Psicologia da Educação Jussara /2016 1 1. INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Podemos afirmar, numa primeira aproximação, que a psicologia da educação trata dos fundamentos psicológicos, processos e consequências psíquicas que intervém numa situação educativa qualquer. Os sujeitos estudados pela psicologia da educação são pessoas envolvidas com a educação como alunos, professores, treinadores, orientadores, psicólogos, pais, grupos de amigos, grupos de trabalho, etc. A psicologia da educação pode reivindicar todo estudo que, de perto ou de longe, trate das estruturas e mecanismos psicológicos suscetíveis de intervir numa situação educativa, formal ou informal. Como a educação coloca em jogo o conjunto de condutas psicológicas do indivíduo, a psicologia da educação se torna o cruzamento de todas as especialidades da psicologia contemporânea, como: psicologia do desenvolvimento, psicologia da cognição, psicologia da personalidade, psicologia das condutas sociais, psicologia do esporte, etc. e, além disso, se utilizam de avanços nos campos da biologia, neurobiologia, sociologia, filosofia, etc. 1.2 A IMPOTANCIA DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO A psicologia da educação como uma disciplina científica, pode ajudar a compreender melhor o processo de ensino-aprendizagem, orientando, sustentando todos os profissionais envolvidos para que as metas educativas sejam atingidas da melhor e mais abrangente forma possível. 1.3 APLICAÇÃO A psicologia da educação pode ser aplicada a duas funções principais: 2 a) diagnóstico: tanto das dificuldades como das habilidades específicas. O diagnóstico transforma-se, no decorrer do processo, em avaliação, permitindo a verificação do que já foi atingido e do que ainda falta atingir; b) intervenção: para tal pode propor atividades destinadas a prevenir os fracassos, preparando as aquisições ou para remediar problemas antes que se “cristalizem”. NÃO CONFUNDA: Psicologia da Educação com Técnicas de Ensino NÃO PENSE QUE: Estudando Psicologia da Educação você não terá mais dificuldades para dar aulas, e que saberá exatamente como resolver todos os problemas que surgirem. A Psicologia da Educação lhe dará alguns fundamentos, mas a decisão continuará sendo sua. 2. HISTÓRICO DA PISCOLOGIA DA EDUCAÇÃO O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos. Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram fato que também ocorreu à chamada Psicologia Educacional. Durante as três primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a educação. Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a medida das diferenças individuais; psicologia da criança. Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das ciências da educação. Uma área de aplicação da psicologia na educação. Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as condições, 3 os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e metodologia. Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a 1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise e surgem outras disciplinas educativas tão importantes á educação quanto à psicologia, e esta precisa ceder espaço. Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar, que conserva até hoje.Não mais é considerada como a psicologia aplicada á Educação. Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico. 2.2 CONCEITO DE PSICOLOGIA DA EUDUCAÇÃO Quando se fala, hoje, em Psicologia da Educação, vários termos são utilizados indiscriminadamente como sinônimos, tais como: psicopedagogia, psicologia escolar, psicologia da educação, psicologia da criança, etc. A lista poderia ser alongada. Esta imprecisão na linguagem, e esta confusão entre disciplinas ou atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual têm suas definições e limitações. A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam. Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. 4 Seu maior objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da situação de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir tal especialização profissional. A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das ciências da Educação, tal como a sociologia da educação ou a didática. Compõem um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos. Atualmente, rejeita-se a ideia de que a Psicologia da Educação seja resumida a um simples campo de emprego da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender simultaneamente aos processos psicológicos e às características das situações educativas. Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade: Contribuir à elaboração de uma teoria explicativa dos processos educativos – nível teórico; Elaborar modelos e programas de intervenção - nível tecnológico; Dar lugar a uma práxis educativa coerente com as propostas teóricas formuladas - nível prático. 3. APRENDIZAGEM INFORMAL E FORMAL 3.1. Conceito Geral de Aprendizagem Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar, desse modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de adquirir comportamentos novos, através da aprendizagem, uma pessoa poderá também modificar comportamentos anteriormente adquiridos. “Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos 5 que formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais, além dos fenômenos que ocorrem na escola” (JOSÉ &COELHO). 3.1.2 COMO MEDIR A APRENDIZAGEM Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho. Esta é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a 'prova' era a única capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será esta a melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado? Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança duradoura. 3.2 ENSINO X INSTRUÇÃO ENSINAR: fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto final. INSTRUIR: manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo capaz de aprender sob condições específicas (aprendizagem escolar). Este é um conceito ultrapassado. Desta diferença entre ensinar e instruir, pode-se dizer que existem dois tipos de aprendizagem: informal e formal. 3.3 CONCEITO APRENDIZAGEM INFORMAL E FORMAL Aprendizagem Formal: processo que é direcionado, orientado e previamente planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução. 6 Aprendizagem Informal: processo que é de natureza incidental, não-dirigido, e carente de controle. Resultam da experiência no ambiente de vida (fora da escola); advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionado à aprendizagem formal. 3.3.1 MODELO DE ENSINO FORMAL Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que se realize o ensino. Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e conteúdo. Existem 4 modelos básicos: ·Modelo Clássico: ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de conteúdo. A educação consiste em transmissão de ideias selecionadas, organizadas e não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo. Modelo Tecnológico: ênfase na educação como transmissora de conteúdos; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o professor é o responsável por essa concretização. Modelo Personalizado: ênfase no aluno. O ensino se processa em função do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da aprendizagem. Modelo Interacional: apresenta um equilíbrio entre os componentes do modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com seus alunos. Os conteúdos consistem na análise crítica de problemas reais e sociais. O aluno é ativo em sua aprendizagem. 