Mariana Feres dos Santos

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MARIANA FERES DOS SANTOS
CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO
ELDORADO BUSINESS TOWER
São Paulo
2012
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MARIANA FERES DOS SANTOS
CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO
ELDORADO BUSINESS TOWER
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação
de
Mestrado
apresentada
à
Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Curso de
Pós Graduação.
Área de concentração:
Arquitetura Sustentável
Aprovada em 14/03/2012
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Eunice Helena S. Abascal – Orientadora
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Profª. Drª. Perola Felipette Brocaneli
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Marcelo de Andrade Romero
Universidade de São Paulo
S237c Santos, Mariana Feres dos
Construçőes com certificaçőes leed no brasil: o caso do eldorado
business tower. / Mariana Feres dos Santos – 2012.
159 f. : il. ; 30cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.
Bibliografia: f. 117-125.
AGRADECIMENTOS
A minha mãe Maria Cecília e ao meu pai Josenildo, pelo apoio, incentivo, paciência
e compreensão, colocando sempre minhas necessidades acima das deles. Nunca
serei capaz de retribuir tamanha dedicação.
A toda minha família e amigos que compreenderam minha ausência em diversos
momentos e continuaram a me incentivar a desenvolver esse trabalho.
A minha orientadora, Professora Eunice Helena S. Abascal, pelo acompanhamento
e conhecimento que me ajudaram na conclusão desse trabalho.
A professora Perola Felipette Brocaneli, pela atenção e pela disponibilidade em
sempre ajudar.
Ao arquiteto Eduardo Martins, pela ajuda na obtenção de materiais e de informações
sobre o Eldorado Business Tower.
A todos os professores do curso de mestrado do Mackenzie que, de forma indireta,
contribuíram no desenvolvimento desse trabalho.
i
RESUMO
O trabalho consiste na análise da certificação LEED, uma das mais utilizadas e
reconhecidas no Brasil, através de um estudo de caso do primeiro edifício a receber
o mais alto nível da certificação LEED CS na América Latina. A certificação tem sido
utilizada como meio de comprovação que um edifício é sustentável e esse trabalho
analisa o edifício do ponto de vista arquitetônico, verificando se a certificação
garante a este uma arquitetura sustentável.
O desenvolvimento do trabalho começa com um breve histórico sobre como o
desenvolvimento sustentável entrou para o discurso mundial, explicando alguns dos
principais conceitos relacionados ao tema. Em seguida, são mostrados exemplos de
arquitetura classificada como sustentável e a definição desta.
Para a análise do LEED, é desenvolvido um breve cenário comparativo entre duas
outras certificações: o BREEAM, a primeira certificação a ser utilizada e que serviu
como base para muitas outras, e o AQUA, outra certificação que vem sendo utilizada
no Brasil.
Para o estudo de caso do Eldorado Business Tower, é feito um breve histórico do
projeto e uma análise do edifício a partir do projeto, do processo de certificação e de
observações realizadas em visita feita ao local.
Palavras-chave: Green Building – LEED – Sustentabilidade.
ii
ABSTRACT
The job is to analyze the certification system LEED, one of the most used and
recognized in Brazil, through a case study of the first building to receive the highest
level of the LEED CS certification in Latin American. The certification has been used
to prove that a building is sustainable and this job analyzes the building using an
architectural point of view, verifying if the certification ensures that the building has a
sustainable architecture.
The job will begin with a brief history about how sustainable development joined the
world speech, explaining some of the key concepts related do the topic. After that,
some examples of sustainable architecture and its definition will be shown.
For the analysis of LEED, two other certifications were chosen for a brief comparative
scenario: BREEAM, the first certification to be used and which served as the basis
for many others, and AQUA, another certification that has been used in Brazil.
For the case study of Eldorado Business Tower, it will be done a brief history of the
project and an analysis of the building through the project, the certification process
and observations made in the visit to the site.
Key words: Green Building – LEED – Sustainability
iii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................. 1
CAPÍTULO 1 Sociedade e Meio Ambiente...............................................
12
1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade................................................
13
1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente............................
15
1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições........................................
16
1.4 Agenda 21.........................................................................................
20
1.5 Agenda Verde x Agenda Marrom......................................................
22
1.6 Uma síntese das principais questões abordadas..............................
23
CAPÍTULO 2 Arquitetura Sustentável......................................................
25
2.1 Arquitetura internacional e sustentabilidade: alguns exemplos......... 29
2.1.1 Norman Foster...........................................................................
29
2.1.2 Ken Yeang.................................................................................. 31
2.2 Arquitetura brasileira.........................................................................
34
2.2.1 Rino Levi....................................................................................
35
2.2.2 Marcos Acayaba........................................................................
38
2.3 Considerações sobre o capítulo 2.....................................................
40
CAPÍTULO 3 Sistemas de Certificação Green Building.........................
42
3.1 BREEAM...........................................................................................
44
3.2 AQUA................................................................................................
47
3.3 Certificação LEED.............................................................................
54
3.3.1 LEED no Mundo.........................................................................
55
3.3.2 Processo de Certificação...........................................................
57
3.3.3 Categorias..................................................................................
60
3.3.3.1 LEED NC – LEED para Novas Construções....................... 63
3.3.3.2 LEED ND – LEED para Desenvolvimento de Bairros.........
64
3.3.3.3 LEED CS – LEED para Fachadas e Áreas Comuns de
Prédios Comerciais............................................................
64
3.3.3.4 LEED retail NC e CI – LEED para Lojas de Varejo............. 65
iv
3.3.3.5 LEED Healthcare – LEED para Unidades de Saúde..........
65
3.3.3.6 LEED EB OM – LEED para Operação e Manutenção de
Edifícios Existentes............................................................
65
3.3.3.7 LEED Schools – LEED para Escolas.................................. 65
3.3.3.8 LEED CI – LEED para Interiores Comerciais...................... 66
3.3.4 LEED no Brasil...........................................................................
66
3.3.5 Construções Certificadas no Brasil............................................
66
3.3.5.1 Banco Real Agência Bancária Granja Viana......................
68
3.3.5.2 Delboni Auriemo – Dumont Villares....................................
68
3.3.5.3 Banco de Investimentos Morgan Stanley – Edifício Faria
Lima Square.......................................................................
69
3.3.5.4 Edifício Cidade Nova – Bracor............................................
71
3.4 Considerações e síntese...................................................................
72
CAPÍTULO 4 Eldorado Business Tower: uma perspectiva crítica........
74
4.1 Histórico do Projeto...........................................................................
74
4.2 Características do Empreendimento.................................................
79
4.3 LEED 2.0 x LEED 3.0........................................................................
94
4.4 Processo de Certificação do Eldorado Business Tower.................... 100
4.5 Considerações sobre o capítulo 4.....................................................
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................
117
ANEXOS...................................................................................................... 126
ANEXO 1 – Entrevista com Eduardo Martins em 18/11/10.....................
126
ANEXO 2 – Manual do Locatário do Eldorado Business Tower.............
133
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Tripé da sustentabilidade
17
Figura 2
Commerzbank em Frankfurt
29
Figura 3
Commerzbank em Frankfurt
29
Figura 4
Sistema de ventilação natural do Commerzbank
30
Figura 5
Corte demonstrando jardins laterais
30
Figura 6
Corte demonstrando ventilação natural do Commerzbank
30
Figura 7
Tokyo Nara Tower – Ken Yeang
32
Figura 8
Menara Mesiniaga
33
Figura 9
Menara Mesiniaga
33
Figura 10 Edifício Concórdia – Rino Levi
37
Figura 11 Edifício Concórdia – Rino Levi
37
Figura 12 Banco sul-americano – Rino Levi
37
Figura 13 Banco sul-americano – Rino Levi
37
Figura 14 Residência Baeta – Marcos Acayaba
39
Figura 15 Residência Baeta – Marcos Acayaba
39
Figura 16 Corte Residência Baeta – Marcos Acayaba
39
Figura 17 Perfil mínimo de desempenho do Processo Aqua
49
Figura 18 Leroy Merlin de Niterói
52
Figura 19 Processo de Certificação LEED
57
Figura 20 Formulário de registro para Certificação LEED
58
Figura 21 Metodologia de aplicação do LEED
60
Figura 22 Banco Real – Agência Bancária Granja Viana
68
Figura 23 Delboni Auriemo Dumont Villares
69
Figura 24 Faria Lima Square
70
Figura 25 Morgan Stanley
70
Figura 26 Edifício Cidade Nova
71
Figura 27 1ª proposta para a construção do Eldorado Business 74
Tower
Figura 28 2ª proposta para a construção do Eldorado Business 75
vi
Tower
Figura 29 3ª proposta para a construção do Eldorado Business 76
Tower
Figura 30 4ª proposta para a construção do Eldorado Business 76
Tower
Figura 31 5ª proposta para a construção do Eldorado Business 77
Tower
Figura 32 6ª proposta para a construção do Eldorado Business 77
Tower
Figura 33 7ª e 8ª proposta para a construção do Eldorado Business 78
Tower
Figura 34 Eldorado Business Tower
79
Figura 35 Heliponto do Eldorado Business Tower
80
Figura 36 Ilustração artística da implantação do Eldorado Business 81
Tower e do Shopping Eldorado
Figura 37 Passarela de acesso ao Shopping Eldorado
82
Figura 38 Escada rolante para acesso do térreo elevado a rua
82
Figura 39 Fachada do Eldorado Business Tower
83
Figura 40 Volumetria vista em diagonal e à distância, ressaltando a 83
exploração de curvatura das fachadas voltadas para a
Marginal do Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado;
recurso de amenização da massa frente à altura da torre
Figura 41 Centro de usinagem montado no segundo subsolo do 84
Eldorado Business Tower
Figura 42 Montagem dos painéis do Eldorado Business Tower
85
Figura 43 Sistema para tratamento e reaproveitamento de água da 86
chuva,
da
condensação
do
ar-condicionado
e
da
drenagem dos subsolos
Figura 44 Tela do programa de computador que mostra o consumo 87
de água e de energia de acordo com cada setor do edifício
Figura 45 Condensadoras na cobertura do Eldorado Business Tower
88
vii
Figura 46 Tela do programa de computador que exibe os aparelhos 89
de ar-condicionado ligados em cada sala e permite
monitorar o funcionamento de qualquer um deles.
Figura 47 Roda entálpica na cobertura do Eldorado Business Tower
Figura 48 Tela
do
programa
de
computador
que
mostra
90
o 90
funcionamento das rodas entálpicas
Figura 49 Hall do Eldorado Business Tower
91
Figura 50 Eldorado Business Tower
91
Figura 51 Tela do programa de computador que exibe se persianas 92
estão fechadas ou abertas
Figura 52 90 vagas preferenciais para carros 100% álcool ou 100% 93
GNV
Figura 53 Bicicletário localizado no térreo do Eldorado Business 93
Tower
Figura 54 Depósito de material reciclado
94
Figura 55 Entrada do depósito de material reciclado
94
Figura 56 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 96
versão 3.0: Categoria Espaço Sustentável
Figura 57 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 97
versão 3.0: Categoria Uso Racional da Água
Figura 58 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 98
versão 3.0: Categoria Energia e Atmosfera
Figura 59 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 99
versão 3.0: Categoria Materiais e Recursos
Figura 60 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 100
versão 3.0: Categoria Qualidade Ambiental Interna
Figura 61 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 100
versão 3.0: Categoria Inovação e Processo do Projeto
Figura 62 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 101
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Espaço Sustentável
viii
Figura 63 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 102
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Uso Racional da Àgua
Figura 64 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 102
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Energia e Atmosfera
Figura 65 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 103
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Materiais e Recursos
Figura 66 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 104
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Qualidade Ambiental Interna
Figura 67 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício 105
versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business
Tower: Categoria Inovação e Processo do Projeto
Figura 68 Simulação de pontuação do Eldorado Business Tower no 108
LEED 3.0
Figura 69 Eduardo Martins
124
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos
21
municípios brasileiros
Tabela 2
Categorias de Pontuação do BREEAM
46
Tabela 3
Exemplo de cálculo de pontuação do BREEAM
46
Tabela 4
Categorias de pontuação do BREEAM
47
Tabela 5
Tabela comparativa sobre a pontuação necessária no
95
LEED 2.0 e no LEED 3.0
x
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Pegada ecológica da humanidade
14
Gráfico 2
Construções LEED no Mundo
56
Gráfico 3
Profissionais LEED AP no Brasil
59
Gráfico 4
Registros por categoria LEED
61
Gráfico 5
Registros do LEED por Estado
62
Gráfico 6
Registros do LEED por tipologia
62
Gráfico 7
Registros e certificações LEED no Brasil
63
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Aspectos compreendidos no desenvolvimento
3
sustentável
Quadro 2
Diferenças entre agenda marrom e agenda verde
23
Quadro 3
Sistemas de certificação
44
Quadro 4
Categorias do Processo Aqua
49
Quadro 5
Certificação Aqua de edifícios comerciais
51
Quadro 6
Certificação Aqua de hotéis, eventos e spas
51
Quadro 7
Certificação Aqua de escolas e escritórios
51
Quadro 8
Certificação Aqua de edifícios habitacionais
52
Quadro 9
Certificação Aqua de edifícios em operação - uso
52
Quadro 10
Empreendimentos certificados LEED no Brasil
66
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACIESP
Academia de Ciências do Estado de São Paulo
AQUA
Alta Qualidade Ambiental
ASHRAE
American
Society
of
Heating,
Refrigerating
and
Air-
conditionning Engineers
ASTM
American Society for Testing and Materials
BRE
Building Research Establishment
BREEAM
Building Research Establishment Environmental Assessment
Method
CDS-ONU
Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas
CIB
International Council for Research and Innovation in Building
and Construction
CONAMA
Conselho Nacional do Meio Ambiente
CNUMAD
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CPDS
Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável
DOE
U.S. Department of Energy
EPA
U.S. Environmental Protection Agency
GBCI
Green Buiilding Certification Institute
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IETC
International Environmental Technology Centre
LCA
Life Cycle Analisys
LEED
Leadership in Energy and Environmental Design, Estados
Unido
ONU
Organização das Nações Unidas
UNEP
United Nations Environment Programme
USGBC
U. S. Green Building Council
WGBC
World Green Building Council
1
INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, assuntos que envolvem a questão da sustentabilidade
entraram em voga. Após longa história de sofrimento de toda sorte de impactos
ambientais, o planeta começa a dar sinais de que seus recursos naturais, se usados
indiscriminadamente, não são ilimitados. Por essa razão, a sociedade passou a
estar alerta para o fato de que, junto com o progresso e os avanços tecnológicos, há
também uma grande carga de agressão ao meio ambiente. Advém então a dúvida
de como não impedir o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, preservar o meio
ambiente.
Quando a crise do petróleo assustou o mundo, na década de 1970 do século XX, o
meio ambiente emergiu como objeto de preocupação. Observou-se que “O
crescimento da população mundial, as largas escalas entre poder econômico e
político contribuem para a deterioração ambiental, que, por sua vez, altera tanto a
vida das pessoas quanto a estabilidade política e econômica mundiais” (FRANCO,
2001, p.43). Ficava evidente também a dupla condição da humanidade, capaz de
destruir essas formas de vida ou então aprender a viver em harmonia com elas,
considerando sua interdependência (LOVELOCK, 2006).
Tais preocupações motivaram a discussão dessa temática entre líderes do mundo
todo. A Conferência de Estocolmo, de 1972, e vinte anos depois a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, foram
eventos seminais para esse debate, e o desenvolvimento sustentável se afirmou
então como uma prioridade no discurso mundial, no que tange ao desenvolvimento
das cidades. A criação de uma Agenda 21 Global que propunha ações de longo
prazo para que esse desenvolvimento fosse possível consistiu em realização de
expressiva importância nesse contexto.
Após a criação da Agenda 21 Global, diversos países passaram a criar suas
agendas locais, adaptando os planos mundiais às características e especificidades
de cada país, e, mais tarde, municípios foram desenvolvendo suas agendas com
planos para o desenvolvimento sustentável.
2
Apesar de todas essas ações, a dúvida permanecia: “Como o desenvolvimento
sustentável pode ser definido e operacionalizado para que seja utilizado como
ferramenta para ajustar os rumos que a sociedade vem tomando em relação à sua
interação com o meio ambiente natural?” (BELLEN, 2006, p.13). A resposta do
próprio Bellen a essa pergunta fora que a solução nasceria com “[...] o
desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou ferramentas de
avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade” (2006, p.13).
A despeito dessa preocupação com as questões ambientais relativas ao
desenvolvimento e à vida urbana, é também fato que “[...] a indústria da construção
e suas atividades são responsáveis por uma substancial quantidade de uso de
recursos globais e emissão de resíduos. Ela também desempenha importante papel
no desenvolvimento sócio-econômico e na qualidade de vida”1 (CIB/UNEP-IETC,
2002, p.iii). O que sugere que se faz também urgente refletir não somente sobre
uma cidade sustentável, mas sobre a arquitetura produzida no meio urbano.
A indústria da construção é uma das atividades que causa expressivo impacto ao
meio ambiente, o que suscita interesse em discutir o que é uma arquitetura
sustentável, suas características e limites, bem como refletir sobre o papel que a
arquitetura representa na cidade, que se pretende sustentável. Segundo o U.S.
Green Building Council (2008), a construção civil é responsável por 40% do uso de
energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás
carbônico e 13,6% do consumo de água potável nos Estados Unidos.
Nesse contexto, e visando a produção de edificações dotadas de recursos
minimizadores de danos ambientais, surgiram as certificações verdes, instrumentos
de avaliação que determinam parâmetros para classificação da arquitetura quanto à
sustentabilidade. Conforme procedimentos e definição da certificação verde, a
emissão de pareceres aos edifícios atestaria sua adequação aos critérios
1
“The construction industry and its activities are responsible for a substantial amount of global resource use
and waste emissions. It also has an important role to play in socio-economic development and quality of life.”
3
enunciados por esses instrumentos identificando tal arquitetura àquela capaz de
causar o menor impacto possível ao meio ambiente.
Com o objetivo de avaliar desde o projeto, a obra e manutenção dos edifícios, foram
criados diversos sistemas de certificação para uso em diferentes países, porém “(...)
todos estes sistemas concentram-se exclusivamente na dimensão ambiental da
sustentabilidade” (SILVA & AGOPYAN, 2004, p.1), o que sugere que a certificação
que resulta de sua aplicação não avalia o desempenho total e real das construções,
e sequer contempla o conceito de “arquitetura sustentável” de maneira mais ampla e
completa. Para avaliar a sustentabilidade de um edifício, é necessário contemplar
também aspectos tais como o uso e a dimensão social dos espaços, em busca de
uma arquitetura que contemple as necessidades de seus usuários de maneira justa
e que ofereça oportunidades e boa qualidade de vida (SILVA & AGOPYAN, 2004).
Uma arquitetura que contemple também aspectos de eficiência e economia de
meios e recursos.
A busca de equilíbrio entre ambiente físico, processos econômicos e organizações
sociais, o chamado tripé da sustentabilidade (SILVA apud CSILLAG, 2007, P.30), é
o que tornaria um empreendimento realmente sustentável, levando-se em
consideração que uma construção dessa natureza pode ser instrumento de melhoria
da qualidade de vida de um indivíduo ou comunidade.
Quadro 1: Aspectos compreendidos no desenvolvimento sustentável
Fonte: BARROS, 2005, p. 16
4
A maioria das certificações se fundamenta na análise de ciclo de vida (LCA2) de um
edifício:
LCA é o procedimento de analisar formalmente a complexa interação
de um sistema – que pode ser um material, um componente ou um
conjunto de componentes – com o ambiente ao longo de todo o seu
ciclo de vida, caracterizando o que tornou-se conhecido como
enfoque do “berço ao túmulo” (cradle-to-grave). (SILVA, 2003, p.17).
Apesar de a definição de LCA se fundamentar no conceito de “berço ao túmulo”, ou
seja, considerar o objeto de estudo em um ciclo do início ao fim da existência, as
certificações consideram apenas o ciclo “berço ao sítio” (cradle-to-site) (BARROS,
2005), isto é, analisam apenas o ciclo que abrange do projeto à operação e
manutenção do edifício, não considerando futura demolição ou reuso, visto que é
praticamente impossível prever o que vai acontecer com tal edifício em dez, vinte ou
cinqüenta anos. Apesar de esse tipo de prospecção não ser realizada, a certificação
leva em consideração aspectos como reaproveitamento de materiais, ou quantidade
de materiais desviada de aterros sanitários e enviada para reciclagem.
Uma vez certificado, o edifício não é mais analisado para verificação se tudo o que
garantiu a certificação ainda se aplica. Existe possibilidade de buscar a certificação
LEED EB OM3, destinada à operação e manutenção de edifícios existentes, mas
essa certificação não afeta a certificação obtida anteriormente, como o LEED CS4 ou
LEED NC5.
A CIB/UNEP-IETC (2002) defende que países em desenvolvimento precisariam ter
um plano de Agenda 21 diferente dos países desenvolvidos, pois os problemas,
prioridades e capacidades das indústrias, dos governos, das culturas e formas de
ver o mundo são diferentes. Esta ponderação talvez também se aplique às
certificações, pois além de todos os motivos mencionados, os métodos construtivos,
materiais e acesso às tecnologias também diferem.
2
Life Cycle Analisys.
