Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Verônica Nascimento Pinto A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E SEUS EFEITOS SOBRE O CRIME São Paulo 2013 Verônica Nascimento Pinto A transição demográfica e seus efeitos sobre o crime Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho – Insper São Paulo 2013 Pinto, Verônica Nascimento A transição demográfica e seus efeitos sobre o crime / Verônica Nascimento Pinto. – São Paulo: Insper, 2012. x f. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho 1. Demografia 2. Políticas públicas 3. Crime Verônica Nascimento Pinto A transição demográfica e seus efeitos sobre o crime Monografia apresentada à Faculdade de Economia do Insper, como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. EXAMINADORES ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho Orientador ___________________________________________________________________________ Profa. Dra. Regina Carla Madalozzo Examinador(a) ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Santos Examinador(a) Agradecimentos Gostaria de agradecer todos aqueles que tornaram este trabalho possível, em especial meu orientador, Prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho, por todo o suporte oferecido durante este processo, dedicação e ajuda com dados. Gostaria de agradecer também todos os meus professores da faculdade, que contribuíram para o meu amadurecimento intelectual. Agradeço todos os meus colegas pela convivência dos últimos anos, por todas as vivências que tivemos. Dedicatória Dedico essa monografia à minha família, que sempre me proporcionou educação de qualidade, ao meu namorado Lucas, que sempre me apoiou durante esta fase e a todos os meus amigos que sempre estiveram por perto. Resumo PINTO, Verônica Nascimento. A transição demográfica e seus efeitos sobre o crime. São Paulo, 2012. X p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. A criminalidade, na maioria dos municípios do país, é muito elevada quando comparada a de outros países com níveis de renda semelhantes. Tal fato afeta severamente a rotina dos cidadãos, pois além do crime representar um enorme custo para a sociedade como um todo, traz prejuízos materiais, força gastos públicos e privados que deveriam ser alocados a outras frentes, reduz o estoque de capital humano, qualidade de vida e investimentos. Decisões de um governo no âmbito social e econômico são influenciadas por mudanças demográficas, principalmente em virtude das mudanças na estrutura etária da população. O trabalho avalia os impactos da transição demográfica da população brasileira sobre o nível de crime cometido pelos jovens, estudando o Brasil como um todo e o estado de São Paulo em especial. Ainda, verifica a importância do fator demografia no processo de redução da criminalidade até o ano de 2050, quando a pirâmide demográfica sofrerá uma mudança permanente em sua estrutura, com a menor proporção da população em idade ativa já observada. Apesar de existirem diversos fatores socioeconômicos que impactam o nível de violência brasileira, é certo que a demografia será uma importante variável para determinar a queda de homicídios no país nos anos subseqüentes. Palavras-chave: transição, demografia, crime, jovens. Abstract PINTO, Verônica Nascimento. Demographic transition and its effects on crime. São Paulo, 2012. xp. Monograph – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. The crime, in most municipalities, is very high compared to other countries with similar income levels. This fact severely affects the routine of citizens, since crime represents a huge cost to society as a whole, as they bring in material losses, deviating public and private expenditures that should be allocated to other fronts, reducing the stock of human capital, quality of life and investments. Decisions of a government in the social and economic development are influenced by demographic changes, mainly due to changes in the age structure of the population. This work assesses the impact of the demographic transition of the population on the level of crime committed by young people, studying Brazil as a whole and the state of São Paulo in particular. Also verifies the importance of demographic factors in the process of reducing crime by the year of 2050, when the population pyramid will suffer a permanent change in its structure, with the lowest proportion of working age population already observed. Although there are many socioeconomic factors that impact the level of violence in Brazil, it is certain that the demographic shift is an important variable in determining the fall of homicides in the country in subsequent years. Keywords: transition, demography, crime, youth. Sumário 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 10 2 CONTEXTO SOCIAL BRASILEIRO ........................................................................................... 