UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO REITORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO Período: Agosto/2014 a Julho/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO PANMIXIA É CARACTERÍSTICA DE POPULAÇÕES DE PEIXES MIGRADORES?: O CASO DO MAPARÁ (HYPOPHTHALMUS MARGINATUS, VALENCIENNES, 1840- PIMELODIDAE, SILURIFORMES) NA BACIA AMAZÔNICA. Nome do Orientador: SIMONI SANTOS DA SILVA Titulação do orientador: DOUTOR Departamento: FACULDADE DE ENGENHARIA DE PESCA Unidade: INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS - CAMPUS DE BRAGANÇA Laboratório: LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA DO PESCADO Título do Plano de Trabalho: ESTUDOS GENÉTICO-POPULACIONAIS EM HYPOPHTHALMUS MARGINATUS DA BACIA DO RIO TOCANTINS Nome do Bolsista: ANTONIA SILVIA LIMA DA COSTA Tipo de Bolsa: ( ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq-AF (X) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA-AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD ( ) PARD – renovação ( ) PADRC ( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007 INTRODUÇÃO: Os maparás, H. marginatus Valenciennes, 1840; Hypophthalmus edentatus Spix & Agassiz, 1829, e H. fimbriatus Kner,1858, são as três espécies da família Pimelodidade, que ocorrem na bacia Amazônica (ARAÚJO-LIMA & RUFFINO, 2003; LUNDBERG & LITTMANN, 2003). Estas espécies podem ser encontradas em rios, do Peru, Paraguai, Suriname e Guianas, e no caso de H. marginatus, também na bacia do rio Araguaia-Tocantins (CARVALHO, 1978; ALCÂNTARA NETO, 1994). Estes correspondem a um grupo de peixes de águas continentais que têm se destacado entre os pimelodídeos da Amazônia brasileira, ocupando a terceira posição entre os Siluriformes nos desembarques pesqueiros (IBAMA, 2007; MPA, 2010; FERREIRA, 2012). Os maparás diferem dos demais Siluriformes pela posição dos olhos, ligeiramente voltados para baixo; rastros branquiais longos e numerosos; abertura branquial muito ampla e livre do ístmo; nadadeira anal muito longa e ausência de espinhos nas nadadeiras, e diferenciam-se entre os da mesma espécie por detalhes no formato do focinho, da nadadeira caudal e pela largura dos barbilhões (SANTOS et al., 2006). São peixes reofílicos, ou seja, efetuam migrações para reprodução (CARVALHO, 1980). Quanto ao hábito alimentar e localização na coluna d'água, diferem dos Siluriformes em geral, pois enquanto a maioria constitui-se por peixes demersais e carnívoros, os maparás são estritamente pelágicos e planctófagos (CUTRIM & BATISTA, 2005). A espécie alvo deste estudo, H. marginatus (Figura 1), conhecida popularmente como mapará, diferencia-se das demais espécies de Hypophthalmus por apresentar focinho longo; nadadeira caudal profundamente furcada, com lóbulos pontiagudos e uma linha lateral não pontilhada (CUTRIM & BATISTA, 2005; SANTOS et al., 2006). Distingue-se de H. edentatus por possuir nadadeira caudal fortemente furcada em todos os tipos de tamanho, e de H. fimbriatus por não apresentar barbilhões mentonianos largos e achatados (LOPEZ-FERNÁNDEZ & WINEMILLER, 2000). Esta é uma espécie onívora que se alimenta de pequenos crustáceos e microalgas, embora incluam em sua dieta larvas de insetos, ovos de peixes, ácaros e rotíferos (CARVALHO et al., 1978; CARVALHO, 1980; CUTRIM & BATISTA, 2005). Os exemplares alcançam 30 cm de comprimento e estima-se que sua desova ocorra uma vez ao ano, no período das cheias na Amazônia (CINTRA et al., 2007). É uma espécie que forma grandes cardumes durante grande parte do ano e realiza migrações para alimentação e reprodução (CARVALHO & MÉRONA, 1986). Dentre outras espécies que ocorrem na bacia Araguaia-Tocantins, em território paraense, o mapará H marginatus, destaca-se por ser uma espécie de interesse comercial (MESCHKAT, 1961; CARVALHO & MERONA, 1986). Carvalho & Mérona (1986) estudando o ciclo migratório de H. marginatus, na bacia do