1 Recomposição do Serviço em Redes de Distribuição de Média Tensão Usando Parâmetros de Sensibilidade J. L. Silva Jr., DEE/UFRN, [email protected] M. F. Medeiros Jr., DCA/UFRN, [email protected] M. C. Pimentel Filho, Universidade Potiguar - UnP, [email protected] Resumo — Este artigo apresenta o desenvolvimento de uma heurística para a determinação dos chaveamentos necessários à recomposição do serviço em redes de distribuição, usando parâmetros de sensibilidade, a fim de determinar a influência da variação das potências ativa e reativa acumuladas em uma barra sobre as tensões de todas as barras da rede. Os parâmetros são determinados a partir da equação biquadrada que relaciona as tensões entre as barras de início e final de um trecho e as potências acumuladas na barra final. A partir de uma linearização com base nesses parâmetros, estimam-se as tensões em todas as barras, após o fechamento de uma chave de interligação que possa alimentar uma ilha de cargas, isoladas por um defeito na rede. Caso as tensões estimadas não atendam às restrições operacionais em algumas barras, inicia-se um processo de exclusão de carga das potências acumuladas da barra com menor tensão, para calcular novos parâmetros e tensões estimadas, até que as restrições operacionais sejam atendidas. Após a verificação dos limites operacionais por um cálculo exato fluxo de carga, os chaveamentos são determinados. Trata-se de um método extremamente rápido para recompor o serviço, envolvendo apenas os alimentadores que guardam relação com o defeito. Palavras Chaves — Reconfiguração de redes de distribuição. Recomposição do serviço. Parâmetros de sensibilidade. I. INTRODUÇÃO A reconfiguração é uma modificação na topologia de uma rede de distribuição, objetivando ao atendimento de determinadas condições operativas dessa rede. Os trechos da rede são constituídos pelos condutores e por chaves de proteção ou apenas de manobra. Como cada configuração da rede é representada pelo estado dos trechos ou das chaves (aberto/fechado), para reconfigurá-la em contingências, devese escolher quais as chaves que devem abrir e quais as chaves que devem fechar. Essa escolha é feita, normalmente, considerando-se um elevado número de chaves, em grandes e complexos sistemas de distribuição. Como consequência, ocorre uma explosão combinatória do número de configurações radiais factíveis e um aumento de dificuldade para os operadores do sistema, característica que torna o problema da reconfiguração bastante desafiador. Em sua maioria, as técnicas heurísticas de reconfiguração existentes podem ser divididas em três métodos clássicos: (1) o método da troca de trechos, com o sistema operando em uma configuração radial factível e o algoritmo abrindo e fechando chaves aos pares, caracterizando uma “troca de trechos”. Este método foi utilizado por Civanlar [1] e melhorado por Baran e Wu [2] e Glamocanin [3]; (2) o método baseado em laços, no qual o sistema é considerado inicialmente com todas as chaves de interligação fechadas e com um determinado número de laços. Os laços vão sendo abertos, um a um, de acordo com a função objetivo adotada, normalmente a minimização de perdas. Quando todos eles encontrarem-se abertos e a rede assumir uma configuração radial factível, a reconfiguração estará concretizada. Este método foi aprimorado por Shirmohammadi e Hong [4], e modificado por Goswami e Basu [5] pela adoção do fechamento de uma chave de cada vez para compor uma malha. Um refinamento do procedimento foi desenvolvido por Peponis e Papadopoulos [6], através de uma técnica de permuta de chaves envolvendo a vizinhança das chaves abertas; (3) o método construtivo em que o sistema é considerado com todas as chaves abertas. Para formar os sistemas de distribuição radiais, os trechos vão sendo