3
Para Operação e Manutenção de Edifícios Existentes
4
Para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios Comerciais
5
Para Novas Construções e Grandes Reformas
5
Diante da problemática que o processo de certificação sugere, indicando caminhos
para que uma abordagem crítica seja elaborada, este trabalho aborda o sistema de
certificação LEED6, que vem sendo utilizado no Brasil e que é ainda bastante
recente, ao se levar em consideração que a primeira edificação certificada no país
foi a agência do Banco Real, na Granja Viana, em 2007. A certificação LEED vem
se revelando cada vez mais uma meta e diversos edifícios que a utilizam, como as
duas torres do Rochaverá, a agência do Banco Real na Granja Viana e o próprio
Eldorado Business Tower, são hoje valorizados, do ponto de vista da divulgação de
sua arquitetura e como símbolos de atendimento eficiente aos critérios de
certificação, e também em termos de valorização imobiliária. Ganhando cada vez
mais notoriedade e exercendo influência crescente nos meios empresariais e de
incorporação imobiliária, os sistemas de certificação estão sendo também cada vez
mais utilizados. Cabe então indagar das causas dessa crescente procura e
valorização, perguntando também se um edifício certificado atende à premência de
consistir de fato em uma arquitetura sustentável, e o que contribui para que seja
assim identificado. Estas perguntas caracterizam os problemas que a pesquisa
enuncia, e que a conduzem, sugerindo uma hipótese ou linha, a saber, de que a
certificação não é condição suficiente para caracterizar a arquitetura sustentável na
acepção plena desse termo: uma arquitetura capaz de atender às questões de
economia de recursos e meios energéticos e materiais, mas que seja também apta a
acolher usos e atividades, de forma a valorizar e qualificar a permanência e fluxos
em seus espaços.
O método de aplicação da certificação LEED é, em certa medida, direcionado para
suprir
interesses
de
mercado
imobiliário,
contribuindo
para
qualificar
os
empreendimentos conforme os parâmetros relacionados. A avaliação é feita por
meio da aplicação de instrumento que resulta em um checklist, o qual identifica um
conjunto de parâmetros e categorias que atribuem pontuação ao empreendimento, a
qual depende dos créditos que a edificação atender.
6
Leadership in Energy and Environmental Design
6
Com uma estrutura simples a ponto de ser, por isso, criticada, o
LEEDTM é baseado em especificação de desempenho em vez de
critérios prescritivos, e toma por referência princípios ambientais e de
uso de energia consolidados em normas e recomendações de
organismos de terceira parte com credibilidade reconhecida, como a
ASHRAE7; a ASTM8; a EPA9; e o DOE10 (SILVA, 2003, p. 54).
O edifício Eldorado Business Tower, localizado à Avenida das Nações Unidas, junto
ao Shopping-Center Eldorado, em São Paulo, projetado pelo escritório de arquitetura
Aflalo & Gasperini e executado pela Construtora Gafisa, foi o primeiro edifício na
América Latina a receber o certificado na categoria LEED CS Platinum, o mais alto
nível de classificação. Este edifício será abordado como objeto de estudo para
compreensão de como a Certificação LEED funciona e, o mais importante, quais
itens leva em consideração para avaliar edifícios e se esses itens avaliados suprem
todas as condições para que um edifício seja realmente sustentável e apresente
qualidade arquitetônica. Os objetos de estudo que fundamentam este trabalho são,
portanto, a certificação LEED e o mencionado edifício-alvo desta.
Essa qualidade arquitetônica se define como um conjunto de determinações
atendidas pela arquitetura, em que se destacam não apenas aspectos ambientais e
energéticos, mas questões relativas ao espaço criado, circulações, distinção entre
espaços de fluxo, transição e permanência, inserção do objeto arquitetônico no meio
urbano, acessibilidade, materiais utilizados e efeitos no ambiente construído.
Sugere-se que a sustentabilidade de uma edificação implique no atendimento dessa
multiplicidade de aspectos.
O objetivo deste trabalho, portanto, é analisar qualitativamente a certificação LEED
como meio e instrumento suficiente de avaliação de sustentabilidade de edifícios,
mediante o estudo de um caso que recebeu o mais alto nível de certificação,
questionando o processo do LEED enquanto definidor da sustentabilidade da
7
8
9
10
American Society of Heating, Refrigerating and Air -conditionning Engineers
American Society for Testing and Materials
U.S. Environmental Protection Agency
U.S. Department of Energy
7
arquitetura, e buscando compreender a relação entre esse procedimento e a
sustentabilidade. O estudo de caso será objeto de análise mediante a compreensão
do projeto arquitetônico que deu lugar à obra, verificando-se relações das
características arquitetônicas com a produção de um edifício certificado, e como esta
certificação representa ou não a produção de uma arquitetura sustentável. Trata-se
de uma primeira abordagem, de natureza qualitativa quanto à relação entre
certificação e sustentabilidade na arquitetura.
O objetivo específico consiste em questionar de maneira crítica se a obra atende aos
quesitos de classificação, bem como o alcance e a adequação do instrumento de
medida, ou seja, verificar se o edifício Eldorado Business Tower é sustentável e se a
categoria alcançada no LEED garante a ele essa sustentabilidade. Estes objetivos
somente podem ser alcançados estudando não só o processo de certificação, mas o
próprio projeto arquitetônico. Esse estudo envolve conhecer desde a concepção e
partido, até os desdobramentos projetuais quanto ao espaço produzido, circulações,
dimensionamento, soluções construtivas e técnicas, recursos arquitetônicos
utilizados para a geração de conforto ambiental; enfim, é da arquitetura que provém
a inclusão de princípios que a tornam certificável, e não apenas a existência de um
instrumento definido “a priori”. Estes objetivos e meios de análise consistem na
metodologia adotada. A metodologia envolve ainda um breve estudo do LEED frente
a outras modalidades de certificações, mencionando outros sistemas existentes, tais
como primeira certificação utilizada no mercado, o BREEAM11, e outro sistema
utilizado no Brasil, o AQUA12. Cabe frisar que esta abordagem panorâmica não é o
foco da metodologia, mas tão somente suporte para articular uma discussão crítica
do processo de certificação.
O LEED foi criado inicialmente nos Estados Unidos para certificar edifícios
pretensamente sustentáveis e começou a ser utilizado e reconhecido no Brasil,
tendo o primeiro edifício certificado em 2007, e outros países, concretizando a
aspiração de funcionar como um instrumento universal.
11
Building Research Establishment Environmental Assessment Method
12
Alta Qualidade Ambiental
8
A certificação BREEAM foi desenvolvida em 1988 no Reino Unido, sendo a primeira
apresentada ao mercado, e muitas outras que vieram depois a utilizaram como
base, inclusive o LEED. O BREEAM já teve versão adaptada para outros locais,
como Canadá e Hong Kong. Assim como o LEED, o BREEAM certifica edifícios
determinando categorias que resultam em um checklist tornando esse método de
avaliação mais simples e acessível, devido a essa sistematização.
O Processo AQUA foi o primeiro sistema de certificação criado no Brasil. Lançado
em abril de 2008, o sistema adaptou a certificação francesa HQE para a realidade
brasileira. O método de avaliação também é realizado a partir de um checklist que
enuncia catorze (14) categorias, tendo o mesmo objetivo do LEED e do BREEAM, a
saber, facilitar o acesso e a compreensão pelo mercado imobiliário às formas de
avaliação, tornando-as menos complexas e mais sintéticas.
O Processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) é uma certificação
adaptada à realidade brasileira pela Fundação Vanzolini e por
professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da
Poli/USP. O processo é fundamentado no sistema francês Haute
Qualité Environnementale (HQE), mas adota critérios próprios e
incorpora normas da ABNT. (CORBIOLI, 2009).
O sistema de certificação, se observado de uma perspectiva crítica, admite enunciar
a dúvida de até onde se produz, a partir dele como parâmetro, uma arquitetura de
fato sustentável. E até que ponto uma arquitetura na qual se ausentam soluções que
a tornem sustentáveis é compensada pelo atestado de “sustentável”, atribuído pelo
fato de o edifício atender a categorias que enfatizam algumas tecnologias e
recursos, e que nem sempre esgotam todos os determinantes e conteúdos
necessários a uma arquitetura mais complexa em suas soluções e problemas
definidos. Esse atendimento às categorias mais valorizadas permitiria a obtenção de
certificação; e as indagações que a certificação suscita consistem nos problemas
identificados para conduzir a dissertação de mestrado.
Segundo John B. Herz, “(...) uma das principais funções de uma construção é a de
atenuar as condições negativas e aproveitar os aspectos positivos oferecidos pela
localização e pelo clima” (1998, p. 9). Isto implica em dizer que esse processo deve
9
ser adequado às circunstâncias específicas de cada projeto e lugar, levando a que o
mesmo autor também mencione o paradoxo entre a necessidade de utilizar da
tecnologia quando não se revela possível aproveitar ao máximo a luz e a ventilação
naturais:
Muitos edifícios modernos de vidro precisam de sistemas igualmente
modernos de aquecimento e resfriamento bastante avançados e
caros, com o objetivo de adaptar a construção ao clima. Neste caso,
não se pretende que o projeto responda ao clima, mas que o
equipamento adapte os edifícios a ele (HERTZ, 1998, p.19).
A busca pelas certificações que comprovem a sustentabilidade de empreendimentos
tem crescido cada vez mais, o que leva a enunciar perguntas relativas às causas
desse crescimento: talvez em função de potencializar o valor imobiliário, ou por
existir real preocupação com o meio ambiente? Ou então, em obter reais vantagens
de economia de meios e recursos, centrados em eficiência energética e reuso de
água, o que sugere que na prática, a certificação seja um índice de edifícios com
essas qualidades:
Internacionalmente, um número crescente de empresas do setor
imobiliário e de construção vislumbra oportunidades de negócios
relacionadas ao ambiente, seja para minimizar riscos, antecipar-se a
mudanças na legislação, ou para sustentar uma imagem corporativa
positiva. Os maiores desafios e oportunidades referem-se ao valor
adicionado referente a valores ambientais, pois, apesar da
importância atribuída aos valores verdes ter aumentado, argumentos
ambientais não são suficientes para “vender” um empreendimento
(SILVA, 2003, p. 5).
A preocupação com uma arquitetura que aproveite ao máximo os recursos que o
meio ambiente oferece utilizando o mínimo possível os recursos da natureza e
causando, dessa maneira, um menor impacto, existe há muito tempo. Aliás, a
importância de tal arquitetura vem sendo difundida há um bom tempo, antes de as
certificações serem desenvolvidas. Não há dúvidas de que edifícios certificados
apresentam menores índices de consumo de água e energia, mas a questão é até
que ponto a certificação valoriza e se posiciona de maneira a assumir o
protagonismo frente a outros fatores intrínsecos à arquitetura, e que em muito
contribuem para que esta seja sustentável e incentiva a prática de arquitetura em
10
moldes mais complexos, expressando-se essa complexidade no partido e nas
decisões projetuais.
O LEED e o AQUA são compreendidos como instrumentos qualitativos para nortear
a produção e possibilitar a avaliação de arquitetura sustentável; no entanto, sua
aplicação prática bem como a visibilidade e o valor financeiro alcançados pelos
empreendimentos que o utilizam sugere um questionamento da certificação,
indagando se esta não se pauta apenas em suprir instrumentos de marketing e de
agregação de valor imobiliário.
O desenvolvimento do trabalho implica em um breve cenário comparativo dos
sistemas de certificação utilizados no Brasil, para a apresentação de suas
categorias,
cujo
objetivo
é
identificar,
com
essa
comparação,
diferenças
fundamentais, bem como o alcance e possibilidades distintas desses instrumentos.
Será também realizada uma introdução ao BREEAM, o primeiro instrumento de
avaliação de edifícios sustentáveis, base para todos os outros, inclusive para o
LEED. Passar-se-á em seguida a conhecer o instrumento de certificação AQUA, um
dos mais usados e reconhecidos no Brasil, fundamentos esses que conduzirão a um
estudo mais aprofundado (incluindo um estudo de caso), da certificação LEED. A
comparação visa caracterizar esses instrumentos e identificar o que e como medem.
Esse percurso comparativo será realizado com a apresentação e discussão dos
instrumentos de certificação, fundamentando-se em fontes secundárias (trabalhos
acadêmicos e bibliografias sobre sustentabilidade e certificação LEED no Brasil e
informações fornecidas pelo U.S Green Building Council), visando compreender
intenções, procedimentos e lógicas do processo de certificação.
Apresenta-se também um mapeamento sucinto dos edifícios certificados no Brasil e
na cidade de São Paulo, a fim de identificá-los e sintetizar algumas características
de interesse. Proceder-se-á ao estudo de caso do Eldorado Business Tower a partir
do projeto e de suas peças gráficas, incluindo observações realizadas no local. O
estudo contará ainda com a análise do processo de certificação desse edifício, cujo
material de pesquisa, de fontes secundárias e primárias, foi devidamente coletado
11
durante visita técnica realizada. O trabalho conta ainda com entrevista realizada com
agentes diretamente envolvidos no projeto do edifício. O cruzamento de informações
obtidas a partir de todos esses instrumentos e meios consiste no procedimento
metodológico adotado, que procura articular uma análise crítica a partir da reflexão
sobre as condições que levaram à certificação e sua relação com a arquitetura
realizada e o espaço vivenciado.
A dissertação está estruturada da seguinte maneira: numa primeira parte,
considerações gerais sobre as relações entre sociedade e meio ambiente,
apresentando um histórico do termo desenvolvimento sustentável e explicando
alguns dos principais conceitos a ele relacionados.
O segundo capítulo abordará exemplos de arquitetura classificada como sustentável
em determinados momentos históricos, definindo-a e citando exemplos para, no
terceiro capítulo, abordar as certificações verdes, iniciando com o BREEAM e o
AQUA para em seguida aprofundar o LEED, objeto teórico de estudo do trabalho.
Por último, será apresentado o estudo de caso com base no primeiro edifício que
recebeu o certificado LEED platina na América Latina: o Eldorado Business Tower.
Nesse capítulo, será apresentado o percurso histórico do projeto do edifício, as
características arquitetônicas, de inserção urbana, materiais e construtivas que são
a base do processo de certificação. Em seguida, uma análise crítica que indaga se
essas características são suficientes para denominar sua arquitetura como
sustentável será então apresentada.
12
CAPÍTULO 1. Sociedade e Meio Ambiente
A questão da sustentabilidade em Arquitetura vem progressivamente se afirmando
como matéria de relevância indiscutível, pois é quase intuitiva a idéia de que
vivemos um momento em que o desenvolvimento depende de cuidados para com o
meio ambiente e economia dos escassos recursos naturais e materiais
disponibilizados.
Segundo Ignacy Sachs (1993), duas posições antagônicas polemizam sobre a
relação entre oferta e consumo de bens e recursos do planeta. Os “malthusianos”
alertam que o mundo tem população excessiva, e que se consome hoje muito mais
do que se produz. Esse desequilíbrio seria responsável por a natureza não
conseguir acompanhar o ritmo do homem que, além do consumo, também é
responsável pela contínua poluição do meio ambiente. Em oposição a essa corrente,
os “cornucopianos” afirmam que a superpopulação mundial não é impedimento para
que os impactos danosos ao meio ambiente não possam ser minimizados, pois
tecnologia e conhecimento estão à disposição para ajudar a diminuir impactos e
permitir que gerações futuras vivam sem a preocupação de esgotamento dos
recursos naturais.
O Relatório de Founex identificou os principais tópicos dessa
problemática, presentes até hoje na agenda internacional. Rejeitando
as abordagens reducionistas do ecologismo intransigente e do
economicismo estreito e rigoroso, o relatório traçou um caminho
intermediário e eqüidistante entre as posições extremas de
“malthusianos” e “cornucopianos”. (SACHS, 1993, p.11).
O Relatório de Founex foi preparado após o Encontro de Founex, em junho de 1971,
quando diversos países já se preparavam para a Conferência de Estocolmo. Nessa
época, preocupações com o meio ambiente se acentuavam. As décadas de 1970 e
1980 foram marcadas por diversos desastres ambientais que começaram a chamar
a atenção, como o encolhimento do Mar de Aral e a destruição ambiental na Europa
do Leste, e diante de acidentes causados pelo homem de grande repercussão,
como o ocorrido na usina nuclear de Chernobyl, na antiga União Soviética, onde um
reator apresentou problemas técnicos, liberando radiação, e o acidente de Bhopal,
na Índia, quando aconteceu um vazamento de toneladas de gases tóxicos em uma
13
fábrica de pesticidas. Foi então realizada a conferência das Nações Unidas, em
Estocolmo, em 1972, com o tema o Homem e o Meio Ambiente, sendo esta a
primeira reunião global, que reuniu cento e treze países com o principal objetivo de
discutir o desenvolvimento humano e sua intensa relação com o meio ambiente.
Continuando
os
esforços
de
enfrentamento
de
problemas
ambientais
e
desenvolvimento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente realizou,
em 1979 e 1980, vários seminários debatendo diversos estilos de desenvolvimento.
O conjunto destas ações se refletiu no Relatório Brundtland, de 1987, um documento
que identificou problemas ambientais, como o efeito estufa e a destruição da
camada de ozônio, apresentou soluções para seu enfrentamento e definiu
desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993).
Vinte anos depois da reunião de Estocolmo, nova conferência da Organização das
Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento foi então realizada, desta
vez no Rio de Janeiro. A denominada ECO 92 se tornou mundialmente conhecida e,
segundo Hans Michael van Bellen (2006, p.22), “(...) finalmente a interligação entre
desenvolvimento socioeconômico e as transformações do ambiente entrou no
discurso oficial da maioria dos países do mundo”.
As diversas conferências, realizadas ao longo dos anos, que tiveram como tópicos
assuntos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável atestam uma
preocupação progressiva sobre esses dois temas, colocando em evidência o
problema do impacto causado pelo ser humano no meio ambiente e como esse
impacto pode ser mensurado para que possa ser diminuído de maneira
fundamentada, atingindo, assim, o desenvolvimento sustentável.
1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade
Pegada ecológica é um conceito que define a mensuração do impacto que o ser
humano acarreta ao planeta, ou seja, “(...) a pegada ecológica contrasta o consumo
dos recursos pelas atividades humanas com a capacidade de suporte da natureza e
14
mostra se seus impactos no ambiente global são sustentáveis a longo prazo”
(CIDIN, SILVA, 2004, p. 46).
Segundo o Global Footprint Network, atualmente, o planeta leva um ano e cinco
meses para se regenerar frente ao que a humanidade consome em um ano, ou seja,
a sociedade ultrapassa o que se encontra disponível para ser consumido, definindo
um conceito denominado overshoot13. O overshoot acontece quando a demanda é
maior do que aquilo que a natureza pode fornecer ou maior do que a capacidade da
natureza de se regenerar (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2010).
Gráfico 1: Pegada ecológica da humanidade
FONTE: World Wide Fund for Nature (WWF). Living planet report 2008, p.2. Disponível em
http://wwf.panda.org/about_our_earth/all_publications/living_planet_report/footprint/. Acesso em 19/09/2010.
De acordo com o Global Footprint Network (2010), calcular a pegada ecológica de
uma pessoa, cidade, negócio ou nação é importante, porque assim é possível
identificar e mensurar a pressão que a sociedade exerce sobre o planeta e, assim,
cuidar melhor do meio ambiente, providenciando ações necessárias. O gráfico 1
mostra que o planeta está em overshoot desde o final da década de 1980 e o
impacto que o ser humano causa ao meio ambiente está crescendo continuamente.
13
Acima do limite
15
Para
cessar
esse
significativo
aumento
de
impacto,
uma
mudança
de
comportamento e dos processos que afetam o meio ambiente se torna imperiosa.
Desfazer o mal já realizado requer um programa cuja escala supera
grandemente, em custo e tamanho, os programas espaciais e
militares. (...) Somos como os passageiros de uma grande aeronave
em travessia do Atlântico, que, de repente, percebem quanto dióxido
de carbono o avião está acrescentando a um ar já poluído
(LOVELOCK, 2006, p.25).
1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente
A construção civil é uma das atividades humanas que mais causa impacto ao meio
ambiente (CIB/UNEP-IETC, 2002), sendo, portanto, bastante responsável pelo
estado de overshoot que o planeta se encontra atualmente. O rápido crescimento
populacional, principalmente em países em desenvolvimento, aumenta a demanda
por espaços construídos e, conseqüentemente, o impacto destes no meio ambiente
(HERNANDES, 2007). Assim, a legislação define impacto ambiental e o que estes
acarretam ao ser humano e biosfera:
(...) considera-se impacto ambiental qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, resolução 001
de 23/01/1986, artigo 1º)
De acordo com a Aciesp/1987 (apud FRANCO, 2001, p. 30), impacto ambiental é
“(...) toda e qualquer atividade, natural ou antrópica, que produz alterações bruscas
em todo o meio ambiente ou apenas em alguns de seus componentes. De acordo
com o tipo de alteração, pode ser ecológico, social ou econômico.”
Segundo o USGBC (2010), os prédios são os principais responsáveis pela emissão
de gás carbônico na atmosfera. Em segundo lugar ficam os transportes e em
terceiro, as indústrias. A construção civil é responsável pela utilização de 40% da
16
energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás
carbônico e 13,6% do consumo de água potável.