12 2.1 CRIMINALIDADE NO BRASIL .............................................................................................. 12 2.2 CAUSAS DO CRIME ............................................................................................................. 13 2.3 CUSTOS DO CRIME ............................................................................................................. 13 3 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA .................................................................................................. 15 3.1 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA BRASILEIRA .......................................................................... 15 4 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 18 4.1 DADOS EM PAINEL ............................................................................................................. 19 4.2 COLETA DE DADOS ............................................................................................................ 20 5 RESULTADOS ......................................................................................................................... 22 5.1 ESTIMAÇÃO ........................................................................................................................ 22 5.2 PREVISÃO ........................................................................................................................... 23 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 26 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 28 Lista de Tabelas Tabela 1 – Taxa de homicídios por país...................................................................................12 Tabela 2 – Resultado das estimações do Eviews......................................................................22 Lista de Gráficos Gráfico 1 – População segmentada por faixa etária – 1950-2040............................................16 Gráfico 2 - Razão de dependência da população......................................................................17 Gráfico 3 – Previsão da Taxa de Homicídios Brasileira – 1990-2050......................................23 Gráfico 4 – Previsão da Taxa de Homicídios do Estado de São Paulo – 1990-2050...............24 10 1 INTRODUÇÃO O Brasil encontra-se em uma das fases intermediárias da transição demográfica, caracterizada por baixas taxas de mortalidade e taxas de natalidade decrescentes. Tal fato pode representar uma grande vantagem competitiva para o desenvolvimento econômico, pois o país está vivenciando uma fase onde a maior parte da população está em idade economicamente ativa, além de apresentar mudanças significativas na quantidade de crimes cometidos pelos jovens. A transição demográfica no Brasil tem sido muito acelerada, assim como em outros países latino-americanos, com um declínio rápido das taxas de fecundidade e do ritmo de crescimento demográfico. Consequentemente, a transição da estrutura etária, ainda que tenha diminuído a proporção de jovens e aumentado a dos idosos, possibilitou que em 2010 a população jovem tenha apresentado o seu maior tamanho absoluto. O crescimento da população em idade ativa, acompanhando a população total, ainda se manterá até meados de 2050. A população jovem é aquela que produz, poupa, investe e contribui com impostos e para a previdência social, podendo impulsionar o crescimento da economia. Porém, o mesmo fenômeno pode ainda ser uma ameaça à economia brasileira, se o mercado de trabalho não for capaz de absorver a nova mão de obra, aumentando significativamente a proporção de desempregados e empregados na informalidade, o que poderá acarretar em um aumento significativo da criminalidade. Simultaneamente à expressiva incorporação de mão de obra jovem, a população em idade ativa ficará mais velha, ainda que gradualmente. Estas mudanças na composição etária da sociedade alteram as relações de dependência existentes, definidas aqui como a razão entre a população