Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Uma cidade com medo do Aedes aegypti Sem estrutura para a demanda de pacientes com sintomas de doenças transmitidas pelo mosquito, Pesqueira vive dias de apreensão após morte de adolescente Antes de chegar a Pesqueira, a 213km do Recife, o visitante que falar com algum morador da cidade por telefone já é alertado: "Não deixe de passar em uma farmácia no caminho para comprar repelente. Aqui está faltando e é bom tomar cuidado". A população do município situado no Agreste, que já sofria com as arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, está com medo após a morte da índia Danielle Marques de Santana, 17 anos, que apresentou os sintomas de chikungunya e contraiu a síndrome de Guillain-Barré, problema neurológico relacionado ao vírus. Nas padarias, mercadinhos e praças, sempre há alguém relatando uma história que incluiu sintomas como febre, dores nas articulações e na cabeça e inchaço. Daniella, que pertencia à tribo Xukuru e morreu na manhã da quarta-feira, no Hospital da Restauração, Recife, também é assunto, inclusive no Hospital Lídio Paraíba. Lá, o Diario testemunhou a chegada de pessoas de diferentes idades e classes sociais buscando atendimento. Alguns não conseguem andar, choram de dor. "Cheguei às 12h. São 15h30 e não fui atendida. E nem há previsão. De lá pra cá só foram chamadas três pessoas e há 20 na minha frente", contou a cabeleireira Viviane de Melo Vieira, 35. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que ainda não é possível confirmar o quadro de chikungunya da paciente. Mesmo assim, a 4ª Gerência Regional de Saúde realizará uma investigação de casos suspeitos na região. O objetivo é ter um diagnóstico rápido da situação para atuar com um bloqueio espacial. O órgão também está identificando os pacientes que tiveram sintomas recentes para saber qual o sorotipo de dengue está circulando na área e também se o chikungunya circula no município. A coordenadora de Controle da Dengue e Febre Chikungunya da SES, Claudenice Pontes, disse ainda que as ações de controle serão intensificadas. Os serviços de saúde deficitários não são o único problema, segundo prefeito de Pesqueira, Evandro Chacon. Ele aponta a escassez no abastecimento de água, que leva a população a armazenar em baldes e cisternas, sem cuidado. "Há bairros que só recebem água a cada 21 dias. Outros sequer recebem." Outro problema é o lixo destinado de forma errada, que retém água. "Decretamos estado de emergência, mas ainda não apareceu o Exército", justificou Chacon. O prefeito reconhece que o atendimento no Lídio Paraíba não é suficiente para a demanda. Com 35 médicos no quadro, o hospital tem capacidade diária para 120 pacientes, mas vem recebendo 400. "Vale ressaltar que o HLP está atendendo cidades vizinhas. Desde 1983, quando a unidade foi municipalizada, não recebemos recursos externos." Saiba mais Síndrome Guillain-Barré (SGB) Doença autoimune que surge após infecção por alguns tipos de vírus e bactérias. Ela acontece quando há a produção errada de anticorpos, que atacam uma substância que recobre os nervos periféricos. Pode surgir também depois de cirurgias, linfomas, vacinas , HIV e traumas Sintomas Fraqueza muscular Paralisia muscular Retenção urinária Constipação intestinal Taquicardia Queda ou aumento da pressão arterial Dor nos membros inferiores e superiores Atinge 1 em cada 100 mil pessoas 5% dos pacientes morrem Pesqueira Dengue 789 casos notificados 739 confirmados 11 descartados 39 em investigação Zika l4 casos notificados Chikungunya 28 casos notificados 1 caso confirmado 7 descartados 20 em investigação Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Respostas saem em até 30 dias Os exames que vão confirmar o motivo da morte da indígena devem ficar prontos em até 30 dias. Amostras de sangue e do líquido da medula foram coletadas. Em coletiva realizada na manhã de ontem, no Hospital da Restauração, os médicos afirmaram que a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) - que consta como causa mortis no atestado de óbito - é uma das hipóteses. Segundo a chefe de neurologia do HR, Lúcia Brito, a jovem chegou em estado grave de infecção generalizada, cuja origem - viral ou bacteriana - ainda não foi definida. No HR, recebeu tratamento com imunoglobina e antibióticos. "A paciente tinha paralisia flácida com quadro viral anterior, que nos leva a pensar em SGB, mas é preciso esperar a investigação. Pedimos agilidade. Ela chegou com infecção grave, então talvez o óbito tenha sido por isso e não pela doença." Até o primeiro semestre de 2015, 52 pacientes chegaram ao HR com SGB e nove morreram. Outros 20 casos foram registrados no segundo semestre. A relação da síndrome com o vírus foi confirmada em quatro ocasiões. O Ministério da Saúde foi notificado sobre a morte e irá acompanhar o caso. Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Chikungunya pode ter pico ainda maior Especialistas estimam que o número de casos deve aumentar entre o fim deste mês e o início de fevereiro As emergências estão lotadas e os casos crescem a cada semana, mas a situação ainda pode piorar. A perspectiva dos especialistas é que, a exemplo do que aconteceu com o zika no primeiro semestre do ano passado, ocorra uma epidemia de vírus chikungunya em Pernambuco neste ano. O pico de casos deverá ocorrer entre o fim deste mês e o início de fevereiro. A estimativa é que, até 30% da população, possa contrair a doença. Considerando a população total do estado, são 3 milhões de pessoas suscetíveis à transmissão. O último boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) mostra que o vírus já foi notificado em 103 municípios do estado, o que representa 55% do total das cidades. Em 45 delas, há casos confirmados. A maioria localizada na Região Metropolitana do Recife e no Agreste. São 2,5 mil casos notificados, dos quais 446 confirmados. Desses, 443 foram autóctones, ou seja, de transmissão interna, e metade deles na RMR. Em 2014, quando foram registrados os primeiros casos autóctones no Brasil, Pernambuco teve 23 notificações, das quais apenas quatro se confirmaram. Todas importadas. Desde agosto, o número de transmissões detectadas em Pernambuco voltou a crescer. Somente entre setembro e dezembro do ano passado, as notificações aumentaram 557%. O crescimento, garante a secretaria, está dentro do previsto. "Desde 2014, estamos esperando a circulação do chikungunya. A área do Agreste teve como porta de entrada do vírus os casos da Bahia. Enquanto no Recife, a entrada do chikungunya aconteceu através de pessoas que viajaram para países onde ocorre a circulação", explicou a coordenadora de Controle da Dengue e Febre Chikungunya da SES, Claudenice Pontes. Para o membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde, Carlos Brito, há dois motivos para explicar o crescimento. O primeiro é que a maior parte da população ainda está suscetível ao chikungunya, diferente do zika e da dengue, que já tiveram períodos epidêmicos anteriores. O segundo é a taxa de ataque do chikungunya, mais alta que nos outros dois. "Ele acomete em um curto espaço de tempo de 30% a 50% da população de onde circula. É possível que chegue até o Sertão. A tendência é que os casos cresçam até o pico, mas continuem até meados de maio", afirmou Brito. Ele e outros profissionais já estão aplicando um novo protocolo para controle da dor e para evitar complicações. Um aumento nos casos de zika também já é perceptível desde dezembro, acompanhado de mais notificações de comprometimentos neurológicos em análise. Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Comunidade indígena está doente Mais da metade dos índios da aldeia onde morava Danielle apresentam sintomas da chikungunya, como dores e manchas Rosalia Vasconcelos Na aldeia Pé de Serra de São Sebastião, onde Danielle Marques de Santana vivia com a familia, 60% dos indígenas apresentam sintomas semelhantes aos da chikungunya, como edemas, dores no corpo e na cabeça, manchas e coceira. Na casa da jovem, além dela, também estiveram doentes seus dois sobrinhos e seus três irmãos. “Só eu e minha esposa, a mãe de Danielle, ainda não tivemos essa epidemia. Mas o resto, todo mundo aqui em casa teve”, contou José Maria Araújo de Santana. De acordo com a agente de saúde e moradora da comunidade Pé de Serra de São Sebastião, Edilene Augusto, o atendimento médico para essa população é escasso. “Na região de Pesqueira, são 24 aldeias indígenas, onde vivem 11 mil índios. Em cada aldeia há um posto de saúde. Quatro médicos se revezam entre essas 24 aldeias, o que dá um atendimento por mês. Ainda assim, os atendimentos são clínicos. Em casos de emergência, precisamos ir para o hospital municipal de Pesqueira. Mas quando chegamos lá, sempre perguntam por que não procuramos atendimento no posto de saúde, como se não soubessem que aqui não tem médico toda hora. Somos indígenas, não somos bichos", conta Edilene. Na aldeia Pé de Serra de São Sebastião, vivem 250 pessoas e 61 famílias. Segundo ela, cada aldeia tem um agente de saúde, morador do próprio povoado, que foi capacitado para trabalhar no combate ao mosquito Aedes aegypti, através da aplicação de hipoclorito nas cisternas. “O que me dói é saber que agora as pessoas estão olhando para nós porque uma indígena morreu em um hospital do Recife. Mas precisou que Danielle perdesse a vida para que a situação de Pesqueira viesse a público. Na comunidade indígena, ela foi a primeira a falecer, mas sei, como agente de saúde, que vários idosos têm morrido no Hospital Lídio Paraíba, com sintomas de chikungunya. Eles são mais frágeis e com a imunidade baixa. E no atestado de óbito, o motivo é sempre virose. Se ela tivesse vindo a óbito em Pesqueira, ia ficar por isso mesmo”, lamentou Edilene. No mesmo povoado de Danielle, o agricultor José Edmilson Nogueira dos Santos, 50 anos, disse que está sem trabalhar há várias semanas porque não aguenta nem andar. “Sinto muita dor nas juntas. Meus joelhos estão inchados e minha cabeça pipoca. Só melhoro quando tomo dipirona ou paracetamol, que são os remédios recomendados pela médica que me atendeu no Lídio Paraíba", disse o agricultor. Há dois anos, os moradores das aldeias não recebem água nas torneiras e estão sendo abastecidos por caminhões -pipa e armazenam a água em baldes e tonéis, possíveis criadouros do mosquito Aedes. “Usamos essa água para lavar pratos, roupas e tomar banho”,afirmou José Maria de Araújo Santana. Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Família e amigos divididos entre dor e indignação A adolescente Danielle Marques de Santana, 17 anos, foi sepultada ontem às 12h no cemitério da aldeia indígena Pão de Açúcar, vizinha ao povoado onde ela morava. Familiares e amigos estão inconformados com a morte precoce da adolescente. Na casa da família, na comunidade da aldeia Pé de Serra de São Sebastião, o sentimento é de que houve demora no socorro. Para o pai da menina, José Maria Araújo de Santana, a demora na transferência de Danielle de um hospital municipal de Pesqueira para o Recife impossibilitou que a filha tivesse o tratamento adequado que evitasse o óbito. “Demos entrada no Hospital Dr. Lídio Paraíba no dia 17 de dezembro. Minha filha apresentava muitas dores no corpo, na cabeça, febre, dor no abdômen e no peito. Antes, tinham aparecido manchas vermelhas pelo corpo e ela reclamava de coceira”, contou. Ainda, segundo ele, no dia 23 de dezembro, ela já estava com a memória ruim. “Ela não me reconhecia direito e o médico José Antônio disse que não tinha necessidade de transferir para o Hospital estadual Mestre Vitalino, em Caruaru, porque ela estava estável. Foi outro médico que solicitou a transferência”, contou José Maria. Vinte e quatro horas após ser internada no Mestre Vitalino, Danielle foi encaminhada à Restauração, no Recife. A médica Lúcia Brito, do HR, explicou que Danielle chegou ao HR com infecção grave e o quadro não foi revertido. De acordo com o coordenador do Hospital Dr. Lídio Paraíba, o médico obstetra José Severiano Cavalcanti, no prontuário de Danielle “havia diagnóstico interrogado de dengue com quadro infecccioso”. “O hemograma realizado em Pesqueira acusou infecção bacteriana aguda. Ela estava com insuficiência respiratória”, informou. Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Risco de epidemia nacional A previsão de que o país enfrentaria neste ano uma tríplice epidemia está se confirmando. Além de um aumento expressivo (e antecipado) de casos de dengue, o Brasil como um todo registra uma expansão importante das notificações de chikungunya. No último boletim nacional, foram 17.131 infecções, 34% a mais do que o apontado até a última semana de setembro. A doença também se espalhou. No período de dez semanas, o número de cidades afetadas subiu de 37 para 62. Em 2014, quando chegou ao país, a chikungunya foi identificada em 3.657 pessoas, residentes em oito cidades. Agora, os casos estão espalhados por Amazonas, Amapá, Pernambuco, Sergipe, Bahia Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. “Estamos muito preocupados. Vivemos agora a ameaça de três doenças simultâneas, todas graves, que exigem respostas diferentes”, afirmou a coordenadora do Programa de Controle de Dengue, Chikungunya e Zika de Pernambuco, Claudenice Pontes. Embora o risco de morte seja menor, a doença - que foi associada à Guillain-Barré pode atingir as articulações, tornar-se crônica e deixar o paciente por meses impossibilitado de executar tarefas simples como vestir-se ou se alimentar. Uma das maiores preocupações é a dificuldade de se combater os criadouros do mosquito transmissor. São várias as cidades em que o abastecimento de água é racionado ou intermitente. Nesses casos, não há o que fazer: as pessoas armazenam em casa, aumentando o risco de criadouros”, avalia. Diario de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 08:05 Diario urbano Não acatada, senhor Apelos são muitos para se combater o Aedes aegypti no Recife. Difícil é sensibilizar a população se, ao procurar ajuda via o 0800-286.2828, a pessoa que atende, ao invés de respostas incentivadoras, solta um rosário desanimador. Foi o relato de um professor universitário, residente em Boa Viagem. Apreensivo com a quantidade do mosquito na Rua Padre Cabral, ele telefonou para o dito número. A primeira explicação da atendente era de que a possível visita de agentes de saúde ao endereço seria feita entre 15 a 30 dias a partir do registro da denúncia. Nesse tempo, o mosquito poderá se reproduzir algumas vezes e, se hospedeiro do vírus da dengue, chikungunya e zika, terá levado dúzias de vítimas às unidades de saúde. O prazo estipulado para a visita desanimou o professor, que mesmo assim persistiu. A atendente então jogou um balde de água fria sobre a esperança dele ao informar que a denúncia não seria acatada. A explicação dada para o desfecho era a necessidade de especificar o foco do mosquito, o que o professor rebate: “ora, não sei onde está o foco, mas sei que a área é infestada pelos mosquitos, e isso basta!”