MAIO DE 20101 1. SUMÁRIO EXECUTIVO A deterioração nos mercados financeiros internacionais se acelerou no final de abril em função dos problemas de solvência da dívida publica grega. A elevação da aversão ao risco dos investidores causa movimentos fortes nos nos mercados de ativos, dificultando a captação daqueles países que são percebidos com problemas similares ao da Grécia, embora em menor escala. Portugal, Espanha e a própria Grécia tiveram seu custo de captação de recursos aumentado e suas classificações de crédito reduzidas. No caso da Grécia, Grécia a redução da nota de crédito pela Standard & Poor´s retirou o país da zona de “grau de investimento”. Há, claramente, um interesse mútuo mú da Grécia e da União Europeia em não permitir a ocorrência de um default da dívida dív pública de um país pertencente à Zona ona do Euro. Contudo, há também interesse das duas partes em se beneficiar de um eventual acordo. Há um difícil problema de “economia política”: A Grécia gostaria de ter acesso à maior ajuda financeira possível, de forma ma a minimizar a necessidade de ajuste fiscal no curto prazo. A União Europeia, leia-se Alemanha, que será a principal doadora de recursos, por outro lado, prefere que o ajuste fiscal seja o mais rigoroso possível, de forma a mitigar a necessidade de subsídio subsídio financeiro à Grécia. Grécia Há incentivo entivo de “esticar a corda” o máximo possível, mas sem permitir que ela arrebente, o que seria prejudicial para ambos os lados. Para o mercado financeiro, a incerteza quanto a uma solução definitiva é negativa, elevando a aversão ave ao risco e o movimento de “busca pela qualidade”. O lado real da economia norte-americana norte americana continua a apresentar bons resultados. Houve melhoria no mercado imobiliário, que foi o estopim da crise financeira, com elevação das vendas de casa novas e doss preços dos imóveis, e significativa elevação na confiança do consumidor, que é um importante indicador antecedente da atividade produtiva da economia. O PIB nortenorte americano cresceu (3,2%) no primeiro trimestre do ano, pelo terceiro trimestre consecutivo. Os dados desagregados dos últimos seis meses indicam que a retomada do crescimento não é mais dependente dos estímulos fiscais. Os gastos em consumo das famílias e o investimento privado que impulsionaram o PIB norte americano no último trimestre de 2009 e no primeiro trimestre de 2010. Como já era amplamente esperado, o Copom elevou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Com essa ssa elevação, elevação a taxa Selic atinge o nível de 9,50%. Novas elevações são esperadas nos próximos meses. Contudo, não se espera que a taxa Selic retorne ao patamar que era observado antes do agravamento da crise financeira, em fins de 2008. O nível de atividade da economia brasileira continua a mostrar forte expansão. A elevação da massa salarial e do crédito tem possibilitado um crescimento crescimento significativo do comércio e uma recuperação da indústria, que tenta redirecionar para o mercado interno parte das perdas registradas no mercado externo. O diferencial de crescimento entre o Brasil e o exterior, exterior, assim como o câmbio relativamente valorizado, tem gerado uma redução contínua no saldo do balanço comercial. Em relação a 2009, a queda do saldo comercial em 2010 é de cerca de 70%. Esse resultado, juntamente com a elevação do déficit na conta de serviços e rendas, rendas tem gerado uma elevação muito to rápida no déficit em transações correntes. A forte entrada de capitais garantiu um financiamento em excesso para o déficit em transações correntes, permitindo uma acumulação de reservas ao longo do primeiro trimestre do ano. As reservas internacionais do do país já ultrapassam os US$ 247 bilhões. A recuperação da atividade econômica tem gerado bons resultados em termos de arrecadação. No primeiro trimestre do ano, a arrecadação federal de tributos elevou-se elevou em cerca de R$ 26 bilhões em relação à igual período período de 2009. Esse ganho de arrecadação não se limita ao governo federal. A arrecadação de Estados (ICMS) e Municípios (ISSQN) também vem crescendo acima da taxa de inflação ão no primeiro trimestre do ano. Apesar do ganho de receita, o superávit primário acumulado lado em doze