7594 Trabalho 1110 - 1/4 O MASCULINO E O FEMININO NA VISÃO DE ADOLESCENTES DE PERIFERIA Baggio, Maria Aparecida1 Carvalho, Jacira Nunes2 Backes, Marli Terezinha Stein3 Koerich, Magda Santos 4 Meirelles, Betina Hörner Schlindwein 5 Erdmann, Alacoque Lorenzini 6 INTRODUÇÃO: O Projeto de Pesquisa: “Significando o viver saudável para os jovens integrantes dos projetos do Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA)”, com duas etapas sistematizadas e interligadas, inicialmente visou compreender o significado do viver saudável na perspectiva dos adolescentes/jovens do CCEA e, num segundo momento, promover oficinas educativas com base nos significados que emergiram do processo de viver saudável para estes mesmos jovens. Neste trabalho, apresentaremos os resultados de uma das oficinas educativas, do segundo momento de desenvolvimento do estudo que objetivou “compreender os significados atribuídos ao papel masculino e feminino pelos adolescentes/jovens integrantes do CCEA, pertencentes ao projeto Aroeira, um projeto de inclusão social”. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa-ação1,2 realizada com 03 grupos de jovens participantes do Aroeira - Consórcio Social da Juventude da Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista do CNPq. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem e Saúde (GEPADES) na UFSC E-mail: [email protected]. 2 Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Pará. Membro do GEPADES. 3 Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Membro do GEPADES. 4 Enfermeira. Doutoranda do PEN/UFSC. Professora Assistente 4 do Departamento de Patologia da UFSC. Membro do GEPADES e Membro do Núcleo de Estudos e pesquisas sobre o Quotidiano e Imaginário em Enfermagem e Saúde (NUPEQUIS) da UFSC. 5 Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora do Departamento e PósGraduação em Enfermagem da UFSC. Membro do GEPADES. 6 Enfermeira. Doutora em Filosofia de Enfermagem. Professora Titular do Departamento e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Coordenadora do GEPADES. PQ 1A do CNPq. Coordenadora da Área da Enfermagem na Capes. 1 7595 Trabalho 1110 - 2/4 Região da Grande Florianópolis/SC, consolidado a partir do convênio entre o Governo Federal - Ministério do Trabalho, como forma de atuação do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE), que tem como entidade âncora local, o CCEA, uma entidade não governamental, com a finalidade de abrigar projetos e atividades educativas populares e inclusão social de adolescentes e jovens com idade entre 16 a 24 anos, oriundos de 56 comunidades empobrecidas de Florianópolis/SC e região. Os integrantes do Aroeira, sujeitos do presente estudo, compreendem o Grupo da Gastronomia, com 13 participantes (07 do sexo feminino e 06 do masculino), o Grupo da Estética, com 08 participantes (07 do sexo feminino e 01 do masculino) e o Grupo Nova Descoberta, com 06 participantes (05 do sexo masculino e 01 do feminino), num total de 27 sujeitos. Foram desenvolvidas de forma dinâmica e criativa 15 oficinas educativas com os 03 grupos, ao longo do processo de coleta de dados, cujos temas abordados, sugeridos pelos próprios adolescentes/jovens, foram: conhecimento do corpo humano, DST, sexualidade e métodos contraceptivos. Todavia, neste trabalho serão apresentados os resultados das oficinas referentes ao conhecimento do corpo humano, com a participação de 27 adolescentes, pertencentes aos 03 grupos citados acima. Durante as oficinas foi realizada a construção de cartazes, com atividades de recorte, colagem, desenho, escrita e pintura. Também foi utilizado um manequim, desmontável, para demonstração das partes do corpo. A dialogicidade foi estabelecida durante as oficinas e o tema foi abordado na forma expositivo-dialogada, possibilitando a compreensão dos significados do papel masculino e feminino na visão dos adolescentes/jovens. Os dados deste estudo foram constituídos pelo registro das oficinas em gravador digital de voz, autorizado pelos participantes e responsáveis; pelos registros de campo obtidos através das percepções das pesquisadoras; e, pelos cartazes confeccionados pelos jovens, durante as oficinas. A análise temática de conteúdo