1/8 Resistência dos Materiais 2003/2004 Curso de Gestão e Engenharia Industrial 8ª Aula Duração - 2 Horas Data - 23 de Outubro de 2003 Sumário: Energia de Deformação. Critérios de Cedência. Equações de Equilíbrio em termos dos Deslocamentos. Objectivos da Aula: Apreensão dos Conceitos envolvidos e reconhecimento do facto que um problema de Elasticidade pode nalguns casos ter solução. Resumo do Conteúdo da Aula 1-Energia de Deformação Para um material isotrópico com comportamento Linear Elástico, a curva tensão deformação modelo, resultante da tracção sobre uma barra, é a que se representa na figura 8.1a. No caso de o material ter um comportamento elasto - perfeitamente plástico a curva é a que se representa na figura 8.1b. As energias de deformação Elástica, U e , num caso e noutro e a energia dissipada no processo de deformação plástica , U d , estão representadas nas referidas figuras. σ σ Ud σ = Eε dU e dUe ε ε a) b) Figura 8.1: Energia de Deformação Elástica e Energia Dissipada A densidade de energia de deformação elástica d U e , ou energia armazenada por unidade de volume pode ser calculada a partir da tensão e deformação e no caso da barra traccionada é 2/8 1 1 1 2 E 2 d U e = σ xx ε xx = σε = σ = ε 2 2 2E 2 (8.1) A energia de deformação elástica total na barra traccionada obtém-se integrando a densidade de energia de deformação elástica e é Ue = 1 1 E 2 2 ∫∫∫V σ xx ε xxdV = ∫∫∫V σ xxdV = ∫∫∫V ε xxdV 2 2E 2 (8.2) No caso tridimensional a densidade de Energia de Deformação é dUe = 1 ( σ xx ε xx + σ yyε yy + σ zzε zz + 2τ xzε xz + 2τ xyε xy + 2τ yzε yz ) 2 (8.3) A energia de deformação elástica total no sólido de volume V é Ue = 1 ∫∫∫ ( σ xx ε xx + σ yyε yy + σ zzε zz + 2τ xyε xy + 2τ xzε xz + 2τ yzε yz )dV 2 V (8.4) sendo o integral estendido ao volume do sólido. Considerando a Lei de Hooke, a expressão 8.4 pode ser escrita em termos das tensões e toma a forma U e = ∫∫∫V 1 1 2 σ 2xx + σ 2yy + σ 2zz − 2ν ( σ xx σ yy + σ xx σ zz + σ yyσ zz ) + ( τ xy + τ2xz + τ2yz ) dV (8.5) 2E 2G No caso do tensor das tensões estar referido ao sistema de eixos principais a energia de deformação elástica em termos das tensões principais é U e = ∫∫∫V 1 σ12 + σ 22 + σ32 − 2ν ( σ1σ 2 + σ1σ3 + σ 2σ3 ) dV 2E (8.6) ou em termos dos invariantes I1 e I 2 do tensor das tensões I12 − I 2 dV U e = ∫∫∫V 2E 2G (8.7) De modo análogo se podia obter a energia de deformação elástica em termos das deformações e em termos dos invariantes das deformações. 2- Critérios de Cedência Alguns materiais, nomeadamente os materiais dúcteis, especialmente os materiais plásticos, têm um comportamento quando traccionados que pode ser designado por 3/8 elástico perfeitamente plástico, este modelo de comportamento caracteriza-se pela existência de uma Tensão de Cedência, σ cp , a qual estabelece o início da deformação plástica. No caso tridimensional a caracterização do estado de Tensão passa pela existência de seis componentes, do tensor das tensões, independentes obrigando à consideração de funções que possam ser consideradas para definir a cedência nessas condições de solicitação. Desenvolveram-se várias teorias para quantificar a cedência de Estados tridimensionais de tensão, algumas dessas teoria são de uso mais frequente e por isso só essas vão ser referidas. Teoria da Tensão de Corte Máxima A teoria da Tensão de Corte Máxima, resulta da constatação experimental de que os materiais dúcteis tendem a sofrer deslizamentos