Pró-Reitoria de Graduação Curso de Física Trabalho de Conclusão de Curso O COMPUTADOR QUÂNTICO ÓPTICO Autor: Wilton Albuquerque Rodrigues Orientador: Dr. Paulo Henrique Alves Guimarães 1 Brasília - DF 2011 O COMPUTADOR QUÂNTICO ÓPTICO (Optical Quantum Computer) Wilton Albuquerque Rodrigues1, Paulo Henrique A. Guimarães1 1 Curso de Física - Universidade Católica de Brasília Computação quântica é um ramo do conhecimento que faz uso dos conceitos da Física Quântica como meio para realização de tarefas computacionais. Este trabalho se propõe a apresentar de forma sintética as bases da computação quântica com objetivo de demonstrar a possibilidade da implementação de um computador quântico óptico, levando em conta as tecnologias que atualmente estão disponíveis para essa empreitada. Palavras-chave: Computação quântica, portas quânticas ópticas, implementação de um computador quântico óptico. Quantum computing is a branch of knowledge that makes use of the concepts of quantum physics as a means to perform computing tasks. This work is to present in summary form the foundations of quantum computing in order to demonstrate the feasibility of implementing a optical quantum computer, taking into account the currently available technologies for this work. Keywords: Quantum computing, optical quantum gates, implementation of an optical quantum computer. 1. Introdução A computação quântica surge como promessa de realizar tarefas que a computação clássica em tese nunca poderá realizar devido a limitações impostas por fenômenos físicos na esfera subatômica, nesta perspectiva, surgem várias propostas para a construção de um computador quântico. A princípio é constatado que o computador quântico é uma construção teórica, no entanto se não houvesse a possibilidade de implantação na Natureza de máquinas que processem a informação quântica, este campo de pesquisa seria apenas uma curiosidade matemática (NIELSEN, CHUANG, 2005), e não despertaria nenhum interesse por parte da comunidade cientifica. É necessário frisar que implantar experimentalmente circuitos quânticos e sistemas de comunicação tem se tornado um grande desafio, na medida em que é difícil controlar um sistema quântico individual e é de vital 2 importância a manipulação de tais sistemas para que de fato a computação quântica seja uma realidade. Este trabalho apresenta a possibilidade de implantação de uma maquina quântica pelo viés da óptica quântica, para isso é apresentada uma breve revisão de álgebra linear, e posteriormente é feita uma síntese das portas quânticas, e de alguns conceitos da física óptica. Ao fim são analisadas as chances de equipamentos que manipulam estados quânticos serem utilizados para a construção de portas quânticas. 2. Breve histórico da Computação Quântica. A computação sem duvida foi a área da ciência que mais êxito conseguiu durante a segunda metade do século 20, e que vem evoluindo constantemente. Segundo a famosa Lei de Moore (ALEGRETTI, 2004) a velocidade do computador é dobrada a cada 18 meses (...), sendo esta lei mantida desde o surgimento do primeiro PC em 1981. No entanto observadores cogitam que a validade da Lei terminará em algum momento dos primeiros 20 anos do século XXI (NIELSEN. 2005). Acredita-se que a tecnologia utilizada na fabricação de transistores esteja chegando ao seu limite, devido aos fenômenos quânticos que impõe restrições ao avanço da atual tecnologia (SCHNEIDER. 2005), a alternativa que segue como solução ao rompimento da Lei de Moore é mudar para um novo paradigma da computação como indica Chuang e Nielsen (2005). Esse paradigma como menciona os autores é dado pela teoria da Computação Quântica. O interesse pela computação quântica surgiu quando em 1982, Feynman indicou que os sistemas clássicos não poderiam modelar sistemas quânticos, estes só poderiam ser modelados utilizando um sistema quântico (ALVES, 2003). O primeiro passo na computação quântica foi dado por Deutsche (NIELSEN, CHUANG, 2005), desenvolvendo o conceito de computador Quântico Universal e com a publicação do primeiro algoritmo quântico, que seria capaz de resolver problemas matemáticos de maneira mais eficiente, que um algoritmo clássico (NICOLAU, 2010). 