FOLHA DE ROSTO Título do trabalho: ECONOMIA SOLIDÁRIA E TRABALHO: elementos para análise das políticas públicas de geração de trabalho e renda Nome do(s) autor(es): Adrianyce de Sousa (Professora da UnB, Doutora em Serviço Social pela UFRJ) e Daniela Neves (Professora da UnB, Doutora em Serviço Social pela UFRJ). Endereço eletrônico: [email protected] [email protected] Filiação institucional: Universidade de Brasília - UnB Resumo: A crise que acompanha medularmente a sociedade capitalista desde os anos 70, expõe, a cada dia, contornos dramáticos de expansão da pobreza e aprofundamento do exército de reserva. O desemprego e a pobreza tornaram-se o principal alvo na atuação das políticas públicas de orientação neoliberal. No caso brasileiro, verifica-se o crescimento do incentivo estatal em atividades de Economia Solidária. Palavras chaves: Trabalho, Estado, Economia solidária. Abstract: The crisis that came medularmente a capitalist society since the 70s, set out, each day, contours of dramatic expansion and deepening of poverty in the army reserve. Unemployment and poverty have become the main target in the performance of public policies of neoliberal orientation. In Brazil, there is encouraging the growth of state activities in the Solidarity Economy. Keywords: work, State, Solidarity economy. Área temática: Serviço Social e o Desenvolvimento ECONOMIA SOLIDÁRIA E TRABALHO: elementos para análise das políticas públicas de geração de trabalho e renda 1. INTRODUÇÃO Nas duas últimas décadas o Brasil vem sendo palco de um conjunto de mudanças estruturais, reestruturação dos pólos produtivos, reorientação de marco neoliberal na agenda política macroeconômica, ataques sequenciados aos direitos sociais e às políticas sociais. Mudanças estas que atribuem um renovado e fundamental papel ao Estado na sociedade capitalista, qual seja: subsidiar o desenvolvimento e acumulação capitalista, em especial nos momentos de crise, aprofundando o acesso do capital ao fundo público. A crise que acompanha medularmente a sociedade capitalista desde os anos 70 e suas atuais facetas, expõe, a cada dia, contornos dramáticos de expansão da pobreza e aprofundamento do exército de reserva. O desemprego e a pobreza que eram um traço residual no Estado de Bem Estar Social, são agora efeitos do processo de reestruturação produtiva, e tornaram-se o principal foco na atuação das políticas públicas de orientação neoliberal. Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD estimam que cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo encontra-se em situação de pobreza atualmente, sobrevivendo com menos de dois dólares por dia (PNUD, 2001). Contudo, uma outra tendência tem se materializado amplamente no Brasil, especialmente na era de Governos do Partido dos Trabalhadores - PT, configurando os impactos da reordenação do capitalismo mundial no país, sobretudo em seus rebatimentos sobre o trabalho, qual seja: dada à ampliação da precarização e informalidade do trabalho, condições necessárias para o processo de acumulação atual sustentado no receituário neoliberal, verifica-se no país o crescimento do incentivo estatal em atividades de Economia Solidária. Nestes termos, o presente artigo busca problematizar as configurações do Estado brasileiro frente à esfera dos direitos, em especial os direitos do trabalho, e neste quadro a relação da Economia Solidária com as formas de precarização do trabalho. Uma vez que, no nosso entendimento, as ações dentro do espectro da Economia Solidária estão fundamentalmente voltadas ao “combate ao desemprego” e à “geração de renda”, ou seja, a regulação do trabalho nos marcos da sua precarização e não da criação de trabalho com proteção social e direitos. Trata-se, pois, de incorporar o processo de precarização como definitivo e parte constitutiva das novas experiências do trabalho. 2. A CONTRA-REFORMA NO ESTADO BRASILEIRO E O ATAQUE AOS DIREITOS. Desde a década de 1970 o mundo vivencia um processo de reestruturação capitalista que estabelece dois tipos de ajuste estruturais distintos, mas inerentes ao movimento do capital: o primeiro balisado na esfera da produção pela chamada reestruturação produtiva e num novo regime de acumulação mundial predominantemente financeiro, e que, do ponto de vista político sustenta-se no neoliberalismo, cuja essência é o afastamento dos obstáculos a circulação do fluxo de mercadorias e dinheiros, pela via da contra-reforma do Estado. Estes dois processos articulados garantem ao capital fundamentalmente uma reatualização da sempre existente tensão entre o monopólio e a competição, entre centralização e descentralização. No dizer de Harvey (1996), não é que o capitalismo agora esteja mais desorganizado, ao contrário trata-se agora da maneira como o capitalismo se torna organizado através da dispersão e da mobilidade geográfica. O projeto neoliberal oriundo da estratégia internacional do capital estabelece uma política econômica monetarista com