Análise da Economia Mundial e Conjuntura do Setor Externo

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Análise da Economia Mundial e Conjuntura do Setor Externo Brasileiro 1
Bruno Rodrigues Pinheiro 2
Paulo Sergio Ferreira 3
Introdução
Após um crescimento modesto da economia mundial em 2007, o mundo se prepara para
períodos possivelmente menos prósperos onde as principais locomotivas mundiais tendem
a ter seu crescimento arrefecido e problemas ligados a desequilíbrios globais apresentam-se
mais claramente, demandando efetivas ações de ajuste num futuro próximo. Diante desse
quadro conjuntural geral, analisaremos como as principais economias do mundo (EUA,
Europa, Japão e China), comportaram-se no ano de 2007, avaliando as perspectivas para os
períodos futuros.
A conjuntura internacional favorável continua refletindo de forma positiva no setor externo
brasileiro. A recente crise no mercado imobiliário, associado com a queda na taxa de juros
nos Estados Unidos, realimenta a tendência de permanência do crescimento mundial.
A valorização do Real, fruto do excesso de liquidez no mercado financeiro internacional,
faz com que a taxa de câmbio siga sua tendência de queda continua. Em relação à taxa
média de 2004, o real já se apreciou em 75,3%. Esse resultado é justificado pela política
monetária extremamente ortodoxa que o Banco Central vem realizando com a manutenção
da taxa de juros do Brasil como uma das maiores do mundo. Esse conservadorismo permite
um ganho de arbitragem ainda maior, pois o FED, como dito anteriormente, vem reduzindo
a taxa de juros da economia americana de forma sistemática, na intenção de evitar um
desaquecimento na sua economia.
1
Texto a ser apresentado ao NEC na reunião a ser realizada no dia 21/11/07
Aluno do Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia e bolsista do
Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC).
3
Aluno do Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia e bolsista do
Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC).
2
1. EUA
As previsões de crescimento da economia americana em 2007 giram em torno de 2%. As
perspectivas melhoraram depois do surpreendente resultado do terceiro trimestre. O
crescimento do PIB entre julho e setembro foi de 3,9%, quando os analistas previam alta de
3,1% após o resultado alto de 3,8% no segundo semestre. O bom desempenho foi
verificado em todos os setores, exceto no ramo imobiliário, e demonstra a força dinâmica
do consumo interno, que responde por ⅔ do PIB e é o motor da economia americana. Os
gastos cresceram 3,4%, no melhor trimestre nos últimos 2 anos (EUA, 2007).
Na última reunião, no fim de outubro, o Federal Reserve decidiu fazer um corte de 0,25 p.p.
na taxa básica de juros, para 4,5%, para evitar que a crise do crédito contamine os demais
setores da economia. No mês anterior, o Fed já havia reduzido a taxa de juros em 0,5 p.p.
De qualquer maneira, membros do Fed têm dado a entender que não farão novos cortes nos
juros antes de analisarem os próximos dados sobre a evolução do núcleo da inflação. Com o
dólar valorizado e o preço do petróleo pressionando a balança comercial, a inflação é um
problema que os americanos não precisam.
O índice de preços ao consumidor (PCI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em outubro, mesma
variação do mês anterior. Quando se analisa os 12 meses até outubro, o CPI teve alta de
3,5% e o núcleo, de 2,2% – o Fed considera adequada uma taxa entre 1% e 2%. Excluídos
do núcleo do CPI, o índice de preços de energia deu um salto de 14,5% em outubro, depois
da queda de 6,1% em setembro, e o índice de preços dos alimentos recuou 4,4% no período
(PREÇOS, 2007).
Em outubro, o índice de preços ao produtor subiu 0,1%. Em setembro, o mesmo índice
havia registrado alta de 1,1%. A inflação de oferta tornou-se um risco mais distante depois
que os custos trabalhistas, um dos mais importantes fatores dos custos de produção,
apresentaram alta de apenas 0,8% no terceiro trimestre de 2007, abaixo das expectativas
dos analistas. O risco são os outros custos de produção – aqueles mais sensíveis às
importações e os custos de energia.
Porém, a depender dos motivos que estão mantendo controlados os custos trabalhistas, a
notícia pode não ser tão boa para a economia americana. Em um momento em que o
consumo interno segura a economia em meio a restrições de crédito, o aumento do
desemprego é certeza de recessão. Os pedidos por auxílio-desemprego no Departamento do
Trabalho cresceram em 20 mil na semana encerrada no dia 10 de outubro, para 339 mil
pedidos, sob os 219 mil da semana anterior, o dobro do que os analistas previam. Um mau
sinal.
Todas as análises são pessimistas na avaliação da economia americana a partir do quarto
trimestre desse ano. Embora os analistas não acreditem em recessão, as previsões de
crescimento para 2008 são baixas. O prognóstico mais negativo é da revista “The
Economist”, cuja opinião é de que a crise imobiliária afetará mais a economia americana do
que se tem previsto e prevê crescimento de 1,9% do PIB no próximo ano. Relatório da
Associação Nacional para a Economia Empresarial é mais otimista, e prevê crescimento de
2,6% da economia americana. O mesmo relatório prevê aumento do déficit federal de
US$ 163 bilhões no ano fiscal de 2007 para US$ 215 bilhões em 2008.
O enfraquecimento do setor imobiliário e as restrições do sistema creditício são os fatores
principais da desaceleração econômica dos EUA. Os investimentos em construção civil
caíram 20% no terceiro trimestre de 2007, uma aceleração importante no índice, que teve
queda de 11,8% no segundo trimestre (EUA, 2007).