adicionados pelo fechamento das chaves a partir da barra inicial de cada alimentador. Esse método foi inicialmente implementado por Merlin e Back [16] e melhorado por McDermott [7], que estendeu o conceito da “programação ascendente discreta ótima” proposto por Dolloff [18] para a reconfiguração. Este conceito leva em consideração a escolha do trecho que proporciona a menor perda à medida que a carga é incrementada por passos discretos à barra final de cada trecho. Várias outras heurísticas para estudos de reconfiguração de redes foram desenvolvidas, fundamentadas em um desses métodos clássicos, especialmente aquelas que usam como função objetivo a minimização das perdas ativas na rede. Entre esses trabalhos destacam-se as heurísticas desenvolvidas por Morelato e Monticelli [8], Wagner, Chikhani, e Hackam [9], Sarfi, Salama, e Chikhani [10], Augugliaro et al. [11] e Gomes et al. [12]. Os algoritmos de reconfiguração fundamentados em metaheurísticas, também são aplicados nos estudos de reconfiguração e são ferramentas de pesquisa muito difundidas. Entretanto, o tempo de computação ainda não foi suficientemente reduzido para possibilitar o uso mais frequente em aplicações em tempo compatível com as necessidades operacionais. Nesse sentido, Sing e Misra [15] enfatizam que, “Quando analisados detalhadamente e de maneira mais crítica, esses métodos aumentam muito o esforço computacional, que pode ser comparado ao de uma busca exaustiva”. Apenas conceitualmente é possível identificar a configuração ótima entre um número finito de configurações radiais possíveis, de forma a maximizar ou minimizar uma determinada função objetivo, sujeita a um conjunto de 2 restrições estruturais e operacionais. As funções objetivos mais comuns para este propósito incluem as perdas, os indicadores econômicos ou de confiabilidade, as quedas de tensão admissíveis, o balanceamento de carga. As restrições podem incluir a necessidade de manutenção das configurações radiais, as limitações de tensão máxima e mínima dos nós, os limites térmicos dos condutores, as máximas correntes de curto-circuito trifásicos e para a terra, e outras possíveis restrições para a configuração do sistema. Já a recomposição de serviço é um caso particular da reconfiguração e deverá ser realizada sempre que ocorrer defeito na rede ou sempre que um ou mais trechos de um alimentador sejam retirados de serviço para manutenção. Nesses casos, cargas que são atendidas por trechos que estão a jusante dos trechos retirados para manutenção constituirão uma ou mais ilhas, que poderão ser atendidas pelo fechamento de chaves de interligação para o mesmo alimentador ou para outros alimentadores. A nova configuração poderá ser implementada visando atender apenas às cargas da rede que ficaram ilhadas, o que caracterizaria apenas “recomposição de serviço”, ou modificando a topologia de toda a rede. Se o objetivo da reconfiguração é a recomposição de serviço aos consumidores que ficaram ilhados, associada, por exemplo, à minimização de perdas para toda a rede, vários chaveamentos poderão ser necessários além daqueles utilizados apenas para realizar a recomposição do serviço. Isso inclui chaveamentos em alimentadores da mesma subestação ou de outras subestações que não guardam qualquer relação direta com o alimentador sob defeito. Alguns estudos específicos para a recomposição de redes são relatados, como em Aoki et alii [13], que desenvolveram um método de transferência de cargas isoladas por defeito em um alimentador para outros alimentadores, tratados pelos autores como alimentadores de suporte. Este artigo descreve um método que considera apenas os alimentadores da rede que possam atender diretamente às cargas a jusante dos componentes retirados de serviço para manutenção, indicando quais as chaves que