XVI Jornada de Iniciação Científica PIBrc CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2007 Levantamento da Fauna de Triatomíneos (Hemiptera: Reduviidae) nos Municípios de Manaus e Rio Preto da Eva, Estado do Amazonas. José Luciano Pontes SOUZA JÚNIOR1; Paulo Edson Santos da SILVA2; Maricleide de Farias NAIFF2; Alexandra Priscilla TREGUE-COSTA3 'Bolsista PIBICjINPA; 2Colaboradores INPA/CPCS; 3 Orientador Bolsista PCIjINPAjCPCS. A Doença de Chagas na Amazônia Brasileira sempre foi considerada como uma enzootia de ciclo silvestre e o número de portadores da doença na região mostram um aumento do tipo exponencial, com mais de 300 casos de infecções agudas (Silveira, 2004). No Estado do Amazonas, o principal risco de infecção humana recai atualmente nas espécies de triatomíneos vetoras que estão relativamente avançadas na transição do habitat silvestre ao peridoméstico e doméstico, com destaque para infecção de forma acidental/oral. A informação sobre o mapa de vetores, a sua biogeografia, só pode ser gerada por meio de buscas ativas, verificando os indicadores de transmissão e os indicadores de risco, como a presença do inseto vetor em área silvestre, densas colônias em palmeiras peridomésticas e o movimento antrópico no ambiente natural que leva ao desmatamento, levando-se em consideração que a distribuição de palmeiras na Região Amazônica pode funcionar como um indicador geográfico da distribuição de vetores do gênero Rhodnius (Forattini, 1980). Com o objetivo de gerar informações sobre a fauna natural e os diferentes habitats de espécies de triatomíneos e a relação desses insetos com os tripanosomatídeos envolvidos na transmissão da Tripanossomíase, foram feitos estudos conduzidos em áreas da Cidade de Manaus como as áreas de floresta primária da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e da Vivenda Verde (Tarumã) e em locais de assentamento próximos a mata nativa no município de Rio Preto da Eva no Estado do Amazonas. As coletas na UFAM e Tarumã foram feitas em palmeiras com utilização de armadilhas adaptadas do método de Noireau (Schofield, 2004), constituídas por um recipiente plástico, envolvida por fita dupla face, sendo a parte superior telada, contendo ísca viva. Foram utilizados como isca, camundongos (Mus musculus), sendo quatro armadilhas por palmeira, acondicionadas entre a folha e o tronco, entre a parte alta do tronco e a copa da palmeira. As armadilhas foram colocadas no fim da tarde e retiradas na manhã do dia seguinte permanecendo na palmeira pelo período de uma noite. No local, foi delimitada uma área de 1 ha, dentro da qual as palmeiras foram marcadas e sorteadas de forma aleatória para posicionamento das armadilhas. No Tarumã ainda foram realizadas coletas em domicílio e no peridomicílio. No município de Rio Preto da Eva as coletas foram feitas em domicílio e peridomicílio, e também coletas realizadas com dissecção de palmeiras em busca ativa de vetores. Os triatomíneos coletados foram acondicionados em recipientes apropriados, devidamente etiquetados para posterior identificação taxonômica com utilização da chave taxonômica de Lent e Wygodzinsky, 1979. E a identificação das palmeiras foi realizada com auxílio do herbário do INPA. Posteriormente, os triatomíneos foram alimentados em camundongos de 18 dias, sendo um camundongo para cada triatomíneo. Estes camundongos foram isolados e observados para detectar a presença de Trypanosoma rangeli. Após a alimentação os triatomíneos foram acompanhados para se observar a defecação para realização de lâminas das fezes para detectar a presença de Trypanosoma cruzi. Com o resultado positivo, imediatamente as fezes foram inoculadas intraperitonialmente em cinco camundongos de 18 dias para isolar o parasito. A avaliação biológica foi realizada por exame de sangue direto, através de punção da extremidade da cauda do animal; por sangue cultivados em meio bifásico NNN, mantidos em repiques mensais até sua criopreservação. Os camundongos foram acompanhados por um período de duas semanas com observação do curso da infecção, bem como os caracteres biológicos do parasito como virulência e patogenicidade. Nas coletas periódicas, com utilização de armadilhas, no Campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e na área da Vivenda Verde (Tarumã), ambas no município de Manaus, não foram coletados triatomíneos. Nas armadilhas foram observados insetos das ordens Diptera e Hymenoptera. Em coletas na Vivenda Verde (Tarumã), em Manaus e no município de Rio Preto da Eva, nas áreas de domicílio e peridomicílio não foram detectadas a presença de triatomíneos, embora alguns moradores tenham relatado a presença de insetos parecidos nas residências. Já em coletas em área de mata na entrada do município de Rio Preto da Eva, foram dissecadas palmeiras de babaçu e Inajá. Em palmeiras Inajá (Attalea sp.) foram coletados 10 triatomíneos da espécie Rhodnius pictipes, sendo oito ninfas e duas fêmeas adultas. E em palmeiras Babaçu (Orbignya martiana) foram coletados dois triatomíneos da espécie R. robustus, sendo duas fêmeas adultas. Schofield (2004) descreve a colonização de R. pictipes em diferentes habitats, como palmeiras, bromélias e tronco de árvores caídas. Este mesmo autor relata a sinonímia de R. pictipes e R. amazonicus, sendo que este último já foi encontrado na região de Manaus. Esse material foi conduzido ao laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas da CPCS/INPA, onde os exames biológicos foram realizados. Nas lâminas de fezes dos 10 barbeiros da espécie R. pictipes, foi observada a presença de parasitos. Esse material foi inoculado em 241 XVI Jornada de Iniciação Científica PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2007 camundongos e após cinco dias foi observada a presença de Trypanosoma sp. no sangue desses animais, além de alterações no comportamento dos animais, como pêlos eriçados, morbidez e baixa motilidade. Após 14 dias de infecção, os animais morreram o que pode indicar alta virulência da cepa isolada. Essa cepa foi registrada com a identificação IM-5451. Nas análises das fezes dos dois triatomíneos da espécie R. robustus, também foi observada a presença de parasitos. Após inoculação em camundongos foram observadas características comportamentais nos animais, semelhantes àquelas apresentadas para os animais inoculados com a cepa 5451, porém o tempo para manifestação dos sintomas agudos e o tempo de sobrevida foi superior. Este fato pode indicar que a cepa 5451 é mais virulenta que a cepa proveniente de R. robustus que foi registrada com a identificação IM-5480. Estudos adicionais são necessários para confirmação e assim, fragmentos de tecidos dos animais foram preservados em fixador Millonig e Formalina a 10% para estudos histopatológicos. A não observação de triatomíneos nas armadilhas com isca animal acondicionadas nas palmeiras pode sugerir influência de fatores relacionados a isca, fita adesiva e recipiente utilizados. A ausência desses insetos no peridomicílio e domicilio nas áreas visitadas confirmam a manutenção do ciclo silvestre dessas espécies. A diferença entre o tempo de manifestação de sintomas e sobrevida dos animais infectados com as cepas 5451 e 5480 pode ser pela origem de espécies distintas de insetos triatomíneos, apesar de ambas terem sido capturadas na mesma área geográfica. Os resultados mostram a necessidade de continuidade e intensificação nas coletas de campo e estudos biológicos complementares. Palavras-Chave: Triatomíneos; Trypanosoma cruzi; Doença de Chagas. Bibliografias citadas Forattini, O.P. 1980. Biogeografia, origem e distribuição da domiciliação de Revista de Saúde Pública 14: 265-299. triatomíneos no Brasil. Lent H, Wygodzinsky P 1979. Revision of the Triatominae (Hemiptera, Reduviidae) and their significance as vectors of Chagas disease. Buli Am Mus Nat Hist 163: 125-520. Schofield, Ci l. 2004. Apparent distribution of Triatominae in the Amazon Region. In: Guhl, F. & Schofield, Ci J. 2004. Proceedings of the ECLAT-AMCHAInternational Workshop on Chagas disease surveillance in the Amazon Region, Palmari, Brazil. Universidad de Los Andes, Bogotá. 174pp. Silveira, A.C. 2004. A Doença de Chagas na Região Amazônica do Brasil. In: Guhl, F. & Schofield, Ci J. 2004. Proceedings of the ECLAT-AMCHAInternational Workshop on Chagas disease surveillance in the Amazon Region, Palmari, Brazil. Universidad de Los Andes, Bogotá. 174pp. 242