Também é grave o encadeamento da crise imobiliária, já que a inadimplência nos
segmentos de hipotecas de risco afetou o sistema de crédito americano. Segundo Jan
Hatzius, analista do banco americano de investimentos Goldman Sachs, empresas
concessoras de crédito podem perder algo em torno de US$ 400 bilhões com empréstimos a
receber.
O economista afirma que, se as perdas chegarem à metade desse valor, as empresas
reagiriam de forma agressiva e poderiam retirar US$ 2 trilhões do país. “Esse é um choque
enorme. Corresponde a 7% da dívida total nas mãos dos setores não-financeiros dos EUA.
Nossa conclusão é de que as perdas prováveis com a crise das hipotecas colocam um risco
macroeconômico significativamente maior que o geralmente admitido”, diz Hatzius
(CRISE, 2007). John Stumpt, presidente-executivo do Wells Fargo, um dos maiores bancos
dos EUA, afirma que “nós não assistimos uma crise nacional no setor imobiliário deste
tamanho desde a Grande Depressão” (AÇÕES, 2007).
O dólar despencou nas últimas semanas, depois que a desconfiança nos fundamentos da
economia americana se agravou com a crise imobiliária. Ocorre que o próprio dólar é um
dos mais importantes destes fundamentos e ele já vinha perdendo força desde 2002 frente
ao euro, quando acabou a paridade entre as duas moedas. A crise só intensificou o processo.
O presidente dos EUA, George W. Bush, e as autoridades monetárias do país têm se
esforçado para apresentar confiança quanto à capacidade da moeda de manter-se como
referencia internacional. Mas o mundo teve um surto na semana passada, quando fontes
oficiais informaram que a China analisava acumular reservas em euro, atualmente mais
forte que o dólar.
As autoridades econômicas chinesas se apressaram em tranqüilizar o mercado: o país
manterá suas reservas em dólar, assegurou Yi Gang, vice-presidente do Banco do Povo da
China, o banco central chinês (CHINA, 2007). Os EUA têm pressionado a China por
reformas que desvalorizem a moeda chinesa. “A China precisa de uma política de preços
mais flexível e, sobretudo, de uma taxa de câmbio determinada pelo mercado”, disse o
secretário do Tesouro americano, Henry Paulson (PAULSON, 2007). Agora, a tarefa do
yuan é salvar a moeda americana.
Com o dólar fraco, as exportações vêm crescendo e o déficit comercial dos EUA caiu 0,6%
em setembro, para US$ 56,5 bilhões, o nível mais baixo dos últimos anos. No terceiro o
trimestre, as exportações deram um salto de 16,2%, beneficiada por uma economia global a
pleno vapor mesmo sem grande ajuda motor americano.
2. União Européia
A União Européia vinha sendo responsável, junto à China, pelo motor da economia
mundial com a desaceleração observada nos EUA. Mas a crise americana afeta cada vez
mais os 27 países que compõem a UE, somada às elevações do preço do petróleo e à
instabilidade do sistema financeiro internacional. Assim, as previsões de crescimento do
bloco mostram uma visível desaceleração: 2,9% em 2007 e 2,4% em 2008 e 2009. Os
dados são da Comissão Européia, o órgão executivo da UE (UE, 2007).
A mesma tendência à desaceleração em 2008 é sentida nas duas principais economias da
UE, que deverão crescer menos que a média do bloco em 2007. A Alemanha deve ter um
aumento de 2,4% no PIB em 2007, arrefecidas para 2,1% em 2008, segundo os
prognósticos do instituto de estudos econômicos DIW.
O Instituto Nacional de Estatística da França, o Insee, prevê crescimento de 1,8% para o
país em 2007, contra os 2,0% da análise do Governo. O baixo desempenho do terceiro
trimestre (+0,7%) confirma as expectativas ruins, depois de 0,3% no segundo e 0,6% no
primeiro semestre. Para 2008, os analistas prevêem crescimento entre 2,2% e 2,4%.
A ministra da Economia e Finanças da França, Christine Lagarde, acredita que o
crescimento do PIB francês pode chegar a 2,75% a depender dos resultados da reforma
fiscal de orientação ortodoxa que o Governo pretende implementar. O presidente, Nicolas
Sarkozy, se comprometeu a zerar o déficit das finanças públicas do país até 2012. As
medidas provocaram insatisfação popular e greve de funcionários públicos (FRANÇA,
2007).
Na última reunião, Banco Central Europeu (BCE) manteve estável a taxa de juros do bloco,
em 4%, como já era previsto. Mas as pressões inflacionárias têm aumentado os riscos de
alta indesejável dos preços, graças às altas cotações do petróleo. Segundo o Departamento
de Estatísticas Europeu (Eurostat), a inflação entre setembro e outubro foi de 0,5%, tanto na
zona do euro quanto no conjunto da Europa.
O conjunto dos 27 países que formam a União Européia cresceu 0,8% no terceiro trimestre
de 2007, segundo o Eurostat. O crescimento em relação ao mesmo trimestre de 2006 é de
2,6%, superior em 1 p.p. às estimativas da consultoria financeira Thomson Financial.
Já a zona do euro teve incremento de 0,7% no PIB no período. O resultado, entretanto, foi
maior que no segundo trimestre, quando os países registraram crescimento de apenas 0,3%.
Em 12 meses, o PIB da zona do euro progrediu 2,6%, contra 2,5% no trimestre anterior.
3. Ásia
Em setembro, a produção industrial da Índia cresceu 6,4%, comparado ao mesmo mês do
ano passado, embora esse crescimento tenha sido abaixo dos 10,7% do mês anterior. A
desaceleração se deve à política econômica de perfil menos expansivo que tem sido adotada
pelo governo indiano, com aumento das taxas de juros (foram cinco aumentos entre meados
de 2006 e março deste ano) e valorização da rúpia em relação ao dólar (PRODUÇÃO,
2007).