ampla privatização de empresas estatais, em que o "Estado mínimo" e o "máximo de mercado" são elementos fundamentais para a soberania do mercado. Na América Latina a execução do receituário neoliberal (disciplina fiscal, estabilidade monetária, redução de gastos públicos, reforma tributária, liberalização financeira e comercial, alteração das taxas de câmbio, investimento direto estrangeiro, privatizações e desregulamentação) implicou e tem implicado conseqüências totalmente nefastas para a maioria da população, pois provocaram aumento do desemprego, destruição dos postos de trabalho não-qualificados, redução dos salários devido ao aumento da oferta da força de trabalho e redução de gastos com as políticas sociais. No caso brasileiro, a heteronomia e amesquinhamento visceralmente antidemocrático e conservador da burguesia brasileira, são amplificados pela lógica neoliberal. A configuração de padrões universalistas e redistributivos de proteção social, garantidos minimamente na Constituição de 88, foram fortemente tencionados. Voltado para as estratégias de extração dos superlucros, e sob o argumento da crise fiscal do Estado, transformando as políticas sociais em ações pontuais e compensatórias, o processo de privatização foi explicitamente induzido nos setores estratégicos da proteção social (saúde, previdência e educação) (C.f. Behring e Boschetti, 2006). Aliado a esse ataque sistemático aos direitos sociais, a contra-reforma do estado brasileiro fragiliza o trabalho, sua organização e suas conquistas investindo em estratégias de trabalho com atividades de economia solidária, vinculadas ao terceiro setor, ao Estado ou ao setor privado. 3. ECONOMIA SOLIDÁRIA E SUA EXPANSÃO: ou de como legitimar a precarização. De acordo com Singer (2000), a economia solidária é parte de um projeto de organização sócio-econômica orientada por princípios opostos ao do laissez-faire1do mercado capitalista, visto que propõe em lugar da livre concorrência, a associação; em lugar da auto-regulação dos mercados, a limitação destes mecanismos com a estruturação de relações econômicas solidárias entre produtores e consumidores. Segundo o autor, a “economia solidária”, de um modo em geral, está alicerçada em três pressupostos – fundamentos – necessários para se operar nos marcos de uma organização solidária: a regulação econômica, a participação nos lucros e a gestão do trabalho. Partindo desses três pressupostos, Singer (2000) argumenta que no processo econômico capitalista nos termos liberais, a regulação da economia é regida pela livre concorrência no mercado mediada pelo movimento da competitividade2. Em contraposição a essa forma de organização econômica, Singer propõe “uma economia que fosse solidária em vez de competitiva. Isso significa que os participantes na atividade econômica deveriam cooperar entre si em vez de competir” (2002, p. 09). Nestes termos, a solidariedade na economia só pode ser realizada mediante organização de supostos iguais, que se vinculam entre si através de associação, em contraposição ao contrato entre desiguais (patrões e trabalhadores). Segundo o autor, é dessa maneira que a igualdade se manifesta como pressuposto da solidariedade, pois diferente do capitalismo, nas cooperativas os trabalhadores proprietários organizam-se como “outro modo de produção”3, tendo seus princípios baseados na propriedade coletiva ou associada do capital e também na liberdade individual. Dessa forma, é produzida uma classe de trabalhadores que são possuidores de capital, tendo como resultado 1 O laissez faire, componente central da formulação teórica do liberalismo clássico de Adam Smith e David Ricardo, fundamenta a posição econômica do livre mercado. 2 Cabe ressaltar que a economia capitalista atual não é competitiva na maior parte dos seus mercados, sendo dominada por oligopólios. A livre concorrência, segundo o autor, expressar-se-ia de modo efetivo no comércio e no setor de serviços (Cf. Singer, ibidem). 3 Termo utilizado por Singer (ibidem) na argumentação de que a economia solidária e as cooperativas de trabalho formariam conjuntamente um outro modo de produção diferenciado do modo de produção capitalista. “natural”4 a solidariedade e a igualdade na economia. A compreensão de economia solidária defendida por Singer é resultado de um amplo movimento de setores da sociedade (movimentos sociais, sindicatos, grupos religiosos, setor privado, a academia e etc.) que vêm divulgando e investindo no trabalho autogestionado com alternativa de trabalho e geração de renda. Entidades as mais diversas como: Associação Nacional de Trabalhadores de Empresas Autogestionárias e de Participação Acionária – ANTEAG, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares –ITCPs, Cáritas – órgão do Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Fundação de Órgãos para a Assistência Social e Educação – FASE, Unisol, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e a Agência de Desenvolvimento Solidário – ADS, da Central Única dos Trabalhadores – CUT, são responsáveis por várias ações de criação, estímulo e apoio as atividades de economia solidária. As atividades de trabalho que vêm sendo organizadas a partir de empreendimentos da chamada “economia solidária”, estando esta em franca expansão, no nosso entendimento, relacionam-se intimamente com formas atuais de desenvolvimento econômico e industrial, caracterizando-se enquanto estratégias de controle sobre o trabalho. Nestes termos, algumas propostas de auto-organização dos trabalhadores, na busca de satisfazer livremente as suas necessidades e combater o desemprego, tornam-se estratégias de auto-organização do trabalho para satisfazer as necessidades atualizadas do capital. Para nós, nesse trato dedicado à “economia solidária” – centrado no trabalho e no trabalhador - está contido um modo superficial de analisar os processos históricos e contemporâneos de transformação da sociedade capitalista, em particular a reestruturação da esfera produtiva e as relações sociais de produção. Isto é facilmente perceptível quando identificamos, na formulação de diversos autores, em especial Singer (2001), a articulação da “economia solidária” à necessidade contemporânea de combate ao desemprego localizado apenas na epiderme do fenômeno da reestruturação produtiva. Neste sentido, podemos afirmar que o atual padrão de acumulação põe em movimento um renovado processo de organização do trabalho, cuja finalidade essencial é a intensificação das condições de exploração da força de trabalho, principalmente nos contextos de crise, incorporando, na parte central da produção de valor, modalidades de trabalho que aparentemente seriam formas autônomas e independentes de trabalho. Sendo que estas formas, no caso brasileiro, verificam-se, sobretudo nas atividades desenvolvidas pela “economia solidária”. Logo, a inserção do Estado brasileiro como indutor direto de políticas que estimulam o crescimento do trabalho em economia solidária é um marco que caracteriza a ação estatal no campo das políticas públicas de trabalho e geração de renda. Este movimento permite efetuar um corte com os outros fatores que estão articulados a esse processo, como a contra-reforma do Estado e seu postulado neoliberal, e, sobretudo, as necessidades do capital no estágio atual de desenvolvimento capitalista. É dentro deste quadro, que no nosso entendimento, o governo brasileiro institucionaliza uma política de estímulo ao trabalho na economia solidária, e cria a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES5 dentro dessa perspectiva. E nestes termos, a partir de então, a economia solidária alçou ao status de política pública6 de governo. 4 Esse entendimento obscurece as construções sócio-históricas da relação capital e trabalho, e, por conseguinte, naturaliza e eterniza processos que são fundamentalmente resultantes sociais. 5 Em junho de 2003, o Congresso Nacional aprovou projeto de lei do presidente Lula, criando no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES. 6 A secretaria foi criada com a publicação da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho de 2003. A direção ficou sob o comando do economista Paul Singer. Os números do setor são expressivos. Os dados do Atlas da Economia Solidária no Brasil, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, 2006), apontam, no segundo semestre de 2005, a identificação de 14.954 empreendimentos solidários em 2.274 municípios brasileiros, sendo 44% só no Nordeste e 56% distribuídos nas demais regiões do país. A criação da SENAES atesta um marco diferenciado na política de trabalho e geração de renda do Estado brasileiro. A articulação da secretaria com diversos setores de governo como: Ministério da Educação, Saúde e Desenvolvimento Social e ainda com o BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Estados e Municípios, evidencia o enfoque plural das ações de economia solidária. Este traço pode claramente ser apreendido, segundo os dados veiculados pela própria secretaria. Entre 2003 e 2004, por exemplo, o Ministério do Trabalho e Emprego objetivando regulamentar as cooperativas de trabalho participa no Fórum Nacional do Trabalho, na constituição do GT Micro e Pequena empresa, Autogestão e Economia; participa no Programa Primeiro Emprego objetivando dar apoio à formação de associações e cooperativas de jovens. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal formulam uma política de desenvolvimento Comunitário como instrumento de Combate à pobreza. