BC0209–Fenômenos Eletromagnéticos Terceiro quadrimestre de 2013 Prof. José Kenichi Mizukoshi Aula 18 (versão 14/01/2014) Ondas Mecânicas – Conceito Aula 18 ■ Uma onda mecânica é um sinal (perturbação) que se propaga através de um meio, como uma corda, o ar, a água, etc, à velocidade finita, sem o transporte de matéria. Para o caso de ondas progressivas, há a propagação de informação e de energia. ■ Se a perturbação for um deslocamento na direção perpendicular à propagação da onda, tem-se uma onda transversal (e.g. um pulso em uma corda). Se o deslocamento ocorrer na direção paralela, tem-se uma onda longitudinal (e.g. ondas sonoras). Existem também ondas que não são nem transversais e nem longitudinais, como as ondas na superfı́cie da água. 2 / 25 Função de onda progressiva ■ Considere um exemplo especı́fico de uma onda progressiva, que é a propagação de um pulso através de uma corda, com velocidade v. O perfil (forma da corda) numa dada posição x e instante t é dada por uma função f (x, t) = y(x, t). Se o perfil não muda, tem-se que instante t = 0 y(x, t) = f (x − vt) para um pulso se propagando para à direita. Se estivesse propagando para à esquerda, terı́amos y(x, t) = g(x + vt) ■ Aula 18 f (x−vt) e g(x+vt) são conhecidas como funções de onda. instante t 3 / 25 Ondas harmônicas ■ Para as ondas harmônicas, têm-se que ~v vt ◆ um dado elemento do meio (corda, por exemplo) executa um movimento harmônico simples (MHS); ◆ o perfil da onda é uma função senoidal. ■ Se a onda harmônica numa corda estiver se propagando para à direita, a sua função de onda será dada por y(x, t) = f (x − vt) = A cos[k(x − vt) + δ] (✻) A é a amplitude da onda, δ é a constante de fase e k uma constante, cujo significado será discutido na próxima página. Aula 18 4 / 25 Ondas harmônicas ■ O comprimento de onda λ é o perı́odo espacial, i.e., o movimento se repete com o deslocamento x → x + λ. Ou seja, y(x, t) = y(x + λ, t) Para y(x, t) dada pela Eq. (✻), a equação acima leva a A cos[k(x − vt) + δ ] = A cos[k((x + λ) − vt) + δ] = A cos[k(x − vt) + δ +kλ] {z } | {z } | ≡φ =φ Utilizando a relação cos(a ± b) = cos a cos b ∓ sen a sen b, obtemos cos φ = cos φ cos(kλ) − sen φ sen (kλ) o que implica que kλ = 2π Aula 18 ⇒ 2π λ= k 5 / 25 Ondas harmônicas ■ O número de onda angular é definido como k= 2π λ No sistema internacional (SI) de unidades, [λ] = m e [k] = rad/m. ■ O perı́odo temporal T é definido como sendo o menor intervalo de tempo ∆t 6= 0, tal que o movimento se repete. Ou seja, y(x, t) = y(x, t + T ) Analogamente ao caso do comprimento de onda, a relação acima é satisfeita se 2π T = kv Aula 18 6 / 25 Ondas harmônicas Como o perı́odo se relaciona com a frequência angular ω da forma T = 2π/ω, tem-se que kv ≡ ω ■ A frequência é definida como 1 ν= T Segue que ω = 2πν. ■ Como ω = kv, tem-se que 2π 2π = v T λ ⇒ 1 v = T T ⇒ λ v= T Ou seja, a onda se desloca de ∆x = λ em um intervalo de tempo ∆t = T . ■ Aula 18 No SI, [T ] = s e [ν] = s−1 ≡ hertz (Hz). 