guiou a análise e interpretação dos dados3. O projeto de pesquisa seguiu as recomendações da Resolução No 196 do Ministério da Saúde4, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob o número 350/07. RESULTADOS: Na categoria “A fortaleza e o poder masculino”, os adolescentes/jovens atribuem ao papel masculino o significado da “fortaleza e o poder masculino”, que expressam força, virilidade, 7596 Trabalho 1110 - 3/4 rigidez, controle e posse, representados através de desenhos e imagens apresentadas nos cartazes confeccionados pelos mesmos, e também através de suas expressões verbais. A fortaleza masculina remete ao “poder” e à “força” que permeia o tráfico, os grupos rivais, predominantemente masculinos. Evidenciou-se que o poder, a fortaleza e a virilidade masculina também se expressam através do órgão sexual masculino. Na categoria “O papel contraditório do gênero feminino”, as representantes do gênero feminino, principalmente as do Grupo da Gastronomia, bastante retraídas e envergonhadas, muitas vezes, nos causavam a impressão de estarem sendo reprimidas em sua própria condição de gênero. Em contrapartida, as participantes do Grupo da Estética, cujo grupo era formado em sua maioria por adolescentes do sexo feminino não se apresentaram retraídas, nem tímidas, pelo contrário, demonstram-se espontâneas e comunicativas. Constata-se que a diferença de comportamento entre os grupos reforça o papel feminino contraditório. Na interação observada entre os gêneros durante as oficinas, as adolescentes/jovens demonstraram, em sua maioria, um comportamento recatado, cauteloso, tímido e submisso à imagem e presença masculina. Assim, na correlação entre o feminino e o masculino entende-se que o homem pode expor-se, enquanto a mulher não é livre para este comportamento, para expressar suas idéias, sendo submissa à figura masculina, que tem a posse e o controle do sexo oposto. Quanto às atividades inerentes ao gênero, alguns informantes do sexo masculino pontuam que determinadas atividades são fundamentalmente do gênero feminino e não do masculino. No entanto, também ficou evidente que na compreensão dos sujeitos algumas modificações históricas acerca da questão de gênero vem sendo processadas na sociedade no que se refere ao papel masculino e feminino e a posição da mulher nesse cenário. O comportamento do gênero feminino em relação ao masculino e a sua própria sexualidade, na forma como concebem as relações sexuais, mostra-se em condição de vulnerabilidade (não uso do preservativo), que pode comprometer a sua saúde e a sua vida, visto que se vive em tempos de Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis. CONCLUSÕES: Constatamos que existem diferenças entre os grupos, onde diferentes significados são construídos. Não levar em conta essas variações e essas diferentes formas de dar significado aos papéis sexuais e de gênero pode levar a intervenções descontextualizadas e que 7597 Trabalho 1110 - 4/4 não trarão efeitos esperados. Assim, a compreensão dos significados atribuídos ao papel masculino e feminino por ambos os sexos e nos diferentes grupos é essencial para que os programas de educação sexual, as campanhas de prevenção das DST, da gravidez na adolescência e todos os esforços educativos consigam atingir aqueles e aquelas a quem se destinam. Concluímos que, como enfermeiras temos que considerar estas diferenças na construção e significação dos papéis masculino e feminino, que estão relacionados ao contexto sóciopolítico-cultural no qual estes adolescentes/jovens estão inseridos e que podem ter repercussões importantes na forma em que vivem a sua sexualidade e, acima de tudo, na construção do seu viver saudável e de sua cidadania. Descritores: Enfermagem, Promoção da saúde, Educação em saúde, Adolescente, Identidade de gênero. BIBLIOGRAFIA: 1. Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 4.ed. São Paulo: Editora Cortez; 2000. 2. Franco MAS. Pedagogia da pesquisa-ação. Educ Pesqui. 2005; 31(3): 483-502. 3. Minayo MCS. Desafio do conhecimento. 5.ed. São Paulo (SP): HucitecAbrasco; 2000. 4 . Brasil. Ministério da Saúde. Resolução no 196. Diretrizes e normas técnicas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF); 1996.