SCQ/018 21 a 26 de Outubro de 2001 Campinas - São Paulo - Brasil GRUPO VI GRUPO DE ESTUDO DE ASPECTOS EMPRESARIAIS GERENCIAMENTO DA QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA – VISÃO DO ONS Roberto J. R. Gomes* ONS Dalton O. C. Brasil ONS RESUMO O novo modelo desverticalizado do setor elétrico brasileiro impõe que novas regras sejam estabelecidas. Na definição das regras relacionadas à qualidade de energia elétrica o ONS tem estimulado um amplo debate sobre tais questões, envolvendo os diversos agentes da Rede Básica, associações representativas destes agentes, universidades e centros de pesquisa, com o apoio da ANEEL. Este artigo apresenta aspectos relacionados com os procedimentos estabelecidos, bem como as atividades que foram e vêm sendo desenvolvidas no sentido de melhor compreender os diversos fenômenos. Adicionalmente, são apresentados os fundamentos da gestão da qualidade de energia elétrica na Rede Básica. PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de Energia Elétrica, Continuidade, Variação de Tensão de Curta Duração, Harmônico, Flutuação de Tensão. 1.0- INTRODUÇÃO A nova configuração do setor elétrico, com a segregação das funções de produção, transporte (incluindo transmissão e distribuição) e comercialização de energia, implica em grandes desafios, em se tratando de qualidade de energia elétrica. Quando da divulgação das primeiras versões dos módulos 2 (Padrões de Desempenho da Rede Básica e Requisitos Mínimos para suas Instalações) e 3 (Acesso aos Sistemas de Transmissão) em janeiro/1999, o ONS recebeu alguns comentários relacionados com aspectos da qualidade de energia elétrica, particularmente com a conformidade da onda de tensão a ser disponibilizada pela Rede Básica aos diversos agentes. A partir destes comentários o ONS tomou a iniciativa de criar o “Grupo de Trabalho Especial – Qualidade de Energia Elétrica” (GTE-QEE) com o objetivo de discutir e aprimorar os indicadores de desempenho, buscando o detalhamento de aspectos importantes a eles relacionados. José R. Medeiros ONS Em um primeiro momento o ONS estabeleceu, com a participação dos agentes da Rede Básica e através da aprovação da ANEEL, os indicadores que avaliarão a qualidade de energia elétrica sob o ponto de vista da continuidade do serviço em pontos de controle da Rede Básica e da conformidade da forma de onda de tensão (1). O detalhamento de tais aspectos encontrase nos submódulos 2.2 e 3.8 dos “Procedimentos de Rede” do ONS. Para alguns destes indicadores (cintilação, desequilíbrio e harmônicos) foram estabelecidos padrões de desempenho, em função de recomendações internacionais e/ou nacionais. Para outros, tal como a variação de tensão de curta duração (VTCD) e continuidade, torna-se necessário obter um maior grau de experiência no tratamento de tal fenômeno, como premissa para o estabelecimento de padrões. O objetivo deste artigo será o de apresentar as ações em curso no ONS na área da qualidade de energia elétrica, considerando os seguintes aspectos: indicadores de desempenho considerados; campanhas de medição desenvolvidas com o apoio do ONS; aspectos básicos do Sistema de Gestão da Qualidade de Energia Elétrica. 2.0- INDICADORES E PADRÕES DE DESEMPENHO Da necessidade de atribuição de responsabilidades surgem dois conceitos fundamentais, quais sejam, indicador/padrão global e indicador/padrão individual de desempenho. Abaixo apresenta-se, sinteticamente, tais conceitos. Indicador/padrão global - meio de verificação do desempenho global do Rede Básica sob o ponto de vista da qualidade de energia elétrica. Indicador/padrão individual - meio de verificação do desempenho individual de cada agente, visando minimizar a possibilidade do citado agente Operador Nacional do Sistema Elétrico Rua da Quitanda, 196 – 23o andar – Rio de Janeiro – RJ – Brasil CEP 200091-000 provocar um distúrbio que acarrete na deterioração significativa do desempenho global do sistema. Em função do interesse manifestado pelos agentes, os seguintes indicadores globais, tratados neste item, vêm se destacando: continuidade de serviço, flutuação de tensão, distorção harmônica e VTCD. 2.2 Flutuação de tensão 2.1 Continuidade Conforme estabelecido pela ANEEL, em janeiro de 2000, através da Resolução No 24, os indicadores de duração, freqüência e duração máxima estão sendo apurados pelo ONS desde julho de 2000, cabendo também ao ONS o