7 3.5 DOMÍNIO DA APRENDIZAGEM A aprendizagem abrange 3 domínios fundamentais:1.intelectual ou cognitivo; 2. afetivo-social; 3. sensório- psiconeurológico. · 3.5.1DOMÍNIO INTELECTUAL OU COGNITIVO (INTELIGÊNCIA HUMANA) A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à aprendizagem humana. Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele; se desenvolve através de fases, ao longo da vida, que se sucedem em uma mesma ordem, mas devido as diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento. 3.5.2DOMÍNIO AFETIVO-SOCIAL As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se formando/se desenvolvendo; portanto, determinadas pelas influências que chega á escola/universidade já possui sua personalidade bem definida. As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem humana. Da mesma forma, certo amadurecimento social (relacionamento interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante neste processo de ensino-aprendizagem. 3.5.3 DOMÍNIO SENSÓSRIO-PSICONEUROLÓGICO 8 A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à aprendizagem. Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais (audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica), psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e linguísticos (fala). · 3.6 FATORES DA APRENDIZAGEM Saúde física e mental: para que seja capaz de aprender, a pessoa deve apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disto. Motivação: é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, através de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidade de conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração). Prévio domínio: domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o possuem. Maturação: é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do organismo, levando a padrões específicos de comportamento. A maturação neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma seqüência (Leis céfalo-caudal e Próximodistal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma interação entre ambas. 9 Inteligência: capacidade para assimilar e compreender informações e conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica na resolução de problemas. Concentração e atenção: capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa. Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender. Memória: a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento ela deverá ser capaz de resgatá-los da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer de o que aprendeu.O esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado através de um critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da informação ou a 'esconde' no subconsciente. 3. 7 FATORES QUE INFLUENCIAM NA APRENDIZAGEM A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre hereditariedade e o meio ambiente. Este processo pode ser influenciado tanto na vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas, físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas. 3.7.1 FATORES GENÉTICOS OU HERANÇA Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados de fatores genéticos e encontram-se na inscrição do programa biológico da pessoa - herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores; condiciona o 10 aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down, asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio. 3.7.2FATORES NEUROENDÓCRINOS O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino. Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens, controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo e possibilitando a criança explorar seu potencial genético, de desenvolvimento e de aprendizagem. Neuro-Hormônio Adenocorticotrófico - ACTH: é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional. 3.7.3FATORES AMBIENTAIS O meio ambiente na qual a pessoa está inserida exerce influências particularmente poderosas, contribuindo positivamente à realização do plano genético ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende tanto condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (sócio-econômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno. Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal e favorável pode-se calcular que 80 a 90 % da variabilidade natural da espécie humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa 11 genético pré-determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a hereditariedade pode cair a 60 %. 3.7.4 NUTRIÇÃO Em relação a alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias fornecidas à criança. Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos excreta; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia é, então, transmitida através dos macro nutrientes: Vitaminas; proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras. Dois aspectos relacionados a alimentação que exercem influências: A superalimentação: aceleração e envelhecimento precoces do crescimento; variáveis psicológicas. A subalimentação: quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre a proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento estatural é bloqueado - desnutrição proteica. 3.7.5VARIÁVEIS SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAIS 12 As variáveis sócio-econômicas exercem importante influência: renda per capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais(influi na alimentação da criança). Dada à melhoria nas condições de vida, tais como a urbanização, melhoria nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos restritivo, entre outros fatores, existe uma forte tendência para que as crianças das gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. 3.7.6FAMÍLIA E OS FATORES PSICOSSOCIAIS Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos através dos pais, a herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da mãe com a criança desde os primeiros instantes dua vida. A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o relacionamento da mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no crescimento e no estado emocional, e por conseqüência, na aprendizagem. 3.8 O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o professor poderá vir a assumir vários papéis sociais. 13 4. As teorias da Psicologia da Educação Cada teoria oferece um modelo explicativo diferente sobre a aprendizagem. Poderíamos de certa forma, compará-las às diferentes abordagens da medicina. Para uma mesma doença são prescritos tratamentos diferentes segundo o médico seja um alopata, homeopata ou pratique acupuntura. Trata-se aí de uma definição que envolve uma crença do profissional na eficácia de uma ou outra abordagem, todas elas igualmente reconhecidas como científicas. 4. A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Esta teoria foi escolhida para ser apresentado em primeiro lugar exatamente por ter sido uma das últimas a ser desenvolvida e, por isto, apresentar mais aspectos gerais que específicos. Foi desenvolvida por Howard Gardner a partir de 1979, na Universidade de Harvard, com um grupo grande de outros pesquisadores. Para Gardner, uma inteligência “é a capacidade de resolver problemas ou criar produtos que são importantes num determinado ambiente cultural ou comunidade.” (Gardner e outros, 1998, p.215). Ex: um adulto analfabeto, porém com uma grande capacidade de resolver os problemas que se apresentam no seu cotidiano e que sirva de referência à sua comunidade, que é procurado por muitos para dar conselhos, deve ser considerado muito inteligente, ainda que não consiga resolver um único teste envolvendo aspectos que não domina. 