O Governo comemora o sucesso da política, pois vinha recebendo duras críticas graças à
tendência inflacionária que a economia estava enfrentando. Na semana que terminou em 27
de outubro, entretanto, a inflação caiu para 2,97%, a taxa mais baixa em cinco anos e
projetando perspectivas melhores que a meta de 5% das autoridades monetários do país.
Porém, a valorização da moeda é um dos fatores responsáveis pelo aumento do déficit
comercial do país, que chegou a US$ 36,923 bilhões, entre abril e setembro de 2007, uma
alta expressiva de 41% em relação ao mesmo período do ano anterior. Enquanto as
exportações cresceram 18,52% no período, para US$ 72,28 bilhões, as importações subiram
25,5%, para US$ 109,204 bilhões, em relação ao mesmo semestre do ano passado.
A economia do Japão mantém seu ritmo de crescimento estável em 2007. O superávit em
conta corrente alcançou US$ 17,68 bilhões em agosto, crescimento de 42,1% em termos
anualizados, segundo o Ministério das Finanças japonês. Isso se deve principalmente ao
crescimento de 185,2% nas exportações do país, que alçaram o montante de US$ 7,58
bilhões no mesmo período. Foi o 45º mês de alta consecutiva das exportações (JAPÃO,
2007).
A produção industrial cresceu 3,4% no mesmo período, quando os economistas previam
aumento de 3,1%. A OCDE estima crescimento de 2,4% para a economia japonesa em
2007, enquanto o Banco Central do Japão (BoJ) prevê 2,1%. O crescimento é baseado no
investimento privado, com lucros em alta, mas o Japão sofreu queda no consumo familiar e
a expansão foi menor no segundo semestre.
A crise política vivida nos últimos meses ainda não chegou ao fim. Os problemas
começaram quando a oposição ao Governo ganhou maioria na Câmara Alta do país
(Senado), o partido do Governo se viu em má reputação após escândalos de beneficiamento
em obras públicas e o então premiê renunciou ao cargo. No Governo de Junichiro Koizumi,
o Partido Liberal Democrata, que está no Governo desde o fim da Segunda Guerra
Mundial, implementou uma série de reformas liberalizantes que a população japonesa
acredita ter agravado a situação do país e o novo premiê escolhido pelo partido, Yasuo
Fukuda, não parece ter as respostas para a solução da crise política instaurada no país.
O atual premiê foi o braço direito de Junichiro Koizumi na implantanção das reformas e
acredita no aprofundamento delas. “As reformas ainda são necessárias. Talvez
necessitemos uma reforma ainda muito maior”, diz Fukuda (PILLING, 2007).
A conjuntura econômica trouxe mais um problema para o Governo de Fukuda há algumas
semanas. Uma rápida valorização da moeda japonesa frente ao dólar, ainda mais pela má
fase da economia americana, tem atemorizado os exportadores em um momento em que a
demanda interna está frágil e sem dinamismo. O país é vulnerável a um choque externo,
pois a demanda externa é responsável por ⅔ do crescimento total da economia.
O PIB da China deve crescer 11,2% em 2007, contra 11,1% no ano anterior, segundo
estimativas oficiais. Os destaques são para o consumo interno, com alta de 6,4% projetada
para a inflação, e para as exportações, que podem ser responsáveis por um superávit da
balança comercial da ordem de US$ 273 bilhões no ano – quase US$ 100 bilhões acima de
2006, de acordo com o estudo (CARDOSO, 2007). O Banco Mundial projetou crescimento
de 11,3% para a economia chinesa e também previu crescimento da inflação e do superávit
comercial.
Os preços ao consumidor tiveram alta de 6,5% no mês de outubro, em relação ao mesmo
período do ano anterior, a maior inflação em 11 anos na China. Os alimentos lideram as
elevações de preços, mas já afetam outras categorias de produtos, como combustíveis. A
alta inflação já ameaça a estabilidade econômica do país e o crescimento sustentando do
PIB, que chegou a 11,5% no terceiro semestre.
Muitos especialistas acreditam que a China está diante de um grave problema inflacionário.
Corridas aos supermercados estão se tornando um fenômeno constante no país que mais
cresce no mundo. Acredita-se que o Governo vai voltar a elevar as taxas de juros ainda esse
ano.
Esse cenário deve resultar em maiores pressões da comunidade internacional com respeito
às políticas monetária e cambial executadas pelas autoridades chinesas. A análise é de que a
moeda chinesa está subvalorizada, o que põe em risco a estabilidade econômica
internacional, altamente dependente do dinamismo da economia chinesa atualmente.
Em outubro, a China registrou novo recorde no saldo da balança comercial, de US$ 27,050
bilhões. O problema é que o superávit comercial tem estimulado a alta da inflação, dos
preços das ações e dos custos na indústria. As conseqüências seriam desastrosas se
houvesse uma recessão na economia dos EUA e em outros grandes mercados.
O perigo é maior do que parece, uma vez que a economia americana corre algum risco de
entrar em recessão. Os analistas já são mais cuidadosos ao se referir ao fenômeno do
declouping, ou “descolamento”, processo vivido atualmente pela economia mundial em
alta, aparentemente descolado do motor americano. Mas se o motor congelar e o trem
descarrilar, a China também vai sair dos trilhos – e os gigantes levam com eles a economia
do globo.
A pressão internacional foi responsável por quatro alterações na taxa de juros básica da
economia chinesa esse ano por parte do Banco do Povo da China, o banco central do país.