meses voltou a cair em março, atingindo 1,94% do PIB. Estamos cada vez mais distantes da meta de 3,3% do PIB estabelecida para o ano. Há indícios de que o grau de austeridade fiscal do governo mudou para pior. 1 Elaborado com informações disponíveis até 30/04/2010. -1- 2. ECONOMIA MUNDIAL A crise de confiança onfiança quanto à solvência da dívida pública grega, que atinge 125% do PIB, ainda não foi superada e tem gerado instabilidade nos preços de ativos e nas taxas de câmbio.. Em abril, os países da União Europeia (UE) tomaram uma decisão política de fornecer auxílio uxílio financeiro à Grécia para a rolagem da sua dívida pública. Apesar disso, ainda persistem as dúvidas quanto à solvência grega, pois a Alemanha, principal doadora de recursos para o plano de socorro da UE, insiste que os recursos só podem ser liberados de forma associada a um plano de ajuste fiscal severo por parte do governo grego. A insistência dos alemães em que o FMI, com larga experiência no monitoramento de planos de ajuste fiscal de países insolventes, seja parte integrante do socorro traduz a preocupação eocupação dos alemães em não dar um “cheque em branco” ao governo grego. Há duas razões para a posição mais austera do governo alemão nesse caso. A primeira delas é de natureza política. Será difícil para o governo alemão convencer seus contribuintes de que e a ajuda financeira a um país que tem regras de aposentadoria e de reajustes salariais mais frouxas que a Alemanha era realmente necessária. Para evitar uma ressaca eleitoral no futuro é importante que o governo alemão mostre aos seus contribuintes que a ajuda financeira à Grécia não significa que ele não está sendo conivente com um governo perdulário. Em segundo lugar, há uma razão econômica mais profunda, com impactos sobre o longo prazo, para a posição mais austera da Alemanha. Uma possível complacência fiscal por parte do governo grego após a obtenção do socorro da UE pode ser interpretada como um sinal de que tal estratégia está disponível a todos os demais países. Outros países com problemas fiscais menos intensos que a Grécia, como a Irlanda, Portugal, l, Espanha e Itália, Itália podem ser estimulados a reduzir a intensidade do seu ajuste fiscal, acessando a linha de recursos disponibilizada pela UE.2 O resultado final é que o ajuste fiscal na UE como um todo será mais moderado, implicando elevação da dívida pública total. Como conseqüência, haverá rá necessidade de mais inflação ou mais tributação no longo prazo,, como forma de arcar com os custos do financiamento da dívida pública. Como a tolerância inflacionária dos países da UE parece ser mais elevada que a da Alemanha, lemanha, o resultado provável no longo prazo é uma inflação mais elevada. É nesse sentido que deve ser interpretada a recente declaração da Chanceler da Alemanha que, ao comentar a situação na Grécia, afirmou que: “A A Alemanha sente uma obrigação enorme de garantir a estabilidade do euro”. euro Há um cabo de guerra entre a UE e a Grécia. A Grécia deseja ter acesso a recursos da EU e do FMI a custos mais baixos que as captações voluntárias de mercado, mercado minimizando o ajuste fiscal necessário no curto prazo. Esse ajuste ajuste fiscal tem um custo político elevado para o governo grego. Por outro lado, a UE e o FMI, que já disponibilizaram 45 bilhões de euros (cerca de 60 bilhões de dólares) 3 para um possível pacote de socorro financeiro, financeiro 2 Na última semana de abril, quando houve uma deterioração no cenário de solvência da Grécia, o que elevou o retorno dos títulos de curto prazo gregos para cerca de 14% ao ano, os o rendimentos dos bônus de dois anos portugueses subiram três quartos de ponto para 3,64%, os dos bônus da Irlanda Irland subiram num ritmo similar,, para 2,99%, e os dos bônus espanhóis aumentaram um quarto de ponto para 1,87%. Há também uma tendência de rebaixamento da nota de risco desses países. No caso de Portugal, por exemplo, a agência Standard & Poor´s rebaixou o rating soberano de longo prazo de A+ para A- no final de abril. A Fitch já havia reduzido o rating português no mês de março. Em geral, o problema de solvência na Grécia reduz o financiamento disponível para outros países europeus em situação financeira similar. simil A Espanha também