Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Biopatologia 2006/2007 – 17ª Seminário: 21/02/07 Cancro colo-rectal esporádico e familiar A maior parte dos cancros colo-rectais são adenocarcinomas esporádicos (90 a 95%) e resultam da interacção genético-ambiental. 65%-85% 1% 5% 10%-30% CCR Esporádico CCR Familiar CCR Hereditário (sem pólipos) CCR Hereditário (com pólipos) A Professora mostrou por esta altura um mapa [não conseguimos arranjar] que pretendia demonstrar a distribuição geográfica do cancro colo-rectal no Mundo. Neste documento, verificava-se que são os países mais ricos (da América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Europa “dita desenvolvida”) que possuem maiores taxas de incidência desta patologia. Pág. 1 de 12 Com os dois gráficos acima representados pretende comparar-se Portugal tanto com os Países desenvolvidos como com os Países sub-desenvolvidos (África, certas regiões da América do Sul, Índia…). Daqui se conclui que Portugal se assemelha, neste aspecto, com os Países desenvolvidos, apresentando uma taxa de incidência e mortalidade semelhantes. Factores de risco de Cancro Colo-rectal (CCR): • Idade • História pessoal de CCR • Dieta rica em gorduras • Dietas hipercalóricas, ricas em hidratos de carbono • Dieta pobre em fibras • História familiar de CCR • Diminuição da ingestão de micronutrientes como a vit. A, C e E • Doença Inflamatória crónica (colite ulcerosa) Prevenção de CCR: • Primária: diminuição da exposição a factores de risco (educação para a saúde) • Secundária: diagnóstico e tratamento das fases pré-clínicas da doença (screening/ rastreios) • Terciária: tratamento da doença clínica e minimização das sequelas da mesma A sequência adenoma-carcinoma é consensualmente aceite como a mais importante na carcinogénese colo-rectal. A este propósito reveja o texto da aula prática sobre “Adenomas e Carcinomas do Cólon” e observe a figura 1. Descreva o que observa nesta figura, em A, B e C e apresente um diagnóstico para cada uma das situações documentadas. Pág. 2 de 12 Mucosa normal Adenoma Carcinoma explicando melhor… Figura 1A – mucosa cólica normal com glândulas rectilinizadas, perpendiculares à muscular da mucosa e com numerosas células caliciformes. Figura 1B – adenoma; pólipo adenomatoso porque é uma saliência para o lúmen que possui glândulas com displasia [atenção porque todos os pólipos têm glândulas mas nem todos são adenomatosos logo dizer que há displasia é fundamental!] Figura 1C – (adeno)carcinoma, lesão que invade toda a espessura da parede Esta sequência de imagens pretende, assim, representar a carcinogénese colo-rectal [ver esquema acima] . Mas atenção porque Os pólipos são mais frequentes no cólon Quase todos os cancros do cólon têm origem em pólipos; Nem todos os pólipos sofrem malignização. Colon sigmoide esquerdo, principalmente na região recto-sigmoidea. Pólipos Recto Pág. 3 de 12 Através destas imagens a Professora pretendia salientar que existem pólipos adenomatosos sésseis vs pediculados, únicos vs múltiplos. Nestas imagens estão representadas duas lesões que invadem a parede do órgão; a primeira ulcerada e a segunda vegetante/polipoide. A sintomatologia apresentada por estes doentes é de obstrução intestinal, alteração da configuração das fezes, cólicas e sangue nas fezes. Patogénese do CCR – 2 vias [a Professora apresentou um esquema mais ou menos assim]: Chromossome Instability Pathway (CIN) [via supressora] ESPORADICA APC Normal Epithelium TGFBR2 e SMAD2/4 TP53 KRAS2 Dysplastic ACF (focos de criptas aberrantes) Early Adenoma APC CTNNB1 Late Adenoma BRAF MMR Inactivation Microsatellite Instability Pathway (MSI) [via mutadora] PRL-3 Cancer Metastatic Cancer TGFBR2 BAX, MSH3, TCF4 MSH6 Pág. 4 de 12 Via mais frequente à direita: Diploidia; MSI (80%) Via mais frequente à esquerda: Aneuploidia; CIN (20%, com melhor prognóstico) Caso 1 Mulher de 24 anos, com história de náuseas e vómitos, dor abdominal e sangue nas fezes. A imagem documentada na figura 2 foi obtida no decurso de rectosigmoidoscopia e mostra a presença de múltiplas lesões distribuídas ao longo do cólon descendente. Como designa as lesões representadas nesta figura? Pólipos (proliferações de tecido epitelial, pedunculadas, que