ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA JOSÉ ELPÍDIO CAVALCANTE O CONTROLE DO DIABETES MELLITUS EM PACIENTES COM INTERNAÇÃO ANTERIOR POR COMPLICAÇÕES DA DOENÇA NO MUNICÍPIO DE QUIXELÔ, CEARÁ Fortaleza – Ceará 2007 1 JOSÉ ELPÍDIO CAVALCANTE O CONTROLE DO DIABETES MELLITUS EM PACIENTES COM INTERNAÇÃO ANTERIOR POR COMPLICAÇÕES DA DOENÇA NO MUNICÍPIO DE QUIXELÔ, CEARÁ Monografia submetida à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do título de especialista em Assistência Farmacêutica, Orientador: Prof. Ms. Domingos Sávio de Carvalho Sousa. FORTALEZA - 2007 2 JOSÉ ELPÍDIO CAVALCANTE O CONTROLE DO DIABETES MELLITUS EM PACIENTES COM INTERNAÇÃO ANTERIOR POR COMPLICAÇÕES DA DOENÇA NO MUNICÍPIO DE QUIXELÔ, CEARÁ Especialização em Assistência Farmacêutica Escola de Saúde Pública do Ceará Aprovada em ______/_____/_____ _________________________________________ Prof. Ms. Domingos Sávio de Carvalho Sousa _________________________________________ Prof. Ms. Henry Pablo Lopes Campos e Reis _________________________________________ Profa. Ms. Maria Francelina dos Santos 3 A Euclides Cavalcante (in memorian) e Dona Lurdinha, meus pais, que sempre acreditaram e me incentivaram. A Efraim, Indara, Karem Dehydre, filhos que compreendem minhas andanças pelos municípios. Aos meus netos, Ingrid, Lara e Lucas, fonte dos meus maiores sorrisos. Aos colegas do curso de especialização em Administração de Sistema Integral de Medicamentos. À Direção da Escola de Saúde Pública. Aos facilitadores e colaboradores de curso. Aos colegas de município. Ao gestor de saúde de Quixelô, que não só permitiu, como também muito incentivou minha presença no curso. 4 Esta última flecha tinha uma curiosa virtude: produzia doçura e amargura. Tenho sentido e notado o auxílio que me prestou, mas também seu prejuízo: ao se cravar produziu angústia, depois seu bálsamo me aliviou. Por um lado me untava, por outro me feria: assim me ajudava, assim me causava mal. Costa, 2003 5 RESUMO O diabetes mellitus é atualmente uma causa importante de morbimortalidade. Quando mal controlado, representa um considerável encargo econômico para o portador, sua família e a sociedade. Sabe-se que a maior parte dos custos diretos do tratamento do diabetes relacionase a complicações passíveis, na maioria das vezes, de ser evitadas, reduzidas ou retardadas, desde que o paciente tenha acesso aos medicamentos, aos materiais necessários à monitoração de sua glicemia e às informações específicas e educação pertinente aos cuidados que deve desenvolver para manter-se sadio e produtivo por muito tempo. Este estudo procurou investigar o controle do diabetes em pacientes que já tinham um evento de internação hospitalar motivada por complicações da doença. Para tanto foi realizada preliminarmente uma avaliação de indicadores relativos às ações de controle do diabetes mellitus, baseada no Pacto da Atenção Básica e no Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB. Posteriormente foram realizadas entrevistas para caracterizar o controle de fatores de risco por parte de pacientes com internação prévia por complicação da doença. O tamanho da amostra de pacientes utilizado pode ser considerado como uma limitação do trabalho. Apesar disso, os resultados apontam para a necessidade de reorganização das ações voltadas para o controle da doença no município investigado. Palavras-chave: Controle do diabetes mellitus. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 07 1 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 10 1.1 Doenças crônicas e seus reflexos na contemporaneidade: breves considerações..... 10 1.2 Diabetes mellitus: a doença e o doente através da história....................................... 13 1.2.1 Contextualização histórica do diabetes.................................................................. 13 1.2.2 Aspectos essenciais do diabetes............................................................................. 15 1.2.2.1 Classificação....................................................................................................... 16 1.2.2.2 Fatores de risco................................................................................................... 17 1.2.2.3 Principais complicadores e seus sintomas.......................................................... 20 1.2.2.4 Tratamento.......................................................................................................... 22 1.3 Diabetes mellitus: a internação em números e procedimentos................................. 23 1.4 Formas de prevenção da enfermidade...................................................................... 25 1.5 Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus e à Assistência Farmacêutica............................................................................ 27 2 OBJETIVOS................................................................................................................... 30 3 METODOLOGIA...............................................................................................................331 3.1 Caracterização do município de Quixelô.................................................................. 33 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 34 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................... 39 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 41 7 ANEXOS........................................................................................................................ 43 Anexo 1 – Elenco de medicamentos selecionados pelo Ministério da Saúde para o 44 Programa de Hipertensão, Diabetes e Asma............................................... Anexo 2 – Programação pactuada de medicamentos básicos ajustada ao teto 45 financeiro................................................................................................. Anexo 3 – Perfil básico municipal: Quixelô.................................................................. 48 Anexo 4 – Formulário de Pesquisa................................................................................. 58 7 INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, doenças crônicas como as cardíacas, as respiratórias, os acidentes vasculares cerebrais, o câncer e o diabetes são, de longe, as líderes em mortalidade no mundo, representando cerca de 60% de todas as mortes – mais de trinta e cinco milhões de pessoas só no ano de 2005 -, e afetam, na mesma proporção, homens e mulheres, com menos de setenta anos de idade. Importante mencionar que 80% das mortes por diabetes ocorrem em países de baixa e média renda. A organização estima que mais de cento e oitenta milhões de pessoas ao redor do mundo são diabéticas, o que considera determinante para a decretação de um estado epidêmico relacionado a essa enfermidade. O cenário, que em 1985 atingia aproximadamente trinta milhões de pessoas, foi ampliado para cento e trinta e cinco milhões, em 1995, e para cento e setenta e sete, em 2000, podendo vir mais do que a dobrar em 2030, se ações urgentes não forem encetadas para coibir a sua disseminação. Estudos recentes da OMS elegem o diabetes mellitus como a segunda causa de morte na América Latina, atualmente com 5% das incidências, à frente mesmo da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS, o quarto lugar em mortalidade na região. A Sociedade Brasileira de Diabetes divulga os dados oriundos de um censo nacional sobre a prevalência de dianetes no Brasil, desenvolvido entre 1986 e 1989, por meio de parceria entre a instituição, o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq: cerca de 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos é acometida da enfermidade, no auge, portanto, de sua idade produtiva, dos quais metade desconhecia o diagnóstico. Á guiza de esclarecimento, os altos custos evidenciados na realização deste estudo inviabilizaram a sua repetição posterior. Em 2001, por ocasião da realização da "Campanha Nacional de Detecção de Diabetes", que contou com a participação de 22.1 milhões de pessoas com mais de 40 anos, foram detectados 346 mil novos casos da doença. O problema, que ataca o pâncreas, diminui a produção de insulina e a capacidade do organismo de utilizar a glicose ingerida, afeta gravemente o coração, os rins, os olhos e os pés, estes últimos de forma bastante contundente, posto que o diabetes provoca inchaços, deformações nas plantas e nos dedos dos pés, e dificuldades de cicatrização de machucados comuns. Costuma-se afirmar que os pés são os primeiros a sinalizar quando o diabetes está se 8 agravando na vida de um indivíduo, funcionando como uma evidência visível da doença e de sua evolução. Quando mal controlado, representa um considerável encargo econômico para o portador, sua família e a sociedade. Sabe-se que a maior parte dos custos diretos do tratamento do diabetes relaciona-se a complicações passíveis, na maioria das vezes, de ser evitadas, reduzidas ou retardadas, desde que o paciente tenha acesso aos medicamentos, aos materiais necessários à monitoração de sua glicemia e às informações específicas e educação pertinente aos cuidados que deve desenvolver para manter-se sadio e produtivo por muito tempo. A despeito da simplicidade dos procedimentos para a detecção do diabetes, que consiste somente na realização de um exame de dosagem de glicose na corrente sangüínea, em jejum, por qualquer laboratório de análises clínicas, a ausência de diagnóstico continua sendo uma das principais causas da evolução da enfermidade até as complicações tardias, como as cardiopatias, as nefropatias, as retinopatias e as neuropatias, só para citar alguns exemplos, a primeira da cegueira e da amputação de membros inferiores não decorrentes de traumas. Dados da Associação Nacional de Assistência ao Diabético de 1999 afirmam que o custo direto com diabetes, envolvendo internações, medicamentos, tratamentos, médicos, nos Estados Unidos, é da ordem de US$ 42 bilhões por ano, enquanto o custo indireto, relativo ao absenteísmo, baixo desempenho profissional, aposentadoria precoce e por invalidez, consome outro tanto, valores compatíveis com a dívida externa brasileira à época, para se ter uma idéia acerca do montante do desperdício. No Brasil, país em que o discurso vigente desde sempre aponta para a falta crônica de recursos para o investimento em medicina preventiva, as complicações com o diabetes sugam obrigatoriamente milhões do Sistema Único de Saúde – SUS e oneram desnecessariamente a previdência, casos em que se encontram entre 30% a 40% das pessoas que fazem hemodiálise no país, diabéticos que, por não cuidarem adequadamente da doença, precisam se submeter ao procedimento, de custos bastante elevados e mantido exclusivamente pela União. O Estado do Ceará, por força da implementação, no país, em 2002, do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes mellitus, iniciativa conjunta do Ministério da Saúde, em articulação com as sociedades científicas (Cardiologia, Diabetes, Hipertensão e Nefrologia), as federações nacionais dos portadores de diabetes e de 9 hipertensão, as secretarias estaduais de saúde, através do Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS, e as secretarias municipais de saúde, através do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – CONASEMS, teve a sua adesão aprovada ao Programa Nacional de Assistência Farmacêutica por força do Art. 1º do ATO Portaria Conjunta Secretaria Executiva/Secretaria de Políticas de Saúde, DAT Em 30 de abril de 2002. Quixelô, o município objeto deste estudo, tem uma população estimada de 231 diabéticos. Diante da constatação do diabetes mellitus como um problema de saúde pública, das estimativas que dão conta do agravamento da situação já precária da enfermidade na atualidade, nos próximos vinte anos, e da crença na possibilidade de reversão de suas complicações por meio da adoção de condutas informativas e educacionais que visem municiar os portadores e seus familiares com o aparato necessário para o controle e monitoramento da enfermidade, vislumbrou-se a oportunidade de elaboração de um estudo investigativo que pudesse ratificar o pressuposto aqui evidenciado. O trabalho assume a estrutura de capítulos. No primeiro, procede-se a uma revisão bibliográfica criteriosa acerca do diabetes mellitus, como enfermidade crônica que, quando não devidamente cuidada e monitorada, pode provocar sérias complicações na vida de seus portadores, comprometendo a qualidade de vida dos indivíduos afetados, provocando-lhes a morte prematura e gerando, ao mesmo tempo, efeitos econômicos adversos para as famílias, comunidades e sociedades em geral, descrevendo a sua trajetória histórica e os aspectos essenciais que o definem, classificação, fatores de risco, principais complicadores, tratamento e formas de prevenção. Além disso, apresenta-se os números da internação por diabetes e as formas que podem ser adotadas para a prevenção da enfermidade, aproveitando a oportunidade para introduzir, por pertinência, informações a respeito do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus e à Assistência Farmacêutica. No segundo e no terceiro capítulos são abordados, respectivamente, a metodologia e resultados e discussão. Ao final, são tecidas as conclusões acerca de todas as etapas empreendidas para a consecução dos objetivos propostos, e fornecidas algumas recomendações. 10 1 REVISÃO DE LITERATURA Estatísticas recentes demonstram que mesmo os diabéticos que se cuidam possuem risco de absorver conseqüências crônicas da doença. Isso divide sensivelmente a responsabilidade, até então dada como exclusiva do diabético, por tudo que lhe acontece de mal na saúde. Por esse prisma, o diabetes não necessita da pessoa do diabético para lhe causar danos, basta seu organismo. No entanto, o diabético pode colaborar para que esta doença progressiva evolua rapidamente. O fato é que processos acontecem em nós [diabéticos] sem nos darmos conta e, na maioria das vezes tardiamente, fazemos algo por nós. Bengala legal (adaptação), 2007. 1.1 Doenças crônicas e seus reflexos na contemporaneidade: breves considerações Considerado uma enfermidade crônica1, 60% maior causa de mortalidade do mundo e, em 80% dos casos, incidente em países de renda baixa e média, onde vive a maior população do planeta, o diabetes, dentre outras de mesma grandeza, como as doenças cardiovasculares e respiratórias e a hipertensão, impacta substancialmente na qualidade de vida dos indivíduos afetados, causa morte prematura, além de gerar grandes – e subestimados – efeitos econômicos adversos para as famílias, comunidades e sociedades em geral. (OMS, 2005). Na visão da Organização Mundial de Saúde - OMS (2005), fatores de risco comuns e modificáveis estão na base das principais doenças crônicas e explicam a grande maioria dos óbitos causados por essas enfermidades em todas as idades, em homens e mulheres, e em todas as partes do mundo, envolvendo, grosso modo, dieta insalubre; inatividade física; consumo de tabaco. 1 Sob este termo abrigam-se aquelas enfermidades que não se resolvem nem põem em risco a vida dos indivíduos em um tempo curto, mas podem ser extremamente sérias, sendo, inclusive, a principal causa de morte e incapacidade no mundo. Incluem também todas as condições em que um sintoma existe continuamente, e mesmo não pondo em risco a saúde física da pessoa, são extremamente incomodativas levando à disrupção da qualidade de vida e actividades da pessoas. Atingem cerca de 59% do total de 57 milhões de mortes por ano e 48% do total de doenças. As doenças crônicas podem ser prevenidas. O diabetes é considerado uma enfermidade crônica de notificação não obrigatória. Sua expansão decorre dos processos de industrialização, urbanismo, desenvolvimento econômico e evolução alimentar, que provocam alteração nas dietas alimentares, sedentarismo, elevação no consumo de tabaco (WHO, 2007). 11 De negligência têm sido a postura adotada pelas nações do mundo inteiro em relação às doenças crônicas e aos seus reflexos na saúde e no potencial de desenvolvimento dos países, fato comprovado pela sua não inclusão como uma das metas determinadas na Declaração do Milênio, aprovada por todos os 189 Estados Membros da Organização das Nações Unidas - ONU na Cúpula do Milênio, em setembro de 2000. O desinteresse aparentemente demonstrado pela cúpula mundial em relação a esse contingente de enfermidades provoca o descaso, na mesma proporção, relativo a sua prevenção em âmbito internacional, lamentável diante da constatação já pacificada de que os investimentos em saúde contribuem para a redução da pobreza, o que significaria, por pertinência, impactos positivos para a Meta 1 – Erradicar a pobreza extrema e a fome. (OMS, 2005). No entanto, a OMS (2005) estima, é bom que se mencione, que essa atitude de pretenso alheamento das nações está mais ligada aos mitos que cercam as doenças crônicas, de que seriam ameaças distantes, desimportantes ou menos sérias que a incidência de doenças infecciosas, do que propriamente a um pretenso descaso com a questão. A seguir, uma lista contendo alguns dos enganos ou meias-verdades mais comuns que envolvem os conhecimentos acerca dessas doenças: - Doenças crônicas afetam principalmente países de alta renda: enquanto o senso comum afirma que as doenças crônicas afetam países de alta renda, a realidade é que quatro de cada cinco mortes por esse tipo de enfermidade acontecem em países de baixa e média renda; - Países de baixa e média renda deveriam controlar as doenças infecciosas antes das doenças crônicas: muitas pessoas acreditam que os países de renda baixa e média devam controlar as doenças infecciosas antes de atacar as doenças crônicas. Na verdade, os países de baixa e média renda estão no centro de antigos e novos desafios na área de saúde pública. Enquanto eles continuam a lidar com os problemas de doenças infecciosas, estão em muitos casos vivenciando uma rápida explosão de fatores de risco e mortes por doenças crônicas, especialmente em ambientes urbanos. Esses níveis de risco antecipam uma devastadora carga futura de doenças crônicas nesses países; - As doenças crônicas afetam principalmente as pessoas ricas: muita gente pensa que as doenças crônicas afetam principalmente as pessoas ricas. A verdade é que em 12 geral, as pessoas pobres, muito mais provavelmente que as ricas, irão desenvolver doenças crônicas, e em todos os lugares é mais provável que morram em conseqüência disso. Além do mais, as doenças crônicas causam um significativo comprometimento financeiro, e podem arrastar os indivíduos e seus lares para a pobreza; - As doenças crônicas afetam principalmente as pessoas de idade: muitos pensam que as doenças crônicas afetam primordialmente as pessoas mais idosas. Agora se sabe sabemos que quase metade das mortes causadas por doenças crônicas ocorre prematuramente, em pessoas com menos de 70 anos de idade. Um quarto de todas as mortes por doenças crônicas é de pessoas abaixo dos 60 anos de idade. Em países de baixa e média renda, os adultos de meia-idade são especialmente vulneráveis às doenças crônicas. As pessoas que vivem nesses países tendem a desenvolver doenças quando mais jovens, por isso sofrem durante mais tempo – freqüentemente com complicações que poderiam ser prevenidas – e morrem antes daqueles que vivem em países de alta renda; - As doenças crônicas afetam primordialmente os indivíduos do sexo masculino: é comum acreditar-se que algumas doenças crônicas, especialmente as doenças do coração, afetem principalmente os homens. A verdade é que as doenças crônicas, incluindo as doenças do coração, afetam mulheres e homens de maneira quase igual; - Doenças crônicas não podem ser prevenidas: adotando uma atitude pessimista, algumas pessoas acreditam que não há nada mesmo que se possa fazer para afastar esse tipo de moléstia. Na realidade, as principais causas das doenças crônicas são conhecidas, e se esses fatores de risco fossem eliminados, pelo menos 80% de todas as doenças do coração, dos derrames e dos diabetes do tipo 2 poderiam ser evitados; acima de 40% dos cânceres poderiam ser prevenidos; - A prevenção e o controle de doenças crônicas são caros demais: em qualquer população, haverá um certo número de pessoas que não demonstra os padrões típicos observados na grande maioria. Em relação às doenças crônicas, existem dois tipos principais: pessoas com muitos fatores de risco de doenças crônicas, que mesmo assim têm uma vida longa e saudável; pessoas com nenhum ou poucos fatores de risco de doenças crônicas, que apesar disso as desenvolvem e/ou morrem de complicações quando ainda jovens. Pessoas assim inegavelmente existem, mas 13 são raras. A grande maioria das doenças crônicas remonta a fatores de risco comuns e pode ser prevenida ao se eliminar esses riscos; - Meu avô fumou e viveu acima do peso até os 96 anos de idade: certamente todos terão de morrer um dia, mas a morte não precisa ser lenta, dolorosa ou prematura. A maior parte das doenças crônicas não resulta em morte súbita. Ao contrário, elas provavelmente levarão as pessoas a tornarem-se progressivamente enfermas e debilitadas, especialmente se as suas doenças não tiverem o tratamento adequado. Por se tratar de doença crônica de primeira grandeza e objeto maior desta investigação, o diabetes vem a ser abordado em maiores detalhes na seqüência. 