teve seu rating de longo prazo reduzido pela Standard & Poor´s de AA+ para AA. 3 Sendo 30 bilhões de euros da UE e de 10 a 15 bilhões de euros do FMI.. Há especulações de que esses valores podem ser elevados em caso de necessidade. Aparentemente, Aparentemente, o problema não está na -2- querem que o ajuste fiscal de curto prazo prazo da Grécia seja o mais rígido possível. A economia política dessa negociação é complicada.4 Nenhuma das partes quer que uma solução de ruptura. Por outro lado, nenhuma das partes quer ceder cedo demais, demais tentando extrair o máximo da barganha. O resultado é uma uma elevação das tensões e da volatilidade financeira. No final de abril, abril os títulos gregos de curto prazo foram cotados a uma taxa de 13,14%.5 Essa taxa é maior, por exemplo, que o custo da dívida externa da Argentina (8,8%) e da Venezuela (11%),, dois países país com baixa credibilidade no mercado financeiro mundial. mundial O custo de captação grego é também superior às captações externas do Brasil, que têm sido realizadas a taxas pouco abaixo dos 6% ao ano. GRÁFICO 1 Taxa de Câmbio US$/Euro Fonte: Banco Central A principal boa notícia das últimas semanas é que o governo grego finalmente formalizou um pedido de ajuda ao FMI e ao BCE, abrindo assim as negociações para um acordo. Esse foi um primeiro passo na direção da solução do problema de insolvência da dívida pública. lica. Enquanto não for formalizado um acordo final, a incerteza quanto a uma solução definitiva para a solvência da dívida pública grega vai gerar instabilidade em vários mercados de ativos. O euro continua a perder valor frente ao dólar e a outras moedas (gráfico 1). Em relação ao real, por exemplo, o euro atingiu, no final de abril, seu menor valor dentro do mandato do presidente Lula. Alguns países onde a recuperação econômica está ocorrendo de forma mais acelerada já iniciaram suas “estratégias de saída” saída” em relação à política monetária falta de recursos, mas sim na negociação entre as partes quanto ao tamanho do ajuste fiscal e ao monitoramento desse ajuste pelo FMI. O plano total de ajuda para os próximos anos pode ter um total de recursos bem superior ao já anunciado para a ajuda de curto prazo. 4 Uma excelente representação cinematográfica desse problema de economia política entre a Alemanha e a Grécia pode ser vista no filme “Rebel “ Without a Cause”, ”, quando James Dean participa do chamado “Chickie Run”. ”. Ver http://www.youtube.com/watch?v=LGUYsuYudVA&feature=related. http://www.youtube.com/watch?v=LGUYsuYudVA&feature=related Esperemos que o resultado do jogo atual não seja o mesmo do filme. 5 Outro indicador de elevação das tensões financeiras financeiras ocorrido no final de abril foi o rebaixamento da Grécia da posição de “grau de investimento” investimento pela agência Standard & Poor´s. Poor´s -3- fortemente expansionista. Esse é o caso, por exemplo, da Austrália. Austrália No final de abril, o Banco Central da Austrália elevou, pela quinta vez, a taxa de juros em 0,25 pontos-base, pontos para uma taxa de 4,25% ao ano. O Brasil também tamb se enquadra,, a partir da última reunião do Copom, nesse grupo de países que já iniciou um processo de volta a normalidade n no que diz respeito à política monetária. A inflação continua relativamente sob controle nos Estados Unidos e na Europa, o que não coloca pressão sobre os Bancos Centrais entrais para a elevação dos juros nos próximos meses. Em março, a taxa de inflação ao consumidor nos Estados Unidos foi de 0,4% para o índice cheio e de 0,2% para o núcleo da inflação (que exclui energia e alimentos). A inflação lação acumulada em doze meses continua estabilizada em patamares relativamente baixos, de 2,3% para o índice cheio e 1,1% para o núcleo da inflação. Nos países da Zona do Euro a situação é ainda mais confortável, tendo a taxa de inflação anualizada atingido atingid 1,4% nos últimos doze meses até março para o índice cheio e 0,9% para o núcleo. Há, contudo, fortes disparidades dades regionais na inflação da Zona do Euro. O dado agregado de 1,4% de inflação inclui a Irlanda, com deflação de -2,4% 2,4% e a Grécia com uma taxa de inflação de 3,9%. Em função da inflação contida, contida o FED manteve constante a taxa de juros básica da economia