61o. Congresso Nacional de Enfermagem

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Trabalho 1110 - 1/4
O MASCULINO E O FEMININO NA VISÃO DE ADOLESCENTES DE
PERIFERIA
Baggio, Maria Aparecida1
Carvalho, Jacira Nunes2
Backes, Marli Terezinha Stein3
Koerich, Magda Santos 4
Meirelles, Betina Hörner Schlindwein 5
Erdmann, Alacoque Lorenzini 6
INTRODUÇÃO: O Projeto de Pesquisa: “Significando o viver saudável para os
jovens integrantes dos projetos do Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA)”,
com duas etapas sistematizadas e interligadas, inicialmente visou compreender o
significado do viver saudável na perspectiva dos adolescentes/jovens do CCEA e,
num segundo momento, promover oficinas educativas com base nos significados
que emergiram do processo de viver saudável para estes mesmos jovens. Neste
trabalho, apresentaremos os resultados de uma das oficinas educativas, do
segundo momento de desenvolvimento do estudo que objetivou “compreender os
significados atribuídos ao papel masculino e feminino pelos adolescentes/jovens
integrantes do CCEA, pertencentes ao projeto Aroeira, um projeto de inclusão
social”. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa-ação1,2 realizada com 03
grupos de jovens participantes do Aroeira - Consórcio Social da Juventude da
Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista do CNPq. Membro do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem e Saúde (GEPADES) na
UFSC E-mail: [email protected].
2
Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Professora do Departamento de Enfermagem da
Universidade Federal do Pará. Membro do GEPADES.
3
Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Membro do GEPADES.
4
Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Professora Assistente 4 do Departamento de Patologia
da UFSC. Membro do GEPADES e Membro do Núcleo de Estudos e pesquisas sobre o
Quotidiano e Imaginário em Enfermagem e Saúde (NUPEQUIS) da UFSC.
5
Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora do Departamento e PósGraduação em Enfermagem da UFSC. Membro do GEPADES.
6
Enfermeira. Doutora em Filosofia de Enfermagem. Professora Titular do Departamento e
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Coordenadora do GEPADES. PQ 1A do
CNPq. Coordenadora da Área da Enfermagem na Capes.
1
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Trabalho 1110 - 2/4
Região da Grande Florianópolis/SC, consolidado a partir do convênio entre o
Governo Federal - Ministério do Trabalho, como forma de atuação do Programa
Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE), que tem como entidade
âncora local, o CCEA, uma entidade não governamental, com a finalidade de
abrigar projetos e atividades educativas populares e inclusão social de
adolescentes e jovens com idade entre 16 a 24 anos, oriundos de 56
comunidades empobrecidas de Florianópolis/SC e região. Os integrantes do
Aroeira, sujeitos do presente estudo, compreendem o Grupo da Gastronomia,
com 13 participantes (07 do sexo feminino e 06 do masculino), o Grupo da
Estética, com 08 participantes (07 do sexo feminino e 01 do masculino) e o Grupo
Nova Descoberta, com 06 participantes (05 do sexo masculino e 01 do feminino),
num total de 27 sujeitos. Foram desenvolvidas de forma dinâmica e criativa 15
oficinas educativas com os 03 grupos, ao longo do processo de coleta de dados,
cujos temas abordados, sugeridos pelos próprios adolescentes/jovens, foram:
conhecimento do corpo humano, DST, sexualidade e métodos contraceptivos.
