O Gênero Aphelandra (Acanthaceae) na

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III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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O Gênero Aphelandra (Acanthaceae) na Estação Biológica de Santa Lúcia, Santa
Teresa, ES
A. Indriunas1 & E. M. Aoyama1,*
1
Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito
Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, São Mateus, ES
*Email para correspondência: [email protected]
Introdução
O gênero Aphelandra R. Br. (Acanthaceae) possui espécies de grande interesse ornamental
devido às suas brácteas e flores coloridas e vistosas e folhas algumas vezes
variegadas(Lorenzi&Souza,2008). As características florais, principalmente o formato e
comprimento da corola, correspondem à síndrome de ornitofilia (Rengifoet al., 2006).
McDade (2004) cita a produção do néctar como um importante recurso para a polinização
por beija flores e, segundo Schmidt-Lebuhnet al.(2007) em espécies de Aphelandra o
néctar apresenta altas porcentagens de sacarose. Em Aphelandra acanthus ocorre a
polinização por morcegos e pássaros (Muchhalaet al., 2008). Estes estudos apontam para a
importância ecológica do gênero principalmente como fonte de alimentos para animais.
O trabalho de Wasshausen (1975) foi um marco para o estudo do gênero e mais
atualmente, devido aos indícios do estudo filogenéticos (McDadeet al., 2005), outros
autores propuseram uma ampliação em Aphelandracom a inclusão de Geissomeria(Profice
&Andreata, 2011).
Aphelandra compreende cerca de 200 espécies com distribuição neotropical, ocorrendo no
México, América Central, região andina e Brasil (Profice &Andreata, 2011).
No Brasil são relatadas mais de 40 espécies sendo cerca de 30 exclusivas do território
brasileiro. São encontradas em ambientes quentes e úmidos de diversas formações de
florestas pluviais, nas regiões Norte (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia), Nordeste
(Alagoas, Bahia, Pernambuco, Sergipe), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São
Paulo), Sul (Paraná, Santa Catarina) (Profice et al., 2014). O estado do Espírito Santo é
bem representado com citação de 16 espécies (Profice et al.,2014).
A Estação Biológica de Santa Lúcia (EBSL), Santa Teresa, Espírito Santo, tem sido alvo
de levantamentos florísticos de espécies arbóreas (Thomaz & Monteiro, 1997) assim como
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de
INDRIUNAS & AOYAMA: O GÊNERO APHELANDRA (ACANTHACEAE) NA EBSL
famílias
específicas
como
Melastomataceae
(Goldenberg
&Reginato
2006),Bignoneaceae (Kollmann, 2006) eLauraceae (Barbosa et al.,2012).
O presente trabalho tem como objetivo apresentar as espécies de Aphelandraocorrentes na
EBSL.
Material e Métodos
Localizada no município de Santa Teresa, região serrana do estado do Espírito Santo,
(40º31´W e 19º57´S), a Estação Biológica de Santa Lúcia (EBSL) compreende uma área
com cerca de 440 há, recoberta de Mata Atlântica de Encosta do tipo Floresta Ombrófila
Densa Montana e Sub-Montana e é cortada pelo rio Timbuí. A precipitação média anual é
de 1868 mm, sendo novembro o mês mais chuvoso e junho o menos chuvoso. A
temperatura média anual é de 19,9º C, com a média das máximas em 26,2ºC e das
mínimas, 14,3º C (Mendes & Padovan, 2000; Thomaz & Monteiro, 1997).
O presente trabalho tem por base a análise de exsicatas depositadas na coleçãodo herbário
MBML, além de observações de campo realizadas em excursões pelas trilhas da ESBL
durante o período de 2010 a 2013. As descrições se baseiam nos materiais coletados na
EBSL. Para a terminologia morfológica foliar e das brácteas adotou-se a proposta por
Hickey (1973). São apresentados chave de identificação, comentários taxonômicos,
morfológicos, habitat, fenológicos e lista de materiais examinados.