deverão fechar e quais as que deverão abrir, levando em consideração as restrições operacionais. O método adota um processo de linearização, conforme adotado por Medeiros Júnior e Pimentel Filho [17] para estimação das variações nas tensões em todas as barras de uma rede de distribuição quando ocorrem variações de carga ou de tensão nessas barras. Através dessa linearização é possível estabelecer parâmetros de sensibilidade a essas variações, que serão utilizados para realizar a estimação supra e determinar as operações de chaveamento necessárias para a recomposição do serviço, como será visto a seguir. II. DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE RECOMPOSIÇÃO Nesta seção é apresentado método de recomposição adotado no trabalho, através do uso dos parâmetros de sensibilidade, bem como a apresentação das expressões usadas para calculá-los. A. Método de Uso dos Parâmetros de Sensibilidade O processo para a realização da recomposição do serviço em uma rede de distribuição inicia-se com a isolação das barras e trechos defeituosos ou retirados de serviço para manutenção. Essa isolação é feita pela abertura de uma chave que se encontre imediatamente antes do defeito e por chaves que se encontrem imediatamente após o local do defeito, considerando que o alimentador é radial. As barras e trechos a jusante do trecho sob manutenção são identificadas e constituem uma ilha. Existindo chaves de interligação (normalmente abertas – NA) entre as barras dessa ilha e as barras energizadas da rede, doravante denominadas “barras de fronteira” i, uma delas poderá ser fechada para alimentar a ilha, a fim de evitar que os seus consumidores fiquem sem energia enquanto perdurar ou defeito ou a manutenção. Essas chaves de interligação e as respectivas barras de fronteira são relacionadas. Executa-se então um cálculo exato de fluxo de carga para cada alimentador que possua uma barra de fronteira i, encontrando-se para essa barra uma tensão calculada que será chamada de Vi calc . Observe-se que essas tensões calculadas podem ser obtidas do fluxo de carga “on line” que esteja sendo executado em intervalos de tempo regulares para fins de monitoramento das grandezas elétricas da rede, o que tornaria desnecessária a execução de um cálculo adicional de fluxo de carga. É importante observar que todas as grandezas utilizadas nas expressões seguintes estão representadas em valores por unidade – p.u. A Figura 1 apresenta as tensões estimadas em uma determinada barra i quando nela ocorrem variações na sua potência aparente. Fig. 1. Tensões reais e estimadas na barra i de um alimentador, quando ocorre variação na sua potência aparente. Para um decremento de potência correspondente a ΔSi na barra i, uma tensão estimada pode ser encontrada tendo por base essa variação de potência aparente, que será correspondente à tensão Vi,1nova , maior que a tensão real, ou calculada, Vi,1calc . Ou, no caso de um incremento de potência de igual valor, uma tensão estimada Vi,2nova para um tensão calculada Vi,2calc . Para estimar essas novas tensões na barra i, pode-se utilizar, portanto, a tangente estabelecida pela 3 variação da tensão ΔVi nessa barra quando ocorre uma variação na sua potência, ou parâmetro de sensibilidade ∂Vi ∂Si . Para simplificar o cálculo de ΔVi , pode-se considerar os incrementos de potências ativas e reativas acumuladas na barra i, ou simplesmente potências somas ativa e reativa, de tal forma que: ΔVi = ∂Vi ∂Vi ΔPsi + ΔQsi ∂Psi ∂Qsi (1) sendo ΔVi - afundamento de tensão estimado na barra i; ΔPsi - incremento de potência ativa soma na barra i; ΔQsi - incremento de potência reativa soma na barra i; ∂Vi ∂Psi - parâmetro de sensibilidade da tensão em relação à variação de potência ativa soma na barra i; ∂Vi ∂Qsi - parâmetro de sensibilidade da