20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E QUÍMICA DO RESÍDUO GRANÍTICO IBERÊ CREMA BOUDEAX, IBERÊ GOLDEN E TWILIGHT PROVENIENTE DO CORTE UTILIZANDO MULTIFIOS. S. P. Taguchi (1); P. B. Souza (1); M. C. Borlini (2); A. A. Pazeto (2); M. S. Rodrigues (1) Universidade Federal do Espírito Santo, PO-16, Guararema, Alegre, ES, CEP: 25500-000; E-mail: [email protected] (1) UFES; (2) CETEM RESUMO O Brasil está entre os principais produtores de rochas ornamentais. O beneficiamento de granitos e mármores gera uma enorme quantidade de resíduos finos, que possui potencial para a utilização como matéria prima de produtos cerâmicos. Para um tratamento adequado, armazenamento e aplicação destes resíduos são necessários fazer um estudo sobre suas características físicas e químicas. Neste trabalho foi realizada a caracterização quanto a massa específica, fases cristalinas(DRX), granulometria, microestruturas(MEV) e análises químicas(FRX). O resíduo estudado é oriundo do tear de fio diamantado de uma empresa em Cachoeiro do Itapemirim-ES. O pó apresenta massa específica de 2,65 g/cm3, com partículas angulares de tamanho de 1-200 µm. As fases cristalinas identificadas são SiO2 e Na(AlSi3O8) em maior quantidade e os demais constituintes são K(AlSi3O8) e K2(Fe2.786Mg2.321Ti0.550)(Al2.413Si5.587O20)(OH)4. A similaridade da composição química deste resíduo com alguns tipos de argilas indica a aplicação deste em produtos cerâmicos, minimizando sua disposição no meio ambiente. Palavras-chave: rocha ornamental, resíduos e caracterização. INTRODUÇÃO O setor de mineração e beneficiamento de rochas ornamentais possui significativos destaques no cenário internacional, sendo o Brasil um dos maiores produtores e exportadores. Estima-se que existam 1800 pedreiras ativas no país, 325 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil com capacidade de produção de 60 milhões de m2/ano, e, a produção e comercialização são desenvolvidas por quase 12.000 empresas (1). Sua forte atividade de extração detém diversas rochas tais como: granito, mármore, ardósia, diorito e gnaisse. Os principais estados produtores são: Espírito Santo, Paraíba, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro (2, 3). O Espírito Santo, particularmente o município de Cachoeiro do Itapemirim detém destaque especial, que além de suprir o mercado nacional, grande parte da produção de rochas é exportada principalmente para os Estado Unidos e Europa (2). Os problemas enfrentados pela indústria de exploração ocorrem na etapa de extração até o acabamento. Essas etapas gera uma quantidade de resíduos significativos que são descartados em sua grande maioria de forma inadequada, ou seja, os índices de reciclagem de resíduos em geral são ainda pequenos. Esses resíduos degradam o meio ambiente justamente devido à falta de tratamento, baixa fiscalização e descarte incorreto. (4,5). Trabalhos reportados na literatura (2, 3, 5-8) têm demonstrado o potencial da utilização de resíduos de rochas ornamentais, particularmente de mármore e granito, no desenvolvimento de produtos cerâmicos. Esses resíduos, que variam de empresa para empresa, são atrativos para o aproveitamento na indústria de cerâmica, por serem constituídos de óxido de silício (SiO2), óxido de alumínio (Al2O3), óxido de cálcio (CaO) e óxidos alcalinos (K2O, Na2O). Esses óxidos são provenientes principalmente do quartzo e feldspatos presentes no resíduo de mistura granítica. Normalmente esses resíduos possuem natureza não plástica (3). Desta forma, a adição de resíduos de rochas ornamentais é atraente para os materiais de construção tradicionais gerando produtos até mesmo com maior qualidade e/ou menor custo. O trabalho tem por objetivo fazer um estudo aprofundado das características físicas e químicas de um resíduo de rocha ornamental proveniente do corte com multifios verificando se há possibilidade do mesmo ser aplicado em um novo produto de cerâmica, ecologicamente sustentável. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho consta na coleta do resíduo, secagem, quarteamento e caracterizações: difração de raios X; distribuição de tamanho de partículas; massa específica; fluorescência de raios X e microestrutura. 