Araguaia-Tocantins observaram que os indivíduos migram da foz até as áreas de corredeiras, para desovar, no período chuvoso, entre dezembro e fevereiro. Segundo MÉRONA et al., 2004, os ovos e larvas do mapará são levados pela correnteza até a foz do Rio Tocantins, e os alevinos ficam nesta área para alimentação. Figura 1. H. marginatus Valenciennes, 1840. Foto: Edinaldo Ferreira Em 1999, a Comissão Mundial de Barragens (CMB) constatou alterações na ictiofauna da bacia do Tocantins a partir da formação do reservatório de Tucuruí (ocorrido em 1984), dentre estas a diminuição da diversidade da ictiofauna da bacia Araguaia-Tocantins (de 300 para 271 espécies) e a redução do estoque pesqueiro do mapará no baixo Tocantins (SANTOS et al., 1984). Outro aspecto relevante é que as barragens são barreiras à migração de espécies reofílicas, como é o caso do mapará, o que pode impedir a conectividade genética das populações à montante e à jusante influenciando, na estruturação genética destas espécies (MÉRONAet al., 2004). É válido ressaltar que apesar de vários trabalhos relatarem aspectos bioecológicos de H. marginatus, bem como sua importância econômica, apenas um trabalho de genética populacional foi realizado tendo como alvo esta espécie na bacia do Araguaia-Tocantins, no qual foi observada sub-estruturação populacional a montante e à jusante da UHE de Tucuruí, justificada pela influência da barragem a qual pode estar impedindo o fluxo gênico entre as populações avaliadas (HERNÁNDEZ-RUZ et al., 2013). Por outro lado, há vários estudos que consideram a panmixia comum entre as grandes populações de espécies migradoras na bacia amazônica (BATISTA et al., 2005; BATISTA & ALVES-GOMES, 2006; SANTOS et al., 2007, BATISTA, 2010). Com isso, este padrão precisa ser testado para o mapará ao longo da bacia do AraguaiaTocantins. JUSTIFICATIVA Migrações reprodutivas são comuns em várias espécies de peixes na América do sul, mas estudos científicos sobre estes são escassos (CAROLSFELD et al., 2003). Estudos genético-populacionais, desenvolvidos com outros bagres, sugerem que o comportamento de migração para a desova propicia amplo intercâmbio genético entre as populações, caracterizando-as como grandes populações panmíticas na bacia Amazônica (FORMIGA-AQUINO, 2004; BATISTA et al., 2005; BATISTA & ALVES-GOMES, 2006; BATISTA, 2010). Recentemente, estudos populacionais utilizando a região controle do DNA mitocondrial revelaram a presença de dois grupos de H. marginatus na bacia Amazônica, cujo padrão de diferenciação sugere que sejam espécies distintas (FERREIRA, 2012), porém quando se avalia as populações de cada grupo o padrão de panmixia é corroborado. Por outro lado, Hernández-Ruz et al. (2013), utilizando a citocromo b do DNA mitocondrial, avaliaram populações de mapará da bacia do Araguaia-Tocantins e detectaram diferenciação entre populações nesta área, a montante e a jusante da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Posteriormente, Mesquita (2013) estudando a região controle mitocondrial, sugere panmixia entre populações de maparás da bacia do Amazonas e Araguaia-Tocantins, mas esta autora só analisou a população de Tucuruí, no Tocantins, fazendo-se necessário um estudo mais abrangente com populações desta bacia hidrográfica para avaliar se a estrutura genética populacional é concordante com o padrão de panmixia ou de sub-estruturação como sugerido por Hernandez-Ruz (2013). OBJETIVOS Objetivo geral Avaliar a estrutura populacional e variabilidade genética de H. marginatus da bacia do rio Araguaia/Tocantins Objetivos Específicos i) Obter sequências da região controle do DNA mitocondrial de H. marginatus; ii) Avaliar o grau de estruturação genética entre as populações de H. marginatus na área amostrada; iii) Avaliar os índices de diversidade genética de H. marginatus; iv) Fornecer subsídios para futuros planos de manejo; MATERIAL E MÉTODOS Amostragem Considerando