PUBLICAÇÃO DAS FACULDADES OSWALDO CRUZ VOLTADA PARA O APOIO A DECISÕES ESTRATÉGICAS EMPRESARIAIS Ano II • Número 5 • Outubro / 2002 e d i t o r i a l Prezados Leitores e d i ç ã o DIRETO DA SALA DE AULA Esta edição trata das eleições, tema obrigatório, especialmente nestes dias de globalização, de grandes mudanças, com um cenário mundial recessivo e de situação política em clima de expectativa em face das medidas que estão sendo engendradas e que trarão, certamente, uma nova ordem mundial. Os problemas enfrentados pelo mundo de hoje passam necessariamente pela formação dos jovens, pelas drogas, pela segurança, pelo desemprego, pela previdência social e privada, pela legislação tributária, pela política de comércio exterior, pela saúde, além de outros comuns, afora os específicos de regiões e especialmente de países. A história, ao longo do tempo, se repete com versões atualizadas à sua época. Assim, deveremos iniciar, nos próximos anos, uma nova retomada de crescimento econômico em condições diferentes das que foram experimentadas em ciclos anteriores. Neste cenário, temos uma eleição presidencial, após a reeleição de um presidente, com substituição de 2/3 dos senadores, novos governadores e deputados federais e estaduais. As eleições, como aborda o prof. Celso Prudente - em Consultor FAEC - estão revestidas de grandes mudanças em relação ao passado. As pesquisas invadem semanalmente o noticiário, trazendo diferentes reações. A credibilidade das pesquisas é mostrada no artigo da profa. Silvia Graf, em Direto da Sala de Aula. Os efeitos são sentidos pela Economia, afetando o cidadão, as empresas e o país em função do risco-país, da volatilidade, da especulação e do receio da tomada de decisão em um ambiente de transição, conforme aborda - em Conjuntura Econômica - o prof. Frederico Turolla. Estamos, portanto, diante de um momento de uma introspecção reflexiva, envolvendo todos os aspectos para uma tomada de decisão. Esta deve ser consciente, pensando em um futuro promissor e que possa trazer para todos nós: desenvolvimento, crescimento econômico com emprego, segurança e paz, gerando, assim, melhores condições de vida. Que tenhamos todos uma escolha. Prof. Oduvaldo Cardoso Diretor da FAEC OCConjuntura_6.pmd n e s t a 1 POR QUE ACREDITAR EM PESQUISAS ELEITORAIS? Como acreditar em uma pesquisa eleitoral se, de milhões de eleitores, toma-se uma amostra de apenas 2.000 indivíduos? A resposta vem direto da sala de aula. AULA PRÁTICA COMO VOTAM OS UNIVERSITÁRIOS DA OSWALDO CRUZ? A Professora Silvia Wapke Graf conduziu uma pesquisa eleitoral junto a 2.671 universitários das Faculdades Oswaldo Cruz. Veja os resultados. CALENDÁRIO CALENDÁRIO DO MÊS DAS ELEIÇÕES Em outubro, a festa é toda da democracia. CONJUNTURA ECONÔMICA O RITMO DA POLÍTICA DITA O RITMO DA ECONOMIA A relação entre a economia e a política fica mais evidente no ano das eleições presidenciais. CONSULTOR FAEC ELEIÇÃO COM PARTICIPAÇÃO: O FUTURO DA DEMOCRACIA O Prof. Celso Prudente, um intelectual que também é cineasta e escritor, alerta: sem participação, o próprio processo democrático brasileiro estará em risco. e x p e d i e n t e Publicação das FACULDADES OSWALDO CRUZ Diretor Geral: Carlos Eduardo Quirino Simões de Amorim Assistente da Diretoria Geral: Prof. Wladimir Catanzaro Diretor da Faculdade Ciências Administrativas, Econômicas e Contábeis (FAEC): Prof. Oduvaldo Cardoso Coordenador do Curso de Ciências Econômicas: Prof. Orlando Assunção Fernandes Coordenador do Projeto Oswaldo Cruz Conjuntura: Prof. Frederico Araújo Turolla Jornalista Responsável Maria Tereza Garcia – MTb: 017.343 Revisão: Prof. Isa Iára Campos Salles Correspondências para a redação desta publicação: Rua Brigadeiro Galvão, 540 – Barra Funda 01151-000 – São Paulo-SP e-mail: [email protected] Visite o Website das Faculdades Oswaldo Cruz em www.oswaldocruz.br 23/9/2002, 15:17 d i r e t o da sala de aula POR QUE ACREDITAR EM PESQUISAS ELEITORAIS? Professora Silvia Wapke Graf* “Como acreditar em uma pesquisa eleitoral se, de milhões de eleitores, toma-se uma amostra de apenas 2.000 indivíduos? Além disso, ninguém conhece alguém que tenha sido entrevistado em tais pesquisas”. Mas, reportando-nos à frase de Sherlock Holmes, personagem criado por Conan Doyle, em “O Signo dos Quatro” - “Embora o homem individual seja um enigma insolúvel, o agregado humano representa uma certeza matemática. Nunca