O Brasil fica mais pobre sem Celso Furtado Foto: Arquivo/Academia Brasileira de Letras O Brasil fica mais pobre com a morte de Celso Furtado, ocorrida no último dia 20 de novembro, no Rio de Janeiro. Segundo suas próprias palavras, aos 26 anos, quando começou a estudar Economia de maneira sistemática, sua visão de mundo já estava definida. “Assim, diz ele, a Economia não chegaria a ser mais que um instrumental que me permitia, com maior eficácia, tratar problemas que vinham da observação da História ou da vida dos homens em Sociedade”. Mais do que qualquer outro, dentre seus pares, Celso Furtado amou seu próximo como a si mesmo, sempre preocupado com os graves problemas sociais brasileiros. Furtado não deixa apenas saudade. Seu legado é imensurável. Sua obra, seus livros, seu exemplo de vida e a legião de economistas que formou, geração após geração, são a prova inconteste de que seu nome figura entre os grandes economistas do mundo. Pág. 6 O lançamento da Frente Parlamentar das Profissões Regulamentadas fortalece a imagem do Conselhão e reforça a idéia de que o profissional registrado é melhor para o Brasil. Pág. 3 anúncio do ministro não surpreendeu a oposição. Os conselheiros Luiz Machado, João Paulo Magalhães e Marco Aurélio, do COFECON, avaliam a fala do ministro e as conseqüências do aumento. Pág. 9 Foto: Bueno Frente Parlamentar Palocci admite que Prestação de Contas das Profissões brasileiro pagou mais No Editorial desta edição do COFECON o presidente Humberto Regulamentadas é impostos em 2004 NOTÍCIAS Tannús Júnior faz um balanço de sua gestão frente ao Conselho Federal de oficialmente lançada Economia. Pág. 2 Demorou mas o ministro da Fazenda, na Câmara dos Antônio Palocci, finalmente admitiu ter havido Deputados aumento da carga tributária em 2004. O Entrevista O especialista em Finanças Públicas, Raul Velloso, nosso entrevistado, fala de Risco Brasil, Dívida Pública e de Inflação nesta edição. Pág. 10 Senado Aprova Medida Provisória 203 apenas 4 dias após o lançamento da Frente Parlamentar das Profissões Regulamentadas e permite aos Conselhos Federais a normatização dos valores de diárias e jetons e também de cobrança das anuidades. Pág. 9 Humberto Tannús Júnior www.cofecon.org.br 1 Editorial É hora de avaliação. Ao findar mais um ano, encerrando mais uma gestão, o Conselho Federal de Economia faz um balanço de suas conquistas e das dificuldades enfrentadas e superadas. Entendemos ser preciso, mais que nunca, estar preparados para enfrentar os desafios que a profissão de economista, em um mundo globalizado, irá encontrar neste novo milênio. E que ninguém duvide: muitos são os desafios que cercam os dirigentes do Sistema COFECON/ CORECONS. Manter unida a categoria e estar apto tanto a detectar seus anseios quanto a conduzir suas demandas talvez sejam os objetivos mais desafiantes que o presidente do COFECON tenha a enfrentar. Neste sentido, podemos afirmar, com absoluta certeza, que a conquista de eleições diretas para presidente e vice dos Regionais, já a partir de 2005, foi um significativo avanço da categoria. Reunidos no XX Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE), democraticamente, os economistas fizeram valer a vontade da maioria. Outra conquista significativa desta gestão foi a vigilante luta pela garantia e ampliação do mercado de trabalho, colocando o economista como protagonista em algumas das principais atribuições da sociedade e, assim, garantindo ao país a realização de serviços fundamentais por profissionais efetivamente formados e qualificados. Este é o caso da Nova Lei de Falências. O COFECON teve papel decisivo no tocante à modificação do texto da referida lei, que a princípio excluía os economistas do rol de profissionais autorizados a elaborar tanto laudos técnicos quanto periciais. Acompanhamos de perto, no Congresso Nacional, sem jamais descuidar dos interesses da categoria, toda a tramitação. Conquista que a sociedade deve comemorar, pois estamos defendendo não apenas o mercado de trabalho para profissionais habilitados, mas também, e principalmente, que serviços técnicos sejam executados por indivíduos com formação apropriada. Do mesmo modo, conquistamos em 2004 a inclusão do economista entre os profissionais da Carreira de Perito Criminal da Polícia Federal. Esta foi outra longa batalha travada por nosso Conselho, iniciada no começo da década,e que contou com o fundamental apoio da FENECON e de outros setores organizados da sociedade. Mais uma vez, o ganho não foi apenas de nossos colegas de profissão, mas também do país. Queremos mais. Graças a intervenção do COFECON junto ao Ministério da Educação - no Conselho Nacional de Educação (CNE) - conseguimos fazer com que o parecer anteriormente aprovado pelo CNE não fosse homologado. Buscamos um final feliz para o episódio das Diretrizes Curriculares, que garanta a formação sólida para os futuros profissionais de economia. Questões relevantes, a exemplo do trabalho de conclusão de curso e da distribuição da 2 www.cofecon.org.br carga horária total entre o chamado “ núcleo duro” ainda estão pendentes. Em nossas Sessões Plenárias, a exemplo do que ocorreu em outubro último, no Rio de Janeiro, e agora em novembro, em São Paulo, a Plenária reunida tem debatido exaustivamente o tema e buscado equacionar, da melhor maneira possível, esta questão. O COFECON teve participação decisiva quando da aprovação do Projeto de Lei 7.166/02, na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, em maio último, propondo alterações importantes na legislação que trata do exercício profissional do economista, principalmente nos aspectos de definição de suas áreas privativas. De autoria da deputada Yeda Crusius o Projeto atualiza a Lei 1.411/51 e em breve deverá ser votado pela Comissão de Constituição e Justiça. Promovemos, internamente, uma verdadeira revolução nos procedimentos de controle de documentos e processos. Criamos o Sistema de Informações Gerencias (SIG) e estabelecemos rotinas de modo a agilizar a análise de processos. Também modificamos o sistema de compras, com a institucionalização dos pregões. São alterações que buscam uma gestão voltada para resultados, com eficiência e eficácia. Foi possível renovar parte do patrimônio de informática do COFECON, tanto no que se refere a software como hardware. Esta renovação faz parte de um projeto de interligação de todo o sistema, inclusive com a criação de um cadastro nacional único dos economistas. Merece destaque especial a implementação das auditorias preventivas realizadas pelo COFECON junto aos Conselhos Regionais, cujo resultado temse mostrado mais que satisfatório, uma vez que auxilia a gestão do recurso público arrecadado pelos Conselhos com o objetivo de fiscalizar a profissão de Economista. O desempenho financeiro do Sistema também é motivo de orgulho, com o aumento real da arrecadação bem como aumento do saldo financeiro de um ano para o outro, o que permitirá um melhor desenvolvimento das atribuições de cada Conselho Regional. No âmbito do Sistema, o inquestionável sucesso dos eventos promovidos pelo COFECON comprova que o investimento valeu à pena. Em agosto, estivemos em Goiânia participando do Seminário CentroOeste: O Novo Eixo do Desenvolvimento Brasileiro. Na ocasião, economistas altamente gabaritados abordaram temas da atualidade, de interesse nacional, a exemplo da recriação da Superintendência do Desenvolvimento Sustentável do CentroOeste (SUDECO). Também promovemos o SINCE, cujas decisões estarão norteando as ações do sistema. Digno de nota o fato de que, em sua grande maioria, já foram implementadas ou estão em fase final de execução. Isto é fato. Estivemos presentes no encontro da ONU, onde debatemos experiências internacionais de desenvolvimento e emprego. Destacamos ainda nosso direto envolvimento com a discussão da Dívida Pública e Pobreza no Brasil, que ocorrerá em seminário com a presença de economistas, políticos e da sociedade em geral. Em 2005, nos faremos representar no Fórum Mundial; evento que terá lugar em Porto Alegre, discutindo os cenários para o desenvolvimento com igualdade e sustentabilidade. Essa relação com a sociedade e com os economistas nos levou a reformular, de forma profunda, os regulamentos do Prêmio Brasil de Economia e da Medalha Personalidade Econômica do Ano. É o COFECON buscando melhorar e apoiar os economistas. É o COFECON levando para a sociedade brasileira o brilhantismo de nossos economistas. No âmbito do Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas (Conselhão), podemos destacar três pontos relevantes: a criação da Frente Parlamentar, a instituição da campanha de Marketing com a criação da logomarca Profissional registrado: melhor para o Brasil - e a batalha pela aprovação de emenda da Medida Provisória 203. O lançamento da Frente Parlamentar, ocorrido no final de novembro, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, contou com a expressiva presença de diversos parlamentares e representantes dos demais Conselhos Federais. É um marco fundamental para a sociedade que necessita de mecanismos que a protejam dos efeitos negativos do exercício ilegal da profissão. É um marco para os profissionais registrados do Brasil. É um marco para o Brasil. Estamos em diálogo aberto e franco com a sociedade e seus representantes legítimos. Estamos em permanente debate com os profissionais registrados para construirmos os instrumentos necessários para o exercício pleno da cidadania. Destaque também para a MP 203, que acaba de ser aprovada no Congresso Nacional, permitindo que os Conselhos Federais possam executar, de forma plena, suas atribuições legais a partir da arrecadação justa da contribuição parafiscal, ou seja, as anuidades, bem como normatizar sobre diárias e jetons. Nossa atuação neste episódio também foi significativa. Em outubro último, estivemos reunidos com o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, José Antônio Dias Toffoli, no Palácio do Planalto, quando então discutimos o texto referente à proposta de emenda da Medida Provisória 203. Saímos de lá com a certeza da vitória e aguardamos com alegria a publicação do texto no Diário Oficial da União. Com certeza, nossa grande missão frente ao COFECON foi a de promover uma ampla e profunda reestruturação de suas atribuições, dotando de mecanismos suficientes o Sistema. Modificamos e criamos uma nova estrutura organizacional para os Conselhos Regionais de Economia, voltada