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES passa a desenvolver ações voltadas a recuperar empresas falidas, que passam a ser recuperadas pelos próprios trabalhadores. Essas ações revelam a forma atual que possibilita ao capital (des)referenciar o conteúdo central da exploração que é a sua produção coletiva e apropriação privada da riqueza. As ações centradas na “economia solidária” destinam-se à gestão do trabalho e a regulação econômica, em moldes flexíveis (leia-se máxima mobilidade para o capital, com máxima desregulamentação e precarização para o trabalho). É este movimento que possibilita tornar cada vez mais obscuras as mediações fundamentais do modo de produção capitalista. Particularmente, a funcionalização que estas políticas de Economia Solidária comportam como estratégias para o estágio atual do desenvolvimento capitalista no país, encobrindo as reais perdas de direitos, com impactos na organização política, da classe trabalhadora. 4. A ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL No Brasil dos dias atuais, considerados o quadro político, as mudanças no mundo do trabalho e as estratégias do capital na sociedade brasileira contemporânea, a economia solidária vem ganhando atenções e polarizando muito do debate acerca das estratégias de combate ao desemprego, geração de emprego e renda, e, sobretudo, das ações políticas de combate à chamada “vulnerabilidade social”. A economia solidária compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, empresas autogestionárias, redes de cooperação, complexos cooperativos, entre outros, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças, trocas, comércio e consumo - batizadas todas, nos últimos anos, pela SENAES de “empreendimentos de economia solidária” – EES. A amplitude de temas, experiências e ações que cerca esse amálgama denominado de economia solidária possibilita, na mesma medida, uma diversidade de debates, análises e proposições sobre e para a economia solidária. Existe hoje um número muito amplo e muito diferenciado – se considerarmos as vinculações teóricas e políticas – de autores7, estudiosos, 7 Como dissemos, a produção no campo da economia solidária é muito ampla, mas podemos sinalizar algumas das mais importantes no âmbito acadêmico: Arrouyo e Schuch (2006), Gaiger (2004), Rech (2000), Singer e Souza (2000) e Singer (1998, 2000, 2001 e 2002). A repercussão deste debate é tal que já propiciou uma análise profissionais, grupos, organizações e partidos que vêm produzindo intelectualmente e criando atividades que desenvolvem a economia solidária. E ainda devemos destacar a inserção do Estado brasileiro neste quadro, como formulador de políticas e indutor de ações de interesse deste segmento. Atualmente, a economia solidária faz parte da agenda do Estado através da implantação de políticas governamentais (municipais, estaduais e nacional) voltadas ao seu desenvolvimento. O governo federal criou em 2003, como já indicamos, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES. No mesmo ano, também foi criado o Fórum Brasileiro de Economia Solidária e a Rede de Gestores Públicos de Economia Solidária. A SENAES tem, entre seus objetivos, favorecer o desenvolvimento e divulgação da economia solidária. O Programa Economia Solidária em Desenvolvimento (criado em 2003 e implantado a partir de 2004, consta no do Plano Plurianual 2004-2007 e 2008-2011 do Governo Federal) realizou um amplo mapeamento da economia solidária no Brasil, na tentativa de catalogar todos os EES e as Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento. Com base nesse mapeamento foi constituído o Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária – SIES, composto por uma base nacional e por bases locais de informações, que proporcionam visibilidade à economia solidária e oferecem subsídios nos processos de formulação de políticas públicas. Não é nosso objetivo fazer uma análise e avaliação do programa do governo federal para a economia solidária. Todavia, sendo o Estado, em todas as suas instâncias, historicamente o maior empregador na criação das condições para regulamentar o trabalho, parece-nos importante identificar quais são as particularidades dessa política pública que estão impactando as modalidades de trabalho sem proteção social e quais são os vetores dessa política que vêm estreitando a relação entre trabalho e economia solidária. Por isto, buscamos traçar eixos centrais que caracterizam a política pública de economia solidária, a partir do Programa Economia Solidária em Desenvolvimento do MTE/SENAES. O Programa Economia Solidária em Desenvolvimento marcou a introdução de políticas públicas especificas para a economia solidária em âmbito nacional, em um contexto de novas ofensivas do capital, exigindo respostas do Estado cada vez mais flexíveis no campo do trabalho e da pobreza. Novas realidades do mundo do trabalho demandam do poder público respostas para relações de trabalho distintas do emprego assalariado. Foi neste contexto, e a partir das demandas do próprio movimento da economia solidária, que o Governo Federal, por meio de seu Ministério do Trabalho e Emprego, assumiu o desafio de implementar políticas que estendam ações de inclusão, proteção e fomento aos trabalhadores/as que participam das demais formas de organização do mundo do trabalho entre elas, as iniciativas de economia solidária. Ao constituírem um modo de produção