3 O avanço mais significativo veio em 1994 quando o pesquisador Peter Shor dos laboratórios AT&T Bell publicou o seu algoritmo quântico (ALVES, 2003). Esse algoritmo utiliza propriedades de um computador quântico para realizar fatoração de números inteiros grandes de forma eficiente, algo que em um computador clássico levaria muito tempo para ser realizado. A aplicação direta do algoritmo de Shor se dá na quebra de chaves criptográficas, que se baseiam justamente na dificuldade de fatoração de números grandes como justifica Alves, o que fez chamar a atenção de muitos setores e governos para o real potencial da computação quântica. 3. Computação Quântica “Por computação quântica e informação quântica entendemos o estudo das tarefas que podem se realizadas pelo processamento da informação contida em sistemas quânticos” (NIELSEN, CHUANG, 2005). Temos a definição de que o “computador quântico é um dispositivo que executa cálculos fazendo uso direto de propriedades da Mecânica Quântica, tais como sobreposição e interferência de estados (NICOLAU, 2010). 4. Álgebra Linear Para um bom entendimento de mecânica quântica e consequentemente da computação quântica alguns conceitos básicos de álgebra linear se tornam importantes. Não será gasto muito tempo neste tema, pois o foco principal é o computador quântico óptico e a possibilidade de sua implantação. A álgebra linear é considerada o estudo dos espaços vetoriais juntamente com as operações lineares que são realizadas nele. Vetores são grandezas físicas que não são definidas completamente pelo seu módulo e pela unidade de medida utilizada em sua medição, como é o caso de grandezas escalares, para isso são necessários mais dados para que sejam definidas tais grandezas, além do módulo a sua direção e seu sentido são necessários para se defini-la. Neste trabalho os vetores são representados em notação matricial já que as operações com matrizes produzem o mesmo resultado que as 4 operações vetoriais, o que difere uma da outra é somente a forma como se escreve os vetores sendo que talvez a representação matricial possa ser mais familiar ao leitor. Uma matriz é um objeto matemático que é organizado em linhas e colunas: Onde cada elemento dentro desta matriz é indicado pelos índices: É formado ( por ) elementos que estão dispostos em linhas e colunas onde é o elemento associado a -ésima linha e -ésima coluna. Segue alguns conceitos relacionados a matrizes relevantes para o nosso trabalho. 4.1. Multiplicação por uma escalar: Para multiplicar um número multiplicado cada entrada também 4.2. e qualquer por uma matriz de A por A, é . Assim, a matriz resultante B será . Exemplo: Multiplicação de matrizes. Considere as seguintes matrizes (4.1) 5 Cada elemento de é calculado multiplicando-se ordenadamente os elementos da linha i da matriz da matriz pelos elementos correspondentes da coluna j e, a seguir, somando-se os produtos obtidos. Veja abaixo: (4.2) O cálculo é feito na seguinte forma: (4.3) (4.4) (4.5) O produto entre duas matrizes colunas da matriz e é definido se, e somente se, o número de for igual ao número de linhas da matriz . Assim: (4.6) 4.3. Matriz Diagonal: Neste caso os elementos significativos se encontram unicamente na diagonal principal. Diagonal principal Diagonal secundária A= 4.4. Matriz Identidade São matrizes quadradas (possuem número de colunas iguais a número e linhas), com entrada “1” em todos os elementos pertencentes à diagonal principal e com entrada “0” fora da diagonal principal. Exemplos: 6 , Uma matriz identidade desempenha na aritmética matricial o mesmo papel que o número 1 desempenha nas relações numéricas (4.7) De forma que sendo A uma matriz m x n, teremos: A =A e 4.5. A= A Transposta de uma matriz Se é uma matriz qualquer então a transposta de é definida como a matriz , denotada , que é a troca ordenada de suas linhas pelas suas colunas. Ex.: 4.6. Número complexo A noção de números complexos é importante por que o objeto de estudo da álgebra linear são os espaços vetoriais, o espaço vetorial de maior interesse para nós é Cⁿ considerado como o espaço de todas as n-uplas de números complexos. Um número complexo é um par ordenado de números reais denotados tanto por (a, b) quanto por , onde Neste caso convém usar uma única letra para denotarmos um número complexo, O conjugado complexo é obtido trocando o sinal da parte imaginária; por exemplo, se temos o número complexo seu conjugado complexo será 4.7. Transformações Lineares Uma transformação linear de (ou um operador linear no caso ) é definida por equações que apresentaremos na forma matricial 7 (4.8) e fica , Sendo a matriz chamada de canônica da transformação linear em T. Um importante operador linear em