diretamente para a atribuição de fiscalização. Estudamos, discutimos e aprovamos novos normativos de pessoal e procedimentos técnicos a serem adotados, buscando a modernização do Sistema. Motivação e promoção técnica norteiam essa estratégia, Criamos condições técnicas fundamentais para nosso processo de fiscalização efetiva com um objetivo muito claro: proteger a sociedade do exercício ilegal da profissão e garantir, ao profissional registrado, o mercado que os economistas conquistaram com muito estudo e dedicação a essa magnífica profissão. Não paramos só na estrutura organizacional. Evoluímos na reforma de nossos normativos. Criamos um novo sistema de apoio financeiro aos CORECONS. Mudamos, e com certeza, para atingir nosso objetivo primordial, a fiscalização. Este é o ponto fundamental dessa gestão, pois fiscalizar a profissão é nossa atribuição e garantir a sociedade profissionais legalmente habilitados e fiscalizados é nossa meta. Isso é um marco que o Conselho Federal de Economia implementou, lançando as bases e criando os instrumentos necessários à intensificação da fiscalização a partir do próximo ano. Por derradeiro, em complexo e minucioso trabalho que o Conselho Federal iniciou este ano e findará no primeiro semestre de 2005, temos a Consolidação e Revisão da Legislação Profissional do Economista. Trata-se de análise qualitativa das normas do Sistema COFECON / CORECONs – desde simples Portarias até a legislação federal aplicável –, consolidando-a, por temas, em um único instrumento de fácil consulta. Em virtude desse esforço, está sendo possível reunir normas esparsas e corrigir imperfeições. E como produto final, teremos um universo normativo mais coeso e plenamente acessível aos economistas e sociedade em geral. Nossa gestão chega ao final, mas não nossa missão, enquanto economistas. Acreditamos ter cumprido, paulatinamente, todas as metas estabelecidas desde que tomamos posse. É com orgulho e satisfação que vemos nosso Conselho mais amadurecido, cada vez mais atuante, participando do debate dos temas econômicos nacionais mais relevantes. Tudo isto somente foi possível graças à maneira afinada com que os demais conselheiros trabalharam ao longo destes anos. Sempre frisamos aqui que nossos pontos de vista divergentes, nossa maneira de encarar diferentemente as questões econômicas - sob ângulos diversos sempre cederam lugar aos interesses da categoria. E assim foi. Não estamos “tirando nosso time de campo”. Antes o contrário. Estamos sim, abrindo espaço para que outros nomes se juntem a nós. Estaremos sempre somando forças para a revitalização e o fortalecimento do Sistema. Aos novos conselheiros que chegam e aos presidentes eleitos, desejamos exitosa gestão. Notícias Cofecon - Conselhão Frente Parlamentar das Profissões Regulamentadas é oficialmente lançada na Câmara dos Deputados do Conselhão já haviam promovido um esforço concentrado na Câmara dos Deputados Na ocasião, representantes do Conselhão colheram assinaturas de cerca de 50 parlamentares, a exemplo dos deputados Delfim Neto (PP/SP), Leonardo Monteiro (PT/MG), Yeda Crusius (PSDB/ RS) e Wasny de Rouri (PT/DF). O vice-presidente do COFECON, Pedro Moreira, o conselheiro Mário Sérgio Salorenzzo e o superintendente do Federal, Antônio José Guerra, representaram o COFECON no dia do esforço concentrado da Câmara. Atualmente, o Conselhão conta com a participação de 27 Conselhos Federais. Dentre eles, o de Economia. Foto: Bueno Foto: Bueno D eputados e senadores de diversos partidos lançaram oficialmente a Frente Parlamentar das Profissões Regulamentadas, na última quarta-feira, 28 de novembro, no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, cujo principal objetivo é apoiar e defender os profissionais devidamente registrados em seus Conselhos Regionais. Também faz parte de sua missão servir de elo de ligação entre os conselhos profissionais fiscalizadores, o Congresso Nacional e a sociedade. O evento contou com a presença dos deputados Paulo Magalhães (PFL/BA), presidente da Frente, Virgílio Guimarães (PT/MG) e Cláudio Cajado, do PFL baiano - além do senador Efraim Morais (PFL/PB) - que ao lado do Presidente do COFECON, Humberto Tannús Júnior, coordenador do Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas, mais conhecido por Conselhão, compuseram a mesa. Esforço concentrado Conselho Federal de Economia comemora aprovação da MP 203 pelo Senado A notícia de que o Senado Federal finalmente aprovou a Medida Provisória 203/04, no último dia 25 de novembro, que muda a composição do Conselho Federal de Medicina, foi duplamente festejada no Conselho Federal de Economia. Primeiro porque o relator da matéria, Antônio Carlos Pannunzio (PSDBSP), incluiu no projeto a permissão para que os Conselhos de Fiscalização de Profissões Regulamentadas fixem, cobrem e executem contribuições anuais relacionadas a suas atribuições legais. Depois porque também autoriza os Conselhos Federais a normatizar a concessão de diárias, jetons e auxílio de representação. Para o presidente do Conselho Federal de Economia, Humberto Tannús Júnior, o Conselhão sai fortalecido deste episódio, depois da decisão parlamentar. Vitória do Conselhão Em outubro último, Tannús Júnior e outros representantes do Conselhão foram recebidos no Palácio do Planalto, pelo subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, José Antonio Dias Toffoli, quando na ocasião discutiram o texto referente à emenda da MP 203, no sentido de incluir os demais Conselhos na competência que estava sendo atribuida somente ao Conselho Federal de Medicina. Em resposta ao pedido dos representantes do Conselhão - que então solicitavam permissão para fixarem, cobrarem e executarem as contribuições anuais dos profissionais que representam - ouviram de Toffoli a promessa de que a emenda poderia ser viabilizada, desde que não ferisse os dispositivos legais da Constituição. Mário Sérgio Sallorenzo, Robespierre do O’ Procópio Barreto, Humberto Tannús Júnior e Pedro Moreira: Conselheiros prestigiam lançamento da Frente - ao lado de Antônio José Guerra, superintendente do COFECON e Oswaldo Junqueira Vaz Jr. - Relações Institucionais Sen. Efraim Morais, Humberto Tannús Júnior, Dep. Paulo Magalhães e Virgílio Guimarães: Aprovação da MP 203 foi a primeira vitória da Frente Parlamentar das Profissões Regulamentadas. Gestores públicos brasileiros ainda pecam por falta de planejamento O conselheiro Sérgio Bacury esteve em Natal, no último de 23 de novembro, a convite do Conselho Regional do Rio Grande do Norte, onde proferiu palestra cujo tema foi Os 10 Pecados Capitais do Gestor Público. A idéia básica do evento foi mostrar ao público que compareceu ao Auditório do Sebrae quais são os erros mais graves ainda hoje cometido por gestores, mesmo depois da promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Dentre o público que ali compareceu para ouvir o conselheiro - além de economistas - encontravam-se estudantes, sindicalistas, dirigentes e lideranças políticas do Estado. Sobre a escolha do tema, Bacury o justifica afirmando que pecados capitais são faltas que acabam originando as demais. Erros usualmente cometidos pelo ser humano. Desmandos A LRF estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Mesmo assim, “no que pese a exigência de planejamento, eficiência, transparência e ética que atualmente se faz, por parte do gestor público - explica Bacury - ainda ocorre no Brasil uma série de desmandos relativos ao processo de gestão pública”. Como exemplo, Bacury argumenta que muitos gestores ainda trabalham sem planejamento. “Portanto, frisa ele, não obedecem àquela seqüência definida na Constituição Federal e na Lei de Responsabilidade Fiscal - que exige deles coisas tais como Plano Plurianual, Orçamento e Lei de Diretrizes Orçamentárias”. Contabilidade Como prova de que muitos gestores ainda trabalham sem planejamento, Bacury argumenta que, somente este ano, mais da metade dos prefeitos brasileiros não terão recurso para pagar o 13º salário de seus servidores. Segundo Foto: Bueno A solenidade de lançamento da Frente foi bastante prestigiada. Presidentes, diretores, conselheiros e representantes de Conselhos Federais e Conselhos Regionais também compareceram ao evento. Anteriormente, no último dia 10 de novembro, dias antes do lançamento oficial da Frente, representantes O conselheiro Sérgio Roberto Bacury, do Pará, profere palestra no Regional do Rio Grande do Norte sobre Gestão Pública e promove a integração do Sistema COFECON/CORECONs o conselheiro, isto acontece porque não houve planejamento, ao longo do ano, para fazer alocação de recursos, de forma reservada, objetivando o pagamento do 13º - “sabidamente uma despesa já constituída”, afirma ele. Bacury também lamenta o fato de que grande parte dos gestores brasileiros ainda trabalhe com aquilo que ele classifica de “contabilidade de botequim”: tudo que entra sai. Argumenta ainda ser essencial haver planejamento de modo que a média dos gastos possa ser definida - para ir-se efetivando as despesas. “São situações que ainda hoje ocorrem em nosso país, no que pese todos os avanços até aqui conseguidos em termos de gestão. Solução Para o conselheiro, estes são erros que podem inviabilizar a execução do processo de gestão pública. “Somente quando se avançar com o controle social é que se minimizará este problema - pontua ele - fazendoo desaparecer ao longo do tempo”. O conselheiro Sérgio Roberto Bacury é Professor-Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA), sub-auditor geral do Estado do Pará e Conselheiro Federal do COFECON www.cofecon.org.br 3 Notícias Cofecon Auditoria do COFECON contabiliza vitórias no exercício de 2004 O Prevenção “O que se tem visto, nestas auditorias, explica Ney Cardim, é que nem todos os Regionais estão preparados para o cumprimento rigoroso da lei. Como o COFECON é co-responsável pela gestão dos demais CORECONs, cabe a ele fazer o acompanhamento preventivo objetivando o cumprimento da lei, sobretudo as exigências do Tribunal de Conta da União”, diz ele Assim também, afirma o conselheiro, tem-se igualmente observado que, no obstante o interesse e a abnegação dos conselheiros e presidentes dos CORECONs, sempre existe a possibilidade do erro; de falhas. Ele ressalva, contudo, que até o momento nada de muito grave foi encontrado nestas auditorias. Estratégia O conselheiro Ney Cardim argumenta ainda que as auditorias também devem ser vistas como uma