de adolescentes e idosos com relação ao de adultos. A partir disto, deve ser feita uma análise sobre como minimizar estes efeitos e como aperfeiçoar as opções de políticas públicas neste campo. As rápidas mudanças demográficas em curso no Brasil representam antes de tudo uma enorme oportunidade para impulsionar o crescimento e o desenvolvimento social e econômico do País. O Brasil atualmente passa por um curto período chamado bônus demográfico, único na historia de cada nação, quando a força de trabalho é muito maior do que a população dependente. Este é um ponto de inflexão que deve durar apenas até 2020 porém seus impactos poderão durar por muito tempo. O Brasil está ingressando em um contexto demográfico fundamentalmente diferente, onde a população cada vez mais madura colocará um peso extra sobre o sistema, como estímulo da participação das mulheres na economia e necessidade de criação de políticas para 11 financiar os gastos fiscais decorrentes. O país passou por uma notável diminuição da criminalidade na última década. As justificativas a respeito desta tendência são muitas. Entre elas a adoção do INFOCRIM, queda no número de prisões, aumento do número de policiais e aumento no controle de posse ilegal de armas. Porém, existe outra variável que pode desempenhar papel fundamental para explicar as mudanças no nível de crime: mudanças demográficas. Ou seja, a tendência em homicídios está fortemente relacionada com o número de adolescentes entre 15 e 24 anos na população, pois esta é a faixa etária mais propensa a cometer crimes. Durante os anos 70, a mortalidade infantil reduziu fortemente, resultado de melhorias na saúde pública e nas condições de saneamento básico. Tal fato, juntamente com a rápida urbanização brasileira, a oferta precária de serviços públicos e a má qualidade da educação brasileira, proporcionou um aumento significativo nas taxas de desemprego dos jovens e, consequentemente, queda nos salários reais. Desse modo, acrescido da liberalização do comércio exterior e da ocorrência de mudanças tecnológicas que prejudicaram o trabalhador não qualificado, causando um grande aumento nos níveis de criminalidade dos anos subsequentes. Esta pesquisa tem o objetivo de estabelecer uma relação entre a já mencionada transição demográfica, reduzindo no futuro o número de jovens do sexo masculino entre 15 e 24 anos (que são os mais propensos a cometer crime), e as alterações na quantidade de crimes cometidos nas cidades brasileiras (medidas aqui como número de homicídios praticados). Com isso, o foco deste trabalho é apontar uma causa alternativa para a redução da criminalidade que não esteja vinculada com policiamento, adoção da lei seca e mudanças no regime carcerário. Ou seja, buscar evidências empíricas que relacionam queda da criminalidade com um número menor de jovens no país, estender os estudos propostos por MELLO e Schneider (2011) e, assim, investigar se os resultados encontrados no estudo que associam queda da criminalidade com diminuição do número de jovens entre 15 e 24 anos serão significativos se aplicados a todo o Brasil até o ano de 2050, baseado nas projeções populacionais desenvolvidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 12 2 CONTEXTO SOCIAL BRASILEIRO 2.1 CRIMINALIDADE NO BRASIL O número de crimes cometidos no país representam um problema extremamente grave. Se compararmos a renda per capita dos países com o nível de criminalidade que nelas existem, podemos ver que o Brasil encontra-se em níveis desproporcionais de violência. Em termos de PIB per capita, o Brasil está entre os 50 países mais ricos do mundo, porém, incoerentemente, figura entre os 20 mais violentos, junto com países da África e Oriente Médio que enfrentam guerras civis e disputas territoriais em sua nação. Os dados abaixo se referem à taxa de homicídios a cada 100000 pessoas, onde o Brasil encontra-se na vigésima colocação entre todos os países do mundo: 13 2.2 CAUSAS DO CRIME O crime pode surgir por inúmeras consequências, muitas delas que inclusive podem ser controladas via políticas públicas e diminuição da desigualdade entre as classes. Porém, alguns motivos são tidos como fatores determinantes e devem ser destacados. Pobreza: Mais de 83 milhões de brasileiros não têm acesso aos serviços de saúde. Quase 8% é analfabeta. Um estudo mundial da UNICEF sobre famílias sem acesso a instalações sanitárias (banheiros) aponta que no Brasil quase 50% da população