alternativo ao capitalismo, onde os próprios trabalhadores/as assumem coletivamente a gestão de seus empreendimentos econômicos, as iniciativas de economia solidária vêm apontando para soluções mais definitivas à falta de trabalho e renda. E foi para apoiar o seu fortalecimento e expansão que se construiu o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento (MTE/SENAES, 2008; negritos nosso). Em 2004, as ações de economia solidária, sob responsabilidade da SENAES/MTE, passaram a contar com orçamento próprio, a partir da inclusão do programa no Plano Pluri-Anual – PPA do governo federal. O programa incorpora demandas da sociedade civil e iniciativas do governo para economia solidária e são definidas ações e prioridades articuladas à plataforma do Fórum Brasileiro comparativa França/Brasil (Filho e Laville, 2004); e não se esqueça os trabalhos de abrangência internacional patrocinados pelo influente sociológico português Boaventura Santos (2002). de Economia Solidária – FBES e às resoluções da I Conferência Nacional de Economia Solidária – CONAES (2006) e do Conselho Nacional de Economia Solidária – CNES. Na proposta do PPA 2008-2011, o programa incorporou, de modo mais definido, várias linhas de ação, com destaque para: a organização da comercialização dos produtos e serviços da economia solidária; a formação e assistência técnica aos empreendimentos econômicos solidários e suas redes de cooperação; o fomento às finanças solidárias, sob a forma de bancos comunitários e fundos rotativos solidários; a elaboração de conhecimentos e tecnologias sociais apropriadas à economia solidária; e a elaboração de um marco jurídico que, segundo o programa, regulamentará o direito ao trabalho associado. Mas a principal linha de ação é a estruturação de uma política pública voltada à economia solidária, com o estímulo à institucionalização de políticas nas três esferas; a formação de formadores/as e gestores públicos; a construção de uma estratégia de desenvolvimento local tendo a economia solidária como eixo, a partir da atuação de uma rede de agentes de desenvolvimento solidário espalhados pelo Brasil; e o mapeamento da economia solidária, para ampliar e atualizar a base do Sistema de Informações em Economia Solidária – SIES. As diretrizes dessa política capilarizam-se em outros setores do governo, como os ministérios da Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Agrário, e ainda no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, que também vêm desenvolvendo ações no campo da economia solidária. Por exemplo, o BNDES criou uma linha de financiamento permanente para entidades de assessoria aos EES e para a recuperação de empresas falidas que venham a ser administradas pelos próprios trabalhadores. Na condição de política pública, a economia solidária gera uma demanda diversificada nas áreas de financiamento; gestão de políticas; gestão de negócios; capacitação técnica; comércio e logística; pesquisa e metodologias sociais de cooperação, associação e autogestão; desenvolvimento local e assessoria jurídica, contábil e administrativa. Tais demandas vêm se ramificando nas práticas profissionais de várias categorias profissionais e e já constituem eixos específicos de formação e qualificação e indução de postos de trabalho vinculados à economia solidária. Afirmamos anteriormente que a economia solidária é muito heterogênea e conta com a participação de diversos agentes na sua promoção. Mas qual é a realidade da economia solidária no Brasil? E possível mensurar, agrupar, determinar a origem e a inserção econômica desses empreendimentos? Mesmo considerando que esta é uma tarefa que equaliza atividades sociais e econômicas com vinculações e relações sociais muito distintas, esboçamos, a partir das fontes disponíveis, uma radiografia da economia solidária brasileira. A economia solidária – ES no Brasil, a partir de dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária – SIES (base de dados até o ano de 2007) do Ministério de Trabalho e Emprego, é formada de 21.859 “empreendimentos”, dos quais, cerca de 49%, foram criados somente de 2001 a 2007. E reúne um total de 1.687.496 participantes - destes, 37% são mulheres e 63% homens. Mais de 1 milhão e meio de pessoas participa de atividades de economia solidária no país, número em significativo crescimento, e nos possibilita afirmar que a ES tem hoje uma representatividade consistente, a partir do número de envolvidos. Mas onde estão localizados os EES? Podemos ver, na tabela 01, que 43,5% deles atuam no nordeste brasileiro, e apenas 10,1% encontram-se na região centro-oeste. TABELA 01 – Quantidade segundo região, até 2007 REGIÃO QUANTIDADE (%) Norte 2656 12,1 Nordeste 9498 43,5 Sudeste 3912 17,9 Sul 3583 16,4 Centro-Oeste 2210 10,1 TOTAL 21859 100 FONTE: SIES – SENAES/MTE, 2009. Uma informação que nos chama atenção nessa tabela é que a região sudeste, que apresenta a maior densidade populacional do país, a maior taxa de industrialização