326 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil A amostra de resíduos industriais de rochas ornamentais do corte com fio diamantado foi coletada em uma serralheria localizada no município de Cachoeiro de Itapemirim. Este resíduo é oriundo do corte de três tipos de rochas ornamentais: Iberê Golden, Twilight e Iberê Crema Bordeaux. Os resíduos foram secos em estufa, à temperatura de 110 ºC, até obterem peso constate e realizou-se o quarteamento manual. Esse consiste na divisão em quatro partes iguais de uma amostra, sendo tomadas duas partes opostas entre si para constituir uma nova amostra e descartadas as partes restantes. As partes não descartadas são misturadas totalmente e o processo de quarteamento é repetido até que se obtenha o volume desejado (9). O resíduo foi triturado, passado em peneira de 400 mesh e submetido ao ensaio de massa específica em picnômetro de hélio, Micromeritcs modelo AccuPyc 1330. A determinação da composição química foi realizada por Fluorescência de Raios X (Fluorescência de Raio-X MiniPal4), o qual previamente a amostra foi fundida em meio à fundentes a base de sais de lítio a 1000 oC. Foram realizadas duas medidas, sendo o resultado a média delas. A perda ao fogo foi realizada também a 1000 oC. A distribuição de tamanho de partículas foi realizada em sedígrafo Martersizer 2000, equipamento com fonte de luz vermelha (laser de neon - Hélio). O comprimento de onda definido foi de 632,38 nm, assim a faixa de tamanho de partícula medida analisada foi de 0,1 a 1000 microns. Previamente o pó foi disperso em água, com agitação de 2500 rpm, sem utilizar ultra-som. Para adequação da medida na elaboração das curvas foi utilizada a teoria de Fraunhofer, o qual não leva em consideração o índice de refração do material. O Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), marca Leica S440, foi utilizado para identificar a morfologia (por elétrons secundários) das partículas de resíduo. Para a análise das fases cristalinas, a amostra foi analisada em um difratômetro de raios X da marca PANanalytical, X’Pert Quantify, DRX, com radiação CuKα (λ = 1,5406 Å), no intervalo angular 2θ = 4–80º, passo angular 0,02º e tempo de contagem 2 segundos. As fases foram identificadas pelas fichas JCPDS. RESULTADOS E DISCUSSÃO As amostras são oriundas do tear de fio diamantado de uma indústria 327 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil localizada no município de Cachoeiro de Itapemirim. A Fig. 1 (a) mostra o poço, local onde foi retirado o resíduo com alto grau de umidade. Após secagem ao sol, Fig. 1 (c) e secagem em estufa Fig. 1 (d), a amostra apresentou na forma de pó muito fino, de coloração em tons de cinza. Para garantir a homogeneização da amostra a ser analisa, realizou-se o quarteamento. Figura 1: Foto do resíduo de rocha ornamental: (a) no poço; (b) com grande umidade; (c) depois de secado ao ambiente; (d) depois de secado em estufa. A massa específica do resíduo de rocha ornamental é de 2,65 g/cm3. A composição química do resíduo de rocha ornamental é dada pela Tab. 1. O resíduo é constituído principalmente por SiO2 e Al2O3, que corresponde a cerca de 86 %. O resíduo também possui óxidos alcalinos (Na2O, K2O), muito importantes nas formulações cerâmicas, pois atuam como agentes fundentes ajudando a sinterização das peças. Foi observada uma pequena quantidade de Fe2O3, quando comparado com outros resíduos apresentados na literatura (3, 7, 10). Neste trabalho o resíduo é oriundo de corte utilizando fio diamantado e, portanto o óxido de ferro identificado na análise de fluorescência de raios X é possivelmente da própria rocha ou de alguma fase cristalina que contém ferro, por exemplo, biotita. Tabela 1. Composição química e perda ao fogo do resíduo de rocha ornamental. Parâmetros da amostra (% m/m) MgO MnO2 TiO2 SiO2 K2O 1,09 0,05 71,6 4,1 0,03 Fe2O3 CaO 3,84 1,77 Na2O Al2O3 P2O5 PF 1000oC 2,4 14,05 0,08 0,6 A distribuição de tamanho de partículas do resíduo é dada pela Fig. 2, apresentando comportamento monomodal, com larga distribuição de partículas. O tamanho das partículas apresentam valores de aproximadamente 1 até 200 µm. 328 Volume (%) 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil Tamanho de partículas (µm) Figura 2. Distribuição de tamanho de partículas do resíduo. O resíduo, em forma de pó, apresenta morfologia heterogênea, com partículas grandes distribuídas entre as pequenas. Na Fig. 3 percebe-se a presença de aglomerados, agregados e plaquetas. Essa morfologia irregular deve-se ao processo de corte dos blocos de rochas ornamentais, gerando um pó fino, porém com formato angular. A maioria das aplicações de resíduos de rochas ornamentais em