PUBLICAÇÃO DAS FACULDADES OSWALDO CRUZ VOLTADA PARA O APOIO A DECISÕES ESTRATÉGICAS EMPRESARIAIS Ano V • Número 1 • Agosto / 2005 e d i t o r i a l Prezados Leitores n e s t a e d i ç ã o DIRETO DA SALA DE AULA Esta edição aborda o tema segurança, especialmente em relação à economia nacional e aos prejuízos causados ao país. Sem dúvida que, nas grandes capitais brasileiras, uma das principais preocupações, tanto para a população quanto para as empresas é a insegurança. Atualmente, não há um setor específico a ser vigiado, portanto para as pessoas, o medo vale tanto para aqueles que moram em casa ou apartamento, próximo aos centros ou na periferia, que tenham carros novos ou mais utilizados, de grandes posses ou que lutam com dificuldades e assim por diante. Em relação às empresas, a apreensão é a mesma na defesa de seu patrimônio, de seus funcionários, de sua carga, da segurança em relação à comunicação eletrônica, especialmente as instituições financeiras, e nem mesmo instituições de Ensino escapam a esta fúria, principalmente aquelas que possume laboratórios de informática. Assim, na seção “Direto da Sala de Aula”, o professor Dilmo B. Moreira, do Curso de Gestão de Seguros, aborda os problemas da insegurança ao longo do tempo. Em “Conjuntura Econômica”, professores do Curso de Economia falam sobre o estado dos negócios, riscos a cobrir, riscos financeiros e outros. Na coluna “Consultor FAEC”, o Dr. Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Grupo Bradesco Seguros e Previdência, discorre sobre a insegurança em relação às cargas e seus efeitos nas empresas brasileiras. Prof. Oduvaldo Cardoso Diretor da FAEC A INSEGURANÇA E O SEGURO A insegurança quanto aos acontecimentos futuros fez com que, há milhares de anos, caravanas de mercadores buscassem o seguro. Na sociedade moderna, o aumento da violência nas grandes cidades trouxe um papel ainda mais importante ao seguro. AULA PRÁTICA A CRIMINALIDADE E A INSEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL As ocorrências policiais no Brasil andam na casa dos milhões ao ano. Os números são impressionantes - e alarmantes. Além da insegurança de viver no Brasil, começa a crescer uma outra dificuldade: está cada vez mais caro fazer negócios aqui. CONJUNTURA A DESACELERAÇÃO DOS NEGÓCIOS E OS RISCOS A COBRIR No fim do ano passado, Oswaldo Cruz Conjuntura ouviu dos professores do Departamento de Economia a previsão: a economia se desaceleraria em 2005. Eles “cantaram a bola” e, agora, perguntamos: como cobrir os riscos do segundo semestre? CONSULTOR FAEC DR. LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI: EVITANDO PREJUÍZOS EM CADEIA O Presidente do Grupo Bradesco Seguros e Previdência avalia que o roubo de cargas causa anualmente um prejuízo bilionário. A vulnerabilidade da segurança do patrimônio é um fato que preocupa praticamente todos os setores da economia. e x p e d i e n t e Publicação das FACULDADES OSWALDO CRUZ Diretor-Geral Superintendente: Carlos Eduardo Quirino Simões de Amorim Diretor-Geral: Prof. Wladimir Catanzaro Diretor da Faculdade Ciências Administrativas, Econômicas e Contábeis (FAEC): Prof. Oduvaldo Cardoso Coordenador do Curso de Ciências Econômicas: Prof. Carlos Tadao Kawamoto Coordenador do Projeto Oswaldo Cruz Conjuntura: Prof. Frederico Araujo Turolla Jornalista Responsável Profa. Maria Tereza Garcia – MTb: 017.343 Revisão: Profa. Isa Iára Campos Salles Conselho editorial: Profs. Oduvaldo Cardoso, Carlos Tadao Kawamoto e Frederico A. Turolla Correspondências para a redação desta publicação: Rua Brigadeiro Galvão, 540 - Prédio I - 7 o andar – Barra Funda 01151-000 – São Paulo-SP e-mail: [email protected] Visite o Portal das Faculdades Oswaldo Cruz em www.oswaldocruz.br d i r e t o da sala de aula A INSEGURANÇA E O SEGURO Prof. Dilmo B. Moreira * A insegurança quanto aos acontecimentos futuros danosos e as medidas para minimização de seus efeitos são assuntos que ocupam a mente da humanidade há muito tempo. Que se tenha registro, há cerca de 3.000 anos, o homem já praticava formas rudimentares de seguro para garantia de eventuais perdas nas caravanas que atravessavam os grandes desertos do Oriente. Ao longo dos séculos, a cultura do seguro avançou grandemente, buscando as melhores soluções para as diversas necessidades de obtenção de segurança material e financeira, que foram surgindo com o aumento das necessidades complexas da sociedade. Os avanços da civilização trouxeram certamente muitas vantagens para as pessoas, mas também trouxeram conseqüências negativas como