que Ferreira (2012) verificou dois grupos geneticamente diferenciados de H. marginatus, compatíveis com espécies distintas, o qual designou de Tipo I e Tipo II, o presente trabalho avaliou apenas indivíduos da linhagem tipo I definida por este autor. Foram avaliadas 113 amostras de H. marginatus, sendo 30 coletadas em Cametá a jusante da UHE de Tucuruí, e um total de 83 a montante, sendo 43 no lago da UHE, 23 em Marabá e 17 em Conceição do Araguaia. Todos os exemplares foram identificados com literatura especializada (LÓPEZ-FERNÁNDEZ & WINEMILLER, 2000) e de cada indivíduo foi retirado tecido muscular em seguida acondicionado em etanol absoluto ou congelado até o momento da extração de DNA. Procedimentos laboratoriais O DNA total foi isolado através da extração com o kit de purificação de DNA Wizard® Genomic DNA Purification (Promega), seguindo instruções do fabricante. Para avaliar a qualidade do DNA extraído foram realizadas eletroforeses, em gel de agarose (1%) corado com Gel Red, e os resultados visualizados em transiluminador de luz ultravioleta. Um fragmento da região controle foi amplificado por PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), em reações de 25µl contendo 4 µl de DNTP(1,25 mM), 2,5 µl de tampão (10x), 1 µl de cloreto de magnésio (50 mM), 0,25 µl dos iniciadores A e G de Lee et al. (1995), (200 ng µl), 1-1,5 µl de DNA total (100 ng/ µl), 0,2 µl de Taq DNA Polimerase (5U/ µl) e água purificada para completar o volume final. O programa de amplificação consistiu de um ciclo inicial de desnaturação a 94 ºC por 3 minutos, seguido de 35 ciclos de desnaturação a 94 ºC por 30 segundos, hibridização a 50 ºC por 1 minuto, extensão 72 ºC por 2 minutos e extensão final a 72 ºC por 7 minutos. Todas as reações positivas foram sequenciadas pelo método di-desoxi terminal com eletroforeses no ABI 3500XL (Applied Biosystems). As sequências obtidas foram editadas e alinhadas no programa Bioedit 7.1.3.0 (HALL, 1999) e foram criados bancos de dados no formato de entrada dos programas de análises genéticas. Análises populacionais No programa DNAsp 5.10.01 (LIBRADO & ROZAS, 2009) foram selecionados os haplótipos de cada população e gerados os arquivos no formato de entrada dos programas de análises genéticas. Para a análise de relação entre os haplótipos nas populações estudadas, no PhyML 3.0 (GUINDON et al., 2010) foi gerada a árvore de verossimilhança a qual foi utilizada como base para a construção da rede de haplótipos no programa Haploviewer (SALZBURGER et al., 2011). No programa MEGA 5.0 (TAMURA et al., 2011) foi calculado o número de sítios polimórficos e a composição média de bases para a região genômica avaliada. Para as demais análises populacionais foi utilizado o programa Arlequin 3.5.1.2 (EXCOFFIER & LISCHER, 2010). A diversidade genética das populações foi estimada utilizando-se os índices de diversidades haplotípica (h) e nucleotídica (π). A diferenciação genética entre os pares de populações foi avaliada utilizando-se o índice de Fixação (FST), e a significância dos valores gerados foi obtida através de 10.000 permutações randômicas. A análise de variância molecular (AMOVA) foi realizada para verificar o particionamento da variação genética dentro e entre as populações de H. marginatus para isso foram considerados dois grupos, o primeiro constituído por Cametá, e um segundo, integrando Tucuruí, Marabá e Conceição do Araguaia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a realização do estudo de genética de populações entre populações de H. marginatus da bacia Araguaia-Tocantins, foram sequenciados 546 pares de bases (pb) da região controle do DNA mitocondrial de 113 indivíduos, dos quais 30 foram amostrados em Cametá, 43 em Tucuruí, 23 em Marabá e 17 de Conceição do Araguaia. A composição de bases nitrogenadas apresentou os maiores valores médios para Timina (30,74%) e Adenina (30,58%), seguidos por Citosina (23,55%) e Guanina (15,12%) e as substituições mais frequentes foram as transições. Padrão semelhante foi encontrado em estudos que utilizaram a região controle de outros peixes, tais como Brachyplatystoma rousseauxii (BATISTA & ALVES-GOMES, 2006), Lutjanus campechanus (GARBER et al., 2004) e Cynoscion acoupa (RODRIGUES, 2007). Sessenta e cinco sítios polimórficos foram detectados resultando em um total de 56 haplótipos, sendo 60% únicos e 40% compartilhados por mais de um indivíduo. O haplótipo 31 foi o mais frequente, compartilhado por treze indivíduos e presente em três das quatro populações analisadas. Apesar da alta frequência de haplótipos únicos principalmente na localidade de Cametá, o compartilhamento de haplótipos entre os diferentes locais amostrados e a proximidade genética entre estes ainda não evidenciam claro padrão de sub-estruturação entre as populações analisadas (Figura 2). Vários trabalhos com espécies migradoras sugerem a presença de populações panmíticas como é o caso de Brachyplatystoma rousseauxii (BATISTA & ALVES-GOMES, 2006; BATISTA, 2010), Brachyplatystoma vaillantii (FORMIGA-AQUINO, 2004), Prochilodus lineatus (MORELLI, 2008) e H. marginatus na bacia Amazônica (SANTOS, 2013). Figura 2. Rede de haplótipos baseada nos sítios polimórficos de 546 pb da região controle de H. marginatus. Pontos sobre as linhas indicam os haplótipos não amostrados ou extintos. Altos índices de diversidade genética foram observados em ambas as populações (Tabela 1), padrão similar ao observado em resultados obtidos em estudos desenvolvidos com outras espécies migradoras a exemplo de B. vaillantii (FORMIGAAQUINO, 2004), Prochilodus nigricans (MACHADO, 2009), Semaprochilodus insignis (PASSOS, 2009) e Colossoma macropomum (SANTOS et al., 2007). A alta diversidade genética pode estar relacionada à maior taxa de mutação da região controle, em comparação com outras regiões do DNA mitocondrial, devido esta não ser codificadora (BREMER et al., 1997; SIVASUNDAR et al. 2001; MCPHEE et al. 2008; YAN et al. 2008; NAZIA et al. 2010). Por outro lado, altos índices de diversidade genética é característica compartilhada por peixes migradores e que formam populações panmíticas, devido terem os efeitos da deriva genética (a qual diminui a diversidade gênica intra-específica) minimizados pelo grande tamanho populacional (SANTOS, 2007). Embora H. marginatus, seja uma espécie de importante valor econômico e que cada vez mais vêm sofrendo intensa pressão pesqueira, estes elevados valores de diversidade genética indicam que a exploração desse recurso não parece atuar como fator responsável por uma possível redução em seus índices de diversidade genética em curto prazo, no DNA mitocondrial. Tabela 1. Índices de diversidade genética e testes de neutralidade para as populações de H. marginatus. População N NH h±DP π ± DP Cametá 30 25 0,986 +/- 0,012 0,014+/- 0,007 Tucuruí 43 20 0,949 +/- 0,014 0,016+/- 0,008 Marabá 23 16 0,960 +/- 0,025 0,018 +/- 0.009 Conceição 17 13 0,963 +/- 0,032 0,018 +/- 0.010 Siglas: N - número de amostras sequenciadas; NH - número de haplótipos; h diversidade haplotípica; π - diversidade nucleotídica; DP - desvio padrão. A análise hierárquica de variância molecular (AMOVA), considerando dois grupos, sendo um constituído por Cametá (a jusante da barragem da UHE) e outro pelas demais populações (a montante da barragem da UHE), revelou que a maior parte da variância dos dados (92,50%) foi associada à variação intrapopulacional (Tabela 2), não sendo significativa a variação entre grupos (p>0,05). Tabela 2. Análise de Variância Molecular (AMOVA) para as populações de H. marginatus a partir da comparação entre as populações de Cametá, Tucuruí, Marabá e Conceição do Araguaia. Fonte de Variação Entre grupos (montante x jusante) Entre populações dentro dos grupos Dentro das populações Porcentagem de Variância 3,43 F/Φ-estatístico P F/ΦCT = 0,03 >0,05 