FUNDOS DE PENSÃO >>> Investimentos À espera de dias melhores 70 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL - Inst251_pag67-81.pmd 70 Sirius O primeiro semestre de 2013 não vai ser esquecido tão cedo pelos diretores dos fundos de pensão do país, responsáveis por fazer render o patrimônio das fundações de forma a fazer frente às necessidades dos participantes. Nos seis primeiros meses do ano corrente, a rentabilidade apresentada pelos planos dos fundos ficou abaixo do verificado em 2008, ano em que explodiu a crise imobiliária dos Estados Unidos, que desencadeou toda a crise financeira na qual estamos até hoje. Segundo projeções da comissão técnica de investimentos da Abrapp, a rentabilidade média dos fundos de pensão ficou negativa em 2,33%. Ainda que parcial, o resultado é pior do que a média reportada pelos fundos de pensão no fatídico ano de 2008, quando a rentabilidade ficou negativa “apenas” em 1,62%. Por se tratarem de entidades com um grande volume de capital, e perfil de mercado mais conservador, os fundos de pensão não planejam para o segundo semestre grandes mudanças nas estratégias de investimento a fim de reverter as perdas contabilizadas. No fundo, eles tem medo de quedas ainda maiores, até porque a volatilidade que acometeu com força as grandes praças financeiras do mundo pode diminuir, mas certamente não irá desaparecer. “Temos 75% de nossa carteira em renda fixa. Se as taxas de juros futuros não fecharem minimamente, não haverá investimento alternativo que nos salve em um cenário como esse”, afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp. De janeiro a junho, a entidade registrou um retorno negativo de 4% em sua rentabilidade, contra a meta de IGP-DI mais 4,5%. O IMA-B, índice da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que acompanha a variação dos títulos públicos indexados ao Sirius Rentabilidade do primeiro semestre de 2013 é pior que a de 2008, quando os investidores sofreram os impactos da crise dos EUA - por Lucas Bombana SIMINO: Perdas com o IMA-B 5+ (esq.); NIEWGLOWSKI: ”Não adianta se apavorar” (dir.) Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve uma queda de 7,8% no primeiro semestre de 2013. No caso do IMA-B 5+ (papeis com vencimento acima de 5 anos), a queda foi de 11,6%. A elevação da taxa Selic e, consequentemente, dos juros futuros, e a marcação a mercado, explicam a derrocada. E justamente os títulos de prazos mais distantes são os que formam a maior parte da carteira da Fundação Cesp. “A fundação tem R$ 22 bilhões em recursos, e não se mexe da noite para o dia. Dependemos de alguma melhora do mercado, seja de Bolsa, ou da renda fixa na ponta longa”, pontua Simino. Ainda que o cenário do mercado não tenha evoluído de maneira inquestionável, os primeiros meses do segundo semestre do ano não estão sendo tão negativos como foram no início de 2013, ressalta o diretor de investimentos da Fundação Cesp, que alerta para possíveis reviravoltas, ao sabor das próximas declarações de representantes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). “Tenho a sensação de que a maior parte do estresse do mercado já aconteceu, parte do ajuste no preço dos ativos já foi feita. Isso não significa que não possa ter outro estresse, não é um cenário fácil”, nota o executivo responsável pela aposentadoria dos funcionários da Cesp. “O grau de incerteza é muito grande. Não fazer nada às vezes pode ser a melhor coisa”. Na renda variável, a carteira da Funcesp Agosto de 2013 20/08/2013, 15:07 VARIÁVEIS INCERTAS – “Ao longo do tempo, é importante reduzir a importância da renda fixa no portfólio e aumentar o investimento de longo prazo na renda variável. Apesar do momento da Bolsa não ser bom no curto prazo, para o investidor que tem um perfil de mais longo prazo pode ser um ponto de entrada interessante, principalmente em fundos setoriais que sofreram menos que os fundos de índices”, pondera Marcelo de Jesus, superintendente nacional de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal. “O mercado não deve ter uma recuperação rápida, mas no longo prazo entendemos que a Bolsa é uma alternativa boa”. Embora haja uma tendência entre as entidades fechadas de ampliar os investimentos em renda variável, em detrimento da renda