tensão em relação à variação de potência reativa soma na barra i. Uma vez determinado o afundamento de tensão estimado na barra i, pode-se determinar o novo valor de tensão estimada nessa barra, adicionando-o à tensão já calculada nessa barra. Ou seja: Vi nova = Vi calc + ΔVi (2) sendo Vi nova – tensão estimada na barra i do alimentador, após incremento de potência nessa barra; Vi calc – tensão calculada na barra i do alimentador que atenderá a ilha, antes do incremento de potência nessa barra. A determinação das tensões estimadas nas barras de fronteira, através do incremento das potências ativas e reativas da carga da ilha, visa fechar inicialmente a chave que tem a maior condição de suportar esse incremento de carga. Existindo, portanto, mais de uma chave de interligação que possa alimentar a ilha, será utilizada inicialmente aquela que possuir a maior tensão na barra de fronteira. Concluído o ordenamento das tensões nas barras de fronteira, inicia-se o processo de análise das chaves que deverão ser fechadas para o atendimento da ilha, a partir da barra de fronteira i que tem a maior tensão. Vale salientar que a isolação do defeito poderá criar mais de uma ilha. Neste caso, a carga agregada à barra de fronteira será aquela correspondente apenas à carga da ilha vinculada a tal barra. A chave de interligação correspondente à barra de fronteira i é provisoriamente fechada e todas as barras e trechos da ilha são adicionados ao alimentador que contem essa barra i. Uma vez agregada a carga, executa-se um cálculo completo de fluxo de carga pelo método da soma de potências no alimentador que tem a barra de fronteira sob análise. Caso as restrições de tensão e corrente sejam atendidas em todos os componentes do alimentador, então a chave de interligação correspondente a essa barra de fronteira i deverá ser definitivamente fechada. Observe-se aqui que não há preocupação com a minimização das perdas totais do sistema, mas tão somente com o atendimento imediato da carga ilhada. Existindo outras ilhas, as barras de fronteira que possam ser usadas para agregar as cargas da ilha serão analisadas da mesma forma. No caso de algum limite operacional de tensão e corrente não ter sido atendido em qualquer barra ou trecho do alimentador, após a agregação da carga ilhada, as tensões calculadas em todas as barras da ilha são ordenadas da menor tensão para a maior tensão. Este ordenamento é necessário para que seja escolhida a barra da carga que se encontra em situação mais desfavorável. Como se trata de um alimentador radial, a menor tensão ocorrerá em uma barra de extremidade do alimentador sob análise. Essa será a carga escolhida para ser removida, se existir uma chave normalmente fechada – NF que permita a sua exclusão. Os parâmetros de sensibilidade ∂Vi ∂Vi e serão novamente calculados, considerando-se ∂Psi ∂Qsi agora o alimentador com a carga de toda a ilha sob análise. Provocando-se um decremento de potência correspondente à potência soma da barra que possui a menor tensão da ilha, as Equações 1 e 2 são novamente utilizadas, a fim de se calcular o afundamento (agora negativo) de tensão nessa barra de menor tensão. É evidente que, retirando-se toda a carga dessa barra, a sua tensão ficará mais elevada e igual à tensão da barra a montante mais próxima. Da mesma forma, essa potência que foi excluída da barra de extremidade, deverá ser subtraída das potências somas de todas as barras que se encontram no tronco do alimentador. Considera-se como tronco todas as barras onde ocorre uma variação de potências somas correspondentes às potências somas da carga retirada. Além da barra de extremidade, pode-se então estimar o afundamento (negativo) de tensão em todas as barras do tronco e, em seguida, as tensões nessas barras. ∂Vi ∂Vi Além dos parâmetros de