1.2 Diabetes mellitus: a doença e o doente através da história 1.2.1 Contextualização histórica do diabetes American Diabetes Association – ADA; International Diabetes Federation – IDF; International Diabetes Institute – IDI; Diabetes Exercise and Sports Association – DESA; International Association of Diabetes and Pregnancy Group – IADPSG; South African Diabetes Association – SADA; Sociedad Argentina de Diabetes – SAD; Diabetes Austrália; Shorouq Diabetes Camp - Bahrain Diabetic Society; Canadian Diabetes Association; Fundación Diabetes Juvenil de Chile; Korean Diabetes Association; Asociación de Diabeticos Españoles; International Diabetic Athletes Association – IDAA; Juvenile Diabetes Foundation; My Diabetes; The Diabetic Retinopathy Foundation; Finnish Diabetes Association; Guyana Diabetic Association; Diabetes Association; Diabetes Association of the Republic of Kazakhhstan; The Portuguese Diabetic Association; British Diabetic Association; War Child Diabetic Programme; Asociación de Diabeticos del Uruguay; Associação Nacional de Assistência ao Diabético – ANAD; Fundação Escola para a formação e Atualização em Diabetes e Nutrição; Associação Latino-Americana de Diabetes – ALAD; Sociedade Brasileira de Diabetes – SBD. Essas são só algumas das centenas de instituições e organismos que se dedicam a estudar e a promover encontros, reuniões, congressos, simpósios para divulgar os resultados 14 obtidos com as pesquisas realizadas sobre diabetes no Brasil e no mundo. Sem a pretensão de elaborar uma lista exaustiva das entidades de cuidadores desta enfermidade, procurou-se, antes, demonstrar a importância que adquire no cenário contemporâneo da saúde, a partir dos movimentos e pessoas que congrega a seu redor. Não obstante as suspeitas acerca da ocorrência de diabetes darem conta de que remontam ao Egito Antigo as primeiras detecções de seus sintomas (SBD, 2007), somente nas últimas décadas do século XX se verifica um aumento considerável do interesse em torno dessa enfermidade em âmbito planetário, o que culminou na criação, em 1991, do Dia Mundial do Diabetes, pela International Diabetes Federation – IDF, juntamente com a Organização Mundial de Saúde – OMS. Dessa forma, entre a circuncisão de Abraão, aos 99 anos, quando a história dá conta da existência de várias práticas endócrinas, e o ano 70 d.C, quando o médico Areteu da Capadócia descreveu o diabetes, passaram-se longos 2000 mil anos: Areteu observou que aquele silencioso problema desenvolvia quatro complicações: muita fome (polifagia), muita sede (polidipsia), muita urina (poliúria) e fraqueza (poliastenia). Areteu observou também que, quase sempre, as pessoas com esses sintomas entravam em coma antes da morte. Era algo ‘grave e misterioso’. Afinal, mesmo com a fartura de alimentos que entravam pela boca, a falta de energia corporal permanecia. (SBD, 2007). A História deu outro longo salto de 1600 anos sem que se modificassem os conhecimentos obtidos acerca dessa doença. O ano de 1670, no entanto, foi um marco para a sua trajetória evolutiva: o médico inglês Thomas Willis descobriu, provando a urina de indivíduos que apresentavam esses sintomas, que ela era ‘muitíssimo doce, cheia de açúcar’ (SBD, 2007). Quase um século e meio depois, mais precisamente em 1815, o Dr. M. Chevreul demonstrou que era glicose a substância presente na urina dos indivíduos, e um dos testes realizados pelos médicos para formação de um diagnóstico conclusivo a seu respeito passou a ser provar a urina daqueles que se encontravam sob suspeita da doença, ocasião em que se passou a denominar a enfermidade de Diabetes mellitus ou Diabetes açucarado, tradução portuguesa da palavra latina. (SBD, 2007). Dando continuidade ao levantamento histórico do diabetes, outros marcos constitutivos da trajetória evolutiva da enfermidade estão presentes nos anos de 1889, com a descoberta, por dois cientistas alemães, Von Mering e Minkowski, da insulina, substância ou 15 hormônio produzido pelo pâncreas capaz de controlar o açúcar no sangue e evitar os sintomas do diabetes, antecedida que foi da constatação, bastante relevante, por parte do fisiologista Arnold Adolph Berthold, em 1849, por meio de experiências realizadas em galos, quando ainda não se dispunha dos conceitos acerca de hormônio ou secreção interna, a existência de vazamento de alguma substância interna, de sua utilização, por Claude Bernard, em 1949 (SBD, 2007). Mas foi Claude Bernard, em 1949, que usou pela primeira vez o termo “secreção interna”. A denominação Endocrinologia entrou em uso no século XX, derivada de endon (interno) e krino (separar), ambos do grego clássico. O termo hormônio foi utilizado pela primeira vez pelo Prof. Ernest H. Starling. Desde então já havia relatos de que o mau funcionamento do pâncreas seria o responsável pelo diabetes. Findas as considerações históricas mais relevantes acerca do Diabetes mellitus, doença (ou conjunto delas) que se caracteriza pelo aumento da glicose na circulação sanguínea (hiperglicemia), provocado pela não produção, produção insuficiente ou funcionamento inadequado da insulina, hormônio responsável pela absorção da glicose pelas células, algumas particularidades merecem ser mencionadas na seqüência. (WHO, 2007). 1.2.2 Aspectos essenciais do diabetes A literatura científica tem sido pródiga nas informações que produz e disponibiliza acerca do diabetes, o que só vem reforçar a certeza já arraigada da importância que assume esta enfermidade e suas especificidades para a vida dos indivíduos e para o desenvolvimento das nações do planeta. Nesse sentido, com o intuito primeiro de contribuir para a manutenção de uma determinada padronização e constante atualização dos dados existentes sobre a temática, além de facilitar o atendimento de um sem número de pessoas que, forçosamente, irá buscar clínicos gerais e outros profissionais de saúde, proporcionando-lhes o suporte científico necessário à prestação de um serviço qualitativo e eficaz, a Sociedade Brasileira de Diabetes – SBD elaborou, em 2006, um documento definidor de procedimentos, em vários níveis, que denominou “Atualização Brasileira sobre Diabetes”. 16 Outro documento valioso e de utilidade inquestionável para todos aqueles que possuem interesses relativos ao diabetes, quaisquer que sejam esses, é o Consenso Médico de 2002, também elaborado pela mesma instituição, que constitui uma espécie de “[...] guia sucinto dos novos aspectos diagnósticos e terapêuticos do DM, fundamentados nas melhores evidências disponíveis” (SBD, 2007). Dentre todas as informações produzidas, algumas, pela essencialidade e caráter educativo que possuem, no tocante, sobretudo, à possibilidade que trazem em si de ajudar a reverter o quadro sombrio que cerca esta enfermidade na contemporaneidade, são abordadas mais detalhadamente na continuidade. 1.2.2.1 Classificação A etiologia (ou causa) do diabetes é o critério utilizado para a sua apresentação em diversas formas clínicas: diabetes mellitus tipo 1; diabetes mellitus tipo 2; outras formas de diabetes mellitus; diabetes gestacional, cada uma das quais se caracteriza por alguns elementos que a constituem e delimitam o seu escopo. O diabetes mellitus do Tipo 1 resulta da destruição, por engano, das células beta produtoras de insulina, pois o organismo acha que são corpos estranhos. Ainda que os pesquisadores não saibam, exatamente, o porquê dessa manifestação, crêem que a genética, os auto-anticorpos, os vírus, o leite de vaca e os radicais livres do oxigênio podem estar relacionados ao seu surgimento. Isso é chamado de resposta auto-imune. Este tipo de reação também ocorre em outras doenças, como esclerose múltipla, Lupus e doenças da tireóide. Encontra-se, neste tipo, uma tendência à cetoacidose2. A prevalência deste tipo se dá entre 5% e 10% dos casos. A forma rapidamente progressiva é comumente observada em crianças e adolescentes, porém pode ocorrer também em adultos. A forma lentamente progressiva ocorre geralmente em adultos e é referida como diabetes latente auto-imune do adulto – LADA. (SBD, 2003). 2 A cetoacidose diabética consiste em uma tríade bioquímica de hiperglicemia, cetonemia e acidemia. É uma das mais sérias complicações agudas do diabetes mellitus. Cerca de 20% a 30% das cetoacidoses diabéticas ocorrem como manifestação inicial do diabetes mellitus. Os principais fatores desencadeantes são infecção e nãoaderência ao tratamento. A taxa de mortalidade varia de 4,8% a 9%. A taxa anual foi de 46 por 10.000 diabéticos em um estudo populacional. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2005). 17 A Organização Mundial de Saúde – OMS (WHO, 2007) aponta um quadro de sintomas específico que visa caracterizar a existência do diabetes: a poliúria, termo utilizado para denominar a atividade urinária em abundância de um determinado indivíduo, a polidipsia, ou sede em excesso, fome exagerada, perda de peso, turvação de visão e fadiga. O diabetes mellitus do Tipo 2, outra das formas clínicas de manifestação do diabetes, ocorre, em geral, a partir do estabelecimento de graus variáveis de resistência à insulina e de deficiência relativa de secreção de insulina. Os pacientes, em sua maioria, apresentam excesso de peso. A cetoacidose somente se manifesta em situações especiais, mais especificamente nos casos em que se evidenciam infecções graves. Costuma ser diagnosticado a partir dos 40 anos de idade, embora possa incidir, mais raramente, em adolescentes, fato, no entanto, que está se tornando cada vez mais comum nos Estados Unidos. Abrange aproximadamente entre 85% e 90% da totalidade dos casos de diabetes. (SBD, 2003). Os sintomas relatados pela OMS (WHO, 2007) para esta modalidade são similares aos do tipo 1, embora menos marcantes, o que induz ao seu diagnóstico, muitas vezes, anos depois de instalado, geralmente quando as complicações começam a se manifestar. Dentro da categoria Outros Tipos de DM, são encontradas várias outras formas de diabetes cuja etiologia decorre de defeitos genéticos associados com outras doenças ou com uso de fármacos diabetogênicos. (SBD, 2003). O DM gestacional, por sua vez, consiste na diminuição da tolerância à glicose de magnitude variável, diagnosticada pela primeira vez na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Abrange os casos de DM e de tolerância à glicose diminuída detectada na gestação, em paciente sem aumento prévio da glicose. (SBD, 2003). 1.2.2.2 Fatores de risco Algumas condições, quando presentes na história de vida dos indivíduos, predispõemnos a um risco mais elevado de vir a desenvolver o diabetes. De um modo geral, alguns fatores decorrentes do processo desenfreado e irreversível de globalização que vem sofrendo o planeta, têm sido apontados como promotores de risco de uma boa parte das enfermidades crônicas da modernidade tardia, dentre as quais o diabetes: maior taxa de urbanização, 18 aumento da expectativa de vida, industrialização, maior consumo de dietas hipercalóricas e ricas em hidratos de carbono de absorção rápida, deslocamento da população para zonas urbanas, mudança de estilos de vida tradicionais para modernos, inatividade física e obesidade. O Quadro 1 relaciona os fatores de risco que comprometem e favorecem o aparecimento do diabetes mellitus nos indivíduos a eles expostos. FATORES DE RISCO PARA O DIABETES MELLITUS Idade >= 45 anos História familiar de diabetes (pais, filhos, e irmãos) Excesso de peso (imc >= 25 Kg/m2 ) Sedentarismo HDL baixo e triglicérides elevados Hipertensão arterial Doença coronariana Diabetes mellitus gestacional prévio Macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal. Quadro 1: Fatores de risco para o diabetes mellitus Fonte: SBD (2007, elaboração do autor) Custos elevados acarretando ônus evitáveis ao sistema público de saúde, impactos sociais e econômicos na produtividade e na previdência social, por se tratar de enfermidade cujas manifestações crônicas são causas comuns de hospitalização e absenteísmo no trabalho, resvalando, muitas vezes, para a invalidez e a conseqüente incapacitação para o trabalho (doenças oculares, renais e vasculares, só para citar algumas), o diabetes ainda é agravado pelo fato de que, em média, metade dos indivíduos brasileiros portadores de diabetes mellitus desconhece sua condição, e cerca de um quinto dos que a conhecem não realizam qualquer tipo de tratamento, como pode ser verificado nas Figuras 1 e 2. (BRASIL, 2001). 