norte-americana americana entre 0,00% 0 e 0,25% em sua reunião no final de abril. O comunicado distribuído após a reunião é muito similar aos anteriores e parece par indicar que uma mudança da política monetária norte-americana norte americana não ocorrerá antes do último trimestre do ano. Há no comunicado um reconhecimento de que as condições do mercado de trabalho começaram a melhorar e que os gastos dos consumidores se elevaram nos últimos meses. Contudo, tais eventos não afetaram a inflação ou as expectativas de inflação, o que indica a manutenção de uma política monetária expansionista por vários meses. Há dados de atividade econômica vindos da economia norte-americana norte que são bastante positivos. Em abril, o índice de confiança do consumidor norte-americano, norte que é um bom indicador antecedente da atividade econômica, apresentou uma elevação para o nível de 52,3 pontos, o que representa o melhor resultado obtido desde setembro de 2008 (61,4), antes do agravamento da crise econômica mundial. Os dados desagregados mostram que há uma redução na apreensão dos consumidores em relação ao mercado de trabalho e ao estado geral dos negócios. Por outro lado, o mercado imobiliário, fonte inicial ini da crise econômica, também mostra sinas recentes de melhora. As vendas de novas residências nos Estados Unidos avançaram 26,9% entre fevereiro e março de 2010, subindo de 324 mil para 411 mil. Em função dessa melhora nas vendas, vendas houve também uma recuperação recup nos preços dos imóveis. Esse é um elemento importante, pois os imóveis representam uma importante fonte de riqueza para o consumidor norte-americano. norte Dois países importantes apresentaram taxas de crescimento positivas no primeiro trimestre de 2010. No Reino Unido, Unido o PIB aumentou 0,2% no primeiro trimestre de 2010, após expansão de 0,4% nos três meses antecedentes. A indústria foi o setor que apresentou o melhor desempenho nesse primeiro trimestre do ano. Nos Estados Unidos, Unidos o PIB avançou 3,2% no primeiro meiro trimestre6, o que representa o terceiro trimestre consecutivo de variação positiva para o PIB (gráfico gráfico 2). No quarto trimestre de 2009 e no o primeiro trimestre de 2010, a expansão do PIB esteve baseada no crescimento dos gastos privados, visto que a contribuição ontribuição dos gastos públicos foi negativa. No primeiro trimestre de 2010, por exemplo, houve expansão de 3,6% nos gastos em consumo de bens e serviços das famílias, e de 14,8% nos gastos em investimento privado, enquanto os gastos governamentais em consumo cons e investimento apresentaram uma taxa negativa, negativa de -1,8%. Em termos de contribuição para a 6 As estimativas para o primeiro trimestre ainda são preliminares e deverão passar por duas revisões nos próximos meses até a obtenção do resultado final do PIB. -4- formação da taxa de 3,2%,, o consumo privado de bens e serviços contribuiu com 2,55 p.p., o investimento privado com 1,67 p.p., p.p. os gastos do governo em consumo e investimento i com -0,37p.p. e as exportações líquidas com -0,37p.p... O resultado desagregado mostra que nos últimos seis meses a economia norte-americana norte americana está crescendo com base na expansão do consumo e do investimento privados, não estando estando mais fortemente dependente ependente dos estímulos fiscais governamentais. Esse é um resultado importante, pois indica que há uma volta paulatina à expansão sustentada do crescimento econômico, sem a necessidade de fortes “anabolizantes” estatais. GRÁFICO 2 PIB dos EUA – Var. % Anualizada alizada em cada Trimestre Fonte: Bureau of Economic Analysis Quando se iniciou a atual recessão norte-americana, norte em dezembro de 2007, 2007 segundo o NBER, havia grande apreensão quanto às às suas repercussões. As similaridades da crise bancária atual com aquela que gerou a grande depressão dos anos trinta levaram muitos analistas a prever uma prolongada e profunda recessão. Os dados objetivos não parecem confirmar a associação entre as duas recessões. Entre 1929 e 1932 a produção industrial caiu cerca de 45% e a taxa de desemprego passou de 3% para 25%. A recessão atual está se mostrando longa, já dura 26 meses segundo o NBER, mas qualitativamente não pode ser comparada à observada nos anos