estratégia de ação do COFECON no sentido de buscar aproximação com os Regionais, em vez de ficar esperando que eles o procurem para obter Foto: Rita Arruda conselheiro Ney Cardim, presidente da Comissão de Tomada de Contas do COFECON, avalia como altamente positivo o trabalho de auditoria realizado pelo Federal no exercício de 2004. Contudo, por considerar o termo auditoria carregado de significados, uma vez que quando é mencionado as pessoas logo o associam à fiscalização ou ao apanhado de erros, ele prefere classificá-la de “preventiva”. O conselheiro explica, ainda, também ser objetivo da auditoria do COFECON orientar os presidentes e funcionários dos Regionais no sentido do cumprimento das leis, que no Brasil são rigorosas - segundo Ney Cardim - particularmente a Lei de Responsabilidade Fiscal. presidentes não queiram fiscalizar”, enfatiza. “Muitas vezes eles não têm condições de fiscalizar - seja porque não possuêm um quadro de funcionários com competência para esta atividade, seja porque desconhecem uma forma de fiscalizar”, arremata ele. Dívida ativa Ney Cardim afirma que a prioridade do COFECON é dotar os pequenos CORECONS de infraestrutura básica para que funcionem a contento. orientação. “Essa aproximação é altamente positiva, sublinha o conselheiro, uma vez que o Federal vai conhecer, in loco, todas as dificuldades dos Regionais - que na maioria das vezes são transmitidas apenas por relatórios”. Para ele, nem sempre o relatório transmite com fidelidade a realidade de cada Regional; nem sempre espelha suas reais carências e necessidades. “Nosso objetivo, diz Ney Cardim, é não mais permitir que os Conselhos pequenos tenham que adotar a conhecida política do ‘pires na mão’. Antes que eles venham pedir ajuda, precisamos estar aptos a diagnosticar suas deficiências e dotá-los das condições necessárias para que possam funcionar a contento”. Conselhos pequenos Ney Cardim argumenta ainda que muitas vezes o Federal exige dos pequenos CORECONs o cumprimento de tarefas que, na maioria das vezes, eles efetivamente não têm condições de cumprir. Nas auditorias já realizadas, ele diz ter encontrado Conselhos que não têm equipamentos de informática; outros que não têm sede própria e outros ainda com perspectiva de doação das instalações físicas - mas sem que a escritura tenha sido oficializada. “Enfim, pontua Cardim, Conselhos sem uma estrutura mínima de funcionamento”. Uma vez diagnosticadas estas carências, o conselheiro acredita que o COFECON precisará supri-las antes de exigir o cumprimento de tarefas. Fiscalização Dentre as deficiências já observadas pelas auditorias até aqui realizadas, o conselheiro cita as de equipamentos e instalações; além da deficiência do quadro funcional - notadamente a carência de pessoal - bem como a ineficiência da atuação da fiscalização. O conselheiro argumenta que, em alguns Regionais, a atuação da fiscalização precisar ser melhorada. “Não que os A Dívida Ativa, na opinião de Ney Cardim, constitui-se no único elemento realmente preocupante em se tratando de auditoria. Ele argumenta que quando os CORECONs não colocam em Dívida Ativa os economistas inadimplentes, decorrido o prazo de cinco anos, caracteriza-se o que o Tribunal de Contas e a própria Lei de Responsabilidade Fiscal chamam de negligência na cobrança do tributo. “O COFECON, portanto, argumenta ele, tem obrigação de colocar em Dívida Ativa o economista inadimplente para evitar a prescrição de seu débito” Chave de ouro “O Conselho que não coloca em Dívida Ativa o inadimplente está negligenciando a cobrança do tributo; pecando por omissão. Não podemos abrir mão da cobrança de tributos. A lei é muito rigorosa neste sentido”, conclui o conselheiro. Ele acredita que o COFECON vá encerrar o exercício de 2004 com quase todos os CORECONs tendo tido sua Dívida Ativa contabilizada. Confira os CORECONs que já receberam a visita da auditoria preventiva: Alagoas Bahia Ceará Mato Grosso Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Sergipe Conselho Regional do Tocantins lança revista para economistas O Conselho Regional do Tocantins acaba de lançar a revista Cenário. Em seu primeiro editorial, de setembro último, o presidente do CORECON/TO, Tadeu Zerbini Leão, afirma ser um grande desafio lançar uma revista cujo conteúdo aborde temas voltados para a Economia. O conselheiro também argumenta que a proposta da Cenário é refletir sobre a responsabilidade social que aquele Regional tem para com o povo tocantinense. Tadeu Leão também acredita que a procura de novos caminhos, a socialização de opiniões, a determinação para fazer críticas construtivas e a participação efetiva nas discussões sociais são formas de proporcionar maior inclusão social. Por fim, o conselheiro agradece o apoio dado pelos amigos, instituiçõesparceiras, profissionais da área e acadêmicos - “sem o qual teria sido praticamente impossível vencer os obstáculos que se apresentaram ao longo do caminho”. Erramos A Universidade de Blumenau é Regional e não Federal, como foi dito na última edição do COFECON NOTÍCIAS, na entrevista com a economista Marly Célia Souza de Carvalho, sobre o VIVA ECONOMIA. 4 www.cofecon.org.br Paulo Skaf: Foto: Bueno Radicalmente contra a parceria China - Brasil Edson Stein: Apesar de acreditar na parceria entre Brasil e China, Edson Stein adverte para o problema da concorrência Lula e Hu Jintao celebram a parceria no Palácio do Planalto Protesto O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por seu turno, já se pronunciou oficialmente dizendo que a entidade vai montar imediatamente uma equipe de defesa comercial para proteger a indústria nacional contra possíveis prejuízos causados pelo posicionamento do Brasil de reconhecer a China como uma economia de mercado. Ouvida pelo COFECON NOTÍCIAS, a Fiesp argumenta que “a indústria paulista e a brasileira foram colocadas em posição de vulnerabilidade e que a China é o país contra o qual existe o maior número de medidas de defesa comercial aplicadas pelo governo brasileiro e por outros vários países do mundo” Dumping Skaf argumenta que, mesmo que o governo brasileiro tenha uma equipe talentosa, a partir de agora, com o reconhecimento da China como uma economia de mercado, os trabalhos para provar um dumping tornar-seão ainda mais difíceis. Em contrapartida, o ministro Furlan garante que o Brasil não abriu mão das salvaguardas e tampouco de aplicação de regras antidumping. Palavra de Conselheiro Em abril último, o conselheiro Edson Francisco Stein, do COFECON, visitou a China como membro da III Missão de Economistas Brasileiros ao Exterior, organizada pelo CORECON-Paraná, Estado onde reside. Nesta edição do COFECON NOTÍCIAS, como economista, Edson Stein avalia o impacto da vinda do presidente chinês Hu Jintao ao Brasil. Na opinião de Stein, a visita de Hu Jintao é “histórica e de fundamental importância para os dois países. “Para a China, diz ele, é parte do lobby que articula o seu reconhecimento como economia de mercado na Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo que seja ‘uma economia socialista de mercado’, seja lá o que isto signifique”. ONU Stein argumenta ainda que, para o Brasil, a visita de Hu Jintao configura-se como o resultado da articulação do governo brasileiro para que o Brasil ocupe uma cadeira no Conselho Permanente de Segurança da ONU. Significa dizer, segundo ele, que ambos os países esboçam o papel que cada um representará no tabuleiro geopolítico e geoeconômico do planeta Sobre as possibilidades da parceria entre Brasil e China, Stein acredita nas vantagens dela advindas. “Primeiro porque ambos têm interesse nesta relação, no tocante às questões geopolíticas e geoeconômicas. Segundo porque fortalece os dois países quanto à questão da corrida espacial e lançamento de satélites. Em terceiro lugar porque acordos de cooperação nuclear são importantes e configuram-se em um contraponto significativo à hegemonia norte-americana”. Por fim, argumenta Stein, por se tratar da possibilidade concreta de transferência de tecnologia”. Concorrente Como a China possui um tipo de solo que não lhe permite ampliar significativamente sua produção de alimentos, Stein considera positivo que o Brasil possa vender alimento àquele país - bem como fornecer matéria prima. Embora considere esta parceria boa para o país, em linhas gerais, Stein adverte, contudo, que em outros setores a China será, muito em breve, concorrente do Brasil. Como exemplo, ele cita as indústrias textil e de calçados. “ É preciso que não haja ilusões. A China, diz ele, será nossa concorrente”. historicamente, a ANGE sempre defendeu as 3.220 horas. Para Sawaya, contudo, “o mais As eleições para a renovação do terço (ABL) - certamente uma das últimas imagens importante nesta questão da negociação com o MEC é conseguir para o economista a dos Regionais ditaram o tom da 571ª feitas de Celso Furtado. garantia de sua formação profissional”. Reunião Plenária do COFECON, realizada em São Paulo, entre os dias 26 e 27 de Visita do presidente da ANGE O presidente da ANGE (Associação Hospitalidade novembro último. Na ocasião, o economista Em São Paulo, os conselheiros do Federal Celso Furtado foi homenageado pelos Nacional dos Cursos de Graduação em conselheiros, que lhe prestaram um minuto Economia) Rubens R. Sawaya, extra-pauta, contaram com a hospitalidade do presidente do pediu espaço na Plenária para falar sobre as CORECON/SP, Synésio da Costa Batista, para de silêncio. quem os economistas podem fazer políticas Também exibiu-se para os conselheiros Diretrizes Curriculares. Em sua fala, Sawaya destacou pontos objetivando reverter o quadro de miséria em que o vídeo que o COFECON fez de Furtado, quando da realização do XX Simpósio como carga horária e trabalho de conclusão o Brasil se encontra. Como exemplo, Synésio Nacional dos Conselhos de Economia de curso. Destacou ainda a luta que esta cita e lamenta os 11 milhões de desempregados (SINCE), realizado em setembro último em entidade vem travando, nos últimos quatro do país. Do mesmo modo, indigna-se com o anos, junto ao Ministério da Educação - ao número assustador de crianças que precisam Belém, a capital paraense. Por unanimidade, a Plenária de São lado do COFECON - para ver aprovados tais trabalhar para poder comer: 5 milhões e 300 mil. Para o conselheiro paulista, que se orgulha Paulo decidiu fazer a doação de uma cópia pontos. Especialmente no que se refere à deste vídeo à Academia Brasileira de Letras redução da carga horária ele argumentou que, de ser economista, o COFECON tem um papel Foto: CORECON/SP Foto: FIESP No que pese o descontentamento de parte do empresariado brasileiro, os analistas econômicos avaliam que o saldo da visita do presidente chinês Hu Jintao ao Brasil foi positivo. Em troca do reconhecimento da China como economia de mercado, o Brasil passará a exportar carne de boi e frango para aquele país asiático - um negócio de quase US$ 1 bilhão por ano. Hu Jintao visitou oficialmente o país na primeira quinzena de novembro último. O Brasil é o primeiro país de grande extensão territorial a reconhecer oficialmente esse status da China. Para o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior segundo matéria oficialmente veiculada pela Agência Brasil (Rabiobrás) - as negociações com os empresários chineses poderão gerar US$ 10 bilhões de investimentos no país nos próximos dois anos. Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil Saldo da visita do presidente chinês ao Brasil foi positivo Plenária de São Paulo homenageia Celso Furtado Synésio Batista importantíssimo no cenário político nacional, é o instrumento capaz de alavancar as demandas da categoria e merece ser ouvido pela sociedade. Segundo ele, “precisamos entrar sem bater nas salas dos ministros e fazer ouvir a nossa voz”. Synésio arremata dizendo: “As pessoas querem ver resultados - precisamos ‘fazer chover’. Somente quem é grande é ouvido”. www.cofecon.org.br 5 Homenagem CELSO FURTADO economista Celso Monteiro Furtado faleceu na manhã do último dia 20 de novembro, no Rio de Janeiro, aos 84 anos, vítima de um colapso cardíaco agudo, deixando órfãs gerações inteiras de economistas que o tinham como referência e expoente maior da Economia Nacional. Nascido em Pombal, no sertão paraibano, em 26 de julho de 1920, Furtado ganhou reconhecimento internacional por sonhar e acreditar em um projeto viável de desenvolvimento para o Brasil. Em sua última entrevista, publicada na edição de outubro da revista Desafios do Desenvolvimento, ele declarou que o Brasil precisa desenvolver políticas próprias para a globalização, sob pena de continuar a ser o campeão mundial da concentração de renda. Adepto da linha estruturalista, destacou-se entre seus pares por enxergar a Economia sob uma óptica social, mais humanista. Foto: Arquivo/COFECON A estrela que não se apaga O Câmara dos Deputados Celso Furtado e José Zenóbio Vasconcelos: eleito Economista Emérito do Brasil em 2001 pelo COFECON Despedida Na manhã do domingo, 21 de novembro, autoridades, parentes e amigos do economista compareceram ao Cemitério São João Batista, Rio, para o último adeus. Dentre eles, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, acompanhada do marido, Luiz Favre; o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa; o senador Eduardo Suplicy, o corregedor-geral da União, Waldir Pires; o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, e o deputado Jorge Bittar. O corpo de Celso Furtado foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL). O conselheiro Sidney Pascoutto representou o Conselho Federal de Economia nos funerais de Celso Furtado, levando à família do economista as mais sinceras manifestações de pesar do presidente Humberto Tannús Júnior, dos demais conselheiros e todos os funcionários do Federal. Homenageado Em setembro último, quando da realização do XX Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE), em Belém do Pará, Celso Furtado foi homenageado pelo Conselho Federal de Economia (COFECON) que na ocasião lhe conferiu comenda especial pelo conjunto de sua obra e inestimável contribuição ao pensamento econômico nacional. No evento, Furtado foi representado por seu filho André, também ele economista e professor, a exemplo do pai. Impossibilitado de comparecer ao XX SINCE, Furtado falou aos 6 www.cofecon.org.br economista também ocorreram no Congresso Nacional. O Plenário do Senado aprovou, na segunda-feira que se seguiu ao falecimento de Celso Furtado, 22 de novembro, vários requerimentos de homenagem. O presidente da Casa, José Sarney, propôs a inserção, em ata, de voto de profundo pesar e apresentação de condolências à família de Furtado, à Academia Brasileira de Letras bem como à Academia Brasileira de Ciências. A exemplo de Sarney, os senadores Marco Maciel (PFL-PE), Pedro Simon (PMDB-RS), Aloizio Mercadante (PT-SP), Eduardo Suplicy (PT-SP), Ideli Salvatti (PT-SC) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) também enviaram requerimentos à Mesa no mesmo sentido. participantes do Simpósio de um telão, especialmente instalado no Salão Karajás, do Hotel Hilton. Ao final da apresentação, emocionada, a audiência o aplaudiu de pé. Em sua fala, Furtado destacou o que cansou de repetir ao longo de toda sua vida: ter enveredado pelos caminhos da Economia objetivando entender os graves problemas sociais do povo brasileiro. Anteriormente, em 2001, na gestão do presidente José Zenóbio Teixeira de Vasconselos, Furtado já havia sido igualmente homenageado pelo COFECON, quando então recebeu o título de “Economista Emérito do Brasil”. Referência Nacional Para o presidente do COFECON, Humberto Tannús Júnior, “Celso Furtado influenciou diversas gerações de economistas e serviu de inspiração, principalmente, aos jovens que vislumbravam e aos que ainda hoje vislumbram nas Ciências Econômicas um ideal de vida; uma forma de ajudar o Brasil a buscar soluções para seus graves problemas econômicos”. Tannús Júnior ressalta ainda que Furtado era um humanista extremamente preocupado com as questões sociais do país e o classifica como um dos principais ícones da intelectualidade brasileira. Doutor em Economia pela Sorbonne, de Paris (França) - com pós-doutorado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra - Furtado foi o primeiro ministro do Planejamento da história do país (1962-64) no governo do presidente João Goulart (1961-64). Também ocupou a pasta da Cultura no governo de José Sarney (1985-90). Entre suas realizações, está a criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) na década de 50. Em 1959, publica o livro Formação Econômica do Brasil, hoje um clássico, e assume a direção da Sudene. Exilado Celso Furtado foi professor de universidades nos EUA (Yale, Harvard e Columbia), na Inglaterra (Cambridge) e na França(Sorbonne), onde foi nomeado professor por decreto do presidente francês Charles de Gaulle. Exilado, muda-se para o Chile na, década de 60, e posteriormente para a França. Após a anistia, em 1979, volta ao Brasil e em 1986 assume Ministério da Cultura, no governo Sarney. O economista brasileiro era doutor Honoris Causa pela Universidade Técnica de Lisboa (Portugal), Universidade Estadual de Campinas (São Paulo), Universidade Nacional de Brasília, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal da Paraíba, Université Pierre Mendès-France (Grenoble, França), Universidade Estadual do Ceará, Universidade Estadual Paulista e Universidade Federal do Rio de Janeiro. A morte do economista Celso Furtado também foi tema dominante da sessão de segunda-feira da Câmara. Durante toda a tarde, deputados de diferentes partidos foram à tribuna elogiar a atuação do ex-ministro, integrante da Academia Brasileira de Letras e criador da Sudene. O deputado Luiz Couto (PT-PB), por exemplo, sugeriu que o Instituto Nacional do Semi-Árido seja batizado com o nome de Furtado e afirmou que o ex-ministro procurou fazer da economia um instrumento de inclusão das classes sociais menos favorecidas. Nobel da Paz Senado Federal O nome de Celso Furtado foi lançado para o Prêmio Nobel de Economia e em torno dele construiu-se uma campanha que ganhou força dentro e fora do Brasil. Em uma de suas últimas manifestações políticas, Furtado assinou um abaixo-assinado organizado por petistas e personalidades do cenário político e econômico em defesa da manutenção de Carlos Lessa no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lessa, contudo, acabou sendo demitido no último dia 18 de novembro, apenas dois dias antes do falecimento de Celso Furtado. A viúva do economista, Rosa, declarou que a morte de Furtado foi “simbólica” por ter sucedido a queda de Lessa. De Norte a Sul do país, Celso Furtado foi homenageado por personalidades do cenário políticoeconômico, acadêmico e cultural, a exemplo de Gilberto Gil, ministro da Cultura. As homenagens póstumas ao *Com informações das Agências Brasil, Carta Maior, Folha Online, Câmara e Senado Realizações Atual gestão do Cofecon conquista para a categoria eleições diretas para presidente e vice de CORECONs em 2005 E Eleições Diretas “Há muito tempo, enfatiza Pedro Moreira, os economistas vêm lutando para que haja eleição direta para a escolha de presidente e vice dos Regionais. Felizmente, somente agora, nesta gestão, pudemos realizar este sonho. Já no próximo ano, economistas de todo o Brasil poderão se manifestar e escolher seus dirigentes”, afirma o conselheiro. Pedro Moreira diz ainda que esta conquista faz parte de um processo que vinha sendo gerado ao longo dos anos, quando de outros encontros – por ocasião de outros SINCE anteriormente realizados, por exemplo – e que culminou durante a realização do XX SINCE, em Belém, onde a categoria reunida ditou as regras do jogo e fez valer o voto da maioria. “Estamos aqui no Rio, agora, diz ele, tentando encaminhar uma legislação apropriada para que esta eleição possa ser viabilizada já no próximo ano”. Realidade dos Regionais Pedro Moreira diz ainda que as discussões e decisões tomadas nas Reuniões Plenárias têm trazido uma enorme contribuição para o Sistema. O conselheiro avalia como positivo o deslocamento das Plenárias de Brasília para os diversos Estados brasileiros. Segundo ele, isto já vinha ocorrendo desde a gestão passada. A princípio, para os Estados maiores, como Rio de Janeiro e São Paulo, e em outras oportunidades, também, por ocasião dos eventos patrocinados pelos CORECONs tais como congressos, SINCE etc. Segundo Pedro Moreira, “nestes momentos, quando todos os conselheiros se deslocam de seus Estados de origem para a Plenária do Federal, têm a oportunidade de conhecer a realidade daquele Regional anfitrião”. Muitas vezes, argumenta ele, estes CORECONs têm problemas sendo esta a ocasião ideal para que o COFECON analise in loco sua situação. “Do mesmo modo, frisa Pedro Moreira, também é uma excelente oportunidade para promover o intercâmbio de idéias entre o