ao longo de planos criticamente orientados durante a cedência plástica. No caso teoria da Tensão de Corte máxima esses planos são considerados como correspondendo a tensões de corte máxima, tendo estas tensões atingido um valor crítico nos referidos planos. No caso de se considerar o caso unidimensional de carregamento, por exemplo, uma barra sujeita a esforços de tracção, as tensões de corte máxima são τ max = ± σ1 2 (8.8) Designando por τ cr a tensão de corte crítica que corresponde ao início da cedência plástica e tomando o valor da tensão de corte crítica igual a metade da tensão de cedência, que se admite ter o mesmo valor quer à tracção quer à compressão, σ cp , no ensaio unidimensional de tracção. A teoria da tensão de corte máxima no caso uniaxial implica que seja τ max = ± σ1 ≤ τ cr 2 ou σ1 ≤ σ cp (8.9) No caso de um estado plano de tensão as tensões principais são σ1, σ 2 e σ 3 = 0 , os potenciais valores das tensões de corte máxima são σ1 σ σ −σ ou 2 ou 2 1 2 2 2 A aplicação da Teoria da tensão de corte máximo implica que se verifique uma das desigualdades seguintes σ1 ≤ σ cp ou σ 2 ≤ σ cp ou σ 2 − σ1 ≤ σ cp (8.10) 4/8 A representação gráfica destas condições está feita na figura 8.2, no espaço de tensões de Westergard, o critério que resulta da aplicação desta teoria é muitas vezes designado por Critério de Cedência de Tresca, embora tenha sido primeiro apresentado por Coulomb. σ2 σ cp −σ cp σ cp σ1 −σ cp Figura 8.2: Critério de Cedência de Tresca no caso Bidimensional No caso tridimensional, o Critério de Cedência de Tresca, considerando as tensões principais, σ1, σ 2 e σ3 , toma a forma σ 3 − σ 2 ≤ σ cp ou σ 2 − σ1 ≤ σ cp ou σ 3 − σ1 ≤ σ cp (8.11) sendo no espaço de Westergard representado por um prisma hexagonal. Teoria da Energia de Distorção Máxima A densidade de energia de deformação, como foi referido anteriormente pode calcular-se a partir das tensões principais fazendo uso da expressão dUe = 1 σ12 + σ 22 + σ32 − 2ν ( σ1σ 2 + σ1σ3 + σ 2σ3 ) 2E (8.12) A parcela da energia de deformação por unidade de volume responsável pela dilatação do sólido pode ser expressa em termos da pressão média e é d U dil = 3 (1 − 2ν ) 1 − 2ν 2 2 ( σ1+ σ 2 + σ3 ) σm = 2E 6E (8.13) Subtraindo a densidade de energia de dilatação à densidade de energia de deformação obtém-se a densidade de energia distorcional ou de desvio que é d U dis = 1 2 2 2 ( σ 1− σ 2 ) + ( σ1− σ 3 ) + ( σ 3 − σ 2 ) 12G (8.14) 5/8 De acordo com a teoria básica da energia distorcional, o valor da densidade de energia de desvio ou distorcional não deve exceder o valor correspondente ao máximo admissível à 2 /12G , ou seja tracção simples o qual é 2σ cp 2 2 − 2+ − 2+ ≤ 2σ cp − ( σ1 σ 2 ) ( σ1 σ3 ) ( σ 3 σ 2 ) (8.15) Esta expressão pode ser escrita em termos das componentes do tensor das tensões no sistema de eixos Oxyz, com a forma ( σ xx −σ yy ) + ( σ yy −σ zz ) + ( σ zz −σ xx )2 + 6τ2xy + 6τ2yz + 6τ2xz ≤ 2σcp2 2 2 (8.16) Este critério costuma ser designado por Critério de Cedência de von Mises e no espaço de Westergard é representado por um cilindro. No caso particular de se tratar de um estado plano de tensão este critério toma a forma ( σ1) − ( σ1σ 2 ) + ( σ 2 ) 2 2 2 ≤ σ cp (8.17) em termos das componentes do tensor das tensões no sistema de eixos Oxy, toma a forma 2 2 2 2 σ xx + σ yy − σ yyσ xx + 3τ xy ≤ σ cp (8.18) que corresponde no espaço de tensões a uma elipse como se representa na figura 8.3. σ2 σ cp 1 -1 1 σ1 σ cp -1 Figura 8.3: Critério de Cedência de von Mises O hexágono de Tresca fica inscrito na elipse de von Mises se forem representados na mesma figura. 