trinta. Na recessão atual, atual a produção industrial caiu 16% e a taxa de desemprego de elevou-se se de 4,4% para 10,1% no final de 2009. O desemprego já cedeu para 9,7% e a produção industrial já se recupera de forma continuada. Há, inclusive,, opiniões divergentes em relação ao NBER que consideram que a recessão atual terminou no final de 2009. Na recessão do início dos anos oitenta (1980(1980 1982), por exemplo, o taxa de desemprego atingiu 10,8%, superando o índice observado na crise atual. Talvez a forma mais correta de classificar a crise atual seja como um evento híbrido. Ela tem suas origens rigens em uma crise bancária, tal como nos anos trinta. trinta Contudo, seu impacto sobre as variáveis macroeconômicas reais se assemelha mais a recessão re dos anos oitenta do que à Grande Depressão dos anos trinta. A condução da política monetária e fiscal, apesar de eventuais erros de percurso foi, no geral, acertada, evitando que a crise bancária presente tivesse os mesmos efeitos observados nos anos trinta. -5- 3. POLÍTICA ECONÔMICA, INFLAÇÃO E NÍVEL DE ATIVIDADE Os dados da atividade econômica brasileira continuam continuam a evidenciar um forte aquecimento da demanda interna. O volume de vendas no comércio apresentou forte aceleração no primeiro bimestre do ano. Em dezembro de 2009, o volume de vendas se expandiu 9,2% em relação ao mesmo mês de 2008. Nos dois meses seguintes, seguint as vendas 7 aceleraram, crescendo 10,4% em janeiro e 12,3% em fevereiro. fe O bom desempenho no primeiro bimestre do ano ocorreu no comércio e na indústria. indústria. Contudo, C o dado do comércio é mais significativo. As elevadas taxas de crescimento da produção industrial no início de 2010 decorrem, em parte, de uma base de comparação que foi deprimida em função de uma redução da produção no início de 2009. No caso do volume de vendas, contudo, não houve redução no início de 2009. Embora tenha havido uma desaceleração desaceleraçã no ritmo de crescimento, as vendas no varejo continuaram em elevação mesmo nos piores meses da crise econômica, localizados no primeiro semestre de 2009 (gráfico 3). A expansão nas vendas não é localizada em um setor específico. Embora exista heterogeneidade dade setorial, todos os setores do comércio apresentaram expansão positiva significativa no primeiro bimestre do ano. Os setores de super e hipermercados e de materiais de informática e comunicações são aqueles a apresentar um melhor desempenho. GRÁFICO 3 Volume de Vendas no Varejo - Brasil (Var % mensal e acumulada em 12 meses) meses Fonte: IBGE Em um ambiente de forte pressão de demanda como o atual, a capacidade das empresas produtivas em repassar repassa elevações de custos ou de tentar recompor, recompor ou mesmo elevar, as suas margens de lucro fica maior. Isso tem se traduzido em uma elevação da taxa de inflação. O IPCA-15 15 do mês de abril apresentou uma redução em relação ao dado do próprio IPCA-15 15 e do IPCA do mês anterior. Contudo, Contudo a desaceleração ficou aquém do 7 Na verdade, as vendas no varejo aceleram desde setembro de 2009, com o crescimento em cada mês sempre acima do observado no mês anterior. -6- que seria ria desejável. Houve uma desaceleração desaceleração dos preços de produtos que têm tê forte elevação sazonal no início do ano, mas aqueles produtos de consumo não durável, durável associados à demanda corrente, corrente continuaram pressionados, especialmente os alimentos. O índice de difusão, usão, que mede o percentual de preços em elevação, elevação continuou a mostrar crescimento,, criando um quadro de elevação de preços disseminada pela economia. Nos últimos doze meses até abril a inflação já atingiu 5,22% de acordo com o IPCA-15. IPCA No final de abril, o Copom iniciou um novo ciclo de elevação da taxa de juros. A elevação de 0,75 ponto percentual levou a taxa Selic para o nível de 9,50% ao ano. Esse movimento era inevitável, pois tanto a inflação corrente quanto a expectativa de inflação futura estavam consistentemente onsistentemente acima da meta estabelecida pelo CMN. A inflação corrente está próxima dos 5,2% e a expectativa de inflação de longo prazo (para os próximos doze meses ou para o final de 2011) é de cerca de 4,8% (gráfico 4). 