sensibilidade e , serão ∂Psi ∂Qsi calculados também os parâmetros ∂V j ∂Vi utilizados para calcular os afundamentos de tensão nas barras dos ramais do alimentador, que não sofreram variações nas suas potências somas. Assim, conhecida a estimativa de afundamento da tensão na barra i do tronco, pode-se estimar o afundamento de tensão em qualquer barra j do ramal ligado à barra i, usando a equação (3). ∂V ΔV j = j ΔVi (3) ∂Vi sendo 4 ΔV j – afundamento de tensão na barra j; ∂V j ∂Vi – parâmetro de sensibilidade da tensão na barra j quando ocorre variação de tensão na barra i e, – afundamento de tensão na barra i. ΔVi característica básica a transformação das equações que relacionam as tensões entre dois nós de um alimentador de distribuição, como mostra a Figura 2, em uma equação biquadrada, que tem solução direta. A nova tensão de cada barra j do ramal pode agora ser estimada subtraindo-se da nova tensão Vi nova na barra i o afundamento de tensão na barra j, ou seja: ∂V V jnova = V jcalc − j ΔVi ∂Vi (4) sendo V jnova V calc j tensão estimada na barra j do ramal do alimentador, após incremento de potência na barra i; - tensão calculada na barra j do tronco do alimentador, antes do incremento de potência na barra i. Depois de realizadas as estimativas de tensão em todas as barras, realiza-se as estimativas de corrente em cada trecho ij do alimentador. Essas correntes serão estimadas pela seguinte expressão: Ss nova I ij = nova (5) Vj sendo I ij – Ss nova – Vjnova – Fig. 2. Sistema Reduzido a Dois Nós Como explicitado em Cespedes [14], o processo de solução é realizado de dois em dois nós, partindo da subestação (nó de folga, slack), até que a tensão em cada nó do sistema seja conhecida. O processo é repetido até que os valores das tensões convirjam. A equação biquadrada é (R )( a =1 b = 2 ( Rmn Psn + X mnQsn ) − Vm2 ( com menor tensão. Com todas as tensões nas barras e correntes nos trechos estimadas, verifica-se se as restrições operacionais estão atendidas. Em caso afirmativo, abre-se definitivamente a chave da barra que teve a sua carga excluída, no caso de existir chave no trecho que alimenta essa barra. Na inexistência de chave nesse trecho ou quando as restrições não tenham sido atendidas, repete-se o processo, retirando-se a carga da próxima barra com menor tensão. Este processo será repetido até que as restrições operacionais considerando os valores estimados tenham sido atendidas. Havendo outras chaves de interligação que possam alimentar essas barras ilhadas, elas também serão testadas, no caso de impossibilidade de alimentação total da ilha pela primeira chave de interligação. Pode ocorrer que outras ilhas tenham sido criadas com a exclusão das barras e dos trechos sob defeito e/ou manutenção. Nesta situação, o processo será repetido até que não existam mais barras de fronteira a analisar ou até que todas as barras ilhadas tenham sido atendidas. B. Desenvolvimento Matemático dos Parâmetros O desenvolvimento matemático dos parâmetros de sensibilidade está fundamentado na solução do fluxo de carga pelo método da soma de potências, que tem como )( 2 2 c = Rmn + X mn Psn2 + Qsn2 ) (7) (8) A equação (6) tem a seguinte solução: ( ⎡ −b + b2 − 4ac Vn = ⎢⎢ 2 ⎢⎣ corrente estimada em cada trecho ij após a exclusão da carga na barra com menor tensão; potência aparente soma estimada na barra j após a exclusão da barra com menor tensão; tensão estimada na barra j após exclusão da barra ) 2 + X mn Psn2 + Qsn2 + ⎡⎣ 2 ( Rmn Psn + X mnQsn ) -Vm2 ⎤⎦Vn2 + Vn4 = 0 (6) A fim de simplificar a equação (6), pode-se considerar que: 2 mn ) 1 2 ⎤ ⎥ ⎥ ⎥⎦ 1 2 (9) sendo que os parâmetros de sensibilidade são determinados a partir dessa expressão. O processo de determinação dos parâmetros de sensibilidade ∂Vi ∂Psi e ∂Vi ∂Qsi , utilizados em (1), é