Segundo o CIB/UNEP-IETC (2002), os principais vilões da construção civil, quando
se fala de mudança de clima, são o aço e o concreto. A produção de cimento é,
depois da queima de combustíveis fósseis, o maior agente antropogênico na
contribuição para a emissão de gases do efeito estufa. A produção do aço e do ferro
é responsável pela utilização de 4,1% da energia do mundo. A construção civil
também é responsável por diversos outros problemas, como poluição sonora, poeira
e contaminações através de resíduos tóxicos.
Além dos impactos ambientais, há que apontar também impactos sócio-econômicos.
A construção civil é uma das atividades que mais oferece empregos no mundo,
apesar de ter, também, a reputação de envolver ganância, corrupção, trabalho ilegal
e destruição ambiental (CIB/UNEP-IETC, 2002).
Como pilar da economia nacional, sabe-se que apesar das
sucessivas quedas nos últimos anos o setor da construção civil no
Brasil foi responsável por 6,5% de todo o PIB do país. (...) Quanto à
carga tributária, a construção civil é o segundo maior contribuinte do
país, ficando atrás somente do comércio (HERNANDES, 2007, p.
25).
1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições
Partindo do impacto ambiental que a sociedade causa ao planeta, e considerando
que boa parte desse impacto é causado pela construção civil, a definição de
sustentabilidade se tornou imperiosa e decisiva. A CIB/UNEP-IETC define que
sustentar é manter a espécie homo sapiens viva. Sustentabilidade é a condição que
permitirá que a espécie homo sapiens continue viva, ou seja, convivendo em
harmonia com a natureza. Desenvolvimento sustentável é o tipo de desenvolvimento
necessário para alcançar a sustentabilidade. Construção sustentável significa que
todos os princípios do desenvolvimento sustentável foram aplicados a todo o
processo da construção, desde a escolha do material, passando pela fase de
projeto, construção até a manutenção do edifício. (CIB/UNEP-IETC, 2002, p. 6)
17
A CIB/UNEP-IETC (2002), ao tratar do tema deixa claro que o objetivo não é
simplesmente sobreviver, mas garantir qualidade de vida e, para isso, é necessário
encontrar o meio termo que permita o desenvolvimento social e econômico, sem
prejudicar a natureza.
(...) esta busca de equilíbrio entre o que é socialmente desejável,
economicamente viável e ecologicamente sustentável é usualmente
descrita em função da chamada “triple bottom line”, que congrega as
dimensões ambiental, social, e econômica do desenvolvimento
sustentável. (SILVA, 2003, p.1).
Figura 1: Tripé da sustentabilidade
FONTE: ARAUJO, 2006: p. 83.
A dimensão econômica do desenvolvimento sustentável requer um sistema
econômico que proporcione acesso a recursos e oportunidades para todos. O
objetivo é que todos possam ter prosperidade dentro dos limites do que é
ecologicamente possível e sem infringir os direitos humanos básicos. Em se tratando
da construção civil, estes objetivos fazem pensar em arquiteturas capazes de
atender a essas necessidades, beneficiando a todos os seus usuários e preservando
o ambiente em que se insere. A dimensão social do desenvolvimento sustentável
requer sociedades justas que possibilitem o desenvolvimento humano com
18
qualidade de vida aceitável para todos. A dimensão ambiental requer o equilíbrio
entre proteger o ambiente físico e seus recursos e usar esses recursos de maneira
que o planeta possa continuar proporcionando qualidade de vida aceitável para os
seres humanos. (CIB/UNEP-IETC, 2002, p. 6). A arquitetura reúne em sua
especificidade condições e anseios voltados a todas essas dimensões de
sustentabilidade, definindo-se por essa razão em uma resposta social de expressiva
amplitude e complexidade.
Apesar de reconhecer que, desde Estocolmo, a preocupação com a “(...)
harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos” (SACHS, 2009, p.54)
se tornou evidente, este autor definiu sustentabilidade de acordo com oito conceitos:
social, cultural, ecológico, ambiental, territorial, econômico, política nacional e
política internacional, ampliando assim seu espectro de relações definidoras.
Segundo Sachs (2009):
•
Sustentabilidade Social é dar a mesma qualidade de vida para todos os seres
humanos, todos devem ter direito a educação e a um bom emprego, ou seja, é
necessário existir igualdade social.
•
Sustentabilidade Cultural é respeitar as tradições, mas estar aberto a
inovações.
•
Sustentabilidade Ecológica significa usar os recursos da natureza com
sabedoria, aproveitando os recursos renováveis e limitando o uso de recursos
não renováveis.
•
Sustentabilidade Ambiental é respeitar o meio ambiente e saber utilizar seus
recursos sem esgotá-los.
•
Sustentabilidade Territorial significa não ter desigualdades entre territórios e
dar o mesmo tipo de importância às áreas urbanas e rurais.
19
•
Sustentabilidade Política Nacional é respeitar a democracia e a habilidade do
Estado em fazer projetos nacionais com diversos empreendedores como
parceiros.
•
Sustentabilidade Política Internacional é a manutenção da paz, sem guerras, a
manutenção de um sistema internacional financeiro, o mínimo possível de
disparidades sociais e econômicas e o máximo de cooperação entre países.
Desde a conferência sobre o meio ambiente no Rio de Janeiro em 1992, diversos
autores definiram o que seria desenvolvimento sustentável, mas o conceito mais
aceito atualmente é o da World Comission on
Environment and Development
(WCED):
Desenvolvimento econômico e social que atenda as necessidades da
geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades. (BRUNDTLAND apud
HERNANDES, 2006, p. 27).
Esta definição é de grande interesse ao campo da Arquitetura e Urbanismo, pois
implica em dizer que um edifício sustentável não é aquele que atende aqui e agora a
algumas condições definidas como sustentáveis, mas aquele que é capaz de resistir
no tempo a essa conceituação. A arquitetura e as cidades são também artefatos
realizados para as gerações futuras, e objeto para um desenvolvimento sustentável.
Esta questão é de grande relevância para a elaboração de um argumento que seja
capaz de auxiliar a definir arquitetura sustentável, e assim, cotejá-la com as
condições de sustentabilidade de edifícios submetidos às diversas certificações
verdes, objeto deste estudo.
Apesar de haver intensa discussão sobre o tema da sustentabilidade, ainda persiste
a dúvida sobre “(...) como o desenvolvimento sustentável pode ser definido e
operacionalizado para que seja utilizado como ferramenta para ajustar os rumos que
a sociedade vem tomando em relação à sua interação com o meio ambiente
natural?” (BELLEN, 2006, p.13).
20
A resposta de Bellen (2006, p.13) a essa pergunta é atingir esse estado de equilíbrio
com “(...) o desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou
ferramentas de avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade”, o que lança
luz à importância da certificação como esse possível sistema de indicadores que
poderia estar a serviço de uma arquitetura sustentável.
No entanto, resta a
inquietação de saber se apesar desses indicadores, a arquitetura pode ser definida
como apta ao meio ambiente exclusivamente pela aplicação desses instrumentos de
certificação.
1.4 Agenda 21
Durante a ECO´92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento), foi desenvolvida a Agenda 21 Global com o objetivo de
estabelecer “(...) um plano ambicioso de ação global para o século seguinte, que
estabelecia uma visão de longo prazo para equilibrar necessidades econômicas e
sociais com os recursos naturais do planeta” (SILVA, 2003, p.2). Na CNUMAD14, 178
governos adotaram a Agenda 21 e envidaram esforços para criar as Agendas 21
locais, adaptando a Agenda 21 Global às características de cada país e,
posteriormente, a cada estado e município.
Uma estratégia nacional de desenvolvimento sustentável é “(...) um processo ou
sistema que torna possível a implementação de estrutura e atividades estratégicas
para responder aos princípios e desafios do desenvolvimento sustentável” (DALALCLAYTON E BASS apud COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p.10).
No Brasil, esse processo foi implementado e teve natureza participativa, conforme
revela a passagem:
A construção da Agenda 21 brasileira partiu do desencadeamento de
um processo de planejamento participativo com a finalidade de
analisar a situação atual do país para identificar potencialidades e
fragilidades e, dessa forma, visualizar o desenvolvimento futuro de
forma sustentável. Para isso, procurou abordar a realidade brasileira
de forma multissetorial, a partir de diagnósticos setoriais elaborados
14
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
21
por especialistas, apoiados por ampla participação de representantes
de diferentes setores da sociedade de todas as regiões do país,
inclusive com participação da área acadêmica. (CPDS apud
COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p. 9).
M unicípio s
Grandes Regiõ es
e
classes de tamanho
da
po pulação do s
município s
B ra s il
A té 5 000
De 5 001a 10 000
De 10 001a 20 000
De 20 001a 50 000
De 50 001a 100 000
De 100 001a 500 000
M ais de 500 000
N o rt e
Co m pro cesso de elabo ração da A genda 21iniciada
Estágio da A genda
To tal
5 565
1257
1294
1370
1055
316
233
40
449
To tal
Sensibilização /
mo bilização
Definição de
diagnó stico e
meto do lo gia
Elabo ração
Implementação
do P lano de
de açõ es da
Desenvo lvimento
A genda 21em
po líticas públicas
Sustentável
Não inicio u
o pro cesso Desco nhece
de
o que seja
elabo ração
A genda 21
da A genda 21
1 10 5
115
201
240
293
117
115
24
5 10
58
98
105
136
59
46
8
12 8
10
14
35
39
10
15
5
2 17
28
46
52
58
15
15
3
250
19
43
48
60
33
39
8
4 009
990
945
1034
716
192
116
16
451
152
148
96
46
7
2
0
12 3
62
9
22
30
296
30
N o rde s t e
1 794
462
2 12
51
10 4
95
1 200
13 2
S ude s t e
1 668
309
13 2
40
60
77
1 229
13 0
S ul
1 18 8
14 7
72
21
18
36
945
96
466
64
32
7
13
12
339
63
C e nt ro - O e s t e
Tabela 1: Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos municípios brasileiros
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de
Informações
Básicas
Municipais
População e Indicadores
2009.
Sociais, Pesquisa de
Disponível
em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/defaulttabzip.shtm - Acesso em 09/09/10.
O Brasil aprovou sua Agenda 21 em 2002 e, desde então, diversos municípios têm
se empenhado em construir Agendas 21 locais. Dos 5.565 municípios brasileiros,
praticamente 20% já estão com o processo de elaboração da Agenda 21 iniciado,
conforme mostra a tabela acima.
Para atender aos itens relacionados na Agenda 21 Global, identifica-se como
desafio desenvolver indicadores que atestem um desenvolvimento sustentável
garantindo, assim, que os objetivos sejam atendidos. Na década de 1980, as
questões envolvidas nos encontros mundiais que resultaram na Agenda 21 se
estenderam ao debate do impacto da construção civil, enunciando o problema de
como realizar edificações sustentáveis e como avaliar a sustentabilidade dessas
edificações (STUERMER; BEDENDO; BROCANELI, 2010). Nesse contexto,
23
integrando em sua forma de avaliação questões sociais e econômicas específicas
de cada país, sendo que estas também integram o conceito de sustentabilidade. “ (...)
o LEED se mostra inadequado para abordar situações típicas de países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento bem como a questão social e cultural que
não é absorvida pela certificação (...)” (STUERMER; BEDENDO; BROCANELI,
2010, p.04). A Agenda Marrom trata das questões sócio-culturais de cada país,
sendo mais específica, enquanto que o LEED foca questões ambientais, mas de
universal, tanto que os critérios de certificação usados hoje, no Brasil, são os
mesmos usados nos Estados Unidos.
1.6 Uma síntese das principais questões abordadas
Não há dúvidas de que preocupações com o meio ambiente afetam decisões e
agendas mundiais desde a década de 1970. O impacto das ações humanas ao meio
ambiente passou a ser então avaliado e mensurado, a partir do reconhecimento de
sua importância crítica, e cidades, estados e países se esforçam desde então para
agir em suas respectivas realidades, o que permitiu uma redução desse impacto.
Nesse contexto, surgiram as Agendas 21 globais e locais e as definições de Agenda
Verde e Marrom, sendo que a primeira prioriza a natureza e a segunda, o ser
humano. A principal questão crítica a frisar é que talvez nenhuma das duas agendas
deva ter prioridade, ou seja, ambos os fatores por elas identificados como relevantes
para alcançar a sustentabilidade devam ser levados em consideração.
Desde então, diversos conceitos surgiram, sendo o principal o de sustentabilidade, e
tal conceito não leva em consideração apenas o meio ambiente ou o ser humano
nele impactante, mas aspectos relacionados tanto ao meio ambiente como à
qualidade de vida. Ou seja, o conceito aborda mais do que o impacto causado ao
meio ambiente, enunciando implicitamente o problema de como reduzir esse
impacto sem comprometer a qualidade de vida da sociedade.
A construção civil pode ser um dos maiores inimigos do meio ambiente, mas ela é
também um dos maiores geradores de empregos, e sua produção convida a
24
encontrar soluções que permitam que essa frutífera atividade prossiga, mas que
também se possa reduzir o expressivo impacto que a torna tão prejudicial ao meio
ambiente. Sustentabilidade não significa degradar a natureza em prol do ser humano
ou vice-versa, mas a idéia principal é fazer com que ambos convivam
harmoniosamente.
25
CAPÍTULO 2. Arquitetura Sustentável
A arquitetura sustentável pode ser definida como um meio para se alcançar soluções
espaciais, relativas às relações das edificações com o meio urbano sustentável, ou
ainda,
“(...)
soluções
que
geram
desenvolvimento
sem
comprometer
a
disponibilidade de recursos das futuras gerações” (HERNANDES, 2006, p.32).
A fim de precisar esse conceito, tem-se que arquitetura sustentável pode se definir
da maneira seguinte:
(...) uma forma de promover uma busca de maior igualdade social,
valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um
menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de
projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da
edificação, visando a distribuição equitativa da matéria-prima,
garantindo a competitividade do homem e das cidades. (MÜLFARTH
apud HERNANDES, 2006, p. 31).
Soluções sustentáveis nasceriam no projeto de arquitetura e projeto urbano, ao
considerar os materiais utilizados, a construção em si e a maneira de realizar a
manutenção da casa, ou do edifício. A arquitetura sustentável também deve
contemplar todos os itens do tripé da sustentabilidade, tornando o projeto, além de
ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente responsável.
É importante ressaltar que a sustentabilidade na arquitetura deve não
só poupar energia e evitar técnicas ou materiais agressivos ao meio
ambiente, mas também ser viável no plano econômico (inclusive para
sustentar suas práticas e desmentir aqueles que afirmam que a
construção ecologicamente sustentável é mais cara) e socialmente
consciente (promovendo inclusão social, acessibilidade universal e
revitalização de edifícios, praças, parques ou bairros existentes, mas
deteriorados). Portanto, a sustentabilidade na arquitetura também
inclui políticas e projetos de planejamento (em escala urbana e
territorial), paisagismo e preservação de ecossistemas urbanos e
rurais (FUJIOKA, 2008, p.34).
26
Para Fujioka (2008), a arquitetura ecologicamente correta deve buscar a redução do
consumo de água e de energia, prever reutilização de águas pluviais, manter o
máximo possível de área permeável, prever o tratamento da água que será lançada
na rede pública, seguir as normas de acessibilidade, respeitar os padrões
ergonômicos, evitar desperdícios e superdimensionamento, prever espaço para
reciclagem de lixo, utilizar materiais de baixa emissão de componentes voláteis
orgânicos e controlar a ventilação nos ambientes internos.
Para Corbella e Yannas (2003), a arquitetura bioclimática, conceituada como aquela
que atua no sentido de dominar as condições climáticas, utilizando os recursos
disponíveis na natureza (sol, vegetação, chuva, vento) para minimizar os impactos
ambientais e reduzir o consumo energético, deve buscar o conforto ambiental
considerando:
•
O conforto térmico do usuário, analisando todas as variáveis relativas a esse
item e propondo soluções que amenizem qualquer desconforto gerado pelo
ambiente;
•
O conforto visual, proporcionando um bom nível de iluminação de acordo com
a tarefa a ser realizada no ambiente e promovendo uma boa distribuição de luz para
não causar ofuscamento ou grandes contrastes. As cores das superfícies também
são importantes e também se deve procurar obter o máximo possível de iluminação
natural, controlando-se a intensidade de entrada de luz e procurando integrar os
projetos de iluminação natural e artificial, com o objetivo de economizar energia;
•
O conforto acústico, procurando que a arquitetura proposta obtenha as
melhores condições de reprodução e acolhimento de som nos ambientes. O nível do
som precisa estar correto, sem ser alterado tanto por elementos que o absorvam
demais quanto por superfícies capazes de refletir o som e causar reverberações ou
interferências. O ruído externo também não deve interferir nas condições de
percepção sonora no ambiente interno.
27
O projeto de um edifício deve sempre incluir estudo sobre orientação solar e eólica;
bem como de dimensionamento e disposição de panos envidraçados, considerando
sempre a posição do edifício em relação ao sol. É preciso ainda estudar quais áreas
envidraçadas precisam ser protegidas, incluindo o detalhamento de como essas
proteções serão realizadas; sendo também relevantes a definição de fachada e
cobertura de acordo com a necessidade de proteção solar; materiais de vedação;
materiais de estrutura; desempenho térmico dos materiais; condicionantes
ambientais, como poluição sonora e vegetação; e divisão interna do espaço
(GONÇALVES; DUARTE, 2006). Mas cabe lembrar que o projeto de arquitetura
deve ser avaliado a partir do relacionamento e interdependência desses fatores, e
que estes não devem ser atendidos de forma isolada.
Portanto, a arquitetura sustentável não deve levar em conta apenas fatores relativos
ao meio ambiente. Conforme mencionado, alcançar a sustentabilidade depende de
cuidados em relação aos demais aspectos que a constituem, e da abordagem de
fatores sócio-econômicos no projeto. Como exemplo do exposto, deve-se lembrar
que o material não deve ser escolhido apenas por ser ecologicamente correto,
devendo atender a outras necessidades projetuais, como proporcionar conforto,
contribuir para a qualidade de vida do usuário e atender à legislação e normas
urbanísticas. E, com base nesse conjunto de preocupações e soluções articuladas, a
concepção arquitetônica poderia atender à sustentabilidade.
Outro exemplo de natureza crítica poderia imaginar o projeto de um edifício
corporativo implantado em uma das regiões mais movimentadas de São Paulo.
Aproveitar o máximo de insolação e de ventilação natural talvez inviabilizasse a
condição ecologicamente correta desse edifício, pois seria também necessário
pensar em uma barreira contra ruídos. Neste último caso, há diversas tecnologias
disponíveis que ajudam a diminuir o consumo e melhorar a eficiência energética de
um edifício, mas o projeto exemplificado requer enfrentar especificamente a questão
do ruído urbano, para atingir qualidade e sustentabilidade.
Algumas considerações fundamentadas em interpretações históricas fazem crer que
muitos exemplares de arquitetura modernista brasileira já teriam em sua época de
28
concepção atingido o máximo da condição sustentável, com a utilização de cobogós
(elementos vazados cerâmicos) e outros tipos de brises-soleil, que propiciavam o
aproveitamento de iluminação e ventilação naturais (FUJIOKA, 2008). Também é
possível considerar que a aplicação dos métodos utilizados mais recentemente pelo
arquiteto malaio Ken Yeang, fazendo o edifício interagir o máximo possível com a
natureza, também resultam em arquitetura sustentável, mas o fato é que a
arquitetura que almeje essa definição deveria integrar um conjunto de fatores
arquitetônicos.
Entre esses múltiplos fatores agregadores de qualidade, pode-se mencionar um
extenso rol: as relações entre o edifício e seu entorno; acessibilidade, espaços
previstos para permanência e circulações; conforto do usuário em relação ao
dimensionamento dos espaços, e soluções e propostas de meios adequados e
eficientes para racionalizar o consumo energético. Como, por exemplo, aproveitar ao
máximo a iluminação e ventilação naturais, ou ainda, prever sistemas de reuso de
água e geração energéticas, capazes de contribuir para uma gestão mais eficaz
desses recursos escassos. No entanto, é importante considerar ainda na construção
materiais que acarretem baixo impacto ao meio ambiente, obedecer às normas de
acessibilidade universal, gerar economia em manutenções futuras e ser avaliado por
essa economia também, gerando o máximo possível de economia durante a
construção e, mediante avaliação, obter um ótimo desempenho ambiental.
Essa extensa relação de qualidades arquitetônicas relativas à sustentabilidade
sugere que para um conceito amplo como “arquitetura sustentável”, as categorias
envolvidas com seu sucesso prático constituem um sistema projetual mais vasto do
que meramente o atendimento a alguns tópicos referentes à economia de recursos
energéticos e soluções inteligentes.
31
Com cinqüenta e três andares, o Commerzbank tem uma planta triangular com um
grande átrio no centro. Toda a parte de elevadores, escadas e serviços são
localizados nos três cantos do edifício. Os jardins laterais de quatro pavimentos de
altura, que alternam com oito pavimentos de escritórios, associados à utilização de
fachadas duplas, criam um sistema de ventilação natural. A camada externa da
fachada é feita de vidros fixos e permanece sempre fechada, enquanto que a
camada interna tem janelas que podem ser abertas para permitir a ventilação.
(PAWLEY, 1999)
2.1.2 Ken Yeang
No meio internacional, diversos outros edifícios foram projetados buscando atingir o
qualificativo de arquitetura ecologicamente correta, mas o arquiteto malaio Ken
Yeang foi um dos que mais se destacou, desde fins do século vinte, projetando sob
a motivação do tema “edifícios altos verdes”.
