna. Chapecó.
Argos. 500p.
107
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planta
ao
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Alegre/Florianópolis: Editora UFRGS/ Editora da UFSC. 1102p.
5ª
Ed.
Porto
109
6.0. CONCLUSÃO GERAL
As espécies de carapanaúbas estudadas trazem consigo semelhanças
morfológicas, anatômicas e fisiológicas. Características anatômicas podem
auxiliar na separação de espécies dentro deste gênero assim como os compostos
químicos podem reunir o gênero quimiotaxonomicamente.
As comunidades tradicionais pesquisadas não reconhecem duas espécies
distintas de carapanaúba. Utilizam e indicam apenas uma delas (Aspidosperma
nitidum) para tratamento da saúde. A casca é a estrutura indicada pela única
espécie reconhecida na medicina tradicional. De acordo com as informações
locais as informaçoes tradicionais estão se perdendo uma vez que os mais novos
detém menos interesse na cultura com a floresta ou estão se mudando para a
cidade e não retornando mais.
As folhas de ambas as espécies contêm substâncias ativas (alcalóides)
capazes possivelmente de terem o mesmo sucesso farmacológico que as
encontradas na casca da espécie usada nas comunidades e dessa forma devem se
ter os devidos cuidados tradicionais, laboratoriais e de tratamentos
farmacológicos.
110
7.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS
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***
119
ANEXOS
Anexo 1
Quadro 1 – Formulário de entrevista para obtenção dos dados relativos ao
entrevistado
Identificação do entrevistado
Usa planta como remédio?
Sim (
)
Não (
)
Nome: __________________________________________________________
Ocupação: _______________________________________________________
Idade: ________ Sexo: __________Naturalidade: ________________________
Há quanto tempo mora no local? :_____________________________________
Com quem aprendeu a lidar com plantas medicinais? : ____________________
Nº de pessoas que moram na casa: ________________
Nome
Grau de parentesco
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
Data: ____/____/_____
Entrevistador: ____________________________________________________
120
Anexo 2
Quadro 2 – Ficha de entrevista para obtenção dos dados relativos à planta
Dados relativos à planta - Carapanaúba
Espécies que utiliza __________________________________________
Espécie:
[ ] A. marcgravianum
[ ] A. nitidum
Parte usada: __________________________________________________
Usa:
seca ( )
fresca ( )
Para que usa? _________________________________________________
Como prepara? _______________________________________________
( ) chá
( ) maceração
( ) infusão ( ) decocção
Alcoolatura: ( ) cachaça
( ) vinho ( ) outro
( ) xarope ( ) garrafada
( ) pomada ( ) ungüento
( ) banhos ( ) cataplasma
( ) inalação ( ) compressa
Quantidade da planta: __________________________________________
Quantidade de água ou outro líquido: ______________________________
Tempo de fervura: _________ infusão: __________ maceração: ________
Usa esta planta junto com outras?
Sim ( )
Não ( )
Qual(is)? ____________________________________________________
Usa adoçar?
Sim ( )
Não ( )
Adoçante? _____________________ quantidade: ____________________
Usa: frio ( )
quente ( )
morno ( )
Em que dose? _________________________________________________
Quantas vezes por dia? _________________________________________
Quantos dias de uso? ___________________________________________
De que forma usa?
oral
( );
tópica: pele ( ),
emplastro ( ),
mucosa
( ),
cataplasma ( ),
Usa para que idade?
Criança ( )
Adulto ( )
Homem ( )
Mulher ( )
Cultiva plantas medicinais?
Sim ( ) Não ( )
Quando e como colhe esta espécie? __________________________________
Mistura esta planta com medicamento de farmácia? Sim ( ) Não ( )
Quando usou esta planta pela última vez? ___________________________
Costuma recomendar o uso desta plantas às outras pessoas? Sim ( ) Não ( )
Esta planta provoca efeitos colaterais?
Sim ( )
Não ( )
Quais? ______________________________________________________
Entrevistador: ________________________________________________
Data: ____/____/____
121
Anexo 3
Screening fitoquímico preliminar
Aspidosperma nitidum
Quadro 3. Screening fitoquímico preliminar de Aspidosperma nitidum, espécie
conhecida como carapanaúba.