cerâmicas são para produção de tijolos, blocos, ou produtos cimentícios, onde a larga distribuição de tamanho de partícula não influencia significantemente no processo de sinterização, pois os demais constituintes utilizados para fazer estes produtos (argila ou cimento), também costumam apresentar larga distribuição de partículas, em faixas semelhantes ao resíduo. Além destas aplicações, resíduos tem sido utilizado como vidrados, e por serem submetidos a processo de fusão, a morfologia e a distribuição granulométrica nestes valores, não são fatores limitantes do processo. Figura 3. Morfologia das partículas do resíduo em diversas ampliações. A Fig. 4 apresenta o difratograma de raios X da amostra de resíduo de rocha granítica estudado. Verifica-se que do ponto de vista mineralógico é constituído basicamente de SiO2 (Quartzo), Na(AlSi3O8) (Albita), K(AlSi3O8) (Microclina) e K2(Fe2.786Mg2.321Ti0.550)(Al2.413Si5.587O20)(OH)4 (Biotita). A literatura reporta que o 329 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil granito é constituído essencialmente por feldspatos, quartzo e mica como biotita e/ou muscovita. Os feldspatos compreendem principalmente um feldspato potássico (ortoclásio ou microclina) e um ou mais plagioclásios (11). Desta forma comprova-se que o resíduo é oriundo de rochas graníticas. 50000 SiO intensidade (c.p.s) 40000 2 Na(AlSi3O ) 8 K(AlSi3O8) 30000 K (Fe Mg Ti )(Al2.413Si5.5887O20)(OH)4 2 2.786 2.321 0.550 20000 10000 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2θ(graus) Figura 4. Difratograma de raios X do resíduo de rochas ornamentais. Os resultados obtidos nesse trabalho apresentaram semelhantes aos reportado na literatura (3, 7, 10), com exceção da inferior quantidade de Fe2O3. CONCLUSÔES A composição do resíduo apresenta alguns constituintes semelhantes a algumas composições da argila, e também óxidos de metais alcalinos e alcalinos terrosos, que são considerados fundentes. Além da semelhança de composição, apresenta uma similaridade na morfologia e distribuição de tamanho de partículas, apresentando um potencial para aplicação do resíduo em cerâmicas. A aplicação de resíduo na produção de cerâmica contribui para a mitigação do impacto ambiental. Atualmente inúmeros depósitos estão inutilizados, com grande quantidade de pó aos derredores das serrarias, ou seja, a configuração de despejo de resíduos de rochas ornamentais é insustentável. Além da questão ambiental, o aproveitamento do resíduo contribui a processamentos cerâmicos mais econômicos que incentivará os produtores de 330 20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil rochas ornamentais a destinarem seus resíduos de forma mais adequada, dando a este um maior valor agregado. REFERÊNCIAS 1. CHIODI FILHO, C. Situação atual e perspectiva brasileira no setor de rochas ornamentais e de revestimento. In: III CONGRESSO BRASILEIRO DE ROCHAS ORNAMENTAIS, Natal, 2007. Anais... Natal: p. 16-40. Disponível em: http://www.cetem.gov.br/publicacao/livros/III_Congresso_Brasileiro_de_Rochas_Orn amentais_e_do_VI_Simposio_de_Rochas_ornamentais_do_Nordeste.pdf acesso em: 19 de setembro 2012. 2. MANHÃES, J. P. V. T.; MOREIRA, J. M. S.; HOLANDA, J. N. F. Variação microestrutural de cerâmica vermelha incorporada com resíduo de rocha ornamental. Cerâmica, v.55, p.371-378, 2009. 3. MOREIRA, J. M. 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ABSTRACT The Brazil is among the leading producers of dimension stones in the world. The processing of granite and marble generates a huge amount of fine-grained waste, which has a huge potential for use as raw material for ceramic products. For proper treatment, storage and application of these wastes a study on their physical and chemical characteristics is required. In this work the specific mass, crystalline phases, grain size, microstructure and chemical analysis were performed. The studied waste comes from the diamond wire loom of company from Cachoeiro de Itapemirim-ES. The powder density is 2.65 g/cm3, with average angular particles of 1200 µm. The identified crystalline phases are SiO2 and Na(AlSi3O8) in larger quantities and the other components K2(Fe2.786Mg2.321Ti0.550)(Al2.413Si5.587O20)(OH)4. The are similarity K(AlSi3O8) of the and residue characteristics with certain kinds of clay indicates its application in ceramic products, minimizing its disposal into the environment. Key-words: dimension stone, waste and characterization. 332