ANÁLISE DO EBITDA EBITDA quer dizer "earnings before interest, taxes, depreciation and amortization”, ou sejam lucro antes dos juros, dos impostos e da depreciação e amortização. Muito embora tradicional nos textos de finanças, ficou muito conhecido e é muito utilizado pelos profissionais da área financeira no Brasil, após o ano de 1999. Naquele ano ocorreu uma grande desvalorização do real, para ajustar a taxa de câmbio e, por conta disso, muitas empresas publicaram balanços com baixa lucratividade ou com prejuízo (as que não optaram por diferir a variação cambial). Com esta situação, os relatórios da administração dos balanços publicados deram destaque ao EBITDA, uma vez que esta linha da Demonstração de Resultados não considera os juros. Não obstante este, digamos, modismo, o EBITDA é uma ferramenta útil em análise financeira. Ele é obtido pela seguinte formulação: Receita Operacional Bruta (-) Impostos sobre Vendas Receita Operacional Líquida (-) Custos das Vendas Resultado Bruto (-) Despesas Comerciais (-) Despesas Administrativas (-) Outras Despesas Operacionais (+) Outras Receitas Operacionais Resultado da Atividade (+) Depreciação e Amortização (+) Variação das Despesas Provisionadas EBITDA No cálculo do EBITDA acima, incluímos a Variação das Despesas Provisionadas, muito embora em alguns textos de análise financeira este ajuste não é feito. Esta variação refere-se as contas do Passivo relativas às provisões feitas pela empresa (férias, décimo - terceiro salário, devedores duvidosos, contingências), as quais, no Brasil, são muito expressivas e afetam de forma relevante o cálculo do EBITDA. Em termos de análise, o EBITDA é muito útil, contudo, tem sido dada uma relevância exagerada ao mesmo. Em muitos casos ele é confundido com geração de caixa ou, ainda, é denominado de geração de valor. Na prática, o EBITDA quer dizer: se a empresa vendesse somente à vista, pagasse seus impostos e custos e despesas somente à vista e não mantivesse estoques, este valor – o EBITDA – iria para o caixa. Ou, ainda, como o EBITDA é um conceito de fluxo, este valor, também, iria para o caixa se, todas as contas que se encerram na Demonstração de Resultados, até a linha do EBITDA (Contas a Receber de Clientes, Estoques, Despesas Antecipadas, Fornecedores, Impostos Sobre Vendas a Recolher, Encargos Sociais a Recolher, Salários a Pagar, entre outras) permanecessem com o mesmo valor no início e no fim do período. Neste sentido, o EBITDA pode ser considerado, no máximo, um potencial de geração de caixa. Assim, é preciso ter muita cautela ao analisar o EBITDA. Por exemplo, vamos supor uma empresa que iniciou suas atividades no ano de 19x0 e, durante o este ano e o ano de 19x1 apresentou os seguintes resultados (em R$): Apuração do EBITDA 19x0 19x1 Receita Operacional Bruta 10.000 11.000 (-) Impostos sobre Vendas 1.500 1.650 Receita Operacional Líquida 8.500 9.350 (-) Custos das Vendas 4.000 4.000 Resultado Bruto 4.500 5.350 (-) Despesas Comerciais 1.000 1.000 (-) Despesas Administrativas 3.000 3.000 Resultado da Atividade 500 1.350 (+) Depreciação e Amortização 250 250 EBITDA 750 1.600 Supondo ainda que, em 19x0 todas as operações foram realizadas à vista, sem a manutenção de estoques e que, em 19x1 a única modificação nestas condições foi a realização de vendas a prazo, sem alteração de volume, restando contas a receber no valor de R$ 1.000, nós podemos dizer que a empresa apresentou um desempenho melhor ? Um dos métodos mais utilizados de análise do EBITDA é a sua comparação com as vendas. No Brasil, infelizmente, insiste-se em comparar com as Vendas Líquidas, esquecendo-se que os impostos indiretos (IPI, ICMS, COFINS, PIS, etc...) fazem parte da realidade de gestão da empresa brasileira. Assim, recomenda-se que a análise seja feita com a Receita Bruta, excluindo-se somente as devoluções a abatimentos concedidos: Análise do EBITDA POTENCIAL DE GERAÇÃO DE CAIXA = ( EBITDA / RECEITA BRUTA ) Nota: resultado em percentual, com uma casa decimal A Revista Valor 1000, publicada pelo jornal Valor Econômico, calcula o EBITDA para as 1000 maiores empresas brasileiras que disponibilizam Demonstrações Contábeis e o compara com as Vendas Líquidas. A seguir são apresentados tais resultados relativos ao ano de 2002: SETOR Ebitda/Vendas Líquidas Média Setorial (%) Agricultura 5,0 água e saneamento 34,1 Alimentos 11,2 Bebidas e fumo 26,3 Comércio atacadista 2,7 Comércio exterior 5,9 Comércio varejista 5,4 Construção civil 6,8 Eletroeletrônica 1,0 Energia elétrica 22,2 Farmacêutica 9,7 Material de construção/decoração 35,5 Mecânica 16,0 Metalurgia 24,9 Mineração 37,9 Papel e celulose 33,5 Plásticos e borracha 14,1 Química e petroquímica 21,6 Serviços especializados 12,6 Serviços médicos 0,9 Siderurgia 32,7 Tecnologia da informação 8,4 Telecomunicações 39,1 Têxtil, couro e vestuário 15,8 Transportes e logística 16,8 Veículos e Peças 13,7 Fonte: Revista Valor 1000 – edição 2003