qualquer espaço vetorial V é o operador identidade, definido pela equação: para todos os vetores Se não houver possibilidade de confusão representaremos por . Para se calcular elementos da matriz do operador estados e (onde, para , temos que e entre os são os elementos diagonais), podemos usar a seguinte equação: (4.9) A notação utilizada na equação (4.1) é chamada notação de Dirac, na frente ela aparecerá mais vezes, basta saber no momento que o símbolo chamado de bra e representa a linha de coluna de ,e é chama-se ket e representa a . Suponha V um espaço vetorial com vetores de base operador linear de V em V, onde e e , e A um . Encontramos a representação matricial do operador A. (4.10) Portanto, a representação matricial é: (4.11) 8 4.8. Transposta conjugada: Tendo a matriz que tem entradas complexas é dito que sua transposta conjugada é fica sendo a matriz no qual as entradas são conjugados complexos das entradas de e é transposta de . Exemplo: Se então, A matriz unitária fica definida como definida quando 4.9. . Já uma matriz Hermitiana de é . Matrizes de Pauli. Um grupo de quatro matrizes importantes e úteis para a Computação Quântica e Informação Quântica são as matrizes de Pauli. São matrizes unitárias 2 x 2 que podem ser representadas de várias maneiras. As matrizes e suas correspondentes notações são mostradas abaixo. 5. O Qubit (bit quântico): A unidade básica de informação nos computadores clássicos é o bit, que pode ter os estados 0 ou 1 como valores, nos computadores são representados pela presença ou não de corrente elétrica nos chips (Oliveira e Sarthour , 2004). Analogamente, a unidade de informação quântica é o bit 9 quântico (ou q-bit), que assim como o bit pode ter dois estados possíveis representados pelos vetores e , onde: (5.1) A diferença entre os bits e q-bits é que os q-bits além dos dois estados clássicos podem formar combinações lineares de estados chamadas de superposição (CHUANG. 2005). (5.2) Onde o número α e β são complexos. O estado de um q-bit é representado por um vetor num espaço vetorial complexo de duas dimensões chamado espaço de Hilbert. A interpretação física de um q-bit descrito por Motta (2010), é que ele está, simultaneamente nos estados e , sendo assim a quantidade de informação armazenada no estado é infinita, no entanto para se ter acesso a essa informação que está no nível quântico é necessário fazer uma medida, e ao medirmos um q-bit encontramos o estado 0 com probabilidade e o estado 1 com probabilidade , que leva a , neste caso o q-bit é descrito como um vetor normalizado com módulo 1(NIELSEN, CHUANG, 2005). Uma forma de representar o q-bit graficamente é através da chamada esfera de Bloch como pode ser visto na fig. 1, que é uma representação limitada, pelo fato de não existir uma generalização simples da esfera de Bloch para muitos q-bits. Nesta esfera a seta representa o valor do q-bit, quando ela aponta para o pólo norte ele vale apontada para o pólo sul vale o que equivale ao bit clássico “0”, e ao ser que equivale ao bit clássico “1”, as demais regiões representam superposições quânticas de e . 10 Figura 1: Esfera de Bloch (Fonte: Wikipédia) Um q-bit como visto é um sistema de dois estados e pode ser representado fisicamente por um elétron nos dois níveis mais baixo de um átomo de hidrogênio, por exemplo: o elétron pode ter a probabilidade α e β de estar no nível fundamental ou no primeiro estado excitado respectivamente, algo que deixa o elétron parcialmente em ambos os estados de energia. Além deste exemplo de dois elétrons orbitando no átomo também existe a possibilidade de trabalhar com q-bits através do spin nuclear num campo magnético uniforme, assim como através de fótons, processo que veremos com mais detalhes adiante por ser importante para a compreensão do tema aqui explorado, o computador óptico. 