4) A nota divulgada pelo Copom foi muito econômica em argumentos, não permitindo uma análise mais detalhada quanto às futuras ações do Banco Central. A ata dessa reunião deverá apresentar uma tentativa de melhorar a comunicação entre o Banco Central e os participantes do mercado de juros. Em um sistema de metas de inflação é desejável que o Banco Central consiga tornar transparente o seu objetivo (que deve ser sempre o de perseguir a meta de inflação) e a relação das suas ações presentes e futuras com esse objetivo. É provável que a combinação combinação de uma elevação dos juros dentro das expectativas do mercado financeiro e uma ata esclarecedora da estratégia do Banco Central possa reduzir a volatilidade no mercado de juros. Embora novas elevações dos juros básicos devam certamente ocorrer nas próximas próx reuniões do Copom, não se espera que a taxa Selic retorne ao seu patamar anterior ao último ciclo de redução dos juros (13,75%). É provável que continuemos a observar uma repetição da tendência de longo prazo na redução dos juros que, a cada ciclo de elevação, produz uma taxa Selic elic inferior a obtida no ciclo de elevação anterior. GRÁFICO 4 Expectativas de Inflação para os Próximos 12 meses – Var. % Fonte: Banco Central -7- O mercado de trabalho voltou a apresentar bons resultados no mês de março. A taxa xa de desemprego se elevou nos três primeiros meses do ano, atingindo 7,6% em março, representando uma elevação sazonal comum a todo início de ano. Em relação aos mesmos meses de 2009, a taxa de desemprego apresenta uma redução significativa. É importante ainda notar, que continua a haver uma forte recuperação da massa de rendimentos reais na economia. Em março, a população ocupada permaneceu relativamente estável em relação ao mês anterior, mas houve elevação do rendimento real habitualmente recebido pelos ocupados. A massa de rendimentos real nas principais regiões metropolitanas do país atingiu, em março, R$ 31,7 bilhões (gráfico 5), representando uma elevação de 0,7% no mês e de 5,3% em relação ao mesmo mês de 2009. A expansão da massa de salários e os juros uros baixos, que estimulam o crédito, têm sido os principais motores da retomada econômica brasileira nos últimos trimestres. A perspectiva para os próximos meses é de continuidade do processo de melhoria no mercado de trabalho, implicando em baixa inadimplência lência e elevação no consumo. GRÁFICO 5 Massa de Rendimentos Brasil – Bilhões de R$ de mar/2010 (IPCA) Nota: Corresponde ao produto da população ocupada pelo rendimento real habitualmente recebido. Fonte: IBGE A receita tributária continua a mostrar forte forte recuperação no início de 2010. No primeiro trimestre do ano, a arrecadação federal já é R$ 26 bilhões superior àquela verificada em igual período de 2009. Em termos reais, reais o ganho no trimestre chega a 11% (tabela 1). Esse bom resultado não se limita ao ao governo federal. A arrecadação de ICMS pelos Estados e de ISSQN pelos Municípios, que são tributos fortemente relacionados à atividade, tem também crescido acima da inflação nesse início de ano. Esse ganho de receita tem incentivado uma certa complacência complacênci fiscal por parte do governo federal. Recentemente, Recentemente foi editada uma Medida Provisória com perdão para aqueles estados que não cumpriram, em 2009, as metas estabelecidas pelo Programa de Ajuste Fiscal (PAF). ). As unidades da federação que descumprem o PAF ficam fi proibidas de contrair empréstimos para investimentos em qualquer instituição financeira pública ou privada. Estados que descumpriram suas metas de superávit primário, primário ou de limites dos -8- gastos com pessoal em relação à receita, vão continuar a poder se endividar e em 2010, acessando, por exemplo, os recursos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, com recursos disponíveis totais de R$ 124 bilhões. Em termos dos incentivos dinâmicos, a sinalização que foi dada pelo perdão não ajuda no processo pro de ajuste fiscal de longo prazo do país. TABELA 1 Arrecadação das Receitas Federais (R$ Milhões) Arrecadação Receita 2010 Variação (%) 2009 B/A 2/1 159.809 11,56 16,38 15.651 45.001 11,44 14,33 134.533 37.610 114.808 11,60 17,18 59.416 187.214 56.012 168.645 6,08 11,01 Previdenciária 17.441 51.762 16.459 47.474 5,97 9,03 Tributária