se pode predizer o que fará um homem, mas é possível prever as atitudes de certo número deles. Os indivíduos variam, mas as percentagens permanecem constantes” - podemos garantir que a estatística funciona. Cabe ressaltar que uma estatística sempre inclui uma margem de erro e que, apesar de não enfocado pela imprensa, esta margem de erro relaciona-se a um intervalo de confiança previamente estabelecido pelo pesquisador. Os resultados da pesquisa interessam, alem de ao eleitor, ao cliente da pesquisa (que pode ser um dos candidatos, em conjunto com o partido ou partidos que o apóiam, um órgão de classe, uma instituição financeira ou um meio de comunicação), aos demais candidatos ao cargo em questão, aos “grandes eleitores” (políticos de projeção significativa, meios de comunicação, grupos empresariais, sindicatos ou centrais sindicais, os assim chamados “formadores de opinião”, na qual se inclui a elite cultural do país), aos eleitores propriamente ditos e ao instituto que realizou a pesquisa (já que seu principal produto não é a pesquisa em si, mas sim, sua credibilidade. Basta lembrar de eleições passadas, das quais institutos de pesquisas saíram com a credibilidade abalada, em maior ou menor grau). Geralmente são incluídos nas pesquisas outros itens como: índice de rejeição, amostras estratificadas por idade, sexo, renda, região, índice de aceitação pelos eleitores da propaganda dos candidatos, entre outros. Os resultados são utilizados não só para verificar a situação dos candidatos, como também para estabelecer as tendências do eleitorado em comparação com pesquisas anteriores e para introduzir medidas corretivas ou de aperfeiçoamento nas campanhas. A alguns dos “Grandes Eleitores” interessa, e muito, identificar essas tendências, tendo em vista os recursos (doações, apoio político) que investem no candidato. Portanto, uma pesquisa eleitoral requer um planejamento cuidadoso, de modo que a amostra represente realmente, dentro de uma margem de erro aceitável, o universo de eleitores. É importante ressaltar que uma pesquisa eleitoral representa uma radiografia das intenções de voto num dado instante, ou seja: já é passado no momento de sua conclusão. * Professora de Estatística do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz. Designer e Licenciada em Matemática. Mestre em Matemática Pura. a u l a p r á t i c a α. COMO VOTAM AS FACULDADES OSWALDO CRUZ. A Professora de Estatística das Faculdades Oswaldo Cruz, Silvia Wapke Graf, conduziu uma pesquisa eleitoral junto a uma amostra de 2.671 alunos das Faculdades Oswaldo Cruz, incluindo o Centro Tecnológico Oswaldo Cruz. A pesquisa faz parte de um projeto que tem como objetivo ensinar técnicas de pesquisa de campo aos alunos. Os questionários foram aplicados em um único dia, 5 de setembro, por alunos do segundo ano de Ciências Econômicas. β. O VOTO DOS UNIVERSITÁRIOS PARA PRESIDENTE. Entre os alunos das Faculdades Oswaldo Cruz, Luis Inácio Lula da Silva (PT) apareceu em primeiro lugar com 32,9º% dos votos e José Serra (PSDB) ficou em segundo com 27,8%. Ciro Gomes (PPS) ficou em terceiro, com 16,3% dos votos e Anthony Garotinho (PSB) ficou com 3,3%. Os indecisos foram 15,3% e os brancos e nulos, 2,7%. χ. A PREFERÊNCIA PARA GOVERNADOR. Na disputa pelo governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) aparece em primeiro lugar com 29,8% dos votos, seguido por José Genoíno (PT) com 25,4%. Paulo Maluf do PTB ficou com 17,7%. Houve maior percentual de indecisos, 19,2%, que na pesquisa sobre candidatos a presidente. O índice de brancos e nulos foi parecido, com 2,8%. δ. COMO VOTAM QUÍMICOS, ECONOMISTAS E OUTROS. Na maioria dos cursos das Faculdades Oswaldo Cruz, a ordem de preferência pelos candidatos a presidente foi a mesma, com Lula em primeiro, Serra em segundo e Ciro em terceiro. Lula disparou entre os alunos de Matemática, com 64%. Já Serra ganharia de Lula no primeiro turno com 50,6% na preferência dos alunos do Curso de Farmácia e Bioquímica. Além deste último, Serra venceu Lula entre os alunos dos cursos de Economia, Administração de Empresas e Engenharia Química. ε. EMPATE PARA GOVERNADOR EM DOIS CURSOS. Na pesquisa sobre candidatos a governador, a ordem Alckmin–Genoíno–Maluf foi preponderante. Como na eleição presidencial, o candidato do PT, José Genoíno, venceria Alckmin entre os futuros matemáticos e químicos. Os dois primeiros colocados empataram