Práticas de Letramento e Ações Anti-bullying

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Práticas de Letramento e Ações Anti-bullying1
AdelineRuthiely de Melo Guedes
Amanda Gessyanne A. de S. Almeida
Elizia Pessoa dos Santos
Rafaela de Lira Nascimento
INTRODUÇÃO
O PIBID Letras Português – UFPE trouxe, neste ano de 2015,como proposta a
discussão teórico-conceitual do bullying, buscando motivar os alunos do ensino básico a
ações que favorecessem práticas de combate, bem como a reflexão de seus
conflitos,através do desenvolvimento de atividades de leitura, escrita e análise
linguística e de incentivo à leitura de textos da literatura brasileira. A preocupação com
a formação da cidadania que coloca em questão a discussão sobre as diferentes relações
de gênero, raça, etnia, religião, entre outras, e o papel do professor, junto à comunidade
escolar é fundamental para a construção de uma escola onde haja respeito e tolerância.
É preciso que os alunos compreendam, sensibilizem-se e sintam-se estimulados
a desenvolverem ações anti-bullying. Esta era a nossa meta.Esses estímulos, muitas
vezes, acontecem devido à familiaridade e ao sentido que os alunos encontram nas
atividades propostas, isto é, quando eles percebem o envolvimento delas com situações
reais de uso, vendo uma razão para o seu desenvolvimento. É a partir de práticas de
letramentos do alunado (com base no PIBIDquest2) que ações anti-bullyingforam
desenvolvidaspor meio de intervenções didáticas na Escola Senador Novaes Filho.
Recorremos ao uso da diversidade de linguagens para o combate a vários tipos de
agressão no âmbito escolar e não escolar – com destaque para o combate aobullying.
Com o desenvolvimento das atividades do projeto multiletramentoanti-bullying,
pretendíamos que houvesse uma reflexão e discussão teórico-conceitual dobullyingpor
1
Este trabalho foi produzido com base nas experiências e reflexões realizadas durante as duas
intervenções do PIBID Letras Português, da UFPE, na Escola Senador Novaes Filho no ano de 2015,
tendo a orientação e a coordenação das professoras AngelaDionisio, Suzana Cortez (na primeira
intervenção) e Ana Lima (na segunda intervenção), sob a supervisão do professor Saulo Batista.
2
Pesquisa realizada por meio de um questionário nas três escolas associadas ao PIBID Letras Português –
UFPE e teve por intuito o levantamento das práticas de leitura e escrita dos alunos dentro e fora do âmbito
escolar. Esse levantamento serviu para que orientasse os bolsistas do PIBID no desenvolvimento dos
planejamentos e das intervenções realizadas.
meio de diversas linguagens, bem como dosaspectos linguísticos em textos de diversos
gêneros, observando as estruturas textuais que podem reforçar ou combater o bullying.
Em planejamento com o supervisor e a coordenação, ficou acordado que abordaríamos
os conflitos que envolvessem práticas relacionadas ao bullyingno dia a dia escolar pela
recorrência de casos existentes na escola acima mencionada.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os professores enfrentam muitos desafios no ambiente escolar, pois além de
planejar aulas interativas e produtivas, eles convivem com um fenômeno antigo que
afeta o desenvolvimento escolar de muitos estudantes: o bullying, termo usado
para qualificar comportamentos agressivos no âmbito escolar, praticados
tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência (física ou não)
ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se
encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. [...] os mais
fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e
poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas
vítimas. (Silva, 2010, p. 7)
O ensino de língua precisa ancorar-se em ações vivenciadas no ambiente escolar,
como por exemplo, a prática do bullying, trazendocontribuições para formação social do
aluno. Dessa maneira, ao propor atividades anti-bullying3, foi necessário realizar um
planejamento diversificado, pois pensamos nos variados gêneros usados no cotidiano
dos alunos, além disso, os conteúdos de língua portuguesa foram explorados. Segundo
Kleiman (2005, p. 6), “a escrita, de fato, faz parte de praticamente todas as situações do
cotidiano da maioria das pessoas. Isso é o que acontece nas sociedades complexas, em
que não é possível atingir objetivos ou realizar tarefas mesmo falando”.
De acordo comKleiman, temos que inserir os alunos nas mais variadas situações
em que o uso da linguagem escrita se faz necessário e isso implica dizer que as aulas de
língua portuguesa devem ser compostas de temas importantes, como o bullying, e
atividadesque envolvam os usos da linguagem com várias finalidades. Assim, os
projetos temáticos surgem, então, para auxiliar o professor a relacionar os conteúdos a
serem trabalhados com um tema recorrente entre os alunos. Segundo Suassuna (2006),
3
Atividades elaboradas com o intuito de fazer com que os alunos conscientizem-se em sobre a prática do
bullying, desenvolvendo estratégias de prevenção e combate a esta prática.
o projeto didático/temático permite recuperar o movimento intrínseco à
prática da linguagem: ler o que o outro disse; comparar com um outro dizer
de um outro sujeito; verificar as diferentes formas de dizer; ter o próprio
texto lido e [...] avaliar os diferentes efeitos de sentido do dizer. (p. 232).