o crescente aumento da violência nos grandes centros urbanos, atentando contra a vida e o patrimônio. A sociedade, de modo geral, que antes não tinha a cultura de utilização ampla do seguro, vê agora a necessidade de utilizar instrumentos para minimizar os efeitos negativos dessa insegurança sobre suas vidas, seus bens e, também, relativamente aos aspectos das responsabilidades de seus atos. Desde um simples roubo de veículo aos aterrorizantes seqüestros-relâmpagos, que em alguns casos levam à morte, o cidadão comum, que é pura e simplesmente refém dessa situação, começa a ver no seguro a possibilidade de garantia da tranqüilidade de sua família em caso de necessidade, garantindo o equilíbrio financeiro que tais situações podem comprometer. Esses parâmetros de insegurança geram oportunidades ao mercado segurador que, continuamente adaptando-se às novas situações, visualiza e compreende tais necessidades, desenvolvendo produtos cada vez mais precisos para suprir esses nichos. Dessa forma, a instituição do seguro contribui como garantidora da tranqüilidade social, como geradora de oportunidades para o mercado de trabalho e como impulsionadora da economia do País. a u l a p r á t i c a α. NÃO VAI PARAR DE PIORAR? A escalada da criminalidade parece não ter fim. Os dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, para o ano de 2003, informam que o Brasil teve, naquele ano, 855 mil furtos, 2,1 milhões de roubos, 40 mil homicídios dolosos, 35 mil tentativas de homicídio, 618 mil casos de lesão corporal, 14 mil estupros, 10 mil atentados violentos ao pudor e 375 extorsões mediante seqüestro. Pelo menos três em cada cem brasileiros foram vítimas de uma dessas ocorrências registradas, sem falar nas que não foram registradas. O gráfico abaixo mostra que os homicídios caem há alguns anos na Região Metropolitana de São Paulo, mas vêm aumentando em várias outras regiões metropolitanas. β. UM EXÉRCITO PARTICULAR. Segundo a FENAVIST - Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores, o Brasil conta hoje com um exército de mais de 357 mil vigilantes, sendo 122 mil só no estado de São Paulo. O faturamento anual dessas empresas gira na casa de 8,7 bilhões de reais por ano. χ. DESDE O CAFEZINHO ATÉ O MENSALÃO . Segundo o professor Marcos Gonçalves da Silva, da FGV, o Brasil perde cerca de 60% de seu Produto Interno Bruto em atividades ilícitas. Essa classificação é bastante abrangente e inclui desde pequenas propinas, das quais muitos já ouviram falar, até grandes desvios realizados. δ . O SOL QUE NASCE QUADRADO. Uma outra face da criminalidade é o forte aumento da população carcerária. No primeiro trimestre de 2005, o estado de São Paulo mantinha 136 mil indivíduos presos. Essa população vem registrando forte aumento: no ano 2000, eram 82 mil; passando a 88 mil em 2001; 108 mil em 2003; e 132 mil em 2004. No primeiro trimestre do ano, o sistema prisional admitiu quase 4 mil criminosos. No mesmo período, foram apreendidas quase 8 mil armas de fogo, o que corresponde a quatro apreensões de armas de fogo por hora. ε. PRÓXIMOS DO LIMITE. A violência e a criminalidade já começam a atingir um nível que prejudica os negócios e torna o Brasil um país pouco atrativo para a atividade produtiva. O custo da insegurança preocupa, mas não tem sido atacado como deveria. Os planos federais nessa área não saem do papel. vamos aos dados * Dilmo B. Moreira é professor do Curso de Gestão de Seguros das Faculdades Oswaldo Cruz. Administrador de Empresas, Pós-graduado em Gestão de Seguros e Previdência Privada, Diretor de Seguros do CVG-SP e Diretor Adjunto Técnico de Riscos Pessoais da Nobre Seguradora do Brasil S.A. Fonte: SENASP OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO V Nº 1 - JUNHO 2005 2 CONJUNTURA a desaceleração dos negócios e os riscos a cobrir No fim do ano passado, Oswaldo Cruz Conjuntura ouviu um time de especialistas do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz sobre as perspectivas dos negócios no Ano Novo. Eles “cantaram a bola”: o ano não seria ruim, mas a economia estaria menos aquecida e menos pujante que no atípico ano de 2004. Com os negócios desacelerando, o que pode ser agravado pela crise política em Brasília, é hora de pensar em proteção contra os riscos. As previsões de desaceleração da atividade econômica ao longo do ano de 2005 vêm se confirmando. Entre essas previsões, o Prof. Clóvis Freitas Costa, do Curso de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz e do Departamento Econômico do Banco Central do Brasil,lembrava