4.1 DELIMITANDO O CONCEITO DE UMA INTELIGÊNCIA As inteligências devem ser pensadas como entidades num determinado nível de generalidade, porém cada uma deve operar de acordo com seus próprios procedimentos e possuir suas próprias bases biológicas. 14 Cada uma deve ser pensada como um sistema próprio e com suas regras, da mesma forma que os olhos, o coração, o fígado, etc. fazem parte do corpo humano, mas não podem ser comparados entre si, pois têm funções próprias e específicas. Assim como não podemos dizer que um determinado órgão é mais importante que o outro, o mesmo deveria ser dito em relação às diversas inteligências. 4.1. Inteligência Lingüística É expressa de modo marcante no orador, escritor, poeta ou compositor, que são pessoas sensíveis às nuances de significado das palavras, seus sons e significados musicais. Inclui a capacidade de usar palavras eficazmente, seja oralmente (político, contador de histórias) ou na forma escrita (teatrólogo, jornalista, escritor, poeta, etc.) Situação pedagógica: o professor pode querer que um aluno desenvolva mais esta inteligência, ou pode propor situações de ensino que beneficie o aluno que tem essa inteligência bem desenvolvida. As atividades baseadas nesta inteligência são: palestras e aulas expositivas discussões em pequenos e grandes grupos livros manuais brainstorming (explosão de idéias) discursos dos alunos jogos de vocabulário e de palavras contar (escrever) histórias fazer (ler) poesias 15 escrever redações, jornais, etc. Normalmente é a mais utilizada na escola. 4.2. Inteligência Lógico-matemática Inclui a capacidade de usar números e símbolos eficazmente (estatístico, engenheiro, contador, contabilista), bem como raciocinar de forma dedutiva (físico, matemático, programador de computador, cientista). Atividades pedagógicas: charadas resolução de problemas classificações cálculos mentais jogos com números uso de computadores (pesquisa ou programação) 4.3 Inteligência Espacial Refere-se à habilidade de perceber o mundo espacial e visual de forma privilegiada (caçador, escoteiro, guia) e fazer transformações baseadas nessa percepção (decorador, arquiteto, artista, paisagista, geógrafo). Envolve sensibilidade às cores, linhas, formas e espaços, bem como a relação entre esses elementos. A pessoa que possui esta inteligência bem desenvolvida é capaz de se orientar corretamente no espaço, representar graficamente ideias visuais ou espaciais. Atividades pedagógicas: uso do vídeo uso de fotografias e filmes 16 mapas, esquemas e gráficos atividades de arte criação de cenário 3.4 Inteligência Corporal-Cinestésica Manifesta-se em atores, mímicos, atletas, dançarinos, ou seja, naquelas pessoas que tem a habilidade de usar todo o seu corpo para expressar ideias e sentimentos. Também se manifestam em artesãos, escultores, mecânicos, cirurgiões, bordadeiras, ou seja, em pessoas que têm facilidade em usar suas mãos para transformar coisas. Inclui habilidades físicas como coordenação, destreza, força, flexibilidade e velocidade. Atividades pedagógicas: atividades manipulativas teatro, dança, esportes exercícios de relaxamento atividades de arte (argila, pedra, etc.) mímica expressão corporal 4.5 Inteligência Musical É a capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais (crítico de música, compositor, cantor). Inclui a sensibilidade ao ritmo, melodia, timbre ou tom de uma música. A compreensão de uma música pode ser tanto global e intuitiva quanto analítica e técnica. Atividades pedagógicas: rimas 17 jograis ouvir música tocar um instrumento compor cantar 4.6. Inteligência Interpessoal É a habilidade em perceber e fazer distinções entre os modos, intenções, motivações e sentimentos de outras pessoas. Inclui a sensibilidade a expressões faciais, voz e gestos; à capacidade de discriminar vários tipos de sinais interpessoais e de responder a estes sinais de modo pragmático. Atividades pedagógicas: aprendizado cooperativo atividades em duplas ou grupo envolvimento comunitário grêmios e atividades sociais jogos em grupos 4.7 Inteligência Intrapessoal Promove o autoconhecimento e a habilidade adaptativa. A pessoa que possui esta inteligência conhece bem suas forças e limitações, tem consciência de seus modos íntimos, intenções, motivações, temperamentos e desejos. Tem autodisciplina, auto-entendimento e auto-estima. Atividades pedagógicas: ensino individualizado 18 estudo independente atividades de autoconhecimento atividades individuais 7.8 Inteligência Naturalística Está relacionada à curiosidade pelos fatos da natureza, à exploração, à descoberta, à interação, às aventuras. Atividades pedagógicas: colecionar e classificar rochas, minerais, folhas, conchas, etc. examinar os habitats de diferentes animais: formigas, cupins, minhocas, etc. ver filmes sobre elementos da natureza observar e relatar o que existe próximo à escola, como: jardins, parques, etc., analisando os diferentes tipos de plantas, usos, etc. criar uma horta, jardim, pomar, etc. pesquisar sobre elementos da natureza, etc. ouvir gravação de sons de diferentes animais e tentar descobrir qual o animal que o produziu; observar as constelações, fases da lua, etc. e relatar as descobertas. 4.9 IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO 1. Cada pessoa possui todas as oito inteligências, em menor ou maior grau. Num trabalho individual o professor pode verificar qual (quais) a(s) inteligência(s) mais desenvolvida(s) em seu aluno e procurar usar os recursos pedagógicos mais adequados à(s) mesma(s), para desenvolver ao máximo a aprendizagem que se propõe. Num trabalho coletivo, convém que 19 o professor proponha a matéria usando os recursos didáticos apropriados a todas as inteligências de forma a atender às diferenças individuais de seus alunos. 2. A maioria das pessoas pode desenvolver cada inteligência até um nível adequado de competência. O currículo da educação infantil e do ensino fundamental deve contemplar matérias para desenvolver todas as inteligências. Dessa forma poderemos propiciar a todos os alunos o desenvolvimento de todas as inteligências ou, na pior das hipóteses, fazer com que os mesmos tomem consciência das inteligências onde podem alcançar um nível adequado de competência. 3. As inteligências geralmente trabalham juntas de um modo complexo. Por isto é bom que o professor mude constantemente seu método de apresentação, passando pelo maior número possível de inteligências, combinando-as de um modo criativo. Uma proposta pedagógica decorrente desta teoria é a de que cada conteúdo a ser desenvolvido na escola seja abordado com propostas que contemplem todas as inteligências. Desta forma todos os alunos poderiam aprender tudo, pois haveria uma maneira de privilegiar as inteligências mais desenvolvidas em cada indivíduo. 5. TEORIA PIAGETIANA A obra de Jean Piaget (Suíça, 1896-1980) é imensa. Em sua breve autobiografia (Sagesse et illusions de la philosophie, Paris, PUF, 1972) ele expõe claramente o seu projeto: Elaborar, pelos métodos da verificação científica, uma explicação biológica do conhecimento humano. Desta forma, para compreender sua teoria, é preciso sempre nos lembrar de que Piaget foi, antes de tudo, um biólogo formado na década de 20. Sua preocupação foi sempre a de categorizar e classificar o conhecimento humano, aos moldes da biologia daquela época. 