Diante disso, noprojeto desenvolvido pelo PIBID Letras Português, percebemos
que tais práticas, mencionadas pela autora, ocorreram nas intervenções realizadas. Desta
forma, refletimos sobre a importância da troca de conhecimentos por meio das
atividades anti-bullyingpropostas, como os relatos pessoais, a produção de cartazes, a
produção das fotografias etc., que foram trabalhadas na sala de aula.Essas atividades
serviram como instrumentos de incentivo para a prevenção/combate ao bullying,
fazendocom que os alunos tivessem contato com diferentes gêneros constituintes do seu
cotidiano, proporcionando uma ponte para a compreensão do funcionamento da língua
portuguesa por meio de diversos aspectos abordados.
METODOLOGIA
A partir de observações das turmas e das aulas do professor supervisor, bem
como leituras teóricas e discussões realizadas sobre a prática docente e aula de língua
portuguesa, durante as reuniões semanais do PIBID Letras somados aos dados obtidos
pelo levantamento do PIBIDquest, os planejamentos foram realizados, revisados,
reescritos e depois de muito trabalho, aplicados em cada turma. Duas intervenções
foram realizadas, levando em consideração o trabalho com temas relevantes para a
construção de um ambiente com mais consciência, respeito e tolerância, juntamente
com o trabalho de aspectos relevantes para o ensino de língua portuguesa. Cada
intervenção durou cerca de duas semanas, de modo que, ao final, foi realizada uma
produção (em cada turma) que levasse os alunos a desenvolverem atitudes de
prevenção/combate ao bullying.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No 1ºano C foi realizado um Quiz, retirado do site do Cartoon Network4, de uma
campanha intitulada “Chega De Bullying – Não Fique Calado”. A turma foi organizada
em quatro grupos para responder as perguntas exibidas em slides, referentes à prática do
4
Disponível em: http://www.chegadebullying.com.br/
bullying. Discussões foram geradas a partir das questões, dentre elas, uma em que os
alunos discutiam sobre qual dos envolvidos no ato (vítima, agressor ou testemunha)
sofria mais; os grupos dividiram opiniões, mas através de nossa mediação,citando
exemplos como agressores se tornaram assim porque um dia já foram vítimas, de
testemunhas que presenciaram uma cena de bullying e que sofreram consequências por
isso, seja em forma de ameaças do agressor para não contar, ou pelo trauma ocasionado
pelo que foi visto etc.Os alunos entenderam que todos que participam/presenciam o
bullying são prejudicados de alguma forma, todos saem perdendo. Pensando no combate
desta violência, com base nas discussões realizadas por meio do Quiz, por exemplo, os
alunos, em grupos, produziram cartazes em cartolina, nos quais colocaram
mensagensanti-bullying.Nesta atividade não houve a participação efetiva de todos os
alunos, pois por se dividirem em apenas quatro grupos, cada grupo possuía mais de 6
membros e, dessa forma, enquanto uns escreviam ou desenhavam/colavam imagens
(retiradas de jornais), os outros membros ficavam conversando ou apenas olhando o que
os outros faziam e a partir deste ponto negativo, passamos a organizar melhor a
quantidade de pessoas em cada grupo nas outras atividades.
Já no2º ano B, as atividades didáticas anti-bullyingforam iniciadas com aCaixa
de verbos. Em uma caixa que foi exposta no centro da sala,foram colocados os verbos
relacionados ao bullying,tais como humilhar, apelidar, sacanear, bater, assediar. A
atividade foi realizada de modo queos alunos iam até a caixa e sorteavam um verbo. A
partir disso, apontavam a relação da palavra com a sua experiência na escola.O objetivo
da atividade foi realizar uma sondagem sobre o que a turma percebia em relação
àsemântica do verbo e as ações por ele efetivadas.Na segunda atividade, foi explorado o
gênero fotografia, resultando na atividadeFotos simuladas. Foram levadas, para a sala
de aula, algumas fotografias que expressam atos de bullying e que circulam nas redes
sociais, tais como fotos de agressões e prints de xingamentos em perfis. Essas imagens
serviram de base para uma roda de conversa, na qual discutimos sobre os diferentes
tipos de bullying5e refletimos o motivo de essas situações serem vistas como normal se
configuram uma prática de agressão. Em seguida, os alunos se dividiram em grupos e
escolheram dois tipos de bullying para cada um desses grupos. Com o tema discutido,
os alunos delegaram tarefas entre eles e escolheram como cenário a própria sala.