estabelecimento dos padrões de desempenho destes indicadores (2). De modo a cumprir as atribuições estabelecidas pela resolução, foram realizadas pelo ONS, contando com a participação dos diversos agente da Rede Básica, as seguintes atividades: Conceituação, Terminologia e Critérios; Proposição dos Padrões de Desempenho para a Continuidade; Apuração dos Indicadores. A apuração dos indicadores teve início em julho de 2000, tendo sido emitidos relatórios referentes aos meses de julho a dezembro de 2000. As Tabelas 1 , 2 e 3 mostram, respectivamente, os valores médios globais dos indicadores considerando todos os pontos de controle, os valores médios agregados por nível de tensão e por configuração de barra. TABELA 1 – Valores médios globais DIPC FIPC Média Desvio Este procedimento, em conjunto com as médias históricas disponíveis e os resultados da apuração permitirão desenvolver e aplicar um sistema de gestão dos indicadores de continuidade que subsidiará ações por parte do ONS de modo a garantir o adequado desempenho da Rede Básica. (horas/ano) (ocorrências/ano) 5,72 16,69 2,12 3,66 TABELA 2 – Valores médios por nível de tensão DIPC FIPC Tensão (kV) (horas/ano) (ocorrências/ano) 138 9,48 1,92 230 1,21 0,55 345 0,03 0,11 440 0,97 0,18 500 0,06 0,04 TABELA 3 – Valores médios por configuração de barra Configuração de DIPC FIPC (horas/ano) (ocorrências/ano) Barra Simples 13,60 3,30 Principal 5,07 3,37 Dupla 3,57 0,85 Tripla 1,03 0,20 Anel 1,70 0,59 Disj. Meio 0,33 0,23 Dada a necessidade de aprimorar esta atividade, desenvolvida até janeiro de 2001, busca-se no momento o estabelecimento de famílias de ponto de controle e de faixas de referência a elas associadas. O fenômeno da flutuação de tensão inclui entre os seus efeitos a cintilação. Tal efeito corresponde a percepção humana à variação da luminosidade, o que leva a um tratamento diferenciado, do ponto de vista da definição dos seus indicadores, bem como dos padrões a serem adotados. Os indicadores de severidade de cintilação adotados como representativos da flutuação de tensão num dado barramento da Rede Básica são: PstD95%: valor do indicador Pst que foi superado em apenas 5 % dos registros obtidos no período de 1 dia (24 horas); PltS95%: valor do indicador Plt que foi superado em apenas 5 % dos registros obtidos no período de uma semana, 7 (sete) dias completos e consecutivos. A determinação da qualidade da tensão de um barramento da Rede Básica quanto à flutuação de tensão tem por objetivo avaliar o incômodo provocado pelo efeito da cintilação no consumidor final que tenha seus pontos de iluminação alimentados pela tensão secundária de distribuição. Devido ao caráter subjetivo de tal incômodo, adotou-se dois limites para cada indicador: Limite Global Inferior e Limite Global Superior. Quando os valores de PstD95% e PltS95% forem menores ou iguais aos respectivos Limites Globais Inferiores a qualidade da tensão da Rede Básica quanto à flutuação de tensão será considerada adequada, não havendo necessidade de adoção de medidas corretivas ou mitigadoras. Quando ao menos um dos valores de PstD95% e PltS95% for maior que os respectivos Limites Globais Inferiores e menor ou igual aos Limites Globais Superiores, a qualidade da tensão da Rede Básica quanto à flutuação de tensão será considerada em estado de observação e, no caso de haver reclamações de usuários, o ONS deverá desenvolver ações, em conjunto com os Agentes envolvidos, para buscar soluções e atribuir responsabilidades. Quando os valores de PstD95% e PltS95% forem maiores que os respectivos Limites Globais Superiores, a qualidade da tensão da Rede Básica quanto à flutuação de tensão será considerada, em princípio, inadequada e as ações corretivas ou mitigadoras deverão ser definidas após a realização de investigações para identificação das causas e responsabilidades. Os valores dos Limites Globais Inferiores e Superiores, que serão considerados para controlar a qualidade da tensão na Rede Básica quanto a flutuação de tensão, são apresentados na Tabela 4 onde são expressos em função dos Limites Globais considerados para tensão secundária de distribuição 220 V e considerando a atenuação esperada quando a flutuação de tensão se propaga dos barramentos da Rede Básica para os barramentos da rede secundária de distribuição. Limite PstD95% Limite Global 1pu Inferior FT Limite Global Superior 2 pu PltS95% 0,8 pu FT de Entrega da Usina (AT) e da Rede Secundária de Distribuição (BT). Este diagnóstico contou com os apoios do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia) e da ABRACE (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores), e com a participação do CEPEL, EPTE e FURNAS. A Tabela 6 indica os locais onde as medições foram realizadas, incluindo a potência total dos fornos e o nível da tensão de fornecimento. 