Autora: Carina Prata e Co- autoras: Mariana Lopes e Rebeca Diniz

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Autora: Carina Prata e Co- autoras: Mariana Lopes e Rebeca Diniz
Universidade Federal de Juiz de Fora, [email protected]
ECONOMIA E TERRITORIALIDADE DO ESTADO MODERNO 1930-1985
INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA
“Estado e território, dois conceitos profundamente entrelaçados no
mundo moderno, em que o Estado é de imediato definido como um
Estado dotado de um território.”
(Território e história no Brasil – MORAES, Antônio Carlos )
Na citação acima Antônio Moraes afirma a ligação direta do Estado moderno com o
território, a partir desta afirmativa começamos um estudo que aborda, sob a ótica da história
econômica, o processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, destacando o papel do
Estado na articulação da economia e da sociedade interferindo assim na territorialidade do
Estado. Para tal estudo utilizamos a divisão do período histórico analisado como a doutora Sônia
Regina de Mendonça utiliza em seu livro “Estado e economia no Brasil: opções de
desenvolvimento”. Este estudo está dividido em três momentos, por apresentarem alterações
qualitativas na relação Estado- economia. Tais alterações foram capazes de reorientar os rumos
da territorialidade brasileira em direção a como a mesma se apresenta hoje. Essas três fases
diferentes são: 1930, 1955 e pós 1964. Esta análise não se limita estritamente aos preceitos
econômicos e territoriais, entendendo também importância dos projetos ideológicos, tal como o
das redefinições dos grupos políticos, das alterações sociais e das relações Estado e sociedade.
Com este estudo visamos elucidar a formação das contradições atuais existentes na
sociedade brasileira, e explicar que tais contradições se fazem presentes por uma construção
política de um Estado brasileiro territorial e não nacional, um Estado que pensa (juntamente a
uma pequena elite) o Brasil como uma grande parte que lhe cabe de um continente, mas não na
sociedade que se encontra dentro deste espaço. Assim se formou uma das sociedades com
maiores concentrações de terras e de renda, em que a grande maioria das manifestações
populares são repreendidas entendendo então as contradições impostas pelo sistema vigente e
falsamente de caráter natural do Brasil.
PERÍODO DE 1930-1955 NO BRASIL
Foi a partir de 1930, que se produziu a primeira ruptura no que diz respeito ao avanço da
acumulação capitalista no país, pois é nesta época que ocorre a implantação de um núcleo
básico de indústrias de bens de produção, o Estado visa tornar o pólo urbano- industrial o eixo
dinâmico da economia, que até 1930 era agrário- exportador e começa uma maior preocupação
do Estado para a construção política de um domínio territorial efetivo. Os condicionantes dessa
alteração estão relacionados à conjuntura internacional, como a crise de 29. Mas também,
principalmente, atrelados no momento social e político, que pode ser definido como de séria crise
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de hegemonia do grupo cafeeiro paulista. A desvalorização no exterior, esgotaram-se as
possibilidades de preservação do modelo agrário-exportador baseado no café, após consecutivas
tentativas de valorização do produto que socializam seus custos por toda a sociedade brasileira,
favorecendo um só grupo em detrimento dos demais, criando assim uma conjuntura favorável ao
conjunto das forças sociais que questionavam a hegemonia paulista. O golpe de 1930
desarticulou a tradicional oligarquia do centro do poder, mas ao mesmo tempo os demais setores
nele envolvidos não tinham força para legitimar o novo Estado. Neste contexto, devemos situar o
ator social beneficiado com as transformações em curso: o empresariado industrial. Era um
período em que o Estado se encontrava forte e proporcionava mudanças, e a burguesia industrial
ainda “imatura” estava muito desarticulada. Porém, mesmo desarticulada definiu três frentes
básicas para a atuação desta classe: a luta pela participação efetiva no aparelho do Estado; a
construção de um discurso próprio que revelaria a afirmação do desenvolvimento industrial como
a única saída para superar a fragilidade econômica nacional, que era até então baseada na
agroexportação, e a elaboração preliminar de um verdadeiro programa industrialista. Estas três
frentes nos remetem a quatro pontos principais: 1) a superação da fragilidade econômica via
indústria; 2) a condenação da exportação de bens primários como sustentáculo da economia
nacional; 3) o estabelecimento da íntima ligação entre grandeza nacional e industrialização; e 4)
a convocação do Estado para a tarefa da implantação da indústria. Redefinindo então as
relações de poder, porém não ocorreu nenhuma transformação intempestiva na estrutura, daí é
demonstrado o caráter conservador do novo Estado. Houve mudanças, mas não rupturas.