Mas o resultado, longe de arrefecer o consumo e alterar a balança comercial, tem sido
sentido sobre a inflação. Tome-se como indício o consumo, cujas vendas a varejo de 2007
crescerão 12,8% em relação a 2006, segundo o relatório do Banco Mundial. Ou as
autoridades chinesas adotam rigorosidade à la Brasil, com elevação das taxas de juros e do
valor do yuan para conter a inflação, a formação da bolha de ativos e a dependência das
importações, ou o vapor chinês vai manter o ritmo de sua acelerada e perigosa corrida ao
pódio da economia mundial. Os especialistas acreditam na primeira hipótese.
Setor Externo Brasileiro
1. Introdução
O esgotamento do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro implementado no pósguerra explicitou-se nos anos 80, com graves desequilíbrios macroeconômicos e a
incapacidade da economia de voltar a apresentar as taxas de crescimento elevadas e
sustentadas dos períodos anteriores. Do ponto de vista da estrutura produtiva, a estagnação
dos investimentos e o pequeno esforço de incorporação de progresso técnico traduziram-se
em níveis reduzidos de eficiência, produtividade e modernização tecnológica.
As mudanças ocorridas na década de 90 representaram a ruptura com esse modelo e a
tentativa de encontrar um padrão de desenvolvimento, com menor intervenção estatal nos
rumos da economia e maior abertura ao exterior, tanto em termos de fluxo de comércio
quanto em termos de fluxo de capitais. Várias políticas econômicas foram implementadas
nessa direção, destacando-se a abertura comercial e financeira, as privatizações e o
programa de estabilidade econômica. Esperava-se que essas medidas pudessem forçar a
convergência rápida da estrutura produtiva e da produtividade da economia brasileira na
direção
das
economias
avançadas,
eliminando
os
gargalos
que
impediam
o
desenvolvimento do país.
A crescente internacionalização da economia brasileira na ultima década suscitou uma série
de expectativas e preocupações a respeito do impacto sobre o crescimento e a inserção
externa. Muitos foram os argumentos destinados a apontar as oportunidades que se
descortinariam para o país a partir da maior presença de capital estrangeiro na estrutura
produtiva. Por outro lado, outras tantas foram as preocupações levantadas por aqueles que
não acreditavam que a simples presença estrangeira representasse uma alternativa para o
desenvolvimento econômico do país e para melhorar sua inserção.
Os argumentos favoráveis à internacionalização concentravam-se, por um lado, no fato de
que os investimentos diretos possibilitariam uma fonte de financiamento de longo prazo
para os desequilíbrios na balança de pagamentos. Por outro, acreditava-se que as empresas
estrangeiras teriam um comportamento comercial diferente do das empresas nacionais, que
favoreceriam a balança comercial.
Dadas as modificações pelas quais passou a economia brasileira nos últimos anos e a
crescente importância do capital externo em uma estrutura produtiva que já era bastante
internacionalizada, torna-se fundamental conhecer de que forma e até que ponto o
comportamento das empresas estrangeiras se diferencia da nacional. Em outras palavras,
torna-se fundamental conhecer a influência que a origem do capital desempenha sobre os
fluxos de comércio das empresas individuais. Essa tentativa requer, antes de qualquer coisa,
o conhecimento do comportamento das empresas estrangeiras no que se refere a sua “autosuficiência de recursos”, ou seja, necessita-se verificar se as empresas estrangeiras
conseguem gerar os dólares necessário para fazer frente as remessas de lucro, dividendos e
juros. Esse é o objetivo desse relatório que antes buscará analisar a conjuntura das contas
externas brasileira, em especial as transações correntes e o câmbio.
2. Transações Correntes e Câmbio
Dados recentes reforçaram a expectativa de que, já no ano que vem o Brasil voltará a
apresentar saldo negativo nas transações correntes. Embora não preocupe no curto prazo,
esse fenômeno será danoso caso se prolongue. O fortalecimento das contas externas foi
uma das mais importantes mudanças observadas no quadro macroeconômico brasileiro nos
últimos anos. O movimento foi liderado, de início, por uma rápida inflexão no saldo do
comércio exterior. Para tal transição, ocorrida entre os anos de 2000 e 2003, contribuíram
dois fatores principais: a desvalorização do real e o abalo do consumo doméstico, num
quadro de grande desemprego e queda no poder de compra do salário. A esses elementos
veio agregar-se, uma melhora substancial e duradoura dos termos de troca – isto é, uma
evolução mais favorável dos preços dos bens que o país exporta, comparativamente aos
daqueles que são importados.
No período mais recente, o aquecimento do mercado interno e a valorização do real vêm
produzindo desgaste do superávit comercial. Essa deterioração se manifesta lentamente
graças à persistência de termos de troca favoráveis. É aqui que chegamos ao ponto que
requer mais atenção das autoridades: a taxa de crescimento das importações acelerou-se
muito, ao passo que a das exportações vem caindo. No presente, o dinamismo das compras
externas supera por larga margem o das vendas. Essa é uma situação que pode perdurar sem
fragilizar as contas externas por algum tempo – mas não indefinidamente.
O Brasil nunca importou tanto. Em outubro, ingressaram US$ 12,3 bilhões em mercadorias
produzidas em outros países, novo recorde mensal histórico. Em tempos de dólar fraco e
economia em expansão, as importações cresceram 41,1% na comparação com igual mês do
ano passado e o total importado em dez meses de 2007 já supera todo o volume de 2006.
No outro lado da balança comercial, a despeito do câmbio desfavorável, o governo
anunciou nova projeção para as exportações. O número passou de US$ 155 bilhões para
US$ 157 bilhões no acumulado de 2007. Outubro reforça a tendência de deterioração do
saldo do comércio exterior vista desde o primeiro semestre. No mês, o resultado foi 12,9%
menor que o de outubro de 2006, ficando em US$ 3,439 bilhões.