RESULTADO
F C
Teste para heterosídeos cianogênicos
- -
Teste para cumarinas
+ +
Fenóis
- -
Taninos hidrolisáveis
Taninos condensados
- + +
Antocianina
+ -
Desenvolvimento de coloração lilás (antocianinas e antocianidinas)
- -
Desenvolvimento de coloração azul-púrpura (antocianinas e antocianidinas)
- -
Desenvolvimento de coloração amarela (flavonas, flavonóis e xantonas)
+ -
Desenvolvimento de coloração vermelha-púrpura (chalconas e auronas)
- -
Desenvolvimento de coloração entre vermelho e laranja (flavanonas)
- -
Leucoantocianidinas
- -
Catequinas
- -
Flavanonas
- -
Tubo 7
flavanóis, flavanonas, flavanonóis e xantonas
Teste A – 1
Desenvolvimento de coloração azul, seguida de verde permanente (esteróides
livres)
Desenvolvimento de coloração entre parda e vermelha (triterpenóides
pentacíclicos livres)
+
+
-
Tubo 1
Tubo 2
Tubo 3
Tubo 4
Tubo 5
Tubo 6
Teste A -2
Espuma persistente por 5 minutos (saponinas)
Ausência de espuma (saponinas)
Teste A – 3
Formação de precipitado (saponinas)
-
122
Teste para
Formação de precipitado floculoso nos tubos
bases
quaternárias
Tubo GC-1
Tubo GC-2
- -
Reação para Glicosídeos Cardioativos
Lieberman-Bruchard
F C
+ +
Kedde
+
+
Tubo GC-3
Legal
Tubo GC-4
Bajlet
Tubo GC-5
Keller-Kiliani
+
+
Legenda: F = Folha, C = Casca, GC = Glicosídeo cardioativo; sinal (-) = negativo para a reação;
sinal (+) = positivo para a reação.
123
Anexo 4
Screening fitoquímico preliminar
Aspidosperma marcgravianum
Quadro 4. Screening fitoquímico preliminar de Aspidosperma marcgravianum,
espécie conhecida como carapanaúba
RESULTADO
F C
Teste para heterosídeos cianogênicos
- -
Teste para cumarinas
- +
Fenóis
- -
Taninos hidrolisáveis
Taninos condensados
- - +
Antocianina
+ -
Desenvolvimento de coloração lilás (antocianinas e antocianidinas)
- -
Desenvolvimento de coloração azul-púrpura (antocianinas e antocianidinas)
- -
Desenvolvimento de coloração amarela (flavonas, flavonóis e xantonas)
- -
Desenvolvimento de coloração vermelha-púrpura (chalconas e auronas)
- -
Desenvolvimento de coloração entre vermelho e laranja (flavanonas)
- -
Leucoantocianidinas
- -
Catequinas
- -
Flavanonas
- -
Tubo 7
Flavanóis, flavanonas, flavanonóis e xantonas
Teste A – 1
Desenvolvimento de coloração azul, seguida de verde permanente (esteróides
livres)
Desenvolvimento de coloração entre parda e vermelha (triterpenóides
pentacíclicos livres)
+ + + -
Tubo 1
Tubo 2
Tubo 3
Tubo 4
Tubo 5
Tubo 6
Teste A -2
Espuma persistente por 5 minutos (saponinas)
Ausência de espuma (saponinas)
Teste A – 3
Formação de precipitado (saponinas)
- - - -
124
Teste para
Formação de precipitado floculoso nos tubos
bases
quaternárias
Tubo GC-1
Tubo GC-2
+ +
Reação para Glicosídeos Cardioativos
Lieberman-Bruchard
F C
+ +
Kedde
+
Tubo GC-3
Legal
Tubo GC-4
Bajlet
Tubo GC-5
Keller-Kiliani
+
Legenda: F = Folha, C = Casca, GC = Glicosídeo cardioativo; sinal (-) = negativo para a reação;
sinal (+) = positivo para a reação.
125
Anexo 5
GLOSSÁRIO DE TERMOS REGIONAIS
No.
Termo
Significado geral
1.
Roça
Plantação de macaxeira
2.
Macaxeira
Mandioca (Manihot esculenta) da qual se
elaboram pratos regionais
3.
Terçado
Facão
4.
Curuba
Coceira, proveniente de uma afecção na pele
e contagiosa
5.
Metro de roda
Circunferência (das árvores)
126
Anexo 6
Abreviaturas encontradas na tese
BQ: braquiesclereides
FM: felema
CA: casca
FS: floema secundário
CC: célula companheira
FV: feixe vascular
CO: colêquima
LE: lenticela
CT: córtex
LT: laticífero
CU: cuticula
PA: parênquima
CV: cilindro vascular
PP = parênquima paliçádico
EC: esclereide colunar
PL = parênquima lacunoso
EN: endoderme
PC: periciclo
EP: epiderme
PCL: pecíolo
EPB: abaxial
PE: periderme
EPD: adaxial
RA: raio
ETC: elemento de tubo crivado
RT: ritidoma
FB: fibroesclereíde
TC: tricoma
FD: feloderme
U: célula ereta
FG: felogênio
FG: fibras gelatinosas
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