Embora esta industrialização viesse comprometida com os setores agrários exportadores, e as
ações do Estado não tivessem uma orientação clara, esta idéia pouco a pouco foi ganhando
grande espaço no governo pós 30. Tratava-se de introduzir um modelo capaz de acumular,
qualitativa e quantitativamente, que se baseasse numa realização interna crescente da produção.
E para reorientar este modo de acumulação em direção ao fortalecimento do pólo urbano
industrial como espaço dinâmico da economia brasileira, em meio a conjuntura internacional
recessiva, o Estado se orientou em ações para três direções: 1) para a regulamentação dos
fatores produtivos para estabelecer os “preços sociais”; 2) para a redefinição do próprio papel
da agricultura; e 3) para sua transformação em investidor nos empreendimentos produtivos de
infra-estrutura. Uma vez que a agroexportação “financiava” a criação do novo parque industrial,
o Estado tinha que amparar as oligarquias e ao mesmo tempo desestimulá-las quanto a
permanecerem como base mais importante da economia. Para tal efeito o Estado procurou
manipular as taxas de câmbio como fonte geradora de recurso, transferindo os recursos da
agricultura para a indústria. Nesta época também foi criado uma política que até os dias atuais é
muito praticada, que é a concessão de financiamento a longo prazo e a taxas de juros mais
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baixas, e às vezes negativas, do que as estipuladas para o setor agrícola. Além desta atuação
sobre controle do setor agrário exportador, o Estado ainda interferiu na produção de gêneros
alimentícios para abastecer o mercado interno, facilitando a expansão das fronteiras agrícolas
continente à dentro, como por exemplo, a “Marcha para Oeste”, que teve como intuito promover
a ocupação dos vazios demográficos por meio de absorção dos excedentes populacionais que
faziam pressão no Centro-Sul do país e propiciar baixos preços ao gênero alimentício. Esta
Baixa, além de baratearem a força de trabalho do pequeno produtor rural, rebaixava também a
folha de salário dos empresários industriais, mas também prevaleceu a estrutura agrária já
vigente. Sobretudo, a “pedra de toque” do modelo estabelecido foi à legislação sindical e
trabalhista ao longo do período. Isso porque ao substituir o mercado como formador do preço da
força de trabalho, o Estado evitava a possibilidade de um confronto direto entre capital e
trabalho, e também que ao fixar este salário mínimo em níveis realmente biológicos, a legislação
estaria propiciando o menor gasto possível dos empresários com a folha de pagamento dos
empregados. Podemos concluir que o governo visando acelerar uma acumulação privada,
particularmente pelo incentivo às indústrias, pelo rebaixamento dos salários e pelo controle
social, interveio em inúmeras áreas. Como se pode perceber o Estado não se caracterizava
como era, inexistia a feição monolítica imputada nas políticas financeiras e monetárias do pós 30,
para tal camuflagem surge a importância da ideologia do Estado, legitimando o “projeto nação” e
neutralizando as tensões latentes. Em 1934 foi criada a primeira constituição liberal e
modernizante do Brasil, que modernizou o aparelho estatal criando vários ministérios, além de
estatizar algumas empresas e a propriedade da União sobre o subsolo do território nacional. O
Estado por causa de sua “opção” política de valorização do caráter nacionalista, de pouco
investimento estrangeiro, na tentativa de implementar um sistema capitalista nacional autônomo.