20 Piaget não aceita as teses ineístas (este termo vem de “inato”) que defendem que a inteligência já está pré-formada no recém-nascido. Também não aceita que ela seria “adquirida”, como defendiam os empiristas. Sua teoria se apresenta como uma ultrapassagem da oposição inato-adquirido. Ele não aceita a tese de que uma parte das competências humanas seria inata e outra adquirida. Para ele, o indivíduo, em confronto com a realidade, transforma seus esquemas de ação ou de cognição (conhecimentos) e, assim fazendo, inventa novos conhecimentos que aumentam seu potencial intelectual anterior. Segundo Piaget, os conhecimentos se constroem através das interações do sujeito com o objeto (ou o meio físico e/ou social). No início, o bebê reage por reflexos aos estímulos. Desde os primeiros meses de vida, esses reflexos hereditários se transformam em esquemas de assimilação, no sentido de que essas ações elementares (sugar, olhar, ver, etc.) funcionam como procedimentos para conhecer o mundo dos objetos. Esses objetos não são vistos como tais, mas explorados pelos esquemas que o bebê dispõe. Um lenço, um chocalho, uma bola, etc., são, antes de tudo, objetos que podem ser vistos, chupados, presos na mão, etc. Existe assimilação cada vez que o indivíduo incorpora o dado sensível aos seus quadros pessoais. Assimilar um objeto (ou uma situação) é agir sobre ele, tentando inseri-lo em sua própria forma de agir ou de pensar. ( Ex: assimilar um bife é ingeri-lo e processá-lo, usando seu aparelho digestivo, já existente. O bebê assimila um objeto pegando-o e balançando-o e sugando-o, usando seus reflexos). Piaget distingue três tipos de assimilação: 1. Assimilação reprodutora: corresponde à repetição simples de uma ação ou de um raciocínio e assegura sua fixação ou sua estabilização. Ex: sugar tudo o que pega, no caso do bebê; ou copiar todas as palavras que vê, no caso da criança pequena; ler diversos textos (adulto) juntar todas as frutas; 21 jogar muitas vezes a bola, cuidando para não cometer erros. 2. Assimilação recognitiva: o sujeito reconhece, por discriminação, os objetos que podem ser assimilados a um esquema particular. Ex: alguém que nunca viu uma determinada fruta, ao vê-la reconhece que se trata de uma fruta, ainda que não saiba seu nome, seu grau de acidez, etc.; reconhecer que no voleibol podem existir muitos tipos de toques que são permitidos reconhecerem que se trata de uma poesia sem nunca a ter lido. 3. Assimilação generalizadora: o indivíduo tenta estender a aplicação de um esquema a um máximo de objetos. Assim fazendo ele se esforça para alargar o domínio de um esquema dado a um máximo de situações. Ex: descobre que o tomate também é fruta apesar de não ser adocicado nem comido como sobremesa; joga voleibol adequando o toque ao recebimento da bola; define diferentes poesias pela métrica, época, etc. Duas características próprias ao funcionamento assimilador levam a um conhecimento superior: de um lado, a criança (ou adulto) introduz espontaneamente variações nas repetições; por outro, ela tende a generalizar a aplicação de toda ação a novos objetos. Diversificando a aplicação desses esquemas, geram-se novas condutas por diferenciação progressiva das precedentes; esses esquemas novos podem ser muito úteis e se mostrarem adaptados a algumas situações. Ex:( o bebê puxa o cobertor para pegar um objeto distante; essa conduta pode se transformar em pegar uma vara para buscar outro objeto distante que não está sobre um cobertor, etc.). Acontece também que, tentando seus esquemas numa diversidade de objetos, o sujeito (bebê ou adulto) encontre obstáculos que o obriguem a inventar novas formas de agir e de pensar. O objeto, ou seja, o mundo exterior, não se impõe a um sujeito passivo; é o sujeito que vai ao seu encontro e se esforça para integrá-lo, para assimilá-lo a seus esquemas (de ação ou de pensamento) privilegiados. 22 Quanto há sucesso, por feedback positivo, o esquema é reforçado. Quando não, o sujeito é obrigado a um reajuste em seus esquemas. Neste caso temos o que Piaget chama de acomodação. ATENÇÃO: só há acomodação quando ocorre um reajuste de um esquema. Se houver apenas desinteresse, ou se o sujeito nem sequer se der conta de que seu esquema não funciona numa situação dada, há manutenção do pensamento anterior, portanto, não há acomodação. Acomodar é sentir um desafio: descobrir que seu esquema é inoperante diante de uma situação dada e que, portanto, deve ser substituído por outro melhor. Assimilação e acomodação formam uma dupla dialética. Tomados isoladamente cada um conduz a deformações. Se apenas houvesse assimilação, o pensamento seria estático, não evoluiria. O adulto come para manter seu corpo funcionando, não para mudar a estrutura de seus órgãos, ou para engordar ou emagrecer. Se ocorresse apenas acomodação, o pensamento teria que mudar a cada acontecimento, os conhecimentos anteriores não valeriam nada. O equilíbrio dinâmico entre assimilação e acomodação é indispensável à atividade cognitiva; a primeira assegura a coerência do pensamento e a segunda à adequação ao real. Para pegar algo eu estendo a mão e faço o movimento de preensão – assimilação; fecho mais a mão se o objeto for pequeno- acomodação. Piaget distingue três formas de equilibração: 1ª) De tipo I – ocorre quando há assimilação dos esquemas de ação e sua acomodação em função das reações do objeto: Ex. Numa certa idade as crianças pensam que todos os objetos servem ou como recipientes ou como conteúdos dos recipientes. Nesta fase, ao encontrarem um funil, ou um cano, procuram tratá-los como recipientes. Querem enchê-los de água. Constatam então que a água sempre escapa pelo outro lado. Isso as incomoda um pouco, até que acabam por se interessar pelo escoamento da água. Pode-se 23 então falar de acomodação ao objeto; adaptar o toque de bola ao tipo de bola e tipo de jogo, por exemplo, entre voleibol e basquetebol. 2ª) De tipo II – é a que ocorre entre os diferentes sub-sistemas cognitivos (práticos- como as ações ou representativos- como os conceituais): Ex: Uma criança descobre que existem dois trajetos para ir até a escola. Muito rapidamente ela se dará conta que pode ir por um deles e voltar pelo outro, ou vice-versa. Ela coordenou dois sub-sistemas de ação; no voleibol, adaptar o toque à velocidade, ângulo, força, etc, de recebimento da bola. 3º) De tipo III – consiste em encontrar uma coerência a todos os sistemas cognitivos próprios a um setor do real, uma meta-estrutura que deve estar de acordo com cada um dos diferentes sub-sistemas. Ex: Quando transformamos uma bola de massa de modelar em salsicha, uma criança pode pensar que na salsicha tem mais massa, porque é mais comprida. Se continuarmos encompridando a salsicha, até que ela se transforme numa espécie de cobra, muito fina, a criança poderá pensar que esta última tem menos massa porque é mais fina. Finalmente ela ligará os dois sub-sistemas concluindo que continua a mesma quantidade de massa. Teorias como a mecânica newtoniana, que reuniu múltiplas explicações, muitas vezes contraditórias, num todo coerente é também uma equilibração do tipo III. Adaptar seu jogo às estratégias usadas pelo adversário e sua própria equipe também é uma equilibração de tipo III . 