4,06 F/ΦSC = 0,04 >0,05 92,50 F/ΦST = 0,07 < 0,05 Todavia, o teste de diferenciação genética entre os pares de população (FST) sugere que a população de Cametá é significativamente diferenciada das populações a montante da barragem da UHE (Tabela 3). Embora as demais análises do presente estudo não evidenciem sub-estruturação, a diferenciação observada no FST entre populações a montante e jusante da barragem da UHE também foi observada por Hernández-Ruz et al. (2013) o qual atribuiu tal padrão à presença de haplótipos únicos em populações a jusante, também verificado no presente trabalho, que seriam resultado de fluxo gênico entre estas e estoques distintos da bacia Amazônica ou do Marajó. Porém, Santos (2013) não verificou subdivisão populacional entre as populações das bacias do Araguaia-Tocantins e Amazonas propondo padrão de panmixia entre estas bacias. Por outro lado, a diferenciação entre grupos à montante e jusante da UHE de Tucuruí pode ser resultado da redução do fluxo gênico devido à construção da barragem. Estudos realizados com espécies de peixes em áreas de hidrelétricas sugerem que a construção de barragens pode impedir a reprodução entre populações a montante e jusante promovendo a diferenciação genética ao longo do tempo (AGOSTINHO et al., 1992; HATANAKA & GALETTI, 2003; YAMAMOTO et al., 2004). Hanataka et al. (2006) também registraram valores significantes de FST em populações de Prochilodus argenteus isoladas por barragem de hidrelétrica no Rio São Francisco. A ausência de diferenciação entre populações a montante e justante da barragem da UHE de Tucuruí, nas demais análises do presente estudo, podem ser devido ao pouco tempo decorrido desde a construção da barragem até o presente, cerca de 30 anos, o que não foi suficiente para promover elevada diferenciação ao nível do DNA mitocondrial. Por outro lado, pode ser que ainda haja fluxo gênico entre populações a montante e a jusante pela possibilidade de peixes passarem pelas turbinas ou por meio da abertura dos vertedouros na época das cheias, o que já foi proposto por outros autores (SILVA, 2006; MARTELETO, 2011). Considerando as populações a montante, foi observada significativa diferenciação entre Tucuruí e Conceição do Araguaia (Tabela 3), o que pode ser devido às adaptações locais das populações aos seus habitats uma vez que em espécies migradoras a distância parece não exercer influência sobre a estrutura genética populacional. Hernández-Ruz et al. (2013) também verificaram que não houve correlação entre distância genética e geográfica em estudo com H. marginatus da bacia do Araguaia-Tocantins. Porém mais estudos devem ser realizados para avaliar o padrão observado. Tabela 3 - Índice de fixação (FST) entre os pares de populações. Cametá Tucuruí Marabá Cametá Tucuruí 0,060* Marabá 0,088* -0,007 C. do Araguaia 0,114* 0,092* 0,045 *significante ao nível de 0,05%. CONCLUSÕES Populações de H. marginatus apresentam elevada diversidade genética; O FST mostra diferenciação entre populações a montante e jusante da UHE, que pode ser devido à redução do fluxo gênico ocasionada pela construção da barragem de Tucuruí; A diferenciação entre Tucuruí e Conceição do Araguaia pode ser devido às adaptações ecológicas destas populações aos seus habitats; Novos estudos, ampliando a área de amostragem de H.marginatus na bacia do Tocantins devem ser realizados para esclarecer os padrões de diferenciação genética observados. REFERÊNCIAS AGOSTINHO, A. A.; JÚLIO JR., H. F.; BORGHETTI, J. R. (1992). Considerac¸o˜es sobre os impactos dos represamentos na ictiofauna e medidas para a sua atenuac¸a˜o Um estudo de caso: reservato´rio de Itaipu. Rev. Unimar 14(Suppl.): 89–107. ALCÂNTARA-NETO, C. P. Ecologia e pesca dos maparás, Hypophthalmus spp. (Siluriformes, Hypophthalmidae), no lago Grande de Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará. Dissertação de Mestrado. Belém: Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emilio Goeldi. 