19 Figura 1 - Distribuição dos diabéticos na faixa etária de 30 a 69 anos, segundo o conhecimento prévio da doença Fonte: Brasil, 2001. Figura 2 - Distribuição dos diabéticos previamente conhecidos segundo a conduta terapêutica Fonte: Brasil, 2001. Vários desses fatores, quando não devidamente identificados, controlados ou reduzidos, podem originar complicações, às vezes irreversíveis, na vida dos indivíduos que desta enfermidade padecem. 20 1.2.2.3 Principais complicadores e seus sintomas São muitos e graves os complicadores decorrentes da instalação descontrolada do diabetes, provocando danos os mais variados em diversos órgãos do corpo, como os olhos, coração, vasos sangüíneos, membros inferiores e nervos. A retinopatia diabética, um dos problemas mais sérios decorrentes desta enfermidade, por exemplo, é uma importante causa de cegueira e ocorre como resultado de danos acumulados, ao longo do tempo, nos pequenos vasos sangüíneos que irrigam a retina. Acomete cerca de 2% dos diabéticos após 15 anos de enfermidade, enquanto outros 10% desenvolvem danos visuais graves. (WHO, 2007). A neuropatia diabética, por sua vez, consiste em danos neurológicos resultantes de diabetes, sua principal causa, que afetam mais de 50% dos portadores. Com a Neuropatia, os nervos podem tornar-se incapazes de emitir as mensagens, emití-las na hora errada ou muito lentamente. Os sintomas irão depender e variar conforme o tipo de complicação e quais os nervos afetados. De forma geral, pode-se classificar os sintomas em sensitivos (formigamento, dormência, queimação das pernas e extremidades dos membros superiores e inferiores, dores e desequilíbrio), motores (fraqueza e atrofia muscular) e autonômicos (pele seca, traumatismo dos pelos, pressão baixa, distúrbios digestivos, excesso de transpiração e impotência). Vale ressaltar que esta complicação varia em relação ao tempo de duração do diabetes e ao grau de controle sistêmico. (WHO, 2007). Úlceras e amputações são comuns nos membros inferiores de diabéticos com histórico de complicações neuropáticas, sobretudo quando combinadas com fluxo reduzido de sangue. Insuficiência renal também tem como causa majoritária o diabetes, e um percentual elevado de diabéticos, entre 10 e 20%, chega a morrer por esta complicação. O diabetes também é responsável pelo aumento do risco de doenças cardíacas, que mata 50% da população enferma. (WHO, 2007). Cada um desses complicadores, assim como o próprio aumento da glicemia, manifesta um conjunto de sintomas no indivíduo portador, cuja tendência é o seu agravamento progressivo, vindo a provocar, nos casos mais graves, a cetoacidose diabética (no DM tipo I) e o coma hiperosmolar (no DM tipo II). 21 Dessa forma, os sintomas da elevação da glicemia são: sede excessiva; aumento do volume da urina, aumento do número de micções, surgimento do hábito de urinar à noite, fadiga, fraqueza, tonturas, visão borrada, aumento de apetite e perda de peso. Quanto aos sintomas das complicações, por sua vez, envolvem queixas visuais, cardíacas, circulatórias, digestivas, renais, urinárias, neurológicas, dermatológicas e ortopédicas, entre outras, como se pode verificar no Quadro 2. Sintomas visuais: o paciente com DM descompensado apresenta visão borrada e dificuldade de refração. As complicações a longo prazo envolvem diminuição da acuidade visual e visão turva que podem estar associadas à catarata ou a alterações retinianas denominadas retinopatia diabética que, por sua vez, podem levar ao envolvimento importante da retina causando inclusive descolamento de retina, hemorragia vítrea e cegueira. Sintomas cardíacos: pacientes diabéticos apresentam uma maior prevalência de hipertensão arterial, obesidade e alterações de gorduras, motivos que, se associados ao tabagismo, podem resultar em doença cardíaca, enfermidade que envolve as coronárias, o músculo cardíaco e o sistema de condução dos estímulos elétricos do coração. Como o paciente apresenta também algum grau de alteração dos nervos do coração, as alterações cardíacas podem não provocar nenhum sintoma, sendo descobertas apenas na presença de sintomas mais graves como o infarto do miocárdio, a insuficiência cardíaca e as arritmias. Sintomas circulatórios: os fatores que se associam a outras complicações tornam mais freqüentes as alterações circulatórias que se manifestam por arteriosclerose de diversos vasos sangüíneos. São freqüentes as complicações que obstruem vasos importantes como as carótidas, a aorta, as artérias ilíacas, e diversas outras de extremidades, alterações particularmente importantes nos membros inferiores (pernas e pés), levando a um conjunto de alterações que compõem o "pé diabético". Este envolve, além das alterações circulatórias, os nervos periféricos (neuropatia periférica), infecções fúngicas e bacterianas e úlceras de pressão, que podem levar à amputação de membros inferiores. Sintomas digestivos: pacientes diabéticos podem apresentar comprometimento da inervação do tubo digestivo, com diminuição de sua movimentação, principalmente em nível de estômago e intestino grosso. Estas alterações podem provocar sintomas de distensão abdominal e vômitos com resíduos alimentares e diarréia. A diarréia é caracteristicamente noturna, e ocorre sem dor abdominal significativa, freqüentemente associada com incapacidade para reter as fezes (incontinência fecal). Sintomas renais: o envolvimento e comprometimento dos rins no paciente diabético evolui lentamente e sem provocar sintomas, que quando ocorrem, em geral, significam uma perda relevante da função renal: inchume nos pés (edema de membros inferiores), aumento da pressão arterial, anemia e perda de proteínas pela urina (proteinúria). 22 Sintomas urinários: pacientes diabéticos podem apresentar dificuldade para esvaziamento da bexiga em decorrência da perda de sua inervação (bexiga neurogênica). Essa alteração pode provocar perda de função renal e funcionar como fator de manutenção de infecção urinária. No homem, essa alteração pode se associar com dificuldades de ereção e impotência sexual, além de piorar sintomas relacionados com aumento de volume da próstata. Sintomas neurológicos: o envolvimento de nervos no paciente diabético pode provocar neurites agudas (paralisias) nos nervos da face, dos olhos e das extremidades, e crônicas, que afetam os nervos dos membros superiores e inferiores, causando perda progressiva da sensibilidade vibratória, dolorosa, ao calor e ao toque. Essas alterações são o principal fator para o surgimento de modificações na posição articular e de pele na planta dos pés, podendo levar à formação de úlceras ("mal perfurante plantar"). Os sinais mais característicos da presença de neuropatia são a perda de sensibilidade em bota e luva, o surgimento de deformidades como a perda do arco plantar e as "mãos em prece" e as queixas de formigamentos e alternância de resfriamento e calorões nos pés e pernas, principalmente à noite. Sintomas dermatológicos: pacientes diabéticos apresentam sensibilidade maior para infecções fúngicas de pele (tinha corporis, intertrigo) e de unhas (onicomicose). Nas regiões afetadas por neuropatia, ocorrem formações de placas de pele engrossada denominadas hiperceratoses, manifestação inicial do mal perfurante plantar. Sintomas ortopédicos: A perda de sensibilidade nas extremidades leva a uma série de deformidades como os pés planos, os dedos em garra, e a degeneração das articulações dos tornozelos ou joelhos ("Junta de Charcot"). Quadro 2: Sintomas das complicações crônicas do diabetes mellitus Fonte: Czepielewski 2001 (elaboração do autor). 1.2.2.4 Tratamento De acordo com o Consenso Médico sobre Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2003), são estratégias adotadas no âmbito do tratamento do DM a educação alimentar, de fundamental importância posto que o controle metabólico adequado e eficaz passa, necessariamente, pela adoção de uma alimentação saudável, sem as restrições absurdas do passado que a faziam alvo de sistemático descumprimento por quem a ela deveria se submeter, mas objetivando o controle metabólico e a adequação nutricional, devendo os portadores, por conseguinte, adotar em seu dia-a-dia a mesma alimentação saudável e equilibrada prescrita para todos os demais indivíduos; as alterações do estilo de vida, compreendendo abandono do fumo, aumento da atividade física e reorganização dos hábitos alimentares; e, se necessário, uso de medicamentos, como a insulina, entre outros. O monitoramento dos níveis glicêmicos é fundamental para a manutenção da saúde. 23 Por se tratar de uma doença evolutiva, decorrente ou de resistência insulínica ou de sua deficiente produção, requer um tratamento dinâmico e adaptado á doença, podendo sofrer alterações sempre que não forem atingidos os níveis desejados de controle glicêmico. Além do mais, deve ser individualizado, respeitados a idade do paciente; a presença de outras doenças; a capacidade de percepção da hipoglicemia e de hipotensão; o estado mental do paciente; o uso de outros medicamentos; e a dependência de álcool ou drogas. 1.3 Diabetes mellitus: a internação em números e procedimentos Indubitavelmente, o diabetes é uma doença em franca expansão, que atinge, indiscriminadamente homens e mulheres e aumenta com a idade, fato que, diante do envelhecimento sistemático e progressivo que vem reconfigurando a sociedade brasileira, tende a se agravar de modo considerável na atualidade. Que o diabetes eleva sensivelmente os índices de morbidade e mortalidade e ocupa um lugar preocupante de quarta causa de morte no Brasil, repercutindo em perda de produtividade e de qualidade de vida de portadores e familiares, e que quando mal controlado representa encargos econômicos para estes e para a sociedade como um todo, o instituto que verdadeiramente suporta os ônus infligidos por esta enfermidade, também é fato sobejamente conhecido no meio da saúde. E que os ônus que acarreta para o Sistema Único de Saúde – SUS por força das sérias complicações que decorrem de sua evolução descontrolada, em sua maioria, evitáveis, redutíveis ou retardáveis, poderiam, se direcionados para a educação do portador e a automonitoração de sua enfermidade, implicar economia considerável em assistência médicohospitalar, é entendimento comum entre todos os que se preocupam com a saúde. As doenças crônicas, categoria a que pertence o diabetes mellitus, consomem, entre gastos ambulatoriais e hospitalares, cerca de 70% do total de todos os gastos do país, informações relativas ao ano de 2002, afirmativa passível de ser constatada por meio da Figura 3. 