6. Circuitos Quântico A computação quântica tem um grande potencial para armazenamento de informação, mais somente isso não a torna interessante do ponto de vista da ciência da computação é necessário que haja uma manipulação eficiente da informação de maneira a obter resultados desejados (MARQUEZINO, 2006), isso pode ocorrer através de portas lógicas. A computação quântica da mesma forma que a computação clássica, usa como meio de manipulação de informações as portas lógicas; na computação clássica é mais fácil e perceptível entendê-las por que neste caso as portas lógicas são mais próximas da realidade, por exemplo, linhas 11 correspondem a fios e bifurcações significam que a corrente elétrica passa por ambos os fios (PORTUGAL, 2005). Agora serão vistas as principais portas quântica de 1 q-bit, uma porta quântica sobre um q-bit pode ser descrita como uma matriz 2x2 (por exemplo, uma matriz unitária qualquer especifica uma porta quântica válida), diferente das portas clássicas onde somente uma porta lógica não-trivial de um bit pode existir (a porta NOT ou NÃO, com a ação dela os 0 e 1 são trocados um pelo outro), existem muitas portas quânticas não-triviais (NIELSEN, CHUANG, 2005), dentre as mais importantes, temos a porta Not Quântica sendo análoga a porta clássica NOT. A porta quântica NOT é dada por um operador que satisfaz: e Assim a matriz que representa o operador (6.1) é dada da seguinte forma (6.2) Outra porta é porta Z (6.3) essa porta não altera o estado de , e muda o sinal de para - . Porta Hadamard, (6.4) Veja o funcionamento desta porta (6.5) (6.6) O papel da porta Hadamard é transformar a base e em uma base em que os estados são uma superposição da base computacional. A ação da porta Hadamard pode ser visualizada na esfera de Bloch na fig.2. A operação que a Hadamard realiza corresponde a uma rotação reflexão sobre o plano de , seguida de uma . 12 Figura 2: Visualização, na esfera de Bloch, ação da porta Hadamard sobre o estado . 6.1. CNOT: O Não-Controlado As matrizes unitárias 2x2 são infinitas, sendo ilimitado o número de portas quânticas de 1 q-bit, no entanto elas não são suficientes para montar circuitos quântico que possam representar operações sobre um numero qualquer de q-bits (LULA, 2005), para isso as matrizes 4X4 são capazes de cumprir bem este papel; tendo como principal representante a porta CNOT, conhecida também como porta Não-controlado, ela define operações sobre 2 q-bits e é chamada de porta Universal. Na fig.3 é visto um exemplo da porta Não-controlado, ela tem dois q-bits de entrada, o q-bit de controle e o q-bit alvo, nesta ordem, o funcionamento desta porta se dá seguinte forma: a linha superior representa o q-bit de controle e a linha inferior o q-bit alvo, se o q-bit de controle estiver nos estado “0” nada acontece com o q-bit alvo, este só muda se e somente se o estado do q-bit de controle for igual a 1. Figura 3: Porta CNOT A vantagem desta porta é que os q-bits podem estar nos estados superpostos. A ação desta porta pode ser resumida em onde é a operação adição de modulo 2. ; ; ; . 13 Existem outras portas quânticas que podem ser consideradas universais, no entanto a porta CNOT juntamente com as portas de um q-bit são protótipos para a formação de qualquer outra porta quântica (CHUANG, NIELSEN 2005), por isso ela é considerada uma porta Universal. A matriz associada a porta CNOT é dada por: Antes de se prosseguir é importante verificar algumas convenções utilizadas em circuitos quânticos, na fig. 4 é representado uma porta UControlada. Figura 4: Uma representação de uma porta U-Controlada. Um circuito deve ser lido sempre da esquerda para a direita as linhas que aparecem não são necessariamente fios, elas representam a evolução de um q-bit, podendo ser apenas a passagem do tempo ou o deslocamento de uma partícula, como o deslocamento de um fóton, a linha vertical que aparece unindo os símbolos • e U informa que o circuito atua simultaneamente nos dois q-bits, ela representa o sincronismo, e não o envio de informação. Portanto, não são permitidas nem junções, nem bifurcações de q-bits. O símbolo • indica que o q-bit representado nessa linha é um q-bit de controle, ou seja, caso esteja no estado , a porta U realiza a operação, caso esteja no estado a porta U não realiza operação alguma. Por fim temos a saída, os q-bits que compõem a saída podem ou não ser medidos. 7. Óptica Para se ter uma boa noção da proposta do computador quântico óptico é necessária uma boa fundamentação teórica em óptica clássica, conceitos como: refração, reflexão, interferência, e caráter ondulatório da luz, são 14 importantes princípios que norteiam a implementação do computador quântico óptico. 