é atingida por este problema. Essas e outras expressões da pobreza repercutem nas dimensões fundamentais da vida, deterioram a qualidade de vida e diminuem a esperança de vida. Desemprego e Informalidade entre os Jovens: De acordo com estudo realizado por LYRA (2007) para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), os que trabalham na economia informal ganham em média metade do salário de trabalhadores em empresas legais, além de trabalhar mais horas. Outro problema, atualmente, é o da precarização das condições de trabalho: houve um aumento no número de trabalhadores sem contrato, ou sob contratos temporários. Má Qualidade na Educação: Registram-se importantes progressos na área de educação. Houve significativo aumento da taxa de matrícula nas escolas primárias e a grande maioria das crianças inicia a escola. Também houve queda nas taxas de analfabetismo. Mas, ao lado dos bons resultados, apresentam-se vários outros problemas. O primeiro é o da evasão escolar. Cerca de 50% das crianças que se matriculam na escola primária não terminam o curso Assim, apenas uma faixa reduzida da população completa o segundo grau. O segundo problema é a repetência, medidas atuais dos programas governamentais tentaram alterar isso aprovando o aluno de escola pública, porém baixando os padrões para checar se de fato o mesmo tinha adquirido todo o conteúdo programático previsto para a série. 2.3 CUSTOS DO CRIME O crime nas grandes cidades mostra-se extremamente custoso não somente do ponto de vista econômico, que leva em consideração diretamente o nível de gastos públicos, como também do ponto de vista da qualidade de vida do cidadão. Este passa a ter medo e assim, tem sua liberdade cerceada para que, em tese, tenha maior segurança. Além disso, ainda causa uma sensação de medo e insegurança entre todos, impondo fortes restrições à vida dos mesmos. O incremento da violência traz consequências cada vez 14 maiores ao cotidiano dos cidadãos que, visando reduzir os riscos de serem vítimas do crime, alteram seus hábitos e alocam recursos para promoverem por si só a segurança pessoal que o Estado não proveu. 15 3 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Transição demográfica é o processo de redução das taxas de mortalidade e natalidade, sendo que a primeira começa a diminuir primeiro que a segunda. Ela é divida em cinco fases distintas, sendo a primeira fase é determinada por altas taxas de natalidade e mortalidade. A segunda fase inicia-se com a queda na taxa de mortalidade, enquanto que a taxa de natalidade se mantém alta. A terceira fase é determinada pela queda tanto da taxa de natalidade quanto de mortalidade. já na quarta fase, ambas as taxas já se encontram em níveis baixos até que na quinta e última fase de transição demográfica, taxa de mortalidade passa a superar a taxa de natalidade, fazendo com que o crescimento da população seja negativo. O primeiro fator a influenciar na queda da taxa de mortalidade é a queda na taxa de mortalidade infantil. Após essa fase, diversos fatores podem explicar a redução no número de óbitos de um país, mas os principais motivos que explicam esse fenômeno são a melhora no padrão de vida da sociedade, inovações médicas, programas de saúde pública, maior acesso da população ao saneamento básico e melhora na higiene pessoal. Quanto à queda na taxa de natalidade o principal fator para explicar esse fenômeno é a urbanização. Visto que na sociedade urbana o ingresso da mulher no mercado de trabalho e o custo de manutenção e educação dos filhos são maiores que nas sociedades rurais, fazendo com que o custo de oportunidade de se ter um filho aumente. Além disso, a difusão do uso de métodos anticoncepcionais é outra variável de grande relevância na explicação da queda da taxa de natalidade. 