Todavia, neste trabalho serão apresentados os resultados das oficinas referentes
ao conhecimento do corpo humano, com a participação de 27 adolescentes,
pertencentes aos 03 grupos citados acima. Durante as oficinas foi realizada a
construção de cartazes, com atividades de recorte, colagem, desenho, escrita e
pintura. Também foi utilizado um manequim, desmontável, para demonstração
das partes do corpo. A dialogicidade foi estabelecida durante as oficinas e o tema
foi abordado na forma expositivo-dialogada, possibilitando a compreensão dos
significados do papel masculino e feminino na visão dos adolescentes/jovens. Os
dados deste estudo foram constituídos pelo registro das oficinas em gravador
digital de voz, autorizado pelos participantes e responsáveis; pelos registros de
campo obtidos através das percepções das pesquisadoras; e, pelos cartazes
confeccionados pelos jovens, durante as oficinas. A análise temática de conteúdo
guiou a análise e interpretação dos dados3. O projeto de pesquisa seguiu as
recomendações da Resolução No 196 do Ministério da Saúde4, sendo aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), sob o número 350/07. RESULTADOS: Na categoria “A fortaleza e o
poder masculino”, os adolescentes/jovens atribuem ao papel masculino o
significado da “fortaleza e o poder masculino”, que expressam força, virilidade,
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Trabalho 1110 - 3/4
rigidez, controle e posse, representados através de desenhos e imagens
apresentadas nos cartazes confeccionados pelos mesmos, e também através de
suas expressões verbais. A fortaleza masculina remete ao “poder” e à “força” que
permeia o tráfico, os grupos rivais, predominantemente masculinos. Evidenciou-se
que o poder, a fortaleza e a virilidade masculina também se expressam através do
órgão sexual masculino. Na categoria “O papel contraditório do gênero
feminino”, as representantes do gênero feminino, principalmente as do Grupo da
Gastronomia, bastante retraídas e envergonhadas, muitas vezes, nos causavam a
impressão de estarem sendo reprimidas em sua própria condição de gênero. Em
contrapartida, as participantes do Grupo da Estética, cujo grupo era formado em
sua maioria por adolescentes do sexo feminino não se apresentaram retraídas,
nem tímidas, pelo contrário, demonstram-se espontâneas e comunicativas.
Constata-se que a diferença de comportamento entre os grupos reforça o papel
feminino contraditório. Na interação observada entre os gêneros durante as
oficinas,
as
adolescentes/jovens
demonstraram,
em
sua
maioria,
um
comportamento recatado, cauteloso, tímido e submisso à imagem e presença
masculina. Assim, na correlação entre o feminino e o masculino entende-se que o
homem pode expor-se, enquanto a mulher não é livre para este comportamento,
para expressar suas idéias, sendo submissa à figura masculina, que tem a posse
e o controle do sexo oposto. Quanto às atividades inerentes ao gênero, alguns
informantes do sexo masculino pontuam que determinadas atividades são
fundamentalmente do gênero feminino e não do masculino. No entanto, também
ficou evidente que na compreensão dos sujeitos algumas modificações históricas
acerca da questão de gênero vem sendo processadas na sociedade no que se
refere ao papel masculino e feminino e a posição da mulher nesse cenário. O
comportamento do gênero feminino em relação ao masculino e a sua própria
sexualidade, na forma como concebem as relações sexuais, mostra-se em
condição de vulnerabilidade (não uso do preservativo), que pode comprometer a
sua saúde e a sua vida, visto que se vive em tempos de Aids e de outras doenças
sexualmente
transmissíveis.
CONCLUSÕES:
Constatamos
que
existem
diferenças entre os grupos, onde diferentes significados são construídos. Não
levar em conta essas variações e essas diferentes formas de dar significado aos
papéis sexuais e de gênero pode levar a intervenções descontextualizadas e que
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Trabalho 1110 - 4/4
não trarão efeitos esperados. Assim, a compreensão dos significados atribuídos
ao papel masculino e feminino por ambos os sexos e nos diferentes grupos é
essencial para que os programas de educação sexual, as campanhas de
prevenção das DST, da gravidez na adolescência e todos os esforços educativos
consigam atingir aqueles e aquelas a quem se destinam. Concluímos que, como
enfermeiras temos que considerar estas diferenças na construção e significação
dos papéis masculino e feminino, que estão relacionados ao contexto sóciopolítico-cultural no qual estes adolescentes/jovens estão inseridos e que podem
ter repercussões importantes na forma em que vivem a sua sexualidade e, acima
de tudo, na construção do seu viver saudável e de sua cidadania.
Descritores:
Enfermagem,
Promoção
da
saúde,
Educação
em
saúde,
Adolescente, Identidade de gênero.
BIBLIOGRAFIA:
1. Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 4.ed. São Paulo: Editora Cortez;
2000.
2. Franco MAS. Pedagogia da pesquisa-ação. Educ Pesqui. 2005; 31(3): 483-502.
3. Minayo MCS. Desafio do conhecimento. 5.ed. São Paulo (SP): HucitecAbrasco; 2000.
4 . Brasil. Ministério da Saúde. Resolução no 196. Diretrizes e normas técnicas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF); 1996.
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