que a necessidade de cumprir a meta de inflação impediria um vôo mais alto do Brasil em 2005. A crise política em Brasília não fez mais do que criar um elemento adicional que poderá frear ainda mais a economia neste ano. Depois dessa crise, quanto mais se aproximam as eleições presidenciais de 2006, maiores são os riscos. Com um horizonte menos favorável que no passado, é hora de pensar em proteção contra riscos. Novamente, pedimos a opinião de feras da Economia sobre o estado dos negócios e sobre a cobertura de riscos. O combate à criminalidade e a economia O Prof. Carlos Tadao Kawamoto, coordenador do Curso de Ciências Econômicas das Faculdades Oswaldo Cruz, acredita que a criminalidade é um fenômeno ligado à má distribuição de renda, mas as ações de combate à criminalidade em andamento, especialmente no estado de São Paulo, poderão trazer resultados positivos para a economia. Em sua visão, a segurança contribui decisivamente para a produtividade dos trabalhadores e dos empresários. Toda ação bem sucedida de combate à criminalidade tende a elevar essas produtividades, levando a benefícios para o andamento da atividade econômica. Entretanto, o prof. Carlos Tadao adverte que, para que esses benefícios sejam obtidos, é preciso que as ações em andamento tragam resultados efetivos. Segure-se contra os riscos - ou previna-os! Se há riscos, é preciso tratá-los. O Prof. Luiz Macoto Sakamoto, que, além de lecionar no Curso de Gestão de Seguros das Faculdades Oswaldo Cruz, atua na Unidade de Produtos de Ramos Diversos, da Yasuda Seguros, alerta que o seguro não é a única alternativa de tratamento dos riscos. Existem Técnicas de Retenção de Riscos e de Controle de Perdas. Dentre outras, ganham destaque o Controle de Perdas através das Técnicas de Prevenção de Perdas (redução da freqüência) e Técnicas de Redução de Perdas (redução de severidade). Portanto, se o empresário detecta que determinado tipo de risco começa a ser significativo em sua operação, por aumento de freqüência ou de severidade, e não importando se esse fenômeno tem causa em sua própria operação, ou em causas externas, inclusive econômicas, cabe a ele desenvolver o Processo de Gerenciamento de Riscos, onde o Seguro é somente uma das técnicas disponíveis. O Professor Macoto nota ainda que nem todos os riscos podem ser cobertos pelas seguradoras. Ele relata que, muitas vezes, ouve do segurado argumentações do tipo: “identifiquei um risco e quero fazer seguro”. Houve casos de “indignação” do tipo: “como não querem fazer meu seguro? Isto é uma obrigação de vocês.” Sobre esse aspecto, ele aponta que a seguradora é uma administradora de recursos dos segurados, onde os segurados contribuem, e aqueles que tiverem sinistro utilizam esse fundo. Portanto, a seguradora tem a obrigação de, dentro das técnicas de subscrição do mercado segurador, procurar manter uma carteira de segurados que produza resultado positivo. Caso contrário, em caso de insolvência da seguradora, os segurados podem ficar sem cobertura em caso de sinistro, prejudicando inicialmente os segurados, gerando um desequilíbrio na economia e, finalmente, prejudicando a sociedade como um todo. Riscos financeiros podem e devem ser “segurados” Com a crise política, a volatilidade está de volta ao mercado de capitais. E os analistas já avisam que, embora a crise possa dar um alívio no curto prazo, ela já tem como resultado um aumento da incerteza quanto às eleições de 2006. Da mesma forma que em 2002, poderemos ter um ano de turbulências, especialmente se, com a perda de espaço político, o governo agir de forma populista ou se uma candidatura mais populista ganhar força em meio a uma percepção negativa generalizada quanto às principais correntes estabelecidas. Com o aumento do risco no segundo semestre e no próximo ano, os empresários já devem pensar em se proteger contra a volatilidade e contra mudanças nos preços dos ativos financeiros. Quem tem exposição à moeda estrangeira, devido à exportação, importação de insumos, dívidas em dólar a pagar ou a receber, deve procurar um banco para fazer hedge, pois não vale a pena ficar exposto a um risco que vem crescendo. Da mesma forma, é preciso programar os investimentos, a produção e os financiamentos, levando em consideração a possibilidade de solavancos nos próximos trimestres. O hedge, fornecido por bancos, é o seguro contra riscos financeiros que todo empresário deve avaliar, especialmente se o seu negócio é produzir. Correr outros tipos de risco é o negócio das seguradoras, assim como os bancos trabalham