fixa, mesmo as entidades que tem uma disposição em aceitar mais risco em suas carteiras não estão colhendo bons frutos. No Fundo Paraná, segunda que mais aposta em ações entre as associadas à Abrapp, com 50% de sua carteira na renda variável, no primeiro semestre a rentabilidade ficou negativa em 3,3%. “Não adianta se apavorar com o mercado a partir do momento que se tem uma gestão ativa. Quem perde com o Ibovespa é quem investe no curto prazo. O fundo de pensão visa o longo prazo”, pontua Thiago Niewglowski, diretor administrativo e financeiro do Fundo Paraná. A atual divisão na renda variável da casa, com 80% em dividendos, e 20% em small caps, não tem previsão de sofrer alterações. “Se continuar a safra de bons resultados, e com uma melhora do cenário, o investidor estrangeiro se empolga, e a Bolsa pode recuperar bastante. Não tudo, mas vai dar um rally bom”, projeta Fernando Barros de Lima, diretor de administração e investimentos da Capef. “O primeiro semestre foi atípico. Não havia motivo para uma queda de 22%. Neste segundo semestre a Bolsa deverá ter um desempenho bem melhor”, pondera o executivo. Carlos Della Rocca Sirius de dividendos tem cumprido seu papel defensivo, ao reportar queda de “apenas” 1% no ano, se levarmos em consideração o tombo superior aos 22% registrado pelo Ibovespa no período. LIMA: Aposta nos FIIs continua (esq.); CASTRO: Proteção é a estratégia (dir.) Em julho, pela primeira vez no ano a Bolsa brasileira fechou o mês no azul, ao acumular ganhos de 1,64% (ver tabela Metas Atuariais x Benchmarks, na página 82). A alta de julho prosseguia na primeira quinzena de agosto. O plano de Contribuição Variável (CV) da Capef, de R$ 150 milhões, ainda na fase inicial de acumulação de capital, teve rentabilidade negativa de 2% no primeiro semestre, ante a meta de IPCA mais 5,5%. Além do desempenho da Bolsa, outro ponto que pesou para a Capef foi a fraca performance do IFIX, que acompanha os Fundos de Investimento Imobiliário (FII), e que recuou quase 9% nos seis primeiros meses do ano. O fundo de pensão tem perto dos 8% limites de seu capital alocado nesse tipo de produto. “São ativos bem fundamentados, que no médio e longo prazo vão dar bons retornos. Não deve haver grandes movimentações”, fala Lima. Ainda que não esteja promovendo mudanças radicais, pequenos ajustes, para aproveitar as pechinchas, com fundamentos sólidos, que tenham aparecido na praça, estão sendo realizados. “A queda da Bolsa gerou boas oportunidades de aquisição de ativos, e aproveitamos para comprar”, comenta o diretor do fundo. Os setores de consumo, financeiro, e empresas que tenham receitas atreladas ao exterior, que podem se beneficiar da alta do dólar, estão no radar da fundação. “Essas ações devem dar alguma alegria nos próximos meses”. Uma possível alteração do plano de inAgosto de 2013 Inst251_pag67-81.pmd 71 vestimento da Capef, para o ano que vem, revela Lima, é uma entrada nos Fundos de Participações (FIPs), movimento esse que deve ocorrer via um Fundo de Investimento em Cotas (FIC). “Com o FIC, diversifico a seara de investimentos, e reduzo a curva J”, explica o diretor, que diz ainda que os FIPs da fundação estarão no setor de infraestrutura voltados à mobilidade urbana. PROTEÇÃO É ALTERNATIVA – Como os fundos de pensão tem de olhar principalmente para o médio e longo prazo, ainda que a meta atuarial deixe de ser cumprida nos intervalos mais curtos, a recomendação de Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de investimentos da Santander Asset Management, é de que as fundações aproveitem as boas oportunidades do momento, como as NTN-Bs, e partam para proteções táticas, via derivativos e marcação na curva. “Pode ser que a taxa ainda abra mais, então vale a pena taticamente travar o risco”. A economia americana, lembra Castro, caminha para uma normalização das condições monetárias e financeiras, e um eventual dado da taxa de desemprego da região acima das expectativas tem potencial para catapultar os treasures, que balizam os juros futuros de todo o globo. “Se começarmos a identificar a economia dos Estados Unidos com uma robustez ainda maior, pode ser que tenhamos movimentos de ajuste como no primeiro semestre”, diz Castro. - INVESTIDOR INSTITUCIONAL - 20/08/2013, 15:07 71