Era um regime imposto, autoritário e centralizado. O nacionalismo passou a integrar os discursos
governamentais e justificar suas ações, sendo camuflado por um “projeto” cuja função seria
mobilizar cada vez mais amplos setores sociais a fim de engajá-los na tarefa de solucionar os
problemas da sociedade como um todo. Em contrapartida, era legitimado, também, nesta época,
a identidade estabelecida por de alguns setores da economia, entre a solução de seus problemas
e a dos problemas nacionais. Isso se caracterizava como o interesse de classe, onde cada qual
que participasse do pacto de “compromisso”; imprimia o conceito de nação, nacional e
nacionalismo; com a sua marca (interesse), deste embate surgiu à polarização entre duas
principais correntes de pensamento: a linha totalitária dos burocratas e ideólogos do Estado Novo
e a vertente autoritária dos interesses da burguesia industrial. Apesar de divergentes em alguns
aspectos, essas correntes de pensamento compartilhavam de um ponto em comum: que a
construção da nação passaria pelo controle do Estado sobre a classe trabalhadora. Dentro de
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todo esse contexto, no período de 30 a 55, foram implementadas questões envolvendo os
problemas regionais do país, problemas que culminaram desde o Império tentativas de
solucioná-los, através de comissões criadas pelo poder vigente de cada época, como por
exemplo, a “Comissão de Açudes” criada em 1881, em uma tentativa de solucionar a seca. No
período que estamos analisando não foi diferente, por exemplo, em 1942 a SDB amazônica foi
transformada no Banco de Crédito da Borracha (BCB) com o intuito de incentivar o
reaquecimento da atividade extrativista do látex na amazônia, sua sede foi a cidade de Belém do
Pará. Este BCB é transformado no Banco de Crédito da Amazônia em 1950. Para o problema
da seca, que já havia sido criado além da “Comissão de Açudes”, uma “Superintendência de
Estudos e Obras Contra a Secas” (1906) e a “Inspetoria Federal de Obras Contra a Secas”
(1909) é criado em 1946 uma frente especial para o “combate permanente a seca” que existe
até hoje, o DNOCS ( Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que hoje se constitui
hoje na mais antiga instituição federal com atuação no Nordeste. Outra medida governamental
foi à destinada a promover o desenvolvimento do Vale do São Francisco, visando aproveitar o
potencial hidrográfico e hidroelétrico do rio, para isso foi criada a CHESE (1945), e mais tarde a
CVSF (1948), Comissão do Vale do São Francisco. Em 1946 foi elaborada a constituição de
1946 no processo de democratização do país. Esta constituição inclui pela primeira vez
dispositivos que conferem um estatuto
político-institucional de cunho nacional às medidas
criadas para a solução dos problemas regionais. Através deste dispositivo foi instituído o “Fundo
de Valorização Econômica da Amazônia”, o “Fundo das secas” e o “Fundo de Valorização do
Vale do São Francisco”.
Todas essas políticas têm como objetivo além de resolver os
problemas já conhecidos, também o da necessidade de povoar, ocupar e valorizar
economicamente tratava de “integrá-las”. Também foi criada em 1953 a SPVEA,
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, juntamente com o
Decreto-lei da chamada Amazônia Legal, que se constituía em uma área de intervenção para
políticas econômico-regionais.
PERÍODO DE 1955-1964 NO BRASIL
As transformações por que passou a economia brasileira na gestão do JK foram tão
rápidas que se tornaram obrigatórias para o entendimento da própria situação econômica atual
do país. Até meados dos anos cinqüenta, o capital privado nacional beneficiara-se de inúmeros
incentivos públicos, como fornecimento- a baixos preços- dos insumos e serviços produzidos
pelas estatais, ou ainda por uma política cambial, agregada a compressão de salários, lhe
assegurando um mercado nacional cativo e uma grande concentração de renda. Gerando assim,
o processo de concentração de capitais e empresas, os altos índices de crescimento do pólo
urbano-industrial e conseqüentemente o grande contingente populacional que foi atraído do
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campo para a cidade, ampliando a massa total de poder aquisitivo, que permitiram as alterações
do modelo econômico.A partir de 55, com o governo Kubitschek, operou-se nesse sentido uma
ruptura quase que total com a orientação dos governos anteriores. Foi redefinido o novo setor
industrial a ser beneficiado, seria agora o setor produtivo de bens de consumo duráveis
(Departamento III) se contrapondo com o incentivo do setor de bens de consumo
(Departamento I) e também houve um estabelecimento de novas estratégias para o
financiamento da industrialização brasileira. E para obter os recursos internos necessários ao