e outras 41.974 135.452 39.553 121.171 6,12 11,79 59.416 187.582 54.464 162.423 9,09 15,49 Previdenciária 17.441 51.853 16.004 45.746 8,98 13,35 Tributária e outras 41.974 135.729 38.460 116.677 9,14 16,33 Mar (B) Jan-M ar (2) M ar (A) 59.416 185.984 53.261 Previdenciária 17.441 51.450 Tributária e outras 41.974 Nominal IPCA IGP-DI Jan-M ar(1) Fonte: Receita Federal do Brasil GRÁFICO 6 Superávit Primário (% do PIB) Fonte: Banco Central do Brasil Apesar dos ganhoss de receita acima da inflação nos três níveis de governo, o superávit primário no primeiro trimestre do ano foi de apenas R$ 16,8 bilhões, correspondendo a 2,11% do PIB, um valor 0,51 p.p. inferior aos 2,62% do PIB obtidos no -9- primeiro trimestre de 2009. Contribuiu ontribuiu para essa queda no trimestre a redução do primário de fevereiro (que foi de apenas R$ 859 milhões) e o déficit primário registrado em março (de R$ 216 milhões). Nos últimos dois meses, apesar apesar da estabilidade no pagamento de juros, que tem ficado relativamente constante em termos anualizados, em torno de 5,4% do PIB, PIB o superávit primário anualizado voltou a cair em fevereiro e março. Como mostra o gráfico 5, o superávit primário acumulado em doze meses apresentou uma forte tendência de queda ao longo go do ano de 2009. A partir de um patamar relativamente constante acima dos 4% do PIB, o superávit primário foi fortemente reduzido até atingir 0,97% do PIB em outubro de 2009. No último trimestre de 2009, 2009 houve um esforço do governo central na utilização ção de artifícios contábeis8 para garantir que houvesse uma elevação do superávit primário, de forma a terminar o ano de 2009 com o primário dentro da meta.9 Passada a necessidade de “cumprir a meta” que era imposta pelo calendário, os números parecem mostrar ar que pode estar havendo uma volta à complacência fiscal observada em 2009, com o superávit primário retomando sua trajetória de queda. Note-se Note se que a meta de superávit primário para 2010 é de 3,3% do PIB. Logo, o cumprimento da meta fiscal exige que o governo erno tente elevar o superávit primário ao invés de reduzi-lo. reduzi Com o resultado obtido até março, um superávit primário de 1,94% do PIB, há necessidade de elevação de 1,36 p.p. até o final do ano para que possamos cumprir a meta fiscal sem abatimentos referentes ao PAC e PPI. Cada mês de adiamento na elevação do superávit primário nos deixa relativamente mais distantes da meta para o ano. Há indícios de que o grau de austeridade fiscal do governo se alterou de forma permanente a partir de 2009. 2009 Embora estejamos os distantes de um problema de solvência da dívida pública, como é o caso da Grécia, há um peso cada vez maior sobre o próximo governo para reajustar as contas fiscais do país. 4. SETOR EXTERNO E TAXA DE CÂMBIO Continuou forte a deterioração das contas externas brasileiras. No primeiro trimestre de 2010 a conta de transações correntes apresentou apre um déficit de US$ 12,1 bilhões, o que representa mais do que o dobro do saldo negativo obtido no mesmo período de 2009 (tabela 2). Apesar disso, o balanço de pagamentos, pagame como um todo, todo apresentou superávit de US$ 6,2 bilhões no trimestre, pois as entradas de recursos pela conta capital e financeira foram mais do que suficientes para financiar o déficit em transações correntes. A elevação do déficit em transações correntes correntes decorre, por um lado, de uma forte redução no superávit comercial e, por outro lado, de uma expansão do déficit na conta de serviços e rendas. Esse superávit global no balanço de pagamentos continuou a alimentar a elevação do volume de reservas, acumuladas acumuladas através de compras diárias do Banco Central no mercado de câmbio. Em fins de abril, abril as reservas internacionais já superavam os US$ 247 bilhões. 