. Denúncia rejeitada, o Aedes aegypti permanece pela Rua Padre Cabral e o professor, do mesmo que esta coluna, procura a quem pedir ajuda. Água convidativa Os estádios de futebol, pelo que se vê no Arruda, devem receber atenção especial nas ações de combate ao Aedes aegypti. Os fossos, comuns em campos antigos, são atrativos para o mosquito transmissor da dengue. Podem se transformar em criadouros sem os cuidados devidos. Ninguém escapa Mais doentes, mais gente faltando ao trabalho. Essa é uma equação fácil de entender pelas empresas do Complexo de Suape. Desde ontem, elas e a direção do complexo começaram a se mexer no combate ao Aedes aegypti. A campanha envolve até os caminhoneiros, vindos de vários estados do país. É no cronômetro Pela duração, as consultas na UPA Engenho Velho, em Jaboatão, poderiam concorrer ao prêmio de rapidez. Há três médicos por plantão de 12 horas, quando registra-se 250 consultas em média. Que dá menos de 9 minutos por atendimentos. O ideal, segundo o Cremepe, seria 36 consultas por plantão. Jornal do Commercio - PE 08/01/2016 - 08:17 Cidade sitiada pelo mosquito EPIDEMIA Pesqueira, onde morava a jovem índia cuja morte está sendo investigada, vive situação de guerra contra o Aedes aegypti O município de Pesqueira, no Agreste do Estado - onde morava a índia xucuru Danielle Marques de Santana, que morreu quarta- feira no Hospital da Restauração com suspeita de infecção viral ou bacteriana e até síndrome de Guillain-Barré - vive desde novembro situação de guerra, como classificam médicos, por causa de surtos já confirmados de dengue e chicungunha. O movimento de pacientes no Hospital Municipal Doutor Lídio Paraíba, único com plantão 24 horas na cidade e região, cresceu quase cinco vezes. Segundo a secretária municipal de SAÚDE, Elizabeth Souza, até ontem eram 2.143 casos suspeitos de dengue, 1.000 de chicungunha (2 a menos que na capital) e 118 de zika vírus num território de 65,7 mil habitantes, a 215 quilômetros do Recife. "Vários fatores favorecerem o cenário. Temos clima quente e estiagem, o Aedes aegypti passou a transmitir novas doenças e por três meses, de agosto a outubro, o SUS interrompeu o repasse de larvicida ao município. Fomos pegos de surpresa, sem preparo para enfrentar uma situação dessa", argumenta Elizabeth Souza. Segundo ela, o adoecimento generalizado atingiu inclusive trabalhadores da SAÚDE e alguns médicos romperam contrato com a prefeitura por causa da sobrecarga nos plantões. "Fomos atrás de outros e agora as escalas estão completas", assegura. Os pesqueirenses se queixam mais de chicungunha, por causa das dores prolongadas nas articulações. "Acredito que se trata do principal surto", diz o médico José Severiano Cavalcanti, do Lídio Paraíba. De acordo com ele, a unidade recebe até 500 doentes por dia, não só da cidade, mas também de Belo Jardim, Sanharó, Alagoinha e até da Paraíba. A doença tem prejudicado uma das principais atividades econômicas do local, a produção de renda renascença. Doentes, rendeiras que trabalham por conta própria estão atrasando as encomendas. Dora Oliveira, 63, uma delas, moradora do bairro do Prado, conta que há 12 dias sofre. "Estou com chicungunha. É um horror, muito pior do que a dengue. Comecei com dores no ombro, depois bateu febre e vômito. Apareceu coceira e incharam pés e mãos. Não consigo mexer os dedos", contou. Ela adoeceu no mesmo dia em que levou ao hospital uma vizinha, em estado mais grave. Uma amiga está doente há 25 dias, com dificuldades para andar. A Secretaria Estadual de SAÚDE reconhece a situação de surto de dengue e chicungunha na localidade, colocando Pesqueira entre os 32 municípios com maior incidência de dengue e também no grupo dos 61 com alta infestação pelo Aedes aegypti. De janeiro a dezembro, aponta o Estado, 739 casos de dengue foram confirmados na cidade. A área Xucuru do Ororubá abriga quase 10 mil índios. No Estado há 12 povos de dez etnias, distribuídos do Agreste ao Sertão do São Francisco. Segundo o Distrito Sanitário Indígena de Pernambuco (DSEI), em 2015 nessas áreas foram notificados 101 casos de dengue, 93 de chicungunha e oito de zika. Um bebê nasceu com microcefalia e há um segundo caso aguardando comprovação. Zaira Taveira, chefe da Divisão de Atenção à SAÚDE do DSEI local, explica que as equipes de SAÚDE indígena orientam as famílias e que serão intensificadas visitas domiciliares para identificar criadouros. O distrito, ligado diretamente ao Ministério da SAÚDE, é responsável pela atenção básica do SUS. Jornal do Commercio - PE 08/01/2016 - 08:17 Reunião em Pesqueira discute causa de morte A Secretaria Estadual de Saúde (SES) começou INVESTIGAÇÃO para esclarecer as causas do adoecimento e morte da índia Danielle Marques de Santana, de 17 anos. Ela chegou a ser considerada caso suspeito de dengue num primeiro atendimento em Pesqueira, em 20 de dezembro, e oito dias depois foi internada em estado grave na UTI do Hospital da Restauração, no Recife, com infecção bacteriana e paralisia sugestiva da síndrome de Guillain-Barré. Morreu quarta-feira, com infecção generalizada. Na manhã de hoje representantes da SES, do Distrito Sanitário Indígena de Pernambuco e da Secretaria de Saúde de Pesqueira reúnem-se na cidade do Agreste para discutir o assunto. Ontem, a neurologista Lúcia Brito, do HR, esclareceu que a síndrome de Guillain-Barré, embora esteja entre as hipóteses, tornou-se menos provável em razão de parâmetros