e é responsável por mais de 50% do produto interno bruto/PIB nacional, tem apenas 17,9% dos EES e envolve apenas 3912 pessoas. Significa dizer que, mesmo em significativo crescimento, os EES têm baixíssimo impacto na composição da riqueza e na atividade econômica nacional (quase o mesmo vale para a situação da região sul). De outro lado, norte, nordeste e centro-oeste, as regiões mais pobres, concentram juntas 65,7% de toda a atividade de economia solidária, o que indica a concentração dos empreendimentos em regiões predominantemente pauperizadas. O modo de organização predominante é o sistema de associação, com 51,8%, seguido por grupos informais, 36, 5%. Apenas 9,7% do empreendimentos organizam-se em cooperativas, conforme a tabela 02. TABELA 02 - Forma de organização FORMAS DE ORGANIZAÇÃO QUANTIDADE (%) Grupo informal 7978 36,5 Associação 11326 51,8 Cooperativa 2115 9,7 Sociedade mercantil por cotas de responsabilidade limitada 54 0,2 Sociedade mercantil em nome coletivo 56 0,3 Sociedade mercantil de capital e indústria 192 0,9 Outra 138 0,6 21859 100 TOTAL FONTE: SIES – SENAES/MTE, 2009. Note-se que as formas de organização predominantes (associação e grupo informal) não esclarecem absolutamente nada sobre esses EES. As associações e grupos informais podem ser os mais diversos e com vinculações as mais distintas. E ratifica a nossa percepção analítica inicial sobre como é difícil definir o conjunto das atividades de economia solidária. Vemos ainda que as sociedades mercantis, 1,8% juntas, são também consideradas modalidades de organização de economia solidária, o que implica, como já antes anunciado, que empresas com nítidas diretrizes capitalistas fazem parte do leque da economia solidária. De acordo com a tabela 03, a seguir, 30,9% afirmaram que a motivação para a criação do EES foi este ser uma alternativa ao desemprego, sendo esta a maior motivação; a possibilidade da atividade associativa gerar maiores ganhos ficou em segundo lugar, indicada por 15,3%; apenas 7,2% dos informantes apontaram o fato de serem donos do seu próprio negócio como sua maior motivação. TABELA 03 - O que motivou a criação dos empreendimentos MOTIVOS QUANTIDADE (%) 1. Uma alternativa ao desemprego 6.746 30,9 2. Obtenção de maiores ganhos em um empreendimento associativo 3.339 15,3 3. Uma fonte complementar de renda para os(as) associados(as) 3.060 14 5. Condição exigida para ter acesso a financiamentos e outros apoios 2870 13,1 4. Desenvolvimento de uma atividade onde todos são donos 1.571 7,2 8. Desenvolvimento comunitário de capacidades e potencialidades 1128 5,2 9. Alternativa organizativa e de qualificação 961 4,4 7. Motivação social, filantrópica ou religiosa 864 3,9 6. Recuperação por trabalhadores de empresa privada que faliu 89 0,4 10. Outro. Qual? 772 3,5 Não respondeu. 459 2,1 21859 100 TOTAL FONTE: SIES – SENAES/MTE, 2009. O maior motivo que vem justificando a expansão dos EES's é, como se indicou, o desemprego. Mas se, por um lado, esta é a justificativa dos governos, das organizações patronais e dos sindicatos, as informações colhidas podem revelar – e este é o nosso entendimento - que já está enraizada também, na visão dos próprios “empreendedores”, a noção de que são necessárias formas alternativas de trabalho, vista a carência de empregos estáveis, formais e com garantias trabalhistas. Se somarmos esses aos 14% que dizem ser a atividade de economia solidária uma fonte complementar de renda para os associados, é flagrante o descontentamento e as dificuldades econômicas pelo qual vem passando os trabalhadores na sua inserção, ou não, no mercado de trabalho. Isso se traduz também quando observamos as áreas de atuação dos EES's posto que 48,3% deles atuam exclusivamente na zona rural, 34,6% em zona urbana e 17,1% tem atuação tanto na rural como urbana. Essa maioria de atividades de economia solidária no meio rural poderia talvez explicar-se pelo crescimento no país do setor agroexportador (o agrobusiness). Entretanto, quando analisamos as atividades econômicas que mais aparecem nos EES's (tabela 01), verificamos que a maioria são atividades de serviços ligadas à agricultura, no cultivo de lavouras temporárias, hortaliças, legumes e outros produtos da horticultura. Apenas 1253 “empreendimentos”, cerca de 5,7%, afirmaram cultivar cereais para grãos. A fabricação de artefatos a partir de tecidos, madeira, palha, cortiça e material trançado – itens conhecidos popularmente como artesanato - também é uma das maiores atividades econômicas desenvolvidas. Explica, no nosso entendimento, a baixa viabilidade econômica deles. A dificuldade de manter-se e conseguir uma arrecadação mínima mensal é outro desafio dos EES's. O faturamento médio mensal dessas atividades vem mostrando o nível de pobreza a que estão submetidos. A maioria dos EES's (quase um terço deles) têm faturamento mensal igual a zero (R$ 0,00), cerca de 29,9% (cf. infra, tabela 4) - o que nos parece ou escandaloso ou enganador. Dito