3.1 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA BRASILEIRA No Brasil, a contínua queda das taxas de natalidade e mortalidade alteram a estrutura etária da população nacional, diminuindo a proporção de crianças e jovens, e aumentando a de adultos e idosos, como pode ser visto nas pirâmides etárias do Brasil ao passar dos anos, ilustradas no gráfico 1: 16 Mudanças na estrutura etária acarretam mudanças em uma taxa importante quando se objetiva estudar os impactos demográficos, a razão de dependência. Essa taxa é calculada a partir da soma do número de crianças, adolescentes e idosos dividida pelo número de adultos. Crianças, adolescentes representam a soma das coortes de 0 a 14 anos; adultos são a soma das coortes de 15 a 64 anos e idosos são aquelas pessoas com idade acima de 65 anos. Crianças/adolescentes e idosos são definidos como a parte da população dependente, e os adultos como a população em idade ativa (PIA). O gráfico 2 mostra o comportamento das variáveis mencionadas acima ao passar dos anos: 17 Ainda com relação à PIA, uma divisão etária dentro desse grupo se faz relevante, ainda mais quando é estudado o impacto demográfico nos níveis de poupança pública e privada. A PIA é dividida em dois segmentos, um júnior (15-40 anos) e um sênior (40-65 anos). O segmento sênior, além de ser aquele com maior produtividade, visto que é previsto que tenha incorporado um maior investimento em capital humano, é também a proporção da PIA que mais contribui para poupança e contribuição fiscal. A importância da razão de dependência está no fato de que é ela quem define o período da janela de oportunidades demográficas de um país. O bônus demográfico se inicia quando a razão de dependência total é menor ou igual a PIA, e termina quando é maior que a PIA. Assim, baseado no gráfico 2, podemos concluir que a janela de oportunidades demográficas do Brasil começou em 1995 e deve terminar por volta de 2055, totalizando um período de 60 anos de bônus demográfico. 18 4 METODOLOGIA A fim de investigar se de fato a relação entre menor número de jovens mais propensos a cometer crimes (a saber, proporção dos jovens entre 15 e 24 anos) e a diminuição da criminalidade é válida até os dias de hoje, serão usados os dados de população e distribuição por faixa etária provenientes do IBGE (e distribuição por sexo também, já que homens são intuitivamente mais propensos a cometer crimes) e serão feitas análises com base nas variáveis que dizem respeito a criminalidade que estão disponíveis. A proxy para medir violência será o número de homicídios cometidos, fornecida pela Secretaria de Estado da Segurança Pública. Apesar de não ser uma variável que mede todos os possíveis crimes cometidos, é a mais confiável possível, pois crimes como furtos e roubos nem sempre são registrados da devida forma (boletins de ocorrência) e, portanto, podem causar graves erros de mensuração, pois a análise aqui referida visa medir as variações no nível de violência nas cidades, o que pode ser seriamente afetado caso a variável estudada seja construída de forma errada. Inicialmente, a estimação será feita via Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), com a possível adoção de dummies para anos em que houve a inserção de alguma política pública relevante para o combate ao crime nas grandes cidades, como por exemplo a adoção do Infocrim1, sistema georeferenciado de acompanhamento do crime. Ainda, como um dos principais objetivos da pesquisa é identificar qual o impacto que o envelhecimento da população brasileira está tendo na criminalidade, a população será separada em coortes, sendo a coorte de 15-24 anos a de maior interesse da pesquisa, pois é a que estatisticamente está mais propensa a cometer crimes. Assim, será estimado o número de crimes cometidos por variáveis que impactam no mesmo (selecionadas pela significância na regressão), controlado pelas variáveis de renda e desigualdade, e tendo no fator demografia uma variável segmentada por coortes. Para enriquecimento da pesquisa e conclusões acerca do assunto, será então feita uma previsão baseada nas projeções de estrutura etária da população até 2050, feitas pelo IBGE, que visa mensurar a quantidade de crimes cometidos no futuro, mantendo dados como renda e 1 Infocrim é a primeira ferramenta tecnológica que democratizou o acesso à informação operacional da polícia, concedendo acesso irrestrito a todos os boletins de ocorrência, de forma direta ao boletim, de forma estatística ou através de apoio de notas. O sistema é baseado em georreferenciamento de ocorrências, ou seja, coloca a ocorrência o mapa, com latitude e longitude. Assim, permite identificar e mapear locais de risco, pontos de interesse, pontos críticos de ocorrências e também pontos que facilitam o cruzamento de identificação de envolvidos por características físicas, modus operandi e outros aspectos. 