Tabela 1 - Balança Comercial (FOB em milhões)
Anos
Exportações
Importações
Saldo
1999
48.011
49.210
-1.199
2000
55.085
55.783
-698
2001
58.222
55.572
2.650
2002
60.321
47.240
13.081
2003
70.084
48.290
21.794
2004
96.475
62.834
33.641
2005
118.308
73.551
44.757
2006
137.471
91.394
46.077
2007*
136.609
101.497
35.112
Fonte: MIDIC
(*)Dados acumulados até 1ª semana de novembro
O salto das importações é visto como a causa principal dessa piora. Para o professor de
economia da USP, Fábio Kancyk, “o dólar fraco começa a ter efeitos mais explícitos no
comércio exterior. Temos visto o aumento das importações, que tem avançado em linha
com o câmbio favorável, o crescimento da economia e o aumento da renda”. Nas gôndolas
dos supermercados, importados estão cada vez mais presentes. Isso já incomoda alguns
setores da indústria nacional. O vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior
do Brasil), José Augusto de Castro, diz que voltaram as reclamações sobre uma suposta
“invasão de importados”.
Gráfico 1 - Balança Comercial Brasil FOB (em US$ milhões)
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
19
90
19 01
90
19 08
91
19 03
91
19 10
92
19 05
92
19 12
93
19 07
94
19 02
94
19 09
95
19 04
95
19 11
96
19 06
97
19 01
97
19 08
98
19 03
98
19 10
99
19 05
99
20 12
00
20 07
01
20 02
01
20 09
02
20 04
02
20 11
03
20 06
04
20 01
04
20 08
05
20 03
05
20 10
06
20 05
06
20 12
07
07
0
Fonte: BACEN
Importações - (FOB) - US$(milhões) - BCB Boletim/BP - BPN12_MTV12
Exportações - (FOB) - US$(milhões) - BCB Boletim/BP - BPN12_XTV12
O saldo das transações correntes brasileiras chegou, no mês passado (outubro), ao seu
menor nível em quase quatro anos. A principal causa do declínio, segundo o Banco Central,
é o aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior que, neste ano, já registram
aumento de 19%. Nos últimos 12 meses, a conta de transações correntes teve um superávit
de US$ 9 bilhões, ou 0,75% do PIB do período. Embora o saldo continue positivo, a sua
relação com o PIB é a mais baixa desde novembro de 2003. Isso significa que, se
consideradas as operações como as de comércio exterior, remessas de lucros e pagamento
de juros, o Brasil ainda recebe mais dólares do que envia para fora.
Tabela 2 - Balanço de Pagamentos - Transações Correntes (anos selecionados) US$ milhões
Ano
Balança Comercial
Serviços
Renda
Trans.Unilateral
Transações Correntes
1997
-6753
-10646
-14876
1823
-30452
1998
-6575
-10111
-18189
1458
-33417
1999
-1199
-6977
-18848
1689
-25335
2000
-698
-7162
-17886
1521
-24225
2001
2650
-7759
-19743
1638
-23214
2002
13121
-4957
-18191
2390
-7637
2003
24794
-4931
-18552
2867
4178
2004
33641
-4678
-20520
3236
11679
2005
44703
-8309
-25967
3558
13985
2006
46115
-9656
-27489
4306
13276
2007*
30938
-8759
-19558
3019
5640
Fonte: Bacen
(*) Acumulado janeiro/setembro de 2007.
Entretanto, essa folga, tem caído. Entre janeiro e setembro deste ano, o superávit em
transações correntes foi de US$ 5,640 bilhões, queda de 45% ante o mesmo período de
2006. Ainda assim, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a
situação do país é confortável. Para ele: “há uma redução [no superávit em transações
correntes], mas o saldo continua positivo e é acompanhado por um fluxo de investimento
estrangeiro ainda elevado, o que é mais do que suficiente para financiar o balanço de
pagamentos”. O economista Luciano Miceli, da Tendências Consultoria, defendendo seus
clientes, afirma que o aumento nas remessas de lucros não é um sinal ruim: “pelo contrário
é o natural. Ainda bem que [as empresas] estão lucrando”, diz.
Tabela 3 - Conta Renda do Balanço de Pagamentos (US$ milhões)
2002
2003
2004
Rendas
-18191 -18552 -20520
Salário e ordenado
102
109
181
Renda de investimentos (líquido)
-18292 -18661 -20701
Renda de investimento direto
-4983
-5098
-5789
Lucros e dividendos
-4034
-4076
-4937
Lucros reinvestidos no Brasil
0
0
0
Juros de empréstimo intercompanhia -949
-1022
-852
Renda de investimento em carteira
-8384
-8743
-10415
Lucros e dividendos
-1128
-1564
-2400
Juros de títulos de renda fixa
-7256
-7179
-8015
Renda de outros investimentos (juros) -4925
-4820
-4497
Juros pagos
-5578
-5681
-5495
Juros refinanciados
0
0
0
Juros atrasados
0
0
0
Fonte: Bacen
2005
-25967
214
-26181
-10302
-9142
0
-1161
-11778
-3544
-8234
-4101
-5452
0
0
2006
-27489
177
-27666
-12811
-11431
0
-1380
-11051
-4924
-6128
-3804
-5723
0
0
2007*
-19558
337
-19895
-11366
-10730
0
-636
-4901
-3054
-1847
-3629
-5088
0
0
No mês retrasado, essas remessas somaram US$ 1,686 bilhão, o maior valor já apurado
num mês de setembro. No ano, o total enviado ao exterior chega a US$ 13,784 bilhões –
valor que inclui tanto os ganhos obtidos por empresas estrangeiras instaladas no Brasil
quanto por investidores internacionais que aplicam seus recursos no mercado financeiro
nacional. Relatório do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)
ressalta ainda que o aumento das remessas também foi afetado pelo câmbio, já que, em
agosto, o dólar se valorizou.