que pensa a Plenária do Regional e aquilo que pensa e decide a Plenária do Federal”. Foto: Bueno m outubro último, entre os dias 22 e 23, o Conselho Federal de Economia realizou sua 570º Reunião Plenária, na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, questões importantes constaram da pauta do encontro. Dentre elas, a atuação do Sistema COFECON/ CORECONs no processo eleitoral do próximo ano e a instituição do Cadastro Nacional de Economistas. Na opinião do vice-presidente do COFECON, Pedro Moreira Filho, hoje o Federal demonstra um amadurecimento visível que se reflete nos avanços e nas conquistas obtidas nesta gestão. Pedro Moreira avalia a Plenária realizada no Rio como muito importante e destaca, ainda, os avanços obtidos pela categoria. Para ele, esta foi uma reunião muito oportuna na qual, além de ter-se dado o encaminhamento de toda a pauta do Federal, por sinal muito extensa, tevese ainda a oportunidade de discutir o processo político que está em andamento, para a renovação da nova diretoria, no próximo ano, bem como analisar, discutir e aprovar as decisões tomadas no XX SINCE - que serão implementadas no ano de 2005 - principalmente no que se refere à eleição direta para presidente e vice-presidente dos Conselhos Regionais. Para o COFECON, analisa Pedro Moreira, trata-se de um grande avanço. Comunicação Pedro Moreira Perguntado sobre a comunicação do COFEOCN com seus cadastrados, Pedro Moreira fala de sua experiência como ex-conselheiro do CORECON de Santa Catarina e de ex-presidente daquele Regional. “Por estar mais próximo da base, do economista, do eleitor, argumenta ele, sentíamos uma deficiência na época em que não havia um veículo de comunicação com a base. A partir do momento em que o Federal implementa esta comunicação - seja por meio do COFECON NOTÍCIAS, seja por meio eletrônico – a mim parece que o economista fica mais satisfeito. É como se dissesse: ‘eu pago uma anuidade e tenho um Conselho que se interessa por mim; oferecendo-me um veículo de comunicação que me mantém informado de tudo o que acontece no Sistema’ “. Além do jornal, o conselheiro também destaca como importante a criação do Position Paper - ainda na gestão do ex-presidente Carlos Roberto de Castro - em seu último ano de mandato. Position Paper Pedro Moreira diz que o Position Paper oferece ao brasileiro uma noção de macro e micro economia da conjuntura nacional - atingindo não apenas o economista, mas a sociedade como um todo. O conselheiro afirma já ter sido testemunha ocular da influência do Position Paper e das discussões por ele geradas, em sala de aula, entre professores e destaca o amadurecimento do Sistema COFECON/ CORECONs e alegra-se que a conquista para eleições diretas nos Regionais em 2005 tenha ocorrido nesta gestão alunos. Assim também, em reuniões profissionais quando um conselheiro ou um economista precisavam falar para um público de plenária mais ampliada. Pedro Moreira declara confiante: “Acredito que estejamos trilhando o caminho certo. Doravante, a meta é criar outros mecanismos visando informar o economista sobre legislação - a exemplo da atualização do Projeto 7.166/2002 - estando o COFECON empenhadíssimo em sua aprovação”. Mercado de Trabalho Segundo o conselheiro, o Federal acredita que a votação deva ocorrer até o final do ano, caso a pauta seja destravada no Congresso Nacional, especialmente na Câmara. Em sua opinião, este feito seria uma coroação para o COFECON, que estaria provando aos economistas que, além de possuir veículos de comunicação eficientes, também coloca à disposição de seus profissionais uma legislação que lhes permite ampliar seu mercado de trabalho - outra antiga reivindicação do economista no Brasil”, conclui Pedro Moreira. Lisura pauta eleições dos Regionais As eleições para escolha do Terço dos novos conselheiros que comporá o Sistema COFECON/CORECONs no triênio 2005/2007 ocorreu em outubro último em clima democrático. Foram eleitos conselheiros para os respectivos Regionais - efetivos e suplentes - para o Federal e ainda delegados eleitores junto ao Colégio Eleitoral do COFECON. Dentro do universo de economistas aptos a votar, a participação dos votantes foi expressiva em todos os Estados brasileiros. O número de abstenções foi baixo. No dia da eleição, em sua maioria, os votantes compareceram em seus CORECONs de origem. Os eleitores puderam ainda votar por correspondência - desde que obedecida a data-limite estipulada por cada um dos Regionais. No CORECON paulista, por exemplo, o voto foi exclusivamente por correspondência. Escolha Democrática Na opinião do conselheiro Mário Sérgio Sallorenzo, do Federal, que acompanhou o processo eleitoral em Goiânia, estas eleições se pautaram pela lisura e constituem-se em uma conquista da categoria, uma vez que os economistas, pela primeira vez, puderam escolher democraticamente seus representantes junto aos Regionais e também ao Federal. Sallorenzo lembra ainda que, antes disto, o CORECON mineiro e mais recentemente o de Alagoas já indicavam seus presidente e vice e a Plenária apenas homologava a escolha. Contudo, destaca como altamente positiva a escolha democrática dos economistas com o voto diretamente depositado nas urnas, nestas eleições. Todos os processos já foram concluídos e os nomes dos conselheiros homologados pelo COFECON www.cofecon.org.br 7 Ponto de Vista Delegacia do CORECON/ Roraima briga pelo direito dos economistas concursados no Estado Economistas lançam manifesto contra política econômica do Governo Lula Continuismo Segundo o Manifesto, “a adoção, pelo governo Lula, da mesma política econômica adotada no segundo mandato do governo FHC – com o objetivo de manter o modelo de economia inaugurado por Collor -, demonstra que o desejo de mudança, expresso claramente pelo povo nas eleições de 2002, foi usurpado pelo mesmo poder econômico que quer manter, a todo custo, seus privilégios”. O grupo ressalta que “a situação social no país se agravou de uma forma inequívoca e que o ligeiro suspiro de crescimento que se tem verificado este ano não muda o caráter excludente e pauperizador da política econômica”. Pulo do Pinto Aperto Fiscal Pascoutto argumenta que, em setembro último, o governo Lula aumentou a meta de superávit primário, em 2004, para 4,5% do PIB. “Isto significa uma redução ainda maior nos recursos para saúde, educação, moradia, transportes e reforma agrária”, diz ele. “Apesar do aperto fiscal que os últimos governos impuseram a sociedade brasileira, para pagamento dos juros com a não correção das alíquotas do imposto de Renda de Pessoa Física, com o arrocho salarial do funcionalismo público, com a redução dos recursos para pesquisa científica, com a redução do número de bolsas para estudantes Para eles, “esta política econômica não atende aos interesses da maioria e aumentará cada vez mais os problemas sociais” Pascoutto vai além quando afirma que “os economistas que combatem esta política econômica - geradora de duas décadas perdidas para a sociedade brasileira - mostram claramente que tal política é de fato responsável por ligeiros períodos de crescimento; caracterizados na literatura econômica recente como ‘vôo da galinha’.” Para o conselheiro, contudo, o atual surto de crescimento possivelmente será caracterizado, no futuro, como o “pulo do pinto”. Os economistas aprovados no concurso público do Estado de Roraima que ainda não foram convocados pelo governo estão brigando pelo direito de assumir suas vagas antes do término do prazo de validade de convocação, previsto para outubro de 2005. Em busca de apoio, eles agendaram entrevista com o atual secretário de Administração do Estado, Haroldo Amora, também ele economista. Segundo Eduardo Jorge Seffair, delegado do Conselho Regional de Economia Amazonas/Roraima, o CORECON que representa está Para o conselheiro Pascoutto, redução apoiando integralmente os concursados da vulnerabilidade externa e promoção e vem lutando ao lado deles para que do pleno emprego constituem os eixos estruturantes da retomada de um projeto sejam empossados antes que o prazo de validade do concurso expire. nacional de desenvolvimento Corrida contra o tempo Desemprego Os signatários do manifesto não vislumbram saída imediata para a crise econômica do País. Ao contrário, lamentam que o Governo Lula não demostre vontade política para corrigir os erros até aqui cometidos. Ainda assim, acreditam que possa haver uma saída alternativa para a crise em que o governo se enredou. Os signatários do Manifesto também se queixam, sobremaneira, das taxas de desemprego e de subemprego nas principais regiões metropolitanas do Brasil, “que se elevam a um quarto da população ativa, o que configura, de longe, a maior crise social de nossa história, levando a uma escalada da marginalização social, da criminalidade e da insegurança”, dizem eles. Confira a seguir as principais alternativas para a crise apontadas pelos economistas que assinam o Manifesto: Medidas alternativas imediatas 1. Reduzir drasticamente a atual taxa de juro básica (Selic), que serve para remunerar os títulos públicos; portanto, a taxa de juro passa a ser focada no ajuste das contas públicas; 2. Desvincular a taxa de redesconto (que remunera os empréstimos do Banco Central aos bancos) da taxa Selic, liberando o Bacen para a utilização ativa das taxas de redesconto, depósitos compulsórios e cobrança de OF como formas de regulação seletiva do crédito; 3. Estabelecer mecanismos de controle no fluxo de entrada e saída de capitais externos do país, controlando a conta de capitais, com o objetivo de impedir a evasão externa de divisas, em face da queda da taxa de juros; 4. Interromper a captação de recursos externos pelo setor público, recompor de forma contínua as reservas internacionais do país e estabelecer critérios para o processo de endividamento externo privado; 5. Promover a redução do “spread” e dos custos dos serviços dos bancos privados por meio da rivalidade agressiva derivada da oferta de crédito e de serviços financeiros pelos bancos públicos; 8 www.cofecon.org.br 6. Realizar uma reforma fiscal que priorize os investimentos na economia interna e nos programas sociais e inclua um sistema progressivo de tributação, capaz de acelerar a distribuição da renda e, em conseqüência, o crescimento sustentado da economia e das oportunidades de trabalho; 7. Realizar uma auditoria financeira e social da dívida externa, para dar transparência e justiça ao processo de