financiamento da industrialização, o Estado optou pela saída mais dolorosa para a população, a
inflação. Diante desta saída desfavorável ao “pacto populista”, como a inflação, o governo JK
utilizou a ideologia da “grandeza nacional”, para envolver os trabalhadores no projeto
nacional-desenvolvimentista, tão bem simbolizado pelo lema “cinqüenta anos em cinco”. Além
desta tática, com o crescimento acelerado da indústria, cresceu também, sensivelmente, o
número de empregos acalmando a classe trabalhadora dos efeitos negativos da inflação. Neste
momento se consolida a formação do “tripé” da industrialização brasileira: o capital privado
nacional (empresas de bens de consumo), o capital estrangeiro (setor de bens duráveis), e o
capital estatal (alocado no setor de bens de produção). O cenário de instalação do capital
estrangeiro no país, não prejudicou os interesses do capital nacional. “Voltado preferencialmente
para os setores de ponta da estrutura industrial, nem por isso deixou de afetar todo o conjunto
produtivo do país, desde os setores básicos, passando por transportes e energia, até a estrutura
territorial como um todo.”, diz Wanderley Costa. Sua política foi definida no chamado Programa
de Metas. Ela abrangia 31 objetivos, onde os setores da energia, transportes, alimentação e
indústrias de base foram os principais. Mas a principal meta foi à construção de Brasília, a
chamada “meta-síntese”. A nova capital significava a grande realização, símbolo de todas as
realizações. Sob ela gravitavam a indústria automobilística e o transporte rodoviário enquanto
eixos do desenvolvimento nacional. Assim a população vivia em um sonho de modernização,
logo um sonho norte-americano, de um novo way of life.A nova capital representou também
uma ligação viária de todo país, através de estradas partindo de Brasília para diversos pontos do
Brasil. Os objetivos do governo JK podem ser resumidos em dois níveis, um a curto prazo, que
aceleraria o processo de acumulação capitalista; e um a médio prazo, que atingiria a elevação do
nível de vida da população, superando a miséria pela abertura de empregos e pelo
estabelecimento de uma nova forma de viver. Nesse sentido, sua política criou a
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com o objetivo de encontrar
soluções que permitissem a progressiva diminuição das desigualdades verificadas entre as
regiões geoeconômicas do Brasil. Por mais nocivo que possa ter sido o resultado do Plano de
Metas, este obteve êxito do ponto de vista quantitativo. Jango assume a presidência do Brasil em
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um momento conturbado, pois a malgrado, o sucesso de todas as metas priorizadas pelo plano,
as transformações no pós 55 foram responsáveis pela germinação de algumas das contradições
em que se debate nossa economia até hoje. Em primeiro lugar, situa-se um favorecimento de um
processo brutal de concentração do capital e das empresas; posteriormente podemos verificar, a
dramática situação da dívida interna e da inflação. Por isso, em 62, o país vivia uma crise
econômica sem precedentes, a qual levaria por efeito de encadeamento, à convulsão política e
social verificada no pré-golpe. A burguesia industrial já se destacava das demais classes sociais,
e a aliança do Estado com as massas se rompia, pois a crise econômica inviabilizava o
atendimento às demandas populares, afetadas diretamente pela inflação e pela quebra do ritmo
econômico, as classes trabalhadoras dariam início a intensos movimentos políticos, recusando-se
a arcar com o ônus que lhes sobravam do modelo nacional-desenvolvimentista. Por causa da
crise, o capital estrangeiro passa a evitar o mercado brasileiro, temendo a desestabilização
política do regime, complicando ainda mais a situação, a agricultura teve queda de preços no
exterior, e aumento dos preços da mesma no interior do país, causando um déficit na balança
comercial. Em 63, é restaurada a figura presidencial no Brasil, na plenitude de seus poderes,
Jango, lança o Plano Trienal, um conjunto de medidas que deveriam solucionar os problemas
estruturais do país. Entre as medidas, previa-se o controle do déficit público e, ao mesmo tempo,
a manutenção da política desenvolvimentista com captação de recursos externos para a
realização das chamadas reformas de base. Os congressistas não apoiaram o conjunto de
medidas, o que fez o Plano Trienal não dar certo. Logo, o golpe de 1964, veio a conclamar esta
nova definição de pacto pelo poder no país, segundo Sônia Mendonça (1986) “... originou-se
numa primorosa composição entre dois segmentos básicos- os militares e o empresariado
industrial...”, além dos dois setores citados pela autora, considero de extrema importância a
participação dos detentores da mídia neste pacto, e na consolidação do pacto.