laboratoriais mais compatíveis com infecção bacteriana. Ela observa que é precipitado no momento indicar a causa básica da doença de Danielle. A jovem tinha infecção pulmonar e urinária, além de paralisia flácida. No HR recebeu imunoglobulina e antibióticos. Foi encaminhada até lá pelo Hospital Mestre Vitalino, de Caruaru. Claudenice Pontes, coordenadora de combate à dengue da Secretaria Estadual de Saúde, afirmou que estão sendo feitos testes para tentar detectar dengue, zika ou chicungunha, além de outras doenças. O Distrito Sanitário Indígena informou que a adolescente não esteve em serviços de saúde das aldeias nos últimos seis meses. Ao adoecer em dezembro, Danielle procurou a emergência do Hospital Lídio Paraíba, em Pesqueira. José Severiano Cavalcanti, da coordenação médica da unidade, conta que a garota chegou com febre, vômito, dor de cabeça e abdominal. A primeira suspeita foi dengue, mas, após exames laboratoriais, passou a ser de infecção bacteriana no abdome. "Ela ficou internada, recebeu antibiótico. Como não apresentou melhora foi transferida no dia 27 ao Mestre Vitalino", explicou. Jornal do Commercio - PE 08/01/2016 - 08:17 Recife registra mais de mil casos de chicungunha Ao longo de 2015, a capital pernambucana registrou 24.558 casos prováveis das três arboviroses (doenças transmitidas por mosquito): dengue, chicungunha e zika. Desse total, quase 50% se concentram nos bairros dos distritos sanitários V (17,2%), II (16,3%), e IV (16%). É o que mostra o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Recife, divulgado ontem e que reúne dados até 26 de dezembro de 2015. O bairro da Mangabeira, na Zona Norte do Recife, continua apresentando o maior risco de transmissão ativa das três doenças transmitidas pelo Aedes, pois apresenta o mais alto coeficiente de incidência das arboviroses, que considera o total de casos das três doenças por 10 mil habitantes das últimas oito semanas. No Recife, continua crescendo o número de pessoas que adoecem por chicungunha. A capital contabiliza 1.002 registros (aumento de 195 casos suspeitos em uma semana). "Muita gente está suscetível à chicungunha porque se trata de um vírus novo, ao qual a população não havia sido exposta até pouco tempo. É uma doença com alto potencial para se tornar crônica. Por isso, as ações de enfrentamento ao mosquito não podem enfraquecer", reforça a secretária- executiva de Vigilância à Saúde, Cristiane Penaforte. O boletim ainda registra o avanço da dengue. Até o dia 26 de dezembro, 29.118 pessoas adoeceram com sintomas da doença. Desse total de casos, 17.546 foram confirmados. Em 2014, no mesmo período, foram notificados 3.378 casos e confirmados 963, o que representa um aumento de 762% de casos suspeitos e 1.722% de confirmados. As notificações de zika também seguem aumentando no Recife, que contabiliza 183 pessoas que adoeceram com sinais da doença (56 a mais do que na semana anterior). Desse universo, oito casos foram confirmados. Jornal do Commercio - PE 08/01/2016 - 08:17 Voz do Leitor Frase “No Hospital da Mirueira, em Paulista, quando há marcação para vários médicos especialistas, os pacientes precisam chegar no dia anterior e dormir na rua, em frente à unidade de saúde. Ficam expostos à noite, sem policiamento, e passam por humilhações para conseguirem ser atendidos.” Henrique Lotto, via comuniQ Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Cidade refém de um mosquito Adoecimento, mortes e falta de estrutura em Pesqueira Pesqueira, no Agreste, a 210 km do Recife, enfrenta uma epidemia. A cidade de 65 mil habitantes, sendo 11,2 mil indígenas, está em 33º lugar no ranking de infestação do mosquito, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, de novembro passado. Em seu único hospital público, os atendimentos aumentaram de 120 para 400 por dia nesse período. No cartório, o número de óbitos passou de 39, em novembro, para 93 em dezembro, tendo a maioria como causa "virose indeterminada, chikungunya e dengue". Enfrentando 21 dias sem água, cinco a cada 100 casas de Pesqueira têm focos do mosquito. A cada rua há relatos de pessoas que perderam parentes ou que, meses depois, ainda sentem dores deixadas pelas viroses. E que reclamam do descaso com a saúde. A morte da índia xucuru Daniele Marques Santana, 17 anos, que veio a óbito na quarta-feira no Hospital da Restauração, no Recife, fez o Estado voltar a atenção para a cidade e enviar uma equipe da Secretaria de Saúde. Familiares acreditam que Daniele morreu por não ter o diagnóstico preciso e, consequentemente, o atendimento devido. A jovem pode ter vindo a óbito por complicações trazidas pelas viroses transmitidas pelo Aedes aegypti, como a Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Mas os próprios médicos confessam que é tudo novo: as viroses e suas complicações, como a microcefalia. Estudiosos africanos, país que convive com o Aedes e sua complexidade, desembarcaram na última terça-feira em São Paulo. Poderão ajudar nesse cenário de tanta incerteza. PESQUEIRA Difícil é encontrar na cidade quem não tenha tido sintomas de dengue, chikungunya ou zika, como febre