endividamento e para tornar efetivo o controle democrático; 8. Administrar a política cambial de maneira favorável às exportações e à substituição das importações, e compatível com o equilíbrio dos fluxos de capitais externos; 9. Reverter o processo de desnacionalização dos setores de produtos não comercializáveis internacionalmente, de modo a reduzir a rigidez das contas externas do país (o que implica cancelar o programa Parceria Público Privado); 10. Utilizar os recursos públicos, ora esterilizados no superávit primário, em programas de dispêndio público voltados para a expansão e melhora dos serviços públicos básicos, como educação, saúde, habitação popular, assim como para investimentos de infra-estrutura e apoio decisivo à agricultura familiar, reforma agrária e economia solidária. Mara Ryan de Almeida, representante da categoria no Estado e membro da comissão formada para atuar junto ao CORECON/Amazonas-Roraima, explica terem sido 42 os economistas que passaram no referido concurso, que oferecia 62 vagas. Destes, 25 foram convocados, mas somente 12 efetivamente tomaram posse. Ela ressalta que falta menos de um ano para o concurso prescrever e até agora os demais concursados aguardam a convocação. Mara questiona o porquê do governo ainda não ter convocado todos os concursados, classificando a atitude governamental de descaso. Concordante com a opinião da colega economista, Eduardo Seffair também diz estranhar a atitude do governo de não empossar logo todos os candidatos, uma vez que o total de vagas ainda não foi preenchido. O que os economistas roraimenses esperam agora é que o Governo do Estado, através da Secretaria de Administração, dê uma resposta lógica para as perguntas que a categoria faz. Foto: Arquivo/CORECON/RR de mestrado e doutorado - a dívida líquida consolidada do setor público evoluiu de 52,6 % do PIB em 2001, para 58,3 % do PIB em 2003”, frisa Pascoutto. Foto: Arquivo/Pessoal E Nada Mudou é o nome do Manifesto lançado no último dia 12 de novembro por um grupo de 30 economistas brasileiros. No documento, eles criticam a política econômica do Governo Lula, por eles considerada continuação daquela praticada por Fernando Henrique Cardoso, e em seu lugar propõem uma política econômica voltada para um projeto nacional de desenvolvimento, onde a geração de empregos e a redução das desigualdades sociais sejam prioridades. Há cerca de um ano meio, eles já haviam escrito um outro manifesto no qual advertiam para o agravamento da crise social em face do aprofundamento, pelo Governo Lula, da política macroeconômica herdada do Governo FHC. Em sua maioria, os signatários do manifesto são economistas, professores universitários e dirigentes de Conselhos Regionais de Economia. Dentre eles, destaca-se o nome do conselheiro Sidney Pascoutto, do COFECON. Eduardo Seffair: Apoio incondicional aos economistas roraimenses que lutam para ocupar vagas destinadas aos concursados do Estado Opinião Palocci ministro da Fazenda, Antônio Palocci, finalmente admitiu ter havido um aumento da carga tributária no país, este ano. Palocci atribuiu o aumento às mudanças no cálculo da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a importação e ao crescimento da Economia. Segundo o ministro, parte do aumento da carga tributária se deve à cobrança da Cofins sobre bens importados, que antes eram isentos da contribuição. A declaração de Palocci foi feita no último dia 10 de novembro, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). De acordo com matéria publicada na Folha de S. Paulo, um dia depois do pronunciamento do ministro, os analistas econômicos do jornal afirmam não ter sido apenas a Cofins sobre os importados a maior responsável pelo aumento da carga tributária. “A cobrança do PIS sobre os importados também ajudou a agravar o quadro”, dizem eles. Promessas O aumento da Cofins de 3% para 7,6%, desde fevereiro deste ano, foi um dos principais responsáveis pelo aumento da carga tributária que será registrada no país em 2004: R$ 11,2 bilhões a mais entre janeiro e setembro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Tentando amenizar os efeitos desse aumento, o ministro reafirmou que caso a arrecadação de tributos realmente fique acima do esperado, novas medidas de redução de impostos serão anunciadas. Disse ainda que se houver mais aumento da carga tributária, o governo pretende ressarcir os contribuintes. Críticas O ministro Palocci, por sinal, passou boa parte de seu tempo na reunião do CDES rebatendo as críticas dirigidas à atual política econômica do Governo Lula - especialmente no tocante à carga tributária e aos juros praticados no país. Segundo o jornal Monitor Econômico, Palocci teria ouvido críticas do presidente da Federação das Indústria de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, para quem o volume de crédito é muito baixo no Brasil - apenas 27,5% do PIB, enquanto a média de 43 países que representam 93% do PIB mundial é de 85,6%. Banco Central Assim também, para Skaf, o risco de inadimplência não é o único responsável pela alta do spread bancário no país, mas também a falta de recursos. O presidente da Fiesp criticou ainda a alta margem de ganho dos bancos, de 31,6%, na composição do spread. Apesar das críticas, Skaf classificou de “positivo” o “compromisso” de Palocci em reduzir a tributação caso a arrecadação suba mais do que o previsto. Presente à reunião da CDES, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ajudou Palocci na sabatina. Foto: Bueno O Foto: Bueno admite que brasileiro pagou mais impostos em 2004 João Paulo Marco Aurélio espera que no futuro aumentos como este não se repitam lamenta a perda do poder de compra das famílias brasileiras Oposição A deputada Yeda Crusius (PSDB/RS) argumenta que as declarações de Palocci somente confirmam as previsões e análises realizadas no ano passado por seu partido. Em sua opinião, ao contrário do que afirmou Palocci, o excedente por ele mencionado não será revertido para a população. Para ela, que também é economista, “este dinheiro será direcionado ao superávit primário e não em serviços para o povo brasileiro.” Em Brasília, contatada pela Assessoria de Imprensa do Conselho Federal de Economia, objetivando a obtenção de dados que pudessem dar sustentação à matéria do COFECON NOTÍCIAS, o gabinete do ministro Antônio Palocci preferiu não se manifestar sobre o assunto, limitando-se a informar que a Assessoria de Imprensa do Ministério da Fazenda não costuma expedir press release nem seus assessores costumam dar declarações a jornalistas. Quando muito, segundo informa uma das assessoras, emite uma “nota técnica”. Prata da casa Na opinião do conselheiro Luiz Alberto Machado, do COFECON o reconhecimento do ministro Palocci apenas confirma o que já havia sido apontado por diversos economistas quando do anúncio do aumento da Cofins. Para Machado, o governo poderia promover uma série de mudanças no âmbito microeconômico capazes de melhorar o ambiente de negócios vigente no País, criando condições de maior competitividade para os produtos brasileiros. Isso serviria para contrabalançar, pelo menos em parte, a manutenção da austera política monetária que vem sendo implementada pela equipe econômica, na qual se destaca o elevado nível da taxa básica de juros: “promover algumas mudanças no sistema tributário que desonerassem mais a produção e a exportação, eliminar boa parte da burocracia para abrir ou fechar empresas, rever as leis trabalhistas e agilizar o andamento dos processos judiciais seriam medidas que reduziriam os nos s os c us t os de t r ans aç ão, t or nando o ambiente de negócios muito mais favorável para as empresas instaladas no Brasil” O “compromisso” do ministro de reduzir a tributação, caso a arrecadação suba mais do que o previsto, não deixa de ser uma boa notícia, mas não passa de uma ação paliativa, conclui Machado, que vê possibilidades de ação mais efetivas para estimular a ampliação do nível de atividade de nossa Economia Aumento perverso Já para o conselheiro João Paulo Magalhães, quando a carga tributária torna-se muito alta, desencoraja a Economia. Segundo o conselheiro, atualmente ela já deve estar batendo a casa dos 40%. João Paulo argumenta ainda que o governo deveria prever eventuais aumentos, em vez de tentar ficar corrigindo seus efeitos. “Em linhas gerais, o aumento da carga tributária é negativo, como reconhece o próprio ministro Palocci”, arremata o conselheiro. O Conselheiro Marco Aurélio, por seu turno, acredita que este aumento da carga tributária representa uma apropriação da renda do trabalhador. Marco Aurélio diz ainda que, quando aumentos como este ocorrem, há menos atividade econômica, menos emprego, menos arroz e feijão na panela da dona de casa e, consequentemente, aumento do superávit do Governo Federal. Em sua opinião, “trata-se de uma medida perversa, uma vez que reduz a possibilidade que este país tem de ter um incentivo ao crescimento”. www.cofecon.org.br 9 Entr Entreevista O guru das finanças públicas CN: Por que a economia brasileira é supervulnerável a choques? RV: Essa vulnerabilidade se manifesta pelo peso elevado da dívida pública indexada à Selic e ao dólar. Dados de agosto/04: 48% do total da dívida líquida global do setor público à Selic; 28% ao câmbio; 13% são papéis préfixados; finalmente, 11% indexados a vários índices de preço. Há divergências sobre as causas principais. Minha opinião é que a razão básica é a percepção de a dívida pública (vale dizer, o superávit primário) não ser sustentável. CN: A alta da taxa de risco do país é conseqüência dos sucessivos choques? RV: Os choques levam à subida da taxa de risco basicamente porque acentuam os temores de que a dívida pública não é sustentável. Brasil Foto: Arquivo/Velloso O economista Raul Velloso é referência nacional quando o assunto é Finanças Públicas. Em sua opinião, Depois da Carta aos Brasileiros, de 2002, “o maior feito do Governo Lula na área econômica foi ter passado praticamente incólume pelo minichoque da economia brasileira no primeiro semestre deste ano”. Ele avalia que o choque ocorreu devido à ameaça de forte subida dos juros americanos bem como à crise interna do governo, associada ao caso Waldomiro. Minichoque, por sinal, é uma denominação dada pelo próprio Velloso. Ele entende que, em comparação ao que anteriormente já havia ocorrido, mais pesado – embalado no contexto da eleição presidencial de 2002 – este “até que foi de pequenas