19 desigualdade inalterados e assim, estudar se de fato, o envelhecimento da população brasileira trará impactos significativos nos níveis de crime cometidos no país. 4.1 DADOS EM PAINEL Neste estudo, serão utilizadas técnicas de dados em painel, caracterizados por possuírem observações no tempo e espaço. Isto se deve ao fato de que serão utilizadas observações repetidas para um mesmo conjunto de unidades seccionais, a saber: estados brasileiros. Uma possível forma de representar dados em painel é a seguinte: Onde = é a variável dependente, i e t denotam a unidade observacional e o período de cada variável, respectivamente, representa o parâmetro de intercepto e é referente ao coeficiente angular da k-ésima variável apresentada no modelo. Se o modelo seguir todas as hipóteses de regressão (tais como erros homocedásticos e não correlacionados o tempo e espaço), pode ser estimado via Mínimos Quadrados Ordinários. Caso admita-se que os coeficientes são os mesmos para todos indivíduos (sem considera o intercepto, que é específico de cada), tem-se um modelo de efeitos fixos. A escolha de uma especificação de efeitos fixos é mais apropriada quando a amostra é relativamente agregada e o objetivo do estudo não é a previsão do comportamento individual, bem como quando os efeitos individuais (não observáveis) não são independentes de alguma das variáveis explicativas. Com a estrutura de dados em painel, pode-se descartar toda variação populacional que é puramente ao longo do tempo e toda variação que é puramente entre estados. Dessa forma, considera-se apenas como a demografia e os homicídios variaram diferentemente em estados distintos. Com isso, a inclusão das dummies de ano permite controlar toda a heterogeneidade não observada entre estados e, com isso, melhor identificar o efeito da demografia nos homicídios. Após a coleta de dados, a discussão se baseará em painéis equilibrados, pois temos o mesmo número de observações disponíveis para cada estado. Assim, a equação a ser estimada será a apresentada a seguir: onde: = taxa de homicídios cometidos, por 100 mil habitantes 20 = renda per capita da população = quantidade de jovens sem saber ler e escrever = tamanho da coorte de 15-24 anos (mais propensa a cometer crimes) 4.2 COLETA DE DADOS Os dados utilizados são todos referentes ao período de 1990 a 2012 e foram obtidos de diversas fontes. Segue abaixo todas as varáveis que foram consideradas neste estudo. Homicídios: Representa a taxa de mortalidade específica por causas externas, ou seja, que não ocorreram por doenças e outras causas naturais. Esta é uma variável fornecida pelo Ministério da Saúde/SVS Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, segmentada por estado e faixa etária. Críticas à base de dados utilizada são validas na medida em que as taxas foram calculadas a partir dos óbitos informados ao SIM e, portanto, deve-se considerar as limitações de cobertura e qualidade da informação da causa de óbito. Porém, uma vantagem que esta base de dados apresenta para este estudo é que por ser padronizada por idade, não está sujeita a variações na composição etária da população, segmentada por área geográfica, o que tira o viés de outra causa para variações em taxas de homicídios cometidos: migração entre diferentes regiões do país. Outro problema com relação à mensuração das taxas de homicídio diz respeito à falta de informações sobre outras variáveis determinantes para determinar a tendência do numero de crimes cometidos, como por exemplo, efetivo policial, consumo de drogas ilícitas e de álcool e prevalência de armas de fogo. Estas possuem grande influência no comportamento dos jovens. População 15-24: Os dados populacionais são provenientes do IBGE, censos demográficos e projeções e estimativas, calculadas para ambos os sexos e separados por faixa etária. Como explicitado anteriormente, a coorte a ser estudada é a de jovens entre 15-24 anos, por estes serem os mais propensos a cometer crimes. Taxa de Analfabetismo: Calculada segmentada por coortes, proveniente do Ipeadata. Novamente, os dados utilizados serão referentes à população de 15-24 anos. Vale lembrar que esta não é apenas a taxa de analfabetismo funcional, é uma definição mais abrangente e uma proxy para medir o nível de escolaridade dos jovens nessa faixa etária. A justificativa para incluir esta variável é que jovens que não tem um nível educacional mínimo, dificilmente conseguirão um emprego no mercado formal de trabalho e estarão mais propensos a cometerem crimes. 