3. Liquidez internacional e Reservas
O mundo está encharcado de dólares e as soluções encontradas por diversos países para
mitigar os efeitos indesejáveis desse fenômeno são cada vez menos convencionais.
Governos como os de China e Rússia não se contentam apenas com o mecanismo
tradicional da compra de dólares pelos bancos centrais. Com parte do excedente de suas
exportações, constituem fundos no exterior, chamados de soberanos, para investir em
aplicações variadas – papéis de dívida pública e privada, ações, etc. É um modo de impedir
que os dólares entrem no país e de, com eles, buscar ganhos financeiros superiores aos dos
papéis do Tesouro dos EUA, onde em geral os BC’s investem suas reservas.
Incitada pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, iniciou-se uma discussão sobre os riscos
e as vantagens de o Brasil criar seu próprio fundo soberano. Os fundos soberanos existentes
no mundo comandam um patrimônio estimado em US$ 3,2 trilhões – a título de
comparação, as reservas internacionais de todos os BC’s somam US$ 5 trilhões. O da
Noruega, constituído pela tributação sobre petróleo exportado, é um dos maiores: mais de
US$ 300 bilhões. A principal dificuldade de o Brasil copiar a experiência é o fato de suas
exportações não se concentrarem numa commodity, como ocorre com a Rússia (petróleo)
ou o Chile (cobre). Russos e chilenos taxam as vendas externas – quanto mais alta é a
cotação internacional, maior a fatia tributada – vislumbrando um futuro distante, em que
seu subsolo esteja exaurido, e um mais próximo, em que os preços desses bens estejam
aviltados. Nesses casos, terão uma fonte de renda adicional em seus fundos.
Destinar uma parte das reservas do Banco Central para o fundo soberano não seria uma
alternativa menos problemática. Esses fundos são vantajosos porque os dólares são
coletados no exterior. Eles nem sequer entram no país, não pressionam para cima o preço
da moeda local e não exigem intervenção das autoridades no mercado de câmbio
doméstico. Constituir o fundo com dinheiro de reservas – dólares comprados no Brasil à
custa de dívida pública remunerada com juros elevados – seria perder essa vantagem.
Motivo de debate dentro do governo, a proposta de criação de um fundo soberano deve
requerer mais tempo para que o país esteja menos vulnerável, afirmam economistas. Com
US$ 165,099 bilhões em caixa, o país é dono hoje da oitava maior reserva internacional do
mundo. As reservas são um recurso utilizado como espécie de seguro contra crises
externas, mas que tem como efeito colateral o baixo rendimento, já que a maior parte está
aplicada em títulos dos EUA, que rendem por volta de 4,5% ao ano.
Gráfico 2 - Reservas internacionais - liquidez internacional US$(milhões) - BCB Boletim/BP
200000
180000
160000
140000
120000
100000
80000
60000
40000
20000
2007 09
2007 05
2007 01
2006 09
2006 05
2006 01
2005 09
2005 05
2005 01
2004 09
2004 05
2004 01
2003 09
2003 05
2003 01
2002 09
2002 05
2002 01
2001 09
2001 05
2001 01
2000 09
2000 05
2000 01
0
Reservas internacionais - liquidez internacional - US$(milhões) - BCB Boletim/BP - BM12_RESLIQ12
Como China, Cingapura, Emirados Árabes e Arábia Saudita, o Brasil também discute a
melhor forma de usar esse dinheiro. A solução adotada por esses países foi criar um fundo
de investimento (soberano) com parte do dinheiro que iria para as reservas. A China, por
exemplo, aplica US$ 300 bilhões em ações, além de ter participações em bancos e em
empresas pelo mundo. O governo brasileiro debate quanto de dinheiro levar para um fundo
de risco, em quais empresas e papéis aplicar, como e quem vai gerenciar os investimentos e
quando aplicar parte dessas reservas.
A proposta divide economistas dentro e fora do governo. Para Vitoria Saddi, economistasênior para a América Latina da consultoria americana RGE Monitor, o Brasil teria pouco a
ganhar com essa proposta de fundo soberano. Para ela, os maiores beneficiados são países
dependentes de uma commodity em particular, como Chile e Noruega, que produzem
principalmente cobre e petróleo, respectivamente.
Ela explica que esses países utilizam fundos soberanos para receber fora do país recursos
obtidos com a exportação, para evitar a entrada de capital e impedir a apreciação de suas
moedas. “Mas, se você colocar uma parte das reservas em fundos no exterior e houver uma
diminuição das exportações, o país terá de usá-las [rapidamente], e o fundo inviabiliza
isso”, disse.
O ministro Guido Mantega chegou a aventar a possibilidade de parte dos recursos do fundo
soberano ser aplicada em infra-estrutura – idéia rechaçada por setores mais conservadores
da área econômica do governo, que só aceitam a criação de um fundo de risco maior para
elevar a rentabilidade das reservas. Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos
Internacionais do Banco Central, afirma que a discussão caminha com “foco desviado e
para o lado errado”. Argumenta ainda: “para que servem as reservas? É um seguro. Seria
útil no Brasil contra um colapso no preço das commodities, uma desaceleração na economia
mundial. Qual a proteção se esse dinheiro for parar em empresas brasileiras que serão
prejudicadas em caso de crise?”.