5.1 PROCESSO DE EQUILIBRAÇÃO Para Piaget, as etapas que caracterizam o desenvolvimento são degraus sucessivos de equilíbrio. Cada um deles visa corrigir as fraquezas do nível anterior ao mesmo tempo em que o integra numa estrutura nova. Cada novo equilíbrio determina o seguinte no sentido de que a busca de uma solução nova é imposta pelo caráter lacunar da adaptação (ou do equilíbrio) 24 inicial. Por isso Piaget fala deequilibração, e não de equilíbrio. O equilíbrio é estático. É aquele que ocorre nos objetos. A equilibração é um processo dinâmico. Nenhum ser humano está contente, está sempre em busca de novas soluções, de algo diferente que resolva problemas hoje descobertos. Um objeto pode ser momentaneamente desequilibrado: Ex: um copo pode ser derrubado, mas quando volta ao estado de equilíbrio, este é idêntico à situação anterior. Ele volta à posição vertical, mas continua sendo o mesmo copo, no mesmo suporte, etc. Mas em se tratando de conhecimento, quando um equilíbrio é rompido, a sua volta ao equilíbrio nunca é igual ao estado anterior, será sempre uma forma melhor. Por isso podemos falar de EQUILIBRAÇÕES MAJORANTES (novos equilíbrios, sempre melhores que os anteriores). Para Piaget, equilibração é uma compensação ou uma correção de uma perturbação que originou a busca de uma solução. Por outro lado, todo novo equilíbrio, toda nova teoria intelectual gera novos problemas. Cada vez que um sujeito inventa um equilíbrio novo ele cria uma abertura para as novidades imprevisíveis. Poderíamos sintetizar o pensamento de Piaget dizendo que uma reequilibração que obteve sucesso: _ integra as estruturas assegurando o equilíbrio precedente numa nova estrutura; _ cria uma abertura para novos possíveis. O desenvolvimento é um processo onde nada se perde, tudo se enriquece. 5.2TIPOS DE CONHECIMENTO Piaget refere-se a três tipos de conhecimento. Conhecimento social: refere-se a todo conhecimento que advém de uma convenção social e que pode variar de grupo para grupo. É um conhecimento 25 ilógico, que só pode ser aprendido através de um modelo. Exemplos de conhecimentos sociais: conhecer o nome das letras do alfabeto; conhecer as regras de futebol; saber a definição de raio; saber a definição de dialética; usar corretamente os talheres à refeição; saber que o nome do objeto cadeira é “cadeira” em português, ou “chair” em inglês. Esse tipo de conhecimento pode variar no tempo. Uma regra válida hoje pode ser revista amanhã e substituída por outra, desde que o grupo concorde. Novas palavras são acrescentadas à medida que novos instrumentos são criados, ou ocorrem novos avanços científicos ou tecnológicos (exemplo: AIDS, winchester). A tarefa do professor, para este tipo de conhecimento, é o de servir de modelo, de facilitador, de dar o feedback adequado. Se um aluno não sabe uma palavra cabe ao professor informá-la, explicá-la, para que o aluno a use em situações futuras e de forma pertinente. O mesmo deve ser feito em relação às regras de um jogo, determinados conceitos matemáticos, etc. Conhecimento físico: este é o conhecimento que se adquire através da manipulação ou observação de objetos. Exemplos de conhecimento físico: observar as folhas que caem; sopesar duas pedras e sentir o peso de ambas, colocar um pacote de farinha na balança e verificar seu peso, passar a água de um copo para outro, mais fino, e verificar o que acontece com a altura do líquido. A tarefa do professor, para esse tipo de conhecimento, é o de providenciar para que seus alunos tenham os mais diferentes objetos à sua disposição, para que possam obter o conhecimento mais rico possível, numa diversidade grande de objetos e situações. O professor propõe problemas e coloca os objetos à disposição dos alunos para que eles resolvam o problema. Conhecimento lógico-matemático: é uma construção interna, que envolve relações lógicas. Exemplo: descobrir que sempre que se transfere certo 26 volume de água de um recipiente baixo e largo, para outro, alto e fino, o nível da água fica mais alto no segundo recipiente. Isto se deve à relação lógica de que volume é igual à base multiplicada pela altura. Sempre que a base for menor a altura deverá ser maior para que o volume permaneça o mesmo. Este conhecimento só pode ser obtido através de experiência seguida de reflexão. A tarefa do professor é a de prever as experiências e questionar os alunos para que reflitam de uma forma produtiva em relação ao experimento, de maneira que possam ampliar e potencializar seus conhecimentos anteriores. Outros exemplos: Descobrir que existe um toque de bola que é mais eficiente em função de determinadas condições prévias; usar e compreender a concordância verbal; compreender as relações entre economia e relações entre determinados povos. Esse tipo de conhecimento se desenvolve a partir do período operatório concreto, mas só atinge o operatório formal se o indivíduo tiver oportunidade de exercitá-lo naquele conteúdo. Pode-se assim chegar ao operatório formal em música e não em matemática, ou ser operatório formal em futebol e operatório concreto em português, etc, dependendo das oportunidades que cada indivíduo teve em cada um dos conteúdos. No primeiro mês de vida o bebê exercita esses reflexos, mas não os coordena. Eventos e o comportamento são mais deliberados e intencionais. Ex: retira todas as panelas do armário e diverte-se batendo com a tampa das mesmas. Busca outros armários para ver o que tem dentro e se existe algo que faça barulho. Não é à toa que o nome de Piaget está associado ao construtivismo. Essa divisão em períodos é uma forma didática de apresentar a construção do conhecimento. É uma maneira de distinguir os aspectos mais relevantes de cada faixa etária e de mostrar que todo o ser humano vai se construindo, pouco a pouco, em contato com a realidade que o cerca (experiência social e 27 física), pela sua maturação biológica (seu desenvolvimento neuro-motor) e por um processo de auto-regulação que Piaget chamou de equilibração, onde cada equilíbrio alcançado é melhor que o anterior e mais flexível. 5.4 IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS A teoria piagetiana reveste-se de enorme importância ao nos indicar que existem fases de desenvolvimento pelas quais todos os indivíduos passam e que, dependendo da fase em que se encontre o aluno ele poderá se beneficiar de um ou outro tipo de abordagem pedagógica. Mais do que isso, essa teoria nos indica que para cada conteúdo (principalmente nos conhecimentos lógicos-matemáticos) existe uma gênese, ou seja, que os indivíduos elaboram hipóteses, muitas vezes incorretas, das quais os professores devem estar conscientes para poder auxiliar na sua superação. Sabendo que o aluno não é um sujeito passivo, mas que interage com os conteúdos, procurando assimilá-los aos seus esquemas, o professor se esforça em proporcionar situações onde os alunos possam se exercitar, refletir sobre seus erros, repetir muitas vezes as experiências para tirar delas o maior proveito possível. Depois de certo número de repetições é importante também, para que cheguem a assimilações generalizadoras, que as situações se mostrem cada vez mais variadas e ricas. O professor piagetiano presta muita atenção ao tipo de raciocínio de seu aluno e procura lhe dar suportes adequados para que supere suas dificuldades. A tarefa do professor é fazer uma análise do conteúdo da disciplina que leciona para verificar qual o tipo de raciocínio implicado em cada etapa 28 desse conteúdo, quais os pré-requisitos a nível cognitivo, como exemplificar inicialmente de maneira mais concreta possível e depois propor experimentos que levem o aluno a um nível cada vez mais formal e generalizado do mesmo. Cada conteúdo deve ser visto também no que se refere ao tipo de conhecimento envolvido, ou seja, social, físico ou lógico-matemático e a estratégia de ensino pensada conforme cada um deles. 