Resultados e Discussão
A partir das coletas, observações de campo e dos materiais depositados no herbário, foram
previamente identificados oito gêneros e cerca de quatorze espécies na ESBL: Aphelandra
R.Br. (com 2 espécies), HerpetacanthusNees (1), HygrophilaR. Br. (1), Justicia L. (3-4),
LepidagathisWilld. (1), Odontonema Nees (1), Ruellia L. (4-5) e Staurogyne Wall. (1).
Estes dados prévios apontam para um número relativamente alto de espécies de
Acanthaceae para a EBSL.Comparados os dados da EBSL com outras áreas do estado:
Reserva Natural Vale, com área de aproximada 23000 ha, foram encontrados 8 gêneros e
19 espécies (Aoyama et al., 2013) e para o Parque Nacional do Cararaó, 33000 ha, 6
gêneros e 11 espécies (Colleta& Souza, 2013), o que indica a importância de estudos na
área.
Foram encontradas duas espécies do gênero Aphelandra:A. margaritae e A. maximiliana.
Aphelandra R. Br.Prodr. Fl. Nov. Holl. 1: 475,1810. Tipo: Aphelandracristata(Jacq.) R.Br.
in Aiton (1812) (=Justicia cristataJacq.)
III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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Ervas a arbustos. Folhas opostas, decussadas, subsésseis, lâminas membranáceas a
cartáceas, às vezes variegadas, geralmente elípticas a ovais, camptódromas. Inflorescências
espigas simples ou compostas, terminais ou axilares, eventualmente subtendidas por um
par de folhas diferenciadas; brácteas vistosas ou menores que o cálice, geralmente sésseis,
opostas, verdes ou coloridas, margem inteira ou serreada, ocasionalmente com ocelos
próximos à margem, acródromas; brácteas vistosas ou menores que o cálice, sésseis,
geralmente imbricadas e coloridas; bractéolas 2, pouco vistosas, raramente excedendo as
brácteas. Flores decussadas, vistosas, excedendo as brácteas; lacíniasunidas na base;
corolas bilabiadas, tubulares, dilatadas ou não em direção a fauce, vermelhas a amarelas,
algumas espécies variando lilás, lábio superior 2-lobado, inferior 3-lobado; estames 4,
epipétalos, anteras monotecas, tricomas alvos no ápice da antera e geralmente também
sobre seu dorso e sobre o filete, anteras unidas no ápice pelos tricomas, estaminódio
ocasionalmente presente, localizado entre os dois estames posteriores; estigma
infundibuliforme, inteiro, bífido, óvulos 2 por lóculo. Cápsula deiscente; sementes 4,
presença de retináculo, testa ornamentada.
Segundo Profice e Wasshausen(1993) alguns caracteres diagnósticos do gênero são a
ausência de cistólitos, quatro estames com anteras monotecas com indumento viloso na
região dorsal e grãos de pólen tricolporados alongados.
Chave para as espécies de Aphelandra R. Br. da Estação Biológica de Santa Lúcia
Subarbusto ca. 0,3 m, espiga curta até 9 cm compr., brácteas verdes comápice arroxeado,
corola bilabiada típica, laranja ca. 5 cm compr. .……….…….. A. margaritae
Subarbusto ca. 1,5 m, espiga longa ca.15 cm compr., brácteas vermelhas, corola curtobilabiada, rósea a vermelha ca. 2,5 cm compr. …………………..……... A. maximiliana
Aphelandra margaritae E.Morr.Belgique Hort. xxxiii. (1883) 315. t. 19. Tipo não
determinado.
Subarbusto ereto com cerca de 30 cm, raramente maior. Folhas,pecíolo 1,5-2(-3), limbo
(10-)12-16 × 2,5-4(-5) cm, estreito-elíptico a estreito-obovado, base aguda levemente
decorrente, ápice agudo a acuminado, margem inteira, face adaxial comumente variegada
com listras brancas sob as nervuras secundárias, face abaxial roxa, tricomas tectores curtos,
mais longos sob as nervuras. Inflorescência comumente espiga terminal 3-8(-9) cm de
comprimento, pedúnculo 1-1,5 cm, brácteas 1,7 × 1,5 cm rômbicas, serradomucronadascom geralmente 5ramificações ascendentes proeminentes de cada lado, ápice
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INDRIUNAS & AOYAMA: O GÊNERO APHELANDRA (ACANTHACEAE) NA EBSL
roxo, bractéolas espinescentes e cálice com lacínias lineares 1 cm × 1mm, corola tubular
ca. 5 cm, laranja. Frutos não vistos.