proporções”. O X da questão, no entanto, segundo ele, “é que mesmo com seu efeito de proporções razoáveis na economia nacional, a taxa de juros real vem se mantendo praticamente inalterada desde o início do ano”. Nesta edição do COFECON NOTÍCIAS, Raul Velloso fala da vulnerabilidade da economia brasileira a choques, de Risco Brasil e do aumento da taxa cambial, dentre outros temas. CN: Qual o efeito mais nocivo decorrente do aumento da taxa cambial? RV: Aumentos da taxa de câmbio pressionam a inflação para cima (levando daí à desaceleração da economia) e os salários reais para baixo. CN: E quanto à Selic? Não se trata de um remédio amargo de perigoso efeito colateral que o Banco Central prescreve à Economia? RV: A Selic aumenta porque existe uma meta de inflação a cumprir, sendo esse o remédio básico para a doença. O efeito colateral de desacelerar a economia infelizmente é inevitável. Por esse motivo, o ideal seria usar mais o instrumento fiscal do que o monetário. Raul Velloso: o principal problema brasileiro é a questão fiscal CN: Por que razão a taxa de risco brasileira é bem mais alta que a dos demais países emergentes? RV: Porque nesses há algum motivo para esses temores serem menores, seja porque são tradicionalmente austeros ou outros motivos (por exemplo: diz-se que se a Turquia ameaçar não pagar sua dívida, o governo americano, por razões de segurança na área, terminará socorrendo aquele país e evitando o pior). CN: O aumento da taxa de risco do país implica necessariamente no aumento da taxa cambial? Por quê? RV: Sim, como mostra a experiência recente, pois, quando isso ocorre, saem recursos expressivos (conta de capital do Balanço de Pagamentos) para o exterior, ou não entram novos recursos capazes de alimentar o processo. CN: Usada para combater o desvio das taxas de inflação relativas às metas anteriormente fixadas, a Selic não pode levar igualmente ao aumento da dívida pública? RV: Sim, esse é o nosso grande dilema. Como boa parte da dívida é indexada à Selic, o ajuste fiscal acaba tendo de vir com peso elevado de qualquer forma. CN: Neste cenário, com alta da Selic e do câmbio, como se desenha a questão da dívida pública? RV: Para não explodir, é preciso aumentar o superávit primário. CN: De que maneira o Ministério da Fazenda conseguiu reduzir a razão entre dívida pública e PIB? RV: Aumentando o superávit primário global. Em 1998, era praticamente zero. Hoje acaba de ser anunciada o aumento da meta para 4,5% do PIB no ano de 2004. CN: A inflação está sob controle? RV: Sim, graças, principalmente, ao regime de metas em vigor. é escolhido para integrar o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas O presidente do Conselho Federal de Economia (COFECON), Humberto Tannús Júnior, enviou recentemente carta ao Ministério das Relações Exteriores parabenizando o ministro Celso Amorim pela inclusão do Brasil no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC). No último dia 28 de outubro, o Brasil foi eleito para um mandato de três anos como membro do ECOSOC na ONU. Na opinião de Tannús Júnior, a escolha do Brasil é importante por inserir o país no contexto internacional dentre os demais países cujas decisões norteiam o debate dos temas econômicos e sociais mais relevantes. Segundo o Itamaraty, o ECOSOC é composto de 54 membros e constitui-se em um dos principais órgãos da ONU. As eleições para o Conselho Econômico e Social ocorrem anualmente no âmbito da Assembléia Geral das Nações Unidas, com a participação de todos os Estados-membros. O Brasil 10 www.cofecon.org.br está entre os países que mais vezes integraram o ECOSOC desde a criação da Organização. Combate à fome O Governo brasileiro atribui grande importância ao fortalecimento do ECOSOC, no contexto de uma reforma ampla das Nações Unidas, que habilite a Organização a enfrentar os desafios do combate à fome e à pobreza, da promoção do desenvolvimento e da manutenção da paz e da segurança internacionais Nos termos da Carta das Nações Unidas, o ECOSOC é responsável por temas econômicos, sociais, culturais, educacionais, de saúde e outros assuntos correlatos, bem como pela promoção do respeito e da observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Entre suas funções mais importantes, está o acompanhamento da implementação dos resultados das conferências das Nações Unidas sobre temas econômicos e sociais e, em coordenação com o Conselho de Segurança, a assistência das Nações Unidas a países em situação de pós-conflito Presença Singular Entre os órgãos subsi-diários do ECOSOC que no momento contam com a presença do Brasil incluem-se a Comissão de Direitos Humanos, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável, a Comissão sobre a Situação da Mulher, a Convenção de Prevenção do Crime e Justiça Penal, a Comissão sobre Entorpecentes e a Comissão de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, além do Grupo ad hoc de apoio à Guiné-Bissau. PPosition osition PPaaper Parceria Público Privada O debate em torno da Parceria Público Privada passou a ocupar, recentemente, o centro dos debates sobre a política econômica nacional. E isso representa grave distorção. O Poder Público no Brasil chegou a poupar, no passado, o equivalente a 4% do PIB registrando hoje taxa negativa de poupanças. O resultado foi a rápida deterioração da infra-estrutura econômica do país, de responsabilidade fundamentalmente governamental. Com a PPP recorre-se à poupança privada para compensar a insuficiência da poupança pública.E com o objetivo de atrair o investidor particular para o setor de infra-estrutura, o Governo garante lucros assumido a totalidade, ou a parte mais substancial, dos riscos do empreendimento. Constitui uma falsa solução porque a poupança privada é igualmente insuficiente. As poupanças totai do país, que atingiram 25% do PIB no passado, se acham hoje bem abaixo dessa percentagem e muito longe do mínimo de 30% que a experiência dos países asiáticos revela indispensável à taxas aceleradas de crescimento. A solução correta não é, assim, desviar recursos do setor privado, onde também as disponibilidades para investimento são escassas. O correto é adotar providências necessárias para que a poupança nacional volte aos níveis requeridos pelo bom andamento da Economia. de caráter imediato também não pode ser aceita. Se bem que nova estratégia de desenvolvimento constitua requisito fundamental, ela pode e deve ser acompanhada de medidas com efeitos de curto prazo. Entre estas está a redução da elevadíssima taxa de juros vigente no país, notoriamente uma das causas básicas da debilidade financeira das três esferas de Governo. Medida essa dentro da capacidade do Banco Central, desde que se disponha a adotar, caso se revele necessário, ações de emergência como a centralização do câmbio, controle das entradas e saídas de capital e metas mais elevadas de inflação. Em vez da adoção de medidas corretas para eliminar as deficiências de infra-estrutura, o recurso às PPPs vem se generalizando no país. Estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás se antecipam à legislação federal anunciando a adoção de medidas destinadas a viabilizar, desde logo, a adoção das PPPs. A par disso, propostas se multiplicam no sentido de ampliar o campo de aplicação do instrumento e a aumentar sua atratividade para o investidor privado. Ou seja, a PPP começa a se transformar numa espécie de panacéia universal para os males econômicos do país. E a forma de obter esse resultado se acha claramente expressa na literatura recente sobre o desenvolvimento econômico, inspirada na experiência dos bem sucedidos países asiáticos. Mostra ela que, uma vez a adotada estratégia correta de desenvolvimento, as poupanças crescem espontaneamente. Naqueles países, não foi a elevação de poupanças que determinou o incremento acelerado do PIB, mas estratégia correta de desenvolvimento, que resultou em maiores poupanças. No Brasil, se as poupanças se revelaram insuficientes nas últimas duas décadas e meia, foi porque persistíamos em estratégia errada de desenvolvimento. Ou seja, a verdadeira solução, para corrigir as graves deficiências da infra-estrutura nacional consiste, não em medidas pontuais, mas em nova política macroeconômica que recoloque o país na trilha do crescimento acelerado. Ora, essa generalização pode implicar em graves conseqüências de prazos médio e longo para o país. Antes de mais nada, tende a consolidar a idéia de que investimentos em infra-estrutura representam aspecto fundamental das políticas de desenvolvimento. Quando tal papel cabe aos investimentos diretamente produtivos. Estes se verão, inclusive, dificultados pelo desvio de margem substancial de poupanças para a infra-estrutura. A experiência concreta mostra, outrossim, que, a prazos longo e médio, as PPPs determinam pesados ônus sobre as finanças pública. Problema desse tipo foi o observado na experiência brasileira no século XIX, quando o Governo garantiu níveis mínimos de lucratividade a investimentos de infra-estrutura. As responsabilidades financeiras resultantes revelaramse de tal monta que ele viu-se obrigado a assumir empreendimentos inicialmente concedidos à iniciativa privada. Dificuldades do mesmo tipo foram registradas na Inglaterra. A alegação de que tal é solução de longo prazo e os problemas de infra-estrutura do país exigem medidas A par disso, a garantia de lucros, ou o fato de o Governo assumir riscos, patrocina a ineficiência. O objetivo básico de se obter o máximo de resultados com o mínimo de investimentos desaparece dado que, quanto maiores os investimentos, mais elevados os lucros. Finalmente, a generalização das PPPs constitui o primeiro passo para o que se poderia chamar de um capitalismo sem riscos. Contra o qual existem duas importantes objeções. Em primeiro lugar, a aceitação do risco se acha na essência do sistema capitalista. É exatamente esta que garante a procura da eficiência operacional. Em sentido contrário, falta dela é freqüentemente apontada como uma das causas do colapso da experiência socialista. Em segundo lugar, na medida que se multipliquem as oportunidades de investimento sem riscos em infra-estrutura, as aplicações em atividades diretamente produtivas serão desencorajadas. Fato de extrema gravidade porque justamente destas depende o sucesso das políticas de desenvolvimento. Nesse contexto, torna-se importante definir a posição do BNDES. O papel dessa instituição financeira, de