Tabela 4 - Composição das Reservas Internacionais - Brasil
out/07
Ativos de Reservas Oficiais
167.867
Resevas em moedas estrangeiras
152.559
títulos
143.796
total de moeda e deposito
8.763
BIS, FMI, outros bancos centrais
251
Banco sediado no exterior
8.512
Posição de reserva no FMI
0
DES
8
Ouro
853
Outros ativos em reservas
14.447
derivativos
8
emprestimos a não residentes
117
titulos adqueridos em acordo de recompra
14.321
Fonte: BACEN. Elaboração própria.
O ex-diretor do BC diz que a criação de um fundo soberano seria justificada para dar mais
rentabilidade às reservas. Para ele, um modelo seria admitir uma porcentagem das reservas
em ativos de maior risco. “Hoje as reservas estão restritas a títulos AAA [classificação para
papéis de risco próximo de zero]. Teria de se admitir uma parcela, talvez de 15%, para AA
e A [ainda de baixíssimo risco, mas inferiores ao AAA]”.
Para o economista Fernando Cardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
no entanto, a proposta de Mantega de destinar cerca de 5% das reservas para infra-estrutura
preserva a função de blindar o país contra crises. Para ele “se o dinheiro vai ficar parado,
que financie o desenvolvimento. Os países que adotam esses fundos já fazem isso e
assumem riscos maiores. Se fosse um percentual maior, seria uma loucura”.
4. Empresas Estrangeiras: Exportações, Importações e Remessa de Recursos.
A maior presença de empresas de capital estrangeiro (ECE) na economia brasileira tem
efeitos os mais diversos, que atingem as dimensões políticas (soberania nacional e
correlação de forças políticas internas) e econômicas (esfera produtiva real, comercial,
tecnológica e monetária-financeira). Tendo em vista a amplitude e profundidade dos temas,
cabe aqui concentrar a discussão sobre o impacto econômico mais imediato e significativo
dos processos de penetração do capital estrangeiro e de desnacionalização da economia
brasileira.
No que diz respeito especificamente à dimensão econômica, o destaque fica por conta da
questão crítica da vulnerabilidade externa da economia brasileira, que aumentou de forma
extraordinária durante o governo FHC e está “escondida” no governo do presidente Lula.
Nesse sentido, a desnacionalização do aparelho produtivo significa um aumento ainda
maior da vulnerabilidade externa do país. O resultado é não somente a perda de capacidade
de resistência a pressões políticas externas, mas também a baixa capacidade de resistência a
choques externos.
A situação das contas externas, que vinha se deteriorando ano após ano durante o governo
FHC, deu sinais de reversão a partir dos anos 2000, fruto da mudança da política cambial,
associada ao crescimento da economia mundial. Assim, foi revertido o saldo nas transações
correntes, fruto do enorme superávit na balança comercial.
Uma análise pertinente sobre o impacto que as empresas de capital estrangeiro têm sobre a
economia brasileira, em especial sobre as contas externas, é observar o comportamento de
“auto-suficiência de recursos”. O Banco Central do Brasil começou a fazer um Censo de
Capitais Estrangeiro no país a partir de 1995. Esse Censo é realizado de cinco em cinco
anos. Os dados mostram, por exemplo, que essas empresas exportaram US$ 21,7 bilhões e
importaram US$ 19,4 bilhões e, portanto, tiveram um saldo positivo na balança comercial.
Entretanto, a balança de serviços dessas empresas teve um saldo altamente negativo de
US$ 5 bilhões. Nessa conta de serviço, vale destacar a remessa de lucros e dividendos
(US$ 3,2 bilhões) e o pagamento de juros ao exterior (US$ 1,6 bilhão).
O resultado concreto é que as empresas estrangeiras no Brasil tiveram um saldo negativo
nas transações correntes, no ano de 1995, de US$ 2,7 bilhões, o que representava 15% do
saldo negativo total. A análise mais detalhada pode ser vista na tabela a seguir.
Tabela 5 - Empresas Estrangeiras e Balanço Pagamentos Brasil: 1995
Empresas Estrangeiras
Brasil
Balança Comercial
2,373,644
-3,465.615
Exportação
21,744,976
46,506.283
Importação
19,371,332
-49,971.898
Serviços/Rendas
-5,053,946
-18,540.511
Lucro/dividendo
-3,183,367
-2,568.000
Juros
-1,615,348
-9,509.000
Outros
-255,231
-497.322
Transações Correntes
-2,680,302
-18,383.714
Fonte: Bacen. Elaboração própria
Com a adoção do Plano Real, a utilização da âncora cambial como forma de combater a
inflação, a abertura indiscriminada da economia à concorrência internacional, aliada a um
processo de vendas de ativos estatais, o parque produtivo nacional se viu mais
internacionalizado do que nunca. Esse processo de abertura econômica e financeira,
possibilitou às empresas estrangeiras facilidades para circulação de seus capitais. A remessa
de lucro e dividendos passa a ser, no começo da década de 2000, um novo fator de
preocupação para o equilíbrio das transações correntes. Tradicionalmente, o pagamento de
juros da dívida sempre foi o “calcanhar de Aquiles” do ajuste do Balanço de Pagamentos.
Segundo o Censo de Capitais Estrangeiros no Brasil, no ano de 2000, as empresas
estrangeiras continuaram contribuindo de forma positiva no saldo da balança comercial:
tiveram um saldo de US$ 1,7 bilhão. Mas, o pagamento de juros, lucros e dividendos,
associado ao pagamento de royalties, fez com que o saldo das empresas estrangeiras, no
que se refere a conta de serviços e rendas, explodisse para mais de US$ 21 bilhões
negativos.