7 / 25 Equação da onda: caso unidimensional ■ Conforme visto, a função de onda de uma onda progressiva propagando-se em uma dimensional com velocidade v é dada por y(x, t) = f (x′ ); x′ = x − vt ◆ Vamos primeiro derivar y(x, t) em relação a t duas vezes. Temos que ∂y(x, t) df (x′ ) ∂x′ = ∂t dx′ ∂t ∂x′ Como = −v, obtém-se ∂t df (x′ ) ∂y(x, t) = −v ∂t dx′ Derivando a expressão acima em t, lembrando que v é constante, temos d2 f (x′ ) ∂x′ ∂ 2 y(x, t) = −v 2 ∂t ∂t dx′ 2 |{z} ⇒ 2 ′ ∂ 2 y(x, t) 2 d f (x ) =v 2 ∂t dx′ 2 ( ✻) = −v Aula 18 8 / 25 Equação da onda: caso unidimensional ◆ Por outro lado, podemos derivar y(x, t) em relação à x duas vezes. ∂x′ = 1, segue que Como ∂x df (x′ ) ∂x′ ∂y(x, t) = ∂x dx′ ∂x ⇒ ∂y(x, t) df (x′ ) = ∂x dx′ Derivando a expressão acima em relação à x, ∂ 2 y(x, t) d2 f (x′ ) ∂x′ = 2 ∂x dx′ 2 ∂x ⇒ ∂ 2 y(x, t) d2 f (x′ ) = 2 ∂x dx′ 2 ( ✻ ✻) Comparando as Eqs. (✻) e (✻ ✻), obtemos a chamada equação de onda: 1 ∂ 2 y(x, t) ∂ 2 y(x, t) = 2 2 ∂x v ∂t2 Aula 18 9 / 25 O princı́pio da superposição ■ Verifica-se que muitas ondas na natureza obedecem o princı́pio de superposição, i.e., uma combinação linear qualquer de ondas é também uma onda. ◆ É importante ressaltar que a superposição de ondas não altera as caracterı́sticas de cada uma das ondas. ■ Como exemplo, vamos supor que y1 (x, t) = f (x−vt) e y2 (x, t) = g(x+vt) são duas funções de onda, descrevendo pulsos que viajam em sentidos contrários. O pulso resultante é dado por y(x, t) = y1 (x, t)+y2 (x, t) = f (x−vt)+g(x+vt) Neste exemplo, há um aumento na amplitude quando os pulsos se cruzam, ou seja, ocorre uma interferência construtiva. Aula 18 10 / 25 O princı́pio da superposição ■ Se tivermos um dos pulsos invertido em relação ao outro, o pulso resultante, dado por y(x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t) = f ′ (x − vt) + g ′ (x + vt) apresentará um cancelamento parcial entre as ondas. Neste caso, ocorre uma interferência destrutiva. Aula 18 11 / 25 Ondas estacionárias ■ Considere duas ondas harmônicas que se propagam em sentidos contrários em uma corda: y1 (x, t) = A sen (kx − ωt) y2 (x, t) = A sen (kx + ωt) A onda resultante é dada por y(x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t) = A[sen (kx − ωt) + sen (kx + ωt)] Lembrando que sen (a ± b) = sen a cos b ± cos a sen b, temos que y(x, t) = A[sen kx cos ωt − cos kx sen ωt + sen kx cos ωt + cos kx sen ωt] ∴ y(x, t) = 2A sen kx cos ωt Aula 18 (onda estacionária) 12 / 25 Ondas estacionárias ■ Os antinodos ocorrem na posição de máxima amplitude, ou seja, 1 |sen kxA | = 1 ⇒ kxA = n + π, n = 0, ±1, ±2, . . . 