PÓS-64 NO BRASIL
Comentário de Celso Furtado sobre o milagre econômico ”Em síntese, nesse período,
não obstante um considerável aumento do produto interno, não se assinala, na economia
brasileira, nenhum ganho de autonomia na capacidade de auto-transformação, nem
tampouco
qualquer
reforço
da
aptidão
da
sociedade
para
auto-financiar
o
desenvolvimento". Em março de 1964 veio o golpe militar. As políticas territoriais sofreram
algumas mudanças, apesar de não muito significativas, pois mantêm o processo de modernização
e centralização do Estado. Ainda em 64 é criado o primeiro plano de desenvolvimento, o
Programa Ação Econômica do Governo (PAEG), de 1964 a 1966. O plano posterior foi
chamado de Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social, de 1967 a 1976. Ambos
não chegaram a serem implementados, porém se configuram importantes quanto a uma nova
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perspectiva para as políticas territoriais, apoiadas na utilização, convertida para o caso brasileiro,
da “Teoria dos Pólos de Desenvolvimento” do francês François Perroux. Do ponto de vista
econômico, o golpe de 64 não veio a representar nenhum marco na redefinição do padrão de
acumulação brasileira. Ele sobreveio com o objetivo tácito de garantir a consolidação definitiva
do “modelo” implantado em meados da década de 50, sofisticando-o e aprofundando-o. Portanto
de 1962 a 1967 foi um período de crise econômica, sendo que, a partir de 64 começou a se
praticar a recessão calculada. Seu resultado seria conhecido como o milagre econômico
(1968-1974), que se consistiu no arrocho salarial para o financiamento interno da acumulação.
De acordo com Sonia Mendonça (1986), “... as vias típicas de superação das crises capitalistas
são a intensificação da exploração do trabalho e a própria concentração de empresas e capital.”.
Com o arrocho do salário, com a grande oferta de mão de obra e com a elevação brutal da
produtividade física do trabalho; essas medidas se configuraram na fórmula ideal para aumentar
os lucros numa conjuntura recessiva. Mas o reverso foi à deterioração da qualidade de vida.
O próximo plano do governo em relação as políticas territoriais viria a ser o Programa
Estratégico de Governo, de 1968 a 1970, que mantém as diretrizes do Plano Decenal. Mais uma
vez na história do Brasil, entra em cena a política integralista, desta vez com o lema de “integrar
para não entregar”, e mais uma vez com políticas regionais. Já na década de 70 é criado o I
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, de 1972 a 1974, que no que
vale a política regional seguiu o PIN- Programa de Integração Nacional- na direção Centro-sul,
Centro-oeste, Amazônia e Nordeste, além de estratégias de desenvolvimento regional baseada
nos “pólos de desenvolvimento”. Com a crise do petróleo, entre 73-74, vêm à tona as
contradições deste novo modelo econômico. Isso restringiu as disponibilidades de eurodólares,
sua repercussão imediata foi o encarecimento das importações. A acumulação brasileira foi
atingida em cheio por essa mudança de conjuntura. Entrando em uma crise pior do que a que
antecedeu o golpe, e com um jogo de forças econômicas e sociais que não facilitava uma saída
para a situação. Em 1974, a classe trabalhadora já dava os maiores sinais de seu esgotamento:
epidemias, mortalidade infantil e novas mobilizações políticas. Por essas e outras, esta classe
começou a se mobilizar e se organizar em sindicatos, tendo como exemplo o sindicato dos
metalúrgicos do ABC paulista. Em meio essa conjuntura, muito desfavorável, foi lançado no
início da gestão Geisel, o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), tinha como objetivo
promover a substituição da acumulação do setor de bens de consumo duráveis, para o setor de
bens de produção. Além disso, representava uma medida desesperada de tentativa de manter a
fachada do milagre econômico, mostrando o quanto a ditadura dependia da economia para se
legitimar. Para o período 1975/79 foram adotadas várias medidas para promover o
desenvolvimento do País e dentre elas foi criado o Programa Nacional do Álcool, Proálcool,
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também programas como PLOAMAZÔNICA, POLO-CENTRO, atividades da SUDAM
(Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e do BASA (Banco da Amazônia S/A).