A seguir, são relacionados os principais conceitos desenvolvidos por Ken Yeang
para o projeto de um “edifício ecológico”, consideráveis na etapa de concepção:
– Orientação das fachadas e janelas;
– Posição do núcleo de elevadores e sua influência na configuração
do edifício e na distribuição do espaço interno;
– Projeto das proteções solares;
– Cor da envoltória;
– Efeito da vegetação e seu cultivo ao longo do edifício;
– Modo de climatização (ar-condicionado, ventilação natural ou modo
misto);
– Seleção de materiais e das fontes de energia. (UMAKOSHI;
GONÇALVES, 2009, p.138).
32
Os projetos de Ken Yeang são caracterizados pela grande preocupação com o
conforto ambiental e uso intenso da vegetação. “A arquitetura de suas torres exibe
uma forte presença orgânica através dos freqüentes jardins verticais que escalam
por entre as estruturas e fachadas, além das soluções bioclimáticas típicas de uma
imagem natural” (ZAMBRANO, 2008, p.93). Yeang também explora novas
tecnologias tendo em vista futuras aplicações em
suas obras, testando suas teorias mediante
simulações digitais e por meio de protótipos.
Apesar de adotar a experimentação como base
do trabalho, nem todas as idéias testadas como
protótipos são aplicadas à construção de edifícios
projetados por esse arquiteto. Yeang justifica que
a dificuldade de aplicar tudo o que testa em
protótipos nas construções reside no fato de que,
cronologicamente, é impossível executar um
projeto
e
uma
velocidade
com
construção
que
suas
com
a
mesma
pesquisas
são
realizadas. O Tokio Nara Tower, de 1995, é um
Figura 7: Tokyo Nara Tower – Ken Yeang
dos edifícios de Ken Yeang que, ao utilizar
Fonte:
vegetação que percorre toda a fachada, pode
GOOGLE.
www.google.com.br.
22/04/2011
Disponível
em
Acesso
em
então conferir a todo o edifício, do solo ao topo,
uma mesma linguagem e solução bioclimática (UMAKOSHI;GONÇALVES, 2009).
No Menara Mesiniaga (1989-1992), na Malásia, Ken Yeang utilizou alguns dos
conceitos que considera importantes para o projeto de arquitetura bioclimática.
Todos os banheiros têm ventilação natural e tanto essa área funcional como
serviços e elevadores estão direcionados para o leste, o lado mais quente. Escadas
e halls de elevadores também são naturalmente ventilados. A área de trabalho é
quase toda envidraçada, com vista para a área externa, com algumas salas
fechadas bem no centro, mas todas com divisórias de vidro possibilitando também
que os usuários vejam o exterior (YEANG, 1996).
33
Figura 8: Menara Mesiniaga
Fonte: GOOGLE, 2011. Disponível em www.google.com.br. Acesso em 14/08/2011
Figura 9: Menara Mesiniaga
Fonte: YEANG, p.80, 1996
34
Ken Yeang defende que edifícios altos deveriam funcionar como cidades verticais,
ou seja, concentrar serviços, lazer, trabalho e habitação em um único edifício
(UMAKOSHI; GONÇALVES, 2009).
Defende ainda que todos os escritórios do futuro devam contar com:
- Relação com o ambiente externo
- Espaços de transição entre os ambientes internos e externos
- Áreas abertas que sirvam como oportunidade para encontros, como pátios e
halls de elevadores
- Copa e áreas para alimentação
- Iluminação natural
- Ventilação natural
- Maior acessibilidade
- Áreas para vestiários
- Condições de iluminação mais parecidas possível com a área externa
- Utilização de vidro
(YEANG, 1996, p. 244)
2.2 Arquitetura brasileira
Apesar de tantos exemplos de arquitetura ecologicamente correta terem surgido no
exterior na década de 1990, Gonçalves e Duarte (2006) defendem que a arquitetura
moderna brasileira demonstrara características bioclimáticas já no período entre
1930 e 1960, com o uso de quebra-sóis e cobogós, presentes com intensidade nas
obras de arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Rino Levi. O conforto
ambiental e o consumo de energia teriam sido preocupação recorrente em projetos
de boa qualidade e, por esse motivo, a arquitetura bioclimática se tornou importante
para legitimar uma arquitetura sustentável.
A Arquitetura sustentável é a continuidade mais natural da
Bioclimática, considerando também a integração do edifício à
totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um
conjunto maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o
aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente
35
construído e no seu entorno, integrando as características da vida e
do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia
compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos
poluído para as próximas gerações. (CORBELLA E YANNAS apud
GONÇALVES E DUARTE, 2006, p.52).
Na arquitetura moderna brasileira
“(...) vale mencionar os notáveis aspectos da casa bandeirista de
pau-a-pique, bem como a notável solução do muxarabi, a grelha
quebra-sol de madeira de origem árabe e mediterrânea, tão
tradicional também na Península Ibérica.” (FUJIOKA, 2008, p.43),
elementos esses que teriam sido adequados à manifestação da arquitetura moderna
no Brasil.
Nas décadas de 1950 e 1960, quando a tecnologia nem era tão avançada a ponto
de suprir necessidades de conforto ambiental ausentes no projeto, diversos
arquitetos já se preocupavam com a concepção e execução de uma arquitetura que,
por si só, fosse capaz de promover conforto ambiental para os usuários das futuras
casas ou edifícios e permitisse o máximo de aproveitamento das características que
os ambientes ofereciam. A seguir, são apresentados alguns arquitetos e obras
arquitetônicas
brasileiras
exemplares,
quanto
à
motivação
inerente
à
sustentabilidade.
2.2.1 Rino Levi
Rino Levi ficou conhecido por ser bastante rigoroso com o detalhamento técnico da
arquitetura, além de se preocupar com a estética do projeto.
Rompeu com o arcaico e tradicional método de construir através de
um simples ‘desenho artístico’, desenhando exaustivamente todas as
etapas da obra: fundação, estrutura, alvenaria, acabamento,
esquadrias, chegando até a detalhar luminárias e mobiliário. (UEDA,
p. 46, 2001).
36
Uma das principais características de seus projetos era a preocupação em suprir e
controlar a insolação e iluminação naturais, aspectos que geralmente enfrentava
com a utilização de persianas de madeira ou venezianas nos edifícios residenciais e
brises-soleil, nos edifícios comerciais. Nos anos de 1950, materiais refratários
conhecidos por aproveitar a luz natural passaram a ser fabricados por empresas de
vidros, mas Rino Levi se recusou a utilizá-los, pois além do custo muito alto, exigiam
a instalação de máquinas de ar-condicionado, aumentando o consumo de
eletricidade. Além disso, pela sua experiência, os panos de vidro nunca forneceram
iluminação suficiente para dispensar o uso de iluminação artificial durante o dia
(UEDA, 2001).
Os tratamentos de fachada prescritos por Rino Levi que indicam sua grande
preocupação com a insolação puderam ser observados nitidamente pela primeira
vez no Edifício Concórdia, construído entre 1955 e 1957, em São Paulo.
O projeto do brise segue as necessidades da orientação das
fachadas. Enquanto a fachada da Rua Plínio Ramos recebe brise
horizontal feito com placas curvas de fibrocimento rente ao caixilho
para barrar o sol de noroeste (tarde e poente), a fachada interna,
aberta para um jardim construído no teto da garagem, recebe brise
horizontal disposto em balanço, filtrando um pouco da insolação
matutina e acentuando a extensão do espaço interno para o exterior.
(ANELLI; GUERRA; KON apud RAHAL, 2006, p.65).
37
Figura 11: Edifício Concórdia – Rino Levi
Figura 10: Edifício Concórida – Rino Levi
Fonte: RAHAL, p.65, 2006
Fonte: RAHAL, p.65, 2006
Apesar de não ser a favor do uso de pano de vidro, Rino Levi o adotou, em conjunto
com brises de alumínio fixos, no edifício do Banco Sul-Americano, atual Banco Itáu,
localizado em São Paulo, na Avenida Paulista, e construído entre 1961 e 1965
(UEDA, 2001).
Figura 13: Banco Sul-Americano – Rino Levi
Figura 12: Banco Sul-Americano – Rino Levi
Fonte: RAHAL, p.66, 2006
Fonte: RAHAL, p.66, 2006
Para o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, a arquitetura moderna brasileira é
caracterizada pela constante preocupação de adaptação ao clima. Ele descreve a
arquitetura moderna brasileira como:
38
...uma particular sensibilidade dos arquitetos à condições regionais,
tendo constante preocupação de obter soluções adequadas ao
clima, desenvolvendo os mais variados sistemas de proteção contra
o calor , os quais, muitas vezes, da estrutura como elemento
marcante da composição, oferecendo, freqüentemente, motivação
ao seu aspecto formal; quase sempre o encontro de soluções
claras e simples, mesmo para problemas mais complicados, que
são solucionados com generosidade e largueza. A riqueza da flora,
a dramaticidade da paisagem e a força do sol talvez sejam
responsáveis pela tendência, bastante freqüente, para uma certa
exuberância formal (...) (REIDY apud ZAMBRANO, 2008, p.62).
A arquitetura moderna brasileira no período abordado neste item demonstrou uma
preocupação em aproveitar o máximo possível do que a natureza tem a oferecer.
Apesar de não dispor de tecnologia relativa à operação inteligente de sistemas e
processos de economia energética ou reciclagem e reuso de materiais que hoje se
aprimoram nos prédios certificados que buscam reduzir o impacto ambiental, a
preocupação com sustentabilidade, compreendendo-a como a produção de um
ambiente voltado ao conforto dos usuários partia do projeto. O projeto recebia a
atenção merecida no sentido de ser compreendido como uma intermediação capaz
e suficiente para prover as edificações das qualidades necessárias à expressão da
sustentabilidade.
2.2.2 Marcos Acayaba
As obras de Marcos Acayaba demonstram essa estreita relação entre arquitetura e
meio ambiente. Como exemplo, a residência Baeta (1993-94) no Guarujá aproveitou
a declividade do terreno fazendo pilares árvores, preservando a mata nativa e
permitindo que a água da chuva escoasse normalmente (FUJIOKA, 2008). Como o
local não permitia a instalação de um canteiro de obras, as peças foram idealizadas
de maneira que fossem executadas em outro lugar e apenas montadas no local.
Dessa maneira, Acayaba trabalhou com estruturas de madeira pré-fabricadas.
39
Figura 14: Residência Baeta – Marcos
Figura 15: Residência Baeta – Marcos Acayaba
Acayaba
Fonte: NAKANISHI, p. 105, 2007
Fonte: NAKANISHI, p. 105, 2007
Figura 16: Corte Residência Baeta – Marcos Acayaba
Fonte: NAKANISHI, p. 110, 2007
40
Diversos outros exemplos de construções que, de alguma maneira, utilizaram
técnicas para amenizar o impacto do edifício no meio ambiente podem ser
apontadas no Brasil, incitando a descobrir quais princípios e características
assinalam uma arquitetura que por suas características de concepção e
materialidade a definem como sustentável e se as certificações levam em
consideração esses princípios, polemizando a questão.
2.3 Considerações sobre o capítulo 2
A busca por uma arquitetura sustentável fez com que diversas definições desta
surgissem ao longo dos anos. Aproveitamento de luz e ventilação naturais se tornou
imprescindível para quem tenta respeitar ao máximo o que a natureza tem a
oferecer. A integração da arquitetura com a natureza também se tornou passível de
definir a sustentabilidade, e ainda aproveitar ao máximo o terreno, evitando cortes e
aterros, como exemplifica a obra de Marcos Acayaba, ou utilizar o máximo a
presença de vegetação natural nos projetos, como revela a prática de Ken Yeang,
demonstram uma preocupação com o meio ambiente.
Porém, a definição de arquitetura sustentável se torna mais complexa mediante a
quantidade e disponibilidade de tecnologia aplicada hoje aos edifícios para
compensar a ausência de ventilação natural, por exemplo. O fato é que a arquitetura
realizada pensando em qualidade e responsabilidade frente à natureza e ao usuário
deve partir da premissa de ser sustentável, procurando alcançar esse nível de
excelência de forma sistêmica e integrando seus diversos condicionantes e
possibilidades, técnicas, tecnológicas e estéticas. Os primeiros passos e
condicionantes de um projeto partem de analisar o terreno, verificar o que tem a
oferecer e o que pode ser aproveitado, posicionar a futura edificação de maneira a
obter uma boa insolação, iluminação natural e resguardo, fazendo com que o
conforto térmico não venha a ser prejudicado por uma implantação e orientação
indevidas, de maneira que se possa, ainda, tirar máximo partido da ventilação
natural.
41
O conceito de sustentabilidade envolve também questões sociais e econômicas, a
arquitetura sustentável também deve se preocupar com a qualidade de vida do
usuário, refletida em acessibilidade universal, conforto térmico, visual e acústico e
racionalização de meios tanto de construção quanto de manutenção.
Um dos atuais problemas que podem ser identificados reside em que muitas vezes a
ausência desse cuidado e preocupação com o projeto de forma a contemplar seus
aspectos sistêmicos pode ser compensada pela agregação de tecnologias que,
embora elevem a qualidade da edificação em alguns itens específicos, não
garantem um resultado arquitetônico sustentável. Tais recursos ajudam em muito
nos aspectos relativos à máxima economia de meios tais como energia e água,
consistindo essas soluções no cerne da arquitetura sustentável, quando se fala em
construções “verdes”. Mas a questão crítica permanece de até onde a aplicação
dessa tecnologia é suficiente para caracterizar a arquitetura sustentável.
42
CAPÍTULO 3. Sistemas de Certificação Green Building
O impacto causado pela construção civil é uma das atividades humanas que mais
afeta o meio ambiente, e as Certificações Green Building foram desenvolvidas com a
finalidade de prover um instrumento de avaliação desse impacto e, também, como
forma de mensurá-lo com base na análise do ciclo de vida dos edifícios.
A primeira certificação, denominada BREEAM, surgiu em 1990 no Reino Unido e, a
partir dela, surgiram diversas outras que usaram sua estrutura como base de
referência. De certa maneira, esse instrumento passou a ser um guia de referência
para quem desenvolvia projetos e trabalhava com construção civil, direcionando as
soluções projetuais e as ações na obra para garantir um edifício sustentável.
O objetivo foi incentivar o mercado a buscar alto nível de desempenho ambiental dos
edifícios por meio de uma avaliação que identificasse necessidades de intervenções
em obras ou alterações expressivas na forma de projetar, construir e manter um
edifício.
A expressão Green Building foi então cunhada para englobar todas
as iniciativas dedicadas à criação de construções que utilizem
recursos de maneira eficiente, com claro foco em uso de energia;
que sejam confortáveis; e que tenham maior longevidade,
adaptando-se às mudanças nas necessidades dos usuários e
permitindo desmontagem ao final do ciclo de vida do edifício, para
aumentar a vida útil dos componentes através de sua reutilização ou
reciclagem. (SILVA, 2003, p.33)
Os sistemas de certificação criados assumiam por desafio descobrir o que e como
avaliar, e qual o objetivo a atingir. Atualmente, diversos países adotaram um desses
instrumentos e respectivo método de avaliação ambiental de edifícios. Entre esses
instrumentos, pode-se destacar:
43
BREEAM
Building Research Establishment Environmental Assessment
Method. Reino Unido. Sistema criado pelo BRE em 1990.
Considerado o sistema mais antigo e que influenciou grande
parte dos sistemas posteriores, inclusive o LEED.
BEPAC
Building
Environmental
Performance
Assessment
Criteria.
Canadá. Sistema baseado no BREEAM que praticamente não foi
usado, mas deu origem ao GBC.
GBC
Green Building Challenge. Consórcio de iniciativas que criou, em
1998, a ferramenta GBTool para avaliar edifícios. Tem como
meta abordar as características locais de cada local onde é
aplicado.
LEED
Leadership in Energy and Environmental Design. Sistema criado
pelo USGBC em 2000, fortemente difundido nos EUA e com
influência na criação de outros sistemas pelo mundo.
CASBEE
Comprehensive Assessment System for Building Environmental
Efficiency. Japão. Introduzido em 2002.
HKBEAM
Hong Kong Building Environmental Assessment Method. Iniciado
em 1996 inspirado no BREEAM. É uma iniciativa privada da The
Real Estate Developers Association of Hong Kong.
Ecoprofile
Sistema oficial de avaliação da Noruega. Coordenado pela
Byggforsk (Instituto Norueguês de Pesquisa de Edifícios).
Miljöstatus Environmental Status. Sistema sueco de avaliação. Iniciado em
1995, começou a atividade em 1997, sendo que, em 2002, já
estava na versão 4 e contava com aproximadamente 2000
edifícios avaliados.
NABERS
National Australian Building Environmental Rating System.
Sistema de avaliação australiano, iniciado em 2001, e com
versão piloto a ser lançada em 2003. Avaliação de edifícios de
escritórios e residências.
HQE
Haute Qualité Environnementale. Sistema oficial francês de
avaliação de diversos tipos de edifícios. Em 2002, entrou em
teste.
SPeAR
Sustainable Project Appraisal Routine, criado pela emrpesa de
44
engenharia Arup Group. Sistema privado de acesso e uso restrito
à empresa, usado para a avaliação da sustentabilidade de
edifícios.
BEES®
Building for Environmental and Economic Sustainability. Software
produzido por Barbara Lippiatt no National Institute os Standards
and Technology nos EUA. Permite avaliar o desempenho
econômico e ambiental na escolha de materiais deconstrução.
Green
Canadá. Sistema on-line de avaliação que faz parte do
Globes
BREEAM/Green Leaf. Uma versão para o Reino Unido foi
lançada em 2002.
Processo
Brasil. Sistema baseado no HQE, lançado em 2008.
Aqua
Quadro 3: Sistemas de Certificação
Fonte: A partir de HERNANDES, 2007, p.34
3.1 BREEAM
O Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM)
foi o primeiro e é um dos mais conhecidos métodos de avaliação ambiental de
edifícios. Lançado no Reino Unido em 1990 por pesquisadores do BRE15 e do setor
privado, o BREEAM dispõe hoje de mais de 200.000 edifícios certificados (BRE,
2010).
O BREEAM fornece um processo formal de avaliação embasado em
uma auditoria externa. O edifício é avaliado independentemente por
avaliadores treinados e indicados pelo BRE, que, por sua vez, é
responsável por especificar os critérios e métodos de avaliação e
pela garantia da qualidade do processo de avaliação utilizado
(SILVA, 2003, p. 38).
Dentre as vantagens que o BREEAM oferece estão o reconhecimento de mercado
pelo desenvolvimento de prédios com baixo impacto ambiental, a inspiração para
encontrar novas soluções que minimizem o impacto ambiental e a possibilidade de
15
Building Research Establishment
50
Ao contrário de outros instrumentos como o LEED, cuja certificação se completa em
apenas uma fase, o Processo Aqua admite três fases, sendo que cada uma delas
passa por auditoria e recebe um certificado específico. Na primeira, chamada de
Programa, é definido o programa de necessidades, documento que deverá orientar o
projetista na concepção arquitetônica, bem como nas definições técnicas do
empreendimento. A segunda fase é a Concepção, em que o projetista, de posse do
documento do Programa, deverá definir a concepção arquitetônica e as diretrizes
técnicas do empreendimento, visando o projeto executivo. A terceira fase é a
Realização, ou seja, a obra, desenvolvida de acordo com o sistema de gestão e
seguindo o projeto. Em cada uma das fases o empreendedor recebe um certificado
que o habilita a prosseguir e realizar a fase seguinte (CORBIOLI, 2009). O AQUA
ainda não dispõe de uma certificação que avalie a fase seguinte à obra, que
caracteriza a operação e manutenção.
Para a construção ser certificada através de Processo AQUA é
necessário durante a fase Programa definir o desempenho
pretendido pelo empreendedor nas 14 categorias e através do SGE
deve-se garantir controle do projeto; durante a Concepção os
projetistas elaboram a arquitetura e técnicas do projeto. Por último, a
fase Realização, na qual o empreendimento é construído. É preciso
avaliar o desempenho do edifício nas três etapas mediante visita
técnica agendada da Fundação Vanzolini e o certificado é emitido em
30 dias. Em todas as fases de avaliação permite-se corrigir eventuais
desvios (PUGLIERO, PIMENTEL, 2010, p. 4).
Destinado a escritórios, edifícios escolares, hotéis e edifícios habitacionais, o AQUA
já dispõe de vinte e três (23) processos iniciados, quinze (15) certificados emitidos e
nove (9) empreendimentos certificados (Fundação Vanzolini, 2010). O número de
certificados emitidos é maior do que o número de empreendimentos certificados
porque alguns empreendimentos receberam mais do que um certificado. O prédio da
Leroy Niteroi, por exemplo, tem já dois certificados: um relativo à fase Programa e
um da fase Concepção.
53
- Pedras retiradas do antigo prédio e que caracterizariam entulho foram
utilizadas nas calçadas e acessos da loja;
- Os resíduos sólidos foram separados e os sacos de papelão do cimento
empregado, encaminhados para reciclagem;
- Utilização de tinta a base de água, menos agressiva ao ambiente que as
convencionais;
- No interior da loja foi utilizado piso de concreto polido, cuja limpeza é feita
apenas com água, dispensando o uso de produtos químicos;
- Foram plantadas árvores nativas como paisagismo;
- O projeto prevê vagas preferenciais para idosos, deficientes e carros flex.