1994. 141p. ARAÚJO-LIMA, C. A. R. M. e RUFFINO, M. L. Migratory fishes of the Brazilian Amazon. In: CAROLSFELD, J.; HARVEY, B.; ROSS, C.; BAER, A. (eds.) Migratory Fishes of South America: Biology, Fisheries and Conservation Status. Canadá: The World Bank, cap. 6, p.233–291. 2003. BARTHEM, R.; LAMBERT, M.; PETRERE, M. Life strategies of some long-distance migratory catfish in relation to hydroelectric/dams in the Amazon Basin. Biol. Conserv. 55:339-345. 1991. BATISTA, J. S, FORMIGA-AQUINO, K., FARIAS, I. P. & ALVES-GOMES. Variabilidade genética da dourada e da piramutaba na bacia amazônica. In: FABRÉ, N. N. & BARTHEM, R. B. O manejo da pesca dos grandes bagres migradores. Manaus: Provarzea/IBAMA. 2005. p. 15-18. BATISTA, J. S. & ALVES-GOMES, J. A. Phylogeography of Brachyplatystoma rousseauxii (Siluriformes - Pimelodidae) in the Amazon Basin offers preliminary evidence for the first case of “homing” for an Amazonian migratory catfish. Genetics and Molecular Research. 2006. 5: 723-740. BATISTA, J. S. Caracterização genética da dourada - Brachyplatystoma rousseauxii, Castelnau, 1855 (Siluriformes: Pimelodidae) na Amazônia por meio de marcadores moleculares mitocondriais e microssatélites: subsídios para conservação e manejo. Tese de doutorado. Manaus. GCBEv/INPA. 2010. 148 p. BREMER, J. R. A.; NASERI, I.; ELY, B. (1997). Orthodox and unorthodox phylogenetic relationships among tunas revealed by the nucleotide sequence analysis of the mitochondrial DNA control region. Journal of Fish Biology, 50, 540–554. CAROLSFELD, J., HARVEY, B., ROSS, C. & BAER, A. 2003. Migratory fishes of South America. Biology, fisheries and conservation status. Vic.: World Fisheries Trust. 388 pp. CARVAJAL-VALLEJOS, F. M.; DUPONCHELLE, F.; DESMARAIS, E.; CERQUEIRA, F.; QUEROUIL, S.; NUÑEZ, J.; GARCÍA, C.; RENNO, J.F. Genetic structure in the Amazonian catfish Brachyplatystoma rousseauxii: influence of life history strategies. Genetica, 142: 323-336. 2014. CARVALHO, F. M. Composição química e reprodução do mapará (Hypophthalmus edentatus Spix, 1829) do lago do Castanho, Amazonas (Siluriformes, Hypophthalmidae). Acta Amazonica, Manaus, 10(2): 379-389. 1980. CARVALHO, J. L. de Contribuição ao conhecimento da biologia do mapará, Hypophthtalmus perporosus Cope 1878 (Pisces Hypophthalmidae) no baixo e médio Tocantins. Boletim da Faculdade de Ciências Agrarias do Pará, 1978. v. 10, p. 37-57. CARVALHO, J. L. de; MÉRONA, B. de. Estudos sobre dois peixes migratórios do baixo Tocantins antes do fechamento da barragem de Tucuruí. Amazoniana, v. 9, p. 595-607, 1986. CINTRA, I. H. A., JURAS, A. A., ANDRADE; J. A. C.; OGAWA, M. Caracterização dos desembarques pesqueiros na área de influência da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, estado do Pará, Brasil. Bol. Tec. Cient. CEPNOR, 7(1): 135-152. 2007. CMB - Comissão Mundial de Barragens. Estudo de caso da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (Brasil): relatório final da fase de escopo. Rio de Janeiro. 1999. CUTRIM, L. & BATISTA, V. S. Determinação de idade e crescimento do mapará (Hypophthalmus marginatus) na Amazônia Central. Acta amazonica. 35 (1): 8592. 2005. EXCOFFIER, L. & H. E. L. LISCHER. (2010). Arlequin suite ver 3.5: A new series of programs to perform population genetics analyses under Linux and Windows. Molecular Ecology Resources. 10: 564-567. FERREIRA, E. S. Variabilidade genética, estrutura populacional e filogeografia do mapará (Hypophthalmus marginatus valenciennes, 1840 - pimelodidae, siluriformes) no estado do Pará, utilizando sequências de DNA mitocondrial. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Oeste do Pará. 2012. 65p. FORMIGA-AQUINO, K. Variabilidade genética da piramutaba - Brachyplatystoma vaillantii (Velenciennes, 1840) (Siluriformes - Pimelodidae) no sistema Estuário- Amazonas-Solimões. Dissertação de Mestrado. Manaus. INPA/UFAM. 2004. 