Enquanto alguns simulavam situações de agressão, outros fotografavam com a câmera
5
O físico, verbal, moral, psicológico, material, sexual e virtual, segundo a cartilha Bullying: o que é isso?
Vamos enfrentar com amor, de Mario Enzio Bellio Junior.
do celular. O intuito das fotografias foi mostrar a realidade das escolas em relação ao
bullyingatravés de imagens dos próprios alunos, assim ao expor as fotos simuladas na
escola, seus colegas pudessem notar que o problema não está distante, pelo contrário,
são situações diárias. Dessa forma, além de pensar acerca dessas agressões, os alunos
perceberam a importância da prevenção e combate ao bullyingna sociedade.
Umas das atividades realizadas no 3° ano A foia leitura de 20 fotografias,de
circulação na internet, sobre a prática dobullying, projetadas por meio de data show, em
que mostravam situações características dobullying6para exemplificar as suas diversas
manifestações, causas, sinais, consequências. Exemplos e relatos pessoais foram
trazidos pelos alunos por meio de discussões geradas a partir da leitura das fotografias,
o que contribuiu para a necessidade de se combater e de evitar esta prática. Após as
leituras e discussões de cada fotografia, com o intuito de fazer com que os alunos
refletissem mais sobre as consequências destas ações violentas e a importância do seu
combate, ao mesmo tempo em que trabalhassem aspectos linguísticos, pedimos para que
os alunos escrevessem um relato pessoal de alguma experiência com o bullying,em uma
das seguintes posições:como agressor, vítima ou testemunha, levando em consideração
tudo o que já foi discutido, de modo que eles também escrevessem suas reflexões e
análises das experiências. Atividade bastante produtiva, em que demonstraram reflexões
acerca das práticas já cometidas por eles, como “Hoje, eu vejo o quanto é importante
sermos defensores dessas pessoas que sofrem bullying”, “O bullying é um fato que
deveria ser inexistente, para muitos, ele nunca sai de moda”, “O bullying não deve ser
praticado de nenhuma forma”. Estes e outrosdepoimentos contribuíram para o
crescimento do cidadão e do falante de língua portuguesa, uma vez que a análise
linguística também foi trabalhada na reescrita do texto.Nesta turma, o desenvolvimento
das atividades foi satisfatório. Percebe-se um novo olhar sobre o bullying, mais
cuidadoso, com revisão de valores, da ética e moral, fundamentado na busca por
umcaminho em que sejam feitas melhorias no convívio social, na prevenção de um
futuro menos sensível ao outro e ao todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6
Exclusão, agressão física, agressão verbal, furto, difamação, entre outras.
O projeto integra o professor em formação à sala de aula por meio de
planejamentos e intervenções didáticas, de forma que experiências válidas são
acrescentadas
para
o
crescimento
profissional
dos
bolsistas
envolvidos,
possibilitando,através de estudo, pesquisa e experiências, uma melhor relação entre as
teorias apresentadas na Academia e as práticas do ensino de língua portuguesa. As
intervenções resultaram, em geral, num trabalho muito proveitoso com a língua
portuguesa, com suas diversas linguagens e gêneros; os alunos se envolveram com
diversos textos7, voltados para a contribuição na luta contra o bullying, no processo de
conscientização e respeito ao próximo. As açõesanti-bullying possibilitaram o aumento
da sensibilidade de alunos em relação ao combate a essa violência, de forma que muitos
defenderam a importância de se trabalhar mais sobre o assunto nas escolas (e fora
delas), chegando à conclusão de que o bullyingprecisa ser combatido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KLEIMAN, B. Angela. Preciso “ensinar” o letramento:não basta ensinar a ler e a
escrever? São Paulo: CEFIEL/IEL/UNICAMP, 2005.
MENDONÇA, Márcia. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro
objeto. In: BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Marcia [orgs.] Português no ensino médio
e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
RUOTTI, Caren; ALVES, Renato; CUBAS, Viviane de Oliveira. Violência na
escola:um guia para pais e professores. – São Paulo: Andhep : Imprensa Oficial do
Estado
de
São
Paulo,
2006.
Disponível
em:
<http://www.nevusp.org/downloads/down235.pdf>. Acesso em 10 jan. 2016.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. A Cartilha. Brasília/DF, 2010. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/.../justica.../cartilha_bullying.pdf>. Acesso em 20 jan.2016.
SUASSUNA, Lívia; MELO, Iran Ferreira de; COELHO, Wanderley Elias. O projeto
didático: forma de articulação entre leitura, literatura, produção de texto e análise
linguística. In: BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Marcia [orgs.]. Português no ensino
médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
7
Dentre os vários textos utilizados no trabalho em sala de aula, foi realizada a leitura de notícias,
diagramas, cartazes, fotografias, conto, relato pessoal, entre outras.
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