- Economia de 50% de água através do uso de descargas com fluxo duplo,
torneiras com acionamento manual que fecham automaticamente e reutilização
da água de chuva na manutenção dos jardins, limpeza externa e descarga dos
banheiros;
- Economia de 17% de energia com a utilização de brises nas fachadas
envidraçadas que diminuem o consumo de ar-condicionado; uso de painéis
solares para aquecimento de água e a iluminação dos postes e fachadas com
tecnologia LED, que propicia gastar menos energia e cuja emissão luminosa
dura mais tempo.
Segundo a Fundação Vanzolini (2011), a loja obedece, ainda, a normas de
acessibilidade, possui dois pontos de coleta seletiva de resíduos, inclusive para
pilhas e baterias e possui econômetros para informar quanto o edifício está
economizando de energia elétrica e água.
54
O AQUA, assim como o LEED, busca atribuir sustentabilidade aos edifícios por meio
de análise do seu desempenho ambiental. Apesar de a avaliação observar fatores
diversos, envolvendo aspectos arquitetônicos e de gestão, muitas das alternativas
buscadas para atingir os requisitos em ambas as certificações são semelhantes,
mesmo porque ambas têm objetivos prioritários semelhantes, como a redução do
consumo de água e energia, por exemplo. Além disso, o AQUA aborda de forma
bastante sumária os aspectos arquitetônicos e de projeto e desenho dos edifícios,
não possibilitando uma análise complexa e em profundidade da arquitetura e sua
relação com a sustentabilidade. De que se conclui que apesar das flagrantes
diferenças entre os sistemas de certificação, todos se apóiam em hierarquias de
categorias e estas consistem em uma seleção de aspectos, relegando muitas vezes
outros que certamente contribuem também para a sustentabilidade das edificações:
a espacialidade, os usos atribuídos ao espaço arquitetônico, as relações entre
público e privado, os fluxos, transições e espaços de permanência, entre outras
categorias de interesse.
3.3 Certificação LEED
Desenvolvida pelo U.S. Green Building Council, a certificação LEED visa ajudar e
mensurar a implementação de recursos e tecnologias que permitam que uma
construção exerça menor impacto no meio ambiente, tornando-se, mediante esse
conceito, uma construção sustentável.
Reconhecida em vários países, a certificação se baseia em categorias que permitem
a avaliação de diversos tipos de edifícios, tais como comerciais, residenciais,
escolares e hospitalares, levando em consideração todas as fases de um edifício,
desde a sua construção, ou reforma, até a sua manutenção.
Da mesma maneira que o BREEAM, o LEED gera uma pontuação de acordo com o
atendimento de requisitos pré-estabelecidos, mas com uma diferença: o BREEAM
admite um fator de ponderação, o qual em cada item é multiplicado para se obter a
pontuação final de determinado edifício e, conseqüentemente, determinar em qual
classificação este se enquadra. No LEED cada item atendido gera uma determinada
55
pontuação que é somada no final para que seja determinada qual classificação o
edifício receberá.
3.3.1 LEED no Mundo
O U.S. Green Building Council foi criado em 1993 e, segundo o próprio USGBC
(2010), logo em seguida seus membros sentiram necessidade de criar um sistema
que avaliasse o impacto da construção no meio ambiente e que pudesse, de alguma
maneira, medir o quão sustentável essa edificação seria. Realizaram-se estudos
sobre os sistemas de avaliação de prédios verdes existentes e, menos de um ano
após a formação do U.S. Green Building Council, formou-se um comitê que cuidaria
apenas da criação desse sistema de avaliação. O comitê seria formado por
profissionais
diversos,
como
arquitetos,
engenheiros,
agentes
imobiliários,
proprietários de edifícios, ambientalistas, advogados e representantes de indústrias
(GBCI, 2010).
Em 1998, o Green Building Council já atuava em oito países e seus representantes
se reuniam para rever todas as atividades globais. Com isso, foi fundado o World
Green Building Council em novembro de 1999 com o papel de formalizar as
comunicações internacionais e dar apoio a todas as iniciativas para difundir a
construção sustentável ao redor do mundo. A princípio, seu trabalho incluía os oitos
países mencionados anteriormente: Austrália, Canadá, Japão, Espanha, Rússia,
Emirados árabes, Reino Unido e Estados Unidos. (GBCI, 2010)
A primeira versão do LEED, uma versão teste denominada LEED 1.0, foi lançada em
1998. Após muitas modificações e aprimoramentos, o LEED 2.0 foi lançado em
março de 2000. As atualizações continuaram sendo feitas e a versão 2.1 chegou ao
mercado em 2002, seguida da versão 2.2, lançada em 2005 (USGBC, 2010).
Com a evolução do LEED, surgiram categorias para avaliar diferentes tipologias de
edifícios: LEED for Core & Shell, LEED for New Construction LEED for Schools
(Escolas), LEED for Neighborhood Development, LEED for Retail, LEED for
Healthcare, LEED for Homes e LEED for Commercial Interiors (USGBC, 2010).
56
O registro dos projetos que buscam a certificação é realizado no site do Green
Building Council Institute, criado em 2008 como entidade autônoma do U.S. Green
Building Council (USGBC, 2010). O GBCI se tornou responsável pelas certificações
e por desenvolver programas que ajudassem a monitorar e medir o impacto
ambiental de cada edificação, definindo sua sustentabilidade.
Para acompanhar as constantes mudanças e atender ao universo de informações e
novas tecnologias, a certificação LEED vai ganhando novas versões, o que a
atualiza e possibilita que atenda a novas necessidades.
Gráfico 2: Construções LEED no Mundo
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em
12/09/11
57
3.3.2 Processo de Certificação
O processo de certificação do LEED tem cinco etapas, indicadas na figura abaixo:
Figura 19: Processo de Certificação LEED
Fonte: Green Building Council Institute – disponível em http://www.gbci.org/main-nav/buildingcertification/certification-guide.aspx - acesso em 14/08/10
Segundo o GBCI - Green Building Council Institute - o primeiro passo para obter a
certificação LEED é verificar em qual categoria o empreendimento se encaixa, e se a
edificação cumpre todos os pré-requisitos, podendo então atingir o mínimo de
pontos necessário para receber, pelo menos, o nível de certificado.
Após verificar os pré-requisitos, é necessário registrar o projeto junto ao Green
Building Council Institute. Esse registro é realizado por meio de uma plataforma
online e, nele são fornecidos todos os dados do empreendimento. Em seguida, são
preenchidos os dados do projeto, o que gera uma pré-analise da certificação. No
final da obra, são preenchidos todos os dados referentes à construção e, caso exista
alguma alteração em relação ao projeto, este poderá ser informado ao sistema
também.
58
Figura 20: Formulário de Registro para Certificação LEED
Fonte: Green Building Council Institute – disponível em
https://www.leedonline.com/irj/portal/anonymous?NavigationTarget=ROLES://portal_content/leed/pages/org.leed.
UserRegistrationPage – acesso em 15/08/10
59
Após esse procedimento, todas as documentações e informações serão analisadas
pelo Green Building Council Institute para a definição da certificação. Se a
pontuação estiver entre 40 e 49 pontos, o edifício será considerado Certificado
(Certified), se entre 50 e 59, receberá o selo Prata (Silver), se estiver entre 60 e 79,
será Ouro (Gold) e, se entre 80 e 110, Platina (Platinum) (GBCI, 2010).
Gráfico 3: Profissionais LEED AP no Brasil
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em
http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_metodologia.php – acesso em
12/08/10
No auxílio e consultoria durante o processo de certificação atuam LEED APs,
profissionais que conhecem o processo e a plataforma. Segundo o Green Building
Council Brasil, em junho de 2011 havia cento e um (101) profissionais LEED no
Brasil, sendo 89 LEED APs e 16 LEED GAs (GBC Brasil, 2011). Esse profissional
atua junto à certificação, mas sua participação no processo não é obrigatória, apesar
de elevar o crédito do procedimento.
60
3.3.3 Categorias
Os pré-requisitos para a obtenção da certificação LEED são divididos em cinco
categorias: Materiais e Recursos (MR), Energia e Atmosfera (EA), Qualidade
Ambiental Interna (EQ), Uso Racional de Água (WE) e Espaço Sustentável (SS)
(Green Building Council Brasil). A fim de dotar o procedimento de expertise
suficiente, o Comitê do Green Building Council Brasil se subdivide em cinco
subcomitês, sendo um subcomitê para cada categoria (GBC BRASIL, 2010).
Figura 21: Metodologia de aplicação do LEED
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em
http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_metodologia.
php – acesso em 12/08/10
No Brasil hoje são utilizadas oito categorias de certificado LEED, o LEED NC, para
construções novas e grandes reformas, o LEED ND para desenvolvimento de
bairros, o LEED CS para fachadas e áreas comuns de prédios comerciais, o LEED
Retail NC e CI para lojas de varejo, o LEED Healthcare para unidades de saúde, o
LEED EB OM, para operação e manutenção de edifícios existentes, o LEED Schools
para escolas e o LEED CI, para interiores comerciais (GBC BRASIL, 2011).
61
Até o ano de 2010, apenas quatro categorias eram utilizadas no Brasil: LEED CS,
LEED NC, LEED CI e LEED EB OM. Portanto, atualmente, todos os edifícios
certificados estão dentro de algumas dessas categorias, mas já foram feitos
registros nas demais, com exceção do LEED ND, que não tem nenhum registro
efetuado.
Gráfico 4: Registros por categoria LEED
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em
12/09/11
Como é possível observar na figura anterior, o maior índice de certificações foi
expedido para LEED CS, para fachadas e áreas comuns de prédios comerciais
(45%), seguido de LEED NC, com 38%; em seguida, com a mesma porcentagem
(8%), ficam o LEED EB OM e o LEED CI, e por fim, 1% do LEED Retail NC e 0% do
LEED School. Esse resultado atesta que a incidência prioritária de certificações
ocorre com base na avaliação parcial da arquitetura e não na edificação como um
todo, indicando a prática relativa da certificação no Brasil.
62
Os gráficos abaixo indicam que o maior número de registros acontece em São Paulo
e a tipologia que tem mais registros são os edifícios comerciais. Segundo Fernando
Sinicatto, gerente de administração da CB Richard Ellis, responsável pelo Eldorado
Business Tower, os prédios comerciais buscam, cada vez mais, a certificação LEED,
pois empresas multinacionais, ao implantarem seus escritórios no Brasil, querem
sempre que os edifícios onde vão se instalar sejam certificados.16
Gráfico 5: Registros do LEED por Estado
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em
12/09/11
Gráfico 6: Registros do LEED por tipologia
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em
12/09/11
16
Conforme foi comentado durante a visita técnica realizada em 16 de março de 2011, monitorada pelo
Engenheiro Eletricista Fernando Sinicatto, gerente de administração (Administradora CB Richard Ellis)
63
Gráfico 7: Registros e certificações LEED no Brasil
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao - acesso em
12/09/11
O primeiro registro para uma certificação LEED no Brasil ocorreu em 2004 e, desde
então, esse número cresce a cada ano, sendo que a primeira certificação foi dada
em 2007, quando já existiam 48 registros.
3.3.3.1 LEED NC – LEED para Novas Construções
O LEED NC foi inicialmente desenvolvido para prédios comerciais novos, mas é
utilizado para construções novas em geral e grandes reformas de prédios existentes
(LEED 2009 FOR NEW CONSTRUCTIONS AND MAJOR RENOVATIONS RATING
SYSTEM). Nos Estados Unidos, essa categoria é aplicada também para certificação
de prédios residenciais novos, pois o padrão de acabamento para entrega dos
apartamentos naquele país inclui piso, armários, luminárias e diversos outros itens
que fazem com que o novo morador tenha apenas que prover mobiliário. No Brasil,
muitos apartamentos novos são entregues apenas com fiação passada e
revestimento de áreas molhadas, sendo que sala e quartos são, por vezes,
entregues no contrapiso, não dispondo de mais nenhum acabamento ou
equipamento. Conforme o padrão brasileiro, os interiores ficam a cargo do
64
comprador, sendo que os prédios residenciais podem ser certificados apenas na
categoria LEED CS.
Atualmente existem catorze (14) edificações com certificação LEED NC no Brasil
(GBC BRASIL, 2010). As pontuações são verificadas mediante uma planilha onde
cada item é registrado e pontuado.
3.3.3.2 LEED ND – LEED para Desenvolvimento de Bairros
Baseado no fato de que o mundo está em constante crescimento e que a maneira
que esse crescimento ocorre influencia todo o planeta, foi criado o LEED ND.
Diferentemente das outras categorias do LEED, que focam principalmente em
construções sustentáveis, o LEED ND prioriza a seleção do terreno, a infra-estrutura
e a construção de elementos que conformam um bairro, levando em consideração
toda a paisagem e o contexto. O objetivo desta categoria é promover um
crescimento sustentável de áreas e bairros urbanos. Apesar de já estar sendo
divulgado no Brasil, nenhum projeto foi registrado buscando essa certificação ainda,
o que sugere que entre nós há ainda enfoque maior na realização imobiliária como
forma de fazer cidade.
3.3.3.3 LEED CS – LEED para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios
Comerciais
O LEED CS pode ser utilizado para prédios onde a incorporadora tem total controle
sobre as fachadas e áreas comuns, incluindo parte elétrica, encanamentos e
sistemas de proteção de incêndios, mas não tem nenhum controle sobre o que é
realizado em cada unidade, em termos de reforma interna, escolha de materiais e
forma de controle do uso de água e energia, que ficam por conta do futuro
proprietário, que tem total liberdade em optar, ou não, por um projeto sustentável.
Atualmente, existem no Brasil onze edificações que receberam certificação nessa
modalidade (GBC BRASIL, 2011).
65
3.3.3.4 LEED retail NC e CI– LEED para Lojas de Varejo
O LEED retail NC e CI leva em consideração o fato de que estabelecimentos
varejistas funcionam em horários e forma diferente do que edifícios comerciais. As
necessidades de estacionamento e de escoamento de transporte são diferentes,
assim como o consumo de energia e de água. (USGBC, 2011) Ainda não existe
nenhum prédio no Brasil certificado nessa categoria, porém já foram feitos três
registros para a certificação.
3.3.3.5 LEED Healthcare – LEED para Unidades de Saúde
O LEED Healthcare pode ser utilizado para novas construções e reformas de
consultórios e instalações licenciadas para cuidar da saúde. Essa categoria
começou a ser utilizada no Brasil em 2011 e ainda não tem nenhuma certificação
emitida e nenhum registro feito nela.
3.3.3.6 LEED EB OM – LEED para Operação e Manutenção de Edifícios
Existentes
O LEED EB OM permite que proprietários e responsáveis pela manutenção de
prédios existentes obtenham a certificação LEED desses edifícios com base em
gestão predial, atualizações de sistemas e alterações diversas que ajudem na
obtenção da qualificação de edificação sustentável. Atualmente existe apenas um
edifício certificado nessa categoria no Brasil, (GBC BRASIL, 2011).
3.3.3.7 LEED Schools– LEED para Escolas
O LEED Schools é utilizado tanto para a construção de escolas novas quanto para
grandes reformas em escolas existentes. Como essa categoria da certificação
passou a ser utilizada no Brasil apenas em 2011, o LEED para Escolas ainda não
tem nenhuma escola certificada, mas já está com um registro em andamento.
67
Eldorado Business Tower
São Paulo
SP LEED CS 2.2
Platinum
Ventura Corporate Towers - Torre Leste Rio De Janeiro RJ LEED CS 2.2
Gold
WTorre Nações Unidas 1 e 2
São Paulo
SP LEED CS 2.0
Silver
McDonalds - Riviera São Lourenço
Bertioga
SP LEED NC 2.0
Certified
CD BOMI Matec
Itapevi
SP LEED NC 2.0
Silver
Pão de Açúcar
Indaiatuba
SP LEED NC 2.0
Certified
Torre Vargas 914
Rio De Janeiro RJ LEED CS 2.2
Gold
Brasken
São Paulo
SP LEED CI 2.2
Certified
Centro de Cultura Max Feffer
Pardinho
SP LEED NC 2.2
Gold
RJ LEED CI 2.0
Gold
Fleury Medicina Diagnostica Rochavera São Paulo
Building the Future ( Boehringer
Ingelheim )
São Paulo
SP LEED CI 3.0
Gold
Unilever TI – Rochaverá
São Paulo
SP LEED CI 2.0
Gold
Sede GBC Brasil
Barueri
SP LEED CI 2.0
Gold
Pavilhão Vicky e Joseph Safra
São Paulo
SP LEED NC 2.2
Gold
Centro de Desenvolvimento Esportivo
Osasco
SP LEED NC 2.2
Gold
Rochaverá Torre A
São Paulo
SP LEED CS 2.0
Gold
WTorre JK - Torre São Paulo
São Paulo
SP LEED CS 2.0
Gold
Ecopatio Bracor Imigrantes
São Bernardo SP LEED NC 2.2
Gold
do Campo
CD Procter and Gamble - Itatiaia
Itatiaia
SP LEED NC 2.2
Gold
Centro Distribuição AVON
Cabreúva
SP LEED NC 2.2
Gold
Edifício Jatobá
São Paulo
SP LEED CS 2.0
Gold
Pão de Açúcar Vila Clementino
São Paulo
SP LEED NC 2.2
Certified
Agência Bradesco Perdizes
São Paulo
SP LEED NC 2.2
Gold
CYK
São Paulo
SP LEED EB
Certified
O&M
Curitiba Office Park Torre Central
Curitiba
PR LEED CS 2.0
Ventura Corporate Towers - Torre
Prata
LEED CS
Oeste
Rio De Janeiro RJ
Novo Auditório do Edifício Sede
Salvador
2.0
BA LEED NC 2.2
Gold
Silver
Odebrecht
Quadro 10: Empreendimentos Certificados LEED no Brasil
Fonte: Green Building Council Brasil – disponível em
http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php?pag=certificacao.php&certificado=cert_leedRegistrados.php – acesso
em 12/08/10
68
3.3.5.1 Banco Real Agência Bancária Granja Viana
Figura 22: Banco Real – agência bancária Granja Viana
Fonte: www.ces.fgvsp.br/arquivos/CS_ap02.ppt – acesso em 12/08/10
Utilizando diversas tecnologias, a agência da Granja Viana do Banco Real foi, em
2007, a primeira edificação da América Latina a receber uma certificação LEED.
Com um projeto que incluiu reuso de águas pluviais, área externa permeável, área
de copa e sanitários com ventilação natural, mobiliário construído com madeira
certificada, torneiras com fluxo de água reduzido e sensor de presença, vaso
sanitário com consumo máximo de 6L por descarga, luminárias com alto rendimento
e baixo consumo e separação dos circuitos de iluminação, a agência recebeu a
certificação LEED NC Silver. (FGV, 2010)
3.3.5.2 Delboni Auriemo – Dumont Villares
Em julho de 2008 a unidade Dumont Villares do Centro de Diagnósticos Delboni
Auriemo foi o segundo empreendimento no Brasil a receber um certificado LEED.
Com um investimento de 7 milhões de reais, o laboratório recebeu o Certificado
LEED NC Silver. A edificação possui fácil acesso a ônibus e metrô, incentivando o
transporte público, bicicletário, vagas preferenciais para carros flex, válvulas e
metais que controlam o fluxo de água, evitando desperdício, ar-condicionado com
gás ecologicamente correto, sensores que controlam a iluminação e diminuem o
gasto de energia, utilização de madeira certificada e, durante a construção, 99% dos
resíduos foram desviados de aterros, sendo destinados à reciclagem (BERTACHINI,
2008).
69
Figura 23: Delboni Auriemo Dumont Villares
Fonte: Delboni Auriemo – disponível em
http://www.delboniauriemo.com.br/unidade_sustentavel_1.php#x – acesso em 14/08/10
3.3.5.3 Banco de Investimentos Morgan Stanley - Edifício Faria Lima Square
O edifício que abriga a sede do Banco de Investimentos Morgan Stanley foi o
primeiro na América Latina a receber a Certificação LEED CI. A sede, localizada no
Edifício Faria Lima Square, situado em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Faria
Lima, nº 3624, recebeu o certificado Silver em outubro de 2008. Com projeto de
interiores da Athie Wohnrath, a sede do banco dispõe de torneiras com sensor,
descargas com duplo fluxo, luminárias com alta eficiência energética, mobiliários em
madeira certificada, ar-condicionado que utiliza gás causando menos impacto à
camada de ozônio e computadores, monitores e impressoras que consomem menos
energia. O projeto também investiu no aproveitamento máximo de materiais e
estruturas que existiam no edifício, como forro, piso e luminárias, com o objetivo de
que tudo o que fosse entregue no prédio fosse mantido, gerando menos demolição
(REVISTA INFRA, 2008).
70
Figura 24: Faria Lima Square
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/collaco-e-monteiro-arquitetos-faria-lima-09-08-2007.html. Acesso
em 10/12/2011
Figura 25: Morgan Stanley
Fonte: http://www.athiewohnrath.com.br/morgan-stanley. Acesso em 10/12/2011.
71
3.3.5.4 Edifício Cidade Nova - Bracor
O Edifício Cidade Nova recebeu o LEED CS Certified em 20/10/2008. Sua principal
característica é a fachada dupla, construída com o objetivo de deixar entrar luz
natural mas barrar o calor, produzindo um efeito chaminé. Uma segunda pele de
vidro, distando 60cm da fachada foi construída, fazendo com que o ar quente que
atravessa a primeira fachada suba e se dissipe na atmosfera. Esse sistema permitiu
a economia de aproximadamente 50% dos gastos com o ar-condicionado (PAIVA;
SILVA, 2008).