e dores articulares. Tão surpreendente quanto verificar pessoas com dificuldade de locomoção é ouvir os relatos de mortes pós-quadros virais. A maioria, pessoas idosas. A prefeitura não confirmou as causas os óbitos, mas atestou o aumento de falecimentos. A dona e casa Roseane Mariano da Silva, 35 anos, perdeu o pai José ariano, 73, no dia 23 de dezembro passado. Ele começou a sentir muitas dores no corpo e febre alta. A família procurou o Hospital Lídio Paraíba. “Fomos algumas vezes. Mas não tinha médico. Doze dias depois, ele não melhorava. Voltamos de novo para o hospital, que continuava sem médico. Quando corremos para o particular, ele morreu", contou Roseane. A família acredita que ele teve chikungunya. No atestado de óbito dado pelo hospital, a causa apontada é dengue. Assim como o pai, Roseane também teve a virose que ataca as articulações. Um mês depois, ainda tem dores e inchaço. A família mora no bairro central. Uma agente de saúde que atua na área contou à Folha que mais de seis idosos morreram neste mesmo bairro. Todos com o mesmo quadro de José Mariano. A dona de casa Salete Vieira, 44, que mora perto dali, está em pânico. Segundo ela, a vizinhança passou o Natal e o Ano Novo trancada em casa, doente. Preocupada, alertou as familiares que moram em outras cidades. "Meu irmão de São Paulo vinha passar as festas de fim de ano aqui. Pedi que não viesse. Contei dessa epidemia. Ele é diabético e hipertenso, temo por sua saúde". ASSISTÊNCIA No único hospital público de Oesqueira, o Lídio Paraíba, o entra e sai de pessoas com quadro viral semelhante aos das doenças transmitidas pelo Aedes é constante. Gente, que muitas vezes espera atendimento por horas. Desiste e se consulta com um farmacêutico ali perto. Outros persistem por não aguentar de dor. Patrícia Gomes, 34, chegou à undiade ontem com a mãe, uma idosa, às 7h30. Eram 15h30 e não haviam saído de lá. "Ela só foi atendida porque meu pai falou sobre o diabetes dela e implorou muito". Maria Aparecida Silva, 37, aguardava na emergência há mais de 2h. “Dói tudo. Não consigo nem ficar de pé de tão inchada". GESTÃO O prefeito de Pesqueira, Evandro Chacon, reconheceu que enfrenta uma epidemia. "Desde novembro enfrentamos esse situação. Acredito que agora estamos no ápice", disse. A cidade não realiza sorologia para nenhuma das doenças. São coletadas apenas algumas mostras e enviadas para o Estado fazer a confirmação laboratorial. O gestor afirmou que vem investindo em mecanismos de prevenção, como visitas de agentes de endemias e de saúde e recolhimento de lixo três vezes por semana. Também disse que a cidade tem um plano de saneamento básico pronto aguardando recursos. Mas enfrenta uma média de 21 dias sem água, o que provoca a necessidade de armazenamento e, assim, maiores ricos de focos. Chacon destacou que a falta de recursos federais para o enfrentamento é um complicador e que tem pedido ajuda ao Estado, desde que foi decretado estado de emergência municipal. Sobre o hospital, o prefeito contou que o aumento de pacientes levou muitos dos profissionais, que estavam trabalhando no limite, a pedirem desligamento. Mas, segundo ele, o quadro teria sido ajustado. E agora seis médicos se revesariam. Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Comoção e incertezas no adeus a Daniele Na aldeia xucuru Pé de Serra de São Sebastião, a 16km de Pesqueira, onde vivia Daniele Marques Santana, 17 anos, o dia ontem foi de tristeza. Após quase dez dias internada no Recife, ela morreu com suspeita de ter adquirido Gullain-Barré, seguida de um quadro viral, que os parentes acreditam ter sido chikungunya. Na declaração de óbito dela, constam como consequências ou complicações: choque séptico, pneumonia, SGB e quadro de paralisia flácida por arbovirose. Inconformado, o pai da adolescente, José Maria Araújo de Santana, 53, lamentava a demora no atendimento à filha quando ela apresentou a virose. “Precisamos de mais médicos. Quando a minha filha chegou ao hospital aqui não tinha médico”. Depois de quase oito dias internada no hospital da cidade, seu estado se agravou. Ela foi entubada, levada para Caruaru e transferida para o Recife. Seu velório aconteceu na aldeia, onde moram cerca de 95 famílias. O cacique Marquinhos Xucuru lamentou os frequentes relatos de índios adoecidos. “Não tenho números, mas muitos relatos”, disse. Na Aldeia Pão de Açúcar, Geralda Mônica, 45, reclama de chikungunya. “Onde tenho osso, dói. Mãos e pernas continuam inchados. E olhe que já faz 25 dias que começou”. Dilma Gonçalves, 46, tem as mesmas queixas há um mês. Os 11,2 mil indígenas de Pesqueira vivem em 24 aldeias. Essa população é atendida por três unidades básicas de saúde. Há saneamento em 70% dos domicílios, segundo dados do IBGE. Já a coleta de lixo é realizada em apenas oito aldeias. Nas demais, os resíduos são queimados ou trazidos para a cidade pelos indígenas. A morte da adolescente deixou o cacique surpreso e apreensivo. “Há muitas perguntas que precisam de respostas ainda”. Daniele foi velada em ritos católicos e indígenas e recebeu homenagens próprias de guerreiros da tribo. Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 SES envia equipe para mapear os casos A Secretaria Estadual de Saúde (SES) montou um plano emergencial para acompanhar a situação na cidade de Pesqueira e conhecer a real dimensão dessa epidemia de arbovirose - dengue, zika e chikungunya. Uma equipe da Gerência Regional de Saúde chegou ontem à cidade para mapear os casos e direcionar as ações. O que já se pode perceber é uma desatualização de dados no município, o que agravou a situação. Oficialmente, para a SES, Pesqueira tem apenas 789 casos de dengue notificados e 739 confirmados. De zika seriam apenas quatro casos suspeitos. E de chikungunya, 28 suspeitos e um confirmado. Esses dados podem não corresponder à realidade. Por isso, a coordenadora do Programa Estadual de Arboviroses, Claudenice Pontes, enviou a equipe de SES à cidade para fazer uma busca ativa, indo inclusive nas unidades de saúde. "Vamos pegar ficha por ficha desses pacientes e ver sinais e sintomas, contabilizar e ver se tem mais tendência de dengue, chikungunya ou zika. E já está sendo providenciado também coletas de laboratórios para saber qual vírus está circulando", adiantou. Com os primeiros resultados e a verificação de concentração dos casos, a secretaria vai fazer o bloqueio espacial para eliminação do mosquito, com carro fumacê ou com bombas costais, além de orientar os profissionais de saúde sobre os sintomas das viroses. Claudenice Pontes esclareceu que algumas estratégias não podem ser feitas em aldeias. "Área indígena não pode receber pulverização. A área é de responsabilidade do Ministério e quem faz esse controle é o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena)", informou. A SES fez capacitação no final de 2015 com 14 índios de aldeias diferentes e que já atuavam como agentes de endemias. O curso foi para atualizá-los sobre chikungunya e zika. Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Laudo sobre morte em 15 dias A rede estadual de Saúde trabalha com um prazo entre 15 e 30 dias para a conclusão das investigações sobre a morte de Daniele Santana. No atestado de óbito, assinado pelo médico Janio Carvalho, constam como causas - além de Guillain-Barré - pneumonia, choque séptico e paralisia os membros. De acordo com a chefe do serviço de neurologia do HR, a médica Lúcia Brito, a síndrome não ocupa o primeiro lugar. "A paciente apresentou problemas típicos, que evoluíram em grande velocidade. Ela já chegou necessitando até mesmo de ajuda para poder respirar. Em seguida, mostrou uma paralisia flácida bastante notória em grande parte dos membros", disse. Segundo a médica, Daniele estava com uma alta elevação na enzima muscular, conhecida como PK - em torno de 25 mil unidades. "É algo fora do esperado, que acontece em várias doenças inflamatórias severas, até mesmo a leptospirose", ponderou. No HR, nove de 52 pacientes de Guillain-Barré morreram no ano passado. Dos óbitos, quatro estão relacionados ao zika. Daniele deu entrada no hospital de Pesqueira com febre e dor muscular. Uma semana depois depois, apresentou problemas neurológicos. No dia 27 de janeiro, foi transferida ao Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, e já no dia seguinte veio para o HR. Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Relação entre Guillain e Aedes Não apenas a zika, mas também a chikungunya está associada a casos que podem evoluir para a síndrome de Guillain-Barré. O alerta é feito por autoridades médicas, diante do agravamento de casos no Estado. Um fator que acende um sinal vermelho quanto à doença diz respeito à fraqueza muscular gerada, que pode afetar diretamente os músculos responsáveis pela respiração. Os sintomas iniciais também incluem formigamento das pernas e tendem a se espalhar ascendendo em direção à cabeça. Com a paralisação, o paciente pode morrer por falta de oxigênio. “Várias doenças neurológicas podem evoluir para a Guillain-Barré e, nesse universo, as viroses mais graves decorrentes do Aedes aegypti não ficam de fora. A zika tem uma proximidade muito maior com o sistema central, devendo ser pensada primeiro no momento do diagnóstico. Porém, a chikungunya e até a dengue também podem causála. Não temos números aqui, mas a literatura médica mostra essa realidade”, explica o infectologista e consultor em arboviroses do Ministério da Saúde, Carlos Brito. Ele aponta casos registrados na Polinésia Francesa, desde o ano de 2013. “A doença vem apresentando mudanças nos seus padrões, cabendo mais qualificação dos profissionais”, acrescentou. Segundo o especialista, os pacientes primeiro desenvolvem os quadros infecciosos e levam até quatro semanas para começar a apresentar as típicas falhas neurológicas. Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Cremepe vai apurar se houve falha Além do desafio de entender a incidência alarmante da dengue, da chikungunya e do zika vírus em Pesqueira, a criação de um protocolo para casos da síndrome GuillainBarré (SGB), uma das possíveis causas da morte da índia Daniele Marques, é mais um passo para diminuir os “pontos cegos" no enfrentamento aos males transmitidos pelo Aedes egypti e a complicações relacionadas a eles. Em declarações ontem, parentes sugeriram que a demora na percepção da gravidade do quadro da acidente, ainda durante o atendimento no Hospital Municipal Doutor Lídio Paraíba, teria sido decisiva. O Cremepe não crê em falta de preparo na rede de saúde, mas vai apurar o caso. A equipe médica do Hospital da Restauração (HR), no Recife, onde a jovem veio a óbito após dez dias internada, diz que é precipitado atribuir a ocorrência à SGB. De todo modo, indefinições como a que a família de Daniele acredita ter acontecido devem ser amenizadas com o protocolo, que prevê orientações específicas às equipes de saúde, inclusive municipais, no acolhimento dos casos, levando em conta também a associação dos danos neurológicos com o zika, com a chikungunya ou com outro vírus. Outro entrave que seria derrubado é o da falta de notificação das ocorrências, que ainda não é compulsória, apesar de Pernambuco ter aumento do número de pacientes. De acordo com o infectologista e consultor do Ministério da Saúde Carlos Brito, outro ganho de um protocolo é a descentralização do atendimento por meio da criação de unidades sentinelas. "É um alerta ao profissional de saúde também. Isso traz mais celeridade ao atendimento", explica. Para o presidente do Cremepe, Sílvio Rodrigues, lidar com a SGB não é uma coisa nova para as redes pública estadual e privada, que realizam o tratamento, o que causa estranheza pelo fato de ou a SGB não ter sido detectada logo, caso tenha realmente acometido a paciente, ou de o encaminhamento para uma unidade de saúde especializada não ter sido feito tão cedo quanto deveria. "Com uma avaliação clínica, percebe-se a síndrome. As UTIs têm muita experiência nisso. O que é novo é a associação (com o zika)", informou Rodrigues. "Se há o questionamento da família, o Conselho tem que protocolar a denúncia". Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 A experiência de cientistas africanos A experiência de uma equipe de cientistas africanos do Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, deve ajudar a acelerar o estudo sobre o zika vírus e, com isso, entender o aumento no número de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré no Brasil. Os pesquisadores estão em São Paulo e se integraram à Rede Zika, como está sendo chamada a força-tarefa criada por cientistas, professores e alunos de instituições e laboratórios do estado para combater a doença. A equipe senegalesa, liderada pelo cientista Amadou Alpha Sall, participou ativamente do combate ao surto de Ebola no oeste da África e treinará pesquisadores brasileiros para agirem no surto que o País vem enfrentando. A proposta é que as equipes treinadas pelos cientistas de Dakar ajam como multiplicadoras pelo Brasil. Os detalhes de como vai funcionar a força-tarefa vão ser divulgados, na manhã de hoje, em coletiva à Imprensa. O encontro está marcado para as 10h30, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Folha de Pernambuco - PE 08/01/2016 - 07:32 Bebê recebe vacina vencida O empresário Silas Nunes levou a filha Bianca, de apenas 2 meses, na última quartafeira, para tomar vacinas no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) para protegê-la e assim ficar tranquilo, mas saiu de lá mais preocupado. A dose contra o rotavírus aplicada na criança tinha vencido em outubro de 2015. O pai só percebeu após observar o rótulo do produto colado no cartão de vacinação. Ele procurou ajuda com a enfermeira-chefe da unidade na mesma hora e depois na ouvidoria, porém não conseguiu retorno. O caso foi levado à Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e ainda está sendo protocolado. meses no próprio Imip em 1º de novembro de 2015. Por ser prematura, a criança precisou ficar internada por 27 dias. Retornando na última quarta-feira para receber, além da dose contra rotavírus, as vacinas antipneumocócica, VIP/VOB e pentavalente. Essas têm validade entre 2016 e 2017. A preocupação surgiu na quarta aplicação. “Ela tomou uma gotinha e três injeções nas pernas. Foi grande a surpresa quando percebi que uma delas tinha validade para outubro do ano passado”, contou Silas Nunes. Como não recebeu orientações na hora em que percebeu o problema, o pai de Bianca está apreensivo como que pode acontecer coma criança. “Até agora ainda estou preocupado coma saúde daminha filha, já que ninguém me deu a assistência necessária na hora”, relatou Silas. O bebê é o primeiro do empresário, que reza para nenhuma enfermidade acometer a menina por essa falta de cuidado no momento de aplicação da dose contra o rotavírus. Em nota, o Imip lamentou o ocorrido e esclareceu que, após tomar conhecimento do fato, recolheu o lote das vacinas vencidas e revisou todo estoque da instituição. Co base nas orientações do Programa Estadual de Imunização, foi informado que a criança corre risco mínimo de sofrer reações adversas em decorrência da dose aplicada. O Instituto acrescentou ainda que não será necessária um nova aplicação do produto e que o Imip acompanhará o bebê pelos próximos meses. A unidade já abriu uma sindicância para apurar a irregularidade.