6. Teoria humanista Na perspectiva dos teóricos humanistas o ser humano independentemente das circunstâncias que o envolvem possui a capacidade inata de assumir o controlo da sua vida e de promover o seu próprio desenvolvimento por meio de das capacidades exclusivamente humanas de escolha, criatividade e auto -realização. Nesta óptica o educando deve ter mais responsabilidade para decidir o que quer aprender e para ser mais independente e auto-orientador da sua aprendizagem. A tarefa de aprender traduz-se por um processo cognitivo e não apenas à aquisição de mecanismos de estimula-reação. Contrariamente à aprendizagem cognitiva até então praticada em que os conhecimentos a adquirir eram apresentados ao educando, como metas pré estabelecidas às quais se esperava que o mesmo se adapta-se e se conforma-se, os humanistas entendem-na mais como um processo de construção pessoal na medida em que o educando no seu processo de crescimento adquire experiência se lhe deixa livre a iniciativa para descobrir o seu próprio caminho, numa atitude de auto-realização e auto-avaliação, num processo de se tornar pessoa. O “Tornar-se pessoa” torna-se assim na chave do processo de aprendizagem na visão humanista. Quer isto dizer que a aprendizagem é um 29 processo pessoal, de caráter vivencial no centro da qual está a pessoa enquanto ser que pensa, sente e vive. Não exclui os aspectos emocionais antes pelo contrário considera-os determinantes sobre o que se retém e o que se aprende de tal forma que o desenvolvimento social e emocional do educando é tão importante como o desenvolvimento intelectual. Como condições promotoras deste tipo de aprendizagem os humanistas defendem um clima de total liberdade, criatividade, colaboração, espontaneidade e empatia. Os princípios psicopedagógicos que procedem desta teoria e a influência sobre o processo de ensino aprendizagem resumem-se da seguinte forma: A ênfase é dada à aprendizagem numa perspectiva de desenvolvimento da pessoa humana e não ao ensino propriamente dito. A aprendizagem centra-se no aluno, atendendo às suas necessidades, vontades, sentimentos e não no professor, nos objetivo bem definidos ou nos conteúdos programáticos. Procura desenvolver no educando a responsabilidade pela autoaprendizagem bem como um espírito de auto-avaliação. Centra a aprendizagem em atividades e experiências significativas para o educando. Procura desenvolver as relações interpessoais, empáticas no interior do grupo. Ensina a sentir e não apenas a pensar, ensina a aprender. Procura criar uma atmosfera emocional positiva que ajude o educando a integraras novas experiências e as novas ideias Promove uma aprendizagem ativa, orientado para um processo de descoberta autônomo e refletido. Necessidade de programar um sistema escolar que permita a consecução destes objetivos. Nesta linha de pensamento o professor assume um papel de facilitador do processo de aprendizagem, pondo de parte o tradicional papel de disseminador de conhecimentos, sendo que para tal necessite de possuir um determinado perfil: deve ser genuíno,positivo, empático, respeitador, que seja 30 também ele próprio um aluno capaz de criar um bom ambiente isento de excesso de energia/tensões, enfim de ajudar os outros a aprender. Alguns dos métodos apropriados para facilitar este tipo de aprendizagem são: O ensino individualizado Técnicas de trabalho de grupo: discussões, debates, painéis, simulações, jogos de papéis e resolução de problemas. A noção de desenvolvimento pessoal que surgiu nos anos 1950-1960 tem origem no conceito de desenvolvimento apresentado por Rogers e G.M. Kinget e traduz-se na convicção de que o ser humano tem a capacidade do tomar consciência da sua experiência, avalia-la, verifica-la, corrigi-la, que exprime a sua tendência inerente ao desenvolvimento para a maturidade, ou seja, para a autonomia e para a responsabilidade. Maslow (1908-1970) outro grande teórico defensor da perspectiva humanista desenvolveu a teoria da motivação centrada no conceito da autorealização. Segundo o mesmo este conceito transmite o desenvolvimento máximo dos potenciais de cada ser humano. Cada pessoa atinge a auto-realização na medida em que procura atualizar os seus potenciais. 7. Teorias Gestalt Esta teoria tem com base a representação global de uma situação. As escolas da corrente dos teóricos de campo são representadas na Gestalt e suas teorias são centradas sobre a atividade do indivíduo. Para os representantes da corrente Gestáltica (psicologia da forma) a atividade e o comportamento do sujeito são determinados de acordo com o modo pelo qual vê e compreende a estrutura dos elementos da situação problema. 31 Para Koffka a percepção e pensamento não podem ser reduzidos a um acúmulo de sensações ou associações individuais, mas, são determinadas pela estrutura global. Para Pozo (1988), o paradigma da aprendizagem consiste na solução de problemas que tem como princípio o todo (a globalidade) para as partes (o todo não pode ser compreendido pela separação das partes) e na organização dos padrões de percepção. Em Pozo (1998), na Gestalt, as ideias de Köhler (1929) são opostas aos princípios do associacionismo (ou anticonstrutivista). Esta escola não aceita a concepção do conhecimento como a soma de partes preexistentes. A unidade mínima de análise é a estrutura ou a globalidade. Rejeita a ideia de que o conhecimento tenha natureza cumulativa ou quantitativa, de tal maneira que qualquer atividade ou procedimento poderia transformar-se em várias partes aleatoriamente separadas. A insistência na estrutura global dos fatos e dos conhecimentos concede maior importância à compreensão do que a simples acumulação de conhecimentos. Isso fez com que Wertheimer em 1945 distinguisse o pensamento reprodutivo do pensamento produtivo. O pensamento reprodutivo se constitui de conhecimentos previamente adquiridos à situações novas e o pensamento produtivo por sua vez, implica no descobrimento de uma organização perceptiva ou conceitual, com relação ao problema a ser tratado, isto é, a compreensão real do problema, como compreender o problema que é vantajoso em relação a simples aprendizagem mnemônica ou reprodutiva. Isso porque essa compreensão resulta mais fácil de ser generalizada a outros problemas estruturalmente semelhante. Para este autor, obter a solução produtiva de um problema é algo fundamental para a compreensão do mesmo. Para que ocorra uma solução produtiva de um problema, é necessário captar aspectos estruturais da situação além de elementos que a compõem. 