2 Como kλ = 2π, ■ 1 λ xA = n + 2 2 Os nodos ocorrem nos pontos de amplitude nula, em qualquer instante do tempo: sen kxN = 0 ⇒ kxN = nπ onde n = 0, ±1, ±2, . . . Logo, xN Aula 18 2A sen kx nλ = 2 13 / 25 Ondas estacionárias em cordas: modos normais de vibração ■ Considere uma corda esticada de comprimento L, com uma extremidade em x = 0 e outra em x = L. ◆ As ondas estacionárias estabelecidas na corda possuem vários padrões de vibração, conhecidos como modos normais. Cada um desses modos possui uma frequência caracterı́stica. ◆ Se as extremidades da corda estão fixas, as ondas estacionárias obedecem às seguintes condições de contorno: y(0, t) = y(L, t) = 0 ◆ Fazendo xN = L na última equação da página anterior, obtemos a condição para os comprimentos de onda presentes na corda: 2L λn = (n = 1, 2, 3, . . .) n Aula 18 14 / 25 Ondas estacionárias em cordas: modos normais de vibração λ Como v = = λν, temos que as frequências naturais de vibração T são n v (n = 1, 2, 3, . . .) νn = 2L ■ Os três primeiros modos normais de vibração de uma corda de comprimento L: ν2 λ2 = L ν1 λ1 = 2L Aula 18 ν3 2 λ3 = L 3 15 / 25 Ondas estacionárias em cordas: modos normais de vibração ■ A função de onda do n-ésimo mode normal de vibração é dada por (lembrando que ω = 2πν): nπx nπvt yn (x, y) = bn sen cos + δn (n = 1, 2, 3, . . .) L L ■ Pelo princı́pio de superposição, uma onda qualquer pode ser escrita em termos da combinação linear de todos os modos: y(x, t) = ∞ X yn (x, y) n=1 Aula 18 16 / 25 Equações de Maxwell ■ Aula 18 Os princı́pios básicos dos fenômenos eletromagnéticos podem ser descritos por um conjunto de quatro equações, conhecidas como Equações de Maxwell. Na forma integral, são elas: I ~ · dA ~= Q (lei de Gauss) (i) E ε0 I ~ · dA ~=0 (ii) B (lei de Gauss para o magnetismo) I Z d ~ · d~ℓ = − ~ · dA ~ (iii) E B (lei de Faraday) dt Z I ~ · dA ~ ~ · d~ℓ = µ0 I + µ0 ε0 d E (lei de Ampère-Maxwell) B (iv) dt 17 / 25 Equações de Maxwell – forma diferencial ■ Utilizando-se os teoremas de Gauss e de Stokes, as equações de Maxwell podem ser escritas na forma diferencial: (i) (ii) ρ ~ ~ ∇·E = ε0 ~ ·B ~ =0 ∇ (iii) ~ ∂ B ~ ×E ~ =− ∇ ∂t (iv) ~ ∂ E ~ ×B ~ = µ0~ + µ0 ε0 ∇ ∂t dQ , e ~ a densidade de corrente, que está onde ρ é a densidade de carga, ρ = dV relacionada com a corrente I por Z ~ I= ~ · dA S Aula 18 18 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas ■ No vácuo, não há cargas ou correntes elétricas, portanto ρ = 0 e ~ = 0; ◆ Por simplicidade, vamos assumir que os campos elétrico e magnético só dependem da coordenada z: ~ t) = Ex (z, t) ı̂ + Ey (z, t) ̂ + Ez (z, t) k̂ ~ r, t) = E(z, E(~ ~ r, t) = B(z, ~ t) = Bx (z, t) ı̂ + By (z, t) ̂ + Bz (z, t) k̂ B(~ ■ Com as suposições acima e lembrando que ∂ ∂ ∂ ~ k̂ ı̂ + ̂ + ∇= ∂x ∂y ∂z as equações de Maxwell nos fornecem (i) ∂Ex ∂Ey ∂Ez + + =0 ∂y ∂z {z } |{z} |∂x =0 Aula 18 ⇒ ∂Ez =0 ∂z =0 19 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas ∂Bx ∂By ∂Bz + + =0 (ii) ∂z {z } |∂y |∂x {z } =0 ⇒ ∂Bz =0 ∂z =0 ı̂ ̂ k̂ ∂ ∂ ~ ×E ~ = ∂ (iii) ∇ ∂x ∂y ∂z Ex Ey Ez ~ ∂B =− ∂t ∂Ey ∂Ex ∂ ⇒ − ı̂ + ̂ + 0 k̂ = − [Bx ı̂ + By ̂ + Bz k̂] ∂z ∂z ∂t ∂Bz ⇒ =0 ∂t ~ ∂By ∂Bx ∂ ∂ E ~ ~ ⇒ − ı̂ + ̂ = µ0 ε0 [Ex ı̂ + Ey ̂ + Ez k̂] (iv) ∇ × B = µ0 ε0 ∂t ∂z ∂z ∂t ∂Ez ⇒ =0 ∂t Aula 18 20 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas ■ As equações anteriores mostram que Ez e Bz são constantes, i.e, não dependem nem de z e nem de t. Sem perda de generalidade, podemos tomar Ez = B z = 0 ■ Da componente y da equação (iii) e componente x da equação (iv), obtemos ∂By ∂Ex (✻) ∂z = − ∂t − ∂By = µ ε ∂Ex (✻ ✻) 0 0 ∂z ∂t Derivando a equação (✻) em relação ao tempo ∂ 2 By ∂ ∂Ex =− 2 ∂t ∂z ∂t Aula 18 21 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas Como ∂ ∂Ex ∂t ∂z = temos que [usando a equação (✻ ✻)]: ∂ 2 By ∂ 1 ∂By − =− 2 ∂z µ0 ε0 ∂z ∂t ∂ ∂Ex ∂z ∂t ⇒ ∂ 2 By ∂ 2 By = µ 0 ε0 2 ∂z ∂t2 Analogamente, das equações (✻) e (✻ ✻), obtemos ∂ 2 Ex ∂ 2 Ex = µ 0 ε0 2 ∂z ∂t2 Aula 18 22 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas ➠ Os campos Ex e By satisfazem simultaneamente a equação da onda, onde a velocidade de propagação é 1 v=√ ≡c µ 0 ε0 ■ As ondas eletromagnéticas são ondas transversais: os campos elétrico e magnético oscilam em direções perpendiculares à direção da propagação da onda (direção z). x ~ E y ~ B c Aula 18 z 23 / 25 Equações de Maxwell no vácuo: ondas eletromagnéticas Aula 18 ■ Tomando os valores experimentais µ0 = 4π × 10−7 T·m/A e ε0 = 8, 85419 × 10−12 C2 /N·m2 , obtemos c = 2, 99792 × 108 m/s. ■ Final do século XIX: a luz foi considerada como uma onda eletromagnética propagando-se com velocidade c num meio hipotético que permeava todo o universo, denominado “éter”. ■ Um referencial em movimento relativo ao éter observaria a velocidade da luz como sendo diferente de c. O “éter” é um referencial inercial privilegiado. ■ Experimento de Michelson-Morley: a Terra estando em movimento em relação ao Sol, haveria alguma direção em que o “vento do éter” mudaria a velocidade da luz. O resultado negativo, sem qualquer sentido na época, mostrou que a Terra estava sempre em repouso em relação ao “éter”. ■ Postulado da teoria especial da relatividade, desenvolvida por Einstein: a onda eletromagnética se propaga com velocidade c no vácuo, em qualquer referencial inercial. Compatibilidade com as equações de Maxwell. 24 / 25 Referências Aula 18 ■ R. A. Serway, e J. W. Jewett Jr., Princı́pios de Fı́sica, Vol. 3, Cengage Learning; ■ D. Halliday, R. Resnick e K. S. Krane, Fı́sica, Vol. 3, LTC; ■ H. D. Young e R. A. Freedman – Sears e Zemansky, Fı́sica III: Eletromagnetismo, Pearson Addison Wesley. 25 / 25