24 A SITUAÇÃO ECONÔMICA: OS GASTOS COM DOENÇAS CRÔNICAS NO SUS - 2002 NATUREZA DO GASTO VALOR EM R$ BILHÕES PORCENTUAL GASTO PER CAPITA (R$) GASTO AMBULATORIAL 3,824 35,0 22,20 GASTO HOSPITALAR 3,738 34,2 21,7 TOTAL DE GASTOS EM DOENÇAS CRÔNICAS 7,562 69,1 44,0 TOTAL DE GASTOS AMBULATORIAIS E HOSPILATARES 10,938 100,0 63,6 FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE (2005) Figura 3 – Gastos com doenças crônicas no SUS – 2002. Fonte: Brasil, 2005 Desse percentual, quase R$ 40 milhões ocorrem em decorrência de internações hospitalares de diabéticos, de acordo com dados do Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde – SIH/SUS do ano de 2000, custos relacionados à alta taxa de permanência hospitalar do diabético e também à severidade das complicações que, muitas vezes, demandam procedimentos de alta complexidade. Importa destacar que é extremamente comum ao quadro da doença estarem associados problemas cardíacos e circulatórios, hipertensão e obesidade, como agravantes. Assim, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), mais de 27% do total de óbitos no Brasil se deveram a problemas circulatórios, motivo de 15,2% das internações realizadas no SUS na faixa etária de 30 a 69 anos, sendo responsáveis também por 40% das aposentadorias precoces (Figura 4). Figura 4 - Internações por Diabetes mellitus e hipertensão essencial Brasil - 1995 a 2000 Fonte: Brasil, 2001 25 1.4 Formas de prevenção da enfermidade O quadro preocupa as nações do mundo inteiro, que se debruçam em busca de alternativas que possam, ao mesmo tempo, reduzir os custos e melhorar a qualidade de vida dos portadores de diabetes. Nesse sentido, o Diabetes Treatment Center of América – DTCA anunciou o desenvolvimento de novos procedimentos para melhorar o atendimento a diabéticos hospitalizados, aprovados em uma conferência internacional que reuniu mais de cem médicos especializados na área de diabetes, consistindo, dessa forma, no primeiro passo significativo rumo ao atingimento dos desafios únicos na manutenção da saúde, que os portadores de diabetes enfrentam ao ser hospitalizados. Esses desafios dizem respeito, sobretudo, ao controle deficiente do açúcar no sangue e ao desbalanceamento de fluidos e eletrólitos, só para citar alguns dos problemas que afetam diretamente a capacidade do paciente de curar-se e responder ao tratamento. Tal situação acarreta, por conseguinte, um maior tempo de permanência no hospital, excedente, na maioria das vezes, em 30% a 40%, do tempo de internação dos pacientes sem diabetes. Os procedimentos recém anunciados, destinados a assegurar o funcionamento adequado dos sistemas apropriados para que o paciente se recupere e tenha alta no menor tempo possível, incluem protocolos identificadores e avaliadores de pacientes com diabetes que alcançam um ótimo controle do açúcar no sangue, avaliam suas necessidades nutricionais e desenvolvem um plano de educação e cuidados com a saúde para esses pacientes, internados ou não. Assim, ao invés do costumeiro foco no determinante de hospitalização do indivíduo, os novos procedimentos se voltam para o reconhecimento das atitudes deflagradas pelos diabéticos em sua rotina, que favorecem os melhores indicadores de controle glicêmico, e sua posterior difusão, passo indispensável na trajetória de administração efetiva do paciente internado com diabetes que, juntamente com a melhoria do controle metabólico e conseqüente minimização das complicações que costumam envolver esta enfermidade, culminarão no sucesso de seu tratamento, com uma expressiva redução de custos. Tudo isso só funciona porque o diabetes tem tratamento e pode ser controlado, sendo grandes as evidências contemporâneas de que a manutenção da glicemia normal, ou próximo 26 do normal, leva ao desaparecimento dos sintomas e previne complicações. Assim, a qualidade de vida da pessoa é restabelecida e sua produtividade no trabalho é normal. A cura está sendo perseguida por meio de um diversificado número de pesquisas com resultados preliminares promissores. Como ainda são pesquisas, necessitam, dessa forma, de mais tempo para comprovação dos resultados e de segurança, não estando aprovadas para a indicação clínica. No entanto, uma delas, de mais de quinze anos com cerca de 5.200 pacientes, encetada por cientistas ingleses acerca do tratamento por via oral do diabetes tipo 2 e encerrada por volta de 2001, testou todas as opções de hipoglicemiantes e antidiabéticos orais e os seus efeitos no organismo, concluindo que todos os medicamentos existentes no mercado têm efeitos benéficos e contribuem positivamente para a redução expressiva do número de complicações. (PORTAL UNIMEDS, 2001). Em condições especiais, alguns pacientes podem ser submetidos a transplantes de pâncreas ou receberem implantes de células betas. Podem, também, se submeter a tratamentos mais agressivos, como as cirurgias bariátricas para a reversão da obesidade mórbida. Nestas condições, são obrigados a usar drogas imunossupressoras para o resto de suas vidas, convivendo com os benefícios e os ônus destas terapêuticas. Há que se considerar a existência de medidas que envolvem a adoção ou não de medicamentos. As medidas não medicamentosas se fazem representar por um plano alimentar, um plano de atividade física e um plano de educação com informações sobre saúde e diabetes, todos eles individualizados. Se, entretanto, após estas medidas, o controle adequado do diabetes não foi obtido, estão indicadas as medidas medicamentosas como os comprimidos orais e a insulina. Do ponto de vista da prevenção, o Brasil desenvolve o Programa de Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, por meio do Ministério da Saúde, criado em 2001, no bojo do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes, que ataca profundamente o problema ao estabelecer metas e diretrizes para ampliar ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle dessas doenças, a partir da reorganização do trabalho de atenção à saúde das cerca de 40 mil unidades da rede básica dos Serviços de Saúde/Sistema Único de Saúde - SUS. 27 1.5 Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus e a Assistência Farmacêutica Marco na história da saúde no país, foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde, em conjunto com sociedades científicas, secretários de saúde e associações de portadores, e implantado em 2000, com o objetivo de estabelecer as diretrizes e metas para essa reorganização no Sistema Único de Saúde – SUS. Surgiu como uma estratégia voltada para o aumento da prevenção, diagnóstico, tratamento e controle da hipertensão e diabetes através da reorganização da rede básica de serviços de saúde do Sistema Único de Saúde – SUS, o Programa de Saúde da Família – PSF, proporcionando-lhe resolubilidade e qualidade no atendimento. Um de seus principais objetivos é a redução do número de internações e da procura aos pronto-atendimentos, já que o ideal é que esses portadores sejam primeiramente atendidos em nível de atenção básica, do tratamento das complicações, das aposentadorias precoces e da mortalidade por doenças cardiovasculares, dentre outros. Nesse sentido, destinou-se a investir na atualização dos profissionais da rede básica, oferecendo a garantia do diagnóstico e proporcionando a vinculação do paciente às unidades de saúde para tratamento e acompanhamento, promovendo a reestruturação e a ampliação do atendimento resolutivo e de qualidade para os portadores. (BRASIL, 2001). A pactuação solidária entre União, estados e municípios, com o apoio e a participação das sociedades científicas e das entidades de portadores dessas patologias é um passo fundamental e indispensável para a consecução dos objetivos propostos, e se desenvolve por meio de etapas, cuja descrição contempla os compromissos institucionais assumidos para sua operacionalização em todos os municípios brasileiros. As etapas mobilizadoras são fundamentais para criar o vínculo entre os portadores desses agravos e as equipes de atenção básica, nível do sistema com capacidade de tratar e acompanhar mais de 65% dos casos detectados. (BRASIL, 2001). São quatro as etapas previstas por este Plano que envolveu, em sua confecção, a parceria das Sociedades Brasileiras de Cardiologia, de Nefrologia, de Hipertensão e de Diabetes, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, Conselhos Nacionais de Secretários Estaduais e de Secretários Municipais de Saúde, Federação Nacional de Portadores de Hipertensão e de Diabetes: a) capacitação de multiplicadores para atualização de profissionais 28 da rede básica na atenção à HA e ao DM (processo de educação permanente e autosustentável para os profissionais de saúde das localidades pactuadas); b) campanha de informação e de identificação de casos suspeitos de HA e DM e Promoção de hábitos saudáveis de vida (efetivada pela campanha nacional de 6/03 a 07/04/2001, passo inicial para o processo de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus); c) confirmação diagnóstica e início da terapêutica (vinculação dos casos suspeitos de DM e HÁ às unidades básicas de saúde ou às equipes do Programa Saúde da Família, que solicitarão os exames necessários para confirmação diagnóstica e início do tratamento, quando necessário); e d) cadastramento, vinculação e acompanhamento dos pacientes portadores de HA e DM às Unidades Básicas de Saúde (casos confirmados serão cadastrados e vinculados às unidades básicas de saúde e às equipes do Programa Saúde da Família e terão acompanhamento sistemático, clínico e laboratorial. Aqueles que necessitarem de atendimento especializado ou hospitalar serão encaminhados para os demais níveis de complexidade do sistema de saúde no próprio território ou em municípios vizinhos, segundo a negociação explicitada na Programação Pactuada Integrada – PPT de cada estado. Esse cadastro possibilitará ao gestor federal, estadual ou municipal o planejamento para o atendimento desse público). (BRASIL, 2001). Com relação à Assistência Farmacêutica, a Política Nacional de Medicamentos aprovada por meio da Portaria nº 3916, de 15/11/98, estabelece as diretrizes, prioridades e responsabilidades do Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, parte integrante do Plano Nacional de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, para os gestores federal, estaduais e municipais, do Sistema Único de Saúde - SUS. Importante mencionar que a assistência farmacêutica no Brasil, nas últimas décadas, se confundiu com a existência da Central de Medicamentos - CEME e as atividades por ela desenvolvidas, num modelo centralizado de gestão, onde o nível central estabelecia as diretrizes e participava decididamente das suas execuções. Os estados e municípios brasileiros eram excluídos praticamente de todo o processo decisório. Ao longo dos seus 26 anos de existência a CEME foi o principal ator das ações relacionadas ao medicamento e à assistência farmacêutica no país. Os desperdícios de medicamentos, os recursos financeiros insuficientes e o pouco conhecimento acerca das doenças prevalentes no país contribuíram para a ineficiência do Programa de Assistência Farmacêutica desse período. 