32 7.1 Gestalt x Aprendizagem O psicólogo Wertheimer (1945) utiliza-se da história da ciência como área de estudo da psicologia do pensamento e da aprendizagem. Este autor considera que cada um dos mecanismos de aprendizagem associativa corresponde a um mecanismo alternativo nas concepções gestálticas . Wertheimer considera ainda que a associação é como a compreensão da relação estrutural entre uma série de elementos que necessitam uns dos outros, auxiliando dessa forma a captar as relações entre os elementos dentro da estrutura. O “ensaio e erro” deixaria de ser aleatório (incerto), para se converter em uma comprovação estrutural de hipóteses significativas. O aluno aprende reinterpretando seus erros e acertos, compreendendo as razões estruturais que o tornaram possível. A compreensão de um problema para Wertheimer está vinculada a uma tomada de consciência de seus aspectos estruturais ou “insight”, que significa “achar subtamente a solução para uma situação difícil”, “perceber relações entre os elementos de uma situação”. O “insight” só é possível quando uma situação de aprendizagem é arranjada de maneira que se possa observar todos os seus aspectos. Se houver a omissão de qualquer um dos aspectos, não ocorrerá o “insight”, portanto, não haverá solução. Se um problema tiver várias estruturas e alguma delas resultar mais imediata ou mais fácil para que o sujeito perceba a reestruturação dessas estruturas vai se apresentar mais facilmente, mais imediata. Na teoria da Gestalt o sujeito tem várias formas de aprendizagem, que são: gradação, diferenciação, assimilação e redefinição. A aprendizagem por gradação implica em estabelecer um relacionamento sucessivo entre as várias partes de algo percebido. Kölher, em seus experimentos, demonstrou que o aluno quando do início de sua 33 aprendizagem, percebe a forma total, a Gestalt das coisas. O autor aconselha que o ensino inicial para os alunos, deve ser composto de frases e palavras completas oportunizando o estabelecimento deste tipo de relação. Em uma frase completa, o aluno percebe as sílabas e as letras. O processo de diferenciação consiste em destacar, no toda uma parte do objeto que se está percebendo. Isso ocorre quando um elemento é apresentado em diferentes situações, permitindo que a mente o destaque como sendo o mais notado entre os demais, ou como sendo uma figura, permitindo que as partes restantes formem o fundo. Este princípio é chamado de princípio da unidade dentro da variedade de diferentes situações, sendo uma condição de extrema importância para que se diferencie um elemento entre os demais. Como exemplo, pode-se apresentar no início da aprendizagem uma mesma palavra em várias frases de modo que a mesma se destaque. Como por exemplo: Lili tem uma pata; A pata nada no lago; As penas da pata são brancas. Ainda no processo de diferenciação, existe um segundo princípio que permite o destaque de um elemento da situ leitura, introduz-se aos poucos alguns fatores novos entre os já conhecidos. Num texto, por exemplo, aparecem, dentro de sentenças já conhecidas e muito repetidas, algumas formas gráficas novas. O processo de redefinição consiste em perceber um mesmo estímulo de modo inteiramente novo, segundo a situação total ou a forma que ele se apresenta, ou seja, sua posição em relação aos demais estímulos ou ainda segundo a natureza dos outros estímulos componentes da situação em que ele nos é apresentado. O processo de assimilação segue ao de diferenciação, onde uma parte da situação total é destacada pelo processo de diferenciação, tornando-se figura. Esta figura pode se reunir às outras, constituindo novas estruturas pelo processo de assimilação. Em relação à leitura, o aprendizado por assimilação ilustra-se pelo fato de que o aluno no início de sua aprendizagem 34 por assimilação é capaz de escrever uma palavra nova, a palavra camelo, por exemplo, por ter aprendido anteriormente as palavras boneca, menino e lobo. A Gestalt defende o caráter inato das leis da percepção e da organização do conhecimento e, baseia-se na categorização direta dos objetos, quase de forma imediata. O pensamento encontra -se mediado por estruturas de conceitos de natureza e origens muito diferentes. A tomada de consciência ou insight adquire dimensões diferentes em um e outro caso. A tomada de consciência conceitual requer uma reflexão a respeito do próprio pensamento que, necessariamente, não está presente no insight perceptivo. O sujeito somente pode tomar consciência de algo que já está presente nele, embora se desconheça as etapas precedentes. Essa teoria contribui com alguns conceitos que embora em sua formulação inicial sejam vagos ou pouco operacionais, lembram conceitos nucleares de uma teoria de aprendizagem alternativa ao associacionismo. Assim, ela estabelece diferenças entre o pensamento reprodutivo e produtivo (consiste na compreensão real do problema), e em conseqüência entre a aprendizagem mnemônica e compreensiva considerando a aprendizagem compreensiva um produto do insight, ou reestruturação súbita do problema. Esta estruturação está vinculada ao conceito de equilíbrio que é desenvolvido por Piaget. 8. Teorias Associacionista/ Behaviorista (Comportamentalismo) Essas teorias se baseiam na similaridade das tarefas. A aprendizagem consiste em gravar respostas corretas e eliminar as incorretas. A transferência da aprendizagem ocorre à medida que existem elementos idênticos em duas situações. Segundo Barros (1998) os associacionistas têm como principal pressuposto explicar que o comportamento complexo é a combinação de 35 uma série de condutas simples. Os precursores 23 dessa corrente foram Edward L. Thorndike e B. F. Skinner e suas respectativas teorias do comportamento reflexo ou estímulo e resposta. 8.1.1 Associacionismo x Aprendizagem A aprendizagem estabelece novas relações que tem como fundamento a lei da contiguidade (proximidade). De acordo com essa lei, as associações se formam entre as experiências ou as tarefas realizadas pelo sujeito, entre os elementos estímulo percebido ou resposta fornecida pelo próprio sujeito. Isso ocorre quando esses elementos se encontram próximos uns dos outros quer no espaço ou no tempo. Segundo Bill e Forisha (1978), o conceito de aprendizagem de Thorndike, consiste na formação de laços associativos ou conexões que são os processos de ligação de acontecimentos físicos, estímulos e mentais, percebidos ou sentidos. A aprendizagem é o processo de selecionar e associar as unidades físicas e as unidades mentais que são percebidas ou sentidas. Este processo é passivo e mecânico. O termo “selecionar e associar”, é conhecido popularmente pelos educadores e psicólogos como “ensaio e erro”. A aprendizagem corresponde à atividade de gravar respostas corretas e eliminar as incorretas ou desagradáveis, isto é, dentro de um processo de recompensas ou opiniões. Este processo denomina-se “Lei de Efeito”. 