de outra forma: ou podemos entender dessa informação que quase 1/3 (um terço) das atividades de economia solidária no país vivem um grau de exploração tremenda, na qual mesmo os envolvidos que estão trabalhando não são pagos pela sua força de trabalho; ou esses EES, mesmo constituídos, não têm nenhuma inserção no mercado, e não são, portanto, alternativa de renda e de solidariedade econômica. Vejamos os dados da tabela 04. TABELA 04 – Faturamento médio mensal dos EES FAIXA DE FATURAMENTO Nº DE EES (%) Até R$ 1.000,00 3.628 16,6 de R$ 1.001,00 a R$ 5.000,00 5.412 24,7 de R$ 5.001,00 a R$ 10.000,00 2.031 9,3 de R$ 10.001,00 a R$ 50.000,00 2.789 12,8 de R$ 50.001,00 a R$ 100.000,00 522 2,4 Mais de R$ 100.000,00 723 3,3 Faturamento mensal igual a R$ 0,00 6533 29,9 Não declararam faturamento 221 1 TOTAL 21859 100 FONTE: SIES – SENAES/MTE, 2009. Dos 68,9% que declararam ter algum faturamento mensal, cerca de 9.040 (nove mil e quarenta) “empreendimentos”, a grande maioria, 59,9%, chegam a faturar, no máximo, R$ 5.000,00 (cinco mil reais) mensais. A pergunta que nos instiga é: quando for retirado do faturamento as parcelas destinadas aos custos com matérias-prima, instrumentos e infra-estrutura e outros, o que resta para a repartição mensal entre os associados? O acesso à renda, nesses “empreendimentos”, pode ser considerado uma forma insignificante de distribuição de renda por via do trabalho, por isso comparável apenas com a condição de desemprego. Os problemas da inserção no mercado, da viabilidade econômica e da renda para as atividades de economia solidária não podem ser atribuídos, como fazem geralmente os economistas, aos elementos internos do mercado – dinâmica de oferta e procura, qualificação do trabalho e dos produtos, instabilidade dos preços etc. No capitalismo dos monopólios, não é a ação do capitalista individual, e neste caso do grupo solidário, que determina seu desempenho econômico. As empresas monopolistas controlam a amplitude da economia mundial e, em particular, do comércio mundial. As atividades econômicas que têm rentabilidade real ou são incorporadas ou são destruídas pelos grandes conglomerados. Na particularidade brasileira, uma das grandes dificuldades encontradas pelos EES's reside na comercialização de produtos e de serviços. Mais da metade dos grupos, 61,3%, têm essa dificuldade e constituem-se, neles mesmos, os vínculos para oferta dos produtos e serviços. Mais da metade vende, diretamente ao consumidor, seus produtos e serviços. Apenas 88, cerca de 0,4% “empreendimentos”, dos 21.859 pesquisados, afirmaram que têm na troca com outras atividades solidárias sua principal forma de circulação. Essa realidade repõe, de fato como ela é, a realidade da economia solidária e sua relação com o mercado capitalista constituído. Umas das grandes premissas da economia solidária é a constituição, entre suas atividades, de uma rede autônoma de produção, circulação e consumo solidário. Seria por esse mecanismo que as cooperativas, associações e diversos outros grupos poderiam se organizar e constituir uma suposta economia diferente da forma hegemônica. O que nos informam os números é a expressão concreta da incapacidade de qualquer outro modo de produção coexistir com o capitalismo, sem ser por ele destruído ou refuncionalizado - dessa forma, deixa de ser outra economia para ser uma variação da mesma. E ainda cai por terra a perspectiva do socialismo possível (Nove,1989; Amim e Houtart 2003; Santos, 2005), que muitos militantes da economia solidária e de movimentos chamados alteromundistas defendem. Quando se trata de investigar no mundo atual locais, culturas, sociabilidades ou formas de produção social nas quais o capitalismo ainda não incide ou domina, são poucos os exemplos que podemos encontrar – mas elas existem. Por exemplo, algumas comunidades isoladas em partes específicas do mundo, ou regiões paupérrimas, nas quais o capitalismo chegou apenas como manifestação ideo-cultural e não o capital como relação social. Contudo, essa constatação nos impede de afirmar que o capitalismo não é a forma social predominante, e muito menos, que coexistam, ainda hoje, modos de produção, com algum impacto econômico, diferentes do hegemônico. A economia solidária, como já mencionamos, envolve um conjunto de grupos sociais, os mais distintos, que vêm investindo e apoiando os EES's. Assim, pudemos observar que 72,67% dos “empreendimentos” tiveram algum tipo de apoio, assessoria ou capacitação para criação e desenvolvimento do grupo. E, neste ponto, o Estado – através dos mais diversos agentes governamentais – foi o maior incentivador, colaborando diretamente, de alguma forma, com 8.915 EES. Mas também ONG's, grupos comunitários, entidades patronais, sindicatos, organizações religiosas e redes universitárias são responsáveis por apoiar a economia solidária, conforme a tabela 05, a seguir. Essa realidade exprime a heterogeneidade do que é a economia solidária e suas entidades colaboradoras. TABELA 05 – Quem forneceu o apoio aos ESS's? (múltipla escolha) ENTIDADES QUE FORNECERAM APOIO TOTAL Órgãos governamentais. 