se projectam para o lúmen do órgão; não esquecer que estas também podem existir no tecido conjuntivo como é o exemplo dos lipomas) Quase todos os cancros do cólon têm origem em pólipos; mas nem todos os pólipos que existem no cólon sofrem malignização; os pólipos são mais frequentes no cólon esquerdo (daí que sejam visualizados em rectosigmoidoscopia). Pólipo pode ser séssil ou pedunculado. Pólipos de tecido epitelial podem ser adenomatosos, hiperplásicos (mais frequentes) e hamartomatosos. Foram realizadas múltiplas biópsias. A figura 3 representa o aspecto histológico de uma das biópsias. Descreva o que observa. Qual é o seu diagnóstico? Aspecto histológico: - estratificação nuclear - atipia - nucleos hipercromáticos - perda de diferenciação - displasia glandular Diagnóstico: pólipo adenomatoso Pág. 5 de 12 Na figura 4 documentam-se outros aspectos observados em biópsias efectuadas em mucosa de aspecto macroscópico normal. Descreva o que observa na figura 4A e 4B. Como se designa a lesão representada na figura 4B? 4A: Histologia normal 4B: Focos de Criptas Aberrantes (ACF) - glândulas tubulares (mesma arquitectura) - epitélio displásico e hiperplásico - núcleos hipercromáticos - atipia (células não estão dispostas regularmente) - núcleos basais irregulares Epitélio normal Criptas Aberrantes Adenoma Carcinoma Adesão Sinalização Angiogénese Proliferação Sobrevivência A doente foi submetida a colectomia total. Descreva o que observa na respectiva peça de recessão cirúrgica (figura 5). Tendo em consideração todos os elementos que observou, qual é o diagnóstico que propõe? Múltiplos pólipos por todo o cólon Pág. 6 de 12 Nos indivíduos com PAF o risco de carcinoma colon-rectal é de 100% logo a colectomia total está indicada em todos os casos. A zona mais afectada é a zona mais distal do colon. Que outros parâmetros clínicos deverão ser pesquisados neste caso? A PAF pode ter outras manifestações extra-cólicas. Deve fazer-se exame do fundo ocular para verificar Hiperplasia Congénita do Epitélio Pigmentado da Retina (CHRPE). Endoscopia gástrica para verificar pólipos das glândulas fúndicas. O heredograma da família da doente (figura 6) mostra que o tio materno morreu aos 42 anos com carcinoma colo-rectal (figura7–Adenocarcinoma). A avó materna também morreu com carcinoma colo-rectal. A mãe da doente morreu de acidente automóvel com 24 anos de idade. Que padrão de transmissão familiar está representado nesta família? Doença Autossómica Dominante Quem é portador obrigatório? Mãe do probando Pág. 7 de 12 Qual é o principal gene responsável por esta doença? Que tipo de mutações são mais frequentes neste gene? Existem “hot-spots” neste gene? - Gene APC regula os níveis intracelulares de β-catenina (que se liga à caderina- E, responsável por adesão celular; quando chega ao núcleo funciona como factor de transcrição promovendo a proliferação) - O domínio funcional particular de ligação à β-catenina é muito importante. No citoplasma das células, a proteína APC, ligado à β-catenina, forma um complexo com uma axina e com um GSK3β; o ATP é fundamental neste complexo uma vez que é responsável pelas fosforilações que fazem com que a β-catenina seja degradada. Quando a formação do complexo não ocorre da melhor forma, a β-catenina não é degradada e acumula-se; forma depois um complexo com um factor que existe no citoplasma que é o TCF, sendo este complexo translocado para o núcleo onde vai activar a transcrição de genes (c-myc, ciclina D1, etc) que promovem a proliferação celular. - Mutações predominam no codão 15 - Inactivação gene oncossupressor - 1º HIT: Normalmente é uma mutação de um dos alelos (alteração germinativa) - 2º HIT: Delecção no braço longo do cromossoma 5 - O mecanismo mais frequente é a delecção mas pode ocorrer metilação do promotor ou mesmo outra mutação - LOH – Loss of heterozigoty - Gene APC encontra-se mutado em 80% dos carcinomas colo-rectais tipo esporádico - Em 20% dos casos de polipose não se detectam mutações do gene APC Em alguns destes casos há alterações do DNA secundárias a dano oxidativo. Neste caso devem ser pesquisadas mutações de “base excision repair genes” como por exemplo MTH1, OGG1 e MYH. Nestes casos o tipo de hereditariedade não é