8 Houve incorporação de depósitos judiciais à receita, adiantamentos de pagamentos pagamen de dividendos de empresas estatais com créditos do BNDES, etc. 9 A rigor, o governo cumpriu a chamada “meta corrigida”. A meta original de superávit primário de 2009 era de 3,3% do PIB. Essa meta foi reduzida no início de 2009 para 2,5% do PIB. PIB Havia ainda a possibilidade de abater desse total os gastos em investimentos contidos no PPI e no PAC até um valor máximo de R$ 17,9 bilhões. Para cumprir a meta fiscal em 2009,, o governo precisou usar R$ 13,9 bilhões (0,45% % do PIB) dos descontos permitidos, atingindo atingindo um primário de 2,05% 2,0 do PIB. - 10 - TABELA 2 Balanço de Pagamentos (US$ Milhões) 2010 2009 mar Balança Comercial (FOB) Jan-Mar (1) Ano Mar Jan-Mar (2) Var. % (2)/(1) 1 757 2 988 25 290 668 892 -70,1 Exportações 11 809 31 178 152 995 15 727 39 230 25,8 Importações 10 053 28 189 127 705 15 059 38 337 36,0 - 3 588 - 8 788 - 52 930 - 6 015 - 13 823 -57,3 272 862 3 338 279 786 -8,8 - 1 559 - 4 938 - 24 302 - 5 067 - 12 145 -146,0 3 005 3 557 71 301 8 504 19 371 444,6 124 338 1 129 104 239 -29,3 2 880 3 219 70 172 8 400 19 132 494,4 Investimento direto (líq.) 1 154 5 735 36 033 1 518 - 271 -104,7 Investimento em carteira 1 570 - 2 919 50 283 3 530 8 774 400,6 Derivativos - 4 204 156 9 - 26 -112,5 Outros Investimentos 159 199 - 16 300 3 343 10 655 5243,7 Erros e Omissões -505 199 -347 - 174 - 1 066 -636,4 Variação de reservas -940 1.182 -46.651 - 3 263 - 6 160 -621,2 Serviços e rendas Transferências Unilaterais Transações correntes Conta capital e financeira Conta Capital Conta Financeira Fonte: Banco Central do Brasil GRÁFICO 6 Déficit em Transações Correntes Ac. em 12 meses (Bilhões de R$) Fonte: Banco Central O Brasil continua a receber um significativo fluxo de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). No primeiro trimestre de 2010, 2010 o IDE líquido somou US$ 5,656 bilhões e nos últimos doze meses até março foi de US$ 26,263 bilhões.. Contudo, em termos líquidos, - 11 - a contribuição do investimento direto para o saldo do balanço de pagamentos no primeiro trimestre do ano foi praticamente nula, pois houve também uma forte saída de investimentos diretos de brasileiros no exterior. No primeiro trimestre de 2010, 2010 os investimentos diretos de brasileiros no exterior foram de US$ 5,928 bilhões, bilh implicando um crescimento exponencial em relação ao mesmo período de 2009. Em termos anualizados, anualizados o saldo ldo negativo em transações correntes já atinge US$ 31,5 bilhões (gráfico 6)) e deverá continuar em forte aceleração até o final do ano, chegando próximo dos US$ 60 bilhões em dezembro. A entrada de capital externo tem sido suficiente para financiar o déficit déficit em transações correntes, pressionando por uma valorização da taxa de câmbio. câmbio. Embora esse processo de valorização da taxa de câmbio não deva ser revertido no curto prazo, a elevação do déficit em transações correntes para valores muito elevados poderá começar a exercer influência ncia para a reversão dessa tendência no médio e longo prazo. Essa reversão não deverá ser abrupta, como ocorria no passado, pois o país tem atualmente um volume de fluxo de divisas e um estoque de reservas internacionais que permite movimentos movimentos mais suaves de reversão de tendência na trajetória da taxa de câmbio. mbio. - 12 - 5. DADOS E PROJEÇÕES ECONÔMICAS Cenário Básico PIB PIB VA - crescimento real (%) Agropecuária Indústria Serviços Preços IPCA - IBGE (%) IGP-M - FGV (%) Setor Público Resultado Nominal (% do PIB) Resultado Primário (% do PIB) Juros Nominais (% do PIB) Dívida Líquida do Setor Público (% do PIB) Câmbio e Juros Taxa de Câmbio R$/US$ (final de período) Taxa de Juros Nominal (final de período) Taxa de Juros Real - deflator IPCA (média do ano) Juro Nominal - média de período Balanço de Pagamentos 2007 2008 2009 2010 5,7 5,3 4,9 4,7 5,1 5,8 4,3 4,8 (0,2) (5,2) (5,5) 2,6 6,0 3,0 8,0 5,8 4,5 7,7 5,9 9,8 4,3 (1,7) 5,1 9,0 (2,3) 4,0 6,3 42,8 (1,5) 4,1 5,6 36,0 3,3 2,1 5,4 43,0 (2,9) 2,7 5,6 41,6 1,77 11,25 7,3 12,05 2,34 13,75 6,2 12,46 1,74 8,75 5,5 10,07 1,85 12,00 4,9 10,27 Exportações (US$ bilhões) 160,6 197,9 153,0 180,0 Importações (US$ bilhões) 120,6 173,2 127,6 177,0 Balança Comercial (US$ bilhões) 40,0 24,7 25,3 3,0 Conta Corrente (US$ bilhões) 1,5 (28,3) (24,1) (58,0) Conta Corrente (% do PIB) 0,1 (1,8) (1,3) (3,0) Investimento Estrangeiro Direto (US$ bilhões) 34,6 45,1 26,0 38,0 Reservas Internacionais (US$ bilhões) 181 207 239 260 Fontes: Banco Central do Brasil, IPEA Data, IBGE e MDIC Projeções: Gerência de Análise Econômica e Riscos de Mercado- Banco Cooperativo SICREDI S/A Consultor Responsável: Marcelo S. Portugal - 13 -