nos cursos de Letras e Engenharia Ambiental. DIA EVENTO 03 06 9-11 10-20 11 12 12 15 21 22-24 25 27 FIM DO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO DO 1º TURNO PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES (8:00 – 17:00) FEIRA TERAPÊUTICA E PRO-NATURA (EXPO CN) SALÃO INTERNACIONAL DO AUTOMÓVEL (ANHEMBI) PRAZO PARA APURAÇÃO DOS RESULTADOS DO 1º TURNO DIA DA CRIANÇA DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA (PADROEIRA DO BRASIL) DIA DO PROFESSOR REINÍCIO DO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO FEIRA ABIT INTERSTOFF (ITM) FIM DO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO DO 2º TURNO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES (8:00 – 17:00) OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO II Nº 5 - OUTUBRO 2002 OCConjuntura_6.pmd 2 2 23/9/2002, 15:17 CONJUNTURA ECONÔMICA o ritmo da economia e o ritmo da política Frederico Araujo Turolla é professor de Análise de Conjuntura, Mercado de Capitais e Desenvolvimento Sócioeconômico dos Departamentos de Economia e Administração de Empresas das Faculdades Oswaldo Cruz desde 1996. É Mestre em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, com parte do curso na Universidade de Brandeis, nos Estados Unidos. Está concluindo o Doutorado em Economia de Empresas, também pela Fundação Getúlio Vargas. No mercado financeiro, atuou como Economista do Banco WestLB (Banco Europeu Para a América Latina). Participou de vários projetos de consultoria e pesquisa nas áreas econômica e financeira, além de coordenar o Projeto Oswaldo Cruz Conjuntura. As dificuldades vivenciadas pelo Brasil se relacionam a dois passivos macroeconômicos: a dívida pública e a dívida externa. A dívida pública é formada, em sua maior parte, por títulos emitidos pelo governo. Estes estão nas carteiras de Fundos de Investimento e Bancos. A dívida externa corresponde ao que os brasileiros, incluindo empresas, indivíduos e o governo, devem a estrangeiros, em moeda forte. Uma parte da dívida externa é pública, ou seja, há uma superposição entre as dívidas pública e externa. Ambas precisam ser roladas, ou seja, trocadas por dívida nova, à medida que vão vencendo. A necessidade de rolagem dessas dívidas é o principal motivo pelo qual as incertezas políticas afetam as variáveis financeiras e podem mesmo atrapalhar o andamento da economia real. Capacidade e vontade Dois fatores são importantes em relação a essas duas dívidas. Uma é a capacidade de pagá-las e, a outra, é a vontade. No caso da dívida externa, um país pode obter divisas se suas exportações de bens e serviços superam as importações. Caso contrário, tem de tomar empréstimos no exterior. No caso da dívida pública, ela cresce principalmente com o déficit público. Para reduzir seu estoque, é necessário gerar superávits primários, mas sua trajetória depende também da taxa de juros que é paga sobre essa dívida e do reconhecimento dos chamados esqueletos. A incerteza relacionada às eleições vem de duas frentes. Uma dúvida é se as políticas a serem implementadas pelo próximo governo manterão a capacidade do país de rolar suas dívidas. E a outra é se o próximo presidente e as forças políticas que o apóiam terão a vontade de honrar esses compromissos. 3 OCConjuntura_6.pmd O risco-país e as eleições A incerteza sobre a capacidade e a vontade de rolar as dívidas em uma nova administração federal está no centro dos dificuldades que o país experimenta hoje. O chamado risco-país, que é uma medida do preço pago pelo país na rolagem de suas dívidas, apresenta elevação relacionada a esta incerteza. Fenômeno semelhante ocorre antes das eleições em vários países emergentes. O gráfico mostra a taxa de juros do C-bond, um título da dívida pública externa brasileira. O eixo horizontal informa o número de dias que faltam até as eleições. O gráfico sugere que o risco-país cresce, à medida em que se aproximam as eleições. É possível observar no gráfico que há um período crítico do risco-país. Nestas eleições, a pior fase parece ter ocorrido dois a três meses antes do pleito. O retorno a níveis normais, contudo, só depende do resultado das urnas. OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO II Nº 5 - OUTUBRO 2002 3 23/9/2002, 15:18 CONSULTOR FAEC prof. celso prudente: eleição exige participação Celso Luiz Prudente foi professor de Ética do Departamento de Ciências Contábeis das Faculdades