Tabela 6 - Empresas Estrangeiras e Balanço Pagamentos Brasil: 2000
Empresas Estrangeiras
Brasil
Balança Comercial
1,696,598
-697.747
Exportação
33,249,792
55,085.595
Importação
31,553,194
-55,783.342
Serviços/Rendas
-21,614,614
-25,047.847
Lucro/dividendo
-6,023,618
-3,316,199
Juros
-14,116,611
-16,174,251
Outros
-1,474,385
-1,289,392
Transações Correntes
-19,918,016
-24,224.530
Fonte: Bacen. Elaboração própria
Comparando-se a evolução dessas contas entre os anos de 1995 e 2000, observamos como
as empresas estrangeiras, evoluíram: houve uma piora relativa no saldo da balança
comercial, mas o fato principal foi o aumento exponencial das remessas, tanto de juros
quanto de lucro, que se expressam na conta de renda e serviços, como pode ser vista na
tabela a seguir.
Tabela 7 - Contas Externas Empresas Estrangeiras
1995
2000
Balança Comercial
2,373,644
1,696,598
Exportação
21,744,976
33,249,792
Importação
19,371,332
31,553,194
Serviços/Rendas
-5,053,946
-21,614,614
Lucro/dividendo
-3,183,367
-6,023,618
Juros
-1,615,348
-14,116,611
Outros
-255,231
-1,474,385
Transações Correntes
-2,680,302
-19,918,016
Fonte: Bacen. Elaboração própria.
O Banco Central do Brasil já finalizou o Censo de 2005, mas ainda não o divulgou.
Entretanto, pode-se utilizar uma Proxy, para o ano de 2006. Utilizando os dados do BC
sobre remessa de lucros e dividendos, do MDIC sobre exportações e importações das
grandes empresas, além da Revista Exame sobre o controle acionário das empresas, foi
possível fazer um levantamento aproximado sobre o comportamento da “auto-suficiência
de recursos” para as empresas estrangeiras.
Para realizar tal aproximação foi realizado o seguinte artifício: o MDIC divulga a relação
das empresas exportadoras e importadoras. O BACEN divulga os dados referentes à
remessa de lucro e dividendo, pagamentos de juros e as contas externas. Para verificar a
“auto-suficiência de recursos” das empresas estrangeiras, utilizou-se a Revista Exame para
identificar quais empresas listadas na relação do MDIC têm de fato, controle acionário
estrangeiro. Na relação de empresas do MDIC constam as 250 maiores exportadoras e
importadoras do país, entre empresas nacionais e estrangeiras. Essas empresas representam
aproximadamente 72% do total das exportações/importações do Brasil. Considerando que a
primeira empresa nas exportações em 2006 foi a Petrobrás S.A, representando 8,07% do
total e a última foi a empresa Açúcar Guarani S.A, representando 0,06% do total, pode-se
afirmar que as outras empresas que não constam nessa relação do MDIC têm contribuições
marginais ao total exportado no Brasil.
No ano de 2006, utilizando os dados do MDIC, observa-se que as principais empresas do
país, que representam o núcleo duro do capitalismo brasileiro, exportaram US$ 30 bilhões e
tiveram um saldo positivo de US$ 17 bilhões na balança comercial. Entretanto, no ano de
2006 foi remetido ao exterior na forma de lucros e dividendos US$ 16 bilhões. Assim,
pode-se afirmar que as empresas estrangeiras não têm conseguido gerar os recursos
suficientes para fazer frente as suas remessas ao exterior. Essa afirmação pode ser
verificada na tabela a seguir.
Tabela 8 - Contas Externas Empresas Estrangeiras e Brasil: 2006
Empresas Estrangeiras
Brasil
Balança Comercial
17.107.339
46.457.909
Exportação
30.168.002
137.807.470
Importação
13.060.663
91.349.561
Balança Serviço/Renda
-31.098.117
-37.142.643
Lucro e dividendo
-16.354.089
-16.354.089
Juros
-13.230.658
-13.230.658
Outros
-1.513.370
-7.557.896
Transações Correntes
-13.990.778
13.621.476
Fonte: MDIC, Revista Exame e Bacen. Elaboração própria.
Essa forma de analisar a inserção externa do país é útil na medida que permite verificar as
ligações de dependência que certas frações do capital têm umas com as outras e como
determinada política econômica pode afetar e criar fissuras nessa relação conflituosa. Fica
claro que os grandes capitais internacionais necessitam das exportações dos setores ligados
ao agribussines para conseguir os dólares necessários para remeter ao exterior, assim como
o capital financeiro. No caso do capital financeiro, a “dependência” é ainda maior, pois,
esse setor não gera divisas ao país – salvo os lucros marginais que bancos nacionais
remetem do exterior ao Brasil.
Vejamos o caso do câmbio: numa conjuntura de cambio valorizado, como a atual, há um
incentivo a remeter recursos ao exterior, já que as empresas podem converter uma
quantidade relativamente pequena de reais em dólar. Essa lógica favorece tanto o capital
financeiro quanto o grande capital estrangeiro. Por outro lado, esse câmbio prejudica os
exportadores, que são aqueles que “financiam” as remessas ao exterior. Assim, ao mesmo
tempo em que esses capitais ficam no mesmo campo de batalha contra determinados
assuntos (desregulamentação financeira, reforma trabalhista e da previdência, etc.), o uso
de determinada política econômica pode criar fissuras internas ao capital.
Bibliografia
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PRODUÇÃO industrial da Índia desacelera e cresce 6,4% em setembro. Folha de São
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Inflação na Índia cai ao menor nível em cinco anos. Folha de São Paulo, São Paulo, 8 nov.
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