7.1 Refração e reflexão O mecanismo Físico para refração e reflexão da luz pode ser entendido em termos da absorção da luz pelos átomos nos meios refletores e refratários (TIPLER, 2006), a luz que se desloca no ar quando atinge uma superfície transparente, que pode ser um vidro ou água, e é absorvida pelos átomos do material transparente, estes átomos a irradiam na mesma frequência que foram absorvidas, mas com velocidades diferentes. A velocidade da luz em um meio transparente é menor que a velocidade da luz, no vácuo, o que caracteriza o índice de refração n que é a razão entre a velocidade c (velocidade da luz no vácuo) e a velocidade da luz no meio v. n = c/v A luz ao atingir uma superfície que faz fronteira entre dois meios como, por exemplo, ar-vidro, tem parte de sua energia luminosa refletida e parte absorvida pelo meio. Quando o raio de luz passa de um meio para o outro sua velocidade passar a depender do meio em que se encontra, a esse fenômeno dar-se o nome de refração, essa variação da velocidade ocorre após a luz passar pelo o que é chamado de plano de incidência e dependendo do ângulo da luz incidente, pode ocorrer a mudança do ângulo do raio de luz em relação à normal do plano de incidência, para o angulo também em relação à normal. Na reflexão o raio que é refletido permanece no plano de incidência fazendo um ângulo em relação normal que é igual a . A fig.5 abaixo exemplifica as duas situações: Figura 5: Refração e reflexão 15 7.2. A luz como uma onda eletromagnética A luz é uma onda eletromagnética, e como tal é formada por dois campos: o elétrico - e o magnético , estes campos estão em planos perpendiculares entre si e perpendiculares a propagação da onda como demonstrado na fig.6. Figura 6: Representação de uma onda eletromagnética. Fonte: Enciclopédia livre - Wikipédia. As ondas eletromagnéticas podem interagir com a matéria, o campo elétrico, por exemplo, pode interagir com nuvens de elétrons que constituem a matéria fazendo-a oscilar. As equações de Maxwell da onda eletromagnética são expressas abaixo: Equação de Onda para : (7.1) Equação de Onda para : (7.2) 7.3. A dualidade onda-partícula A luz tem propriedades claras que a caracterizar como onda, e ao mesmo tempo como partícula, o experimento de dupla-fenda evidência o caráter ondulatório da luz por meio de propriedades como o padrão de interferência e difração da luz. Em contra partida no inicio do sec. XX 16 descobriu-se que a energia da luz pode chegar em quantidades discretas, Einstein chegou a demonstrar que a energia luminosa é quantizada em pequenas porções chamadas fótons, sendo que a energia de cada fóton é dada por (7.3) Sendo a frequência, é a chamada de constante de Planck, ficou assim definido o caráter corpuscular da luz, de modo que um feixe de luz é composto por um feixe de partículas, os fótons, e cada fóton tem uma energia 7.4. . Interferência A interferência é observada quando duas ondas coerentes se superpõem. Coerência é a medida da correlação entre as fases medidas em diferentes pontos de uma onda. Coerência em óptica é obtida geralmente pelo espalhamento de um feixe de luz de uma única fonte, em dois ou mais feixes que podem então ser combinados para produzir um padrão de interferência, os lasers são as mais importantes fontes de luz coerente em laboratórios. 7.5. Experimento de dupla fenda Um dos fenômenos mais conhecidos e importantes na computação quântica é a interferência quântica, para a explicação deste evento na perspectiva quântica é utilizado aqui o experimento de Thomas Young da dupla fenda. Neste experimento como representa a fig. 7, tem-se uma fonte luminosa coerente, uma parede com duas fendas e um anteparo com um sensor que mede a Intensidade da luz que chega neste anteparo. intensidade A,B intensidade A+B intensidade A?B fenda A s fonte luminosa fenda B parede anteparo 17 Figura 7: Experimento de dupla fenda de Thomas Young. Fonte: (LOPES, 2004) Ao se abrir apenas uma das fendas a Intensidade da luz atinge seu máximo na linha onde a fenda é aberta. Quando as duas fendas estão abertas não são vistas apenas duas incidências de luz distintas, mais sim um padrão de interferência característico deste fenômeno que gera franjas claras e escuras. Este fenômeno ocorre devido à interferência construtiva e destrutiva da luz, e o mais interessante é que esse padrão de interferência ocorre mesmo quando a fonte de luz emite somente um fóton, é como se cada fóton interferisse em si mesmo. Ao se tentar efetuar uma medida da partícula, para saber se ela passa pela fenda A ou pela fenda B haverá o colapso da função de onda, a partícula será encontrada em uma das fendas, e deixará de realizar o padrão de interferência. É explicado agora o experimento de dupla fenda pelo viés da mecânica quântica, fugindo do rigor do formalismo quântico, pois não é o foco deste