autossómica dominante mas autossómica recessiva; a historia clínica não é típica e o número de pólipos é variável mas frequentemente igual ou superior a 100. Pág. 8 de 12 Caso 2 Homem de 23 anos com história de fadiga crónica e anemia ferropénica (hemoglobina = 8g/L), sem perturbações do transito intestinal (pois a lesão é proximal). História familiar com vários casos de cancro do cólon. Na colonoscopia identificou-se uma lesão no cólon ascendente, documentada na figura 8. Descreva o que observa. Lesão única de cor avermelhada devido à intensa vascularização, aspecto irregular, saliente, “em placa”; Em biopsia desta lesão observou-se o aspecto documentado na figura 9. Descreva o que observa. Qual é o seu diagnóstico? - glândulas de aspecto maligno, com displasia, núcleos pericromáticos - Adenocarcinoma O heredograma desta família está representado na figura 10. Pág. 9 de 12 Perante a história clínica e familiar do doente, qual a principal suspeita clínica? Doença autossómica dominante Síndrome de Lynch (HNPCC – carcinoma hereditário do cólon não-polipoide) Indique os dois tipos de tumores mais frequentes nesta síndrome, para além do carcinoma colo-rectal. Tumores extra-cólicos: ovário e endométrio (também pode existir no estômago ou aparelho genito-urinário) Indique três genes causais desta síndrome. Qual a principal função biológica das proteínas codificadas por estes genes? Genes de reparação do DNA (mantêm a estabilidade dos microssatélites durante a replicação) MSH2, MSH6, PMS1, PMS2 e MLH1 (mais frequente) Em mais de 95% dos casos ocorrem mutações germinativas de genes de reparação do DNA o que conduz a 1) instabilidade cromossómica, 2) mutações de genes alvo, BAX (indutor da apoptose) e TGFβRII (inibidor do crescimento das células epiteliais) Na figura 11 documenta-se a expressão imunohistoquímica da proteína MLH1 em dois carcinomas colo-rectais diagnosticados em dois doentes diferentes. Qual destas situações corresponde, mais provavelmente, a um caso de carcinoma colo-rectal de um elemento da família representada na figura 10? Caso de carcinoma colo-rectal: Doente 1 – poderá ser elemento da família; perdeu expressão da proteína MLH1 (metilação do promotor corresponde ao 2º HIT) Pág. 10 de 12 Doente 2 – apresenta imunorreactividade para a proteína MLH1, verificada pela coloração castanha; essa imunorreactividade encontra-se dentro das células, na zona nuclear; é o normal. A figura 12 representa uma análise de microssatélites realizada em amostras emparelhadas de DNA proveniente de sangue periférico (N) e de tumores (T) de elementos da família anterior. Apresente uma definição de microssatélites. Repetições de sequências de bases, dentro da cadeia de DNA, que se encontram espalhadas pelo genoma; são regiões muito polimórficas A maior parte está em regiões não codificantes, sendo inofensiva Mas, quando se encontram em regiões codificantes podem causar instabilidade Descreva o que observa na figura 12. Qual é o aspecto mais relevante documentado nas amostras dos tumores? Comente a relação entre este fenótipo molecular e alterações da expressão do gene MLH1. Volte a observar a figura 10 e indique qual é o padrão de imunoexpressão da proteína MLH1 que esperaria encontrar nestes tumores. Se fizermos PCR com primers para o início e o final das zonas repetitivas, quer nas células germinativas, quer nas células somáticas normais de um indivíduo normal, esperam-se sempre 2 bandas; também no Síndrome de Lynch se esperam 2 bandas, pois neste caso nas células germinativas, só um dos alelos é que está mutado; Só esperamos uma alteração em um dos alelos, não nos tecidos normais mas nos tecidos tumorais; nos tumores que têm instabilidade de microssatélites em vez de termos 2 bandas, vêem-se bandas com dimensões ou localizações diferentes (mas até pode estar um alelo normal); tudo isto se deve à proteína responsável pela fidelidade da replicação não estar presente. Pág. 11 de 12 Risco de Carcinoma Colo-Rectal (CCR) População geral História pessoal de CCR Doença inflamatória intestinal Carc. Hered. sem Pólipos Carc. Hered. com Pólipos 5% 15%-20% 15%-40% 70%-80% >95% Qualquer erro por favor avisem… Bom estudo… Maria Miguel Gomes Maria João Silva Teresa Pena Pág. 12 de 12