73 p. GARBER A. F.; TRINGALI, M. D.; STUCK, K. C. (2004). Population Structure and Variation in Red Snapper (Lutjanus campechanus) from the Gulf of Mexico and Atlantic Coast of Florida as Determined from Mitochondrial DNA Control Region Sequence. Mar. Biotechnol. (6): 175–185. GUINDON, S.; DUFAYARD, J. F.; LEFORT, V.; ANISIMOVA, M.; HORDIJK, W.; GASCUEL, O. New algorithms and methods to estimate maximumlikelihood phylogenies: assessing the performance of PhyML 3.0. Systematic Biology. 59(3): 307-21, 2010. HALL, T. A. BioEdit: a user-friendly biological sequence alignment editor and analysis program for Windows 95/98/NT. Nucl Acids Symp Ser. 41: 95-98, 1999. HERNÁNDEZ-RUZ E. J.; GONÇALVES, E. C.; SILVA, A.; SCHNEIDER, M. P. C. Low genetic diversity of Hypophthalmus marginatus from the Tocantins River based on cytochrome b sequence data. International Journal of Genetics and Molecular Biology. Vol. 5(6), pp. 71-77. November, 2013. IBAMA. Portaria nº 48, de 05 de novembro de 2007. Brasília: IBAMA. 2007b. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/wpcontent/files/ Portaria%20IBAMA%20n%C2%BA48-2007-Defeso_Amazonia.pdf. Acesso em 30/09/2014. KAWAMURA, K.; YONEKURA, R.; KATANO, O.; TANIGUCHIS, Y.; SAITOH, K. (2006). Origin and dispersal of bluegill sunfish, Lepomis macrochirus, in Japan and Korea. Molecular Ecology, 15, 613-621. KREBS, J. R. & DAVIES, N. B. (1996). An introduction to behavioral ecology. Blackwell Scientific Publications, Oxford, 420 pp. LEE, W. J., CONROY, J., HOWELL, W. H. & KOCHER, T. D. Structure and evolution of teleost mitochondrial control regions. J Mol Evol. 41: 54-66, 1995. LIBRADO, P. & ROZAS, J. DnaSP v5: A software for comprehensive analysis of DNA polymorphism data. Bioinformatics. 25: 1451-1452, 2009. LOPEZ-FERNÁNDEZ, H.; WINEMILLER, K. O. A review of Venezuelan species of Hypophthalmus (Siluriformes: Pimelodidae). Ichthyological Exploration of Freshwaters. 11: 35–46, 2000. LUNDBERG, J. G. & LITTMANN, M. W. Pimelodidae. In: REIS, R. E.; KULLANDER, S. O. & FERRARIS-JR, C. J. (Eds.), Check list of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre. Edipucrs. 2003. p. 432–446. HATANAKA, T. & GALETTI JR, P. M. 2003. RAPD markers indicate the occurrence of structured populations in a migratory freshwater fish species. Genet. Mol. Biol., vol. 26, no. 1, p. 19-25. HATANAKA, T.; HENRIQUE-SILVA, F., GALETTI JR., P. M. Population substructuring in a migratory freshwater fish Prochilodus argenteus (Characiformes, Prochilodontidae) from the Sa˜o Francisco River. Genetica, 126:153–159, 2006. HASSANIEN, H. A., ELNADY, M., OBEIDA, A.; ITRIBY, H., (2004). Genetic diversity of Nile tilapia populations revealed by randomly amplified polymorphic DNA (RAPD). Aquac Res., vol. 35, no. 6, p. 587-593. MACHADO, V. N. 2009. Análise da variabilidade genética da curimatã Prochilodus nigricans (Agassiz,1829) na calha do rio Amazonas e seus principais tributários. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Pesqueiras nos Trópicos/Universidade Federal do Amazonas. Manaus, Amazonas. 65pp. MARTELETO, F. M. Influência de barragens hidrelétricas sobre a estruturação genética de Prochilodus spp (Characiformes, Prochilodontidae) nas bacias hidrográficas do rio Tocantins e do rio São Francisco. Dissertação de mestrado. Curitiba. UFPR. 2011. 69 p. MCPHEE, M. V.; OSBORNE, M. J.; TURNER, T. F. (2008). Genetic Diversity, Population Structure, and Demographic History of the Rio Grande Sucker, Catostomus (Pantosteus) plebeius, in New Mexico. Copeia, 1, 191–199. MÉRONA, B., SANTOS, G. M., JURAS, A. A. & CINTRA, I. H. A. C. Os peixes e a pesca no baixo rio Tocantins: 20 anos depois da UHE Tucuruí. Eletronorte/IRD/INPA/UFRA. 2004. MESCHKAT, A. Report to the government of Brazil on the fisheries of the Amazon region. 1961. FAO Rep. 1305. Rome. 77p. MORELLI, K. A. Migração do curimbatá (Prochilodus lineatus, Prochilodontidae, Characiformes) no rio Mogi-Guaçú: Aspectos genético-populacionais. Tese de doutorado. Botucatú. UNESP. 