justamente com os riscos financeiros. O empresário de outros setores deve se concentrar em produzir, terceirizando esses riscos para quem entende deles e está preparado para assumi-los. onte: SENASP 3 OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO V Nº 1 - JUNHO 2005 CONSULTOR FAEC dr.Cappi: evitando prejuízos em cadeia O Dr. Luiz Carlos Trabuco Cappi é Presidente do Grupo Bradesco Seguros e Previdência. Além de constituir o maior conglomerado financeiro do país, o Grupo Bradesco completa, neste ano, setenta anos de atuação no mercado de seguros. O grupo conta com mais de 15 milhões de segurados, participantes de planos de previdência e atendidos por mais de 26 mil corretores. Atingiu, no ano passado, um faturamento de 15,4 bilhões de reais. Executivo de destaque no mercado financeiro nacional, com longa carreira desenvolvida no Grupo Bradesco, assumiu a Presidência do Grupo Bradesco Seguros e Previdência em 2003. De seu escritório no Rio de Janeiro, o Dr. Luiz Carlos concedeu uma entrevista à Oswaldo Cruz Conjuntura sobre a insegurança em relação às cargas e como essa insegurança afeta as empresas brasileiras. A tendência da insegurança O transporte, sobretudo o rodoviário, responsável por cerca de 65% da produção, é a chave para a cadeia de abastecimento do País. Quando procuramos dimensionar o impacto do roubo de carga, por exemplo, não podemos levar em consideração apenas o prejuízo do contratante, do transportador e da seguradora. A partir do momento em que há uma ruptura nesse processo, a cadeia produtiva sofre algum tipo de impacto negativo. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), as perdas decorrentes somente com cargas roubadas superam R$ 1 bilhão por ano. Apesar dos sofisticados mecanismos de proteção, utilizados por boa parte das grandes empresas de transporte, a vulnerabilidade da segurança do patrimônio não é apenas mais uma questão que preocupa praticamente todos os setores da economia, é um fato. Entre outros tantos recordes mundiais brasileiros, infelizmente, está o roubo de cargas nas rodovias. Hoje, toda carga é visada. Para quem opera na Região Sudeste, o risco aumenta. Para contornar essa si- tuação, as empresas investem, cada vez mais, recursos vultosos em sistemas satelitais de gerenciamento à distância da frota, que amenizam a situação de risco, mas não a elimina. Que empresas sofrem mais? Esse é um assunto bastante vasto e a resposta depende do ramo de atividade. Entre os segurados do Grupo Bradesco Seguros e Previdência, é possível destacar três tipos de risco que mais preocupam os empresários. No caso da segurança patrimonial das empresas, o roubo de bens é o principal risco. Mas não devemos ficar restritos a ele, pois esse tema é mais abrangente quando se estende aos riscos de incêndio e “danos da natureza” a que estão sujeitas as instalações e outras propriedades das empresas. Para as cargas transportadas por rodovias, o roubo é o risco mais presente e que aumenta tanto em termos de quantidade quanto de valores. Isso tem obrigado os empresários a adotarem medidas de gerenciamento cada vez mais especializadas, além dos riscos com acidentes que igualmente causam prejuízos e, também, têm sido um fator preponderante em função da má conservação de muitas de nossas rodovias. As cargas exportadas ou OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO V Nº 1 - JUNHO 2005 importadas possuem as mesmas características e riscos descritos anteriormente, uma vez que a grande maioria das exportações e importações possui percurso preliminar ou complementar às viagens marítimas ou aéreas, além de ainda agregar os riscos das operações portuárias. Nessas operações, o risco existente é decorrente da falta de infraestrutura adequada dos portos brasileiros. Prejuízo em cadeia Para o Dr. Cappi, cada carga roubada representa prejuízo em cadeia: para quem vende; para quem transporta; para quem segura; e para quem deixa de vender, porque não recebeu a mercadoria. Cada vez mais as empresas necessitam de sistemas e de profissionais capacitados em gerenciamento de riscos que tenham a capacidade de dimensionar, prevenir e encontrar soluções para os problemas que possam afetar os objetivos empresariais. Independente do tamanho da empresa, esse é um investimento necessário. Por tudo isso, o Dr. Cappi aponta: o gerenciamento de riscos é um aliado na administração dos negócios corporativos, por visar à garantia da atividade-fim da empresa. No atual ambiente de insegurança, todas as empresas deverão se preocupar com esse assunto. 4