ASAMBLEA PARLAMENTARIA EURO-LATINOAMERICANA EURO-LATIN AMERICAN PARLIAMENTARY ASSEMBLY ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO-AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão do Desenvolvimento Sustentável, do Ambiente, da Política Energética, da Investigação, da Inovação e da Tecnologia 3.3.2015 DOCUMENTO DE TRABALHO sobre as oportunidades e os desafios da economia digital para o desenvolvimento no século XXI Correlator ALC: Dr. Adolfo Rodriguez Saá (Parlasur) DT\1052465PT.doc PT AP101.777v01-00 Unida na diversidade PT As tecnologias da informação e comunicação (TIC) estão a ter um impacto importante e positivo nas economias dos países e na economia global, de um modo geral. No entanto, é necessário que os Estados e os setores produtivos e sociais se adaptem a uma realidade em rápida evolução. Nesse sentido, colocam-se desafios à relação bi-regional América Latina e Caraíbas – União Europeia, os quais constituem igualmente novas oportunidades de ação em conjunto. De facto, observa-se que o panorama das TIC na economia latino-americana apresenta avanços, mas também desigualdades intrarregionais e sectoriais na utilização das TIC, tanto ao nível da oferta como da procura. Os desafios mais prementes em matéria económica resultam dos efeitos esperados com a adoção das TIC na produtividade das economias da região: as possibilidades são auspiciosas, mas ainda falta percorrer um importante caminho. Deste modo, é necessário um trabalho conjunto que proporcione instrumentos orientados para um aproveitamento mais equitativo e efetivo das novas tecnologias, promovendo a inclusão digital e potenciando o seu impacto em setores específicos da economia. A ECONOMIA DIGITAL NA AMÉRICA LATINA E NAS CARAÍBAS A situação das TIC na América Latina e nas Caraíbas tem sido amplamente explorada por vários intervenientes como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a CEPAL, as universidades e o setor privado. Destaca-se um estudo relevante publicado em 2012 pela CEPAL1. De acordo com este estudo, a economia digital é constituída pela infraestrutura de telecomunicações, pelas indústrias das TIC (software, hardware e serviços TIC), pela rede de atividades económicas e sociais promovidas pela Internet, pela computação em nuvem e pelas redes móveis, sociais e de sensores remotos.2 A evolução e o amadurecimento destes processos gera impactos significativos de âmbito económico e social. Em relação ao primeiro, deve considerar-se o seu efeito positivo na produtividade, no crescimento económico e no emprego. Segundo um estudo recente do BID, um aumento de 10% na difusão de serviços de banda larga na América Latina e nas Caraíbas gera um aumento médio de 3,2% do PIB e de 2,6 pontos percentuais3 na produtividade. Estas 1 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 3 Banco Interamericano de Desenvolvimento (2012): Construindo pontes, criando oportunidades. 2 AP101.777v01-00 PT 2/7 DT\1052465PT.doc tendências representam uma grande oportunidade para o desenvolvimento. No âmbito social, destacam-se os impactos na educação, na saúde, no acesso à informação, nos serviços públicos, na transparência e na participação. Por outro lado, não deve perder-se de vista a base institucional relativa aos fatores complementares. Nesse sentido, os investimentos nas TIC terão um maior impacto, se forem acompanhados pelo enquadramento económico e jurídico, pela infraestrutura, pelas capacidades dos utilizadores e pelo sistema nacional de inovação.1 O papel do Estado relativamente a estes pontos é de enorme importância. De seguida, apresentamos alguns aspetos relevantes na difusão das TIC nas economias da América Latina e das Caraíbas, assim como da União Europeia e de outros países. Desenvolvimento das TIC. O aumento crescente da despesa e da utilização das TIC implicou um crescimento da economia digital na América Latina e nas Caraíbas. Em 2011, a despesa neste âmbito foi de 295 000 milhões de dólares (8% do valor total mundial), aproximadamente 5,2% do PIB 2. Ora, durante o período 2008-2012, foi a segunda região com o crescimento mais rápido de utilizadores de Internet (com uma média anual de 15%). Apesar de a região ter também aumentado a diversidade do seu padrão de utilização, as principais lacunas respeitam a este último aspeto. Um dos obstáculos para o desenvolvimento da economia digital consiste na desigualdade das possibilidades de acesso à infraestrutura. A difusão da Internet nos três países com maior cobertura é quatro vezes superior à dos três países com menor cobertura.3 Por outro lado, os serviços de banda larga na região são mais caros e de menor qualidade do que nos países desenvolvidos. Comparando o índice de desenvolvimento das TIC da UIT em relação a esta região com o dos países da OCDE, observa-se que, em média, os países da primeira têm uma evolução moderada e que os principais êxitos (infraestrutura e acesso), bem como as maiores lacunas (utilização das TIC), são consistentes com as estratégias digitais adotadas. Estima-se, por isso, um atraso superior a uma década. Comércio eletrónico. Uma das áreas em que a região evoluiu