trabalho. Considere o experimento de dupla fenda como um evento: o fóton sai da origem (feixe de luz) que é chamada de s e é o estado inicial do evento e chega ao anteparo que dado por x sendo o estado final. Na notação de Dirac fica da seguinte forma: Sendo a amplitude de probabilidade. E no experimento de dupla fenda fica A notação de Dirac é utilizada por ser prática em apresentar transformações e estados quânticos. Considerando ainda o experimento de dupla fenda, existe ainda a possibilidade deste evento ser divido em dois subeventos, tendo a probabilidade representada por: No exemplo do experimento de dupla fenda, não se verá a partícula entrando na fenda A e saindo pela fenda B, pois a amplitude de probabilidade para esse caso é dada por: 18 A notação de Dirac é consistente em descrever todas as possibilidades de eventos que podem ocorrer em estados quânticos. 8. A implementação do computador Quântico Óptico A construção de um computador quântico de fato, está ligada não somente a uma representação física do q-bit, mas também a obtenção de uma tecnologia que possibilite a manipulação de q-bits sem que cause decoerência no sistema, que seria a perda de informação no mesmo; segue em ordem abaixo os requisitos que são básicos para a implantação de um computador quântico. 1. Representação robusta do q-bit. 2. É necessária a construção de portas lógicas quânticas, que possibilitem a manipulação de q-bits individualmente, de modo a permitir interações controladas entre eles. 3. Preparação correta do estado inicial. 4. Realização da medida do resultado de saída. 8.1. Descrição do Equipamento Experimental Agora Será feita uma breve descrição dos candidatos a componentes de um computador quântico óptico, assim como a exemplificação de portas quânticas que podem representar a evolução da informação quântica. 8.2. Representação do q-bit Um bit quântico é um sistema quântico de dois níveis e o fóton óptico possui várias características que o torna um bom candidato à implementação da computação quântica. O fóton pode representar um q-bit de duas formas, através de polarização ou da sua localização espacial (numa cavidade ou em outra). Neste trabalho o q-bit é representado como a superposição de zero e um fóton, o q-bit fica sendo, 8.3. . Preparação do Estado Inicial. 19 É necessário para o estado inicial a geração de fótons individuais, neste caso é utilizado um feixe de laser, sendo necessário que se reduza a intensidade do feixe afim de que sejam emitidos poucos fótons, a este processo é dado o nome de “estado monofotônico” e é justamente a preparação do nosso estado inicial, nele é preparado um pacote de onda com exatamente um quantum de energia (LULA, 2005). A maneira de preparar os feixes com características de “estado monofotônico” é realizado através de um processo conhecido como conversão paramétrica, nele um único fóton atinge um meio óptico não-linear, estes meios tem a propriedade de gerar pares de fótons para cada fóton que atinge o meio-não linear com frequência , cada fóton é gerado simultaneamente e cada um com metade da energia do fóton inicial. Quando um dos fótons é detectado destrutivamente através de um detector se saberá com certeza que o outro fóton existe, neste caso uma porta óptica é aberta para a passagem do segundo fóton, mais isso apenas para o caso de um fóton e não dois ou mais serem detectados. 8.3.1. Laser O Laser (light amplification by stimulated emission of radiation) é uma luz produzida através de emissão estimulada, neste processo o elétron que está no átomo em um estado excitado tende a ir para um nível mais abaixo de energia só que de uma forma demorada que pode ser acelerada por um agente externo, por exemplo, um fóton externo pode causar o decaimento do elétron excitado que ao passar para um estado de baixa energia produz um fóton que é emitido do sistema juntamente com o fóton que causou a transição com mesma energia e ambos propagando-se na mesma direção. O que torna o laser interessante para o uso na computação quântica são suas características peculiares, uma delas, é que a luz do laser é monocromática sendo ela composta apenas por um comprimento de onda; outra característica importante é a coerência da luz emitida pelo laser; e o que faz uma radiação de luz ser coerente são as ondas da radiação estarem em fase, tendo sempre a mesma direção e comprimento de onda. 20 8.3.2. Meios Não-lineares O índice de refração nos meios em geral depende do arranjo dos átomos e da distribuição dos elétrons, os cristais não-lineares utilizados para a conversão de frequência são meios dielétricos, tais meios são ideais quando não contém em si cargas livres e sua estrutura atômica é eletricamente neutra (PENELLO, 2007) o que leva a distribuição de cargas no meio se deslocarem conforme a orientação do campo elétrico aplicado. Na prática a alteração da distribuição dos elétrons no meio leva a diferentes níveis de refração. Na teoria eletromagnética, a resposta que é dada pelo meio material devido à ação do campo elétrico pode ser obtida com boa aproximação expandindo a polarização do meio até a terceira ordem na amplitude do campo elétrico (SOUZA, 2006). (8.1) Sendo que , , é a constante dielétrica do vácuo, é o vetor campo elétrico e , são respectivamente a susceptibilidade de primeira, segunda e terceira ordem do meio não-linear (SOUZA, 2006), a descrição na óptica linear é feita por mais para meios não lineares a resposta é dada por e . Os meios lineares de segunda ordem podem ser utilizados para converter frequências; por exemplo, tendo um campo elétrico composto de duas frequências e , propagando-se em uma direção y Temos a equação do campo elétrico para as duas frequências: (8.2) Fazendo as devidas substituições de (8.2) em (8.1) a polarização elétrica nãolinear será dada por: (8.3) Fazendo uso das identidades trigonométricas em (8.3), reescrevemos a equação da seguinte forma: (8.4) Dela observamos que a interação das duas ondas eletromagnéticas através de um meio não-linear de segunda ordem chegará a resultados que vemos na 21 fig.8, polarização elétrica com componentes nas frequências 0, e , , . Figura 8. (a) Efeitos não-lineares de segunda ordem. (b) Retificação óptica; (c) soma de frequências; (d) geração de diferença de frequência. Fonte: (PENELLO, 2007) A importância dos meios não-lineares para computação quântica é a possibilidade de interação entre fótons, uma vez que os fótons não interagem entre si sozinhos, necessitando que algo torne possível esta interação. 8.4. Divisores de Feixe O divisor de feixe é um dispositivo semi-refletor que pode ser um pedaço de vidro parcialmente espelhado que reflete uma parte nele incide e transmite da luz que . Probabilisticamente a luz ao passar pelo divisor de fase, tem 50% de chance de ser refletida e 50% de ser transmitida. Geralmente sua montagem é feita através de dois prismas com um fino filme metálico entre eles, no caso ideal . Figura 9: Divisor de Feixe. 22 A fig. 9 esquematiza um divisor de feixe, e são as duas entradas que comumente representamos como campos eletromagnéticos, e e são respectivamente as saídas. Podemos considerar o princípio da superposição que é um princípio fundamental da mecânica quântica, para montar nossa porta lógica: Dados dois estados admissíveis de um sistema quântico, então a soma desses dois estados também é um estado admissível do sistema (PESSOA, 2005) (8.5) Considerando que os q-bits e são respectivamente as entradas e ,e que a taxa de transmissão do fóton refletido e transmitido é de 50% cada, temos que = = . (8.6) (8.7) (8.8) Temos que porta quântica que computa as saídas é uma operação unitária ·: (8.9) Se for escolhido o caminho não seria difícil chegar a mesma porta unitária , neste caso temos que considerar que a reflexão resulta em uma fase . (8.11) (8.12) 8.5. Deslocadores de fase Deslocador de fase é uma lâmina de vidro transparente capaz de diminuir a velocidade da luz que por ele passa tornando possível diminuir ou aumentar o percurso do feixe transmitido, isso por que a luz gasta um tempo 23 maior para se propagar por uma distância qualquer com um índice de refração em relação ao tempo que gasta no vácuo. Se criarmos uma porta lógica ação que esta porta terá no estado de vácuo é deixá-lo invariante no estado de um fóton , sendo que a e , é a distância do meio com índice de refração 9. Análise dos componentes de um computador quântico A análise dos componentes que podem compor um computador quântico óptico revela que apesar de ser atraente devido às potencialidades que um fóton tem em representar a informação quântica, são grandes as dificuldades de ordem tecnológicas encontradas na construção de um computador quântico. O primeiro desafio em construir o computador quântico óptico está na criação do estado inicial; um laser atenuado em um meio não-linear como foi descrito na seção 8.3, é utilizado para a criação de fótons únicos, o