similar ao adotado na solução do fluxo de carga pelo método da soma de potências, de forma que, cada parâmetro, partindo da barra slack, será determinado com base no parâmetro anterior, adotando-se uma solução em cadeia. Já os parâmetros ∂V j ∂Vi usados em (3) e (4) dependem dos parâmetros ∂Psi ∂V j e ∂Qsi ∂V j , que devem ser previamente determinados a partir das barras de extremidade da rede e considerando que os valores de ∂V j ∂Vi podem ser inicialmente considerados iguais a 0 ou 1, em função da posição da barra i em relação à barra j. C. Algoritmo O algoritmo abaixo apresenta, de forma resumida, a sequência que deve ser adotada para realizar a recomposição de uma rede utilizando como ferramenta os seus parâmetros de sensibilidade. 1. identifique e isole componentes sob defeito; 2. construa lista de barras ilhadas, se existirem; 3. identifique chaves de interligação para as barras ilhadas e construa lista de barras de fronteira; 4. para cada barra de fronteira i: 4.1. execute fluxo de carga no alimentador a que a barra pertence, em condições normais; 5 4.3. acumule as potencias ativas e reativas da ilha e determine ΔPsi e ΔQsi ; aqueles estabelecidos pela Resolução no. 395/2009 – ANEEL, ou seja: 7% para as condições adequadas (rede em operação normal) e 10% para contingências. 4.4. estime o afundamento de tensão na barra de fronteira i usando ∂Vi ∂Vi ΔVi = ΔPsi + ΔQsi ; ∂Psi ∂Qsi A Tabela 1 apresenta os resultados dos chaveamentos necessários para recompor o serviço da rede da Figura 3. 4.2. calcule os parâmetros de sensibilidade ∂Vi e ∂Qsi ; ∂Psi ∂V j 4.5. estime a tensão na barra de fronteira i usando Vi nova = Vi calculada + ΔVi ; 5. ordene as barras de fronteira da maior para a menor tensão estimada; 6. escolha a barra de fronteira com maior tensão estimada ainda não analisada; 6.1. feche a chave de interligação vinculada à barra de fronteira; 6.2. execute o fluxo de carga; 6.3. todas as restrições com valores calculados foram atendidas? 6.3.1. sim – existem outras ilhas ainda não supridas? 6.3.1.1. sim – Retorne ao passo 6; 6.3.1.2. não – vá para o passo 6.4; 6.3.2. não – calcule as matrizes de parâmetros de sensibilidade ∂Vi ∂Vi , ∂Vi , ∂Psi , ∂Qsi e ; ∂V j ∂Psi ∂Qsi ∂V j ∂V j 6.3.3. exclua a barra da ilha que apresenta a menor tensão abrindo a chave anterior a essa barra; 6.3.3.1. estime tensões nas barras onde ocorreram variações de potências; 6.3.3.2. estime tensões nas barras onde somente ocorreram variações de tensão; 6.3.3.3. estime as correntes nos trechos; 6.3.3.4. acrescente ou atualize chave a abrir; 6.3.3.5. restrições com tensões e correntes estimadas estão atendidas? 6.3.3.5.1. sim – volte ao passo 6.2; 6.3.3.5.2. não – ordene tensões estimadas; retorne ao passo 6.3.3; 6.4. apresente relação de chaves a fechar e a abrir; 7. encerre a recomposição. Fig. 3. Rede de Baran e Wu, antes do defeito. Adaptada de [2]. III. CASO TESTE A rede de Baran e Wu apresentada na figura 3 foi utilizada para testar o algoritmo desenvolvido neste trabalho. Essa é provavelmente a mais complexa das redes usadas como casos testes e a que exige mais dos algoritmos de reconfiguração. A tensão da subestação é de 12.66 kV e a potência total é de 5084.26 kW e 2547.32 kVAr para a configuração básica. Os limites de queda de tensão estabelecidos neste trabalho são TABELA I RECOMPOSIÇÃO DO SERVIÇO PARA DEFEITOS APÓS AS CHAVES DA REDE DE BARAN E WU [2]. Defeito Abrir Fechar Cálculos no trecho chave(s) chave(s) de Fluxos 1-2 2-21-10-28 33-35 6 2-3 3-10-27 33-35-36 10 3-4 4-10-27 33-35-36 10 4-5 5-24 33-36 1 5-6 6 33 1 6-7 7 6 1 7-8 8 35 1 8-9 9 35 1 9-10 10 35 1 10-11 11 34 1 11-12 12 34 1 12-13 13 34 1 13-14 14 32 1 14-15 15 32 1 15-16 16 32 1 16-17 1-18 18 33 1 18-19 19 33 1 19-20 20 35 1 20-21 2-22 22 2 22-23 23 36 1 23-24 5-25 25 36 1 25-26 