6/8 3- Equações de Equilíbrio em termos dos Deslocamentos As equações de equilíbrio de Forças estabelecidas em termos das tensões, como foi visto anteriormente, são ∂ σ xx ∂ τ yx ∂ τ zx ∂x + ∂y + ∂z + X = 0 ∂ τ xy ∂ σ yy ∂ τ zy + + +Y=0 ∂y ∂z ∂x ∂ τ xz ∂ τ yz ∂ σ zz + + +Z=0 ∂y ∂z ∂x (8.19) Tendo em conta a Lei de Hooke Generalizada e as relações deformações - deslocamentos que são E (1−ν )ε xx +ν ε yy +ν ε zz σ xx = (1+ν )(1− 2ν ) E (1−ν )ε yy +ν ε xx +νε zz σ yy = 1 1 2 +ν − ν ( )( ) E (1−ν )ε zz +νε xx +νε yy σ zz = (1+ν )(1− 2ν ) ∂u ∂x ε xz 1 ∂u ∂v ε yz = + 2 ∂y ∂x ε zz 1 ∂u + ∂w 2 ∂z ∂x ε xx ε xy ε yx ε yy ε zx ε zy 1 ∂u ∂v + 2 ∂y ∂x ∂v ∂y 1 ∂v ∂w + 2 ∂z ∂y τ xy = G γ xy τ xz = G γ xz τ = Gγ yz yz (8.20) 1 ∂u ∂w + 2 ∂z ∂x 1 ∂v ∂w + 2 ∂z ∂y ∂w ∂z (8.21) obtém - se as equações de equilíbrio em termos dos deslocamentos com a forma (λ + µ) ∂ 2 u + 2 2 2 ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂v ∂w + +µ 2 + 2 + 2 + X = 0 ∂x∂y ∂x∂z ∂ x ∂ y ∂z ∂x 2 2 2 2 2u 2v v w v v (λ + µ) ∂ + ∂ 2 + ∂ + µ ∂ 2 + ∂ 2 + ∂ 2 + Y = 0 ∂x∂y ∂ y ∂y∂z ∂x ∂ y ∂z 2 2 ∂ 2w ∂ 2w ∂ 2w ∂ 2u ∂ v ∂ w + + 2 + µ 2 + 2 + 2 + Z = 0 ∂z ∂y ∂z∂x ∂z∂y ∂ z ∂x (λ + µ) (8.22) 7/8 onde λ= Eν (1 + ν )(1 − 2ν ) e µ= E sendo λ e µ designadas por Constantes de 2(1 + ν) Lamé. As equações 8.22 são conhecidas por equações de Navier. 4-Problemas Propostos de Elasticidade 1. Considere um estado de tensão num ponto cujas tensões principais são: σ1 = 40MPa , σ2 = 30MPa e σ3 = 10MPa . Adicionou-se a este estado de tensão um outro estado de tensão cujas tensões principais são σ1 = σ2 = σ3 = 20MPa . Diga de quanto aumenta a tensão tangencial máxima, justifique a resposta com base nos três circulos de Mohr. 2. Considere o estado de tensão caracterizado pelo tensor das tensões seguinte: 80 x 40 x 50 y MPa 40 y 80 e determine x e y de tal modo que a tensão tangencial se anule na faceta com versor da normal n = 3 3 − 3 3 3 3. { } 3. Admita que o processo de deformação a que está sujeito o sólido é um processo de deformação homogénea e considere que: - o volume do sólido não se altera, - o novo comprimento OA é de 3.03cm, - o ângulo AÔB não se altera - as novas coordenadas do ponto D são {0.015,1.515,1.56}cm a) Determine as componentes do tensor das deformações b) Determine a nova área da face ABC. 8/8 C d 3cm 3cm D O A d B 3cm 4. Um prisma rectangular de dimensões 30 × 40 × 25 cm3 está sujeito ao estado de tensão representado pelo seguinte tensor das tensões: 3 0 0 0 9 1 MPa 0 1 9 Mediante um ensaio de tracção simples sobre um provete cilíndrico de 20 cm de comprimento e 1 cm de diâmetro, verificou-se que por acção de uma força de tracção de 9424.8N nos topos do varão o seu comprimento passou a 20.012 cm e o diâmetro a 0.99985cm. Supondo que o provete é representativo do material linear elástico, homogéneo e isotrópico que constitui o prisma, determine o seu novo volume e a distorção máxima que nele se encontra por acção daquele estado de tensão. 5- Leituras a Efectuar nas Horas de Estudo - V. Dias da Silva, Mecânica e Resistência dos Materiais, Ediliber Editora, 1995, Páginas 81-92 - Carlos Moura Branco, Mecânica dos Materiais, Teoria e Aplicação, McGraw-Hill, 1989. Páginas 26-27. - J. F. Silva Gomes, Apontamentos de Mecânica dos Sólidos, Editorial de Engenharia.