ideal seria que a cada pulso de luz em um ciclo de tempo houvesse apenas um fóton, mas isso até o momento não é possível, então lasers atenuados são utilizados para que o número médio de fótons em cada pulso do laser seja o menor possível, o problema está justamente ai, quanto menor o número médio de fótons por pulso, maior é a probabilidade de pulsos vazios. Os cristais não-lineares surgem para evitar este problema, o seu funcionamento foi explicado na seção 8.3.2, no entanto esse recurso apresenta também limitações; por exemplo, na melhor das hipóteses a eficiência de um cristal não linear é , além disso, ocorrem muitas perdas por absorção, sem contar que se não houver um detector de fótons eficiente para avisar que um fóton foi gerado pequenas frações de fótons por pulso não serão anunciadas. Os divisores de feixe e os deslocadores de fase conseguem cumprir bem o papel de portas lógicas quânticas na qual medidas são capazes de serem realizadas e transformações unitárias expressam a evolução temporal. As perdas que são sentidas em tais sistemas são oriundas das limitações técnicas, que assim como nos meios não-lineares, diminuem as chances de 24 construção de um computador quântico; os divisores de feixe com suas laminas de metal por exemplo, acabam interagindo com os fótons. 10. Conclusão. Este trabalho preocupou-se acima de tudo em demonstrar de forma sintética as estruturas de um computador quântico, e a possibilidade da implementação de um computador quântico óptico, já que o fóton se apresenta como um atraente candidato para a representação de um q-bit por apresentar assinatura de fenômenos quânticos como interferência e a superposição de estados e também pelo vantajoso fato de o fóton poder ser guiado por distâncias longas com pequenas perdas por meio das fibras ópticas. No entanto é observado através da análise dos componentes estudados, que a viabilidade de construção de um computador quântico óptico é muito pequena ficando apenas a lição de que a teoria da máquina quântica é consistente, mas sua implantação de fato na natureza tem um longo caminho a se percorrer, as possibilidades são muitas, no entanto os desafios são grandes, fica então aberta à proposta de algum outro computador quântico, com um tipo de sistema diferente que possa se tornar realidade para o processamento quântico. Agradecimentos: A Deus, pela oportunidade da vida e de explorar os dons que a mim foram conferidos, a minha família fonte constante de fortaleza e estímulo que me da segurança para prosseguir. Ao professor Dr. Paulo Henrique Alves Guimarães pela orientação, paciência e incentivo que foram cruciais para a realização deste trabalho. 11. Referências Bibliográficas ALEGRETTI, José Francisco. Computação Quântica. Rio Grande do Sul, 2004. ALVES, Flávio Luiz. Computação Quântica: Fundamentos Físicos e Perspectivas. Minas Gerais, 2003. Monografia (Bacharel em Ciência da Computação), Universidade Federal de Lavras. 25 LULA, Bernado. J; FERREIRA, Aercio Lima. Mini-cursos em Matemática Aplicada e Computacional, Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional. Natal - RN, Brasil 2005. MARQUEZINO, A transformada de Fourier Quântica Aproximada e Sua Simulação. Petrópolis, RJ.Março, 2006. NICOLAU, Andressa dos Santos, Computação Quântica e Inteligência de Enxames Aplicados na Identificação de Acidentes de Uma Usina Nuclear PWR, COPPE/UFRJ.Rio de Janeiro, Fevereiro de 2010. NIELSEN, Michael. A; CHUANG, Isaac. L. Computação Quântica e Informação Quântica. Porto Alegre: Bookman, 2005. PENELLO, Guilherme Temporão. Contagem de fótons no infravermelho Próximo e Médio Via Conversão de Freqüência Aplicada a Comunicação Quântica. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio, Brasil, 2007. PESSOA Jr., O.: Conceitos de Física Quântica. Ed. Livraria da Física, São Paulo. Vol. 1. 2a edição: 2005. PORTUGAL, Renato. Introdução à Computação Quântica. Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional. Vitória-ES, Brasil, 2005. SCHNEIDER, Guilherme Goettems. Arquitetura de Computadores Quânticos, Universidade do Rio Grande do Sul Instituto de Informática Programa de PósGraduação Em Computação, Porto Alegre outubro de 2005. SOUZA, Simone Ferreira. Operador Deslocamento Condicional: Geração de Estado e Medida da Função de Wigner.Universidade Federal De GoiásInstituto De Física.Goiânia , 2006. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed, Rio de Janeiro, RJ: LTC, 31-38, v. 3, 2009. 26