8.1.2 Behaviorismo/Aprendizagem O comportamento segundo a psicologia é compreendido para poder prevê-lo e se possível modificá-lo. Segundo Barros (1998), a relação estímulo-reposta é demonstrada através do esquema de comportamento E-R, onde E significa estímulo ou conjunto de estímulos e R significa reação ou resposta. Sobre este esquema pode-se dizer que um estímulo provoca uma reação (ou resposta) ou uma 36 “reação (ou resposta) é provocada por um estímulo”. Um aspecto central do comportamento como corrente associacionista é seu anticonstrutivismo. Sua teoria é do tipo E-R (estímulo e resposta). Todo o comportamento, por mais complexo que seja, é redutível a uma série de associações entre elementos simples, ou seja, entre estímulos e respostas. O comportamento tem sido definido como “o conjunto das reações ou respostas que um organismo apresenta às estimulações do ambiente”. (Barros, 1998, p.19). O comportamento é classificado em inato ou natural (invariável), adquirido ou aprendido (variável) e em respondente ou operante. No comportamento inato ou natural (invariável), os seres da mesma espécie apresentam reações quando recebem determinado estímulo. Ao contrário no comportamento adquirido ou aprendido (variável), as reações necessitam de aprendizagem para se processarem quando o organismo recebe o estímulo. A aprendizagem é definida como sendo a modificação do comportamento ou aquisição de novas respostas ou reações. Toda a aprendizagem consiste em condicionar respostas. A aprendizagem oral, da linguagem escrita, por exemplo, são reações apresentadas a vários estímulos devido a certas condições de experiência anterior (Barros 1998). Para exemplifica com muita clareza como se dá a aprendizagem pelo processo de condicionamento: quando se mostra a uma criança uma folha, esta reage fazendo a representação mental do objeto. Se, ao mesmo tempo em que o objeto é mostrado, se disser a palavra “folha”e se repetir esta certo número de vezes, a criança chegará a pensar no objeto apenas por ouvir a palavra. Neste caso aprende a significação da linguagem falada. Mais tarde, podemos mostrar o objeto enquanto a criança olha a palavra impressa. Tempos depois, o objeto, um retrato do objeto, a palavra falada, escrita ou impressa podem se ligar às palavras francesas “la feuille”, e reagindo aos estímulos simultâneos, a criança chegará a pensar no objeto ao ver a palavra 37 francesa. Na concepção behaviorista, educar seria estabelecer “condicionamentos” na infância. Skinner, em seus experimentos, observou que uma reação é repetida quando é seguida de um efeito agradável. Edward Lee Torndike formulou a Lei do Efeito que considera que o organismo tende a repetir a reação do efeito agradável. Este efeito que ocorre após o sujeito apresentar uma reação é chamado de reforço positivo. E, de acordo com Barros (1998), é um requisito necessário para que ocorra a aprendizagem. É neste sentido que o sujeito do behaviorismo é passivo, e a aprendizagem não é uma qualidade intrínseca do organismo, mas necessita ser impulsionada a partir do ambiente. Skinner (apud Barros 1998) conceitua os reforços como eventos que tornam uma reação mais freqüente, e aumentam a probabilidade de sua ocorrência. Os reforços se classificam em positivos e negativos. Os reforços positivos consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de um evento à situação. Os reforços negativos por sua vez, consistem na remoção de um evento. Nestes dois tipos de reforços, o efeito será o mesmo e a probabilidade da resposta será aumentada. Os reforços positivos se constituem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa a situação e os reforços negativos é a remoção de alguma coisa da situação. Classificam-se também em primários e secundários. Nos reforços primários a apresentação de estímulos é de importância biológica, e o reforço secundário é a apresentação de um estímulo, que antes era neutro, passa a associar-se a estímulos de importância biológica e sua propriedade reforçada foi adquirida como, por exemplo, o elogio, o sorriso, o dinheiro, etc. O organismo humano seria então, controlado pelas contingências primárias (naturais), e nisso consiste o processo de educação ou treinamento social, isto é, aumentar as contingências de reforço e sua frequência 38 utilizando-se de sistemas organizados, pragmáticos, que lançam mão de reforços secundários associados aos primários (naturais). A finalidade dessa associação é de obter determinados comportamentos preestabelecidos, seja com maior ou menor rigor. O objetivo do reforço é, portanto, tornar uma resposta frequente, ou seja, evitar a extinção (remoção) de uma resposta do comportamento do sujeito. 8.1.3 Aplicação no Processo Ensino-aprendizagem Segundo Mizukami (1986), no ensino-aprendizagem os comportamentos dos alunos são listados e mantidos por condicionamentos e reforçadores arbitrários tais como elogios, graus, notas, prêmios, reconhecimento do professor e colegas, prestígio, etc.; os mesmos estão associados com uma classe reforçadores mais generalizados como o diploma, vantagens da futura profissão, a aprovação final do curso, status, etc. O ensino para Skinner, corresponde ao arranjo de contingências para uma aprendizagem eficaz. Este arranjo depende de elementos observáveis na presença dos quais o comportamento ocorre, seja uma resposta, um evento antecedente um evento consequente (reforço) e fatores contextuais. A proposta de aprendizagem será estruturada de maneira a dirigir os alunos pelos caminhos adequados que conduzirão ao comportamento final desejado. Ainda segundo Skinner, o comportamento humano é modelado e reforçado, o que implica em recompensa e reforço. Para proceder à análise comportamental do ensino, é necessário considerar os elementos do ensino, bem como as respostas do aluno, pois o ensino é composto por padrões de comportamento, seguindo objetivos prefixados. No comportamentalismo, o homem é considerado como uma consequência das influências do meio ambiente é considerado como produto 39 do meio e este podem ser manipulados. Para que a formulação das relações entre o organismo e seu meio ambiente seja adequada, é necessário considerar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorreu à própria resposta e as consequências reforçadas. A relação entre esses elementos constituem as contingências de reforço. Skinner considera que qualquer ambiente físico ou social, deve ser avaliado de acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. Para este autor, o conhecimento tem como base a experiência planejada, sendo resultado direto da experiência. Sua preocupação, portanto, não é com a aprendizagem, e sim com o comportamento observável. A educação está intimamente ligada à transmissão cultural, pois deverá transmitir os conhecimentos assim como os comportamentos éticos, práticos e sociais. São habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural, etc). A educação tem como objetivo básico promover mudanças desejáveis no sujeito. Essas mudanças implicariam na aquisição de novos comportamentos e também na modificação dos comportamentos já existentes. A escola direciona os comportamentos dos alunos segundo determinados finalidades social. O conteúdo pessoal será socialmente aceito. Os conteúdos programáticos serão estabelecidos e ordenados numa sequencia lógica e psicológica. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável. 40 Referências Bibliográficas ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das inteligências múltiplas. Petrópolis, Vozes, 1999. COLL, PALACIOS E MARCHESI, Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação, vol. 2, Porto Alegre, Artes Médicas, 1996 CRAHAY, M. Psychologie de l’éducation, Paris, PUF, 1999. DERVAL, J. Introdução ao método clínico EYSENCK, M. & KEANE, M. Psicologia Cognitiva:um manual introdutório, Porto Alegre, Artes Médicas, 1994 FAYOL, M. A criança e o número, Porto Alegre: Artes Médicas, 1996 FOULIN, J-N & MOUCHON, S. Psicologia da Educação, Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. GARDNER, H. Estruturas da mente, Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. GARDNER, H. e outros Inteligência: Múltiplas Perspectivas. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998 NOGUEROL, A. 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