significativamente nos últimos anos foi a do comércio eletrónico, que é uma atividade-chave para o desenvolvimento da 1 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 3 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 2 DT\1052465PT.doc 3/7 AP101.777v01-00 PT economia digital. De acordo com o «índice de plataforma do comércio eletrónico»1 na região, destacam-se o Chile (49 pontos), o Brasil (44), o México (36), a Venezuela (32), a Argentina (30) e a Colômbia (29). O país com maior desenvolvimento da referida atividade no mundo é a Noruega (84 pontos).2 Contribuição para o PIB. O setor da economia relacionado com as TIC representa um importante contributo para o PIB. A partir da estimativa da contribuição da economia digital segundo a metodologia do valor agregado de contas nacionais elaborada pela LA-KLEMS (CEPAL), pode constatar-se que, nos países desenvolvidos, as estimativas para 2007 indicam que a contribuição foi de 6,8% no Japão, 6,4% nos Estados Unidos e 5,0% para a média dos países da União Europeia. A contribuição da economia digital para o PIB regista 3,9% na Argentina, 3,6% no Brasil, 2,8% no México e 2,6% no Chile.3 Estes números não incluem o valor agregado de outras atividades conexas, como o setor financeiro, o serviço postal e as indústrias criativas. Investimento nas TIC. Verifica-se em diversos países, como no Japão e nos países da União Europeia, que o investimento em TIC contribuiu significativamente para o crescimento e para a produtividade.4 Na América Latina e nas Caraíbas, o investimento não é uniforme, o que significa que ainda há muito para fazer. Produtividade. As diferenças na produtividade dos países explicam-se também pela variabilidade na difusão e no desenvolvimento das novas tecnologias. Além disso, devem ter-se em consideração os fatores complementares no âmbito do tecido empresarial, da indústria e do contexto institucional que, interagindo com o desenvolvimento das TIC, geram externalidades positivas, derrames tecnológicos em relação a outros setores e aumentos de produtividade em toda a economia5. Em termos gerais, o relatório da CEPAL indica que o impacto positivo da informatização na produtividade dos países da América Latina e das Caraíbas é menor do que nos países desenvolvidos.6 Consequentemente, este é um dos desafios mais importantes a ser abordado. O setor das telecomunicações e o mercado latino-americano. O mercado latino-americano de serviços de telecomunicações gerou 141 000 milhões de dólares em 20107. Foi uma 1 Considera, entre outras variáveis, as facilidades para os pagamentos em linha, a proteção legal dos consumidores deste tipo de comércio, as condições de logística e de distribuição, bem como a infraestrutura da Internet. 2 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 3 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 4 Jorgenson, 2005; Timmer e outros, 2007 em CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 5 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 6 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 7 CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. AP101.777v01-00 PT 4/7 DT\1052465PT.doc alternativa de expansão para algumas das principais operadoras internacionais, especialmente na Europa, que procuravam novas fontes de crescimento, e transformou-se num dos principais destinos do investimento estrangeiro direto na maioria dos países da região, com mais de 33 000 milhões de dólares de investimento em 2011.1 Além disso, apresentou taxas de crescimento anuais muito superiores à média mundial, suportadas principalmente pelo auge dos serviços móveis e conquistando a migração para as tecnologias 3G, apesar de a difusão destes serviços ainda ser baixa quando comparada com as economias desenvolvidas. As TIC nas empresas. Segundo o relatório da CEPAL, constata-se um forte crescimento na adoção de TIC básicas nas PME. Apesar disso, não se verifica uma redução na diferença de produtividade. Nas agendas digitais da região observa-se uma presença reduzida de políticas para promover a adoção de TIC nas empresas. Segundo a CEPAL, dos 26 países da região que definiram uma agenda digital, apenas 11 incluíram como orientação estratégica uma componente de TIC e o setor produtivo. Aliás, esta componente refere-se apenas às PME e não está orientada para a melhoria da produtividade e da competitividade no cômputo geral da estrutura produtiva. Embora existam programas específicos, esta situação contrasta com as políticas adotadas nos países de maior desenvolvimento2. As TIC e as desigualdades. A existência de desigualdades económicas e educativas condiciona substancialmente as possibilidades de utilização da Internet pelas pessoas, em particular na América Latina e nas Caraíbas. Este facto implica que toda a política pública no âmbito das TIC deve contemplar uma componente de inclusão. Nesse sentido, até mesmo da perspetiva do género se observam disparidades. Na América Latina e nas Caraíbas, as mulheres estão em situação de igualdade em relação aos homens no que respeita ao acesso à Internet, mas encontram-se em clara desvantagem relativamente à sua utilização. Do mesmo modo, segundo o relatório elaborado pela UIT, em média, as mulheres representam 30% do pessoal técnico operacional, apenas 15% dos quadros diretivos e somente 11% dos profissionais de planificação e de estratégia do setor das TIC.3 POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO CONJUNTA ENTRE A UE E A ALC 1 fDi Intelligence (2012): The fDi Report. CEPAL (2012): Economia digital para a mudança estrutural e a igualdade. 