Oswaldo Cruz. É um intelectual de atividade diversificada, como professor, administrador público, cineasta e escritor. Entre seus livros, destaca-se “Barravento, o Negro como Possível Referencial Estético do Cinema de Glauber Rocha”, de 1995. Está lançando neste momento o livro “Mãos negras: a antropologia da arte negra”, que poderá ser adquirido nas estações de metrô. Na administração pública, foi Secretário da Cultura de Santo André, Superintendente da Empresa Municipal de Urbanização (EMURB) e Secretário Municipal das Relações do Trabalho de São Paulo. Como parte de seu projeto de doutoramento na área de Cultura e Organização (Antropologia da Educação) pela USP, o professor está fazendo pesquisa a respeito da dimensão sócio-cultural dos instrumentos de percussão dos “Meninos do Morumbi”. Nesta edição, o Consultor FAEC dá uma pausa nos negócios para refletir sobre um momento muito importante para o futuro do país: as eleições. O Professor Celso Prudente analisa a política e recomenda: a participação é o único caminho para o desenvolvimento da incipiente democracia brasileira. inequívoco que o Brasil é constituído por vários brasis. A percepção mais clara sobre as desigualdades influencia as eleições deste ano. E, finalmente, a evolução das comunicações traz conseqüências sérias e importantes como a substituição do partido político pela agência de propaganda. Brasil: uma democracia recente A agência substitui o partido A República no Brasil é um fenômeno muito recente. O Brasil foi o último país do Cone Sul a entrar no circuito republicano. Enquanto outros países da América do Sul vivem uma experiência de mais de três séculos de República, nós ainda não temos dois séculos. Além de recente, a democracia brasileira não foi contínua, já que no curso republicano houve várias rupturas no trilho democrático. O professor chama a atenção para um aspecto muito importante destas eleições: elas são caracterizadas por uma campanha muito mais midiática que de projeto político. Em outras palavras, os principais profissionais que prestam serviço aos candidatos nesta eleição não são os cientistas políticos, mas sim os chamados marqueteiros. O centralismo democrático de um partido não tem voz em relação à agência de propaganda que foi contratada por este. Ficam esquecidos os diretórios, as bases e outras instâncias do sistema partidário. Sequer têm voz nesta eleição os grandes historiadores, sociólogos ou antropólogos. O dono da bola é um grande marqueteiro, um profissional acostumado a vender sabonetes, cervejas, carros e também candidatos. Uma eleição atípica Entre os fatores que tornam esta eleição atípica, o Professor Celso destaca que esta é a primeira que ocorre após a reeleição de um Presidente da República. Naturalmente, um presidente reeleito tem um papel muito importante no processo. Além disto, esta eleição ocorre num momento em que os índices de qualidade de vida, de desenvolvimento humano, já são mais difundidos. Na visão do Professor, esta maior disponibilidade de informações torna A mídia e a mobilização popular Outro fenômeno interessante é o papel da mídia na política. Hoje, sem dúvida nenhuma, a televisão já é mui- to mais importante que qualquer mobilização popular. Uma mobilização popular só tem sentido hoje, quando ela se programa pautada pelos principais noticiários. Como exemplo, o professor observa que a presença de alguém reclamando na televisão pode surtir efeitos muito mais concretos e objetivos que uma manifestação de duas mil pessoas sem a cobertura da mídia. O aumento da importância da mídia em detrimento dos movimentos é responsável por uma desarticulação das organizações populares. Por que participar da política? A principal lição que o professor Celso transmite é a importância da participação política. Segundo ele, é fundamental que a sociedade organizada finque pé da sua função histórica ou, do contrário, ela será cada vez mais substituída pelo poder de mecanismos como o marketing e a mídia. O alerta do professor deveria ser conhecido de todos nós: a ausência da participação política se configura em uma condição autofágica da sociedade. Traduzindo, cada vez que um de nós se omite da participação política, coloca-se em risco o próprio desenvolvimento democrático. É hora, portanto, de abraçar o Brasil e participar! OSWALDO CRUZ CONJUNTURA ANO II Nº 5 - OUTUBRO 2002 OCConjuntura_6.pmd 4 4 23/9/2002, 15:18