BC e Fazenda se unem contra uso das reservas

Propaganda
Notícia anterior
Próxima notícia
15 jan 2016 O Globo
GABRIELA VALENTE [email protected] ELIANE OLIVEIRA [email protected]
BC e Fazenda se unem contra uso
das reservas
PT defende que US$ 370 bi de ‘poupança’ banquem ações de estímulo
Equipes de Alexandre Tombini (foto) e Nelson Barbosa resistem à insistência do PT para utilizar os US$
370 bi ­BRASÍLIA ­A insistência do PT para o governo utilizar os US$ 370 bilhões que o país guarda nas
reservas internacionais para ações que estimulem o crescimento levou o Ministério da Fazenda e o Banco
Central (BC) a alinharem o discurso para combater a ideia, considerada inadequada pelos dois principais
times da equipe econômica. Na avaliação de fontes ouvidas pelo GLOBO, em meio a turbulências
internacionais e uma grave crise de credibilidade, o Brasil não pode abrir mão deste “seguro” para pagar
despesas correntes, amortizar a dívida pública brasileira ou até financiar projetos de infraestrutura.
ANTONIO SCORZA/22­5­2015
O apego às reservas internacionais é tão grande que elas não foram usadas nem mesmo onde
poderiam ser: para interferir no câmbio e conter a escalada da moeda americana. Não deve ser diferente
agora, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO.
Outros países já tiveram a ideia de usar suas reservas internacionais para fechar as contas. Argentina
e Venezuela são exemplos disso. Aqui, a cada solavanco da economia, surgem novas possíveis utilidades
para esse dinheiro. Agora, ele é visto como um possível catalizador da atividade econômica.
No Banco Central, a proposta é combatida vorazmente. Ao contrário, se possível, o desejo é aumentar
ainda mais o volume de dólares guardados.
Desde que o Brasil perdeu a estabilidade fiscal, as reservas têm sido apontadas por investidores e
agências de classificação de risco como o ponto de segurança da economia brasileira. A avaliação dentro da
equipe econômica é que, no momento em que o BC admitisse se desfazer de reservas internacionais,
começaria uma nova rodada de turbulências no mercado.
— Quando o dólar estava subindo, a avaliação era que, se o BC admitisse vender reservas, o mercado
vinha para cima, e a gente ia perder uns US$ 100 bilhões em uma ou duas semanas — conta uma fonte.
DIVERGÊNCIA EM MEDIDAS DE ESTÍMULO
Uma outra pessoa da área econômica enfatiza que há uma razão importante para que parte desse
dinheiro não seja destinada a outras áreas: as reservas têm de existir em grande quantidade, porque, se
houver mais saída de investidor estrangeiro, o país tem de pagar esses dólares. Não devolver o dinheiro de
determinado investidor estrangeiro, sinaliza, no mínimo, controle de câmbio. Reservas servem para isso e
não para outros fins, argumenta.
— Países como China, Índia e Noruega não usam reservas cambiais para financiar infraestrutura.
Usam reservas fiscais, decorrentes dos superávits primários e colocam o que sobra deste dinheiro em
fundos soberanos — disse essa fonte.
O Brasil tem um fundo soberano e já usou recursos dele para ajudar as contas públicas no ano
passado. Por outro lado, em momentos de crise e falta de dólares para operações de comércio exterior, o
BC já ofertou linhas de empréstimos de dólares das reservas internacionais. Nesses casos, a autarquia até
lucrou com as transações.
Os defensores da ideia, no entanto, afirmam que o Brasil é um país conservador no uso das reservas
internacionais. Argumentam que é possível usar o dinheiro sem que as reservas percam a finalidade de
proteger o país de especulação financeira e fuga de recursos.
Fazenda e BC, porém, estão em campos opostos em relação à adoção de outras medidas de estímulo,
como as avaliadas pelo time do ministro Nelson Barbosa, que envolvem a ampliação do crédito direcionado
oferecido pelos bancos públicos. Como o BC está se preparando para elevar os juros, em resposta à
resistente inflação de dois dígitos, alguns integrantes da equipe econômica avaliam que o movimento da
Fazenda está “descoordenado”, pois aumentará a circulação de dinheiro na economia, o que é fator
inflacionário.
— Todo o problema econômico do país pode ser resumido em falta de coordenação­geral da economia
— queixou­se uma alta fonte da equipe econômica.
Na Fazenda, porém, o argumento dominante é que o volume de recursos a ser oferecido ao setor
produtivo não será muito grande, a ampliação do crédito é pontual e a segmentos selecionados, e
estimulará investimentos. Técnicos lembram ainda que há muita capacidade ociosa na indústria, o que
reduz o espaço para repasse de preços.
Porém, para o economista­chefe da corretora Gradual, André Perfeito, normalmente mais alinhado ao
setor desenvolvimentista do governo, aumentar a oferta de crédito no momento em que o BC deve subir
os juros, atualmente a 14,25% ao ano, é um contrassenso.
— É pisar no acelerador com o freio de mão puxado — disse ontem o economista, durante conversa
com clientes.
Impresso e distribuído por NewpaperDirect | www.newspaperdirect.com, EUA/Can: 1.877.980.4040, Intern: 800.6364.6364 | Copyright protegido
pelas leis vigentes.
Notícia anterior
Próxima notícia
Download