O edifício é formado por três blocos com lajes interligadas e dois desses blocos são
interligados por um átrio que é protegido por uma clarabóia. O objetivo desta é
deixar entrar o máximo de luz natural possível e, quando um sombreamento é
necessário, persianas automatizadas fecham a clarabóia (PAIVA; SILVA, 2008).
Figura 26: Edifício Cidade Nova
Fonte: PAIVA, Cida; SILVA, Jaime. Fachadas duplas ventiladas. Revista Finestra, 54ª edição, Setembro de2008
– disponível em http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/ruy-rezende-edificio-cidade-11-12-2008.html - acesso em
15/08/2010.
72
3.4 Considerações e síntese
Os sistemas de certificação Green Building surgiram para direcionar arquitetos e
construtoras à prática da arquitetura sustentável e de construções verdes. A primeira
certificação surgiu no Reino Unido e, desde então, diversas outras foram criadas e
disseminadas.
No Brasil, a certificação mais reconhecida e utilizada é o LEED, fato comprovado
quando se verifica que o número de registros cresce exponencialmente a cada ano e
que, em 2011, quatro novas categorias da certificação passaram a ser utilizadas.
Muitos edifícios que buscam a certificação LEED são exemplares de tipo comercial
ou corporativo, situação que se alia hoje ao fato de muitas empresas multinacionais
fazerem questão de que os edifícios aonde vão instalar filiais no Brasil sejam
certificados. Edifícios certificados dispõem de vantagens atrativas às empresas
locatárias, no que se refere aos sistemas de gestão condominial, e oferta de
sistemas e meios de eficiência energética os quais incidem diretamente nas
condições ambientais e também no rateio dos custos condominiais mensais.
Ao analisar os primeiros edifícios certificados no Brasil, é possível perceber que o
foco da certificação é a economia de energia e de água, bem como sistemas
gestores de coleta de seletiva de resíduos sólidos, e que alguns dispositivos
básicos, como torneiras com sensor, descargas com fluxo duplo e luminárias com
alta eficiência energética, já garantem alguma pontuação.
A arquitetura, compreendida como um sistema complexo e integrado de soluções
setoriais que merecem relacionamento, a fim de que o resultado ambiental seja um
todo sinérgico, envolve preocupações que articulam desde aspectos estéticos,
passando pelas condições específicas do espaço gerado, sua materialidade e
localização. A sustentabilidade depende, por definição de atendimento dessa
demanda complexa, devendo ser garantida no projeto. Embora muitos edifícios
recebam certificações ao atender um conjunto de atributos exigidos pelos selos que
os organizam, tais como o LEED, a sustentabilidade deve ser especificada em cada
73
situação projetual, a fim de compreender seu real significado, e afastar definições
amplas, que certamente dão oportunidade à mistificações a partir desse conceito.
74
CAPÍTULO 4. Eldorado Business Tower: uma perspectiva crítica
4.1 Histórico do projeto
Desde a inauguração do Shopping Eldorado, em 1981, já se falava na construção de
uma torre de escritórios no terreno vizinho que fosse interligada ao shopping por
uma passarela. O grupo J. Alves Veríssimo, proprietário do shopping, contratou
então o estúdio norte americano Lewis Iglehart & Lydia Yoslow Design para fazer o
projeto da torre e a Construtora Birmann, conhecida pela execução de edifícios com
tecnologias inovadoras, como responsável pelo empreendimento (SERAPIÃO,
2008).
Essa primeira proposta para o edifício
comercial, desenvolvida em 1992, previa
duas torres que ocupariam a mesma
área em que hoje se situa o Eldorado
Business
Tower.
Desde
o
início,
propusera-se a construção de um edifício
inteligente
e,
nesse
caso,
foram
projetados dois edifícios inteligentes com
mil vagas de garagem e uma passarela
climatizada que os ligaria ao shopping,
conforme figura ao lado. A conclusão das
obras estava prevista para 1994, mas o
custo final ultrapassaria em muito aquele
Figura 27: 1ª proposta para a construção do
previsto inicialmente. O orçamento das
Eldorado Business Tower
edificações finalizadas atingiu a cifra de
Fonte: SERAPIÃO, 2008
175 milhões de dólares, sendo que o
investimento previsto era de 50 milhões de dólares. Essa proposta foi, então,
descartada e o escritório Aflalo & Gasperini contratado para realizar um novo projeto
(SERAPIÃO, 2008).
75
A segunda proposta foi apresentada em 1999, com projeto de Gian Carlo Gasperini
e construção a cargo da Construtora Sandria. Propôs-se uma torre de quarenta
andares que apresentava um chanfro no coroamento, localizada na esquina da
Marginal Pinheiros com a Rua Ofélia. A proposta contava também com uma
construção mais baixa, separada da torre principal, para um centro de convenções
(SERAPIÃO, 2008).
Figura 28: 2ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
O escritório Aflalo & Gasperini apresentou, ainda, entre 1999 e 2000, mais cinco
versões de projeto. A segunda proposta, também desenvolvida por Gian Carlo
Gasperini, dispunha dois blocos retangulares e a torre. Um dos blocos retangulares
continuaria destinado a um centro de convenções, enquanto o outro a um
estacionamento com praça na cobertura. A torre foi dividida em três partes bastante
distintas, sendo a base mais estreita e o topo mais largo. Segundo Roberto Aflalo,
nascia, nessa ocasião, a idéia que levou à futura concepção do Edifício Rochaverá,
76
ou seja, de um edifício que apresenta as lajes superiores de maior dimensão que as
inferiores (SERAPIÃO, 2008).
Figura 29: 3ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
Roberto Aflalo foi o responsável pelas demais propostas apresentadas logo em
seguida. A quarta versão mantinha um bloco baixo, destinado ao estacionamento,
com uma praça na cobertura, ganhando um bloco intermediário, para o centro de
convenções. Nessa fase, o volume da torre foi o foco de atenção, e diversas versões
volumétricas se apresentaram, antes de se chegar àquela que foi de fato aprovada e
construída. (SERAPIÃO, 2008).
Figura 30: 4ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
77
Na quinta versão do projeto, o programa foi alterado por solicitação do cliente, e a
torre deveria conter, além de escritórios, um hotel. Assim, a torre ganhou uma base
mais alargada, onde ficariam os escritórios, com topo mais esbelto, onde se
localizariam as instalações do hotel, dispondo de prumadas de elevador
independentes. Conforme é possível observar na figura 5, o edifício também
passava a contar com uma das fachadas arredondada (SERAPIÃO, 2008).
Figura 31: 5ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
Na sexta proposta, a última que previa a participação da Construtora Sandria, o
programa de escritórios e hotel permaneceu, mas volumetricamente se procedeu a
uma distinção funcional perceptível, mediante uma subtração à meia altura do
edifício, enfatizando a distinção de usos. Nessa etapa, o complexo passou a ter sua
principal elevação faceada com a Marginal Pinheiros, ao invés da Rua Ofélia, como
nos projetos anteriores (SERAPIÃO, 2008).
Figura 32: 6ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
Quando esse projeto foi finalizado, a Construtora Sandria não conseguiu viabilizá-lo
economicamente. Após o ataque terrorista aos Estados Unidos de 11 de setembro
78
de 2001, a procura por edifícios comerciais caiu drasticamente e todos os
empreendimentos novos ficaram temporariamente suspensos (SERAPIÃO, 2008).
Superada a crise, a Gafisa assumiu a execução do complexo, e o projeto foi então
alterado novamente. Nas sétima e oitava versões, começou a ganhar características
finais. O programa foi novamente modificado, com o hotel descartado e a torre
passou a abrigar apenas escritórios. A demanda por vagas fez com que o bloco do
centro de convenções desse lugar a um edifício-garagem. A torre de escritórios
ganhou duas faces levemente arredondadas, com a fachada maior paralela à
Marginal Pinheiros. Após essas definições, iniciou-se o projeto final do edifício com
especificação da tecnologia que viria a ser usada na construção. (SERAPIÃO, 2008)
Figura 33: 7ª e 8ª propostas para a construção do Eldorado Business Tower
Fonte: SERAPIÃO, 2008
79
Segundo Eduardo Martins17, que trabalhou junto com Roberto Aflalo no
desenvolvimento do projeto do Eldorado Business Tower, a idéia, desde o princípio,
foi construir uma torre como referência no ambiente construído. Esta deveria levar
em consideração idéias e concepções que permitissem que o complexo ganhasse
uma imagem forte, capaz de mesmo depois de anos, continuar a ser uma referência
e mantivesse uma linguagem arquitetônica atualizada. Para isso, procurou-se obter
tais efeitos a partir da materialidade, buscando-se o emprego de recursos de
engenharia de ponta desde o início da construção.
4.2 Características do empreendimento
O Eldorado Business Tower é um edifício
de
uso
corporativo
interligado
por
Shopping
Eldorado,
(escritórios),
uma
passarela
ao
localizado
na
Avenida das Nações, Unidas, confluência
com a Avenida Rebouças, em São Paulo.
O
Eldorado
Business
Tower
foi
inaugurado em 2007 e ocupa um terreno
de
10.379
m²,
dispondo
de
área
construída de 128.645 m², 142 metros de
altura, 29 elevadores, 1.806 vagas de
garagem, e é considerado um escritório
comercial triple A18. Em 2008, o edifício
Figura 34: Eldorado Business Tower
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal,
obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
recebeu a certificação LEED CS Platina.
Executado
pela
Construtora
e
Incorporadora Gafisa, com projeto do
Aflalo
17
Em entrevista realizada no dia 18/11/2010
18
Padrão de edifícios definidos como modernos e eficientes
&
Gasperini
e
paisagismo
de
80
Benedito Abbud, foi o primeiro edifício a ter essa certificação na América Latina e o
quarto no mundo.
Inaugurada em novembro de 2007, a torre destinada a escritórios tem 32
pavimentos- tipo, com lajes em concreto protendido de espessura de 27 cm, que
possibilitam plantas flexíveis, com áreas úteis que variam de 1.950 a 2.004 m2.
Todos os escritórios contam com piso elevado e forro, com pé-direito de 3,00m, do
piso ao forro (PAIVA;SILVA, 2008). O edifício dispõe de quatro (4) subsolos, mais
edifício-garagem com sete (7) pavimentos, totalizando 1.806 vagas, centro de
convenções e heliponto com capacidade para dez (10) toneladas.
Figura 35: Heliponto do Eldorado Business Tower
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
A construção do complexo foi iniciada em 2005, sendo que a obra se estendeu por
trinta meses. Oito meses foram gastos exclusivamente para escavação do subsolo,
81
devido à natureza rochosa. A área do último subsolo é menor que a prevista em
projeto devido à impossibilidade de se retirar completamente a rocha. A obra foi
executada tendo em vista a certificação na categoria Platina, e para isso, apostou
em recursos construtivos e arquitetônicos singulares, que visavam obter a mais alta
certificação do LEED (PAIVA, 2008).
O terreno tem como limites de um lado, a via expressa da Avenida Nações Unidas,
do outro, o estacionamento do Shopping Eldorado e, como vizinho, a estação de
trem denominada Hebraica. A situação do complexo, e o fato de a via que serve
como alça de acesso ao shopping apresentar dimensões insuficientes para
escoamento do fluxo de automóveis que recebe (de quem vem pela Rua Ofélia), fez
com que os arquitetos responsáveis pelo projeto elevassem o térreo, e projetassem
acessos mais eficientes aos estacionamentos. Essa elevação, no entanto, justificase também por possibilitar o afastamento do complexo e do térreo, principalmente,
do ruído representado pela proximidade à Av. Nações Unidas e à Avenida
Rebouças.
Figura 36: Ilustração artística da implantação Eldorado Business Tower e Shopping Eldorado
Fonte: Gafisa, 2011
82
O térreo elevado forma uma praça, interligada à rua mediante elevadores e escadas
rolantes protegidos por uma caixa de vidro, onde se encontram o acesso principal ao
edifício e o início da passarela que o conecta ao tradicional centro de compras.
”Estes se tornam complementares: enquanto os usuários do prédio passam a contar
com uma gama de serviços à distância de poucos passos, o shopping-center ganha
milhares de clientes” (AFLALO, apud SERAPIÃO, 2008, p.63).
Figura 37: Passarela de acesso ao Shopping Eldorado
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
Figura 38: Escada rolante para acesso do térreo elevado a rua
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
83
A linguagem arquitetônica e a materialidade da torre procuraram transparecer o
máximo de leveza e contemporaneidade possível, minimizando o impacto da massa
construída no ambiente urbano (PAIVA; SILVA, 2008), o que transparece de forma
precisa na análise estética da obra que os próprios arquitetos realizaram:
Um edifício alto, com lajes muito grandes, naturalmente fica com uma
massa pesada. Se fosse como o WTC de NY, por exemplo, a
fachada estaria resolvida com um tratamento puro, elegante. Mas no
caso do Eldorado, com 32 andares, essa solução o deixaria
atarracado, principalmente quando visto na diagonal. (AFLALO apud
SERAPIÃO, 2008: 66).
Volumes em balanço, vedados com vidros verdes e cuja massa se projeta na
elevação principal são explorados em duas das fachadas; as demais exploraram
visualmente uma curvatura, como recursos de forma e proporção para que a torre
fosse percebida como m.assa esbelta. As faces curvas, voltadas para a Marginal do
Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado, têm 1,27m de balanço e curvatura de
179 graus. As faces retangulares têm balanço de 2,73 e 3,25m. (PAIVA, SILVA,
2008): “Assim, procuramos criar duas massas que marcam as fachadas principais,
fazendo uma espécie de sanduiche, para que o resultado fosse mais esbelto”.
(AFLALO apud SERAPIÃO, 2008, p.66).
Figura 39(à esquerda): Fachada do Eldorado Business Tower
Fonte: Paiva, 2008
Figura 40 (à direita): Volumetria vista em diagonal e à distância, ressaltando a exploração de curvatura
das fachadas voltadas para a Marginal do Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado; recurso de
amenização da massa frente à altura da torre.
Fonte: www.googleimages.com
84
As fachadas foram cuidadosamente trabalhadas para que houvesse o máximo de
transparência e leveza visual, e causando o mínimo impacto ambiental no que diz
respeito à percepção, sobretudo da torre. As cores verde e branca foram definidas
pelo cliente e, a princípio, foi cogitado utilizar granito branco, mas o material tinha
por característica alta absorção de água e exigiria muita manutenção. A solução foi
utilizar vidros extraclear transparentes com pintura cerâmica serigrafada na parte
interna. Essa pintura tem a singularidade de penetrar capilarmente no vidro, de
modo a não agregar poluentes, tornando a manutenção dos vidros mais fácil. Em
todos os vidros também foi aplicado um produto hidrofóbico, que torna a superfície
mais lisa e, conseqüentemente, também facilita a manutenção. Para as áreas que
deveriam permitir a vista da área externa foram utilizados laminado pirolítico Low-e
Sunergy de 12 milímetros, na cor verde, com características de alta reflexão
luminosa, ou seja, deixa a luminosidade passar e tem baixa refletividade externa e
interna, ou seja, não espelha e apresenta baixa transmissão térmica, deixando
penetrar apenas 35% do calor que incide na face no interior do edifício (PAIVA,
SILVA, 2008).
Para a confecção de toda a esquadria em prazo que atendesse ao cronograma da
obra, ao volume de trabalho e ao nível de qualidade esperados, uma área de
produção de caixilharia da Andalume foi montada no segundo subsolo do Eldorado
Business Tower (PAIVA, 2008).
Figura 41: Centro de usinagem montado no segundo subsolo do Eldorado Business Tower
Fonte: PAIVA, 2008, p.79.
85
Com essa estratégia foi possível gerenciar toda a linha de produção,
desde a logística de recebimento dos materiais e estoque até a
programação do centro de usinagem e industrialização (corte dos
perfis, usinagem, montagem e colagem dos vidros nos painéis) e a
instalação dos painéis na fachada. Para garantir o funcionamento do
processo, a Andalume importou um centro de usinagem de última
geração da Fom Industrie e enviou um engenheiro à Itália, para
treinamento em programação e manutenção. (PAIVA, 2008: 78).
Para a instalação, todos os painéis de vidro foram identificados com etiquetas com
nomes e códigos de cores. Os painéis de vidro, já finalizados, foram içados por uma
monovia desenvolvida especialmente para esse fim, levados até a extremidade do
pavimento, basculados a noventa graus e encaixados na posição certa com a ajuda
de uma grua. Cada painel pesava até 400 quilos e tal monovia dispunha de
capacidade para até 500 quilos, sendo esse processo repetido 3.206 vezes (PAIVA,
2008).
Figura 42: Montagem dos painéis do Eldorado Business Tower
Fonte: PAIVA, p.79, 2008
Diversas tecnologias foram aplicadas à obra, em busca da certificação Platina. Além
de medidores de consumo de água e energia individuais, toda a água da chuva, do
consumo do ar-condicionado e da drenagem do subsolo é captada, tratada e
86
reutilizada para a limpeza do prédio, vasos sanitários do térreo e do subsolo e para a
manutenção do paisagismo. Para a certificação LEED, são levadas em consideração
a quantidade de água consumida, e como essa água é lançada na rede pública. A
certificação exige que a água lançada na rede pública deva ter o mínimo de
concentração de partículas possível, ou seja, o mínimo de sólidos suspensos
(REVISTA FINESTRA, 2008).
Figura 43: Sistema para tratamento e reaproveitamento de água da chuva, da condensação do ar-
condicionado e da drenagem dos subsolos
Fonte: REVISTA FINESTRA, nº53, abr/maio/jun/ 2008, p.83
Além do reaproveitamento da água, também são utilizados métodos para a
economia de água como bacias sanitárias com caixa acoplada dual flush, de 3 e 6
litros, mictórios com sensor de presença, torneiras automáticas para lavatório e
chuveiros com restritor de vazão (CB RICHARD ELLIS, MANUAL DO LOCATÁRIO,
2011). A medição do consumo de água é totalmente setorizada e pode ser verificada
por meio de um programa de computador ao qual a administração tem acesso.
87
Figura 44: Tela do programa de computador que mostra o consumo de água e de energia de acordo com
cada setor do edifício
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
Outra tecnologia utilizada no complexo foi o sistema de ar-condicionado. Como
mencionado anteriormente, a água gerada por condensação é reaproveitada. O
sistema de ar-condicionado é o VRV III (volume de refrigerante variável), que
possibilita tanto o resfriamento quanto o aquecimento do ambiente e possibilita baixo
consumo de energia, permitindo que cada proprietário pague apenas pelo que
consumir. O gás refrigerante utilizado é o R-410ª, menos agressivo para a camada
de ozônio (REVISTA FINESTRA, 2008).
À primeira vista, o sistema de ar-condicionado parece multi split19, dispondo de
metade das condensadoras na cobertura do edifício e a outra metade na cobertura
19
Aparelho de ar-condicionado que pode ter duas ou mais evaporadoras para uma única condensadora.
88
ou laje de garagem. Ao contrário da maioria dos prédios, onde evaporadoras e
condensadoras ficam no mesmo local dos respectivos escritórios, e são mantidos
pelos locatários, ou proprietários, ocupando uma sala que tem por finalidade
funcionar como casa de máquinas ou terraço técnico, as condensadoras do
Eldorado Business Tower são mantidas pelo condomínio. O fato de não ser
necessário um espaço próprio e exclusivo para essas condensadoras em cada
unidade economiza cerca de 15m² em cada meia laje e permite apenas uma
distância de 65cm entre forro e laje20.
Figura 45: Condensadoras na cobertura do Eldorado Business Tower
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
Por ser um sistema de operação modulado, permite ligar de forma independente o
ar-condicionado de cada compartimento ou escritório. O controle é feito pelo
20
Informação obtida durante a visita técnica realizada em 16 de março de 2011, monitorada pelo Engenheiro
Eletricista Fernando Sinicatto, gerente de administração (Administradora CB Richard Ellis).
91
O
prédio
preocupação
energética
também
demonstra
com
a
quando
se
eficiência
trata
do
transporte e deslocamento vertical.
Dispõe de um total de 29 elevadores,
sendo que 18 deles têm Sistema de
Antecipação e Destino de Chamadas.
Figura 49: Hall do Eldorado Business Tower
Ou seja, no lugar do usual painel de
Fonte: PAIVA, 2008
chamada, o passageiro aperta o
número do andar onde pretende ir e, na tela aparecerá qual elevador está
disponível. De acordo com a Gafisa, dos onze (11) elevadores restantes, seis (6)
são os mais rápidos do país. Os últimos cinco (5) atendem o edifício garagem
(REVISTA FINESTRA, 2008). Os elevadores também possuem um sistema de
frenagem regenerativa, ou seja, o elevador que estiver descendo fornece energia
para o próximo que for subir.
Também foi instalado o sistema Animeo, da
empresa
Somfy,
que
controla
as
aberturas
mediante telas solares21 automatizadas de modo a
não permitir a entrada de uma grande quantidade
de luz ou calor. Na medida em que o sol vai
mudando de posição e atingindo mais uma fachada
do que a outra, as telas solares são fechadas e as
da outra fachada que ficou sem incidência solar
são abertas automaticamente, diminuindo, assim, o
consumo
do
ar-condicionado
e
aproveitando
melhor a iluminação natural. (REVISTA FINESTRA,
2008). Locatários e usuários de cada andar não
têm nenhum controle sobre as persianas.
