A IMPORTÂNCIA DAS OBSERVAÇÕES NA COSMOLOGIA CIENTÍFICA Jorge Paulo Maurício de Carvalho Departamento de Matemática Aplicada - Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Centro de Astrofísica da Universidade do Porto Em sentido lato, isto é, enquanto área de conhecimento, a cosmologia não é propriedade da ciência. Na verdade todos nós somos cosmólogos, no sentido em que cada um, consciente ou inconscientemente, constrói, ao longo da vida, um modelo para o Universo. Todos temos um universo. Neste sentido, é óbvia a importância da cosmologia no desenvolvimento das civilizações, não sendo por isso de estranhar o facto de todas as culturas possuírem uma cosmologia. Nesta apresentação apenas abordaremos a cosmologia científica, começando por referir algumas das suas características únicas. Uma delas, por exemplo, é o facto do objecto a estudar ser exemplar único. Com efeito, apenas dispomos de um Universo para observar. Para além desta, uma outra particularidade distingue a cosmologia das outras áreas do conhecimento científico: é a única ciência em que o cientista se encontra no interior do objecto que pretende descrever. Como exemplo das dificuldades que daqui resultam, refira-se que o modelo de Universo, geocêntrico, criado e desenvolvido pela civilização grega na antiguidade, e que perdurou durante cerca de 2000 anos, possivelmente nunca teria sido proposto, e muito menos aceite, caso o Sistema Solar pudesse ter sido observado do exterior. Se relativamente a este sistema isso é possível, já relativamente ao Universo é uma impossibilidade. Nunca nos será possível observar o Universo do exterior. Será referido em seguida como as observações permitem testar alguns dos universos que se constroem, e como, neste processo de teste científico, elas eliminam alguns dos modelos teóricos criados e propostos, sendo que são também as observações que permitem que outros modelos se desenvolvam, pelo menos enquanto forem ultrapassando novos, e cada vez mais precisos, testes observacionais. Para ilustrar este aspecto falaremos não só da descoberta (teórica e observacional) da expansão do Universo, mas também de duas das principais classes de modelos cosmológicos criadas no século XX: a dos modelos do “bigbang”, e a dos modelos de estado estacionário. Tentaremos ainda clarificar alguns conceitos, associados a estes modelos, que muitas vezes não são transmitidos da forma mais clara para um público não especialista. Finalmente, e ainda neste contexto, será evidenciada a importância dos pilares sobre os quais é construído um modelo cosmológico (científico). Se por um lado é evidenciada a necessidade de utilização de uma teoria de gravitação, neste caso a Teoria da Relatividade Geral, por outro, serão apresentados o Princípio Cosmológico Fraco e o Princípio Cosmológico Forte como pressupostos fundamentais para a construção de cada um dos modelos atrás referidos. Uma vez que estes dois princípios dão origem a modelos de Universo completamente distintos, veremos como as observações permitiram decidir, cientificamente, entre os dois universos criados, isto é, entre estas duas descrições teóricas propostas para o Universo.