26 36 1 26-27 27 36 1 27-28 28-31 32 3 28-29 29-31 32 2 29-30 30-31 32 2 30-31 31 32 1 31-32 - Pode-se observar que o número de cálculos de fluxos de carga é normalmente muito pequeno. Na grande maioria dos casos, a recomposição do serviço é executada com apenas 1 cálculo. Os chaveamentos nem sempre comportam-se como operações de chaveamentos completas, com a abertura de uma chave sempre correspondente ao fechamento de outra. Tal fato ocorre porque as restrições operacionais de tensão e corrente inviabilizam que as chaves que abrem tenham igual número de chaves que fecham. Mesmo quando as operações não se completam, como são as situações de defeitos após as chaves 1, 27, 28 e 29, a vantagem do método proposto é evidente, face ao número de cálculos exatos de fluxos de carga. Essa mesma rede, quando analisada através de um método construtivo clássico de reconfiguração demanda uma média de 60 cálculos de fluxos de carga, seja por um cálculo simplificado ou através de cálculo exato. A recomposição do serviço pelo método construtivo para um defeito no trecho 2223 (após a chave 22), por exemplo, conduziria ao operador à realização de 5 operações de chaveamento, com a abertura das chaves 23, 6, 8, 13 e 20 e o fechamento das chaves 33, 35, 36, 34 e 32, após 62 cálculos de fluxo de cargas. Esse mesmo 6 defeito, quando analisado pelo método baseado em laços, conduziria também a 5 operações de chaveamento, após 6 cálculos de fluxos de carga por injeção de corrente. Quando comparados os tempos computacionais para a execução desses métodos, pode-se constatar que o método proposto é sempre mais rápido, como se pode observar para o defeito no trecho 3-4, com tempo de processamento correspondente a 32% do tempo de processamento dos outros métodos. IV. CONCLUSÃO No decorrer do desenvolvimento deste trabalho, várias ferramentas computacionais foram desenvolvidas, visando encontrar alternativas e métodos que pudessem agilizar o processo de reconfiguração de redes de distribuição quando da necessidade de recomposição do serviço em barras ilhadas devido a manutenção ou por defeito nessas redes. Observou-se que o método proposto neste trabalho apresentou-se muito eficiente e rápido para várias redes usadas como casos testes na literatura especializada, com clara vantagem quando comparado com o esforço computacional de outros métodos de reconfiguração. Concluiu-se que os métodos clássicos de reconfiguração apresentam sempre chaveamentos desnecessários para a recomposição do serviço, processos exaustivos de cálculos de fluxo de carga exatos ou simplificados e tempo computacional gasto desnecessariamente no processo decisório de chaveamentos nas redes. A utilização de parâmetros de sensibilidade poderá, portanto, tornar-se um instrumento de grande importância em processos de reconfiguração que demandem recomposição do serviço em redes de distribuição. V. REFERÊNCIAS [11] A. Augugliaro, L. Dusonchet, M. G. Ippolito, E. R. Sanseverino. “Minimum Losses Reconfiguration of MV Distribution Networks Through Local Control of Tie-Switches”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 18, n. 3, p. 762-771, July 2003. [12] F. Gomes et al. “New Heuristic Reconfiguration Algorithm for Large Distribution Systems”. IEEE Transactions on Power Systems, v. 20, n. 3, p. 1373-1378, Aug. 2005. [13] K. Aoki, K. Nara, M. Itoh, T. Satoh, H. Kuwabara. “A New Algorithm for Service Restoration in Distribution Systems”. IEEE Transactions on Power Delivery. Vol. 4, No. 3, July 1989. [14] R. Cespedes. “New Method for the Analysis of Distribution Systems”. IEEE Transactions on Power Delivery, v.5, n. 1, p. 391-396, Jan. 1990. Artigos de Anais de Eventos (Publicados): [15] D. Sing, R. K. Misra. “Load Model Impact in Distribution System Reconfiguration – Part I: Problem Analysis and Reformulation”. In: 16th National Power Systems Conference, 15th-17th Dec. 2010, p. 139–146. [16] A. Merlin, H. Back. “Search for a Minimal-Loss Operating Spanning Tree Configuration for an Urban Power Distribution System”. In: Proceedings of 5 th. Power System Computation Conference, Cambridge U.K., Paper 1.2/6, 1975. [17] M.F. Medeiros Júnior, M. C. Pimentel Filho. “Optimal power flow in distribution networks by Newton’s optimization methods”. In: IEEE International Symposium on Circuits and Systems, Monterey, California. 