Figura 50: Eldorado Business Tower
Fonte: PAIVA, 2008
21
Tipo de persiana que melhora o conforto térmico e visual através do controle da radiação solar e da luz
capazes de atravessar a tela
92
A posição das telas também pode ser controlada por software monitorado pela
administração, que pode verificar quais persianas estão abertas e quais estão
fechadas.
Figura 51: Tela do programa de computador que exibe se persianas estão fechadas ou abertas.
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo pessoal, obtido em visita técnica realizada em 16.03.2011
O estacionamento é automatizado por um tipo de sistema sem parar que faz com
que a cancela se abra para usuários previamente autorizados. Apresenta também
um contador localizado em determinados pontos no chão que permite que o usuário
saiba quantas vagas estão livres em cada subsolo (REVISTA FINESTRA, 2008). O
estacionamento dispõe de noventa (90) vagas de garagem melhor localizadas, e
preferenciais para carros 100% a álcool ou 100% a GNV. No Brasil, grande parte
dos carros são flex; então, apesar de as vagas existirem, não é possível controlar
qual combustível o carro que acede ao estacionamento está realmente utilizando.
94
O Eldorado Business Tower também possui bicicletário com vestiário, no térreo, e
coleta seletiva de lixo, possuindo depósito de material reciclado e de materiais
contaminantes, no 1º subsolo. Todos os andares são obrigados a realizar coleta
seletiva de lixo e aqueles que, por algum motivo não a fizerem, não terão seu lixo
recolhido. Seguindo normas do LEED, verifica-se que no Eldorado Business Tower é
também proibido fumar a uma distância menor de 8 metros de qualquer uma das
portas do edifício.
Figura 55: Entrada do depósito de material
Figura 54: Depósito de material reciclado
reciclado
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo
Fonte: Mariana Feres dos Santos. Acervo
pessoal, obtido em visita técnica realizada em
pessoal, obtido em visita técnica realizada em
16.03.2011
16.03.2011
4.4 LEED 2.0 x LEED 3.0
O Eldorado Business Tower foi certificado com a chancela Platinum na versão 2.0
do LEED. A versão atualmente utilizada é a 3.0, aonde alguns itens de pontuação
sofreram alterações. Uma das mudanças mais significativas entre as versões 2.0 e
3.0 do LEED foi a pontuação máxima passível de ser atingida em cada versão e
número de pontos necessários para atingir cada nível da certificação. Na versão 2.0,
95
é possível obter um máximo de 61 pontos, enquanto que, na versão 3.0, é possível
atingir 110 pontos. A pontuação mínima necessária para cada um dos níveis da
certificação, em cada uma das versões, está descrita na tabela abaixo:
Nível de certificação
Pontuação necessária no
Pontuação necessária
LEED 2.0
no LEED 3.0
Certificado
23 a 27 pontos
40 a 49 pontos
Prata
28 a 33 pontos
50 a 59 pontos
Ouro
34 a 44 pontos
60 a 79 pontos
Platina
45 a 61 pontos
80 pontos ou mais
Tabela 5: Tabela comparativa sobre a pontuação necessária no LEED 2.0 e no LEED 3.0
A primeira categoria listada na certificação LEED é Espaço Sustentável22. Essa
categoria pressupõe que os edifícios afetem o ecossistema de maneiras diferentes,
e que seus projetos devam atentar para a presença de áreas verdes, e também
devam, conforme sua localização, não prejudicar, com seu impacto, eventuais terras
agricultadas, não afetar ou dispersar animais selvagens que vivam na região, não
aumentar qualquer tipo de erosão local ou regional, nem contribuir para aumentar o
percentual de áreas impermeáveis. O tipo de iluminação externa pode ainda poluir o
céu, interferindo na ecologia noturna (USGBC, 2006). Tanto a versão 2.0 quanto a
versão 3.0 da certificação relacionam os mesmos itens; o que se modificou é que na
versão 3.0, alguns itens ganharam peso diferenciado. Na versão 2.0, pode-se atingir
um máximo de 15 pontos nessa categoria, enquanto que, na versão 3.0, ela vale 28
pontos.
Os itens que ganharam peso e pontuação na versão mais nova da certificação foram
o Crédito 2, relativo a Desenvolver Densidade Urbana e Conexão com a
Comunidade (visa o desenvolvimento de áreas com infra estrutura existente), que
valia 1 ponto e passou a valer 5 pontos e os créditos relativos ao transporte
alternativo que são 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4 (transporte público, bicicletário e vestiário para
22
Sustainable Sites
96
ciclistas, veículos de baixa emissão e capacidade de estacionamento), que, juntos,
valiam 4 e passaram a valer 13 pontos, conforme mostra a figura abaixo:
Figura 56: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Espaço
Sustentável
Fonte: GBC Brasil, 2009
A localização do edifício também é de extrema importância para a certificação,
porque pode afetar o ecossistema influenciando na decisão dos usuários de por qual
meio de transporte chegar ao empreendimento. Os edifícios, devem de preferência
conter características que garantam alta performance, ou seja, o máximo de
eficiência energética e economia de recursos, e se localizar de maneira a valorizar a
vizinhança, a infra- estrutura urbana e os meios de transporte existentes (USGBC,
2006).
O pré-requisito dessa categoria é a prevenção da poluição ativa da construção. Para
atingir esse objetivo, a obra deve obedecer a um plano para controle de erosão e
sedimentação (USGBC, 2006). Por esse item consistir em um pré-requisito, não é
fonte de nenhuma pontuação para a certificação, mas a ausência da documentação
exigida referente a esses pré-requisitos acarreta em que o empreendimento não
possa sequer tentar a certificação.
A segunda categoria diz respeito ao Uso Racional da Água23, ou seja, analisa
basicamente o quanto de água está sendo poupado e o quanto está sendo
23
Water Efficiency
97
reaproveitado. O máximo de pontos possível de se obter nesse item, na versão
LEED 2.0 é 5 pontos, enquanto que, no LEED 3.0, é possível obter 10 pontos. A
diferença é que, na versão mais recente, além de existir um pré-requisito que antes
não existia, também há um crédito a mais, propiciando uma maior pontuação quanto
maior a economia de água. Todos os créditos envolvidos também receberam pesos
diferenciados, como mostra a figura abaixo:
Figura 57: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Uso Racional da
Água
Fonte: GBC Brasil, 2009.
Na versão 3.0, é necessário comprovar um mínimo de 20% de redução no uso da
água para estar apto a obter a certificação e, a partir daí, quanto maior for a
redução, maior a pontuação. Enquanto que, na versão 2.0, uma redução de 20% é
suficiente para gerar um ponto.
A terceira categoria é Energia e Atmosfera, que analisa, basicamente, a eficiência
energética do edifício, alternativas para economia de energia e quantidade e
qualidade dos gases que o edifício é responsável por liberar na atmosfera. Nesse
item, a versão antiga poderia atingir 14 pontos, enquanto que a versão nova pode
dotar 37 pontos. Os pré-requisitos e os créditos são os mesmos e a mudança
consiste apenas no peso e importância que cada crédito recebeu, como pode ser
verificado na figura abaixo.
98
Figura 58: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Energia e
Atmosfera
Fonte: GBC Brasil, 2009.
A quarta categoria é Materiais e Recursos e analisa os tipos de materiais utilizados,
a gestão de resíduos e o que é reaproveitado de uma antiga construção que
eventualmente exista desde antes, no terreno. Na versão 3.0 do LEED é possível
obter 13 pontos nesse item, enquanto que a versão antiga só permitia 11 pontos. Os
itens são os mesmos e a diferença está no fato de que o crédito 1, que analisa o
reuso de construções existentes ganhou dois sub-itens. Na versão antiga, ganhavase um ponto se 25% da construção antiga fossem reaproveitados, mais um ponto se
50% fossem reaproveitados e mais um ponto para 75%. Na versão 3.0, esse item
gera um ponto para 25%, mais um para 33%, 42%, 50% e 75%.
O crédito 3 também foi alterado. Relacionado à quantidade de materiais reutilizados,
esse item gerava um ponto quando 1% dos materiais fosse reutilizado. Na versão
3.0, o ponto é gerado quando 5% dos materiais são reutilizados. O cálculo é feito
dividindo o custo dos materiais reutilizados pelo custo total dos materiais da obra.
99
Figura 59: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Materiais e
Recursos
Fonte: GBC Brasil, 2009
A quinta categoria é a Qualidade Ambiental Interna. Essa categoria analisa a
qualidade do ar dentro do edifício, assim como o conforto ambiental geral, já que o
conforto dos usuários é uma das condições diretamente ligadas à produtividade. A
versão 2.0 permitia atingir 11 pontos nessa categoria, enquanto que a versão 3.0
permite atingir 12 pontos. A diferença está no peso que os itens do crédito 4
receberam. Na versão anterior era possível obter 3 pontos nesses itens, e na versão
nova é possível atingir 4 pontos. Para obter pontos no crédito 4, é necessário
comprovar a utilização de materiais de baixa emissão de compostos voláteis. O
LEED exige o conhecimento da toxidade de cada produto e a comprovação de que
eles não excedam o limite de VOC24 indicado.
24
Volatile organic compounds / Compostos orgânicos voláteis
100
Figura 60: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Qualidade
Ambiental Interna
Fonte: GBC Brasil, 2009
A última categoria trata da Inovação no Projeto e gera pontos se este admitir o LEED
AP25, um profissional capacitado que conhece tanto o processo quanto a plataforma
da certificação, e se utilizar tecnologias e inovações que poupem recursos. No LEED
2.0, era possível obter 5 pontos nesse item, enquanto que, no LEED 3.0, é possível
obter 6 pontos.
Figura 61: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Inovação e
Processo do Projeto
Fonte: GBC Brasil, 2009
4.4 Processo de Certificação do Eldorado Business Tower
O Eldorado Business Tower cumpriu à risca todos os pré-requisitos exigidos pela
certificação LEED 2.0 e, por esse motivo, acedeu à possibilidade de receber a
certificação. O próximo passo foi definir seu nível de certificação.
Na primeira categoria, Espaço Sustentável, o único item que não gerou pontos foi o
crédito 3, que diz respeito à remediação de áreas contaminadas. Esse item gera um
25
Accredited Professional
101
ponto se o terreno escolhido para o empreendimento estiver contaminado e a
incorporadora se disponibilizar a fazer a descontaminação. No caso, como o terreno
não era contaminado, não foi necessária a descontaminação e esse ponto não foi
gerado.
Figura 62: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao
Eldorado Business Tower: Categoria Espaço Sustentável
Fonte: CTE; GAFISA, 2009
Na segunda categoria, Uso Racional de Água, o Eldorado Business Tower não
obteve pontuação no crédito 2, relacionado a tecnologias inovadoras para águas
servidas. Para obter esse ponto, o edifício deve conseguir uma redução de 50% no
uso de água potável mediante o reuso de água da chuva e uso de dispositivos que
economizem água nos banheiros, por exemplo. Uma segunda opção para obter
essa pontuação é tratar 50% da água utilizada no local do próprio empreendimento e
reutilizar essa água (USGBC, 2006). O edifício em estudo não comprovou nenhuma
das duas situações, não obtendo esse ponto.
103
Figura 65: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao
Eldorado Business Tower: Categoria Materiais e Recursos
Fonte: CTE; GAFISA, 2009
Na categoria Qualidade Ambiental Interna, o Eldorado Business Tower perdeu 2
pontos. Um ponto por não atender ao crédito 5 e um ponto por não atender ao
crédito 6.
O crédito 5 diz respeito ao controle interno de poluentes e produtos químicos, ou
seja, tentar diminuir a exposição dos usuários de áreas que possam estar
submetidas a emissões. Um exemplo é de que as máquinas de xerox dos escritórios
devem sempre se localizar em área própria, pois seu funcionamento produze ozônio.
A exaustão de áreas para depósito e armazenamento de produtos de limpeza
também deve ser realizada de maneira isolada dos demais espaços.
O crédito 6 fala sobre controle de sistemas e determina que um mínimo de 50% dos
usuários do edifício possa ter acesso a formas de controle a fim de adaptar o
conforto ambiental às suas necessidades. Por exemplo, os usuários devem ter o
controle da iluminação, umidade e temperatura de seus respectivos espaços.
104
Figura 66: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao
Eldorado Business Tower: Categoria Qualidade Ambiental Interna
Fonte: CTE; GAFISA, 2009
Na última categoria, Inovação e Processo de Projeto, o Eldorado Business Tower
recebeu a pontuação máxima: 5 pontos. O primeiro ponto foi concedido ao
empreendimento por ele ter reduzido o consumo de água em 40%. O segundo ponto
foi concedido pelo fato de 30% do custo de materiais se relacionarem a materiais
reciclados. O terceiro ponto foi creditado devido ao fato de 40% do material serem
produzidos e manufaturados na região. O quarto ponto foi devido ao fato de toda a
madeira utilizada ter a certificação FSC e o quinto ponto foi concedido devido à
contratação de um profissional LEED Accredited Professional para acompanhar o
processo.
105
Figura 67: LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao
Eldorado Business Tower: Categoria Inovação e Processo do Projeto
FONTE: CTE; GAFISA, 2009
4.5 Considerações sobre o capítulo 4
Após dez anos de desenvolvimento de diferentes projetos para o empreendimento, o
Eldorado Business Tower foi concebido de maneira que pudesse se tornar uma
referência de construção sustentável. A tecnologia e materiais utilizados na
construção garantiram que muitos itens exigidos pela certificação LEED fossem
atendidos.
Com localização privilegiada, próxima a um grande centro comercial, a situação do
edifício foi um quesito favorável à certificação. No que se refere ao terreno, não
estando localizado em área contaminada, a que se procedeu descontaminação,
esse fato contribuiu para que não se obtivesse pontuação maior. A certificação
LEED concede um ponto para quem esteja disposto a escolher um terreno
contaminado e fazer a descontaminação, incentivando o tratamento de áreas
contaminadas. Portanto, um primeiro passo já havia sido dado em busca da
certificação, relativo à escolha do terreno. A partir daí, a certificação foi perseguida
atendendo-se a determinadas especificações de projeto e fazendo boa utilização da
tecnologia existente. O que afirma a importância da tecnologia construtiva
incorporada e da materialidade escolhida para a certificação.
Como foi discutido, o edifício recebeu a certificação em versão LEED 2.0 e a versão
utilizada atualmente é a 3.0. A questão sobre se ele receberia o mesmo nível de
certificação com a nova versão permanece viva, visto que os critérios da pontuação
foram substancialmente alterados.
106
Apesar de não ser possível fazer uma análise detalhada da certificação, pois
envolve documentações sigilosas enviadas ao USGBC, uma simulação de
transferência e comparação dos pontos obtidos pelo Eldorado Business Tower
conforme a planilha de certificação LEED 3.0 permite verificar o nível de certificação
que o edifício receberia conforme a nova versão, como ilustra a imagem seguinte
(Versão LEED 3.0):
107
108
Figura 68 – Simulação de pontuação do Eldorado Business Tower no LEED 3.0
Conforme as figuras demonstram, se a pontuação do Eldorado Business Tower
fosse calculada com base na versão 3.0 do LEED, o edifício receberia a certificação
Ouro, ao invés da Platina.
O Eldorado Business Tower parece, a primeira vista, apenas mais um edifício de
escritórios como muitos outros que foram construídos em São Paulo, mas uma
análise detida revela a utilização intensiva de significativa estrutura tecnológica que
proporciona a economia de recursos energéticos e meios no edifício, o que
demonstra o foco da certificação sobre a preocupação com economia de água e de
energia. Na época em que foi certificado, recebeu o mais alto nível de certificação e,
muito provavelmente, isso não aconteceria na nova versão do LEED. Também é
impossível não questionar a certificação em função de alguns itens que fornecem
pontos. O bicicletário e o vestiário, por exemplo, praticamente nem são utilizados
pelos usuários do prédio hoje, e esse item gera um ponto na versão 2.0 e 2 pontos
na versão 3.0. Outro exemplo são as vagas diferenciadas para carros movidos a
álcool ou GNV. No Brasil não existe carro 100% álcool ou 100% GNV, então é
impossível comprovar se o automóvel que está ocupando a vaga realmente não está
abastecido com gasolina.
A grande questão envolvendo a certificação é até onde esse documento que valoriza
tanto um edifício também comprova a utilização de um projeto sustentável. Qual a
diferença entre o Eldorado Business Tower, do ponto de vista de uma arquitetura
sustentável, de qualquer outro edifício de escritórios de São Paulo? A princípio, a
109
idéia inicial é a mesma: uma grande caixa de vidro completamente lacrada que isola
totalmente o interior do edifício da cidade. Não é possível ouvir ruídos provenientes
da rua, uma enorme vantagem para um edifício que fica na Marginal Pinheiros, a
temperatura interna é controlada e a iluminação também.
Não há dúvida de que os materiais foram cuidadosamente escolhidos, de maneira a
não agredir muito o meio ambiente, a iluminação foi trabalhada de maneira a reduzir
o consumo de energia e os banheiros todos tem um controle rigoroso que permite
verificar quanto de água é consumido em cada um deles, mas existem outros itens
que também podem ser trabalhados de maneira a contribuir com o meio ambiente.
Ken Yeang, por exemplo, direcionou toda a área de serviços e os blocos de
banheiros para o lado mais quente do Menara Mesiniaga, deixando estes com
ventilação natural. As escadas e elevadores também tiveram a mesma solução. No
Eldorado Business Tower, toda a área de serviços, os blocos de elevadores,
escadas e banheiros, são centralizados no edifício, obrigando que seja feita uma
climatização artificial nessas áreas também. Áreas que não precisariam, a princípio,
de tamanho isolamento da área externa.
Ken Yeang também faz um grande uso de vegetação nos seus projetos. Os edifícios
não precisam ter apenas uma área verde no térreo, caracterizada como
impermeável, para receber pontuação. A vegetação pode ser trabalhada na fachada,
como no Tokyo Nara Tower, ou em pequenos pátios deixados em cada pavimento,
como no Menara Mesiniaga. O Eldorado Business Tower tem uma grande praça no
térreo, uma grande área impermeável, porém essa raramente é utilizada, pois como
é possível perceber em visita ao edifício, todos os usuários que descem no horário
de almoço, ou mesmo no final do dia, vão direto em direção ao shopping.
Tendo uma visão do aspecto econômico e social que a sustentabilidade envolve,
também, um edifício com tamanha tecnologia inviabilizaria sua construção, devido
aos custos, dependendo da construtora. O fato é que o retorno econômico acontece
a longo prazo, mas e no momento da construção, quando não se dispõe de tanto
recurso para investimento e quando não for possível esperar o retorno a longo prazo
110
que esse tipo de investimento traz? O resultado é que esse tipo de tecnologia acaba
sendo apenas para ser usada por construtoras grandes, capazes de absorver
tamanhos gastos.
O Eldorado Business Tower não deixa de ser um grande marco dentro de tudo que
conseguiu alcançar. Talvez hoje ele recebesse uma certificação de nível mais baixo
e talvez ele pudesse ter soluções arquitetônicas que aproveitassem mais o que o
meio ambiente tem a oferecer, mas para a época em que foi construído,
considerando o histórico de edifícios certificados até aquele momento, ele mostrou
um grande avanço e se tornou uma referência. O que precisa ficar claro, atualmente,
é que é possível usar uma referência como exemplo e aproveitar tudo de bom que
ela traz, mas as melhorias precisam continuar acontecendo para que, no futuro, a
excelência em construção sustentável possa ser atingida unindo um projeto
integrado ao meio ambiente com uma tecnologia de ponta que vai melhorar ao
máximo o desempenho desse futuro edifício.
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há duvidas de que todo e qualquer assunto relacionado à sustentabilidade é
prioridade no mundo atual. É um fato também que o ser humano vem afetando a
natureza de tal maneira e intensidade que esta não consegue se regenerar
suficientemente para que esses impactos não tenham efeitos a longo prazo.
As certificações verdes surgiram, nesse contexto, a fim de minimizar e enfrentar
impactos da construção civil, e como forma de avaliar e estabelecer um padrão para
a sustentabilidade de edifícios. Visam incentivar a sociedade a incluir o impacto
sobre o meio ambiente em suas pautas, considerando-se a construção civil uma
atividade geradora de efeitos significativos sobre este.
Esse trabalho analisou as certificações verdes no geral e focou naquela que tem
grande repercussão hoje no Brasil, e que é cada vez mais utilizada e reconhecida: a
certificação LEED.
No capítulo 1 foi relatado um breve histórico sobre como o assunto sustentabilidade
entrou em pauta no mundo, mostrando definições de sustentabilidade, e foram
explicados alguns dos principais conceitos sobre o assunto, como pegada ecológica,
Agenda 21, agenda verde e agenda marrom.
O capítulo 2 mostrou a definição de arquitetura sustentável, dando exemplos desta
no Brasil e no mundo, citando alguns arquitetos que utilizavam recursos de uma
arquitetura sustentável, como Norman Foster, Ken Yeang, Rino Levi e Marcos
Acayaba.
O capítulo 3 tratou sobre os sistemas de certificação Green Building mostrando,
primeiramente, um panorama geral, relatando duas certificações que serviram como
base para a análise crítica do LEED que são o BREEAM, primeira certificação a ser
utilizada e que serviu como base para muitas outras, e o AQUA, certificação também
utilizada no Brasil. Em seguida é feita uma análise do LEED, como ele é utilizado no
Brasil e no mundo, seu processo de certificação e suas categorias.