1,6 pu TABELA FT 4 – Limites FTGlobais Tensão Pot. Total (MVA) Usina (kV) 150 138 entre o barramento da Rede Básica sob avaliação e Aços Villares Pindamonhangaba – SP 90 138 o Aços Villares Anhangüera – SP 38 230 barramento da tensão secundária de distribuição, de Medição Belgo Mineira J. ForaTABELA – MG 6 – Locais 57.6 138 de Cintilação sendo calculado pela relação entre o valor do PltS95% Usina Barra Mansa – RJ 85.2 138 do barramento da Rede Básica sob avaliação e valor Villares Metais – SP 40 138 do PltS95% do barramento da rede de No FT corresponde ao distribuição. Fator de Transferência aplicável Belgo Mineira Piracicaba – SP 52 138 caso dos FT entre os barramentos envolvidos não Acesita – SP 31.5 230 serem ainda conhecidos através de medição, em Belgo Mineira Vitória – ES 48 138 princípio os seguintes valores poderão ser aplicados Gerdau Araucária – PR 45 230 para a avaliação da Flutuação de Tensão nos Gerdau Aços Finos – RS 44 230 barramentos da Rede Básica (Tabela 5). Gerdau Riograndense – RS 50 230 Barramento de Tensão Nominal FT = 0,65 Gerdau Usiba – BA 65 230 Gerdau Açonorte – PE 22 230 230 kV Gerdau Cearense - CE 13.5 69 69 kV Barramento de Tensão FT = 0,8 Nominal 230 kV parcial e preliminar, o resultado da campanha com Barramento de Tensão Nominal FT = 1,0 TABELA 5 - Fatores de Transferência relação aos valores de Plt (95%) e Pst (95%) 69 kV avali corrigidos para a tensão de distribuição secundária de ação dos impactos nos níveis globais de Pst e Plt 220V. A referência (3) apresenta mais detalhes sobre provocados por condições já existentes daqueles tal campanha. provocados por novas cargas. Assim sendo, para o caso de violações dos padrões de desempenho em A Figura 1 ilustra, atrvés de um histograma, de forma Indicadores Medidos na Rede Secundária de Distribuição (BT) Corrigidos pelo Fator: 1,3 para BT = 127 V e 1,0 para BT = 220 V instalações da Rede Básica relacionadas com situações preexistentes, tanto do ponto de vista das características da carga sistema elétrico Estãocomo sendodoestudadas formasque de diferenciar a a alimenta, deverão ser avaliadas pelo ONS, em conjunto com os agentes envolvidos e submetidas à ANEEL, as alternativas de mitigação dos efeitos provocados pela perturbação , considerando os seguintes aspectos: viabilidade técnico-econômica e a gradualidade na implantação da solução ao longo do PltS BT (pu) Corrigido CE-220V tempo. Pst D95% BT (pu) Corrigido RecifePE-220V Gerdau Cosigua - RJ SimõesFilhoBA-127V O método a ser utilizado na identificação da contribuição de cada agente no índice global, de maneira a compará-la com os padrões individuais ainda está sendo estudado. Tendo por objetivo aprimorar o conhecimento dos fenômeno de cintilação, incluindo seu comportamento quanto a propagação no sistema, subsidiando assim o estabelecimento de padrões de desempenho globais e fatores de transferência, como indicado nas Tabelas 4 e 5, encontra-se em desenvolvimento uma campanha de medição. O objetivo desta campanha corresponde a realização de diagnóstico da qualidade da tensão, quanto a flutuação (severidade de flicker), dos sub-sistemas que alimentam 15 usinas siderúrgicas com os maiores fornos elétricos à arco em operação no país, compreendendo a monitoração simultânea do Ponto CanoasRS-127V CharqueadasRS-220V ArroiodosRatosRS-220V CuritibaPR-127V SerraES-127V TimóteoMG-127V 0.0 PiracicabaSP-127V 0.5 1.0 1.5 2.0 PstD95%&PltS95%(pu) NovaVenezaSP-127V BarraMansaRJ-127V FIGURA 1 JuizdeForaMG-127V PidamonhangabaSP-127V 2.3 Distorção harmônica RJ-127V O indicador para avaliar o desempenho global quanto a harmônicos nos barramentos da Rede Básica corresponde à distorção de tensão harmônica. Entende-se por Distorção de Tensão Harmônica Total (DTHT) a raiz quadrada do somatório quadrático das tensões harmônicas de ordens 2 a 50. Esse conceito procura quantificar o conteúdo harmônico total Thank you for using Wondershare PDFelement. 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