Distribuição geográfica e ecologia: Ocorre em áreas úmidas e sombreadas. Até o momento
é conhecida somente para nas áreas de Mata Atlântica do estado do Espírito Santo.
Fenologia: Floresce de dezembro a maio.
Materiais examinados: Espírito Santo: Santa Teresa, Estação Biológica Santa Lúcia,
L.J.C.Kollmannet al.1419, 22/XII/1998 (MBML); idem, C. C. Chamas 11, 01/I/1993
(MBML); idem, C. C. Chamas et al. 129, 19/III/1994 (MBML); idem, V. Demuneret al.
980, 982, 983, 04/V/2003 (MBML); idem, R. P. Oliveira 845, 11/IV/2003; idem, H. Q.
Boudet Fernandes 1780, 15/I/1986.
Materiais adicionais selecionados: Santo: Santa Teresa, Estação Biológica Caixa D’Água,
Q. Boudet Fernandes 1747, 17/XII/1985;
Aphelandra margaritae pode ser facilmente reconhecida pela variegação das nervuras
secundárias, pela coloração arroxeada do ápice das brácteas e pela corola laranja. A
espécie possui um grande apelo ornamental devido à sua inflorescência vistosa e folhas
variegadas. No material herborizado, as brácteas apresentam coloração clara, palheácea.
Aphelandra maximiliana (Nees) Benth.in Bentham & Hooker, Genera Plantarum 2(2):
1103. 1876; Lindau in Engler&Prantl., Natur.Pfanzenfam.4(3B): 332. 1895b; Wasshausen,
Smithsonian Contr. Bot. 18: 66-67. 1975.
Subarbusto ereto com cerca de 1,5 m. Folhas,pecíolo 2-4 cm, limbo 15-27 × 3-6 cm,
elíptico a oblongo, base decorrente, ápice agudo a acuminado, margem inteira a levemente
sinuosa. Inflorescência espiga terminal, eventualmente axilares, (5-)9-17cm de
comprimento, pedúnculo 1-4 cm, brácteas,1 × 0,7 cm, elíptica a oblonga,serradomucronadas, ápice aculeado a cuspidado, avermelhadas, bractéolas e lacínias do cálice
lanceoladas ca. 0,7 cm × 0,2 mm, corola tubular ca. 2,5 cm, rósea a vermelha. Frutos não
vistos.
Distribuição geográfica e ecologia: Ocorre em áreas úmidas e sombreadas. Profice e
Andreata (2011) assinalam que a espécie é encontrada em remanescentes preservados em
áreas dos municípios de Fundão e Santa Teresa, ES, e inclui-se na categoria em perigo
(EN) pela IUCN.
Fenologia: Floresce de julho a dezembro.
Materiais examinados: Espírito Santo: Santa Teresa, Estação Biológica Santa Lúcia, L.
J.C. Kollmannet al. 4111, 10/VII/2001 (MBML); idem, C. C. Chamas 162,
III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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27/V/1994(MBML); idem, W. P.Lopeset al.619, 05/V/1999 (MBML); idem, H. Q. Boudet
Fernandes2714, 2716, 04/XII/1989.
Aphelandra maximiliana possui uma longa inflorescência (até cerca de 17 cm) e flores de
róseas a vermelhas. A espécie é semelhante a A. rigida ocorrente no Rio de Janeiro.
Conclusões
As espécies do gênero Aphelandra encontradas na EBSL são facilmente distinguíveis pelo
porte, cores e tamanho das espigas A. margaritae e A. maximiliana apresentam grande
potencial ornamental. A partir do material examinado e bibliografia, ambas as espécies são
restritas a áreas serranas do estado do Espírito Santo, mais especificamente às
proximidades do município de Santa Teresa.Interessante observar que, pelo material
examinado, cada uma das espécies ocorre somente de lados específicos do rio Timbuí, A.
margaritae na porção sudoeste e A. maximiliana na nordeste.
Literatura Citada
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