Vem aí a (i)conomia! - Universidade do Algarve

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ID: 62514819
04-01-2016
Tiragem: 33074
Pág: 46
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 13,25 x 30,26 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Vem aí
a (i)conomia!
NÉLSON GARRIDO
O
Debate Economia
António Covas
que haverá em comum entre a
Internet, informação, imaterial,
intangível, identidade,
inteligência, inovação,
invenção, imaginação?
Estaremos nós na rota de um
novo código de linguagem e
significação, de uma economia
dos ícones, de uma (i)conomia?
O advento da economia
do imaterial e as novas cadeias de valor.
Na arte da recomposição das cadeias de
valor jogam um papel decisivo as “novas
economias”: a economia do imaterial
(os ícones), a economia circular (os 4R)
e a economia das redes colaborativas (a
partilha de recursos ociosos). O advento
da economia imaterial é uma grande
oportunidade para as convencionais cadeias
de valor materiais. A grande novidade é a
convergência destas três correntes da “nova
economia política”. Podemos falar de uma
economia a três dimensões (E3D), em que
os factores imateriais são decisivos. É uma
oportunidade para as regiões mais pobres
em recursos materiais. As apelações de
património imaterial por parte da UNESCO
são disso um bom exemplo.
A economia circular e a recomposição
das cadeias de valor. “Na natureza nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma.” Tal
como a economia do imaterial, também a
economia circular transforma radicalmente
as cadeias de produção e valor. A sinergia
toma progressivamente o lugar da entropia.
Os resíduos transformam-se em recursos
e estes em actividades e rendimentos.
Na mesma linha, a “economia dos bens
adquiridos” transfere-se gradualmente para
uma “economia de serviços prestados” e
nesta transição a economia dos intangíveis
passa a ter uma importância fundamental no
desenho e na redefinição da cadeia de valor
da mercadoria.
A economia de rede e partilha e
as novas cadeias de valor. No caso da
economia da partilha chegamos lá por meio
das redes colaborativas e de uma profunda
renovação do capital social, sobretudo por
via do acesso generalizado à cultura digital.
As redes colaborativas recuperam o capital
social e os recursos ociosos que tinham sido
considerados uma espécie de resíduo do
capitalismo industrial e, mais relevante ainda,
ultrapassam as instituições burocráticas
do capitalismo por meio de redes de baixo
custo. Estas redes entram em choque frontal
com os mercados convencionais e as suas
cadeias de valor mais lucrativas são postas
em causa por cadeias de valor colaborativas
e solidárias. Os exemplos desta colisão
frontal são cada vez mais frequentes como
acontece neste momento em Portugal com a
rede de taxis Uber.
A arte e a ciência das redes sociais. No
plano analítico os territórios encontramse na encruzilhada de três tipos de redes:
as redes institucionais de geometria fixa,
as redes sociais de geometria variável e as
redes funcionais, também de geometria
variável. Infelizmente, trocámos o capital
social, um recurso barato e abundante
da cooperação interpares, por capital
institucional produzido por estruturas
burocráticas do Estado central e do Estado
local. A desafeição política pelos sistemas
políticos domésticos tem a ver com este
grave desequilíbrio: o poder reside mais nas
redes institucionais e burocráticas do estadoadministração e o
capital social, mais
difuso e inorgânico,
nas redes sociais
e funcionais. A
consequência
lógica diz-nos que
o activismo político
das gerações mais
jovens passou a
morar nas redes
sociais e nas
comunidades online
onde procura
pertencimento,
identidade e
reconhecimento.
Estamos muito longe
de uma interacção
favorável e positiva
entre comunidades online e offline.
E finalmente. A economia a três
dimensões (E3D) alarga o campo de
possibilidades dos territórios mais
desfavorecidos e a iconomia, nas suas
três dimensões — imaterial, circular e
colaborativa —, alarga mais ainda a quantidade
e qualidade dos “sinais distintivos territoriais”
disponíveis, ao mesmo tempo que transforma
decisivamente a composição das cadeias de
valor convencionais e tradicionais. A grande
questão que fica por resolver é a qualidade do
capital social, isto é, a emergência de actoresrede que sejam capazes de conciliar “ordem
com inteligência e imaginação”, em benefício
dos territórios mais desfavorecidos.
Estaremos nós
na rota de um
novo código
de linguagem
e significação?
Professor catedrático na Universidade
do Algarve
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