DISLEXIA A Dislexia é uma Dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE) que se manifesta ao nível da leitura. A definição avançada pela International Dyslexia Association é a mais consensual e indica que a Dislexia é uma Dificuldade de Aprendizagem Específica de origem neurobiológica. É caraterizada por problemas no reconhecimento da palavra escrita, bem como na ortografia e descodificação. Estes problemas resultam de um défice na componente fonológica da linguagem que é inesperado face às capacidades cognitivas e à instrução escolar fornecida em sala de aula. Desta forma, consequências secundárias como a incompreensão da leitura e a redução das experiências leitoras, condicionarão o desenvolvimento do vocabulário e o conhecimento académico geral (Lyon, Shaywitz, and Shaywitz, 2003). A leitura poderá parecer uma tarefa simples e automática para as pessoas que não possuem dificuldade nesta área. Todavia, constitui um processo muito complexo e desafiador, que exige a realização de diferentes tarefas num timing muito preciso. Poderemos mesmo dizer que a leitura integra a identificação dos sons das palavras e a compreensão das variações que ocorrem com a manipulação dos mesmos (consciência fonológica) e, ainda, a perceção de que as letras podem representar esses mesmos sons (princípio alfabético). Com a prática, o leitor típico efetua uma descodificação automática das palavras orientando a sua energia para a compreensão e para a memorização dos conteúdos. As crianças com Dislexia não são, pelo contrário, capazes de realizar esta automatização, pelo que a leitura permanece lenta, inexpressiva, exaustiva e obviamente, condicionada. Sabendo-se que esta constitui o elemento-chave da aprendizagem, os disléxicos manifestam dificuldades em dominar competências básicas e em obter o sucesso escolar desejado. Neste sentido, a Dislexia constitui um obstáculo para o progresso escolar das crianças, com efeitos nocivos a longo prazo no desenvolvimento das capacidades cognitivas, sociais e emocionais, para as quais pais e profissionais devem estar atentos. As repercussões da Dislexia são muitas vezes consideráveis ao nível do desempenho escolar e geral de uma criança. Se num primeiro momento, a aprendizagem da leitura é o objetivo pretendido, passará, num segundo instante, a ser uma aquisição fundamental para as aprendizagens posteriores: Aprender a ler para depois ler para aprender. De referir que as crianças e jovens com Dislexia poderão, assim, apresentar as seguintes caraterísticas: • Aprendizagem tardia e lenta das letras e dos sons que as representam; • Dificuldade no processamento fonológico; • Confusão entre letras; • Omissão e adição de porções de palavras; • Dificuldade na organização da linguagem escrita e falada; • Reduzida velocidade e entoação leitora; • Dificuldade na compreensão e interpretação leitora; • Reduzida correção ortográfica; • Escrita com interferências na legibilidade; • Reduzido repertório lexical na expressão escrita; • Dificuldade na compreensão de situações problemáticas; • Utilização de vocabulário pouco preciso no discurso espontâneo. A Dislexia, tal como as restantes Dificuldades de Aprendizagem Específicas, não está, de todo, associada a um baixo nível intelectual; pelo contrário, um disléxico revela padrões de funcionamento cognitivo na média ou acima desta. Com os métodos de ensino apropriados, a grande maioria dos alunos com esta dificuldade apresentará sucesso escolar e minimizará os sintomas mais incapacitantes. No âmbito escolar, as DAE, e nomeadamente a Dislexia, incluem-se no grupo que necessita de condições especiais de educação – Necessidades Educativas Especiais. A aprendizagem do indivíduo encontra-se afetada, havendo necessidade que a escola efetue adaptações no ensino para que o aluno possa encontrar possibilidade para evidenciar o seu potencial. Trata-se de uma perturbação de caráter permanente que afeta os indivíduos ao longo das suas vidas. As DAE sem intervenção, nomeadamente a Dislexia, não passam com o tempo, acentuam-se. Atrasos na identificação da Dislexia poderão conduzir ao agravamento das dificuldades e influenciar a autoestima do aluno. É importante reconhecer os sinais e sintomas precocemente por forma a iniciar apoio especializado. A investigação e a experiência revelam que os indivíduos com Dislexia respondem favoravelmente a uma intervenção apropriada e atempada. Apesar das características referidas as crianças com dislexia possuem diversas habilidades e áreas fortes que devem ser valorizadas e estimuladas, contribuindo para um reforço da sua autoestima. Desta forma, poderão descobrir o seu potencial e, possivelmente, optar por escolhas futuras que até então não tinham descoberto. A Dislexia não é aliás causada por interferências visuo-percetivas; não se trata de “ver as letras ao contrário” nem de fazer “inversões”. Deste modo, as terapias visuais não constituem uma resposta para a Dislexia, já que esta constitui uma perturbação no processamento fonológico. A causa exata ainda não é totalmente clara. Alguns autores afirmam mesmo que se trata de uma perturbação de causas múltiplas. Investigações que recorrem a ressonância magnética cerebral mostram diferenças no modo como o cérebro de um disléxico se desenvolve e funciona. Dada a especificidade cerebral, diferentes partes do cérebro remetem para funções particulares essenciais na leitura, comprovando que as pessoas com DAE apresentam atividade diferenciada em determinadas áreas do córtex cerebral comparativamente aos indivíduos que não possuem a perturbação. A Dislexia apresenta, por outro lado, um caráter hereditário: famílias com dislexia apresentam maior probabilidade de gerar descendentes com a mesma problemática. Os estudos genéticos realizados com gémeos ilustram-no. É assim relevante que os professores, e outros profissionais, investiguem a história familiar com o intuito de intervir de forma preventiva e precoce. Finalmente, resta referir que a área da psicolinguística indica que as crianças que apresentam um índice elevado de eficiência na linguagem oral em idades precoces apresentam maior probabilidade de se tornarem bons leitores. Por analogia, crianças com atraso na aquisição da linguagem oral manifestam desempenho inferior nas tarefas relacionadas com a leitura e escrita.