1998. Tese: [18] P. A. Dolloff. “Optimization in Electrical Distribution Systems: Discrete Ascent Optimal Programming”, Ph.D. dissertation, Virginia Polytechnic Institute and State University, Dec. 1995. VI. BIOGRAFIAS José Luiz da Silva Junior nasceu em Pau dos Ferros – RN, Brasil, em 17 de agosto de 1956. Graduou-se em Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN em 1978. Obteve o seu mestrado em engenharia de distribuição na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1980. Atualmente é aluno de doutorado em Engenharia Elétrica na UFRN, na área de Sistemas de Potência. É professor da UFRN desde 1978. Periódicos: [1] S. Civanlar, J. Grainger, H. Yin. “Distribution feeder reconfiguration for loss reduction”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 3, n. 3, p. 1217–1223, July 1988. [2] M. E. Baran, F. F. Wu. “Network reconfiguration in distribution systems for loss reduction and load balancing”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 4, p. 1401–1407, Apr. 1989. [3] V. Glamocanin. “Optimal Loss Reduction of Distribution Networks”. IEEE Transactions Power Systems, v. 5, n. 3, p. 774-781, Aug. 1990. [4] D. Shirmohammadi, H. W. Hong. “Reconfiguration of Electric Distribution for Resistive Line Loss Reduction”. IEEE Transactions Power Delivery, v. 4, n. 2, p. 1492 –1498, Apr. 1989. [5] S. K. Goswami, S. K. Basu. “Direct solution of distribution systems”, Proceedings IEE, Part C, v. 138, n. 1, p. 78–88, Jan. 1991. [6] G. Peponis, M. Papadopoulos. “Reconfiguration of radial distribution networks: application of heuristic methods on large-scale networks”. IEE Proceedings - Generation, Transmission and Distribution, v. 142, n. 6, p. 631–638, Nov. 1995. [7] T. E. McDermott, I. Drezga, R. P. Broadwater. “A Heuristic nonlinear constructive method for distribution system reconfiguration”. IEEE Transactions on Power Systems, Vol. 14, n. 2, p. 478-483, May 1999. [8] A. L. Morelato, A. Monticelli. “Heuristic Search Approach to Distribution System Restoration”, IEEE Transactions Power Delivery, vol. 4, no. 4, p. 2235-2241, Oct. 1989. [9] T. P. Wagner, A. Y. Chikhani, R. Hackam. “Feeder Reconfiguration for Loss Reduction: An Application of Distribution Automation”. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 6, n. 4, p. 1922-1933, Nov. 1991. [10] R. J. Sarfi, M. M. A. Salama, A. Y. Chiklani. “A survey of the state of the art in distribution system reconfiguration for system loss reduction”. Electric Power Systems Research, n. 31, p. 61 – 70, 1994. Manoel Firmino de Medeiros Júnior nasceu em Macaíba - RN, Brasil, em 11 de julho de 1954. Graduado em Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN - Brasil em 1977. Obteve o grau de M.Sc. em 1979, na área de sistemas de Potência na UFPB - Brasil, e seu grau de Doutor em 1987, na Technische Hochschule Darmstadt Alemanha. É Professor na UFRN desde 1977. Max Chianca Pimentel Filho nasceu em Recife - PE, Brasil, em 18 de outubro de 1969. É graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande em 1994. Concluiu em 1997 o seu mestrado na área de Sistemas de Potência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e o seu doutorado em 2004, também na UFRN. Atualmente é professor da Universidade Potiguar – UnP.