8.915 ONGs, OSCIPs, Igrejas, associações e conselhos comunitários, etc. 5.097 Sistema “S” (Sebrae, Sescoop, etc). 4.466 Movimento Sindical (Central, Sindicato, Federação). 2.534 Outra. 1.559 Universidades, incubadoras, Unitrabalho. 1.201 Cooperativas de técnicos(as). 663 FONTE: SIES – SENAES/MTE, 2009. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Remetendo-nos ao movimento da exposição da nossa investigação, consideramos que a nossa hipótese – a economia solidária não é uma alternativa econômica anticapitalista – foi bastante fundamentada. No bojo das grandes alterações que matizam as manifestações da questão social, e atravessam o mundo contemporâneo, surge, com todas as suas contradições, um tratamento ao trabalho, ao desemprego e à pobreza, que aponta para um processo de recomposição da ideologia burguesa com suporte no que seria uma cultura da solidariedade (Mota, 1995). Este ambiente social se manifesta de formas as mais diferenciadas, mas, sobretudo, no que nos interessa, introduz no campo do trabalho largas mistificações com interesse em fragilizar a organização dos trabalhadores, e ainda, arrefecer as suas resistências. É neste caldo que a economia solidária está inscrita; assim, a sua inviabilidade como alternativa anticapitalista traduz-se de duas formas: no terreno ídeo-político, é produzida uma “narrativa lírica” que não se sustenta, pois a sua origem, se inscrita nas modalidades cooperativas e autogestionárias do campo socialista, revela um deslocamento para o seu inverso, já que expressa, na atualidade, uma solidariedade que não reflete uma identidade junto às classes trabalhadoras, mas uma solidariedade indiferenciada, trans-classista e que termina por apagar qualquer rastro das contradições que incidem nos interesses diametralmente diferenciados dos capitalistas e dos trabalhadores. Por isso, a economia solidária abriga, no seu interior, organizações de naturezas jurídicas e institucionais muito diferentes, e, especialmente, de posição de classe opostas, de modo que o trabalho é autonomizado e tratado apenas sob os aspectos da gestão e da regulação econômica. Assim, a economia solidária contribui para obscurecer em essência as relações de trabalho, de produção e de organização do trabalho em que está inserida (cooperativa, associação etc), particularmente modalidades de contratação da força de trabalho desprovidas de direitos trabalhistas e subsumidas às atuais exigências da produção capitalista. O chamado “empreendedor”, no campo da economia solidária, tem que empreender a si mesmo, visto que se processa, neste ponto, uma brutal ideologização da condição de trabalhador, objetivando que este passe a identificar-se com o capital. O resgate de proposições inscritas no caldo diversificado da tradição socialista (solidariedade, cooperação, autogestão, mutualismo, utopia, trabalho autônomo etc) é feito sem saturá-lo de diversas determinações, principalmente, sócio-históricas, produzindo um constructo político encharcado de anticapitalismo romântico. No terreno do factual, os empreendimentos de economia solidária revelaram-se atividades de baixíssimo impacto econômico, pondo radicalmente por terra todas as análises e defesas da economia solidária enquanto uma modalidade de geração de renda, dado o fato absurdo de que praticamente 1/3 (um terço) dos empreendimentos de economia solidária existentes no país não conseguirem, mês a mês, qualquer faturamento - isto demonstra, indubitavelmente, que não existe nenhum movimento econômico alternativo sendo desenvolvido no interior da economia solidária e que esta tentativa em afirmar que uma outra economia é possível nos marcos do capitalismo não vem conseguindo passar de simples ocupação organizativa para parcelas, cada vez maiores, da superpopulação relativa, com nítidas funções reificadas. Nesses termos, as estratégias de desenvolvimento que se fundam nas modalidades de trabalho por via da economia solidária necessitam ser confrontadas com os próprios objetivos desse mesmo desenvolvimento. O desenvolvimento brasileiro não deve estar alicerçado somente na diminuição da miséria e priorização do industrialização nos setores primários, mas na ampla distribuição da riqueza por meio de um novo pacto social que destaque o criação de trabalho com proteção social e direitos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS AMIM, Samir; HOUTART, François. Mundialização das resistências: o estado das lutas 2003. São Paulo: Cortez, 2003. ARROYO, João Cláudio Tupinambá. Cooperação econômica versus competitividade social. Revista Katalysis. Florianópolis: EDUFSC, V. 11, n. 01, 2008. ARROYO, João Cláudio Tupinambá e SCHUCH, Flávio Camargo. Economia popular e solidária: a alavanca para um desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. 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