Mas apesar da vontade, o II PND já em 1976 estava morto, por ter esbarrado em alguns
grandes obstáculos no caminho. Um deles foi à própria correlação de força com os empresários
industriais do Departamento III, outro foi a falta de controle do Estado sobre a economia (devido
a grande abertura econômica), e por fim, um erro geográfico, de querer beneficiar regiões
diferentes das regiões de grande pólo industrial, o que aconteceu foi uma grande resistência do
Sudeste.O saldo após o término do II PND foi o de inevitável fracasso da tentativa de alterar
todo o padrão de acumulação, preservando o milagre, e o grande erro político de tentar mudar
sem estar apoiado pelos setores de maior peso da economia e da política. Em meio a interesses
tão poderosos como divergentes manteve a tônica contencionista pelo menos até 1980. A
recessão foi prolongada, alimentada por uma política econômica “cruel” que, sem deixar de
expandir os meios de pagamento, oscilava entre dois expedientes, ora controlando os preços, ora
controlando os gastos públicos. A situação ficou realmente irreversível, quando os setores
médios, que no início apoiaram o golpe, se juntaram ao surto grevista. Assim o Brasil entrou na
década de 80, vivendo uma decomposição da parceria de dominação e um impasse político: de
um lado, ainda tímidos, setores burgueses dão os primeiros passos liberais, e de outro as forças
populares aproveitaram para se constituírem como oposição ao regime. Num primeiro momento,
a legitimidade foi sustentada na preservação das instituições herdadas do regime anterior,
embora não cumprisse com seu objetivo, e desempenhasse papel puramente ritualístico. A partir
de 69, o Estado tramou outra forma de se legitimar, procurando estabelecer uma ligação direta
com a opinião pública, criando novos veículos de comunicação, e realizando projetos de impacto
e obras faraônicas, como a Transamazônica, o Plano de Integração Social, Ponte Rio- Niterói e
o Proterra. Quanto mais grau de eficácia dos resultados imediatos, maior é a legitimidade do
regime, e a vigência do milagre econômico deu suporte a este processo.
CONCLUSÃO
Se faz importante recuperar a história da formação do território brasileiro em um resgate
dos processos que levaram à configuração atual das áreas de dominação estatal, processo este
cumulativo mas nem sempre contínuo, que apresenta vários agentes. Como diria Milton Santos;
“O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um
conjunto de coisas criadas pelo homem.” Territórios existem e são construídos e modificados,
tido como um espaço definido e delimitado por relações de poder. Mas ele não se reduz a
apenas esta simplista e conclusionista definição, que empobrece o arsenal conceitual da
geografia. Pois um território, nos remete a sua territorialidade, que esta última se configurou no
nosso principal propósito, um panorama histórico-econômico do Estado moderno brasileiro de
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1930 à 1985. Mostramos que No Brasil desde o início da “desconfiguração” espacial do “país
unicamente agrário”, que há uma rede de políticas estatais, redefinições de posições sociais,
tentativas de integração nacional, e um dos principais agentes é a economia, o dinheiro. Este
último, também segundo Milton Santos é “uma invenção da vida de relações e aparece como
decorrência de uma atividade econômica para cujo intercâmbio o simples escambo já não
basta.”. A partir desta citação e de toda pesquisa feita concluo que até a territorialidade gira
sob a base econômica, claro que com outros agentes importantes, mas essencialmente este. O
intuito deste trabalho foi elucidar a grande especificidade do capitalismo brasileiro: a profunda
intervenção estatal na sua constituição e as políticas regionais que configuram e transfiguram a
territorialidade do Brasil. Estas políticas regionais vêm desde muito tempo na história do nosso
país sendo trabalhada, conseguimos ocupar e povoar vários lugares, mas as grandes maiorias
destas políticas não alcançaram o objetivo final. A seca e a cerca ainda são problemas enormes
no Nordeste, Norte ainda não é muito desenvolvido e nem totalmente protegido o nosso
patrimônio natural. Apresentamos que as mudanças e as políticas não acontecem sozinhas, a
todo um processo ideológico, pressões sociais, classes dominantes e conjunturas nacionais e
internacionais, que delimitam os caminhos que uma nação percorre ou irá percorrer. Faz-se
necessário observar também o ludibriamento do povo, que é a classe que não faz parte do pacto
do poder vigente, o quanto são enganados.
ESTÁGIO ATUAL DA PESQUISA: concluída, porém extensa.
BIBLIOGRAFIA
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CASTRO, Iná E. de; GOMES, Paulo C.da C.; CORRÊA, Roberto L. –
Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.
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MENDONÇA, Sonia R. – Estado e economia no Brasil: opção de
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MORAIS, Antonio C. R. – Território e história no Brasil.São Paulo, Annablume,
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SANTOS, Milton – Por uma outra globalização do pensamento único à
consciência universal. Rio de Janeiro, Editora Record, 2008.

SANTOS, Milton – Metamorfoses do Espaço habitado. São Paulo, editora da
Universidade de São Paulo, 2008
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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