21 Renda per Capita: Fornecida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Esta variável representa a média das rendas domiciliares per capita das pessoas residentes em cada estado e foi obtida somando os rendimentos mensais de todos os moradores do domicílio, em reais, dividida pelo número de moradores. 22 5 RESULTADOS 5.1 ESTIMAÇÃO Através do software Eviews, estimou-se a relação entre demografia e homicídios, aplicando-se o logaritmo em todas as variáveis, a não ser nas variáveis ano e estado, que foram as dummies utilizadas como variáveis de controle do estudo. A Tabela 2 mostra os resultados das equações estimadas: Porém, analisando os resultados tem-se um coeficiente aparentemente contra intuitivo: renda. O lógico seria pensar que quanto maior a renda dos jovens, menos homicídios ocorrerão, pela maior qualidade de vida dos jovens. O resultado parece controverso. Isso também pode ocorrer pois pode haver também um aumento na concentração de renda, ou seja, a renda per capita aumenta e a desigualdade também. Ainda, outra crítica que pode ser feita é sobre a própria aderência dos dados à coorte em questão. Nem todos os jovens de 15 a 24 23 anos trabalham (o que não quer dizer que estejam desempregados, pois alguns não fazem parte da população economicamente ativa), o que pode fazer com que a variável renda, apesar de significante, não ser a melhor variável econômica para o estudo em questão. 5.2 PREVISÃO O objetivo deste estudo é explicar o que ocorrerá com o número de crimes cometidos no futuro, baseado nos dados que temos de 1990 até 2010 e na transição demográfica única que o Brasil está passando, onde a população jovem começa a decrescer a taxas altas, fazendo com que em poucas décadas a população idosa seja maior do que a população economicamente ativa. Espera-se, portanto, provar que nos próximos anos o Brasil passará por um período de redução da criminalidade, dado que a suposição aqui feita é que os jovens a faixa etária de 15 a 24 anos é que estão mais propensos a cometer homicídios. Utilizando as projeções para a população brasileira feitas pelo IBGE até 2050, foi possível medir o impacto que a queda na população com idade mais propensa a cometer crimes possui sobre o nível de criminalidade. Vale ressaltar que como as previsões são feitas apenas para a população total. A previsão por estados e por faixa etária foi feita considerando o grau de urbanização, proporção histórica de jovens em cada estado e população total. Os resultados estão expostos a seguir: 24 Tanto para o Brasil como um todo quanto para o estado de São Paulo, a tendência de queda na taxa de homicídios está clara. De modo geral, quando foi realizada a previsão apenas para o estado de São Paulo, os resultados encontrados foram similares. Em 2009, há uma queda acentuada na taxa de homicídios, que ocorreu no Brasil como um todo. Esta trajetória de queda mostra-se ainda mais acentuada se analisarmos apenas o estado de São Paulo. Porém, conforme notícia apresentada a seguir, existem fortes indícios de que estes decréscimos não foram oriundos de transições demográficas e sim de políticas públicas realizadas pelo Governo do Estado de São Paulo, como por exemplo um maior controle no porte de armas. “A redução do índice de homicídios em São Paulo, apontado pelo Estudo Global de Homicídios 2011, surpreendeu o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). [...] Ao contrário da tendência apontada pelo estudo de que, quanto maior a cidade, maiores os riscos de ocorrência de crimes violentos, a cidade mais populosa do Brasil vem conseguindo diminuir o número de homicídios em relação à população. [...] "A diminuição dramática dos homicídios cometidos em São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, mostra que muito pode ser feito por meio de medidas preventivas e repressivas, focando fatores de risco específicos”, concluiu o estudo. O UNODC considera que “a experiência recente de São Paulo demonstra que há grandes possibilidades para a prevenção de crimes violentos e a redução no meio urbano”. Entre as medidas apontadas, o estudo cita “a adoção de novos métodos de policiamento” sem, no entanto, apresentar detalhes. Parte do sucesso da redução da 25 violência é creditado às políticas públicas. “Em 2003, uma legislação de controles mais rígidos sobre armas de fogo foi aprovada, em meio a campanhas de desarmamento. Em nível nacional, essas medidas, provavelmente, contribuíram para uma pequena queda das taxas de homicídios após 2004”, diz o relatório. Em algumas cidades, os homicídios tendem a ocorrer em maior intensidade nos bairros mais pobres. "O impacto da desigualdade social e da pobreza podem ter origem em alguns sinais físicos e sociais de degradação, como uso de drogas e prostituição”, indica o relatório. Esses fatores, acrescenta o documento, podem também resultar em aumento do risco de homicídios.” Fonte: Agência Brasil Tais medidas provavelmente foram suficientes para minimizar o impacto de um aumento na proporção de jovens na população que ocorria na época e, se outras regiões do país implementarem políticas públicas bem sucedidas, o resultado das mesmas pode ser alavancado pela próxima fase da transição demográfica brasileira. 