2008.141p. MPA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura. Brasil 2010. Brasília: Ministério da Pesca e Aquicultura. IBAMA. Disponível em: http://www.mpa.gov.br. Acesso em set-2014. NAZIA, A. K.; SUZANA, M.; AZHAR, H.; NGUYEN THUY, T. T.; SITI AZIZAH, M. N. (2010). No genetic differentiation between geographically isolated populations of Clarias macrocephalus Günther in Malaysia revealed by sequences of mtDNA Cytochrome b and D-loop gene regions. Journal of Applied. Ichthyology. 26. 568–570. NERAAS, L. P. & SPRUELL, P. Fragmentation of riverine systems: the genetic effects of dams on bull trout (Salvelinus confluentus) in the Clark Fork River system. Molecular Ecology, 10, 1153–1164, 2001. PASSOS, K. B. 2009. Genética populacional do jaraqui de escama grossa (Semaprochilodus insignis – Prochilodontidae, Characiformes). Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica/Universidade Federal do Amazonas. Manaus, Amazonas. 56pp. RODRIGUES, R. M. S. (2007). Análise da Variabilidade Genética da Pescada Amarela (Cynoscion Acoupa - Sciaenidae) da Costa Norte Brasileira Baseada no Sequenciamento da Região Controle do Dna Mitocondrial. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará. 70p. SALZBURGER, W.; EWING, G. B.; VON HAESELER, A. The performance of phylogenetic algorithms in estimating haplotype genealogies with migration. Molecular Ecology. 20:1952-1963, 2011. SANCHES, A. & GALETTI JR, P. M. Genetic evidence of population structuring in the neotropical freshwater fish Brycon hilarii (Valenciennes, 1850). Braz. J. Biol., 67(4): 889-895, 2007. SANTOS, G. M. dos; JEGU, M.; MERONA, B. de; Catálogo de peixes comerciais do baixo rio Tocantins; projeto Tucuruí. Manaus, ELETRONORTE/CNPq/INPA, 1984. SANTOS, G. M.; EFREM, J. G. FERREIRA, E. J. G.; ZUANON, J. A. S. Peixes comerciais de Manaus: Ibama-AM, ProVárzea, Manaus 2006. SANTOS, J. C. M. (2013). Estudos genético-populacionais em Hypophthalmus marginatus (Valenciennes, 1840 - Pimelodidae, Siluriformes) em rios paraenses. Trabalho de Conclusão de Curso. UFPA. Bragança: 41p. SANTOS, M. D. C. F.; RUFFINO, M. L.; FARIAS, I. P. High levels of genetic variability and panmixia of the tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) in the main channel of the Amazon River. J. Fish Biol. (2007). 71a: 33-44. SILVA, R. G. Análise da estrutura genética populacional do curimbatá (Prochilodus lineatus, Characiformes: Prochilodontidae) na região da bacia do Rio Grande, SP. Dissertação de mestrado. São Paulo. Instituto de Biociências da USP. 2006. 112 p. TAMURA, K.; PETERSON, D.; PETERSON, N.; STECHER, G.; NEI, M.; KUMAR, S. MEGA5: Molecular Evolutionary Genetics Analysis using Maximum Likelihood, Evolutionary Distance, and Maximum Parsimony Methods. Molecular Biology and Evolution 28: 2731-2739, 2011. YAMAMOTO, S.; MORITA, K.; KOIZUME, I.; MAEKAWA, K. (2004). Genetic differentiation of white spotted charr (Salvelinus leucomaenis) populations after habitat fragmentation: Spatial-temporal changes in gene frequencies. Conserv. Genet., vol. 5, no. 4, p. 529-538. YAN, L.; WANG, D., FANG, Y. Genetic diversity in the bronze gudgeon, Coreius heterodon, from the Yangtze River system based on mtDNA sequences of the control region. Environmental Biology of Fishes, 82, 35–40, 2008. PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação, se for o caso. A aluna Antônia Silvia Lima da Costa é aplicada em suas atividades e já está apta a desenvolver todas as etapas do seu trabalho de forma independente. Além das habilidades na prática laboratorial demonstra interesse pelo assunto tema do projeto e tem iniciativa própria na busca de novas informações que venham a aumentar seu conhecimento teórico sobre o tema. DATA : 07/08/2015 _________________________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR