E STA D O D E M I N A S 4 ● Q U A R T A - F E I R A , 2 9 D E D E Z E M B R O D E 2 0 0 4 CULTURA DISCOS MÚSICA ETC. CHICO AMARAL Email para esta coluna: [email protected] Balanço final Não, não esperem de mim nenhuma lista dos melhores do ano. Algumas dezenas já devem estar circulando por aí, em cada jornal e revista. Outra coisa: eu escuto pouca música, nem sei se gosto mesmo de música. A minha lista teria mais furos que uma boca cariada. A estrela A nova estrela da canção, sem dúvida, é o Vander Lee. Ninguém como ele tem a vocação de grudar na boca musical do povo. Falta uma fagulha à toa para o incêndio nacional. Vander Lee seria a minha revelação de 2004, se já não estivesse consagrado, pelo menos pelo público. Velhos e novos Boa a estória contada por Chico Buarque (Folha de S. Paulo, domingo último, numa entrevista maravilhosa). Sua filha Sílvia ouviu a compradora na loja reclamar que o disco As cidades só tinha música nova. A mulher, como muita gente, queria as músicas antigas. Chico comenta: “A minha geração, que fez aquelas canções todas, com o tempo só aprimorou a qualidade da sua música. Mas o interesse hoje por isso parece pequeno. Por melhor que seja, por mais aperfeiçoada que seja, parece que não acrescenta grande coisa ao que foi feito. (...) Se as pessoas não querem ouvir as músicas novas dos velhos compositores, por que vão querer ouvir as músicas novas dos novos compositores?” “O discurso do rap é feito por quem vive lá, sobre aquilo lá, para os que lá vivem” Rap Chico guarda uma mirada generosa em relação ao estilo (“não é só o rap em si, mas o significado da periferia se manifestando. Tem uma novidade aí ”). Às qualidades que venho apontando no rap, gostaria de acrescentar mais uma. O rap traz um vetor ideológico (racial, social, político) que clareia violentamente as coisas na cultura brasileira, obrigando todos a um discurso honesto e consciente em relação a qualquer tema. Como o discurso do rap é feito por quem vive lá, sobre aquilo lá, para os que lá vivem, as outras abordagens são confrontadas. Só preserva o sentido, parece, o que não esconde suas particularidades de classe, raça, etc. (como a letra de Piano na Mangueira, por melhor exemplo). A gente que vive “lá”já se apossou de seu próprio discurso. A temática dos excluídos, tradicional na MPB, de alguma forma foi posta em xeque pelos próprios excluídos. Música evangélica se diversifica para conquistar público jovem.Entre os lançamentos, novo CD de Aline Barros Moçada embarca no gospel AFFONSO DE SOUZA O lançamento constante de novos CDs comprova que o mercado da música gospel vem crescendo sem dar bola para a crise. Além disso, é possível notar agora uma preocupação de compositores e cantores jovens na conquista da audiência de uma nova faixa de público. Outra preocupação é a variedade constante dos ritmos, da balada romântica ao rap. O mercado gospel exibe um novo conceito de música para adolescentes desde 2002. O primeiro sinal veio com a cantora Pamela em seu CD de estréia, Um passo ao céu. Ela foi apontada como revelação gospel teen. O rótulo, entretanto, durou pouco tempo. Pamela passou a conquistar público de todas as idades. Seu novo CD, A chuva, que acaba de chegar ao mercado, prova que este tipo de música já garantiu seu espaço. A nova fórmula é fruto de trabalho de pesquisa do produtor Wagner Carvalho. “Pude ver o Waguinho passar muitas madrugadas buscando algo diferente. Começamos a produzir o CD em outubro. Oramos, pesquisamos, nos divertimos, choramos. A chuva é para ser ouvido sem preconceito. Procuramos mostrar que podemos louvar a Deus do jeito que somos, sem máscaras, com alegria, com júbilo”, explica Pamela. A música de trabalho escolhida foi Um pedaço da cruz. “Ela me fez chorar na hora da gravação. Uma de minhas preferidas, entretanto, é Não retire os olhos de mim como mensagem espiritual, diz Pamela. O CD tem produção esmerada, com capa com aplicação de purpurina e faixa multimídia com videoclipe, making of e galeria de fotos. Quanto ao estilo, no segundo disco a cantora troca as baladas românticas pelas canções de adoração. PAIXÃO DE CRISTO O pastor e Patrícia de novo MARIA TEREZA CORREIA Vitrola alquimista é o nome do novo disco de Patrícia Ahmaral (foto). Boto fé na Patrícia. Tudo que ela faz é muito redondo. Seu primeiro disco já havia me agradado. Ela estabelece um diálogo com a geração dos anos 70 que tem tudo a ver. Outros artistas (Skank, Maria Rita, Marisa Monte) já fizeram o mesmo. Sérgio Sampaio (no primeiro disco), Raul Seixas, Alceu Valença, João Ricardo/Luli (também no primeiro disco) e Walter Franco tabelam com novos compositores como Fernanda Takai, Ricardo Aleixo/Gil Amâncio, Christian Maia/Renato Negrão e muitos outros. Patrícia e os músicos, produzindo eles mesmos o álbum, conseguem um som que muito artista de gravadora não consegue. O disco traz ainda surpresas tropicalistas, como a canção Quem sabe, de Carlos Gomes, ou a ária Quando me’n vo’soletta, de Puccini. Coda Justiça se faça, Samuel Rosa é um que sempre preferiu as coisas dessa forma, sem paternalismo nem populismo. Pagou um tanto por se assumir como um cara branco-classe média que toca guitarra e gosta mais dos Beatles do que de qualquer coisa. Quando eu lhe mostrava uma bobagenzinha suingada, ele comentava: “Não, o suingue não é a praia do Skank”. Ele sempre evitou a coisa do Brasil mulato, do frevo e do maracatu, e da macumba pra turista, embora adore Gil, Milton e Benjor. Por muito tempo o paternalismo cultural brasileiro presente na imprensa e nas elites torceu o nariz para sua postura, ao contrário do público. P.S. Desejo a todos o melhor 2005 possível. cantor Elizeu Gomes, líder da Comunidade Logus Internacional (EUA), depois de assistir o filme A Paixão de Cristo, emocionado, compôs oito músicas. “O filme conseguiu me passar a idéia real da morte de Cristo e, de forma inexplicável, consegui transcrever a história no papel em forma de música”, explica. Com 18 anos de ministério, para complementar o enredo, compôs mais três músicas e acrescentou ao projeto duas regravações. No total são 13 músicas e 13 intérpretes diferentes. Cada um com estilo pessoal, mas todos formando uma atmosfera de reverência e contrição. Adonai , Aba Pai foi gravada por Aline Barros, cantora indicada ao Grammy Latino de 2004, já ganhou êxito nacional sendo tocada nas rádios de todo o Brasil. Dois outros números que vêm alcançando grande repercussão são Quero me derramar, com o roqueiro PG e Cada espinho, interpretação de Marina de Oliveira. Outro destaque da nova geração gospel, Marquinho Gomes começou a carreira como roadie no grupo Alto Louvor. Agora, parte para carreira solo com o CD Presença de Deus. Gravado ao vivo, o disco é diferente de tudo que já produziu, tanto na temática como na concepção musical. “Antes, eu fazia músicas falando do homem e seus problemas. Neste novo trabalho, eu falo tão somente de Deus”, explica Marquinhos. Nos últimos anos, ele se inspirou na black music, no soul e se destacou por suas baladas. Em Presença de Deus, Marquinhos não fecha seu trabalho num único estilo. A gravação foi FOTOS DIVULGAÇÃO Pamela lança seu segundo CD e diz que a música evangélica precisa ser ouvida sem preconceitos feita na Igreja Batista Nova Ebenézer e vai dar origem ao primeiro DVD do artista. ■ DO GRAMMY AO RAP Aline Barros, de 28 anos, é a primeira cantora gospel brasileira a concorrer ao Grammy Latino. Mais ousada e segura em sua carreira, é assim que aparece no CD que está chegando ao mercado, Som de adoradores. Depois de 12 discos, este é o primeiro gravado ao vivo. “Neste CD está uma nova Aline. Uma Aline adoradora que ministra com autoridade no palco. Uma Aline ousada, que profetiza, que realmente entende a seriedade e o valor de uma vida dedicada a Jesus”. Carioca, Aline começou a cantar aos 11 anos na Comunidade Evangélica da Vila da Penha. Teve uma fenda nas cordas vocais e ficou apenas com 5% de voz. “Depois do problema, minha voz deu uma encorpada, uma amadurecida e ficou mais aveludada. Caiu duas notas no agudo, mas ganhei cinco no grave. Está mais cheia, mais forte”, festeja. A música de trabalho é Sonda-me, usa-me, parceria com Ana e Édson Feitosa. Outra parceria é Águas no trono que nasceu de um encontro, na sede da gravadora MK Publicitá, com os amigos Eyshila, Alda, Kleber, Liz e Samuel. CONSCIÊNCIA Os irmãos Deco e Magu formam a dupla Consciência e Verdade e são membros do Ministério Apascentar de Jacarepaguá, mas mantêm a base ministerial em Vitória (ES). Em sete anos de carreira, o seu estilo musical é bem di- ferente do que a maioria dos evangélicos está acostumada a ouvir. “O rap tem uma facilidade de entrar em certos lugares que muitos crentes não entram. Não tocamos só música para os evangélicos. Nosso objetivo é atingir o mercado em geral para poder levar a mensagem de Cristo”, diz Deco. O CD da dupla, Qual é a sua?, discute temas como o pa- pel do crente na sociedade, a conversão de presidiários e a desigualdade social. O diferencial gospel é identificado na ideologia da dupla: “Queremos passar para os jovens a consciência de ser um exemplo cristão independentemente do lugar. E isso só vamos conseguir com a verdade, que é a palavra de Deus”, diz o compositor Magu. A cantora Aline Barros já ganhou vários prêmios internacionais