29 Pensou-se, então, na criação de uma Farmácia Básica – CEME, como forma de racionalizar a disponibilidade de medicamentos ao atendimento primário. O programa, com duração de dois anos, encerrou suas atividades em 1988, sobretudo por força de inúmeros problemas, decorrentes da centralização dos processos de programação e aquisição que não correspondiam à realidade da demanda dos serviços de saúde dos estados e municípios. A descentralização do SUS, a desativação da CEME por meio do Decreto nº. 2283 de 24/07/97, e a transição que marcou os anos de 1997 e 1998 no Ministério da Saúde figuraram como o pano de fundo adequado para o processo de elaboração e construção de uma nova Política Nacional de Medicamentos – PNM para o Brasil, de modo a acompanhar a reforma do setor saúde. Este processo realizado de forma participativa e democrática, resultou na edição da Portaria GM n.º 3916, de 30/10/98. Esta Política teve como base os princípios e diretrizes do SUS, integrando os esforços voltados à consolidação do mesmo, contribuindo para o desenvolvimento social do país, orientando a execução das ações e metas fixadas para o Ministério da Saúde. Vale ressaltar que uma das diretrizes aprovadas na Política Nacional de Medicamentos – PNM é a Reorientação da Assistência Farmacêutica, de modo que o modelo adotado não se restrinja apenas à aquisição e à distribuição de medicamentos, preocupação concernente, tendo em vista que embora o mercado brasileiro de medicamentos esteja entre os dez maiores do mundo, estima-se que cerca de 50 milhões de brasileiros não dispõem dos meios para fazer uso dos medicamentos essenciais à sua saúde. (BRASIL, 2001). A Portaria Conjunta Nº 02, de 05 de março de 2002, em seus arts. 1º e 2º, disponibiliza, no âmbito da atenção básica, um instrumento para o cadastro e acompanhamento dos portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, o Sishiperdia, para utilização pelos municípios, estabelecendo, ao mesmo tempo, a competência da Secretaria de Políticas de Saúde, para acompanhamento das informações que alimentarão o referido sistema, a partir do instrumento disponibilizado em articulação com o Datasus, cabendo-lhe, ainda, o estabelecimento de rotinas que garantam o fornecimento contínuo dos medicamentos padronizados a todos os pacientes cadastrados no Sishiperdia. (BRASIL, 2001). Findas as reflexões teóricas acerca das diversas questões que envolvem o diabetes mellitus, passa-se, por oportuno, a apresentar os dados da pesquisa e a análise dos respectivos resultados obtidos. 30 2 OBJETIVOS Objetivo Geral: Investigar o controle do diabetes mellitus em pacientes com internação anterior por complicação do diabetes no município de Quixelô, Ceará, Objetivos Específicos: 1. Discutir indicadores relativos às ações de controle do diabetes mellitus desenvolvidas no município de Quixelô. 2. Caracterizar o controle de fatores de risco por parte de pacientes com internação prévia por complicação da doença. 3. Identificar os medicamentos utilizados para o tratamento do diabetes mellitus. 31 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo sobre o controle do diabetes mellitus em pacientes com eventos anteriores de internação por complicação do diabetes, residentes no município de Quixelô. A opção recaiu por um estudo exploratório. Marconi e Lakatos (2003, p. 188) interpretam que as pesquisas exploratórias têm como objetivo “[...] a formulação de questões ou de um problema com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa”. Já a pesquisa descritiva tem como principal finalidade o “[...] delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos, a avaliação de programas, ou o isolamento de variáveis principais ou chave”. Inicialmente buscou-se caracterizar a ocorrência de diabetes no município a partir de indicadores do SIAB (cadastro de pacientes) e do Pacto da Atenção básica 2006 (acessados a partir do site do DATASUS), relacionados com o controle do diabetes. Em um segundo momento foram entrevistados pacientes da amostra. Os indicadores utilizados foram os seguintes: Percentual de pacientes acompanhados: revela o percentual de pacientes acompanhados em relação aos pacientes cadastrados no Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB. É calculado dividindo-se o número de pacientes cadastrados pelo número de pacientes acompanhados, multiplicado por 100. Proporção de Internações por complicações do Diabetes Mellitus: avalia a contribuição das internações por complicações de diabetes mellitus para o total das internações hospitalares, em determinado local e período. É calculado pela divisão do número de internações por complicações do diabetes mellitus em determinado local e período dividido pelo total das hospitalizações (exceto partos) no mesmo local e período, multiplicado por 100. O indicador objetiva avaliar, de forma indireta, a disponibilidade de ações básicas de prevenção e controle (diagnóstico precoce, tratamento e educação para a saúde). Espera-se uma diminuição no número de internações nos municípios que priorizam ações de controle. O indicador apresenta como limitação a contagem cumulativa de internações de um mesmo paciente, pela mesma causa., durante o período analisado. Por outro lado, freqüentemente o diabetes mellitus não é a causa principal da internação, mas sim uma de 32 suas complicações. O aumento proporcional de internações por determinado grupo de causa pode decorrer apenas da redução das ocorrências em outros grupos. Proporção de portadores de diabetes mellitus cadastrados: revela a proporção de pessoas portadoras de Diabetes Mellitus que estão cadastradas nas Unidades de Saúde em relação aos diabéticos estimados. É calculado dividindo-se o número de portadores de Diabetes Mellitus cadastrados no HiperDia pelo nº de portadores de Diabetes Mellitus estimados no município, multiplicado por 100. O número de diabéticos estimados no município corresponde a 11% da população maior de 40 anos, segundo dados de pesquisa de prevalência de 1986 (Estudos Populacionais Brasileiros) e usados como parâmetro pela Política Nacional de Atenção Integral à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus desde 2001. Amostra Conforme o DATASUS, Pacto de Atenção Básica, ocorreram 25 internações entre 2001 e 2006, por complicações de diabetes mellitus no município. Não foi possível determinar o número de exato de pacientes internados devido a possibilidade de um mesmo paciente haver sido internado várias vezes no período. Essa possibilidade foi percebida no trabalho de campo, quando se confirmou o ocorrência de várias internações para o mesmo paciente. A secretaria de saúde do município forneceu uma relação com nomes e endereços de oito pacientes, dos quais constatou-se o óbito de cinco deles. Outro paciente da relação não foi localizado. Dessa forma foi possível entrevistar apenas dois pacientes. O pequeno número de entrevistas é considerado como uma das limitações do estudo. Apesar dessa limitação os resultados obtidos são considerados relevantes pelo pesquisador tendo em vista sugerirem a necessidade urgente de reorganização das ações de controle de diabetes no município. Coleta de Dados:: Os dados de cadastro e acompanhamento de pacientes foram obtidos da base municipal do Sistema de Informação da Atenção Básica –SIAB; Os indicadores do Pacto da Atenção Básica foram colhidos do site do DATASUS. Os dados relacionados aos pacientes foram colhidos em entrevista na residência dos mesmos. Como instrumento de coleta de dados foi elaborado um formulário para registrar os 33 dados sobre o paciente (nome, idade, sexo,) hábitos alimentares, evolução da doença, medicamentos usados e freqüência de consultas. Alguns dados (datas de consulta, peso, altura, glicemia, pressão arterial) foram transcritos do cartão de controle individual do paciente. A glicemia foi verificada pelo pesquisador no momento da entrevista, com glicosímetro digital, com fita. 3.1 Caracterização do município de Quixelô Pertencente à Microrregião Iguatu, Quixelô foi criado em 1985 e ocupa uma área geográfica de 559,76 km2. Sua população residente, em 2000, é de 15.596, em sua maioria homens (51,06%), 73,29% dos quais se localizam na área rural. (CEARÁ, 2005). Com relação à saúde, o município conta com dez unidades públicas de saúde, sendo 1 posto de saúde, 1 ambulatório, 1 hospital e 7 unidades de saúde da família. Existem 24 leitos municipais. Por outro lado, o município conta com 104 profissionais de saúde, distribuídos entre médicos (19), dentistas (1), enfermeiros (8), outros profissionais de saúde/nível superior (5), agentes comunitários de saúde (43) e outros profissionais de saúde/nível médio (28). Atualmente, 100% de sua área geográfica é coberta pelo Programa Saúde da Família – PSF. Os portadores de diabetes no município são referenciados e contra-referenciados nos casos em que houver necessidade de consulta especializada. O município conta com uma Central de Abastecimento Farmacêutico – CAF, informatizada. Os medicamentos fornecidos pelo governo municipal para o tratamento do diabetes mellitus, anteriormente financiados por meio da Programação Pactuada e Integrada – PPI entre os três níveis de governo, passaram a ser custeados pelo componente estratégico na razão de R$ 2,10 por habitante/ano. Eles estão listados nos anexos 1 e 2 (elenco de 2007). Um perfil mais detalhado do município de Quixelô pode ser visualizado no anexo 3. 34 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1 – Distribuição do número de pacientes com diabetes mellitus cadastrados e acompanhados no período de 1999 a 2006. Quixelô. Ano Pacientes Pacientes % de pacientes cadastrados acompanhados acompanhados 1999 22 12 54% 2000 22 14 63% 2001 113 101 89% 2002 127 123 96% 2003 113 80 71% 2004 145 110 76% 2005 153 130 85% 2006 179 177 99% Fonte: SIAB, 2007 (elaboração do autor) A tabela 1 apresenta o número de pacientes cadastrados e acompanhados, conforme a base municipal do SIAB. Observa-se aumento considerável do número de pacientes cadastrados entre os anos de 2000 a 2001, com um salto de 22 para 113 pacientes. A melhoria no número de pacientes cadastrados e acompanhados é uma condição importante que pode repercutir na melhoria do controle do diabetes no município, pois pode subsidiar um planejamento mais adequado de ações que facilitem o acesso ao serviço, aos medicamentos e a atividades educativas de uma maneira geral.. Mas esta relação não é automática e depende do nível prioridade e de organização do programa municipal. Uma melhoria da qualidade do acompanhamento dos pacientes redunda no melhor controle de diabetes e na redução do número de internações por complicações naturais da doença.. 