3 CEPAL: Mulheres na economia digital. 2 DT\1052465PT.doc 5/7 AP101.777v01-00 PT Como acima referido, verifica-se um progresso da economia digital na região e é possível aproveitar os benefícios das novas tecnologias e colocá-las ao serviço de um desenvolvimento sustentável e equitativo. No âmbito da Parceria Estratégica Bi-regional UE-ALC, tem vindo a trabalhar-se em diversas linhas de ação relacionadas com a difusão das TIC e da sociedade de informação. Assim, foi criado o programa @LIS para promover a sociedade da informação entre a Europa e a América Latina. Nesta última região, encontra-se particularmente em desenvolvimento o Plano de ação sobre a sociedade da informação e do conhecimento da América Latina e das Caraíbas (eLAC 2015), que estabeleceu uma profícua cooperação com o programa @LIS. Neste âmbito, é oportuno promover uma estratégia que permita superar as barreiras e assimetrias que dificultam o desenvolvimento da economia digital, seja através da produção de bens, da prestação de serviços ou do intercâmbio comercial. Por conseguinte, propõe-se as seguintes medidas: Reconhecer o direito humano à inclusão digital. Este direito humano de quarta geração que oferece um quadro político e jurídico para o desenvolvimento democrático da sociedade da informação e do conhecimento. Na economia digital, tal como noutros paradigmas do desenvolvimento, as oportunidades não se distribuem de forma equitativa, nem entre os países, nem entre as pessoas, verificando-se assimetrias que devem ser combatidas com políticas específicas. Nesse sentido, em Montevideo, em 2011, falámos de uma oportunidade para criar uma economia inovadora, capaz de gerar novos postos de trabalho com igualdade de género.1 Esta mesma Assembleia, em Lima, destacou a necessidade de reduzir a diferença digital na América Latina e de adotar as TIC como instrumentos para diminuir a desigualdade social2. Por último, deve promover-se a redução das assimetrias regionais em matéria de informatização. Consolidar um quadro de políticas que promovam a economia digital com uma perspetiva inclusiva. Esta questão implica, no âmbito do diálogo político bi-regional, analisar os novos desafios que se apresentam ao desenvolvimento da economia digital, tais como a neutralidade da rede, o desenvolvimento da infraestrutura de banda larga, em especial no que respeita à velocidade de transmissão de dados, bem como a propriedade intelectual, entre outros. 1 EuroLat (2011): Resolução Estratégias de proteção e de criação de emprego, em particular para as mulheres e jovens, Montevideu, maio de 2011. 2 EuroLat (2008): Resolução «Pobreza e exclusão social», Lima. AP101.777v01-00 PT 6/7 DT\1052465PT.doc Definir agendas específicas para a difusão e utilização das TIC em diferentes setores produtivos. É necessário vincular mais profundamente o mundo digital com as atividades produtivas, com vista a diversificar as economias e a aumentar a produtividade dos setores existentes. Por conseguinte, apresenta-se um amplo potencial de ação conjunta relativamente à incorporação de TIC nas atividades económicas específicas. Deve evoluir-se no sentido de estabelecer agendas específicas de informatização para os setores com grande relevância em ambas as regiões, tais como: a agricultura, a agroindústria, com a adoção das chamadas AgroTIC. A gestão ambiental e o desenvolvimento sustentável, em especial relativamente à aplicação de TIC ao estudo e à informação climática. A cultura, no tocante à gestão e à difusão do património cultural, e especialmente ao setor das indústrias culturais criativas, que representam um elevado potencial para o emprego jovem. O desenvolvimento destas agendas específicas deve ocorrer no âmbito das iniciativas bi-regionais de trabalho, tendo em consideração o «Espaço UE-ALC do conhecimento» estabelecido no Plano de Ação de Madrid 2010-2012. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento da sociedade da informação e do conhecimento tem influência na economia, permitindo falar de uma economia digital, que se configura como uma oportunidade incontornável para o desenvolvimento no século XXI. Atualmente, a evolução desta economia revela desafios relacionados com desigualdades, assimetrias e dificuldades no aproveitamento das suas vantagens. Nesse sentido, destacam-se possibilidades interessantes e úteis de ações conjuntas, no âmbito de um caminho que já foi proveitosamente aberto na relação bi-regional. O presente documento propõe dar novos passos nesse sentido, apresentando oportunidades de ação conjunta especialmente orientadas para uma economia digital mais inclusiva, paritária e produtiva. DT\1052465PT.doc 7/7 AP101.777v01-00 PT