grande importância no desenvolvimento do país, é financiar investimentos em atividades diretamente produtivas, o que exclui qualquer apoio seu ao programa PPP, orientado fundamentalmente para a infra-estrutura econômica. E, em suma, é fundamental evitar erro desse tipo, cometido no passado, quando o Banco desviou fundos importantes para apoiar o programa de privatização. Isso não significa que se deva condenar, de forma liminar e radical, as PPPs. No contexto das graves dificuldades de infra-estrutura que vitimam o país, resultantes de 25 anos de semi-estagnação, isso seria pouco realista. A PPP pode e deve ser aceita mas fundamentalmente enquanto medida de emergência e, portanto, de uso estritamente limitado. Sistema de controle destinado a garantir que seja usada apenas em situações críticas ou de alta prioridade se faz, assim, necessário. As iniciativas estaduais com relação às PPPs devem se coibidas. A utilização do instrumento deve, finalmente, ser limitada no tempo ou, especificamente, ao período em que medidas do tipo acima referido, destinadas a garantir a retomada do desenvolvimento, não tenham produzido resultados. EXPEDIENTE Presidente Humberto Tannús Júnior Vice-Presidente Pedro Moreira Filho CONSELHEIROS Humberto Tannús Júnior Pedro Moreira Filho Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, Marco Aurélio Loureiro, Edson Francisco Stein, Nei Jorge Correia Cardim, Sidney Pascoutto da Rocha, João Paulo de Almeida Magalhães, Luiz Alberto de Souza Aranha Machado, Sideval Francisco Aroni, Robespierre do O’ Procópio Barreto, Alejandro Kuajara Arandia, Sergio Roberto Bacury de Lira, Nilton Pedro da Silva, Mário Sérgio Fernandes Sallorenzo, CONSELHEIROS SUPLENTES Marcus Antônio Moreira Calheiros, Paulo Salvatore Ponzini, Luiz Augusto Lopes Espíndola, Sebastião José Balarini, Liduíno Cunha, Paulo Roberto de Magalhães Guedes, Eriksom Teixeira Lima, Leandro Domingos Teixeira Pinto, Maurício Aucar Seffair, Célio Fernando Bezerra Melo, Pedro Andrade de Oliveira, Carlos Theobaldo de Souza, Iberê Luiz Di Tizio, Edivaldo Teixeira de Carvalho, Wagner Borges, Coordenação Editorial Coordenador: Conselheiro Robespierre do O´Procópio Superintendente: Antonio José Guerra Jornalista Responsável: Rita de Cássia Arruda Registro Profissional: DF3701JP Projeto Gráfico e Diagramação: Creare Design Telefone: (61) 3963-0262 Cofecon Setor Comercial Sul, quadra 2, bloco B, sala 501 – Edifício Palácio do Comércio, Telefone: (61) 224 4385 – Brasília – DF E-mail: [email protected] Críticas, opiniões e sugestões podem ser encaminhadas no e-mail: [email protected] www.cofecon.org.br 11 Ar tig tigoo Criatividade: ferramenta para conquista de diferencial competitivo Conhecendo melhor o funcionamento do cérebro, foi possível ampliar o conhecimento sobre a criatividade. A partir daí, diversos tabus foram caindo: 1º) A criatividade não é um dom natural, com o qual algumas pessoas nascem e outras não Þ Todos nós possuímos um potencial criativo a ser desenvolvido, independentemente da personalidade de cada um. 2º) Criatividade não pode ser confundida com magia Þ Isso implicaria em que as pessoas criativas seriam conhecedoras de algum truque ou algo do gênero, inacessível às pessoas comuns. 3º) Criatividade também não é mistério Þ Portanto, nada de imaginar que a fonte da criatividade seja algo misterioso ou secreto. 4º) Criatividade não significa loucura Þ As pessoas criativas não precisam ser ou aparentar ser loucas ou excêntricas. É bom deixar claro, no entanto, que o estudo da criatividade não se iniciou apenas no fim do século passado. Embora possa parecer estranho para muita gente, a criatividade vem sendo objeto de estudo desde 1900, quando o francês Theódulo Ribot publicou um livro intitulado “A imaginação criadora”, onde se encontram noções embrionárias de pessoa e processos criativos. Meio século se passou sob a denominação de “imaginação”, acompanhada muitas vezes do qualificativo “criadora”, até que em 1950 Guilford a batiza com o nome de Criatividade. De lá para cá, as pesquisas se intensificaram, podendo-se falar na existência de três gerações de pesquisadores. A primeira, voltada para o “pensamento criativo”, enfatizava o desenvolvimento de habilidades (anos 50). Essa geração não conseguiu despertar o interesse da sociedade em geral para o tema da criatividade, por isso os estudos e eventuais avanços ficaram restritos aos limites dos consultórios e das clínicas de psicólogos e neurofisiologistas que se debruçaram sobre ele. A noção de criatividade esteve nessa fase associada à capacidade de fazer algo diferente. Diversas definições surgiram, sendo a que mais me agrada a de Charles ‘Chic’ Thompson, “a capacidade de olhar a mesma coisa que todos os outros, mas ver algo diferente nela”1. A segunda, voltada para a “solução criativa de problemas”, dava ênfase à produtividade, alertando, assim, para um fato relevante para o mundo dos negócios: a criatividade pode se constituir numa importante ferramenta para a obtenção de vantagem competitiva. Para essa geração, a criatividade incorpora um fator fundamental para quem vive num ambiente competitivo, a agregação de valor. Portanto, o conceito de criatividade passa a ser “a capacidade de fazer existirem coisas novas ou únicas e que agreguem valor”. Já então o interesse pela criatividade aumentara muito, extrapolando os estreitos limites a que estivera contido e passando a receber a atenção de núcleos especializados em universidades e institutos de pesquisas, primeiro nos Estados Unidos, depois na Europa. Importantes contribuições vêm a público, entre as quais as de Alex Osborn, Edward DeBono, Paul Torrance e Tony Buzan. Esta visão da criatividade, focada no mundo dos negócios e relacionada à inovação e ao empreendedorismo, é a predominante na FAAP, onde criatividade é disciplina obrigatória em todos os seus cursos, quer de graduação, quer de pós-graduação2. Mais do que nunca, as empresas precisam estar aptas a oferecerem bens e serviços capazes de encantarem o consumidor. Esta, aliás, é uma das coisas de que nem todos se aperceberam. Muita gente ainda pensa que a palavra qualidade continua a se constituir no ingrediente com o qual as empresas conseguem a fidelidade de seus clientes e a liderança em seus respectivos mercados. Isto, na verdade, já se tornou coisa do passado. No mundo globalizado, os padrões de qualidade são uniformizados e os bens e serviços são classificados de acordo com padrões internacionais. Nesse mundo, qualidade deixou de ser diferencial e passou a ser pré-requisito. Sem esses padrões internacionais de qualidade as empresas não podem sequer participar do competitivo e cada vez mais seletivo comércio internacional. E a palavra que tomou o lugar da qualidade como fator diferencial foi a palavra encantamento, ou seja, o objetivo das empresas passa a ser o fornecimento de bens ou serviços que vão além das expectativas dos consumidores. Daí a importância crescente da criatividade, pois é através da inovação que muitas empresas têm conseguido surpreender e encantar os consumidores, oferecendo-lhes algo que supera suas próprias expectativas. Foto: Bueno A década de 90, última do século XX, foi chamada por muitos analistas de década do cérebro. Por outros, de década do conhecimento. Por outros ainda, de década da inteligência. E houve também quem a chamasse de década da criatividade. A rigor, todos estão certos, uma vez que há estreita relação entre todas essas denominações. O importante a ressaltar é que no fim do século XX o ser humano se deu conta, definitivamente, da importância da inteligência, do conhecimento e da criatividade para o seu próprio melhor desempenho e, por extensão, da sociedade de uma forma geral. Para isso, um primeiro passo consiste em saber como funciona o nosso cérebro. Foi exatamente aí que tudo teve origem. O final do século XX viu o conhecimento sobre o cérebro humano deixar de ser assunto de um reduzido bando de especialistas para se transformar num assunto de interesse muito mais amplo, a ponto de se tornar, por diversas vezes, matéria de capa das revistas de maior circulação no País. Luiz Alberto Machado Diretor da Faculdade de Economia da FAAP, professor de Criatividade nos cursos de pós-graduação da mesma instituição e conselheiro do COFECON Já a terceira geração dá ênfase à idéia da autotransformação, acreditando que uma pessoa não poderá desenvolver a criatividade, mudando a maneira de ver o mundo e de fazer as coisas, se antes ela não se transformar por dentro. Para tanto, é necessário investir primeiro no autoconhecimento; depois, uma vez estando a pessoa convencida da necessidade de desenvolver a criatividade, na autotransformação. Passada a fase da disseminação da importância da criatividade, estamos agora entrando numa nova etapa. Como diz Saturnino de la Torre3, “a criatividade foi considerada como uma atitude ou qualidade humana pessoal e intransferível para gerar idéias e comunicá-las, para resolver problemas, sugerir alternativas ou simplesmente ir mais além do que se havia aprendido”. A etapa que ora se inicia é bem diferente a aponta para novos desafios. Um século depois de seu nascimento, a criatividade se reveste de um caráter mais amplo. É como se a passagem para um novo século significasse a celebração da maioridade da criatividade, que sai da vida familiar acadêmica para abrir-se à vida social, como em outro tempo o fizeram a educação, a saúde ou a defesa do meio ambiente. De acordo com de la Torre, “a criatividade como valor social virá marcada por um novo espírito, esta vez envolto em problemas de convivência entre as diferentes civilizações e culturas que conformam a humanidade. É preciso para isso um tipo de criatividade menos academicista e mais estratégica e atitudinal. Uma criatividade comprometida com a busca de soluções a problemas sociais, aberta à vida, à juventude, ao cotidiano”. 1 Charles “Chic” Thompson, Grande idéia!, São Paulo: Saraiva, 1993, p. 24. Vale a pena ver, a esse respeito: Mirshawka. V. e Mirshawka Jr., V, Qualidade da criatividade, São Paulo: DVS Editora, 1993. 3 Criatividade, um bem social, texto mimeografado distribuído por ocasião da palestra do autor, proferida na FAAP, em outubro de 2004. 2 O COFECON NOTÍCIAS recebe, como colaboração, artigos, através do e-mail [email protected]. A publicação, no entanto, depende de aprovação da Comissão de Valorização Profissional e Mercado de Trabalho. 12 www.cofecon.org.br