35 Tabela 2 – Proporção de internações por complicações do diabetes mellitus em Quixelô e no Estado do Ceará, no período de 2001 a 2006. Local 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Quixelô 0,1 0,3 0,1 0,6 0,5 1,5 Ceará 0,9 1,0 0,9 0,9 0,9 1,0 Fonte: Pacto da Atenção Básica 2006. A tabela 2 apresenta a proporção de internações por complicações do diabetes mellitus, de residentes em Quixelô, de 2001 a 2006, comparando com o indicador para o Estado do Ceará. Este indicador avalia a contribuição das internações por complicações do diabetes mellitus para o total das internações hospitalares, exceto partos, no âmbito do SUS. O indicador avalia, de forma indireta, a disponibilidade de ações básicas de prevenção e controle (diagnóstico precoce, tratamento e educação para a saúde). Observa-se que os valores desse indicador anotados para o município de Quixelô foram melhores que os valores para o Estado do Ceará como um todo, com exceção do ano de 2006. Neste ano ocorreram nove internações de pacientes residentes no município, sugerindo uma piora nas ações de controle no âmbito municipal. Não foi possível identificar se este valor foi influenciado pela contagem cumulativa de internações de um mesmo paciente. Tabela 3 – Proporção de portadores de diabetes mellitus cadastrados no Sis Hiperdia em Quixelô e no Ceará. Local 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Quixelô - 10,3 10,7 10,8 11,2 11,2 Ceará - 9,8 11,5 11,9 12,5 13,1 Fonte: Pacto da Atenção Básica 2006. A tabela 3 apresenta a proporção de portadores de diabetes mellitus cadastrados nas unidades de saúde em relação aos diabéticos estimados. A base de dados é o HiperDia (Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus). O número de diabéticos estimados no município corresponde a 11% da 36 população maior de 40 anos, segundo dados de pesquisa de prevalência de 1986 (Estudos Populacionais Brasileiros) e usados como parâmetro pela Política Nacional de Atenção Integral à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus desde de 2001. O resultado mostra que o Sis-HiperDia é um programa pouco utilizado tanto em Quixelô como no Estado do Ceará, com uma tendência de crescimento um pouco maior para o estado do Ceará. A pouca utilização desse sistema priva, tanto o município como o estado, de uma ferramenta importante desenvolvida para facilitar o gerenciamento do programa. Tabela 4 – Tempo médio de internação de pacientes para determinados grupos de atendimento no Hospital municipal de Quixelô. Grupo de Atendimento Tempo médio de Internação, em dias Diabetes 6 dias Cirurgia 4 dias Obstetrícia 3 dias Pediatria 6 dias Fonte: Secretaria de Saúde de Quixelô, 2003 (elaboração do autor) A Tabela 4, por sua vez, mostra que o tempo médio de internação para o diabetes no hospital municipal só é comparável com o tempo médio de internação em pediatria, conforme dados coletados para o de setembro a outubro de 2002. Considera-se que o internamento por diabetes é, até certo ponto, evitável., a depender do nível de organização do programa. A seguir são apresentadas as informações sobre os dois pacientes entrevistados: 37 Paciente 01 IDENTIFICAÇÃO Paciente do sexo masculino. Nascido em 07/03/53 (54 anos). Diabetes tipo I, com hipertensão associada, sem obesidade e sedentarismo. INTERNAÇÃO POR COMPLICAÇÕES DO DIABETES Paciente com 3 internações, a última delas em 10/04/2006 HÁBITOS ALIMENTARES Não faz dieta; não usa adoçante; usa açúcar ACOMPANHAMENTO PELO SERVIÇO (conforme ficha de acompanhamento individual) Consultas em setembro de 2002; janeiro, fevereiro e junho de 2003; junho e julho de 2004 e março e novembro de 2005. USO DE MEDICAMENTOS Glibenclamida 5mg, comp. Disponível no momento da entrevista e de uso constante GLICEMIA NO MOMENTO DA ENTREVISTA: 327 mg/gl Paciente 02 IDENTIFICAÇÃO Paciente do sexo masculino. Nascido em 10/03/35 (72 anos). Diabetes tipo I, com hipertensão associada, sem obesidade e sedentarismo. INTERNAÇÃO POR COMPLICAÇÕES DO DIABETES Paciente com 2 internações, a última delas em 01/12/05 HÁBITOS ALIMENTARES Faz dieta eventualmente; não usa adoçante; Usa açúcar ACOMPANHAMENTO PELO SERVIÇO (conforme ficha de acompanhamento individual) Outubro de 2006. USO DE MEDICAMENTOS Metformina 850mg, Disponível no momento da entrevista e com relato de uso constante. Propranolol 40mg comp. Disponível no momento da entrevista e com relato de uso constante GLICEMIA NO MOMENTO DA ENTREVISTA: 144 gr/gl Observa-se que há uma repetição de internações para os dois pacientes entrevistados, sugerindo a necessidade de instituir um melhor acompanhamento para controle do diabetes desses pacientes. Parece provável que os pacientes com internação anterior têm maiores riscos de novas internações. Apesar do tamanho pequeno da amostra, é razoável supor que ações de controle específicas direcionadas para pacientes com história de internamento por complicação repercutiriam de maneira positiva nas metas pactuadas anualmente no Pacto da Atenção Básica. 38 Por outro lado, os dois pacientes não usam adoçante e referem o uso habitual de açúcar. Um paciente não faz qualquer dieta, enquanto outro faz a dieta apenas eventualmente. Chama atenção o pouco acesso dos pacientes a consulta médica. Ambos residem em área rural e alegam dificuldades para deslocar-se ao posto de apoio do Programa Saúde da Família. Por isso, recebem os medicamentos através do Agente Comunitário de Saúde da sua área. Os medicamentos citados se encontravam disponíveis nas residências e compõem o elenco do componente estratégico de financiamento da Assistência Farmacêutica. Observouse que um dos pacientes, mesmo com anotações no cartão de controle individual indicando níveis pressóricos elevados, fazia uso apenas de medicação para diabetes. É interessante observar que os medicamentos em questão encontram-se disponíveis no município para dispensação aos pacientes. 39 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O estudo revelou que o diabetes mellitus é um dos mais importantes problemas de saúde na atualidade, tanto em número de pessoas afetadas, incapacitações, mortalidade prematura, quanto em relação aos custos envolvidos em seu controle e no tratamento de suas complicações. Demonstrou, ao mesmo tempo, que há um número considerável de fatores de risco que podem ser controlados, como o sedentarismo, a obesidade e o autoconhecimento e autocontrole da enfermidade, só para citar alguns. Viu-se, ainda, que, como parte integrante do sistema nacional de saúde, o município deve intervir diretamente sobre os fatores sobre os quais tem poder de governabilidade, para minimizar, tanto quanto possível, os efeitos danosos dessa enfermidade sobre o seu portador, familiares e sociedade em geral. Observou-se que o município de Quixelô, para a proporção de internações por complicações do diabetes mellitus, apresentou valores melhores que o estado do Ceará na série histórica anlisada, com exceção do ano de 2006. Neste ano ocorreram nove internações de pacientes residentes no município, sugerindo uma piora nas ações de controle no âmbito municipal, ou subnotificações em anos anteriores. Em relação à proporção de portadores de diabetes mellitus cadastrados no Hiperdia, o resultado mostra que o Sis-HiperDia é um programa pouco utilizado tanto em Quixelô como no Estado do Ceará. Perdendo-se dessa forma uma ferramenta que facilitaria o gerenciamento das ações de controle. Apesar da amostra pequena, as entrevistas parecem apontar para uma contradição entre os dados de cadastramento e acompanhamento diabéticos do SIAB apresentados na tabela 1 e a situação dos pacientes que concederam a entrevista. Observou-se uma repetição de internações para o mesmo paciente, sugerindo pacientes com internação anterior têm maiores riscos de novas internações. Também é razoável supor que ações de controle específicas direcionadas para esses pacientes repercutiriam de maneira positiva no indicador e no alcance das metas pactuadas anualmente. 40 Chamou atenção o pouco acesso dos pacientes à consulta médica e a aferição da glicemia. Por outro lado, a dieta adequada é pouco valorizada pelos pacientes; o consumo de açúcar é rotineiro. O aceso aos medicamentos por parte dos pacientes não foi suficiente para o controle do diabetes. Este fato pode estar relacionado tanto a uma inadequação do tratamento medicamentoso como ao uso inadequado. Por outro lado, observa-se o pouco caso com medidas não medicamentosas fundamentais para o controle do diabetes. Os resultados do estudo apontam para algumas recomendações, entre elas a necessidade de realização de estudo mais aprofundado, com uma amostra de pacientes mais significativa. Realizar um esforço para utilização plena do Sis-HiperDia, por tratar-se de uma ferramenta de grande valia para o monitoramento, avaliação e planejamento de ações de curto prazo.. Buscar uma reorganização das ações e serviços com base epidemiológica, envolvendo diagnóstico precoce, tratamento e educação em saúde dos usuários, condições de trabalho e capacitação dos profissionais envolvidos.. Em relação ao Sistema de Saúde, sugere-se a criação de condições adequadas ao desenvolvimento dos trabalhos profissionais, envolvendo a melhoria das condições dos equipamentos das unidades, a provisão de insumos em níveis satisfatórios e a oferta de exames complementares, incluindo os laboratoriais. Recomenda-se também a inserção de atividade de atenção farmacêutica, a implantação de farmácias nas unidades básicas de saúde, assim como a divulgação desse trabalho entre gestores e profissionais de saúde do município de Quixelô. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENGALA LEGAL. Para diabéticos e interessados: depoimentos pessoais, textos educativos e transplantes de pâncreas e ilhotas de langerhans. Página pessoal de Marco Antonio de Queiroz, conhecido também como MAQ, diabético, cego, transplantado renal e do pâncreas. 2007. Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/diabetes.php>. Acesso em: 28 jun. 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: hipertensão arterial e diabetes mellitus. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 102 p.: il. – (Série C. Projetos, Programas e Relatórios; n. 59). CEARÁ. Perfil básico municipal. Quixelô. Fortaleza: CE: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, 2005. CZEPIELEWSKI, Mauro Antônio. Diabetes mellitus (DM). Abc da saúde e prevenção ltda. 2001. Disponível em: <http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?127>. Acesso em: 28 jun. 2007. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. OMS. Prevenção de doenças crônicas: um investimento vital. Organização Mundial da Saúde, 2005. Coordenação editorial. Carlos Wilson de Andrade Filho e Miguel Malo. Editoração da versão em português. Formatos. Disponível em: <http://www.who.int/chp/ chronic_disease_report/part1_port. pdf>. Acesso em: 25 jun. 2007. PORTAL UNIMEDS. Diabetes. Tratamento. 2001. Disponível em: <http://www.unimeds. com.br/sites_especiais/tratamento.htm>. Acesso em: 28 jun. 2007. RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SBD. Primeiros relatos. História do diabetes. Sociedade Brasileira de Diabetes. 2007. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/aprendendo/historia/historiaprimeiros.php>. Acesso em: 15 mar. 2007. 42 ______. Atualização brasileira sobre diabetes. 2006. Sociedade Brasileira de Diabetes. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2005. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/ atualizacaodiabetes2006.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2007. ______. Tudo sobre diabetes. 2003. Sociedade Brasileira de Diabetes. Disponível em: <http:// www.diabetes.org.br/diabetes/index.php>. Acesso em: 25 jun. 2007. ______. Consenso brasileiro sobre diabetes 2002: diagnóstico e classificação do diabetes melito e tratamento do diabetes melito tipo 2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2003. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/ Consenso_atual_2002.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2007. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Diabetes mellitus: cetoacidose. Projeto Diretrizes: iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. 2005. Disponível em: <http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/05-Diabetes-cetoacitose.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2007. WHO. What is diabetes? World Health Organization. 2007. Disponível em: <http://www. who.int/mediacentre/factsheets/fs312/en/>. Acesso em: 15 maio 2007. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookmark, 2001. . 43 ANEXOS Anexo 1 – Elenco de medicamentos selecionados pelo Ministério da Saúde para o Programa de Hipertensão, Diabetes e Asma Secretaria de Saúde do Estado do Ceará Coodenadoria de Apoio ao Desenvolvimento da Atenção à Saúde - CODAS Núcleo de Assistência Farmacêutica - NUASF Elenco de Medicamentos selecionados pelo Ministério da Saúde para o Programa de Hipertensão, Diabetes e Asma Recursos do Ministério da Saúde (RMS) em R$2,10/ Hab/Ano CERES: Município: População Itens 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15.553 Medicamentos Beclometasona Dipropionato 250mcg spray/ 200 doses Beclometasona Dipropionato 50mcg spray/ 200 doses Captopril 25mg comp. Digoxina 0,25mg comp. Glibenclamida 5mg comp. Hidroclorotiazida 25mg comp. Metformina 500mg comp. sulcado Metildopa 250mg comp.. Prednisona 05mg comp. Prednisona 20mg comp. Propanolol 40mg comp. Salbutamol Sulfato 100mcg sray c/ espaç. c/ 200 doses Salbutamol Xarope 0,4% frs.100ml Salbutamol 2mg comp. RMS Apresentação Quixelô 2,10 Preço Unitário Teto Financeiro Anual: Anual 32.661,30 Quantidade Trimestral Preço Anual Trimestral cx c/ 01 24,00 300 75 7.200,000 1.800,000 cx c/ 01 cx c/ 480 cx c/ 24 cx c/ 500 cx c/ 500 cx c/ 500 cx c/ 500 cx c/ 500 cx c/ 500 cx c/ 500 19,00 6,19 0,55 6,00 7,20 20,00 36,50 12,00 28,50 6,55 50 180 800 32 0 0 0 40 64 160 12,5 45 200 8 0 0 0 10 16 40 950,000 1.114,200 440,000 192,000 0,000 0,000 0,000 480,000 1.824,000 1.048,000 237,500 278,550 110,000 48,000 0,000 0,000 0,000 120,000 456,000 262,000 cx c/ 01 cx c/ 50 cx c/ 500 10,40 39,00 15,00 0 0 0 0,000 0,000 0,000 13.248,200 0,000 0,000 0,000 3.312,050 __________________________________________________________ Assinatura do Farmacêutico 0 0 0 Total Geral ____________________________________________________ Visto do Secretário de Saúde Data: ___/___/___ 1 Anexo 2 – Programação pactuada de medicamentos básicos ajustada ao teto financeiro SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO Coordenadoria de apoio ao Desenvolvimento da Atenção à Saúde - CODAS Núcleo de Assistência Farmacêutica - NUASF PROGRAMAÇÃO PACTUADA DE MEDICAMENTOS BÁSICOS AJUSTADA AO TETO FINANCEIRO Contra partida Municipal CERES: 18ª POPULAÇÃO : MUNICÍPIO: Quixelô Estadual Federal 15.570 1,55 1,50 2,00 PROGRAMAÇÃO ANUAL ITEM ESPECIFICAÇÃO PREÇO APRESENTAÇÃO UNITARIO 1 Ácido acetilsalicílico 100mg comp. cx c/ 500 2 Ácido fólico 5mg comp. cx c/ 500 3 Àcido Valproico 500mg cx c/ 50 4 Albendazol 400mg comp. cx c/ 50 5 Albendazol susp. oral 40 mg/ml frs. cxc/01 6 Amitriptilina 25mg comp cx c/ 500 7 Amoxicilina 250mg susp frs.c/ 150ml cx c/ 50 8 Amoxicilina 500mg caps cx c/ 200 9 Benzilpenicilina G.Benzatina 1.200.000UI susp injetável frs/amp. cx c/ 50 10 Benzilpenicilina G.Benzatina 600.000UI susp injetável frs/amp. cx c/ 50 11 Benzilpenicilina G.Proc.+G.Potássica 300.000UI+100.000 UI frs/amp. cx c/ 50 QUANT. TRIMESTRA L QUANT. ANUAL PREÇO ANUAL PREÇO TRIMESTRAL 4,70 80 20 376,00 94,00 8,35 80 20 668,00 167,00 19,95 24 6 478,80 119,70 0 0 0,00 0,00 0,50 2600 650 1.300,00 325,00 10,00 110 28 1.100,00 275,00 100,00 88 22 8.800,00 2.200,00 16,00 244 61 3.904,00 976,00 52,80 0 0 0,00 0,00 38,50 12 3 462,00 115,50 36,00 8 2 288,00 72,00 7,00 2 12 Carbonato de Cálcio 500 mg comp. cx c/ 500 13 Carbonato de Cálcio 600mg + Colicalciferol 200UI cx c/ 500 14 Carbamazepina 200mg comp. cx c/ 500 15 Cefalexina 500mg caps cx c/ 80 16 17 18 Cefalexina susp. Oral 250 mg/5 ml. 60ml frs. Cetoconazol 200 mg/g creme 30g Cetoconazol 200 mg comp. cx c/ 50 cx c/ 100 cx c/ 500 19 Clorpromazina 100mg comp. cx c/ 100 20 Dexametazona 0,1% bisng. 10 g cx c/ 50 21 Diazepam 5mg comp. cx c/ 200 22 Diclofenaco de potássio-50mg comp. cx c/ 500 23 Doxiciclina 100mg comp cx c/ 15 24 Eritromicina 2,5% frs. 60ml cx c/ 50 25 Eritromicina 500mg comp. cx c/ 350 26 Fenitoína 100mg comp. cx c/ 100 27 Fenobarbital 100mg comp. cx c/ 200 28 Fenobarbital 4% frs. cx c/ 01 29 Fenoterol frs c/20ml 5,0mg frs cx. c/ 50 30 Furosemida 40mg comp. cx c/ 500 31 Haloperidol 5mg comp. cx c/ 200 32 Ibuprofeno 300mg cx c/ 100 33 Isossorbida dinitrato 10 mg oral comp. cx c/ 500 34 Levodopa + carbidopa 250mg+25mg comp. cx c/ 200 35 Levonogestrel 0,15mg,etinilestradiol 0,03mg comp. 36 Loratadina 10mg comp. cx c/ 480 37 Loratadina 5mg/ml susp. frasco100ml cx c/ 50 38 Mebendazol 20mg/ml frs c/ 30ml cx c/ 50 39 Metoclopramida 4mg/ml frasco 10ml cx c/ 50 cartela 44,95 0 0 0,00 0,00 150,00 0 0 0,00 0,00 27,50 84 21 2.310,00 577,50 8,80 180 45 1.584,00 396,00 98,00 52 13 5.096,00 1.274,00 100,00 0 0 0,00 0,00 45,00 40 10 1.800,00 450,00 5,80 0 0 0,00 0,00 29,85 72 18 2.149,20 537,30 3,00 260 65 780,00 195,00 8,05 260 65 2.093,00 523,25 1,35 616 154 831,60 207,90 86,00 20 5 1.720,00 430,00 77,00 48 12 3.696,00 924,00 4,10 84 21 344,40 86,10 6,40 64 16 409,60 102,40 1,08 1120 280 1.209,60 302,40 99,00 0 0 0,00 0,00 9,00 36 9 324,00 81,00 3,96 12 3 47,52 11,88 2,99 300 75 897,00 224,25 11,35 0 0 0,00 0,00 31,00 12 3 372,00 93,00 0,630 20100 5.025 12.663,00 3.165,75 24,00 0 0 0,00 0,00 92,50 0 0 0,00 0,00 22,25 0 0 0,00 0,00 16,50 12 3 198,00 49,50 3 40 Metronidazol 250mg comp. cx c/ 500 41 Metronidazol 4% susp. Frs. 100ml cx c/ 50 42 Metronidazol 500mg/geléia bisg. cx c/ 50 43 Miconazol nitrato 2% creme vaginal + aplicador cx c/ 50 44 Nistatina 100.000UI/ml sol. Oral 30ml frs cx c/50 45 Neomicina + bacitracina 0,5% + 250UI/g bisg cx c/ 50 46 Noretisterona 0,35mg comp. cartela 47 cx c/ 28 Omeprazol 20 mg comp. 48 Paracetamol 200 mg/ml frs. 15ml cx c/ 50 49 Paracetamol 500 mg comp. cx c/ 500 50 Permetrina 5% loção frs cxc/01 51 Permetrina 1% shampoo frs cxc/01 52 cx c/ 50 Prednisoloma 3 mg/ml frs. 53 Prometazina 25mg comp. cx c/ 200 54 Ranitidina 150mg comp cx c/ 100 55 Sais para reidratação oral 27,9 g env. cx c/ 100 56 Secnidazol 1g comp. cx c/ 02 57 Sulfametoxazol + trimetoprima 4%+ 0,8% frs. 50ml cx c/ 50 58 Sulfametoxazol + trimetoprima 400mg+80mg comp. cx c/ 300 59 Sulfato ferroso 25mg/ml Fe(II).sol.oral 30 ml frs. cx c/ 50 60 Sulfato ferroso 40mg- fe (II) comp. cx c/ 500 61 62 cx c/ 01 Tiabendazol 5% pomada 45 g bisng. Verapamil 80mg comp. cx c/ 500 TOTAL GERAL Data : / 13,00 40 10 520,00 130,00 42,00 0 0 0,00 0,00 69,50 20 5 1.390,00 347,50 78,50 30 8 2.355,00 588,75 70,00 12 3 840,00 210,00 37,49 108 27 4.048,92 1.012,23 3,85 110 28 423,50 105,88 1,04 500 125 520,00 130,00 20,10 0 0 0,00 0,00 12,75 252 63 3.213,00 803,25 3,05 312 78 951,60 237,90 2,26 308 77 696,08 174,02 0 0 0,00 0,00 6,00 20 5 120,00 30,00 4,62 652 163 3.012,24 753,06 40,70 52 13 2.116,40 529,10 1600 400 1.264,00 316,00 38,50 0 0 0,00 0,00 11,82 32 8 378,24 94,56 20,85 0 0 0,00 0,00 12,10 68 17 822,80 205,70 2,75 20 5 55,00 13,75 27,35 0 0 0,00 0,00 78.628,50 19.657,13 145,50 0,79 / Assinatura do Farmacâutico Responsável Técnico pela Programação Assinatura do Secretario de Saúde Anexo 3 – Perfil básico municipal: Quixelô GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DO PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO (SEPLAN) Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) PERFIL BÁSICO MUNICIPAL QUIXELÔ Fortaleza-CE 2005 1 Apresentação O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) tem a satisfação de divulgar o Perfil Básico do seu município. As informações apresentadas envolvem as principais características geográficas e socioeconômicas. Com este documento, esperamos contribuir para a formação e divulgação de ampla base de dados sobre os municípios cearenses destinados a subsidiar as tomadas de decisões dos gestores públicos e dos cidadãos de um modo geral. Na oportunidade, externamos nossos agradecimentos a todos quantos nos repassaram informações, e enfatizamos o empenho da equipe do IPECE, na concretização deste trabalho. 2 Marcos Costa Holanda 3 4 5 6 7 8 9 10 Anexo 4 – Formulário de Pesquisa Curso de Especialização em Assistência Farmacêutica Formulário de Pesquisa Identificação: Nome: ______________________________ Sexo: ___ DN: ___/___/___ Idade:____ Nº internações: ( ) Data Última internação __/__/__ Nº dias ( ) Motivo:___________________________________________________________________ Clínica: Tipo de Diabetes ( )I Hipertensão Associada: ( Obesidade ( ) sim ( ) II ) sim ( ) outro ( ) não ( ) não Sedentarismo ( ) sim ( ) não Hábitos Faz dieta: ( ) sim ( ) não ( ) eventualmente Usa adoçant ( ) sim ( ) não ( ) eventualmente Usa açúcar ( ) não ( ) eventualmente ( ) sim Complicações ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Avaliação do Controle (Dados obtidos Cartão de Controle de Pressão Arterial e Glicemia) - Ano 2007 Datas das Consultas P.A Glicemia Peso Altura IMC 11 Uso de Medicamentos: Medicamentos prescritos Insulina NPH Insulina Regular Metformina 500mg comp Glibenclamida comp Captopril 25mg comp Digoxina 0,25mg comp. Hidroclorotiazida 25mg comp. Isorssobida 10mg comp Isorssobida 05mg sublingual Metildopa 250mg comp Propranolol 40mg comp. Verapamil 80mg comp. X Disponível na Residência? (S/N) Uso constante? (S/N) OBS 12