26 6 CONCLUSÃO Analisando as pirâmides demográficas brasileiras, nota-se que o Brasil terá uma população crescendo a taxas cada vez menores, com aumento da proporção de pessoas idosas, maior inserção feminina no mercado de trabalho e menor proporção da população economicamente ativa. A sociedade brasileira pode se beneficiar do inédito bônus demográfico se as políticas públicas forem capazes de criar acesso universal à educação, à saúde e ao emprego. O Brasil está desprovido de escolas de qualidade. As escolas não possuem estrutura suficiente para assistir os jovens, assim como os servidores da educação pública estão sedo mal remunerados. As distorções persistem na estrutura social, a falta de condições de trabalho marcar as instituições, assim como o número de dependentes químicos também continuar aumentando. Com a proliferação dos efeitos de ais indicadores, os índices de criminalidade avançam, o Brasil vai tornando-se um dos países mais violentos do mundo. Diante desse contexto pessimista, os cidadãos transformam-se em reféns do crime. O crime é a resposta do indivíduo ao meio em que vive. E depende do cruzamento de vários fatores sociais, não somente a renda per capita e o analfabetismo, utilizados aqui para medir a pobreza. Espera-se, ceteris paribus, uma queda significativa nos crimes violentos cometidos em todo o país, uma vez que a faixa etária da população que está mais propensa a cometê-los está cada vez menor. Em seu artigo, MELLO e Schneider (2011) apontam que estimativas mais conservadoras mostram que as alterações na estrutura etária respondem por cerca de 50% da variação nos homicídios. A demografia afeta a criminalidade, mesmo que mecanicamente, mas não é a única responsável. Além dela, outros fatores como qualidade da segurança pública e do sistema judiciário, as oportunidades escolares e laborais dos jovens e outros indicadores sociais e econômicos também possuem grande influência. MELLO e Schneider (2011) também obtém um interessante resultado acerca do impacto das políticas públicas: apesar de ser difícil afetar a estrutura demográfica, ao menos no curto prazo, reações de política exageradas podem ser evitadas caso se tenha em conta que a demografia tem papel significativo na determinação das taxas de homicídio. Este resultado também foi apresentado por MELLO (2010), ressaltando ainda que os jovens tornaram-se a maior proporção da população brasileira entraram no mercado de trabalho em um período de altas taxas de desemprego, graças à liberalização do comércio e mudanças tecnológicas que diminuíram o número de trabalhadores não qualificados 27 necessários. Ainda, MELLO (2010) completa que demografia não é uma variável de escolha na sociedade, porém faixa etária é uma das poucas variáveis socioeconômicas que podem ser previstas com precisão. Deste modo, os formuladores de políticas públicas podem, então, antecipar as circunstâncias que tornariam os indivíduos mais propensos ao crime e investir em reduzir as mesmas. 28 REFERÊNCIAS ALVES, José E. Diniz. A transição demográfica e a janela de oportunidades. Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. 2008 ANTUNES, Antonio José Cerqueira. (Convênio PNUD/CEPAL/NAE). Infra-estrutura na América do Sul: situação atual, necessidades e complementaridades possíveis com o Brasil. 2007 DEPARTAMENTO de Assuntos Econômicos e Sociais. Economic consequences of population ageing. World Economic and Social Survey. 2007 DINIZ, Alexandre Magno Alves; Lacerda, Elisângela Gonçalves. Análise exploratória dos homicídios entre jovens de 15 a 24 anos na Região Metropolitana de Belo Horizonte e seu Colar, entre 1999 e 2006. Revista de Bibliografia e Ciências da Terra, v. 10, n.1, 1º semestre de 2010. JUNIOR, Ari Francisco de Araujo. 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