112
No capítulo 4 foi feita uma análise do estudo de caso escolhido, o primeiro edifício a
receber uma certificação LEED CS platinum na América Latina: o Eldorado Business
Tower.
Resta, porém, incerteza de até onde o LEED cumpre o papel para o qual foi criado,
cabendo indagações: a certificação ajuda os edifícios a diminuir o impacto que
causam no meio ambiente? A resposta afirmativa foi sugerida pelas análises
realizadas na dissertação: sim, sem dúvida, o LEED é um instrumento cuja aplicação
incrementa o desempenho ambiental dos edifícios, antes, durante e depois de
finalizada a construção. Intervém diretamente nos processos de gestão condominial,
relativos ao gerenciamento da distribuição e controle de meios e recursos
energéticos, no gerenciamento de resíduos gerados tanto pela atividade da
construção quanto os proporcionados pelo uso intensivo da arquitetura, e controla as
condições de conforto ambiental.
Mas, a questão que instiga à pesquisa é se o instrumento também incentiva a
prática de uma arquitetura de melhor qualidade, considerando-se todos os aspectos
que definem essa atividade e que são mediadas pelo projeto arquitetônico. O
problema que conduziu e estimulou a pesquisa realizada é se as soluções
consagradas pela certificação e que geram pontuação (inclusive o Platinum,
experimentada no estudo de caso realizado) atendem o usuário, o incorporador, a
construtora e, ao mesmo tempo, a natureza? Em parte sim, mas foi possível
considerar, durante a realização deste trabalho, que muitas das soluções que
poderiam ser objeto de atenção e incorporadas desde o início de um projeto
arquitetônico conscientemente orientado aos temas ambientais são compensadas
com a utilização de tecnologia de ponta durante o processo de construção. A
iluminação natural do Eldorado Business Tower, por exemplo, foi controlada com
persianas automatizadas enquanto que a ventilação natural foi substituída por um
sistema de ar-condicionado mais eficiente no que diz respeito a gasto de energia.
O conceito de sustentabilidade implica em um significado de ampla extensão: um
edifício sustentável deve ser economicamente viável, socialmente desejável e
ecologicamente correto, e a aplicação do LEED é certamente um recorte e seleção
113
de aspectos considerados certificáveis, acrescidos de uma escala de valor que
confere pontuação, cuja escolha e hierarquia no rol de atributos certificáveis é
variável, inclusive definindo, por meio dessa variação, a categoria da certificação.
A certificação se tornou um privilégio, tanto de investidores de maior possibilidade
financeira e de usuários de arquitetura que partilham espaços projetados nesses
empreendimentos, devido ao seu alto custo. Esse custo retorna para o proprietário
em economia de recursos e meios, dentro de alguns anos, e em benefícios ao meio
ambiente, mas os aspectos que relacionam a vivência cotidiana do espaço e as
edificações refletem propriedades definidas desde a concepção no projeto
arquitetônico. A arquitetura afeta usuários em seu dia-a-dia, nos eventos que
possibilita, e seus usuários são os beneficiários imediatos de sua proposta, e não
podem se dar ao luxo de esperar alguns anos para fruir desse investimento.
Considerando-se, ainda, que nem todos os empreendimentos podem buscar a
certificação e que edifícios certificados correspondem à minoria no país, o LEED
acaba por ter impacto nem tão expressivo em relação à totalidade do que é
construído hoje no Brasil. Diretrizes básicas de projeto, como ventilação cruzada e
iluminação natural ficam por vezes esquecidas e são compensadas com a utilização
de ar-condicionado e iluminação artificial com a justificativa de que estes não gastam
tanta energia como antes, ou não afetam o meio ambiente como antes, pois, no
caso do ar-condicionado, o gás refrigerante é ecologicamente correto e, no caso da
iluminação, são usados dispositivos como sensor de presença e lâmpadas LED que
diminuem muito o consumo de energia.
O LEED também sugere ainda a necessidade de discussão diante da abstração de
seus princípios e categorias. Por exemplo, atribuindo pontuação a um edifício por
comportar vagas exclusivas para carros a álcool ou GNV. Ter um carro flex nem
sempre implica que a pessoa o abasteça com álcool. Mesmo que a consciência
ecológica incomode a maioria das pessoas, o combustível escolhido pode ser
aquele mais barato, ou o que compensar mais frente à relação custo e benefício.
114
Outro item a ser evidenciado no LEED é o fato de os edifícios, uma vez certificados,
nunca mais passarem por nenhum tipo de avaliação para garantir se tudo o que
rendeu a certificação realmente é utilizado da maneira prometida. Seria necessário,
por exemplo, avaliar periodicamente, se a coleta de lixo seletiva é realizada, se a
água continua sendo tratada conforme o projeto ou se, realmente, ninguém está
fumando próximo às portas de entrada.
O Eldorado Business Tower foi escolhido como estudo de caso por ser o primeiro
edifício da América Latina a receber o mais alto nível do LEED, o Platina, na
categoria LEED CS e, mesmo esse edifício, quando se comparam as planilhas de
pontuação LEED 2.0 e LEED 3.0, receberia hoje, mediante a versão atualizada, a
certificação na categoria Ouro, ou seja, seria rebaixado.
A certificação também inspira uma certa falta de confiança quando se leva em
consideração a dificuldade para obter qualquer dado relativo ao objeto de estudo.
Toda a documentação é tratada como sigilosa, tornando impossível uma real análise
de até onde esse edifício realmente é sustentável. Os dados deveriam ser
divulgados de maneira a dar valor e credibilidade ao selo. Assim, como, por
exemplo, o fabricante de determinada comida expõe todo o seu conteúdo calórico e
de vitaminas em um selo na sua embalagem para comprovar a veracidade de suas
informações, o selo verde deveria vir com todos os índices que teoricamente
garantiram sustentabilidade a determinado edifício explicitados. Afinal de contas, tais
índices deveriam ser objeto de orgulho, tornando-se visíveis. Por exemplo, poderia
ser utilizado um indicador comparando o consumo energético de um outro edifício de
mesma área construída com o edifício certificado, demonstrando que o consumo dos
prédios que não tem selo é maior, e o edifício em questão ganhou pontuação porque
seu consumo corresponde a um valor menor. Ao contrário disso, as informações são
lacradas a sete chaves, gerando ainda mais dúvidas sobre o processo.
O estudo de caso também permitiu demonstrar que alguns dos itens pelos quais o
edifício recebeu pontuação talvez não pudessem ser aplicados a determinados
casos. As vagas para carros movidos a álcool ou a GNV, já mencionadas
anteriormente, renderam pontos na certificação, sendo que não existe um automóvel
115
100% movido a álcool ou 100% a GNV, no Brasil. O bicicletário e o vestiário
existentes no edifício também renderam pontos, mas são controversos devido à
localização em uma avenida intensamente movimentada e também em face de
consistir em edifício corporativo, com vários sub-solos destinados a garagens,
demonstrando que a grande parte de seus usuários e visitantes se desloca em
veículo motorizado particular. Localizado em plena Marginal Pinheiros, o acesso de
bicicleta já se inviabiliza, e esse fato foi comprovado em visita quando havia apenas
cinco bicicletas estacionadas no local. O LEED, por exemplo, não avaliou o impacto
que um edifício daquele porte, com expressivo número de subsolos e grande área
construída teria no meio ambiente. A certificação só avalia aspectos positivos dos
edifícios, ou seja, é sempre possível ganhar um ponto, mas nunca é possível perder
um por algum erro muito grave que cause impacto no meio ambiente.
A grande questão a ser indagada é o que mudaria no projeto arquitetônico se o
Eldorado Business Tower não fosse certificado nem considerado sustentável. Muito
provavelmente, a resposta para essa pergunta seria praticamente nada. Talvez os
materiais não fossem escolhidos com tanto cuidado, mas o edifício, muito
provavelmente, teria exatamente a mesma aparência.
Apesar de apresentar, definitivamente, vários pontos controversos, o LEED se
tornou um eficiente agente disseminador de práticas que estimulam a melhorar o
desempenho energético de um edifício, uma das maiores preocupações e setores
de atuação das certificações. De origem estrangeira, o instrumento tem grande
influência no mercado imobiliário brasileiro e a valorização que sua aplicação atrai
aos imóveis faz com que empreendedores e investidores sejam os grandes
divulgadores da certificação.
As certificações influenciaram muito no sentido de mostrar ao arquiteto, ao
construtor, ao incorporador e, inclusive, ao cliente final sobre a importância das
construções sustentáveis e o checklist utilizado por elas acaba servindo como guia
para todos os envolvidos no processo sobre qual caminho seguir, quais itens devem
ser considerados e priorizados e o que não deve ser objeto de atenção, e num
projeto arquitetônico, o que deve ser solucionado de outra maneira.
116
O fato é que, se não existisse o LEED, ou qualquer outra certificação, por mais que
a sociedade e os profissionais de arquitetura sejam conscientes das necessidades
que relacionam a construção civil, a arquitetura e o meio ambiente, os edifícios
seriam construídos exatamente da mesma maneira que são hoje – com meios e
técnicas atuais -, mas sem incorporar as preocupações que o LEED incentiva. O
LEED é um sinal, um indício que pode funcionar como estímulo ao atendimento de
questões relacionadas ao ambiente. Embora centrado em eficiência energética, a
certificação é dotada e obedece a critérios e técnicas específicas, que certamente
atribuem
maior
qualidade
ao
produto,
consistindo
em
um
instrumento
contemporâneo de qualidade da mais alta importância.
No entanto, as preocupações específicas da arquitetura com a integração de seus
aspectos, desde a estética, passando pela técnica aos espaços projetados, estão na
base dessa qualidade total, e esta dissertação é uma peça que procurou evidenciar
esse fundamento.
O LEED sozinho não atesta a prática da boa arquitetura, mas a utilização da
certificação não deixa de trazer um bem à sociedade, visto que dissemina idéias e
conceitos de sustentabilidade, mesmo que essa abstração somente poderá ser
superada pela concretude da arquitetura que desde o Renascimento, procurou
mediar no projeto arquitetônico, as qualidades intrínsecas do espaço e de sua
materialidade.
117
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126
ANEXOS
ANEXO 1- Entrevista com Eduardo Martins em 18/11/2010
Eduardo Martins é professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie e um dos sócios do
escritório
de
arquitetura
Pura
Participou
do
projeto
edifício
do
Arquitetura.
Eldorado
Business Tower dando, também, assessoria
durante a fase de obra.
Mariana:
O que eu gostaria de começar conversando com
você foi sobre como esse projeto se iniciou.
Quais diferenças de projeto existem em um
edifício com certificação? A informação que tenho
Figura 69: Eduardo Martins
FONTE: Pura Arquitetura. Disponível em:
http://www.purarquitetura.com.br/socios.php
. Acesso em 20/11/2010.
é que esse projeto vem desde 1981, quando o
Shopping Eldorado foi inaugurado.
Eduardo:
Não, na verdade esse projeto se iniciou em 2001.
Mariana:
Mas tinha outras construtoras antes, certo?
Eduardo:
Tinha, mas o projeto com esse formato vem desde 1999, 2000, por aí.
Mariana:
Foi quando ele começou a tomar a cara que tem hoje?
Eduardo:
127
Exato. Existiram vários projetos, mas desde 1991 que o Aflalo & Gasperini está em
contato com o Shopping Eldorado para tentar viabilizar um negócio ali. Foram feitos
projetos com a Racional, se não me engano, e outras construtoras, mas a Gafisa foi
a única que conseguiu fazer a intermediação comercial com o Eldorado. Ali tinha
muitos problemas familiares, então era muito difícil e a Gafisa conseguiu fazer dar
certo.
Quando a Gafisa iniciou o trabalho, ela já iniciou com o pensamento de que seria
construída uma torre referencial na cidade. Ela é uma torre de 60 mil metros
quadrados computáveis, 120 mil metros quadrados de área construída e já nasceu
com lajes nesse formato, uma laje de 2 mil metros quadrados por andar, então tem
a performance de edifícios norte americanos. Nem os europeus tem tanto assim:
140 mil metros de altura. Então já se sabia que era um prédio para o novo Brasil.
Eles estavam já apostando nesse Brasil que agora a gente está vendo mais real e,
para isso, eles tinham como princípio construir um prédio que dali a vinte anos ainda
fosse atual. Essa era a meta.
A Gafisa tem bons engenheiros. O Luiz Fernando, o diretor do projeto, começou já
fazendo uma seleção de engenheiros de altíssimo nível buscando o caminho de
engenharia de ponta. A engenharia de ponta no final do século passado já era uma
busca de economia de eletricidade. Toda a engenharia já estava voltada para essa
economia.
Mundialmente, todo mundo está fazendo esforços para serem mais econômicos em
termos de consumo de eletricidade. Aqui no Brasil que ainda
não existe essa
cultura. Ainda ontem, eu estava ouvindo o José Goldemberg, que foi presidente da
Fesp, criticando a necessidade da usina de Belo Monte. Ele fala que o Brasil é o
único país que cresce em energia elétrica a mesma coisa que ele cresce em
economia, em todos os outros essa curva não acompanha porque, ao mesmo tempo
em que eles crescem na produção, eles exigem que tudo o que se vá produzir
consuma menos energia, então não crescem na mesma proporção.
128
A Gafisa já entrou nesse projeto com esse pensamento mundial, essa preocupação
com o desperdício de energia. Por outro lado, a taxa de aluguel desses prédios é
muito alta e quanto mais caro é o aluguel, mais rentável é para quem está
investindo. Portanto, a conta de quem vai ocupar o lugar é feita com o aluguel mais
o condomínio e o condomínio nesses prédios é muito alto. Então o objetivo era fazer
um projeto em que a economia de energia não fosse, necessariamente, no
investimento e sim no uso. Para isso, eles fizeram todas as contas de consumo de
energia possível na época, em 2001, onde estudaram muito a possibilidade da cogeração que acabou sendo efetivada. No início era a co-geração com óleo e depois
acabou sendo possível ser feito com gás.
A co-geração não foi pensada por causa do LEED que na época nem existia.
Mariana:
Não se pensava em certificação na época?
Eduardo:
Sim, pensava-se em certificação, mas não no LEED. Pensava-se na idéia de ter um
baixo consumo energético e, portanto, uma conta de luz menor e, com isso, o
aluguel todo menor. A eficiência do condomínio passava por ar-condicionado,
consumo de água, consumo de eletricidade, percursos de tubulação e sistemas.
Houve um projeto que nós detalhamos, mas como foi o mesmo engenheiro que
acompanhou projeto e obra, ele teve a capacidade de, durante a construção,
continuar o projeto. Foram surgindo novas teorias, novas técnicas, novos aparelhos
e ele foi pesquisando mundialmente e conseguindo manter tudo o mais atualizado
possível, modificando o projeto durante o processo.
Em determinado momento, 2002 se não me engano, ou 2003, o selo LEED estava
surgindo no mercado e não tinha nem tomado, ainda, a dimensão que tem hoje, e
ele (engenheiro responsável pela obra) foi ao Mackenzie para contatar o
departamento de tecnologia e sustentabilidade do Mackenzie para o próprio
Mackenzie dar uma assessoria para ele e depois emitir um selo do Mackenzie para
129
a certificação. Então eles não estavam ainda preocupados com a certificação
internacional porque ela ainda não tinha esse valor comercial, mas eles já estavam
fazendo certo e estavam preocupados que alguém de fora reconhecesse para não
dizer que eles não tinham como contar vantagem de si mesmos. Então eles estariam
contratando e sustentando a formação interna do Mackenzie para um selo
Mackenzie. Eles fizeram o contrato, aliás, eu fiz várias participações com os meus
colegas, inclusive com o Professor Ladislao, que infelizmente morreu, e que era o
líder desse trabalho. Ele começou a formular tudo, mas conforme eles foram
formulando, a obra começou a andar numa velocidade que a universidade não tem.
A universidade não conseguiu se organizar em uma velocidade que garantisse a
existência do selo. Dentro de pouco tempo, o selo começou a vir para o Brasil e
algumas empresas americanas, como a Tishman, por exemplo, resolveram aplicar o
selo.
A eficiência do prédio sempre foi pensada em projeto e ele sempre foi feito de
maneira que atendesse os requisitos do LEED mesmo quando não se buscava a
certificação. O prédio tem características e todas as concepções dele foram sempre
pensadas com o mesmo objetivo do LEED só que eles nunca tinham pensado nisso
de obter o LEED. O LEED passou a ser um selo que eles estavam buscando ter
super útil comercialmente, mas eles seriam platinum de qualquer maneira mesmo
sem o selo. Foram feitas pouquíssimas adaptações.
O Rochaverá, por exemplo, teve mais adaptações. As fachadas dele, por exemplo,
são escuras e não dava para mudar isso porque marketing já estava muito evoluído.
Os projetos já tinham algumas características que eram mais daquela época em que
foram concebidos, pois eles foram concebidos com uma diferença de um ano
aproximadamente. O Rochaverá é de um pouco antes. Daí, quando surgiu o
Eldorado, nós fomos buscar soluções de extrema performance, tanto nos vidros,
quanto na fachada, quanto nas instalações.
Na verdade, vendo desse ponto de vista, a certificação é puramente comercial, pois
os requisitos seriam atendidos de qualquer maneira e a certificação serviu apenas
para mostrar a todos o que realmente foi feito. Tanto que nos dois edifícios, no
130
Rochaverá e no Eldorado, as unidades foram comercializadas muito rápido e muitas
das empresas que se instalaram lá também buscaram a certificação de interiores.
Após participar desses projetos, eu cheguei à conclusão de que o selo LEED não é
um selo de arquitetura, nem de engenharia. Se você estiver fazendo uma boa
arquitetura, se você estiver fazendo um projeto de última geração, você tem
compromisso com isso e não é pelo o que o selo está te exigindo. O que o selo vai
mostrar é o seguinte: qual é o nível que esse cara que está me vendendo o prédio
tem? E o selo diz: dentro dos meus critérios, ele tem isso.
Pode ser inclusive outro selo, como o AQUA. Eu só tive experiência com o LEED até
hoje, então conheço menos o AQUA. Hoje eu estou fazendo trabalhos para o Senac
e dentro do Senac tem cursos de sustentabilidade e eles não querem certificar os
prédios que temos feitos, com nenhum selo. Eles tem essa relação de para que que
interessa para eles ter o selo LEED, sendo que existem outros selos e eles ensinam
sustentabilidade. Os selos que deveriam pagar para o Senac e não o contrário, pois
o Senac é uma instituição que não visa o comercial.
Então eu vejo que essa questão do selo é bastante relativa. Se você pensar que o
CDHU vai fazer uma construção, você acha que ele vai gastar com selo? Se ele
gastar, eu mesmo chamo o cara para falar que ele é doido, pois não precisa.
Mariana:
Mesmo porque isso gera um custo alto na construção, certo?
Eduardo:
Não, não gera um custo alto. Isso não é verdade, não é assim. Você pensa em um
prédio que você está fazendo com uma engenharia de ponta, piso elevado, arcondicionado central e tudo isso que nós estamos fazendo nesses prédios que são
verdadeiros fórmulas um da construção civil, você tem tal grau de tecnologia, que
você vai agregar aí 5, no máximo 10% no custo. O que tem é muito mais dificuldade,
muito mais trabalho, pois você não pode por a pedra de tal lugar porque ela
consome mais energia e gasolina no percurso do que a pedra a menos de 800km,
131
ou o cheiro não pode ofender a pessoa, mas em termo de custo, para uma
construção sustentável de habitação popular, não é nenhum absurdo. O problema é
que eles compram o terreno mais barato possível no pior lugar e tudo o que for feito
para tornar a torre sustentável não foi feito na atitude de incorporação. Essa relação
é que precisa ser superada e isso é o que o LEED tem capacidade de fazer com os
grandes empreendedores, ou seja, ele diz para não comprar terreno em qualquer
lugar porque depois vai gerar mais problema.
O LEED, para mim, funciona muito como as pessoas. Um europeu, de pele bem
clara, quando vem para o Brasil, é considerado lindo pelo povo, pois é diferente,
mas ele vai sofrer com o tempo, pois o tipo de pele dele não é feito para ficar no
calor. O mesmo acontece com alguém da raça negra quando vai para a Europa, por
exemplo.
Mariana:
E o que você acha da questão da pontuação do LEED? Você cumpre alguns itens e
ganha pontos, mesmo tendo deixado outros itens de fora. O máximo que acontece é
a certificação ser gold ao invés de platinum, por exemplo.
Eduardo:
O LEED estabelece os pré-requisitos, que são itens que não podem deixar de serem
feitos em hipótese alguma. Cumprindo o pré-requisito, realmente tem algum ou outro
item que pode ficar de fora, mas se não tiver todos os pré-requisitos, nem certified o
prédio será.
Mariana:
Apenas para finalizar, eu já ouvi dizerem que o bom arquiteto projeta sempre um
edifício eficiente e que a única diferença para obter o LEED é que o arquiteto precisa
acrescentar alguns pequenos itens a mais para conseguir uma pontuação. Você
concorda?
Eduardo:
132
Sim. O LEED cria diretrizes que você deve seguir. O bom arquiteto já as segue,
buscando ou não a certificação e se o objetivo, mas tarde, for a certificação, basta
acrescentar
pequenas
coisas.
No
caso
acrescentamos o bicicletário e o vestiário.
do
Eldorado,
por
exemplo,
nós
133
ANEXO 2- Manual do Locatário do Eldorado Business Tower
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
144
145
146
147
148
149
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